A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO O FENÔMENO RENITENTE DO HOMICÍDIO NAS REGIÕES DE PLANEJAMENTO DE MINAS GERAIS NA DÉCADA DE 2000: UMA ANÁLISE EXPLORATÓRIA CLÁUDIA CRISTINA RIOS CAXIAS DA COSTA1 MIDIANE SCARABELI ALVES COELHO DA SILVA2 NINA FERRAZ TOLENTINO3 Resumo: A revisão da literatura concernente a Geografia do Crime, sobremaneira as pesquisas que se dedicam a espacialização do seu caráter mais perturbador – o homicídio – apontam uma estreita correlação entre esse e polos de desenvolvimento regional. A interiorização da violência denota que a partir de 1999 observa-se um processo de estagnação dos eventos violentos nas capitais brasileiras e seu incremento nas cidades do interior do país, principalmente por duas razões: maior investimento em segurança nas regiões metropolitanas, e aparecimento de polos de atração econômica no interior. Este estudo, de natureza exploratória, tem como objetivo geral analisar e verificar ao longo da década de 2000, a evolução espacial e temporal do fenômeno renitente do homicídio nas Regiões de Planejamento de Minas Gerais. Palavras-chave: Geografia do Crime; Homicídios; Minas Gerais; Violência. Abstract: The review of literature regarding the Geography of Crime, in particular researches dedicated to spatialization of their most disturbing aspect – homicide – highlights a close correlation between these occurrences and regional development areas. The internalization of violence denotes that since 1999 there has been a process of stagnation of violent events in the Brazilian state capitals and an increase in the secondary cities of the country, mainly for two reasons: greater investment in security in metropolitan areas and the emergence of areas of economic attraction in the secondary cities. This study, exploratory in nature, aims in general to analyze and verify over the decade from year 2000, the spatial and temporal evolution of homicide as a resilient phenomenon in the Minas Gerais Planning Regions. Keywords: Geography of Crime; Homicide; Minas Gerais; Violence 1 – Introdução Os estudos da Geografia do Crime têm abordado diversas manifestações relacionadas à crescente expansão, nas últimas décadas, da criminalidade e violência em diferentes estados brasileiros. Nota-se, portanto, que a incidência do 1 - Doutora em Geografia e Professora visitante em estágio pós-doutoral no Programa de PósGraduação em Geografia da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. E-mail de contato: [email protected] 2 - Mestranda em Geografia pela Faculdade de Ciências Integradas do Pontal da Universidade Federal de Uberlândia - FACIP/UFU. E-mail de contato: [email protected] 3 - Pós-graduanda em Geoprocessamento e Análise Espacial pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Email de contato: [email protected] 402 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO crime em variados contextos, tornou-se uma das principais inquietações de habitantes dos grandes centros urbanos, tendo sua ascensão notavelmente associada à falta de planejamento e execuções de políticas públicas específicas que visem controlar e prevenir a manifestação do fenômeno. Tal constatação potencializa a necessidade de desenvolvimento de estudos que subsidiem a prevenção do crime e da violência urbana, visando à melhoria na qualidade de vida da população e sobremaneira, o seu desenvolvimento social. Dentre as várias modalidades de crime, o homicídio é uma das mais influentes na reconfiguração do espaço. Esse evento violento territorializa grupos de indivíduos, estabelecendo uma sociabilidade extremamente violenta, uma vez que o mesmo encontra-se vinculado a outras formas de crime, sobretudo, as de natureza violenta; como o roubo. Neste sentido, esse estudo visa especializar o homicídio e analisá-lo através da aplicação de técnicas de geoprocessamento e estatística. Para tal, se fez necessário cartografar as ocorrências do crime no Estado de Minas Gerais, utilizando os dados disponibilizados pela Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG), juntamente aos dados do Censo Demográfico do IBGE. Tais dados foram utilizados na