ISSN 1984-0780 TENDÊNCIAS EM HIV/AIDS INSTRUÇÕES AOS AUTORES A revista Tendências em HIV/AIDS é uma publicação trimestral da Disciplina de Infectologia da Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP. O intuito dessa publicação é apresentar artigos de revisão preparados por especialistas da área que expressem o conhecimento e a experiência desses pesquisadores. Os artigos são todos escritos por líderes de opinião nesse campo do conhecimento com o intuito de conhecer como caminha a ciência na área, principalmente no que possa refletir a prática do diaa-dia do clínico. Muitas das estratégias e opiniões aqui apresentadas são inovadoras e modernas. Portanto, os conceitos apresentados podem estar à frente de consensos e da prática corriqueira atual. Dessa forma, pretendese manter a missão deste periódico, que é a de disseminar a informação de alta qualidade e com potencial inovador. O seleto corpo editorial da revista é também responsável pela escolha dos temas de interesse e pela indicação de especialistas que se dedicam ao desenvolvimento desses temas. A aprovação dos artigos está sujeita à avaliação por uma comissão de revisores que recebem o texto de forma anônima e decidem por sua publicação, sugerem modificações, requisitam esclarecimentos aos autores e efetuam recomendações ao Editor Chefe que por fim as encaminha aos autores. Categorias: O próprio autor deve indicar se o seu texto pertence à categoria: a) artigo de revisão b) artigo de atualização c) relato de caso A Tendências em HIV/AIDS também publica resumos de teses sobre HIV/ AIDS defendidas no trimestre anterior e resumos de congressos. Os resumos podem ser submetidos no formato em que foram publicados na referida Dissertação ou Tese. Em uma seção denominada “Destaques”, a Tendências em HIV/AIDS, por meio de especialistas convidados, apresenta os temas de maior relevância abordados em congressos da área ou mesmo temas escolhidos pelo Corpo Editorial da Revista. Dessa forma, artigos que não pertençam às categorias a, b e c, acima citadas, não devem ser encaminhados à Tendências em HIV/AIDS sem que tenham sido solicitados formalmente pelo Corpo Editorial, por meio de convite oficial enviado via e-mail Artigos de revisão e atualização: Devem ser apresentados de forma didática e conter: resumo, palavraschave, abstract, Keywords, texto, referências bibliográficas. Tabelas e figuras também podem ser apresentadas, se necessário. Relatos de Caso: Deverão conter: resumo, palavras-chave, abstract, Keywords, introdução, descrição do caso, discussão. Normas para preparação dos artigos Os artigos devem ser redigidos em língua portuguesa. É obrigatória a apresentação de um resumo em português e um em inglês. Os artigos devem ser digitados no MS Word, formato txt e encaminhados por e-mail, no endereço eletrônico: [email protected] Em caso de aceite, o autor será comunicado e o artigo será publicado mediante apresentação de carta de autorização de publicação assinada pelos autores. Os autores devem certificar-se de que o manuscrito está de acordo com as “instruções aos autores”. O protocolo estabelece que: a) Os conceitos emitidos nos artigos são de total responsabilidade dos autores; b) Os artigos devem ser inéditos, ou seja, não devem ter sido publicados anteriormente, nem devem ter sido disponibilizados na Internet, com exceção das teses, dissertações e dos trabalhos apresentados em congressos; c) Caso sugestões ou mudanças sejam sugeridas aos autores como condição para publicação na Tendências em HIV/AIDS, os autores devem responder se aceitam ou não essas sugestões dentro de um prazo de 48 horas. Os casos omissos serão resolvidos pela Diretoria da Tendências em HIV/AIDS. Os artigos enviados passarão a ser propriedade da Tendências em HIV/AIDS. d) Uma vez aceito para publicação, o artigo torna-se propriedade Tendências em HIV/AIDS e somente a revista poderá autorizar a reprodução dos artigos nela contidos. e) A publicação do artigo, quando aceita, obedecerá à programação editorial. Página de rosto A página de rosto deve conter: a) o título do artigo, na língua portuguesa e em inglês; b) Categoria a que pertence o trabalho; c) nome completo dos autores e afiliação institucional; d) nome endereço, telefone e e-mail do autor responsável para correspondência. Segunda página a) Resumo, sem exceder 200 palavras; b) Abstract: versão fidedigna do resumo; c) 3 a 6 palavras-chave extraídas do vocabulário DeCS - Descritores de Ciências da Saúde (http://decs.bvs.br); d) 3 a 6 keywords, baseadas no MeSH - Medical Subject Headings sss(http://www.nlm.nih.gov/cgi/mesh/2006/MB_cgi). Caso ������������������ não sejam encontrados descritores apropriados para cobrirem o assunto do trabalho, poderão ser indicados termos ou expressões de uso conhecido. Referências Bibliográficas As referências devem ser numerar de forma consecutiva, de acordo com a ordem em que forem mencionadas pela primeira vez no texto, utilizandose números arábicos sobrescritos. As referências devem seguir o estilo Vancouver, como exemplificado: Revistas Científicas Linnen J, Wages J, Jr., Zhang-Keck ZY, Fry KE, Krawczynski KZ, Alter H, et al. Molecular cloning and disease association of hepatitis G virus: a transfusion-transmissible agent. Science 1996;271(5248):505-8. Livros Ringsven MK, Bond D. Gerontology and leadership skills. 2nd ed. Albany(NY): Delmar Publisher; 1996. Capítulos de Livro Phillips SJ, Whisnant JP. Hypertension and stroke. In: Laragh JH, Brenner BM, editors. Hypertension: pathophysiology, diagnosis and management. 2nd ed. New York: Raven Press; 1995. P. 465-78. Anais de Congressos Kimura J, Shibasaki H. ������������������������������������������������� Recent advances in clinical neurophysiology. Proceedings of the 10th International Congress of EMG and Clinical Neurophysiology; 1995 Oct 15-19; Kyoto, Japan. Amsterdam: Elsevier; 1996. Dissertações e Teses Kaplan SJ. Post-hospital ����������������������������������������������������������������� home health care: the elderly’s access and utilization [dissertation]. St. Louis(MO): Washington Univ.; 1995. Tabelas e Ilustrações a) todas as partes do artigo devem ser incluídas em um único arquivo, sendo que as tabelas e as ilustrações devem ser apresentadas ao final do corpo do texto, após as referências bibliográficas; b) as tabelas deverão ser numeradas seqüencialmente através de algarismos arábicos e identificadas na parte superior pelo termo “Tabela” seguido do número, dois pontos, espaço e seu título; c) as ilustrações deverão ser numeradas seqüencialmente através de algarismos arábicos e identificadas na parte inferior pelo termo “Figura” seguido do número, dois pontos, espaço e seu título; d) os títulos das tabelas devem ser suficientemente explicativos. Conflito de Interesses Conforme exigências do Comitê Internacional de Editores de Diários Médicos (ICMJE), grupo Vancouver e resolução do Conselho Federal de Medicina nº 1595/2000 os autores têm a responsabilidade de reconhecer e declarar conflitos de interesse financeiros e outros (comercial, pessoal, político, etc.) envolvidos no desenvolvimento do trabalho apresentado para publicação. Reprodução Somente a Tendências em HIV/AIDS poderá autorizar a reprodução dos artigos nelas contidos. Estamos acessíveis a críticas e sugestões e poderemos ser contatados pelos endereços eletrônicos: [email protected] e [email protected] Dúvidas e sugestões também podem ser resolvidas através da editora: Atha Comunicação e Editora A/C: Fernanda Colmatti/ Arthur T. Assis Rua: Machado Bittencourt,190, cj.410 - Vila Mariana - São Paulo - Capital - CEP 04044-000 - [email protected] Tendências em HIV•AIDS Volume 5 - Número 2 - 2010 Editor chefe Ricardo Sobhie Diaz – Universidade Federal de São Paulo Corpo editorial Adauto Castelo Filho – Universidade Federal de São Paulo André Lomar – Hospital Israelita Albert Einstein Artur Kalichman – Centro de Referência e Treinamento de DST/AIDS – SP Artur Timerman – Hospital Heliópolis Breno Riegel – Hospital Nossa Senhora da Conceição, Rio Grande do Sul Celso Spada – Universidade Federal de Santa Catarina Celso Ramos – Universidade Federal do Rio de Janeiro Celso Francisco Hernandes Granato – Disciplina de Infectologia, Universidade Federal de São Paulo David Salomão Lewi – Universidade Federal de São Paulo – Hospital Israelita Albert Einstein Eduardo Sprinz – Universidade Federal do Rio Grande do Sul Érico A. Gomes de Arruda – Hospital São José de Doenças Infecciosas do Ceará Esper Georges Kallas – Universidade de São Paulo - USP Estevão Portella – Universidade Federal do Rio de Janeiro Giovana Lótici Baggio-Zappia – Disciplina de Infectologia, Universidade Federal de São Paulo Guido Levi – Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo João da Silva Mendonça – Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo José Luiz de Andrade Neto – Universidade Federal do Paraná Jeová Keny Baima Colares - Universidade de Fortaleza, Ceará. Jorge Simão do Rosário Casseb – Universidade de São Paulo, USP. Márcia Rachid – Assessoria de DST/Aids da Secretaria do Estado do Rio de Janeiro Marcos Montani Caseiro – Fundação Lusíadas, Santos, SP Marcos Vitória – Organização Mundial de Saúde Marinella Della Negra – Instituto de Infectologia Emílio Ribas Paulo Feijó Barroso – Universidade Federal do Rio de Janeiro Paulo Roberto Abrão – Disciplina de Infectologia, Universidade Federal de São Paulo Reinaldo Salomão – Universidade Federal de São Paulo – Casa de Saúde Santa Marcelina Ricardo Pio Marins – Organização Panamericana de Saúde Rosana Del Bianco – Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo Shirley Cavalcante Vasconcelos Komninakis – Fundação Lusíadas, Santos – SP Simone Barros Tenore – Disciplina de Infectologia, Universidade Federal de São Paulo Unaí Tupinambás – Universidade Federal de Minas Gerais Valdez Madruga – Centro de Referência e Treinamento de DST/AIDS – SP Índice EFEITOS ADVERSOS DOS INIBIDORES DA PROTEASE E INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS................................................................... 5 Gisele Gosuen Raltegravir: Perfil de Resistência Genotípica em indivíduos infectados pelo HIV ................................................................. 14 Gisela Ramos Terçarioli, Wagner Alkmim COINFECÇÃO HIV/HCV: CONSIDERAÇÕES SOBRE O TRATAMENTO......................................................................................................... 19 Rafael Gonçalves de Azevedo, Shirley Komninakis Novos Tratamentos e Resistência no Tratamento da Hepatite C: Implicações para o paciente co-infectado pelo HIV............................................................................................................................................................. 23 Vicente Soriano, Paulo Abrão Resumos de Dissertações e Teses.......................................................................................................................................................... 29 DESTAQUES...................................................................................................................................................................................................... 30 Atha Comunicação & Editora Planejamento Editorial, Diagramação e Produção Gráfica Rua Machado Bittencourt, 190 - Cep: 04044-000 - São Paulo - SP - Tel: 55-11-5087-9502 - Fax: 55-11-5579-5308 E-mail: [email protected] EDITORIAL Os inibidores da protease se constituem em recurso fundamental no tratamento antirretroviral. Após a expansão e popularização do uso dos inibidores da protease com o incremento proporcionado pelo ritonavir, a epidemia pelo HIV mudou sua face. Apesar da maioria dos tratamentos iniciais conterem os inibidores da transcriptase reversa não análogos aos nucleosídeos, a proporção de pacientes apresentando mais de duas falhas a antirretrovirais diminuiu consideravelmente ao longo do tempo,1 sendo que este fenômeno pode ser atribuído ao uso de inibidores de protease com ritonavir. Partindo-se do pressuposto que não haverá resistência a esquemas contendo inibidores da protease/ritonavir entre pessoas contendo vírus cuja protease não possua mutações prévias de resistência, pacientes com falha no tratamento inicial, contendo não análogos, e resgatados com inibidores da protease/ritonavir, apresentariam chance enorme de sucesso virológico, justificando a diminuição de mais de duas falhas aos antirretrovirais ao longo do tempo. A adição do ritonavir nos regimes antirretrovirais tem proporcionado, ao longo do tempo, diminuição da resistência aos inibidores da protease, bem como aos inibidores da transcriptase reversa nucleosídicos e não nucleosídicos. Além disso, o uso desse inibidor da protease está associado à diminuição da resistência transmitida ou primária 2. Neste fascículo do Tendências em HIV/AIDS, o artigo da Dra. Gosuen apresenta, de forma detalhada, as reações adversas e interações medicamentosas dos inibidores de protease como classe e de forma individualizada. Arrisco-me a dizer que este artigo deverá se tornar um guia prático aos profissionais de saúde que lidam com pacientes infectados pelo HIV em uso de inibidores de protease. Não se pode negligenciar, entretanto, que um grande número de pessoas estejam infectadas por vírus com algum nível de resistência aos inibidores de protease, pacientes estes remanescentes da época em que se usou inibidores de protease sem ritonavir em larga escala, ou mesmo pacientes que se infectaram com vírus já albergando mutações de resistência na protease. Estas pessoas necessitarão de resgates contendo, eventualmente, novos medicamentos e mesmo medicamentos de novas classes. Entre as assim chamadas novas classes, temos a velha enfuvirtida, o raltegravir, a etravirina (não análogo de segunda geração) e o maraviroque, este último ainda não disponibilizado pelo Departamento de DST/aids e hepatites virais do Ministério da Saúde Brasileiro. Talvez a nova classe de medicamentos mais promissora seja a dos inibidores de integrase. O raltegravir, seu primeiro representante, tem sido utilizado em larga escala no Brasil e possivelmente começaremos a identificar resistência a este medicamento de forma crescente. Neste fascículo do Tendências em HIV/aids, o artigo escrito por Terçarioli e Alkmim revisa mecanismos de ação e, especialmente, a resistência ao raltegravir. Neste contexto, é interessante notar que 3 vias mutacionais são possíveis: uma que envolve a via da mutação no códon 155 da integrase, outra no códon 148, e uma terceira envolvendo o códon 143. É importante ressaltar que cerca de 50% das falhas precoces ao raltegravir estão relacionadas à via mutacional envolvendo o códon 1554, o que não deixa de ser uma boa notícia, visto que vírus com mutação neste códon podem potencialmente manter sensibilidade a outros inibidores de integrase como o elvitegravir (Guilead) e o GSK13495721 (Glaxo). A má notícia está no fato de que, mantida a pressão seletiva do raltegravir, ou seja, mantendo-se este fármaco na presença de um esquema em falha virológica, a mutação do códon 155 será substituída por mutações nos códons 148 e/ou 1434, tornando o resgate com os futuros inibidores de integrase menos plausível. Desta forma, a recomendação seria a de se interromper o raltegravir tão logo fosse detectada falha com resistência a este medicamento. É interessante notar que o medicamento até agora denominado GSK13495721 apresenta potência sem precedentes dentre os antirretrovirais5. Em monoterapia, este medicamento proporciona queda média de carga viral de 2,46 log10 em 10 dias de monoterapia em pacientes virgens de tratamento, levando 9 entre 10 a níveis de carga viral inferiores a 400 cópias/mL durante este período e 7 entre 10 a níveis inferiores a 50 cópias/mL, mostrando-se assim como um dos antirretrovirais mais promissores para o futuro. Ricardo Sobhie Diaz Referências. 1. D eeks SG, Gange SJ, Kitahata MM, Saag MS, Justice AC, Hogg RS, Eron JJ, Brooks JT, Rourke SB, Gill MJ, Bosch RJ, Benson CA, Collier AC, Martin JN, Klein MB, Jacobson LP, Rodriguez B, Sterling TR, Kirk GD, Napravnik S, Rachlis AR, Calzavara LM, Horberg MA, Silverberg MJ, Gebo KA, Kushel MB, Goedert JJ, McKaig RG, Moore RD. Trends in multidrug treatment failure and subsequent mortality among antiretroviral therapy-experienced patients with HIV infection in North America. Clin Infect Dis. 2009 Nov 15;49(10):1582-90. 2. Alvarenga A, Araújo L, Ferreria JE, Sucupira MC, Fernandez JCC, Sousa D, Inocencio LA, Sabino EC, Diaz RS. HIV-1 Antiretroviral Resistance Mutations in Subtypes B, C and F, Results of the Brazilian Network for Antiretroviral Resistance (RENAGENO). Int Resist Work, Florida 2009 3. Inocencio LA, Pereira AA, Sucupira MCA, Fernandez JCC, Jorge CP, Souza DFC, Fink H, Diaz RS, Becker IM, Suffert T, Arruda MB, Macedo O, Simão MBG, Tanuri A, and the HIV-BResNet Working Group. Brazilian Network for HIV Drug Resistance Surveillance (HIV-BResNet): a new survey of HIV recent diagnosed individuals collected in 2007/8. J Int AIDS Soc. 2009 Sep 18;12(1):20. 4. Fransen S, Gupta S, Danovich R, Hazuda D, Miller M, Witmer M, Petropoulos CJ, Huang W. Loss of raltegravir susceptibility by human immunodeficiency virus type 1 is conferred via multiple nonoverlapping genetic pathways. J Virol. 2009 Nov;83(22):11440-6. Epub 2009 Sep 16. 5. Lalezari J. 5th IAS 2009, Cape Town, abstract TUAB105. 