produção de taxas brutas por 100.000 habitantes, entre os anos de 2001 e 2009. Assim, diante das áreas de maior concentração do evento em voga por Regiões de Planejamento de Minas Gerais, e posteriormente das taxas de criminalidade, foi possível analisar a distribuição espacial dessa atividade criminal. Os resultados apontam que o crime funciona como um importante agente transformador do espaço, e como sua incidência não ocorre de maneira aleatória, torna-se factível identificar as áreas mais propensas à sua incidência. O objetivo geral desta pesquisa é analisar e verificar ao longo da década de 2000 a evolução espacial e temporal do crime de homicídio nas Regiões de Planejamento de Minas Gerais. No entanto, devido à violência urbana carecer de formulações teóricas precisas, o que dificulta a formulação de hipóteses específicas, o estudo priorizou o caráter exploratório. Privilegiou-se entender e identificar os padrões de distribuição temporal e espacial do homicídio em Minas Gerais, que, naturalmente em estudos futuros, possibilitarão pormenorizar os possíveis fatores que interferem no processo e nas causas de tal distribuição. 403 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO 2 - itinerário Metodológico Nomenclaturas empregadas pela Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG) no que tange aos crimes violentos, dada à abrangência da terminologia violência, foram adotadas para este artigo, por trazer consigo a magnitude do crime em questão que considera seu impacto, dimensão e gravidade (BATELLA; DINIZ; TEIXEIRA, 2008). Essa classificação filiada a Polícia mineira, compreende crimes relacionados à: estupro, roubo e homicídio, sendo esse último, o foco dessa pesquisa. Os dados que fomentaram o estudo foram extraídos do Sistema de Registros de Crimes da Polícia Militar de Minas Gerais, organizados pelo Sistema de Informações de Segurança Pública (SM20), referentes ao período compreendido entre os anos de 2001 a 2009. Dados demográficos oriundos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), para o mesmo período, possibilitaram a construção das taxas de risco, importantes para a análise do evento em voga. Através do “Microsoft Excel, 2010” foram articulados os dados temporais (i), objetivando, o tratamento dos mesmos, a produção de taxas por 100.000 habitantes, para cada município. Constatou-se, através desse procedimento, que os municípios com baixa população apresentaram oscilações aleatórias significativas, no que tange as taxas brutas. Buscando reduzi-las, foi empreendida uma correção a partir das “Taxas Médias Móveis” tri-anuais, visando a melhor compreensão das tendências temporais do fenômeno. Em função desta opção metodológica, não foi possível criar “Taxas Médias Móveis” tri-anuais para o início e o término do período (2000 e 2010), pois seriam necessários o aporte de dados dos anos 1999 e 2011. Neste cálculo, o coeficiente analisado do ano i (Yai) correspondeu à média aritmética dos coeficientes no ano anterior (i-1), do próprio ano (i) e do ano seguinte (i+1). Dessas correlações, obteve-se a formulação: Yai = (Yi-1+Yi+Yi+1)/3. De posse das informações, mapas coropléticos foram produzidos através do software “ArGIS, versão 10.0”, com o intuito de fomentar a identificação de padrões espaciais, como também a dispersão referente às Taxas Médias de homicídio no território mineiro. As classes dos mapas foram definidas pela técnica de quebras naturais, que possibilitarão analisar, em trabalhos futuros, as contradições socioeconômicas entre os municípios mineiros, vinculadas ao evento homicídio. 404 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO Para a elaboração dos mapas coropléticos, utilizou-se a fórmula de Sturges (GERARDI E SILVA, 1981), definindo, assim, a quantidade e amplitude das classes. Esse procedimento evidenciou os percentuais negativos de crescimento, no primeiro momento, e posteriormente, os percentuais de crescimento positivo para os homicídios verificados em Minas Gerais, no período contemplado nessa pesquisa. Fez-se necessária essa separação, para que não houvesse discrepância entre as amplitudes e quantidade de classes, o que prejudicaria a análise têmporo-espacial dos percentuais de crescimento do fenômeno. 3 – A criminalidade violenta: a colaboração da Geografia do Crime Distintas áreas do conhecimento vêm realizando pesquisas referentes ao crime e suas articulações. Entretanto, na maioria das vezes, as mesmas se limitam a discussões sociais sobre a temática. Assim, a Geografia, como ciência plural, vem apresentar outro olhar, não contemplado pelas demais ciências, focando na espacialização da criminalidade e nos fatores a ela associados. O advento da Geografia do Crime tem fomentado diversas contribuições, no tocante as pesquisas voltadas ao entendimento do crime, sobremaneira no que diz respeito à distribuição da criminalidade e seu padrão têmporo-espacial (RIBEIRO, 2008; COUTO, 2009). Essa subárea da Geografia tem por premissa o cuidado em entender as estruturas sociais que ditam os processos em sua organização espacial, facultando aos geógrafos, lançar luzes críticas sobre o espaço (FELIX, 1996; RIBEIRO, 2008; WAISELFISZ, 2005, 2007 e 2008). Diante disso, diversos avanços teóricos e metodológicos permitiram que a criminalidade e suas várias formas de manifestação pudessem ser abordadas a partir de distintas perspectivas geográficas (YARWOOD, 2001). Denota-se, diante desse breve arrazoado, que a Geografia do Crime vem evoluindo como uma das mais promissoras e diversificadas áreas da ciência geográfica. Diniz (2005), baseando em Beato (1998), atesta que a espacialização da violência urbana se distingue das demais abordagens, por levar a investigação dos criminosos para os delitos propriamente ditos. Desta forma, é possível analisar o contexto em que a violência acontece, bem como visualizar os padrões espaciais e temporais ligados a modalidades de delitos específicos. 405 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO Entretanto, Felix (1996) revela que apenas através da espacialização do crime, não se tem resultados concretos que expliquem a sua incidência, e que a “Escola Geográfica do Crime” está ciente disso. Vis-à-vis, Diniz e Batella (2004) expõem que distintos fatores estão atrelados à ocorrência criminal, e não se deve isentar nenhum espaço de análise, sob pena de discriminar vários locais que possuam elementos que favoreçam a ocorrência de eventos criminais. Assim, a Geografia contribui com esses estudos em virtude da violência carregar “consigo um forte componente espacial” (BATELLA, 2010, p. 152), tornando-se relevante através da identificação de padrões específicos em sua distribuição espacial. O autor reforça que as contribuições da Geografia abordam as relações entre violência e seus determinantes clássicos, revelando a importância de indicadores relativos à estrutura social na manifestação criminal e principalmente, as associadas aos fatores socioeconômicos, demográficos e ambientais. A revisão da literatura elenca autores (SOARES, 2008; CANO e RIBEIRO, 2007; MICHAUD, 1989) que abarcam as denominadas “paisagens do medo”, ou seja, a percepção de diversos segmentos sociais, em referência à probabilidade de vitimização no espaço. Privilegiando as relações de gênero, Brownlow (2005) e Whitzman (2007) estudam a geografia do medo analisando o seu impacto na construção de identidades espaciais específicas. Os estudiosos que trabalham nesta vertente abordam diversas áreas, nas quais quatro subtemas são considerados: o uso do espaço urbano; a distinção entre espaços público e privado na construção da percepção de perigo; a construção social de espaços seguros e perigosos e os controles sociais dos espaços. Nessa perspectiva, Felix (2002), Soares (2005) e Ribeiro (2008) também empreendem esforços em relação à compreensão do porquê de diversas análises do crime, no espaço, sejam influenciadas pela falta de controle social em distintas áreas. Essa abordagem, por exemplo, assevera que alguns elementos específicos de um local – como ruas com pouca iluminação – podem propiciar a incidência criminal. Além disso, a preocupação de que a Geografia deve utilizar análises espaciais está diretamente ligada a termos discutidos pela ciência, uma vez que, a 406 