4 Artigo de Atualização EFEITOS ADVERSOS DOS INIBIDORES DA PROTEASE E INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS PROTEASE INHIBITOR SIDE EFFECTS AND DRUG INTERACTIONS Gisele Gosuen Universidade Federal de São Paulo Endereço para correspondência: Av. Dr. Altino Arantes, 1300 apto. 92-F, Vila Clementino, São Paulo - CEP: 04042-005 RESUMO Eventos adversos são as razões mais comuns para troca ou descontinuação da terapia antirretroviral. Em casos raros, eventos adversos à drogas podem resultar em significativa morbidade e mortalidade. Este artigo aborda eventos adversos dos inibidores de protease e outras classes. São abordados individualmente os efeitos de cada inibidor de protease e interações medicamentosas com as principais classes terapêuticas. Descritores: Preparações farmacêuticas, Eventos adversos, Interações de medimentos ABSTRACT Side effects are the most common reasons for the change or the discontinuance of antiretroviral therapy. In rare cases, adverse drug events may result in significant morbidity and mortality. This article addresses adverse events of protease inhibitors and other classes. The effects of each protease inhibitor and drug interactions with the main therapeutic classes are addressed individually. Keywords: Antiretroviral therapy, Side effects, Drug interactions INTRODUÇÃO Efeitos adversos estão entre as razões mais comuns para troca ou descontinuação da terapia antirretroviral1. Taxas de eventos adversos, limitadas ao tratamento em pacientes virgens de terapia e envolvidos em estudos randomizados, parecem ter declinado com os mais novos regimes de antiretrovirais e são agora menos que 10%. Em estudo de uma coorte suíça, a presença de eventos adversos laboratoriais foi associada com taxas de mortalidade mais altas durante 6 anos de seguimento, evidenciando a importância dos eventos adversos no manejo da maioria dos pacientes2. Enquanto alguns eventos adversos comuns foram identificados durante estudos clínicos, outros menos frequentes (acidose láctica com esteatose hepática e síndrome da fraqueza neuromuscular ascendente progressiva) e complicações a longo prazo (dislipidemia e má distribuição da gordura) não foram observados até as medicações serem utilizadas por anos. Em raros casos, alguns eventos relacionados às drogas podem resultar em significativa morbidade e mortalidade. Embora a meta da terapia anti-retroviral seja atingir e manter a carga viral indetectável e melhorar a imunidade do paciente, o regime selecionado deveria também ser seguro. Isso requer individualização da prescrição, levando em consideração o uso concomitante de outras medicações e histórico de intolerância às drogas. Complicações metabólicas associadas com a infecção pelo Tendências em HIV • AIDS (Volume 5 - Número 2 - 5 -13) HIV e seu tratamento são frequentes. Mudanças na composição corporal foram reportadas com os inibidores da protease (IPs) utilizados na terapia anti-retroviral altamente potente (HAART-Highly Active Antiretroviral Therapy). Essas mudanças consistem em redistribuição anormal de gordura com relativo aumento no abdome (lipo-hipertrofia) e diminuição do tecido adiposo na periferia (lipoatrofia)3, acompanhada por resistência à insulina e dislipidemia4,5. Os distúrbios bioquímicos6,7 observados em muitos pacientes usando IPs lembram aqueles da síndrome metabólica, como definido na população em geral e sugerem que a saúde cardiovascular pode estar em risco de modo semelhante em pacientes infectados pelo HIV, com uso prolongado de HAART8 (Quadro 1). Alterações em alguns ou todos os componentes da síndrome metabólica e em eventos adversos cardiovasculares em decorrência da HAART tem sido reportadas8-11. Mais recentemente, dois estudos prospectivos de longo prazo, um com 23437 pacientes12 e outro com 2386 pacientes13, mostraram que o infarto do miocárdio está diretamente correlacionado com o uso de IPs, mas não com outras drogas da HAART. Resistência à insulina A evidência que suporta o papel direto dos IPs sobre a resistência à insulina e diabetes tipo 2 vem de estudos 5 Quadro 1: Efeitos metabólicos dos IPs e possíveis consequências nos órgãos alvo. Órgão alvo Tecido adiposo Fígado Músculo Pâncreas Distúrbio primário Possível consequência Doença ↓ captação da glicose Apoptose do adipócito Lipoatrofia e lipólise ↓ síntese de triglicérides Músculo (↑ níveis lipídicos Alterações nas intramiocelulares), acúmulo adipocitoquinas com ↑ de gordura visceral, ácidos graxos livres lipotoxicidade ↑ apo B ↑ lipídeos Fígado (esteatose), aterosclerose ↑ VLDL ↑ triglicérides Pancreatite e aterosclerose ↑ produção da ↑ glicemia de jejum glicose hepática Diabetes tipo 2 ↑ SREBP-1c ↑ triglicérides e colesterol Resistência insulínica, aterosclerose ↓ captação da glicose ↑ glicose pós-prandial Intolerância à glicose e Diabetes tipo 2 Aumento central/ ↑ níveis lipídicos ↑ resistência insulínica adiposidade visceral intramiocelular ↓ secreção da insulina Insuficiência insulínica Intolerância à glicose e (↑ toxicidade celular) Diabetes tipo 2 prospectivos com pacientes que iniciaram HAART contendo IP14. Mais estudos definitivos em voluntários saudáveis utilizando IP por pequeno período sugerem que a resistência à insulina é induzida após curto período15 e esse efeito tem sido observado após uma única dose terapêutica de alguns IPs15-17. Embora a inibição da captação da glicose periférica pareça ser aguda com alguns IPs18-20, a mudança na produção da glicose hepática está mais relacionada ao tratamento crônico21,22 , sugerindo mecanismos adicionais19,20,23,24, como adaptações fisiológicas na forma de hipertrigliceridemia25. Então, mecanismos diretos e indiretos podem estar em jogo para a resistência à insulina em diferentes momentos do curso da terapia com IP. Dislipidemia Com o início da HAART, o perfil lipídico plasmático mostrou aumento do colesterol total e LDL-colesterol25. O tratamento com IPs está associado com significante aumento no colesterol total, LDL-colesterol e triglicérides em relação aos níveis basais, pré-tratamento14. Evidência direta de que os IPs promovem dislipidemia (hipertrigliceridemia, aumento do colesterol total e LDL-colesterol e diminuição do HDLcolesterol) deriva de estudos de curto prazo (≤ 4 semanas) com ritonavir (RTV)27, ou lopinavir/r (LPV/r)28 em homens HIV-negativos. Entretanto, o efeito dos IPs nos níveis séricos dos lipídeos parece estar dissociado dos efeitos inibidores deles sobre o HIV, visto que nem todos os IPs induzem dislipidemia em pacientes HIV negativos ou positivos15,29. Estudo observacional italiano que compara o uso de lopinavir/r com fosamprenavir/r combinado à base de análogos em pacientes virgens de TARV, demonstrou redução importante na frequência de hipertrigliceridemia a favor do fosamprenavir (69.8% com lopinavir/r vs 43.6% 6 com fosamprenavir/r; P=0,008). Outro achado interessante desse estudo, independente, foi a redução importante na frequência de diarreia quando fosamprenavir é utilizado (53.5% com lopinavir/r vs 25.6% com fosamprenavir/r, p=0.006)30. O estudo Alert compara o uso de atazanavir/r com fosamprenavir/r com a mesma base de análogos. Nesse estudo, ambas as drogas têm perfil lipídico semelhantes e se mostram favoráveis para uso em pacientes com alterações lipídicas31. Esse estudo utiliza atazanavir ou fosamprenavir associados a 100mg de ritonavir, fato que pode ter impacto no resultado favorável do perfil lipídico. Redistribuição da gordura O aumento absoluto precoce de gordura no tronco associado com o uso de IPs32,33 sugere que a gordura visceral pode ser relativamente resistente à perda induzida pelos Inibidores da Transcripatase Reversa Nucleosídeos (ITRN) e IPs, mas pode ser afetada pelo aumento na circulação de lipídeos. Há forte evidência de que a gordura visceral é distinta da gordura subcutânea, sob os pontos de vista transcricionais e metabólicos34,35. IPs e transporte da glicose A associação da terapia com IP e hipertrigliceridemia/resistência à insulina em pacientes infectados pelo HIV está bem estabelecida36-38. Em animais, bem como em estudos clínicos com pessoas não infectadas pelo HIV, os IPs mostraram inibir agudamente a disponibilidade de glicose estimulada por insulina16,17,39. Os IPs não inibem igualmente a utilização da glicose. Em um estudo, aumento na captação da glicose pela gordura subcutânea foi visto apenas na presença de lipoatrofia, em pacientes infectados pelo HIV, tratados com HAART incluindo IP por mais de 3 meses40, à exceção do atazanavir, que não afeta a sensibilidade à insulina. Efeitos dos IPS na função das células β pacreáticas Os IPs também têm sido associados à resistência periférica à insulina, por alteração na função das células β, com diminuição significante nessa função na primeira fase de liberação da insulina41-42. Lopinavir e RTV reduzem de maneira dramática a secreção de insulina estimulada pela glicose, entretanto, o IDV e o ATV têm pequeno ou nenhum efeito. O mecanismo exato pelo qual os IPs inibem a secreção da insulina permanece desconhecido e sugere etiologia multifatorial. Nefrotoxicidade Estudo EUROSIDA, recentemente apresentado na CROI 2010, analisou 6843 pacientes, demonstrando que 225 pacientes evoluiram para doença renal crônica. Tenofovir, indinavir, atazanavir e lopinavir/r foram as drogas associadas a risco significativo de doença renal43. Implicações clínicas A inibição da captação da glicose - levando à redução do metabolismo - domina o efeito nos miócitos e adipócitos, porém a estimulação da lipogênese é o efeito direto e domiTendências em HIV • AIDS (Volume 5 - Número 2 - 5 -13) nante nos hepatócitos. A adquirida resistência à insulina nos tecidos periféricos é exacerbada pela reduzida função das células β pancreáticas. Uma vez iniciada, a cascata também é mais agravada por mediadores inflamatórios produzidos na presença da infecção crônica pelo HIV. O resultado é hiperlipidemia, juntamente com lipotoxicidade nos hepatócitos e lipoatrofia/resistência à insulina nos tecidos gordurosos. Esses processos podem explicar a lipodistrofia e a síndrome metabólica observadas nos pacientes tratados com IPs. Entretanto, o tratamento normalmente combina drogas de várias classes, incluindo ITRN, ITRNN e, mais recentemente drogas com novos mecanismos de ação, tais como inibidores de fusão. Infelizmente, vários ITRN, especialmente os análogos timidínicos, também podem inibir a diferenciação de novos adipócitos44-45, apesar de não haver evidência de que eles afetem o metabolismo no adipócito maduro. É possível que esse mecanismo seja responsável por relatos de lipoatrofia em pacientes nunca tratados com IPs46. O efeito combinado de ITRN e IPs pode ser responsável pela alta prevalência de lipodistrofia e, especialmente, lipoatrofia em pacientes HIV47-48-10. Em resumo, resistência à insulina, dislipidemia e redistribuição da gordura são complicações clínicas comuns na era HAART. Muitos fatores, que incluem o uso de agentes antirretrovirais, mas não são limitados por ele, contribuem para o desenvolvimento dessas complicações. As mudanças metabólicas e na composição corporal contribuem para acelerar a doença cardiovascular. Algumas características podem ser prevenidas com a escolha cuidadosa do antiretroviral e com o tratamento precoce. As questões-chave são o alto risco cardiovascular associado às alterações morfológicas e metabólicas e o desafio de novos regimes eficazes da HAART, que minimizem ou eliminem as complicações metabólicas. Os principais efeitos colaterais dos IPs (Quadro 2)49. Interações potenciais deveriam ser levadas em conta quando se escolhe o esquema antiretroviral. Muitas drogas interagem com os antirretrovirais por inibição ou indução do metabolismo hepático50. Todos os IPs são metabolizados no fígado pelo sistema do citocromo P450, particularmente pela isoenzima do citocromo P3A4. Alguns exemplos dessas drogas incluem medicações comumente prescritas para pacientes HIV positivos, como: estatinas, benzodiazepínicos, bloqueadores do canal de cálcio, imunossupressores, anticonvulsivantes, agentes para disfunção erétil, derivados do ergot, antifúngicos azólicos, macrolídeos e contraceptivos orais. Erva de São João também pode causar interação negativa. Todos os IPs são substratos do citocromo P3A4, portanto suas taxas metabólicas podem ser alteradas na presença de indutores ou inibidores do citocromo. Alguns IPs podem também ser indutores ou inibidores de outras isoenzimas do citocromo e da glicoproteína-P ou outros transportadores. O tipranavir, por exemplo, é um potente indutor da glicoproteína-P. O efeito do tipranavir/r no citocromo P3A parece ser inibitório. Então, a concentração de drogas que são substrato para o citocromo P3A é provavelmente aumentada, se estas forem dadas com TPV/r. O efeito do TPV/r sobre uma droga que é um substrato para ambos, citocromo P3A e glicoproteína-P não pode ser previsto de forma confiável; Tendências em HIV • AIDS (Volume 5 - Número 2 - 5 -13) Quadro 2: Principais efeitos colaterais dos IPs. IP Efeitos colaterais atazanavir (ATV) hiperbilirrubinemia indireta, prolongação do intervalo PR, hiperglicemia, má distribuição da gordura, possibilidade de sangramento (hemofílicos), nefrolitíase darunavir (DRV) rash cutâneo, Síndrome de Stevens-Johnson e eritema multiforme, hepatotoxicidade, diarréia, náusea, cefaleia, hiperlipidemia, elevação das transaminases, hiperglicemia, má distribuição da gordura, possibilidade de sangramento (hemofílicos) fosamprenavir (FPV) rash cutâneo, diarréia, náusea, vômito, cefaleia, hiperlipidemia, elevação das transaminases, hiperglicemia, má distribuição da gordura, possibilidade de sangramento (hemofílicos), nefrolitíase indinavir (IDV) nefrolitíase, intolerância gastrointestinal, náusea, hiperbilirrubinemia indireta, hiperlipidemia, cefaleia, astenia, turvação visual, tontura, rash, gosto metálico, trombocitopenia, alopécia, anemia hemolítica, hiperglicemia, má distribuição da gordura, possibilidade de sangramento (hemofílicos) lopinavir/r (LPV/r) intolerância gastrointestinal, náusea, vômito, diarréia, astenia, hiperlipidemia (hipertrigliceridemia, especialemente), elevação das transaminases, hiperglicemia, má distribuição da gordura, possibilidade de sangramento (hemofílicos), prolongação do intervalo PR, prolongação do intervalo QT e “Torsade de Pointes” ritonavir (RTV) intolerância gastrointestinal, náusea, vômito, diarréia, parestesias (perioral e em extremidades), hiperlipidemia (hipertrigliceridemia, especialmente), hepatites, astenia, perversão do paladar, hiperglicemia, má distribuição da gordura, possibilidade de sangramento (hemofílicos) saquinavir (SQV) intolerância gastrointestinal, náusea, diarréia, cafaléia, elevação das transaminases, hiperlipidemia, hiperglicemia, má distribuição da gordura, possibilidade de sangramento (hemofílicos) tipranavir (TPV) hepatotoxicidade, rash cutâneo, hemorragia intracraniana (evento raro), hiperlipidemia, hiperglicemia, má distribuição da gordura, possibilidade de sangramento (hemofílicos). significante diminuição nas concentrações do SQV, FPV e LPV/r têm sido observadas quando dadas com TPV/r. O efeito inibitório do RTV, entretanto, pode ser benéfico quando adicionado a outro IP, como: ATV, FPV, ou IDV.51 Os IPs DRV, LPV, SQV e TPV requerem co-administração com RTV. Doses menores que as terapêuticas do RTV são comumente usadas na prática clínica para melhorar a farmacocinética aumentando a concentração e prolongando a meia-vida dos IPs ativos52. A maior concentração reduz a chance de desenvolvimento de resistência como resultado de exposição sub-ótima à droga; meia-vida mais longa permite doses menos frequentes, as quais podem melhorar a adesão. A coadministração dos IPs com um indutor do citocromo P3A4, por outro lado, pode levar à concentrações sub-ótimas da droga e reduzir os efeitos terapêuticos dos antirretrovirais. Essas combinações de drogas devem ser evitadas se agentes alternativos puderem ser usados. Os quadros 3 e 449 listam algumas interações e sugerem algumas recomendações. 7 Quadro 3: Principais interações medicamentosas dos IPs Droga Concomitante IP Efeito sobre o IP ou concentração da droga concomitante Recomendações Antiácidos ATV +/- r ↓ ATV quando administrado, simultaneamente FPV ↓ área sob a curva do APV em 18% (não FPV pode ser dado simultaneamente ou 2 horas antes ou 1 hora depois do antiácido significante) TPV/r ↓ área sob a curva em 27% Dar ATV ao menos 2 horas antes ou 1 hora depois do antiácido Dar TPV ao menos 2 horas antes ou 1 hora depois do antiácido IPs com RTV Antagonistas de receptores H2 ATV/r ↓ ATV DRV/r e LPV/r Sem efeito significante Dose de antagonista do receptor H2 não deveria exceder 40mg de famotidina 2x/dia em pacientes virgens de tratamento ou 20mg 2x/dia em pacientes experimentados. Administrar ATV/r simultaneamente com e/ou >10 horas após o antagonista do receptor de H2. Se usar TDF e antagonista de receptor de H2 no tratamento de pacientes experimentados, usar ATV/r na dose de 400/100mg IPs sem RTV Inibidores de bomba de prótons Dose única do antagonista de receptor H2 não deveria exceder 20mg de Famotidina ou 2x/dia em pacientes virgens de tratamento. Dar ATV ao menos 2 horas antes ou 10 horas depois do antagonista ATV ↓ ATV FPV ↓ área sob a curva do APV em 30% (não Dar separadamente se a coadministração for necessária. Considerar “boosting” significante) com RTV ATV ↓ ATV Não são recomendados em pacientes recebendo ATV sem “boosting” com RTV. Nesses pacientes considerar alternativas (antiácidos, “boosting” ou outro IP) ATV/r ↓ ATV Não deveriam exceder dose de 20mg/dia de omeprazol em pacientes virgens de terapia. Deveria ser administrado ao menos 12 horas antes do ATV/r. Não são recomendados em pacientes experimentados DRV/r e TPV/r ↓ omeprazol IP: sem efeito significante Pode ser necessário aumento da dose de omeprazol com TPV/r FPV +/- RTV, Sem efeito significante IDV, LPV/r SQV/r ↑ área sob a curva do SQV em 82% Monitorar toxicidade do SQV Antifúngicos IPs com RTV fluconazol ATV/r Sem efeito significante SQV/r Sem dados com “boosting” com RTV ↑ área sob a curva do SQV em 50% TPV/r IP sem RTV IDV Sem efeito significante IPs com RTV ATV/r, DRV/r, ↑ itraconazol é possível FPV/r, IDV/r, ↑ IP é possível TPV/r itraconazol Considerar– monitorização dos níveis de itraconazol para ajuste de dose. Altas doses (>200 mg/dia) não são recomendadas LPV/r ↑ itraconazol Não exceder 200mg/dia ou monitorar os níveis de itraconazol SQV/r Interação bidirecional tem sido observada Dose não estabelecida, mas diminuição da dose de itraconazol tem sido observada. Considerar monitoramento dos níveis IP sem RTV 8 ATV e FPV ↑ itraconazol é possível ↑ IP é possível IDV ↑ IDV com dose de 600mg 8/8h + itraconazol Dose: IDV 600mg 8/8h (sem RTV); não exceder 200mg itraconazol 2x/dia. 200mg 2x/dia: IDV aumenta a área sob a curva IDV/r + itraconazol: dose não estabelecida similar à dose de IDV 800mg 8/8h Considerar monitoramento do nível de itraconazol para guiar ajuste de dose Tendências em HIV • AIDS (Volume 5 - Número 2 - 5 -13) Droga Concomitante IP Efeito sobre o IP ou concentração da droga concomitante Recomendações IPs com RTV ATV/r, FPV/r e ↑ cetoconazol IDV/r cetoconazol DRV/r ↑ área sob a curva do cetoconazol em 212% ↑ área sob a curva do DRV em 42% LPV/r ↑ área sob a curva do cetoconazol em 204% ↓ concentração LPV em 25% SQV/r ↑ área sob a curva do SQV (sem RTV) em 190% Usar com cuidado. Não exceder 200mg/dia. Potencial para interação bidirecional com IDV/r, SQV/r e TPV/r IPs sem RTV posaconazol ATV Não significante Desnecessário ajuste de dose FPV Sem dados ↑ área sob a curva do APV 31% ↑ área sob a curva do Cetoconazol em 44% Considerar redução da dose de Cetoconazol se > 400mg/dia. Similar interação com APV IDV ↑ área sob a curva do IDV em 68% Dose: IDV 600mg 8/8h IDV/r + cetoconazol: dose não estabelecida. ATV/r ↑ área sob a curva do ATV em 146% Monitorar efeitos adversos ATV ↑ área sob a curva do ATV em 268% Monitorar efeitos adversos IPs com RTV voriconazol ↓ área sob a curva do voriconazol em 82% com ATV/r, DRV/r, Uso concomitante de voriconazol e RTV 100mg 1x/dia ou 2x/dia não é RTV 400mg 2x/dia FPV/r, IDV/r, ATV recomendado. Considerar monitoramento do nível de voriconazol. Administração LPV/r, SQV/r, ↓ área sob a curva do voriconazol em 39% com de voriconazol com RTV 400mg 2x/dia ou mais está contra-indicado TPV/r RTV 100mg 2x/dia IPs sem RTV ATV e FPV ↑ voriconazol é possível ↑ IP é possível IDV Sem efeito significante Monitorar toxicidade Sem ajuste de dose Anticonvulsivantes IPs com RTV ↑ carbamazepina é possível ATV/r, FPV/r, Considerar anticonvulsivante alternativo ou monitorar os níveis de ambas TPV/r ↑ área sob a curva da carbamazepina em IDV/r, LPV/r, as drogas e a resposta virológica. Não coadministrar com LPV/r dose única 26% SQV/r, TPV/r diária Pode ↓ os níveis dos IPs carbamazepina DRV/r ↑ área sob a curva da carbamazepina em 45% Monitorar nível do anticonvulsivante e ajustar a dose DRV: sem mudança significante IPs sem RTV ATV, FPV e IDV Pode ↓ os níveis dos IPs ↓ IDV Monitorar nível do anticonvulsivante e a resposta virológica. Considerar anticonvulsivante alternativo; RTV “boosting” para ATV, FPV e IDV e/ou monitorar nível do IP lamotrigina LPV/r ↓ área sob a curva da lamotrigina em 50% LPV: sem mudança significante Titular lamotrigina. Similar interação é possível com outros IPs com RTV fenobarbital Todos IPs Pode ↓ as doses dos IPs Considerar anticonvulsivante alternativo ou monitorar os níveis de ambas as drogas e assegurar resposta virológica. Não coadministrar com LPV/r dose única diária IPs com RTV ATV/r, DRV/r, ↓ fenitoína é possível IDV/r, SQV/r, ↓ IP é possível TPV/r Considerar anticonvulsivante alternativo ou monitorar os níveis de ambas as drogas e assegurar resposta virológica FPV/r ↓ área sob a curva da fenitoína em 22% ↑ área sob a curva do APV em 20% LPV/r Considerar anticonvulsivante alternativo ou monitorar níveis de ambas as ↓ área sob a curva da fenitoína em 31% e de drogas e assegurar resposta virológica. Não coadministrar com LPV/r dose LPV/r em 33% única diária fenitoína Monitorar nível da fenitoína e ajustar a dose IPs sem RTV ATV, FPV e IDV Pode ↓ os níveis dos IPs Tendências em HIV • AIDS (Volume 5 - Número 2 - 5 -13) Considerar anticonvulsivante alternativo; “boosting” de RTV para ATV, FPV e IDV; e/ou monitorar nível do IP. Monitorar nível do anticonvulsivante e resposta virológica 9 Droga Concomitante acido valproico IP LPV/r Efeito sobre o IP ou concentração da droga concomitante ↓ do acido valpróico é possível ↑ área sob a curva do LPV em 75% Recomendações Monitorar níveis do acido valproico e resposta. Monitorar toxicidade Tuberculostáticos ATV +/- RTV claritromicina Podem causar prolongamento do interval QT. Reduzir a dose de claritromicina em 50%. Considerar terapia alternativa ↑ área sob a curva claritromicina em 94% DRV/r ↑ área sob a curva da claritromicina em 57%; IDV ↑ área sob a curva da claritromicina em DRV/r, IDV +/– 53%; LPV/r ↑ claritromicina; RTV 500mg 2x/ R T V , L P V / r , dia ↑ claritromicina em 77%; SQV sem RTV ↑ SQV/r e TPV/r claritromicina em 45%; claritromicina ↑ SQV sem RTV em 177%; TPV/r ↑ claritromicina em 19% e ↓ o metabólito ativo em 97%; claritromicina ↑ TPV em 66% FPV ↑ área sob a curva do APV em 18% ATV +/- RTV ↑ área sob a curva da rifabutina (150mg/dia) em 110% e o metabólito em 2101%, comparada com a dose de 300mg/dia, isoladamente DRV/r rifabutina (150mg em dias alternados) e metabólito ↑ área sob a curva em 55% comparado a rifabutina na dose de 300mg/dia Monitorar toxicidade da claritromicina. Reduzir 50% da dose de claritromicina em pacientes com “Clearance” de creatinina de 30−60mL/min. Reduzir 75% da dose de claritromicina em pacientes com “Clearance” de creatinina < 30mL/min Sem ajuste de dose IPs com RTV FPV/r IDV/r rifabutina LPV/r rifabutina 150mg em dias alternados ou 3x/semana rifabutina (150mg em dias alternados) e metabólito Resistência adquirida tem sido reportada em pacientes com níveis inadequados ↑ área sob a curva em 64% comparado a de rifabutina 150mg 2x/semana e IP/r rifabutina na dose de 300mg/dia rifabutina 150mg 3x/semana em combinação com LPV/r tem resultado em ↑ rifabutina níveis inadequados de rifabutina levando à resistência em pacientes com HIV e Tuberculose. Monitoramento da rifabutina é recomendado rifabutina (150mg em dias alternados) e metabólito ↑ área sob a curva em 473% comparado a rifabutina na dose de 300mg/dia SQV/r ↑ rifabutina sem RTV TPV/r rifabutina (150mg/dia) e metabólito ↑ área sob a curva em 333% FPV ↑ rifabutina IDV ↑ área sob a curva da rifabutina em 204% e do rifabutina 150mg/dia ou 300mg 3x/semana + IDV 1g 8/8h ou considerar IDV ↓ em 32% “boosting” com RTV Todos os IPs ↓ IP em > 75% IPs sem RTV rifampicina rifabutina 150mg/dia ou 300mg 3x/semana Não coadministrar benzodiazepínicos alprazolam e diazepam Todos os IPs ↑ benzodiazepínicos é possível RTV 200mg 2x/dia x 2 dias Considerar benzodiazepínico alternativo como lorazepam, oxazepam ou ↑ meia-vida do alprazolam em 200% e a área temazepam sob a curva em 248% lorazepam, oxazepam e temazepam Todos os IPs Sem dados midazolam Todos os IPs ↑ midazolam Não coadministrar via oral SQV/r ↑ área sob a curva do midazolam (oral) Via parenteral pode ser usado para sedação, com cautela em 1144% e a concentração em 327% triazolam Todos os IPs ↑ triazolam RTV 200mg 2x/dia ↑ meia-vida do triazolam em Não coadministrar 1200% e área sob curva em 2000% Metabolismo desses benzodiazepínicos diminui interação Medicações cardiológicas 10 bosentan Em pacientes em uso de RTV por mais de 10 dias: iniciar bosentan na dose Todos os IPs com LPV/r ↑ bosentan 48-vezes (Dia 4) e 5-vezes de 62,5mg/dia ou em dias alternados. Em pacientes em uso de bosentan que RTV (Dia 10) necessitem de RTV: descontinuar bosentan > 36 horas antes de iniciar RTV e reintroduzir após 10 dias na dose de 62.5mg/dia ou em dias alternados digoxina RTV e SQV/r RTV 200mg 2x/dia ↑ área sob a curva da digoxina Monitorar níveis de digoxina. Diminuição da dose de digoxina pode ser em 29% e a meia-vida em 43% necessária SQV/r ↑ área sob a curva da digoxina em 49% Tendências em HIV • AIDS (Volume 5 - Número 2 - 5 -13) Droga Concomitante IP Bloqueadores de Todos os IPs canal de cálcio ATV +/-RTV diltiazem Efeito sobre o IP ou concentração da droga concomitante Recomendações ↑ dos bloqueadores é possível Usar com cautela. Monitorar dose dos bloqueadores. Monitorização com ECG IDV/r ↑ área sob a curva da amlodipina em é recomendada quando usados com ATV 90% diltiazem ↑ área sob a curva em 125% Diminuição de diltiazem em 50%. Monitorização com ECG é recomendada DRV/r, FPV +/– RTV, IDV ↑ diltiazem é possível +/– RTV, LPV/r, IDV/r ↑ área sob a curva do diltiazem em 26% SQV/r e TPV/r Usar com cautela. Ajuste de dose de acordo com a resposta clínica e toxicidade Produtos herbais erva de São João Todos os IPs ↓ IP Não coadministrar Contraceptivos hormonais IPs com RTV Contraceptivos hormonais ATV/r ↓ etinilestradiol ↑ norgestimato Contraceptivos orais deveriam conter ao menos 35µg de etinil estradiol. Contraceptivos contendo progestagênios outros além de noretindrona ou norgestimato não têm sido estudado DRV/r ↓ área sob a curva de etinilestradiol em 44% ↓ área sob a curva de noretindrona em 14% Usar alternativa ou método adicional FPV/r ↓ área sob a curva de etinilestradiol em 37% ↓ área sob a curva de noretindrona em 34% Usar alternativa ou método adicional LPV/r ↓ área sob a curva de etinilestradiol em 42% ↓ area sob a curva de noretindrona em 17% Usar alternativa ou método adicional SQV/r ↓ etinilestradiol Usar alternativa ou método adicional TPV/r ↓ área sob a curva de etinilestradiol em 48% noretindrona: sem mudança significativa Usar alternativa ou método adicional IPs sem RTV Contraceptivos orais deveriam conter não mais que 30µg de etinilestradiol ou usar método alternativo. Contraceptivos orais contendo menos que 25 µg de Etinilestradiol ou não tem sido estudados ATV ↑ área sob a curva de etinilestradiol em 48% ↑ área sob a curva de noretindrona em 110% FPV APV: ↑ etinilestradiol e noretindrona; ↓ APV Usar método alternativo 20% IDV ↑ área sob a curva de etinilestradiol em 25% ↑ área sob a curva de noretindrona em 26% Sem ajuste de dose Inibidores da HMG-CoA redutase atorvastatina lovastatina pravastatina Todos os IPs ↑ atorvastatina; DRV/r + atorvastatina 10mg é similar a atorvastatina 40mg, isoladamente; FPV +/– RTV ↑ área sob a curva da atorvastatina Usar dose inicial mais baixa possível com monitoramento da toxicidade ou em 130%–153%; considerer outro inibidor da HMG-CoA redutase LPV/r ↑ área sob a curva da atorvastatina em 488%; SQV/r ↑ área sob a curva da atorvastatina em 79%; TPV/r ↑ área sob a curva da atorvastatina em 836% Todos os IPs ↑ significante da lovastatina Não coadministrar DRV/r ↑ área sob a curva da pravastatina em 81% Usar dose inicial mais baixa possível com monitoramento LPV/r ↑ área sob a curva da pravastatina em 33% Sem ajuste de dose SQV/r ↓ área sob a curva da pravastatina em 47-50% Sem ajuste de dose ↑ área sob a curva da rosuvastatina em 213% e a concentração em 600% Usar dose inicial mais baixa possível com monitoramento ou considerer outro inibidor da HMG-CoA redutase DRV/r, IDV +/↑ rosuvastatina RTV, SQV/r ATV/r rosuvastatina FPV +/- RTV LPV/r TPV/r Sem mudança significante Sem ajuste de dose ↑ área sob a curva da rosuvastatina em 108% e a concentração em 366% Usar dose inicial mais baixa possível com monitoramento ou outro inibidor ↑ área sob a curva da rosuvastatina em 26% e da HMG-CoA redutase a concentração em 123% Tendências em HIV • AIDS (Volume 5 - Número 2 - 5 -13) 11 Droga Concomitante sinvastatina IP Todos os IPs Efeito sobre o IP ou concentração da droga concomitante ↑ sinvastatina Recomendações Não coadministrar IPs com RTV metadona ATV/r, DRV/r, FPV/r, IDV/r, LPV/r, SQV/r, TPV/r ↓ os níveis da metadona: ATV/r, DRV/r, FPV/r (↓ área sob a curva em 16%−18%); LPV/r (↓ área sob a curva da metadona em 26%–53%); SQV/r 1000/100mg 2x/dia ↓ área sob a curva da metadona em 19%; TPV/r ↓ área sob a curva da metadona em 48% IPs sem RTV ATV e IDV Sem efeito significante FPV Sem dados com FPV Monitorar metadona como clinicamente indicado. A interação com FPV é Com APV: a concentração da metadona ↓ em similar 21%; área sob a curva sem mudança significante Inibidores da fosfodiesterase tipo 5 sildenafil Todos os IPs DRV/r + sildenafil 25mg é similar a sildenafil 100mg, isoladamente; IDV ↑ área sob a curvas do sildenafil em 340%; RTV 500mg 2x/dia ↑ área sob a curva de sildenafil em 1000%; SQV com RTV ↑ área sob a curva de sildenafil em 210% sildenafil Para tratamento de disfunção erétil: iniciar com 25mg a cada 48 horas e monitorar efeitos adversos Para tratamento de hipertensão arterial pulmonar: contraindicado taladafil Todos os IPs RTV 200mg 2x/dia BID ↑ área sob a curva de Tadalafil em 124%; tadalafil: iniciar com 5mg e não exceder dose única de 10mg a TPV/r (primeira dose dose) ↑ área sob a curva de tadalafil cada 72 horas. Monitorar efeitos adversos em 133%; TPV/r steady state: sem efeito significante vardenafil Todos os IPs IDV ↑ área sob a curva em 16 vezes; RTV 600mg 2x/dia ↑ área sob a curva de Vardenafil em 49 vezes vardenafil: iniciar com 2.5mg a cada 72 horas e monitorar efeitos adversos Quadro 4: Outras interações IP Droga concomitante Efeitos Dose e comentário clínico Todos os IPs dexametasona ↓ IPs é possível DRV/r paroxetina sertralina ↓ área sob a curva em 39% da paroxetina e 49% da sertralina Monitorar resposta antidepressiva. Titular dose FPV/r paroxetina ↓ área sob a curva em 55% da paroxetina Monitorar resposta antidepressiva. Titular dose IDV/r Suco de “Grapefruit” e Vitamina C >1 g/dia ↓ IDV Monitorar resposta virológica LPV/r bupropiona ↓ área sob a curva em 57% da bupropiona Titular bupropiona salmeterol ↑ salmeterol Não coadministrar RTV trazodona RTV 200mg 2x/dia ↑ área sob a curva de trazodone em 240% Usar dose mais baixa de trazodona e monitorar efeitos adversos no sistema nervoso central e cardiovascular TPV/r bupropiona ↓ area sob a curva de bupropiona em 46% Titular bupropiona Em conclusão, reforço a individualização do tratamento como objetivo atual de abordagem do paciente infectado pelo HIV. A adequação do esquema às necessidades e condições clínicas dos pacientes garantem maior adesão, tolerabilidade e sucesso da terapia. Referências 1.O’Brien ME, Clark RA, Besch CL, et al. Patterns and correlates of discontinuation of the initial HAART regimen in an urban outpatient cohort. J Acquir Immune Defic Syndr. 2003;34(4):407-414. 2.Keiser O, Fellay J, Opravil M, et al. 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Antimicrob Agents Chemother, 1997. 41(3):654-60 13 Artigo de Revisão Raltegravir: Perfil de Resistência Genotípica em indivíduos infectados pelo HIV Raltegravir: Genotypic Resistance Profile in HIV-infected Patients Gisela Ramos Terçarioli1, Wagner Alkmim1,2 1 - Departamento de Medicina, Disciplina de Infectologia, Universidade Federal de São Paulo; 2 - Departamento de Microbiologia, Imunologia e Parasitologia, Universidade Federal de São Paulo Endereço para correspondência: R, Manguari, no 401, BL-C3, apto 32 02167080 – São Paulo SP (Brasil) E-mail: [email protected] Resumo Aprovado em 2007 pela US Food and Drug Admnistration (FDA), o raltegravir foi a primeira droga inibidora da integrase utilizada no tratamento de pacientes infectados por isolados de HIV multirresistentes. Assim como ocorre com todas as outras classes de inibidores do HIV, a literatura ja descreve o surgimento de mutações de resistência no gene da integrase, seguido de falha terapêutica em pacientes tratados com esta droga. O objetivo deste trabalho é realizar uma revisão bibliográfica de diversos estudos genotípicos de resistência ao raltegravir realizados até o presente momento. Mesmo com o surgimento da resistência, a maior parte das pesquisas aponta para um desfecho promissor da utilização do raltegravir no tratamento da AIDS. Neste sentido, estudos sobre a dinâmica e o monitoramento da resistência do HIV ao raltegravir são ferramentas importantes para criar condutas de tratamento adequadas que promovam o sucesso terapêutico do paciente. Descritores: Raltegravir; HIV; Farmacorresistência Viral; Agentes Anti-HIV. Abstract Approved in 2007 by the US Food and Drug Admnistration (FDA), raltegravir is the first HIV integrase inhibitor used in treatment of patients infected with multidrug-resistant HIV strains. As all other classes of HIV inhibitors, virological failure in patients under raltegravir treatment and emerging mutations in the integrase gene are facts recently cited in literature. The goal of this project is doing a literature review of genotypic resistance to raltegravir studies until this moment. Even with emerging resistance, most studies point to a promising outcome of raltegravir utilization in treatment of AIDS. Therefore studies about dynamic and surveillance of HIV resistance to raltegravir are important to create correct treatment practices that leads to therapeutic success for patient. Keywords: Raltegravir; HIV; Drug Resistance, Viral; Anti-HIV Agents. INTRODUÇÃO Com a utilização da terapia antiretroviral altamente ativa (HAART) e o surgimento de novos fármacos antiretrovirais, houve uma drástica redução da mortalidade e um considerável aumento da qualidade de vida dos pacientes infectados pelo HIV. No entanto, o aparecimento da resistência viral ao longo do tratamento, consequência do grande potencial mutagênico viral, impõe uma barreira no sucesso a médio e longo prazo do processo terapêutico1. O raltegravir é uma nova droga pertencente à classe de inibidores de integrase, enzima viral catalisadora de um processo replicativo essencial no ciclo de vida do HIV, e representa um dos mais promissores alvos de intervenção terapêutica existentes atualmente. Assim sendo, a utilização do raltegravir no tratamento de pacientes infectados com isolados de HIV multirresistentes já é uma realidade2. Neste contexto, é fundamental monitorar o surgimento de isolados HIV resistentes a esse novo fármaco e entender a sua dinâmica de aquisição de resistência, a fim de maximizar a eficácia de tratamento da nova droga. Para isso, são realizados estudos de genotipagem, que identificam mutações relevantes na sequência do genoma viral, bem como estudos de fenotipagem, os 14 quais definem o efeito dos padrões genotípicos mutacionais no perfil de susceptibilidade do vírus. Este artigo evidencia diversos estudos sobre genotipagem e perfil de susceptibilidade in vitro e in vivo de isolados clínicos do HIV ao raltegravir, trazendo