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO perspectiva de escala4 é crucial para o desenvolvimento desse tipo de análise. Como realça Ribeiro (2008, p. 58), “o olhar geográfico sobre um fenômeno pode ser feito em diferentes escalas, dependendo dos objetivos e das características do estudo”. Outra terminologia geográfica que favorece o estudo da criminalidade é o conceito de região5, pois a regionalização do crime (a busca por áreas relativamente homogêneas) traz contribuições ao utilizar o termo como análise de interações sociais e econômicas de sua distribuição. Um exemplo clássico dessa abordagem foi a investigação empreendida por Harries (1985), que promoveu um resgate histórico dos homicídios nos EUA entre 1935 e 1980, trabalhando com um processo de regionalização baseado em perfis quinquenais. Portanto, entender os padrões espaciais de ocorrências criminais favorece a compreensão dos fatores casuais dessa distribuição (BEATO et al., 2004). Nesse contexto, denota-se a importância da Geografia em pesquisas voltadas para a temática criminal. Diagnósticos pautados em estudos geográficos proporcionam contribuições à ciência do crime e possibilitam a identificação de padrões, além de auxiliar na elaboração de políticas públicas voltadas para a mitigação desse significativo problema social. 4 – Resultados A espacialização dos dados referentes aos homicídios possibilitou inferir alguns padrões comportamentais do fenômeno tratado nessa pesquisa. Os resultados apontam que as maiores taxas de homicídios estão concentradas nas regiões oeste, norte e leste do território mineiro, sendo elas: Triângulo Mineiro, Noroeste de Minas, Vale do Mucuri, Vale do Rio Doce e na Metropolitana de Belo Horizonte. No período compreendido entre 2001 e 2009, cartografado na Figura 01, é possível verificar o incremento das Taxas Médias de homicídios nas mesorregiões 4 Escala é definida por Timbó (2001) como a relação que existe entre o tamanho ou distância real de um objeto ou fenômeno, tal como diferentes níveis de observação estudados pela Geografia. 5 “A região é, portanto, uma dimensão real da vivência dos indivíduos e dos grupos, e é a partir dela que se cria uma base territorial comum para um dado quadro de referência de pertencimento e identidades.” (Haesbaert, 2004). 407 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO do Triângulo Mineiro, Noroeste de Minas, Norte de Minas, Vale do Mucuri, Vale do Rio Doce, Metropolitana de Belo Horizonte, Central Mineira e Oeste de Minas. Figura 01 – Evolução das Taxas Médias de Homicídios nos Municípios Mineiros Segundo Mesorregiões, 2001 a 2009 408 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO Em contrapartida houve declínio, em municípios localizados nas mesorregiões Sul/Sudoeste de Minas, Campo das Vertentes e Zona da Mata. Os municípios que apresentaram as maiores taxas, por 100 mil habitantes, encontram-se na amplitude da última classe estabelecida metodologicamente, correspondente ao intervalo de 37,72 a 81,42, dentre eles: São João del Rei e Conceição da Barra de Minas (mesorregião Campo das Vertentes); Morro da Garça (mesorregião Central Mineira); Diamantina (mesorregião do Jequitinhonha); Nova Era, Raposos, Rio Piracicaba e Nova União (mesorregião Metropolitana de Belo Horizonte); Alto Caparaó e Miraí (mesorregião da Zona da Mata). A Figura 02 denota a espacialização das Taxas Médias e percentuais de crescimento de homicídio consumados nos Municípios Mineiros, segundo Mesorregiões. Observa-se que não há um padrão espacial de crescimento. Figura 02 – Taxas Médias e Percentuais de Crescimento de Homicídio nos Municípios Mineiros segundo Mesorregiões, 2001 e 2009. Os maiores percentuais de crescimento do homicídio foram apresentados pelos municípios localizados nas mesorregiões do Vale do Mucuri, Vale do Rio 409 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO Doce, Jequitinhonha, Norte de Minas, Noroeste de Minas, Triângulo Mineiro e Metropolitana de Belo Horizonte. Os menores percentuais foram apresentados pelas mesorregiões de Oeste de Minas, Sul/Sudoeste de Minas, Campo das Vertentes e Zona da Mata. No tocante