uma revisão recente da literatura e reunindo aspectos importantes a respeito do primeiro antiretroviral inibidor de integrase aprovado para o tratamento de pacientes infectados pelo HIV. Problemática da resistência do HIV O fenômeno da resistência do HIV aos antiretrovirais tem aumentado com o passar do tempo, principalmente em países onde a terapia antiretroviral já é praticada há mais de uma década. Estudos de vigilância realizados no Brasil, Europa e América do Norte reportaram uma prevalência de resistência à antiretrovirais variando de 5 a 15% em pacientes recentemente diagnosticados e de 10 a 25% em pacientes com infecções agudas 3. O surgimento de isolados de HIV resistentes à drogas está associado à grande diversidade genética viral, que ocorre principalmente como consequência da sua elevada taxa mutacional in vivo, na ordem de 10-4 a 10-5 nucleotídeo por ciclo de replicação Tendências em HIV • AIDS (Volume 5 - Número 2 - 14 -18) e da sua alta taxa de replicação, produzindo cerca de 10 bilhões de partículas virais por dia em indivíduos não tratados 4. Ademais, fatores como a ausência (e/ou reduzida) atividade de correção de erros de incorporação de nucleotídeos da transcriptase reversa viral, a rápida taxa de geração (um ciclo viral dura em média 1,47 dias), bem como a pressão seletiva exercida pelo sistema imune do hospedeiro e a existência de eventos de recombinação genética durante a replicação são fatores que podem contribuir para a geração da diversidade genética viral5. Atualmente existem 25 compostos anti-HIV formalmente aprovados para o tratamento da AIDS. Estes compostos agrupam-se em 7 diferentes categorias de acordo com o alvo no ciclo replicativo do HIV6. Já foram identificadas mais de 200 mutações associadas à resistência aos antiretrovirais: cerca de 90 mutações no gene da transcriptase reversa, 60 mutações associadas aos inibidores de protease, mais de 30 mutações no gene da integrase, mais de 15 mutações relacionadas com a resistência a inibidores de fusão e algumas poucas mutações que conferem resistência à classe de inibidores de co-receptores7. Integrase: estrutura e função A integrase (IN), produto do gene pol do HIV, é a enzima responsável pela integração do DNA viral no genoma da célula hospedeira, sendo esta uma etapa fundamental na replicação viral. Trata-se de uma proteína constituída por 288 aminoácidos (aa), possui uma estrutura tetramérica, e é constituída por três domínios estruturais independentes. O domínio N-terminal (aa 1 a 50) é um ligante de zinco e também atua na manutenção da estabilidade da proteína. O domínio central catalytic core (aa 51 a 211) contem sítios ativos altamente conservados, e possui em sua estrutura o motivo de ligação conhecido como “tríade DDE”, que é indispensável para a atividade catalítica do processo de transferência das fitas de DNA, através da formação de um complexo quelante com o Mg2+. O domínio C-terminal (aa 212 a 288) atua na ligação inespecífica do DNA8, 9. A integrase catalisa duas reações. A primeira ocorre no citoplasma da célula do hospedeiro, dentro de um complexo protéico de pré-integração. Nesta reação, o DNA viral é hidrolisado e passa a portar extremidades 3’-hidroxila (-OH) nucleofílicos em ambas as extremidades. O complexo de pré-integração é, então, transportado para o núcleo celular, onde ocorre a segunda reação, que é a transferência do DNA viral para o DNA do hospedeiro. Nesta reação, a integrase transfere as duas novas extremidades 3’-hidroxila do DNA viral para o DNA do hospedeiro por meio de uma única reação de transesterificação. É importante ressaltar que a maior parte dos inibidores de integrase atua preferencialmente na segunda reação, como é o caso do raltegravir e do elvitegravir10. Inibidores de Integrase Os inibidores de integrase representam uma nova e promissora classe de antiretrovirais no tratamento da AIDS. O raltegravir é derivado de um composto que contém ácido diketo (DKA), sendo esta uma molécula capaz de ligar-se na interface do DNA viral e da integrase na porção do complexo quelante. Os dois principais inibidores de integrase existentes são o raltegravir (MK-0518; Isentress, Merck), que já encontra-se aprovado para comercialização e utilização terapêutica e o elvitegravir (JTK-303/ GS-9317), que se encontra em fase III de estudos clínicos8. O elvitegravir é capaz de inibir a replicação de diversos subtipos do HIV-1, bem como isolados clínicos multirresistentes, e sua ação também pode ser estendida para outras retroviroses. Variantes resistentes ao elvitegravir já foram relatadas e existem Tendências em HIV • AIDS (Volume 5 - Número 2 - 14 -18) indícios de que mutações de resistência a esse fármaco podem conferir resistência a outros inibidores de integrase, sugerindo que haja um mecanismo de atuação comum entre eles, bem como o desenvolvimento de resistência cruzada11,12. Raltegravir e a terapêutica antiretroviral Aprovado pelo US Food and Drug Administration (FDA) em 16 de Outubro do ano de 2007, o raltegravir tem demonstrado uma boa eficácia de tratamento, tanto em pacientes previamente tratados, quanto em pacientes que nunca receberam nenhum tipo de antiretroviral. à princípio, todos os grupos e subtipos de HIV-1 e HIV-2 são naturalmente suscetíveis a essa droga12. Assim sendo, esses resultados tornam o raltegravir uma opção viável no tratamento de pacientes em falha terapêutica por estarem infectados com isolados de HIV multirresistentes13. No Brasil, a partir de Janeiro de 2008, o Ministério da Saúde decidiu incluir o raltegravir na lista de medicamentos fornecidos gratuitamente para o tratamento da AIDS pelo SUS. A droga está disponível aos pacientes desde 2009. A princípio, só recebem a droga os pacientes que desenvolveram resistência a outras drogas14. Estudos in vitro realizados com essa droga em cultura de células demonstraram atividade antiviral contra um amplo espectro de isolados de HIV, incluindo seus diversos subtipos, isolados resistentes aos inibidores de protease (PI), inibidores de transcriptase reversa nucleosídeo (NRTI) e não-nucleosídeo (NNRTI) e, até mesmo contra o vírus da Síndrome da Imunodeficiência Símia (SIV)2. Foi demonstrado que o raltegravir, quando associado a uma terapia de base apropriada, proporciona melhor resultado do que o placebo. Tal fato foi provado por diversos estudos. Em um deles, foram comparados 237 pacientes que receberam placebo com 462 pacientes tratados com raltegravir em terapia combinada com outros antiretrovirais. Os níveis de resposta foram superiores nos pacientes tratados com raltegravir de acordo com os seguintes parâmetros: carga viral, em que 89% dos pacientes que usaram o raltegravir em terapia combinada apresentaram níveis de RNA viral no sangue inferiores a 50 cópias/mL contra 69% do grupo placebo; contagem de células CD4, que foi de 129 e 81 células/mm3 em pacientes com raltegravir e placebo, respectivamente; maior eficácia em pacientes com escore de sensibilidade fenotípica e genotípica menos favoráveis, quando comparada ao grupo placebo15. O mesmo foi visto em outro estudo clínico conduzido em diferentes regiões geográficas para avaliar a segurança e eficácia do raltegravir. Pacientes com falha terapêutica e infectados com HIV-1 resistentes a pelo menos três classes de drogas foram comparados com pacientes tratados com placebo. A supressão do RNA do HIV-1 a um nível inferior a 50 cópias/ mL foi atingida na 16ª semana em 61.8% dos pacientes tratados com raltegravir, comparado com 34.7% dos pacientes tratados com placebo e, na 48ª semana em 62.1% comparado com 32.9% do grupo placebo, sendo p<0.001 para ambas as comparações13. Além da sua comprovada eficácia no tratamento da AIDS, o raltegravir apresenta um elemento adicional em suas propriedades farmacológicas que o torna mais atrativo: é metabolizado no fígado via glucoronização, diferentemente como ocorre com diversas outras drogas, em que o metabolismo oxidativo ocorre no sistema do citocromo P-450. Assim sendo, este fármaco não precisa ser potencializado com o ritonavir, tal como ocorre com os inibidores de protease, além 15 de apresentar poucas interações medicamentosas16,17. Da mesma maneira, o raltegravir deve ser considerado uma ótima opção para o tratamento de pacientes HIV soropositivos que realizaram transplante de fígado, uma vez que a co-administração desta droga com a ciclosporina, um potente imunossupressor que é metabolizado pela isoenzima CYP34A do citocromo P-450, pode ser realizada com sucesso18. Diversos estudos foram realizados com o objetivo de comparar a atividade do raltegravir com a do efavirenz (NNRTI). Testes realizados em pacientes infectados pelo HIV-1 que nunca receberam nenhum tipo de antiretroviral, os quais foram tratados com ambas as drogas separadamente, em combinação com tenofovir e lamivudina, mostraram que o raltegravir possui uma eficácia antiretroviral mais rápida e potente do que o efavirenz. Além disso, relatos de eventos adversos foram menos comuns com o raltegravir, uma vez que, após 48 semanas de tratamento, o raltegravir não resultou em aumento de colesterol total e nem triglicérides19. Em outro estudo multicêntrico realizado em 67 instituições de 5 diferentes continentes, entre setembro de 2006 a agosto de 2008, de um total de 566 pacientes, 281 receberam raltegravir e 282 efavirenz, ambos em terapia combinada com tenofovir e emtricitabina. Como resultado, além da potente atividade antiretroviral, a qual foi equivalente à do efavirenz, observou-se que o tempo para alcançar a supressão viral desejada (número de cópias de RNA viral < 50 cópias/mL) foi menor em pacientes tratados com raltegravir (p<0,0001). Além disso, pacientes tratados com o raltegravir tiveram menos efeitos clínicos adversos relacionados à droga quando comparado ao efavirenz, tais como efeitos no sistema nervoso central e pequenas perturbações na concentração sérica de lipídios20, 21,22. Estudos de genotipagem: polimorfismos no gene da integrase Com a utilização do raltegravir no tratamento de pacientes com AIDS, a padronização de ensaios genotípicos do gene integrase para a identificação de possíveis mutações associadas com resistência ao fármaco é cada vez mais necessária. Ensaios de amplificação e sequenciamento da integrase do HIV-1 do grupo M já se encontram bem estabelecidos e são ferramentas úteis no estudo de resistência dessa população, dada sua importância no monitoramento clínico-laboratorial e epidemiológico da AIDS23. Outro ensaio de genotipagem foi desenvolvido com o sistema comercial TruGene, capaz de detectar mutações do HIV-1 que conferem resistência ao raltegravir a ao elvitegravir, tornando essa prática acessível à laboratórios de rotina clínica. Contudo, a porção gênica sequenciada nesta metodologia não inclui os domínios N-terminal e C-terminal, uma vez que pouco se sabe sobre o impacto de mutações nessas regiões no perfil de susceptibilidade do vírus24. A resistência do HIV ao raltegravir é uma consequência de mutações localizadas próximas ao sítio ativo da enzima integrase, as quais podem ser divididas em 3 padrões genéticos distintos e são denominadas de mutações primárias ou “maiores”: Q148H/ K/R, N155H e Y143R/H/C. Cada uma dessas mutações pode vir acompanhada por uma variedade de mutações secundárias ou “menores”, que tanto aumentam a resistência quanto compensam a perda de capacidade replicativa viral que é geralmente associada à presença de mutações de resistência primária. Contudo, é importante destacar que cada um desses padrões genéticos primários é mutuamente excludente e parece evoluir separadamente em distintos genomas virais23. A resistência ao raltegravir é frequentemente iniciada por vírus carreadores de mutações 16 primárias N155H, seguida da emergência e predominância de genomas virais carreadores das mutações Q148R/H/K ou Y143R/C, as quais expressam altos níveis de resistência12. Além disso, é comum que as mutações primárias venham acompanhadas preferencialmente com um tipo de mutação secundária: Q148H com G140S, o padrão N155H com as mutações secundárias L74M, E92Q, T97A, E92Q + T97A, F121Y, E157Q, Y143H, G163K/R, V151I e D232N. A mutação Y143R/H/C ainda é um padrão raro7,25. Polimorfismos naturais no gene integrase já vinham sendo descritos antes mesmo da aprovação formal do raltegravir, o que poderia ter sérias implicações no desenvolvimento de drogas inibidoras de integrase (INI). Uma análise da sequência de 243 genes integrase de cepas HIV-1 do subtipo B, oriundas de pacientes não tratados com nenhum INI, revelou que 64% dos sítios dos aminoácidos (aa) eram polimórficos. Das 42 substituições de aa associadas com resistência aos INI descritas na literatura, somente 21 foram detectadas neste estudo: V72I, L74I, T97A, T112I, A128T, E138K, Q148H, V151I, S153Y/A, M154I, N155H, K156N, E157Q, G163R, V165I, V201I, I203M, T206S, S230N e R263K. Contudo, não ocorreram mutações em regiões cruciais para a realização da atividade de transferência da enzima, tal como no domínio catalytic core, o que explica a excelente atuação dos inibidores de integrase em diversas cepas, independentemente da existência destes polimorfismos26. De fato, a existência desta diversidade de polimorfismos no gene da integrase ocorre de maneira natural, tal como no gene da protease, e não representa um impediente para o sucesso na utilização do raltegravir. Uma análise da sequência codificadora do gene integrase realizada em isolados de HIV-1 provenientes de 112 pacientes recém-infectados e outros 15 com isolados resistentes a 3 classes de drogas revelou os seguintes polimorfismos : V72I, L74I, T97A, V151I, M154I/L, E157Q, V165I, V201I, I203M, T206S e S230N. Também foi realizada uma investigação da susceptibilidade in vitro de 10 isolados com relação a 6 inibidores de integrase, sendo que, em nenhum deles foi verificada sensibilidade reduzida aos inibidores, evidenciando o fato de que mutações secundárias associadas com o fenômeno da resistência são raras27. A pré-existência de mutações de resistência primárias aos inibidores de integrase é, em geral, rara em pacientes infectados pelo HIV-1 que não foram previamente tratados com essa droga, restringindo-se principalmente às mutações secundárias, que por enquanto, não alteram o perfil de susceptibilidade dos isolados quando encontram-se sozinhas. Isso foi o que concluiu Coccherini-Silberstein e colaboradores (2010), que realizaram uma análise genotípica associada ao o perfil de susceptibilidade in vitro ao elvitegravir e raltegravir de isolados de HIV-1 subtipo B obtidos de 49 pacientes28. Estudos de genotipagem realizados na África do Sul, também demonstraram que o raltegravir possui eficácia comprovada no tratamento da AIDS a despeito da presença de mutações. Foi realizada análise genotípica de 73 isolados de HIV-1 subtipo C, obtidos de pacientes não tratados com raltegravir. Não foram encontradas mutações primárias e foram observadas algumas poucas mutações secundárias, tais como T97A, E157Q, V165I e, em sua maioria, V72I29. Neste mesmo contexto, 1.250 sequências do gene integrase de pacientes não tratados por INI, representantes de todos os subtipos de HIV-1, foram analisadas. Foram identificadas 25 mutações associadas com resistência aos INI independentemente do subtipo, sendo as mais comuns V72I e V201I. Mutações primárias para a resistência ao raltegravir, N155H e Q148K/R/H, foram vistas raramente. Contudo, polimorfismos secundários que influenciam Tendências em HIV • AIDS (Volume 5 - Número 2 - 14 -18) o surgimento e/ou atuação das mutações primárias estavam presentes, sugerindo que a taxa de desenvolvimento de resistência é afetada pelo genótipo de base do isolado8. Tal fenômeno também foi observado em um estudo em que 108 isolados de HIV-1 de 7 subtipos do grupo M foram avaliados. Basicamente, a maior parte das variações entre os subtipos ocorreu em mutações secundárias: as substituições V72I, L74I, T125A, e M154I foram identificadas como polimorfismos naturais do subtipo A e C, sendo a V72I e T125A também comuns nos subtipos F1 e G e na CRF02 30. Mutações no gene integrase e relatos de resistência ao raltegravir Há relatos de que a mutação primária Q148H ocorra em maior frequência nos casos de falha terapêutica com o raltegravir do que as outras mutações primárias31. Em muitos casos, a mutação Q148H ocorre simultaneamente com a mutação secundária G140S, a qual não confere resistência ao vírus, mas resgata a sua habilidade replicativa. A combinação dessas duas mutações resulta em uma partícula viral que apresenta grande capacidade de replicação e alto nível de resistência ao raltegravir, sendo esta mais elevada do que a resistência conferida pela mutação N155H32. O mesmo foi observado em outro estudo, que mostrou que estes dois padrões genéticos são exclusivos e independentes e que, com relação à um isolado selvagem, os mutantes N155H e Q148H+G140S são 10 e 50 vezes mais resistentes ao raltegravir, respectivamente33. Mesmo ocorrendo em menor frequência, mutações primárias Y143C/R são consideradas um padrão alternativo de resistência ao raltegravir. Isto foi constatado em uma análise de três pacientes com falha terapêutica ao raltegravir e que foram infectados por vírus carreando a mutação N155H, a qual foi substituída naturalmente pela mutação Y143C/R após algum tempo. A emergência do genótipo Y143C/R em substituição ao padrão N155H está claramente associada à maior perda de sensibilidade ao raltegravir e, em menor grau, ao elvitegravir. Neste mesmo estudo, observou-se que a mutação secundária T97A estava presente nos três pacientes e, além disso, clones contendo somente esta mutação foram capazes de reduzir a sensibilidade do vírus ao raltegravir, o que leva a conclusão de que futuros estudos devem ser realizados a respeito do papel da mutação T97A introduzida exclusivamente no gene integrase34. Em um estudo clínico fase II realizado pela Merck (Merck Protocol 005), de 133 pacientes HIV-1 positivos tratados com diferentes dosagens de raltegravir, 38 (24.8%) tiveram falha terapêutica. Mutações no gene integrase foram observadas em 35 pacientes, sendo as mutações primárias N155 e Q148 as mais observadas, as quais foram responsáveis por reduzir a susceptibilidade em 10 e 25 vezes, respectivamente. Neste estudo, foi possível observar o surgimento de mutações secundárias ao longo das 48 semanas (N155 + L74M, E92Q ou G163R; Q148H/R/K + E138K, G140S), o que aumentava ainda mais o nível de resistência dos isolados31. Em uma análise de 462 pacientes tratados com raltegravir, 105 (23%) apresentaram falha terapêutica após 48 semanas de observação. Foi realizada a genotipagem do gene integrase de 94 pacientes, dos quais 64 (68%) apresentaram evidencias genotípicas de resistência viral ao raltegravir, sendo que 48 deles tinham 2 ou mais mutações. O risco de surgimento de novas mutações estava associado à pacientes com altos níveis de RNA do HIV-1 no sangue, ou aqueles que receberam uma terapia de base com escore genotípico e fenotípico igual a 0. Além disso, também foi possível observar que pacientes recebendo raltegravir como Tendências em HIV • AIDS (Volume 5 - Número 2 - 14 -18) monoterapia, desenvolviam resistência genotípica ao raltegravir antes dos pacientes tratados com mais drogas, o que evidencia a recomendação formal de que o tratamento com raltegravir deve ser realizado em terapia combinada com outros antiretrovirais15. Desde então, outros estudos visando avaliar a evolução das mutações de resistência ao raltegravir foram realizados. A partir de um total de 17 pacientes tratados com o raltegravir, isolados de HIV-1 de 3 pacientes que desenvolveram falha terapêutica durante o tratamento foram avaliados. No momento em que a resistência foi detectada, foram observadas as mutações Q148 nos pacientes 1 e 2 e T66A e E92Q no paciente 3. Um acúmulo gradual de novas mutações foi observado ao longo do tempo em todos os pacientes, incluindo as mutações G140S, Q148H e N155H no paciente 1, L74I no paciente 2 e no paciente 335. Em um estudo prospectivo realizado por da Silva et AL, 51 pacientes receberam tratamento com raltegravir e foram realizadas análises de resistência genotípica dos isolados obtidos dos mesmos. 21% dos pacientes apresentaram “falha virológica” que foram associadas a diferentes padrões de mutações. Assim sendo, foi possível concluir que os diferentes perfis genotípicos podem ser associados co “falha virológica” durante o tratamento com raltegravir36. Poucos estudos foram realizados para examinar o fenômeno de resistência ao raltegravir em pacientes infectados pelo HIV-2. A terapia antiretroviral para o HIV-2 é bastante limitada, uma vez que este vírus é naturalmente resistente aos NNRTI e possui baixa sensibilidade a diversos inibidores de protease. Embora a homologia das sequências do gene integrase no HIV-1 e no HIV-2 tenha sido relatada como sendo de 60%, a susceptibilidade fenotípica dos isolados HIV-2 é similar a dos HIV-137. Contudo, estudos de susceptibilidade in vitro com dois isolados de HIV-2 provenientes de um paciente que teve falha terapêutica com o raltegravir mostraram que o vírus já apresenta resistência a este fármaco. As análises genotípicas dos isolados revelaram a presença da mutação primária N155H já na oitava semana de tratamento, seguida pelo surgimento de mutações secundárias no gene integrase: V72I, I84V, A153G, N160K e S163S/G. Todos estes polimorfismos aumentaram em 37 vezes o padrão de resistência fenotípica ao raltegravir, semelhantemente com o que pode ocorrer com o HIV-138. No Brasil, até então, poucos estudos foram realizados envolvendo a diversidade genética da integrase do HIV-1 e o perfil de resistência genotípica. Passaes et al. (2009) analisaram o DNA proviral de 105 isolados de HIV-1 dos subtipos B, C e F oriundos de pacientes brasileiros virgens de tratamento antirretroviral e o RNA viral do plasma de 30 indivíduos em falha terapêutica. Onze mutações que conferem resistência aos inibidores de integrase foram detectadas nas amostras de pacientes brasileiros. As principais mutações associadas com resistência in vivo ao elvitegravir ou raltegravir (Q148K/H/R, N155H) não foram detectadas40. Por outro lado, Arruda et al. (2010) encontrou alto nível de polimorfismos na região da integrase de 76 isolados de HIV-1 de indivíduos virgens de tratamento com inibidores de integrase, incluindo uma alta prevalência de substituições relacionadas à resistência à esta classe de droga41. Por fim, todos estes relatos suportam a idéia de que, uma vez estabelecida, a resistência ao raltegravir possui a tendência de evoluir e se diversificar, formando progressivamente um reservatório de variantes resistentes, sugerindo a importância do contínuo monitoramento da diversidade genética na região da integrase do HIV. Ademais, muitos autores reforçam a idéia da não realização da monoterapia com o raltegravir e a possibilidade de impacto na eficácia de um tratamento futuro com outros inibidores de integrase39. 17 CONSIDERAÇÕES FINAIS Atualmente existe uma tendência global em aumentar a utilização do raltegravir no tratamento de pacientes infectados por isolados de HIV resistentes a múltiplos antiretrovirais, uma vez que se trata de uma droga potente e com propriedades farmacológicas vantajosas. Seguindo o curso natural da aquisição de resistência em função do alto potencial mutagênico do HIV, atualmente já foram descritas diversas mutações no gene integrase que estão associadas diretamente com a falha terapêutica do raltegravir em pacientes HIV soropositivos. A aquisição de resistência ao raltegravir por isolados de HIV representa um desafio no combate à AIDS e, por isso, mais estudos do perfil genotípico de resistência a essa droga são necessários. Contudo, mesmo com a existência de relatos de resistência ao raltegravir, o cenário é promissor para pacientes multirresistentes, uma vez que esta droga é uma opção de resgate que oferece grande probabilidade de sucesso terapêutico. REFERÊNCIAS 1.Kantor R. Impact of HIV-1 pol diversity on drug resistance and its clinical implications. Curr Opin Infect Dis 2006; 19(6):594-606. 2. Temesgen Z, Siraj DS. Raltegravir: first in class HIV integrase inhibitor. Ther Clin Risk Manag 2008; 4(2):493-500. 3. Shafer RW, Rhee SY, Pillay D, Miller V, Sandstrom P, Schapiro JM, et al. HIV-1 protease and reverse transcriptase mutations for drug resistance surveillance. AIDS. 2007; 21(2):215-23. 4. Bennett DE, Bertagnolio S, Sutherland D, Gilks CF. The World Health Organization’s global strategy for prevention and assessment of HIV drug resistance. Antivir Ther. 2008; 13(2):1-13. 5. Buonaguro L, Tornesello ML, Buonaguro FM. 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AIDS Res Hum Retroviruses. 2010;26(1):105-7 Tendências em HIV • AIDS (Volume 5 - Número 2 - 14 -18) Artigo de Atualização COINFECÇÃO HIV/HCV: CONSIDERAÇÕES SOBRE O TRATAMENTO HIV/HCV COINFECTION: CONSIDERATIONS ABOUT TREATMENT Rafael Gonçalves de Azevedo, Shirley Komninakis Laboratório de Retrovirologia, Disciplina de Infectologia, Departamento de Medicina, Universidade Federal de São Paulo Endereço para Correspondência: Rua Pedro de Toledo, 781 - 16 andar, CEP 04039-032 - SP – Brasil. E.mail: [email protected]. RESUMO A coinfecção HIV/HCV é comum em indivíduos expostos a vias de transmissão percutânea, e a hepatite C tem emergido como a principal causa de mortes entre os pacientes HIV soropositivos devido à sua elevada prevalência nesta população. O tratamento dos pacientes coinfectados deve suprimir a replicação viral, a fim de melhorar a resposta imunológica e conter o dano hepático. Estes dois aspectos devem ser associados à segurança terapêutica, pois a toxicidade dos antirretrovirais utilizados no tratamento anti-HIV, nos indivíduos coinfectados HIV/HCV, pode levá-los a morte. O gerenciamento do tratamento dos pacientes coinfectados é necessário para acompanhar e, se possível, prevenir as complicações relacionadas aos efeitos adversos. Descritores: coinfecção, tratamento, Vírus da Imunodeficiência Humana, HIV, Vírus da Hepatite C e HCV. ABSTRACT The HIV/HCV coinfection is common in parenterally exposed individuals and hepatitis C has emerged as the leading cause of death among HIV positive patients because of the high prevalence among this population. The treatment of coinfected patients should be able to suppress viral replication, improving immunological response without liver damage. These two aspects should be associated with safety, because the toxicity of antiretroviral drugs used in the treatment of the HIV/HCV coinfected individuals, can lead them to death. The management of the treatment of coinfected patients is needed to monitor and, if possible, prevent complications related to adverse effects. Keywords: coinfection, treatment, Human Immunodeficiency Virus, HIV, Hepatitis C virus and HCV INTRODUÇÃO A infecção pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) atinge atualmente mais de 33 milhões de pessoas no mundo, sendo considerada um grande problema de saúde pública mundial1,2. Outra pandemia global que também preocupa é a infecção pelo Vírus da Hepatite C (HCV), que acomete aproximadamente 3% da população mundial (180 milhões de indivíduos)2,3. Tanto o HIV quanto o HCV são disseminados, principalmente, pelo contado direto com o sangue e fluídos corporais contaminados. As principais vias de transmissão são a transfusão de sangue não triada para HCV e/ou HIV, reutilização de seringas, compartilhamento de agulhas por usuários de drogas intravenosas (UDI), instrumentos para fazer tatuagens, colocação de piercing e utilizados por manicures, transmissão sexual e transmissão perinatal2,4,5. Por dividirem a mesma via de transmissão, a coinfecção por estes dois vírus não é um evento incomum, principalmente entre usuários de drogas injetáveis, onde a taxa de infecção pelo HCV em indivíduos HIV positivos com histórico de uso de drogas injetáveis pode variar entre 82 a 93%, dependenTendências em HIV • AIDS (Volume 5 - Número 2 - 19 -22) do do grupo estudado. Acredita-se que há cerca de 4 a 5 milhões de pessoas coinfectadas no mundo6. Pesquisas realizadas que incluíram grupos separados de indivíduos coinfectados HIV/HCV, os UDI e pacientes hemofílicos multi-transfundidos, mostraram um aumento da carga viral plasmática do HCV após a soroconversão do HIV7-9. Com estes estudos, ficou demonstrada a influência direta da coinfecção HIV/HCV na história natural do HCV. Outros trabalhos já mostraram que em grupos de pacientes coinfectados HIV/HCV, o processo inflamatório do fígado é mais intenso do que em pacientes monoinfectados pelo HCV, e os resultados desse evento são a rápida progressão da fibrose hepática e a consequente evolução para doenças do fígado, como: cirrose hepática e carcinoma hepatocelular, nos casos mais graves10,11. Não é apenas o HIV que tem grande influência na progressão do HCV em coinfectados, a recíproca também acontece12. A baixa contagem de linfócitos T CD4+ somada com uma alta carga viral do HIV em indivíduos coinfectados HIV/ HCV, também estão associados com o aumento da mortalidade causada por doenças hepáticas em pacientes com a síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS)13,14. 19 A supressão imunológica causada pelo HIV parece ser a principal causa para o mau prognóstico da hepatite C em pacientes coinfectados HIV/HCV. Na infecção aguda pelo HCV, as células T possuem um importante papel no controle da viremia, tendo como objetivo evitar a evolução para a fase crônica. Em indivíduos coinfectados, a resposta de células T específicas esta diminuída, o que facilita a replicação do HCV no início da infecção e a cronificação da doença15,16. Outro fator essencial é a alteração funcional que o HIV causa nas células Natural Killer e dendríticas, ambas com papel importante na imunidade inata e adaptativa, e isto possivelmente contribui para diminuir a resposta imunológica específica contra o HCV durante o curso da coinfecção HIV/HCV17,18. Na hepatite C crônica, o sistema imunológico esta combatendo constantemente a infecção através da ativação dos linfócitos T CD4+ e T CD8+, o que também acontece durante a coinfecção HIV/HCV, porém em menor nível. Infelizmente já se verificou que essa ativação celular não se eleva durante o curso da coinfecção, mesmo com o ganho de células T e a recuperação imunológica mediante ao HAART (Highly Active Antiretroviral Therapy)19. A lesão hepática na coinfecção também pode ocorrer independentemente da supressão imunológica, como consequência da ação destes vírus no fígado6. Nos últimos 50 anos tivemos um significativo progresso no desenvolvimento de antivirais específicos e efetivos. O maior foco da pesquisa antiviral está nas infecções crônicas, causadas, por exemplo, por vírus como o HIV, o Vírus da Hepatite B (HBV) e o HCV. Inicialmente, os antivirais foram desenvolvidos principalmente contra enzimas virais, no entanto, mais recentemente, as drogas inibem passos do ciclo viral impedindo eventos desde a entrada do vírus na célula alvo até sua montagem e liberação. O sucesso atual no desenvolvimento de novas drogas se baseia em informações sobre a estrutura e função das proteínas virais e os mecanismos moleculares envolvidos nas interações entre os vírus e os hospedeiros. A epidemia causada pelo HIV, um vírus que causa infecção crônica por um longo período, trouxe a necessidade de grandes esforços para controlar esta infecção crônica a partir do desenvolvimento de drogas e estratégias de tratamento com terapias combinadas. A descoberta e o desenvolvimento de drogas para o HCV progrediu significativamente na última década. Atualmente, indivíduos com infecção crônica pelo HCV são tratados com interferon 2a peguilado (PEG-IFN2a) e ribavirina com uma resposta virológica sustentada (RVS) no final do tratamento em 56% dos pacientes20. No entanto, se a RVS se iguala ao clearance viral é controversa, como acontece na infecção oculta pelo HCV depois da RVS no fígado e nos vários tipos de células linfóides (células mononucleares do sangue periférico, linfócitos B e T)21. Similarmente ao desenvolvimento de drogas para o HIV, o conhecimento do ciclo de vida viral esta trazendo novas oportunidades para as intervenções terapêuticas e as primeiras drogas desenvolvidas especificamente contra enzimas do HCV estão mostrando resultados promissores. Apesar de todo o progresso no tratamento do HIV e HVC, há problemas consideráveis, tais como, drogas eficazes 20 contra os vírus selvagens e os mutantes que não permitam o ressurgimento da carga viral, alta biodisponibilidade com eliminação por longo período, dosagens baixas que tenham simples administração (uma vez ao dia) e tudo isso associado a um alto perfil de segurança com baixa toxicidade (poucos efeitos adversos). Alem disso, a utilização de regimes de drogas associadas para não permitir o desenvolvimento de resistência, é indicada. Após a introdução do HAART, ocorreu a diminuição da morbimortalidade entre pacientes infectados pelo HIV causada pela AIDS. Por outro lado, houve o aumento da mortalidade causada por doença relacionada ao fígado nos indivíduos coinfectados pelo HIV/HCV6. O atual tratamento para infecção crônica de pacientes monoinfectados pelo HCV é baseado na administração de Interferon peguilado (PEG-IFN) e ribavirina por 24 a 48 semanas, dependendo do genótipo, com uma taxa de RVS de 50%20,22. Três grandes estudos randomizados e controlados, o APRICOT (AIDS Pegasys Ribavirin International Coinfection Trial), RIBAVIC e o ACTG (AIDS Clinical Trial), compararam o uso de PEG-IFN com ribavirina ao tratamento padrão Interferon com ribavirina em pacientes coinfectados23-25. Os três estudos demonstraram viabilidade do tratamento do HCV em indivíduos coinfectados HIV/HCV e a superioridade do PEG-IFN comparado ao tratamento padrão. As taxas de RVS foram de 14% a 29% em pacientes com genótipo 1 e 44% a 73% com genótipos 2 e 3. Estas taxas de RVS são geralmente inferiores as publicadas em estudos com pacientes monoinfectados pelo HCV, mas a dose de ribavirina utilizada nestes três estudos foi mais baixa do que a comumente prescrita para monoinfectados. Em outro estudo a dose completa foi prescrita e as taxas de resposta ainda foram menores26. A cinética das mudanças do nível do HCV no soro durante o tratamento baseado no INF tem sido muito estudada. Os parâmetros derivados de modelos matemáticos refletem a efetividade do INF, a taxa de eliminação das células e a taxa de clearance dos vírus livres27. Em pacientes coinfectados HIV/HCV a primeira fase de declínio (representando a efetividade) e a segunda fase da inclinação (perda de células infectadas) foram similares a aqueles pacientes monoinfectados HCV, mas o clearance foi menor28. Os pacientes monoinfectados se tornaram HCV-RNA negativos tardiamente durante o tratamento, principalmente devido aos mais altos níveis encontrados antes do tratamento (baseline). A dinâmica da resposta virológica tem sido utilizada para guiar a duração do tratamento nos indivíduos monoinfectados HCV29. Similarmente, estudos com os pacientes coinfectados apresentaram uma resposta virológica inicial (HCV-RNA negativos ou uma diminuição de 2log com relação ao baseline na semana 12) mostrando RVS30,31. Assim como nos pacientes monoinfectados, uma RVS está associada com a não progressão da doença, relacionada com melhora histológica do fígado e, ao longo do seguimento, reduz a ocorrência da descompensação do fígado ou Hepatocarcinoma Celular (HCC)32-34. Além disso, o tratamento nos pacientes coinfectados se mostrou custo efetivo35. Não podemos deixar de comentar que s genótipos do HCV estão relacionados a uma melhor RVS após o tratamento, como os genótipos 2 e 3, que apresentam melhor resposta do que indivíduos infectados co os genótipos 1 e 4. Tendências em HIV • AIDS (Volume 5 - Número 2 - 19 -22) Embora a terapia antiviral para o HCV seja efetiva em pacientes coinfectados está também associada com um aumento do risco de complicações. A interação da ribavirina, um análogo de purina, com outros