aos municípios, os que apresentaram as maiores percentuais de crescimento, encontram-se na amplitude da última classe (690,49 a 793,82), representados por cores quentes: Serro na mesorregião do Vale do Jequitinhonha com taxa de 793,81 por 100 mil habitantes, Serra do Salitre na mesorregião do Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba (780,80/100.000 hab.) e Medina na mesorregião do Jequitinhonha (719,89/100.000 hab.). Portanto, através da aplicação de técnicas estatísticas e posterior espacialização dos dados da criminalidade, foi possível identificar os municípios mineiros que registraram as maiores ocorrências atreladas ao homicídio. A revisão da literatura atesta que a perspectiva geográfica, dotada de pluralidade, possibilita diversos tipos de análises, sobremaneira àquelas que abarcam o processo de reorganização espacial dos homicídios em Minas Gerais. Da análise têmporo-espacial dos mapas apresentados, observa-se nitidamente que homicídios, antes mais difundidos em grande parte das regiões de planejamento – com maior incidência na Região Metropolitana de Belo Horizonte – disseminaram-se de maneira atroz, por toda a porção noroeste do estado. Estudos deste cunho, no trato com o lócus das ocorrências e seus padrões de distribuição espacial, podem lançar luzes a pesquisas pormenorizadas que atrelem o evento homicídio, ao incremento de mazelas socioeconômicas, que por sua vez, acarretam impactos de origem demográfica e de saúde pública no Estado de Minas Gerais. 5 – Considerações Finais Por ser o espaço físico o seu objeto de estudo, bem como as relações socioeconômicas que nele se estabelecem, a Geografia toma para si todos os eventos que ocorrem no mesmo. A interiorização da violência, expressão de um fenômeno complexo e relativamente recente, denota que a partir de 1999 vislumbrou-se um processo de estagnação dos eventos violentos nas capitais 410 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO brasileiras e seu incremento nas cidades do interior do país, principalmente pelo advento de polos de atração econômica no interior, bem como no acréscimo de investimentos ligados a segurança nas regiões metropolitanas. Diante do binômio homicídio-conflito social (familiar, cultural, financeiro) e da metodologia empregada, foi possível identificar a formação de agrupamentos de homicídios nas regiões abarcadas por essa pesquisa. Constatou-se o aumento das taxas médias de homicídios na Região Metropolitana de Belo Horizonte, Central Mineira, Oeste de Minas, Triângulo Mineiro, Noroeste de Minas e dos Vales do Mucuri e Rio Doce, lócus que notoriamente nos últimos anos dedicados a esse estudo, apresentaram algum dinamismo econômico ou reorganização dos seus espaços socioprodutivos. Em contrapartida, houve declínio das taxas médias referentes à violência seguida de óbito em municípios localizados nas mesorregiões Sul e Sudoeste de Minas, Campo das Vertentes e Zona da Mata. Os conceitos de escala e região, tal como a constatação da dinâmica espacial e formação de agrupamentos significativos, no tocante a criminalidade violenta, assinalam a importância do desenvolvimento de pesquisas relacionadas à Geografia do Crime. Faz-se mister frisar, que essas poderão auxiliar os gestores de segurança pública, no que tange a concepção e implementação de políticas específicas relacionadas à prevenção da atividade criminal. 6 – Referências Bibliográficas BATELLA, W. B.; DINIZ, A. M. A. Análise espacial dos condicionantes da criminalidade violenta no estado de Minas Gerais. Sociedade & Natureza (UFU. Impresso), v. 22, p. 151-163, 2010. BATELLA, W. B.; DINIZ, A. M. A.; TEIXEIRA, A. P. Explorando os determinantes da geografia do crime nas cidades médias mineiras. Revista de Biologia e Ciências da Terra, v. 8, n.1, 2008. BEATO FILHO, C. C. Determinantes da Criminalidade em Minas Gerais. Revista Brasileira de Ciências Sociais. São Paulo, 1998, vol.13, n.37, p. 74-87. BEATO FILHO, C. C.; SILVA, B. F. A.; ASSUNÇÃO, F. M. Regionalização como estratégia para a definição de políticas públicas de controle de homicídios. Cad. 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