inibidores de transcriptase reversa nucleosideos podem levar a toxicidade mitocondrial e mortalidade36. Esta síndrome tem sido encontrada em pacientes tratados com didanosina (ddI) e pode ser resolvida na descontinuação do uso deste nucleosídeo37. A descompensação hepática é outra potencial complicação do tratamento com INF e ribavirina em pacientes coinfectados. Embora relativamente raros (1.5% a 2%) está associada com alta taxa de mortalidade, naqueles pacientes com cirrose preexistente, hiperbilirubinemia e o uso do ddI contribui com estes fatores de risco38,39. A ribavirina parece ter um efeito sinérgico com o ddI na inibição da replicação in vitro. Esta droga pode interagir com outros antirretrovirais. A ribavirina, in vitro, antagoniza o efeito da zidovudina (AZT) na replicação do HIV, enquanto o uso do AZT em pacientes recebendo PEG-INF e ribavirina está associado com uma maior taxa de anemia 8,40,41. Outro enfoque importante é a hepatotoxicidade que emergiu após o advento do HAART. Os mecanismos da hepatotoxicidade causada pelo HAART não parece diferir entre os pacientes monoinfectados HCV e os coinfectados pelo HCV/HIV para além do potencial do desenvolvimento de lesões hepáticas, como resultado da reconstituição imune e o agravamento da lesão imunológica mediada para hepatócitos infectados pelo HCV42. Os fatores de risco para hepatotoxicidade em pacientes coinfectados sob terapia antirretroviral incluem a preexistência de grau de fibrose e o genótipo 343,44. Nenhuma combinação especifica de medicação tem sido associada com a injúria ao fígado em pacientes coinfectados assim, a seleção da terapia HAART seria baseada em outros fatores. O sucesso da erradicação da infecção pelo HCV pelo INF e ribavirina e o estabelecimento da RVS está associado com a redução do risco da hepatotoxicidade induzida pelo HAART45. Atualmente alguns estudos demonstraram um novo mar- cador de progressão da fibrose hepática em pacientes monoinfectados HCV e coinfectados HIV/HCV. Trata-se da pesquisa de polimorfismos de nucleotídeo único (SNPs) localizados no cromossomo 19, mais especificamente no gene que codifica a interleucina 28B (IL28B). A IL28B é citocina constituída que desempenha um papel na resposta imunológica adaptativa contra infecções virais46. Atualmente, com o avanço do conhecimento e desenvolvimento das técnicas de biologia molecular e das ferramentas de bioinformática, torna-se claro a importância da presença de alguns polimorfismos e modelos diferenciados da expressão de genes no genoma humano, que podem estar ligados a uma melhor ou pior resposta ao tratamento, uma melhor resposta imune, entre outros fatores. A presença do polimorfismo e expressão gênica diferenciada podem estar diretamente relacionados com diferentes etnias. Já foram publicados trabalhos evidenciando a influência direta na RVS, em indivíduos monoinfectados HCV e coinfectados HIV/HCV, com a presença de um polimorfismo no gene que codifica uma proteína com atividade de interleucina e/ou interferon, por isso foi denominada como IL28B ou INF-lambda. Foi demonstrado que a presença do polimorfismo rs12979860 está correlacionada com a RVS ao tratamento (INF e ribavirina) e a etnia, sendo que indivíduos caucasianos respondem melhor quando comparados com os africanos47-49. Estas pesquisas demonstram que paralelamente ao desenvolvimento de novos antivirais e novas estratégias de tratamento, há a necessidade de mais estudos que avaliem as interações entre o hospedeiro e o vírus a procura de marcadores genéticos que possam ser utilizados como preditores de resposta a estas drogas. Desde o início de 2010, estudos vêm mostrando a influência no prognóstico do tratamento para indivíduos monoinfectados HCV e coinfectados HIV/HCV, sugerindo o uso deste marcador laboratorial na prática clínica e, futuramente, um possível desenvolvimento de uma IL28B sintética pelas indústrias farmacêuticas com o objetivo de utilizar na terapia destes pacientes48,49. REFERÊNCIAS 1. Kilmarx PH. Global epidemiology of HIV. Curr Opin HIV AIDS. 2009 Jul;4(4):240-6. 2. Low E, Vogel M, Rockstroh J, Nelson M. Acute hepatitis C in HIV-positive individuals. AIDS Rev. 2008 Oct-Dec;10(4):245-53. 3. Rauch A, Kutalik Z, Descombes P, Cai T, Di Iulio J, Mueller T, et al. Genetic variation in IL28B is associated with chronic hepatitis C and treatment failure: a genomewide association study. Gastroenterology. 2010 Apr;138(4):1338-45, 45 e1-7. 4. Bezerra C, Oliveira J. Comparação do interferon alfa convencional com o interferon alfa peguilado no tratamento de pacientes com hepatite C crônica. 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Resumo Aproximadamente 3% da população mundial está infectada pelo vírus da hepatite C, o que representa cerca de 175 milhões de pessoas, com 3 milhões de indivíduos sofrendo novas infecções a cada ano. Aproximadamente 70% daqueles infectados desenvolverão hepatite C crônica e destes, 20% desenvolverão cirrose hepática, em média dentro de 20 anos. A mortalidade por causa hepática, uma vez tendo ocorrido cirrose, é de 2-5% ao ano sendo essas taxas mais elevadas entre pacientes co-infectados pelo HIV-1. Uma vacina protetora contra o HCV ainda não está disponível e o tratamento padrão atual consiste na combinação de interferon peguilado e ribavirina, sendo que uma resposta virológica sustentada não ocorre na maioria dos indivíduos infectados pelos genótipos 1 e 4. Este artigo aborda novas estratégias de tratamento e o desenvolvimento de novos fármacos para o tratamento da infecção pelo HCV. Novas estratégias terapêuticas para o HCV podem resultar em resultados mais eficientes naqueles pacientes co-infectados pelo HIV-1. Descritores: HCV, Co-infecção HIV-HCV, tratamento, novos fármacos Abstract About 3% of the world population is infected by hepatitis C virus, which represents about 175 million people, with 3 million new infections per year. About 70% of those infected will be chronically infected of them, 20% will progress to cirrhosis in a mean time of 20 years. Mortality associated with hepatic causes, once cirrhosis occurred is about 2-5% per year, with elevated rates among the HIV-1 co-infected. A protective vaccine against HCV is not available until now and the standard of care consists in combining peg-IFN and ribavirin. Sustained virological success, however, is not satisfactory among the patients infected by genotypes 1 and 4. This article presents new strategies and new drugs that are being developed to treat HCV infection. This new strategies could result in more efficient results among those patients co-infected by the HIV-1. Keywords: HCV, HIV-HCV co-infection, treatment, new drugs Introdução Aproximadamente 3% da população mundial está infectada pelo vírus da hepatite C (HCV), o que representa cerca de 175 milhões de pessoas, com 3 milhões de indivíduos sofrendo novas infecções a cada ano1. Aproximadamente 70% daqueles infectados desenvolverão hepatite C crônica; dentre estes, 20% desenvolverão cirrose hepática, em média dentro de 20 anos. A mortalidade por causa hepática, uma vez tendo ocorrido cirrose, é de 2-5% ao ano1. Doença hepática terminal secundária ao HCV atualmente representa a principal indicação de transplante hepático no mundo ocidental2. Limitações do tratamento atual da hepatite C Uma vacina protetora contra o HCV ainda não está disponível e o tratamento padrão atual consiste na combinação de interferon peguilado (IFN-peg) e ribavirina (RBV), ministrado por 12 a 72 semanas3. No entanto, apenas 40-50% dos indivíduos infectados pelos genótipos 1 e 4 atingem resposta virológica sustentada Tendências em HIV • AIDS (Volume 5 - Número 2 - 23 -28) (RVS) quando comparados aos 80% dos pacientes infectados com genótipos 2 e 3. Além disto, o tratamento com INF-peg e RBV está associado, freqüentemente, com importantes efeitos adversos, como depressão e anemia3. Novas formas de interferon alfa (i.e., albinterferon) estão sendo testadas no momento. Espera-se que estes novos fármacos sejam mais convenientes para o paciente, pois poderão ser utilizados a cada duas ou quatro semanas. Entretanto, o albinterferon não parece aumentar as taxas de RVS em comparação às obtidas com o IFN-peg4. Uma pró-droga da RBV, a taribavirina (ou viramidina), foi recentemente avaliada em estudos clínicos randomizados, e apesar de se ter observado menos ocorrência de anemia, em relação aos pacientes que utilizaram RBV, a eficácia global foi mais baixa, de forma não esperada5. Um novo estudo, utilizando altas doses de taribavirina foi conduzido, mais recentemente, e a eficácia não aumentou significativamente apesar da redução na taxa de anemia6. Para o crescente número de pacientes que já falharam com o tratamento padrão atual, para a hepatite C crônica, opções alternativas tais como tratamento de manutenção com INF- 23 peg7-9 ou retratamento utilizando doses de indução10 e/ou duração mais prolongada do tratamento não mostraram benefícios significantes na maioria dos casos. Novos fármacos antivirais contra o HCV Os esforços em desenvolver novos compostos contra o HCV têm sido limitados pela dificuldade de se conseguir a multiplicação deste vírus em culturas de células e pela ausência de modelos animais adequados. Entretanto, recentes avanços no entendimento da organização genômica do HCV e de seu ciclo de vida, e o desenvolvimento de “replicons” e partículas virais infectantes em sistemas de cultivo em tecidos11,12, têm possibilitado o desenho racional de agentes que inibem especificamente a replicação do HCV13-16. O objetivo futuro do tratamento do HCV é desenvolver medicamentos antivirais que sejam menos tóxicos, mais potentes, e permitam encurtar a duração do tratamento, em relação ao padrão de cuidados atuais. De forma ideal, 1224 semanas de tratamento com estes compostos devem ser suficientes para curar a maioria dos pacientes portadores de hepatite C crônica. Inibidores da protease NS3/4A O domínio amimo-terminal da proteína NS3 forma, juntamente com seu co-fator, NS4A, a protease de serina heterodimérica, que cliva em regiões específicas da poliproteína do HCV em quatro proteínas não estruturais, incluindo a polimerase do HCV ou NS5B. A replicação viral só pode ser iniciada após todas as proteínas individuais terem sido clivadas a partir da poliproteína. A proteína NS3 também tem mostrado ter atividade de nucleotídeo trifosfatase (NTPase), a qual é uma parte integral da atividade da helicase, consequentemente agindo como uma enzima bi funcional com atividade de ambos protease serina e RNA helicase17,18. A importância da protease serina NS3/4A para replicação viral tem sido demonstrado em chimpanzés inoculados com um HCV-RNA genômico, contendo uma mutação no sítio ativo na protease NS3 19. Além disto, um inibidor de protease (IP), que bloqueia a serina protease NS3/4A interrompe a replicação viral, como provado originalmente com ciluprivir. Esta molécula estabeleceu a primeira prova-de-conceito, reduzindo o HCV-RNA 2-3 log10 UI/mL durante 2 dias de monoterapia20,21. O restante do desenvolvimento clínico foi interrompido devido à cardiotoxicidade em modelos animais22. Duas principais classes de moléculas de IP contra o HCV foram desenvolvidas. O primeiro grupo é representado pelos inibidores macrociclicos, não covalentes, como o cluprivir e ITMN191/R-7227. O segundo é constituído pelos inibidores lineares, covalentes reversíveis, também conhecidos como inibidores “serine-trap”. As medicações mais promissoras nesta última classe são telaprevir e boceprevir14,15,23. Telaprevir Este é um PI serina peptídeo mimético NS3/4A. O telaprevir (TPV) foi descoberto usando técnicas de design baseado na estrutura24. O TPV é um inibidor covalente, mas reversível da protease NS3/4ª, com ligação lenta e cinética dissociada25. No sistema de replicon subgenômico o TPV demonstrou uma dramática redução dos níveis de RNA viral após exposição prolongada, eventualmente resultando na eliminação de HCV-RNA nas células de replicon26. O estudo PROVE 1 incluiu pacientes em 4 grupos de tratamento. A taxa de RVS variou de 35% a 67% nos braços com TPV, comparados a 41%, nos controles. Interessantemente, a taxa de RVS em pacientes que completaram 24 semanas de tratamento 24 foi próxima (61%) à observada em pacientes tratados por 48 semanas (67%). Analisando globalmente, 12 de 175 pacientes tratados com TPV apresentaram escape viral por cepas resistentes ao TPV, a maioria portando a mutação R155T/I. Interessantemente, houve predomínio de HCV-1a sobre o HCV-1b neste grupo de vírus resistentes, muito provavelmente porque basta a mudança de um único nucleosídeo no códon 155 para o HCV-1a, enquanto são necessários dois para o HCV-1b. Rash, eventos gastrointestinais e anemia foram os principais efeitos adversos observados27. O estudo PROVE 2 foi conduzido na Europa e apresentou desenho similar ao PROVE 1, com um braço extra, avaliando a combinação IFN-peg/TPV sem RBV28. Em resumo, o tratamento triplo por 12 semanas apresentou um efeito antiviral significativamente mais potente e eficaz na semana 4 e 12, em comparação com o tratamento padrão com IFN-peg/RBV. Uma proporção substancial de pacientes (62%) atingiu RVS com apenas 12 semanas de tratamento. O estudo também evidenciou a importância da co-administração de RBV; apenas 36% dos pacientes tratados com IFN-peg/TPV atingiram RVS na semana 12. Além disto, a RBV reduziu o risco de seleção de resistência ao TPV. Como no PROVE 1, rashes cutâneos, náuseas e anemia foram os principais efeitos adversos do TPV. É importante salientar que a incidência de rash associado ao TPV aumenta com o tempo, e pode afetar mais que um terço de pacientes além da semana 12 de tratamento. Escapes de viremia e seleção de resistência foram observados durante as primeiras 12 semanas, especialmente naqueles que não utilizaram RBV. O TPV também foi avaliado em combinação com INF-peg+RBV em não respondedores prévios ao tratamento padrão (estudo PROVE 3) e resultados preliminares têm mostrado resultados encorajadores, apoiando a idéia de que nestes pacientes o TPV não atua apenas como monoterapia funcional29. Este fármaco esta, atualmente, sendo testada em estudos clínicos de fase 3 e a aprovação é esperada para 2011. Boceprevir Este é outro IP do HCV que parece ser seguro e bem tolerado. Ele se liga de forma reversível ao sítio ativo da protease NS3 e mostra atividade potente no sistema de replicon do HCV (EC50 de 0,3-0,4 μM), com potência aditiva quando comparado ao IFN-peg30. Os resultados iniciais nos estudos de fase 2 foram desencorajadores, provavelmente devido às limitações do desenho do estudo e dosagem. Entretanto, no estudo SPRINT-1, doses mais altas de boceprevir (800 mg de 8/8h) foram testadas em combinação com IFN-peg e RBV em 595 pacientes HCV-1. Um subgrupo recebeu uma fase de indução (lead-in phase) de 4 semanas com IFN-peg e RBV antes de se acrescentar o boceprevir. Os resultados são mostrados na Figura 131. Anemia e efeitos adversos gastrointestinais foram dose dependentes. Enquanto o telapravir deve ser aprovado para 24 semanas de tratamento, parece que o boceprevir deve ser usado por 48 semanas. R-7227/ITMN-191 Dados de ensaios bioquímicos in vitro apontam o R-7227/ITMN191 como potente agente antiviral contra o HCV-1b, com valores de IC50 de 0,8 nM. Ao contrário do telaprevir e boceprevir, este fármaco é um composto macrocíclico que bloqueia seletivamente a protease NS3/4A do HCV32. Estudos pré-clínicos com altas doses em relação às doses que serão utilizadas em humanos mostraram um perfil toxicológico e de segurança favorável com a farmacocinética permitindo a posologia a cada 12h. Em sistemas de replicon, tratamento com R-7227/ITMN-91 associado com IFN-peg proporcionou sinergismo máximo nas concenTendências em HIV • AIDS (Volume 5 - Número 2 - 23 -28) responsável pela replicação do HCV. Este fato tem sido extensivamente caracterizado no nível bioquímico e estrutural23,36,37. A enzima da região NS5B forma um complexo com outras proteínas virais e celulares em uma região perinuclear36,38. Dois tipos de inibidores da polimerase estão em desenvolvimento, análogos de nucleosídeos e não análogos de nucleosídeos. Inibidores de polimerase análogos de nucleosídeos BCV+ BCV+ PEG-IFN+RBV PEG-IFN+RBV 28 semanas 28 semanas com lead-in phase Descontinuação por efeitos adversos BCV+ PEG-IFN+RBV 48 semanas BCV+ PEG-IFN+RBV PEG-IFN+RBV 48 semanas 48 semanas com lead-in phase Variando de 9- 19% 8% BVC: boceprevir; PEG-IFN: interferon peguilado; RBV: ribavirina Figura 1. RVS no estudo SPRINT-1 (análise por intenção de tratar). trações terapêuticas previstas para cada medicamento. Mais recentemente, a atividade destas moléculas tem sido examinada contra outros genótipos do HCV, que não o 1. HCV-2 e HCV-3 mostraram 3 e 19 vezes menos susceptibilidade para a droga, respectivamente. BI-1335 Apesar de o ciluprivir ter sido descontinuado devido à cardiotoxicidade em animais de estudo, mais recentemente um novo composto, BI-1335, foi incluído em estudo de desenvolvimento de fase 233. Esta medicação tem uma meia vida longa (~31h), a qual permite o uso em dose única diária. É metabolizada por glucoronidação com envolvimento marginal do complexo do citocromo P450, levando a um risco reduzido de interações medicamentosas, uma preocupação importante com o telaprevir. No entanto, hiperbilirrubinemia indireta pode ocorrer em alguns pacientes, particularmente em aqueles com a síndrome de Gilbert. A droga tem mostrado um efeito antiviral dose-dependente potente em estudos fase 1, com redução sérica de 3 log10 HCVRNA em 10 dias. Ocorre uma forte ligação protéica e a Cmin alvo, estimada no plasma é 17ng/mL, a qual assegura um IC50 de exposição de ~ 100-fold no fígado. Com uma dose diária de 20mg, a maioria dos pacientes atinge níveis séricos do fármaco mais que duas vezes acima deste limite. TMC-435 Este é um novo inibidor de protease NS3/4A do HCV macrociclico que tem mostrado potente atividade em sistemas de replicon (EC50 de 8 nM). Estudos in vitro têm demonstrado efeitos sinérgicos adicionais quando ministrados em combinação com outros compostos anti-HCV. Esta medicação pode ser ministrada oralmente e proporciona boa distribuição tecidual 34. MK-7009 Este é um inibidor competitivo e não covalente da protease NS3/4A. Estudos fase 2 mostraram que o MK-7009 produziu um efeito sinérgico inibitório no HCV genótipo 1 quando, quando ministrado com IFN-peg35. Inibidores da polimerase NS5B RNA-dependente Várias drogas antivirais contra herpesvírus, vírus da hepatite B ou HIV têm focado na polimerase viral, e com relação ao tratamento da hepatite c crônica não tem sido diferente. A polimerase RNA dependente do HCV, NS5B, é uma enzima viral muito importante, Tendências em HIV • AIDS (Volume 5 - Número 2 - 23 -28) A R-7128 é uma pro-droga oral do PSI-6130, um análogo de citidina, atualmente em estudos de fase 2. Observações pré-clínicas demonstraram que o PSI-6130 tem um valor de EC90 de 4,6 (mais ou menos 2) μM nos ensaios realizados em replicons. A droga mostrou alta especificidade para o HCV, citotoxicidade mínima e não afetou o DNA mitocondrial. O PSI-6130 é convertido, através da fosforilação pela quinase celular em um metabólito ativo 5’trifosfato, o qual inibe a RNA polimerase NS5B do HCV. R-7128 tem demonstrado um perfil de segurança relativamente bom e potência significante contra o HCV em estudo realizado em 24 pacientes expostos à monoterapia, em doses ascendentes, por 2 semanas. R-7128 produziu um declínio do HCV-RNA variando de 0,7 a 2,9 log10, com característica dose-dependente. A redução média no HCV-RNA usando a dose de 1500 mg, duas vezes ao dia, foi de 2,7 log10 UI/mL no dia 15. A administração duas vezes ao dia de R-7128 foi superior à dose única diária, sendo a meia-vida de 5 horas. Nenhum escape viral foi visto com o R-7128, indiretamente sugerindo uma alta barreira genética para a resistência quando comparados com os inibidores de protease e de polimerase não nucleosídeos. Além disto, nenhum evento adverso grave foi relatado, sendo cefaléia e boca seca os mais comuns. Resultados preliminares de um estudo fase 1, no qual R-7128 foi ministrado com IFN-peg alfa-2a e RBV foram, recentemente, expostos. Globalmente, 85% dos pacientes portadores do HCV-1 atingiram HCV-RNA sérico indetectável no soro na semana 4 de terapia tripla, usando 1500 mg de R-7128 duas vezes ao dia, comparado a apenas 10% dos pacientes com tratamento padrão (IFN-peg e RBV)39. O estudo INFORM-1 é o primeiro estudo que examinou a performance da combinação de dois antivirais orais experimentais, R-7128 (análogo de citidina) e R-7227 (inibidor de protease) contra o HCV40. Após 14 dias de tratamento, a maioria dos pacientes apresentou um declínio contínuo no HCV-RNA sérico. Este é o primeiro estudo prova-de-conceito com um esquema de tratamento sem interferon e RBV que demonstrou eficácia contra o HCV. Inibidores de polimerase do HCV não análogos de nucleosídeo Enquanto os análogos de nucleosídeos bloqueiam a replicação do HCV agindo como inibidores do alongamento de cadeia da fita de RNA nascente, os inibidores não-nucleosídeos interagem com a polimerase fora do sítio catalítico e produzem mudanças alostéricas que comprometem de forma crítica a sua função. A estrutura da HCV polimerase partilha a mesma configuração (em forma de mão direita) geral da transcriptase reversa do HIV, com domínios na palma, polegar e dedos. Enquanto o sítio ativo está localizado no domínio da palma, atualmente quatro sítios diferentes (denominados de 1 a 4) têm sido mostrados como alvos para os inibidores nucleosídeos. É digno de nota e inédito que mais de um sítio tem sido descritos na polimerase do HCV, enquanto apenas um sítio foi identificado na transcriptase reversa do HIV. Mutações, conferindo resistência às drogas que se ligam nestes diversos sítios, não geram resistência cruzada nesta classe de 25 antivirais. Em contraste, com a polimerase do HIV e do HBV, que carreiam uma DNA polimerase RNA dependente (ou transcriptase reversa), a polimerase do HCV age apenas com o RNA como molde e produto final, sem chance de inibição cruzada com os inibidores de polimerase do HIV e/ou HBV14. GS-9190 Este é um novo agente imidazopiridínico que age como um inibidor de polimerase do HCV não nucleosídeo. Este fármaco mostra mais atividade contra o HCV-1, em relação aos outros genótipos. Liga-se à beta-harpina da NS5B, e mutações de resistência que aparecem próximo a este sítio causam perda da susceptibilidade à droga. Estudos fase 1, em humanos testando doses crescentes desta droga mostraram um potente efeito inibidor dose dependente. ANA-598 Este é um potente inibidor oral da polimerase NS5B do HCV-1 (EC50 de 51nM contra o HCV-1a e 3nM contra o HCV-1b), se acumula no fígado em relação ao plasma com uma taxa aproximada 20 vezes maior. Estudos de fase 1 em humanos estão em curso. VHC-759 Este é inibidor não nucleosídeo da polimerase do HCV por via oral, o qual tem demonstrado IC-50 sub-micromolar contra o HCV-1 em sietema de replicon. Em um estudo com múltiplas doses ascendentes, a eficácia e segurança do VHC-759 foi avaliada durante 10 dias em monoterapia em 32 pacientes com hepatite C crônica por HCV-1. Pacientes receberam tanto placebo, 400mg 8/8h, 800mg 8/8h ou 800mg 12/12h. Todos os pacientes expostos à droga experimentaram redução do HCV-RNA sérico entre 1,2 e 3,3 log10. Doses de 800mg, tanto de 12/12h ou 8/8h serão avaliadas em próximas fases de estudos clínicos em combinação com outros agentes. BI-7127 Esta é uma potente droga, por via oral, a qual tem sido testada em estudo fase 1 que incluíram 60 pacientes portadores do HCV-1, que foram randomizados para diferentes doses da droga, ministradas por 5 dias. A redução do HCV-RNA sérico além de 3 log10 foi observada com as doses mais elevadas (800-1200mg 8/8h). Rash foi o efeito adverso mais frequente e foi dose dependente41. A Boehringer está planejando estudar a combinação BI-1335, um inibidor de protease, com BI-7127, seguindo a idéia inicialmente testada pela Roche com o estudo INFORM-1. MK-3281 Este é um composto oral que completou com sucesso um estudo fase 1. Em um estudo conduzido em chimpanzés infectados com HCV-1, nos quais a droga foi dada em diferentes doses como monoterapia por 5 dias, uma redução média no HCV-RNA sérico de 3,8 log10 foi observada com a dose mais alta. Resistência do HCV aos antivirais A potência antiviral, aspectos de segurança, posologia (número de pílulas, e frequência de tomadas ao dia), interações medicamentosas e resistência são os maiores determinantes do sucesso de qualquer novo STAT-C. Destes aspectos, a resistência às drogas tem emergido como um dos principais riscos para quase todos os compostos em estudo. Em função de erros nas cópias da polimerase RNA dependente do HCV, a resistência ocorre de forma inevitável em pacientes tratados com antivirais com ação em enzimas específicas do HCV, e consequentemente 26 limita sua eficácia42,43. Vários estudos in vitro, usando sistema de replicon subgenômico do HCV, têm caracterizado mutações de resistência contra inibidores da protease e polimerase do HCV. Mutações têm sido identificadas por seleção in vitro e menos frequentemente após os pacientes falharem ao tratamento com a droga em estudos clínicos. Discordâncias entre padrões de resistência in vitro e in vivo de mutações de resistências são largamente dependentes do nível de perda de susceptibilidade e o fitness do mutante42,43. Resistência do HCV aos inibidores de protease Estudos iniciais com ciluprivir demonstraram que clones moleculares contendo R155Q, A156T ou D168V resultaram em reduções de 24, 357 e 144 vezes na susceptibilidade, respectivamente, comparado ao replicon de cepa selvagem 44. A mutação dominante selecionada com o telaprevir é A156S 45-47, a qual é a mesma posição que seleciona mais frequentemente o uso de boceprevir, A156T48,49. Resistência cruzada tem sido confirmada com ambas as mutações assim como com V36A/M, T54A e R155Q/T, as quais podem também reduzir a susceptibilidade para estes compostos. R-7227/ITMN-191 mostram fraca resistência cruzada relacionada à mutação A156T, mas in vitro seleciona D168A43. O HCV apresenta grande variabilidade genética, mesmo mais pronunciada em relação ao HIV. Da mesma forma, diferenças entre os genótipos do HCV são pronunciados em genes da polimerase e da protease. A presença de polimorfismos naturais, os quais podem influenciar a susceptibilidade aos antivirais, estão presentes em diferentes taxas de acordo com os genótipos ou subtipos50. Dois estudos, em separado, conduzidos em mais de 500 indivíduos virgens de tratamento têm mostrado que mudanças associadas com resistência dos inibidores de protease do HCV podem ser reconhecidas em uma minoria de indivíduos51. Estas mutações foram observadas em 8-9% dos subtipos 1a e em 1-2% do subtipo 1b, sendo R155K a mais frequentemente reconhecida no subtipo 1a52. Resistência do HCV aos inibidores polimerase Os inibidores de polimerase análogos de nucleosídeos parecem selecionar mutações de resistência às drogas dentro dos sítios da polimerase. A mutação S282T é caracteristicamente selecionada pelo R-712853-55. Ao longo do sítio ativo a polimerase do HCV mostra quatro sítios de ligação distintos para compostos que podem bloquear a sua atividade. Estes sítios são localizados no polegar (sítios 1 e 2) e palma (sítios 3 e 4) do modelo mãodireita da enzima polimerase do HCV. Inibidores não nucleosídeos são bloqueadores alostéricos e, conforme sua característica, podem ser agrupados em 4 famílias, as quais mostram diferentes mudanças de resistência56-58. Tratamento combinado para a hepatite C crônica Os IP e os inibidores de polimerase não nucleosídeos de forma geral apresentam rápida seleção de mutantes resistentes na maioria dos pacientes com monoterapia. Ao contrário, mutações de resistência para os inibidores de polimerase nucleosídeos têm sido selecionadas in vitro, mas não ainda in vivo. Logo, inibidores nucleosídeos parecem ter barreira genética mais elevada para a resistência. De toda forma, a combinação de drogas será necessária contra o HCV, como ocorre com o tratamento do HIV. Salienta-se, no entanto que Tendências em HIV • AIDS (Volume 5 - Número 2 - 23 -28) o aparecimento das mutações de resistência parece ocorrer mais rapidamente no HCV, em comparação com o HIV, muito provavelmente em função das características biológicas do ciclo de replicação do HCV. O turnover viral envolve moléculas de RNA que são degradadas rapidamente no citosol das células infectadas e o HCV não utiliza um reservatório genético perene, como acontece com o DNA proviral do HIV ou com o cccDNA no HBV. Nestes outros vírus, a sua replicação depende do tempo de sobrevida de célula, infectada uma vez que o material genético é integrado aos cromossomos (HIV) ou mantido como epissomas dentro do núcleo do hepatócito (HBV). A consequência direta destas características biológicas é que qualquer pressão seletiva por drogas rapidamente gera a seleção de variantes resistentes pré-existentes do HCV, mas menos rapidamente no HIV e menos ainda no HBV59. Outra observação importante de estudos de fase 2 usando moléculas STAT-C é o reconhecimento do efeito aditivo pela RBV, agindo como um verdadeiro agente antiviral60-62. A melhor demonstração desta interação benéfica foi evidencia da no estudo PROVE-228. Neste estudo, o braço com a combinação de três drogas (IFN-peg+RBV+TPV) significantemente superou o braço com duas drogas (IFN-peg+TPV), com taxas de RVS de 69% VS 29%. Claramente, a RBV não deve ser considerada como um modesto fármaco complementar. O mecanismo de sua ação deve ser elucidado. Dado que o HCV pode ser erradicado, foi inicialmente pensado que “o primeiro seria o vencedor”, significando que a primeira droga anti-HCV a ser aprovada reduziria as chances de sucesso para qualquer outra droga que viesse a seguir. Entretanto, como novas evidências mostraram os desafios da resistência e a necessidade de combinação de drogas, está claro que haverá lugar para vários compostos. De fato, múltiplas drogas de distintas famílias serão necessárias, especialmente se o tratamento sem interferon for desejado. Estas combinações de drogas devem idealmente ser construídas com compostos que tenham características complementares, tais como ter perfis de resistência diferentes relacionados à mesma enzima (tratamento convergente) ou enzimas diferentes do HCV (tratamento divergente). Perspectivas futuras Passada a fase inicial de entusiasmo, algumas preocupações relacionadas ao uso das drogas STAT-C devem ser salientadas. Enquanto há pouca dúvida sobre a potência antiviral dos inibidores de protease e polimerase do HCV, a relativa baixa barreira genética para resistência (especialmente para os IP e inibidores de polimerase não nucleosídeos) tornará necessária a combinação com outras drogas anti-HCV e, por enquanto com IFN-peg e RBV. Esta necessidade pode limitar a tolerância dos pacientes (dados os efeitos adversos bem conhecidos do IFNpeg e RBV) e a eficácia (em função da possível não resposta ao IFN). Entretanto, cursos curtos de IFN-peg e RBV (12 a 24 semanas) farão a combinação tripla mais exeqüível. A emergência de resistência ao HCV deve ser considerada o maior risco. Além disto, muitas das mutações aos IP e análogos de nucleosídeos podem produzir resistência cruzada a outros compostos dentro, da mesma classe, o que pode complicar as opções de resgate terapêutico. Por fim, a duração da persistência das mutações de resistência do HCV após a suspensão da droga deve ser avaliada com muito cuidado. A maioria dos estudos tem testados novos fármacos anti-HCV genótipo 1, logo a eficácia destas drogas para tratamento de outros genótipos ainda precisa de esclarecimentos. Finalmente, o papel das novas moléculas STAT-C no tratamento de não respondedores ou recidivantes prévios deve ser definido. Existe o risco de monoterapia funcional e rápida seleção de resistência, exatamente neste grupo de pacientes que mais necessitam de destas novas medicações. No futuro, está claro que a pesquisa de esquemas sem IFN e/ ou RBV será proposta, usando várias moléculas STAT-C em combinações adequadas. Novas estratégias terapêuticas certamente poderão ser extendidas para os pacientes co-infectados pelo HIV-1, trazendo resultados mais efetivos no controle dessa infecção entre esses indivíduos. Agradecimentos Este trabalho teve o apoio do European AIDS Treatment Network (NEAT), Spanish AIDS Network (ISCIII-RETIC RD06), Agencia Lain Entralgo, e Fundación Investigación y Educación en SIDA (IES). Referências 1. Koziel M, Peters M. Viral hepatitis in HIV infection. N Engl J Med 2007; 356: 1445-54. 2. Sharma P, Lok A. Viral hepatitis and liver transplantation. Semin Liver Dis 2006; 26:285-97. 3. Fried M, Hadziyannis S. Treatment of chronic hepatitis C infection with peginterferons plus ribavirin. 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Tendências em HIV • AIDS (Volume 5 - Número 2 - 23 -28) Resumos de Dissertações e Teses Genotipagem da gp41 do Vírus da Imunodeficiência Humana tipo 1 (HIV-1) em indivíduos respondedores e não respondedores ao inibidor de fusão T20. Aluno: Rafael Gonçalves de Azevedo Orientador: Dra. Shirley Cavalcante Vasconcelos Komninakis. Coorientador: Dr. Ricardo Sobhie Diaz. Instituição: Universidade Federal de São Paulo A falha ao HAART torna importante o desenvolvimento de novos fármacos que alvejam diferentes passos do ciclo de vida do HIV-1. O Enfuvirtide (T20) é um peptídeo sintético que mimetiza a região HR2 da gp41 do HIV-1, impedindo sua fusão e entrada na célula hospedeira. A presença de mutações de resistência primária ao T20 pode levar a falta de resposta virológica sustentada (RVS) em indivíduos em falha terapêutica ao HAART. Este estudo teve como objetivos genotipar a gp41 do HIV-1 de indivíduos considerados respondedores e não respondedores ao T20, verificar se a presença de mutações de resistência primária poderia interferir na RVS e correlacionar o status RVS com aspectos virais, imunológicos e tropismo. Para tanto, o DNA genômico do baseline (antes do tratamento), 6 e 12 meses após o tratamento com T20, foi purificado utilizando QIAamp DNA Mini kit (Qiagen®, Valencia, Califórnia, USA). Todos pacientes receberam terapia otimizada mais T20 no inicio. 506 pb referentes as regiões HR1 e HR2 da gp41 foram amplificados por PCR “nested”. A PCR “nested” da região V3 para estudo do tropismo viral amplificou 654 pb. A PCR foi purificada utilizando Montage® PCR Centrifugal Filter Devises (Millipore®). As PCRs purificadas das regiões V3 e gp41 foram sequenciadas no ABI Prism 3130 Genetic Analyser (Applied Biosystems, Ca, USA) com o kit comercial BigDye® Terminator Cycle Sequencing versão 3.1 (Applied Biossystems, Foster City. Califórnia, USA). Iniciadores da segunda etapa da PCR “nested” foram utilizados para sequenciar. Sete indivíduos apresentavam um perfil de resposta ao T20 por 12 meses, 4 por pelo menos 6 meses e dois não responderam entre 6 e 12 meses. A média de idade foi de 44,92 ± 5,39, sendo 46,16% do sexo feminino e 53,84% do masculino. Dos 13 pacientes analisados, 12 pertencem ao subtipo B e 1 ao F1. Oito pacientes apresentaram o correceptor R5 e cinco o X4. Não foram encontradas mutações nas posições 36 a 45 da HR1 em 12 meses. Tivemos a N42S, que é responsável pela diminuição da susceptibilidade ao Tendências em HIV • AIDS (Volume 5 - Número 2 - 29) T20. De um total de 59 aminoácidos analisados na HR1, observamos 18,64% de trocas e na região HR2, 38,88%. Na HR1 no período de 8 meses ou mais em relação ao baseline, não encontramos modificações nas posições 36 a 45. De um total de 59 aminoácidos analisados, observamos 15,25% de trocas e na HR2, 36,11%. Verificamos a E137K sem a presença da N43D, que causou resistência. Verificamos a S138T como mutação de primaria com persistência de 12 meses sem a N43D e a falta de resposta ao tratamento. Na contagem de T CD4+, não encontramos diferença estatística entre as médias dos diferentes grupos (ANOVA – p=0,1). As cargas virais após 6 meses foram indetectáveis (<50 copias/mL) em 69,23% dos pacientes. Houve queda de carga viral do baseline para 6 meses (p=0.034), assim como para 6 meses e 8 meses ou mais. O uso do medicamento teve interferência significativa quando comparados o baseline e 6 meses (p=0.004) e entre o baseline e 12 meses (p=0.022), mas entre 6 e 12 meses a interferência não foi significativa, mostrando que após 6 meses ela permanece sustentada. Entre as variáveis, indivíduos respondedores e genótipo R5 houve alto valor de similaridade (76.98). Ocorreu agrupamento entre as duas amostras dos respondedores com genótipo X4 com as mutações 306, 311 e 320, que o caracterizam. Em relação ao tropismo, 38,47% dos pacientes que estudamos apresentaram correceptor X4 após alguns anos de infecção e múltiplos esquemas HAART. Este resultado mostra concordância com a literatura, que descreve uma taxa média de 50%. A N42S, observada em nosso estudo é relacionada com diminuição da susceptibilidade da droga. Apesar disso, somente um dos pacientes não respondeu ao tratamento, não obtendo ganho imunológico. Concluímos que o tropismo dos vírus HIV-1 na maioria dos indivíduos que responderam ao T20 está fortemente associado com o R5, que não causa progressão rápida. A presença da S138T foi suficiente para a falta de resposta ao T20, sem associação com a N43D. Mostramos evidente RVS e recuperação imunológica com o T20, mas que não foi suficiente para retirar estes indivíduos do risco de doenças oportunistas. Nosso estudo evidenciou a importância de iniciar o resgate quando a contagem de linfócitos T CD4+ está acima de 200 células/mm3. Aprovado pelo Comitê de Ética (CEP 0474/08). Apoio financeiro: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) (04/15856-9). 29 Destaques CROI 2010. Por Ricardo S. Diaz Um dos estudos interessantes apresentado foi o resultado final do ACTG 5202. Neste estudo foram avaliados 1857 pacientes em estratégias diferentes para o início de terapia antirretroviral, subdivididos em quadro braços. Resumidamente, o estudo avaliou as combinações de análogos de nucleosídeos em dose fixa de tenofovir/FTC em comparação com abacavir/3TC, e dois esquemas contendo como terceiro medicamento o efavirenz ou atazanavir com ritonavir. O braço TDF/FTC com efavirenz continha 464 indivíduos, o braço ABV/3TC efavirenz incluiu 465, o braço TDF/FTC com atazanavir/ritonavir com avaliou 465, enquanto 463 indivíduos foram incluídos no braço que avaliou ABV/3TC com atazanavir/ ritonavir. Foram recrutados pacientes independente do níveil de CD4 e com carga viral superior a 1000 cópias/mL, sendo que o estudo era aberto para efavirenz ou atazanavir/r e duplo cego para os análogos de nucleosídeos. A eficácia virológica foi rigorosamente igual para os braços contendo efavirenz ou atazanavir/r após 96 semanas, no entanto, houve superioridade da dupla tenofovir/FTC com relação à abacavir/3TC quando a carga viral basal dos pacientes era superior a 100.000 cópias/mL. Não houve diferença entre o perfil de lípides nos braços contendo efavirez ou atazanavir/r. (Daar E, et al. CROI 2010. Abstract 59LB.) Outro estudo testou o impacto com relação à adição de maraviroc em um grupo de pacientes do ACTG 5256 que estavam em tratamento antirretroviral, com carga viral inferior a 50 copias/mL, porém com ganho insuficiente de células CD4. A hipótese era que, como visto anteriormente, em outros estudos contendo maraviroc, como o MOTIVATE (resgate) ou MERIT (naive), haveria um beneficio adicional no incremento de CD4 após a introdução deste medicamento. Desta forma, foram recrutados 32 pacientes com carga viral indetectável por período superior a 48 semanas, com níveis de CD4 inferiores a 250 cels/mm3. Estes pacientes receberam maraviroc por um período adicional de 24 semanas. Observou-se que, apesar de não haver um incremento significante nos níveis de CD4 durante este curto período de observação (+12 cels/ mm3 com IC de 1-22), houve um decréscimo significativo nos marcadores de ativação celular relacionados com o CD4 e CD8 e decréscimo significativo nos marcadores de apoptose (Wilkin TJ, et al. CROI 2010. Abstract 285). Os estudos VICTOR-E3 e VICTOR- E4 que testaram a eficácia do vicriviroc com relação ao placebo não demonstraram efeito superior no braço do medicamento testado. Trata-se de um estudo de fase III, que incluiu 721 pacientes de forma duplo-cego e randomizada, com dois pacientes no braço do vicriviroc para um do placebo. Dois terços dos pacientes incluídos no estudo apresentavam 3 ou mais medicamentos ativos, sendo que nesta fração de pacientes, a prevalência de carga viral inferior a 50 cópias/mL após 48 semanas foi de 61% no braço do vicriviroc, comparados com 65% no braço do placebo. Assim como no estudo de fase II do vicriviroc, na fração de pacientes que apresentavam 2 ou menos medicamentos ativos, 70% dos pacientes do braço do vicriviroc, versus 55% do placebo, obtiveram carga viral indetectável (p=0.02). Foram contabilizados 7 óbitos no braço do vicriviroc versus zero no placebo, sendo que nenhum dos óbitos foi atribuído ao medicamento (Gathe J, et al. CROI 2010. Abstract 54LB). Um estudo conduzido pelo CDC dos EUA avaliou o perfil de resistência primária entre 2480 indivíduos recém diagnosticados naquele país no ano de 2007. Encontrou uma prevalência de vírus resistentes em 15,6% dos indivíduos, sendo que 8,1% apresentavam vírus resistentes aos não nucleosídeos, 6,1% aos análogos de nucleosídeos, 4,2% aos inibidores de protease e 2,2% tinham vírus multi-resistentes. Este estudo apresenta a maior prevalência de resistência primária detectada desde 1999; em estudos anteriores a prevalência se mantinha entre 9 e 11%. A resistência transmitida aos não nucleosídeos tem aumentado ao longo do tempo, enquanto que a resistência aos inibidores de protease tem decaído proporcionalmente (Kim D, et al. CROI 2010. Abstract 580). m estudo retrospectivo observacional avaliou o risco relativo de desenvolvimento de neoplasias entre pessoas infectadas pelo HIV vis a vis níveis de células CD4. Com relação às neoplasias relacionadas a outras infecções virais, o risco relativo era de 12,8, quando o CD4 era inferior a 200; 5,9, quando entre 201-499, e 3,2, quando superior a 500 (p<0,001). Neste grupo, o risco de neoplasia anal era de 164 para CD4 <200; 83, para CD4 entre 201-499, e 3.2 para >500 (p<0,001). Para linfoma de Hodgkin, era de 55 (<200), 11 (201-499) e 11.6 (>500) (p<0,001). Para neoplasias orais e faríngeas, era de 3,1 (<200), 1,9 (201-499) e 0,8 (>500) (p=0,030). Com relação às neoplasias não relacionadas a outras infecções virais, o risco relativo era de 1,8, com CD4 inferior a 200; 1,2, entre 201-499 e 1,1, com CD4 superior a 500 (p=0,002). Para melanoma, foi de 1,3 (<200), 1,9 (201-499) e 1,9 (>500) (p=0,71). Para neoplasia de pulmão, foi de 2,1 (<200), 1 (201-499) e 0,9 (>500) (p=0,083). Para neoplasia colorretal foi de 2,2 (<200), 1,0 (201-499) e 0,9 (>500) (p=.050). Os resultados foram ajustados para idade, gênero, tabagismo, uso de álcool, uso de drogas e hepatites virais (Silverberg M, et al. CROI 2010. Abstract 28). 30 Tendências em HIV • AIDS (Volume 5 - Número 2 - 30) TELZIR® fosamprenavir cálcico. COMPOSIÇÃO: Comprimidos revestidos: 700 mg de fosamprenavir (como fosamprenavir cálcico), excipientes ® qsp 1 comp. APRESENTAÇÃO: Embalagem com 60 comprimidos. INDICAÇÕES: Telzir em combinação com baixas doses de ritonavir é indicado para o tratamento de pacientes infectados com o Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV), para uso em combinação com outros agentes antiretrovirais. POSOLOGIA: Telzir® pode ser administrado com ou sem alimentos. Adultos (a partir de 18 anos de idade): Pacientes não submetidos a tratamento anterior podem utilizar uma das posologias a seguir: Telzir® 1400 mg uma vez ao dia + ritonavir 200 mg uma vez ao dia ou Telzir® 700 mg duas vezes ao dia + ritonavir 100 mg duas vezes ao dia. Pacientes já submetidos a tratamento com inibidores da protease: Telzir® 700 mg duas vezes ao dia + ritonavir 100 mg duas vezes ao dia. Todos os esquemas têm de ser administrados em combinação com outros agentes antiretrovirais. CONTRA-INDICAÇÕES: Hipersensibilidade conhecida a fosamprenavir, amprenavir e ritonavir ou a qualquer um dos excipientes ® incluídos nas formulações. Pacientes com insuficiência hepática severa. Telzir em combinação com ritonavir não pode ser administrado simultaneamente com rifampicina, devido às grandes reduções previstas nas concentrações plasmáticas de amprenavir. PRECAUÇÕES:Os pacientes devem ser informados de que Telzir® em combinação com ritonavir ou qualquer outro tratamento anti-retroviral existente, não cura a infecção por HIV. Os estudos clínicos não demonstraram que os tratamentos anti-retrovirais existentes, previnam o risco de transmissão do HIV, ® incluindo a combinação de Telzir® /ritonavir. As precauções apropriadas devem continuar a ser tomadas. Telzir contém um componente de sulfonamida. O potencial para sensibilidade cruzada entre fármacos da classe das sulfonamidas e fosamprenavir é desconhecido, portanto a ® combinação de Telzir / ritonavir, deve ser usada com cautela em pacientes com uma alergia conhecida a sulfonamidas. A segurança e a eficácia de ® Telzir em crianças e adolescentes ainda não foram estabelecidas. O uso de Telzir® com ritonavir em doses maiores que a usual resulta em aumento nos níveis de transaminases em alguns pacientes e seu uso não é recomendado. Disfunção Hepática / Renal: Deve-se ter cautela ao administrar a ® combinação de Telzir /ritonavir, a pacientes com insuficiência hepática leve à moderada, e não deve ser utilizado em pacientes com insuficiência hepática grave. Os pacientes com hepatite B ou C subjacentes, ou elevações marcantes nas transaminases antes do tratamento podem correr maior risco de desenvolver elevações nas transaminases. Exames laboratoriais apropriados devem ser conduzidos previamente e a intervalos regulares, durante o tratamento. Como o amprenavir e o ritonavir exibem alta ligação a proteínas plasmáticas, é improvável que a hemodiálise ou a diálise ® peritoneal eliminem os fármacos de maneira significativa. Produtos medicinais – interações potenciais: O amprenavir, o metabólito ativo de Telzir ® e ritonavir, é inibidor da enzima CYP3A4 do citocromo P450. Conseqüentemente, Telzir em combinação com ritonavir não deve ser administrado simultaneamente com medicações que tenham um índice terapêutico restrito e são substratos de CYP3A4, pois pode aumentar os níveis plasmáticos destas substâncias. Devido ao potencial para interações metabólicas com amprenavir, a eficácia de contraceptivos hormonais pode ser modificada, portanto, métodos alternativos de contracepção são recomendados para mulheres em idade fértil. Rash / reações cutâneas: A maioria ® dos pacientes com rash leve ou moderado pode continuar o tratamento com Telzir . Reações cutâneas graves e representando risco à vida, incluindo a síndrome de Stevens-Johnson, foram relatadas em menos de 1% dos participantes recrutados no programa de desenvolvimento clínico. ® Telzir deve ser permanentemente descontinuado em caso de rash grave, ou em caso de rash de intensidade moderada com sintomas sistêmicos ou mucosos. Pacientes hemofílicos: Houve relatos de sangramento aumentado, incluindo hematomas cutâneos espontâneos e hemartroses em pacientes hemofílicos tipos A e B tratados com inibidores da protease. Hiperglicemia: O aparecimento de diabetes mellitus, hiperglicemia ou exacerbação de diabetes mellitus pré-existente foram relatados em pacientes recebendo tratamento anti-retroviral, incluindo inibidores da protease. Elevação de lipídios: O tratamento com fosamprenavir/ritonavir resulta no aumento da concentração de triglicerídeos e colesterol. Exames laboratoriais para triglicerídeos e colesterol devem ser realizados antes do inicio da terapia com Telzir® e em intervalos periódicos após o inicio do tratamento. Transtornos lipídicos devem receber tratamento clínico apropriado. Redistribuição da gordura corporal: O tratamento anti-retroviral combinado, incluindo esquemas contendo um inibidor da protease, está associado com a redistribuição / acúmulo da gordura corporal em alguns pacientes. Síndrome de Reconstituição Imune: Em pacientes infectados pelo HIV com deficiência imune grave na ocasião do início do tratamento anti-retroviral (TAR), pode surgir uma reação inflamatória e infecções oportunistas assintomáticas ou residuais, causando transtornos clínicos graves ou o agravamento dos sintomas. Tipicamente, essas reações foram observadas nas primeiras semanas ou meses após o início do TAR. Exemplos relevantes são a retinite por citomegalovírus, infecções micobacterianas generalizadas ou focais e pneumonia por Pneumocystis jiroveci (P. carinii). Quaisquer sintomas inflamatórios têm de ser avaliados sem demora e o tratamento deve ser iniciado, quando necessário. Gravidez: ® Telzir só deve ser usado durante a gravidez se os benefícios potenciais justificarem o risco potencial para o feto. Lactação: Devido à possibilidade de transferência do vírus HIV pelo leite materno, a amamentação é contra-indicada. INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS: VER TAMBÉM ® PRECAUÇÕES. As informações completas para prescrição de ritonavir devem ser consultadas antes de se iniciar o tratamento de Telzir e ritonavir. ® Telzir em combinação com ritonavir não deve ser co-administrado com produtos medicinais que sejam altamente dependentes do metabolismo da CYP2D6, e que em elevadas concentrações plasmáticas estão associados a resultados graves, e/ou que representem risco à vida. Estes produtos ® medicinais incluem flecainida e propafenona. A rifampicina reduz a AUC plasmática de amprenavir em aproximadamente 82%. Telzir e ritonavir não podem ser administrados concomitantemente com rifampicina, devido às grandes reduções previstas nas concentrações plasmáticas de amprenavir. Interações potenciais podem ocorrer com os seguintes medicamentos: efavirenz, nevirapina e delavirdina; lopinavir/ritonavir, indinavir, saquinavir e nelfinavir; claritomicina e eritromicina; cetoconazol e itraconazol; rifabutina; ranitidina e cimetidina; amiodarona, quinidina, lidocaína (por via sistêmica), antidepressivos tricíclicos e varfarina; fenitoína, fenobarbital, carbamazepina, alprazolam, clorazepato, diazepam e flurazepam; amlodipina, diltiazem, felodipina, isradipina, nicardipina, nifedipina, nimodipina, nisoldipina e verapamil; dexametasona, agentes para disfunção erétil (inibidores de PDE5), bepridil; halofantrina; lovastatina, sinvastatina e atorvastatina; ciclosporina, rapamicina e tacrolimus; metadona; estrogênios, progestogênios e alguns glicocorticóides; erva de São João (Hyperium perforatum). Nenhum ajuste da dose é considerado com: zidovudina, didanosina, estavudina, lamivudina, abacavir e tenofovir. REAÇÕES ADVERSAS: Os efeitos indesejáveis relatados com mais freqüência (mais de 5%) foram eventos gastrintestinais (náusea , diarréia, dor abdominal, flatulência e vômito) e dor de cabeça. A maioria dos efeitos ® indesejáveis associados com o tratamento com Telzir /ritonavir foi de intensidade leve a moderada, apareceram no início do tratamento, e ® raramente foram limitantes do tratamento. Eventos relatados em pelo menos 2% dos indivíduos tratados com a combinação Telzir /ritonavir: Cefaléia, diarréia, náusea, vômito, dor abnominal, flatulência, rash, síndrome de Stevens Johnson, angioedema, fadiga, hipertrigliceridemia, ® hipercolesterolemia, infarto do miocárdio e cálculo renal. As anormalidades laboratoriais (Grau 3 ou 4) potencialmente relacionados com Telzir em combinação com ritonavir e relatados em 2% ou mais dos indivíduos adultos, incluem: aumento de ALT (8%, APV30002; 5%, APV30003); AST (6%, APV30002; 4%, APV30003); lípase sérica (6%, APV30002; 4%, APV30003) e triglicerídeos (6%, APV30002; 6%, APV30003). USO ADULTO. VENDA SOB PRESCRIÇÃO MÉDICA. SÓ PODE SER DISPENSADO COM RETENÇÃO DA RECEITA. ATENÇÃO – O USO INCORRETO CAUSA RESISTÊNCIA DO VÍRUS DA AIDS E FALHA NO TRATAMENTO. MS 1.0107.0248. GDS16IPI011 80 80 40 -52% 53,5% p=0,006 % pacientes HIV + % pacientes HIV + -37% 69,8% p=0,008 40 43,6% 25,6% 0 fosamprenavir/ ritonavir 0 lopinavir/ ritonavir fosamprenavir/ ritonavir lopinavir/ ritonavir Adaptado a partir da referência 1 Adaptado a partir da referência 1 Redução significativa de diarréia e hipertrigliceridemia comparada ao lopinavir/ritonavir Material de distribuição exclusiva para profissionais de saúde habilitados a prescrever ou dispensar medicamentos. Recomenda-se a leitura da bula e da monografia do produto, antes da prescrição de qualquer medicamento.Mais informações à disposição sob solicitação ao serviço de informação médica (DDG 0800 701 22 33 ou http://www.sim-gsk.com.br). A minibula encontra-se em outra página desta publicação. Ocorrência de hipertrigliceridemia Ocorrência de diarréia Contra-indicado em pacientes com hipersensibilidade conhecida a fosamprenavir, amprenavir e ritonavir ou a qualquer um dos excipientes incluídos nas formulações.3 Telzir ® em combinação com ritonavir não deve ser coadministrado com produtos medicinais que sejam altamente dependentes do metabolismo da CYP2D6, e que em elevadas concentrações plasmáticas estão associados a resultados graves, e/ou que representem risco à vida.3 Referências bibliográficas: 1- CALZA, L. et al. Efficacy and tolerability of a fosamprenavir-ritonavir-based versus a lopinavir-ritonavir-based antiretroviral treatment in 82 therapy-naïve patients with HIV-1 infection. Int J STD AIDS, 19: 541-4, 2008. 2 - PULIDO, F. et al. Long-Term efficacy and safety of fosamprenavir plus ritonavir versus lopinavir/ritonavir in combination with abacavir/lamivudine over 144 weeks. HIV Clin Trials, 10(2): 76-87, 2009. 3 - Telzir® (fosamprenavir cálcico). Bula do produto. Maio 2010 TEL AN 109 1,2 Telzir - Revista Tend HIV V5 N2 - 1473148 Eficácia mantida a longo prazo Criativa Produtiva 1