há continuidade nas revisões de teorias científicas?

Propaganda
V Seminá
inário de Pós-Graduação em Filosofia da UFSC
Car
19 a 23 de outubro de 2009
REALISM
ISMO CIENTÍFICO ‘AOS PEDAÇOS
S’: HÁ
CONTINUIDADE N
NAS REVISÕES DE TEORIAS CIEN
NTÍFICAS?
Tales Car
arnelossi Lazarin
Doutorado – Universid
rsidade Federal de
São C
Carlos (UFSCar)
taleslazari
[email protected]
...aa melhor
m
defesa para o realismo [científico] é tentar re
reconciliar o registro
histó
stórico com alguma forma de realismo. Para tanto, os rea
realistas deveriam ser
mais
ais seletivos com respeito a que eles são realistas.
Stathis Psillos
O realismoo ccientífico pode ser enunciado como a tese dde que as teorias
científicas são capazes de descrever o mundo tal como ele é,, aao menos com
aproximação razoável, mes
esmo em seus aspectos que não são diretamen
ente observáveis cujos exemplos por excel
celência são entes postulados por teorias ci
científicas como
elétrons, campos magnético
ticos, genes e estados mentais, bem como su
suas propriedades
(carga elétrica, spin, etc...).
..). Esta questão a respeito da existência dos inobserváveis e da
possibilidade de conhecê--los tem gerado intensa controvérsia noss eestudos sobre a
ciência e, dentre as objeç
jeções céticas que a tese realista tem receb
cebido, há alguns
argumentos importantes ba
baseados em considerações sobre a possibili
ilidade de que as
teorias científicas sejam ssubstituídas em revisões radicais, isto é, que as teorias
antecessora e sucessora di
divirjam de modo drástico, talvez irreconci
ciliável, em suas
ontologias, em seu objeto de estudo e em seu discurso.
Há uma tend
endência muito recente em que autores realis
listas, não apenas
pressionados por tais argu
rgumentos, mas também tentando reconciliar
iar o histórico de
teorias científicas abandon
onadas com a tese realista de que as teoria
rias científicas se
aproximam de forma progre
gressiva da verdade, oferecem reformulações en
enfraquecidas em
que as alegações realistass nnão se aplicam às teorias como um todo - como
c
ocorre nas
defesas clássicas do realism
ismo científico -, mas apenas a partes especiais
iais dessas teorias,
que seriam preservadas,, e talvez melhoradas, pelas teorias sucessor
soras. A presente
comunicação tem por obje
bjetivo expor o contexto filosófico e científic
ífico que motivou
essas reformulações em qu
que o realismo científico é defendido de form
rma fragmentada -
ISSN 2177-0417
- 57 -
PP
PPG-Fil
- UFSCar
V Seminá
inário de Pós-Graduação em Filosofia da UFSC
Car
19 a 23 de outubro de 2009
ou ‘aos pedaços’50 -, bem
be
como discutir algumas das formula
lações relevantes
apresentadas na literatura qu
que sejam possíveis pela limitação de espaço.
Contudo, ant
antes de prosseguir com essa exposição propria
riamente, gostaria
de esclarecer que a questão
tão apresentada no título é uma espécie de pr
provocação a ser
deixada para o debate, ma
mas que serve também como pano de fundo
do ao assunto da
presente comunicação, e po
por isso peço que a tenham em mente. A qu
questão remete ao
relativismo com relação aaos conceitos e ao significado que é espo
posado por Kuhn
(1962/1996) e Feyerabend
nd (1958/1988; 1981), cuja formulação maiss ddiscutida afirma
que um episódio de substi
stituição de teorias científicas gera uma mud
udança radical na
linguagem da área científica
fica, o que impossibilita a tradução das sentença
nças de uma teoria
nos termos da outra. Fey
Feyerabend afirma que teorias distintas não compartilham
quaisquer enunciados em comum, ou seja, o discurso dessas teorias
ias é sobre coisas
radicalmente diferentes e não há, pois, qualquer continuidade ling
inguística que se
mantenha quando as armaações conceituais são substituídas. Isso min
ina também uma
condição essencial para que se possa afirmar que há progresso científic
fico com relação a
esses episódios, uma vez
ez que progresso significa justamente o melh
elhoramento com
relação a uma situação aanterior, mas, no caso, tal comparação é impossível ser
realizada. Desde já, porém
ém, aviso que não pretendo responder de form
orma categórica a
essas afirmações ou à questã
estão do título, mas penso que a exposição quee sse segue fornece
subsídios para que os ouvin
vintes (e leitores...) depois pensem por si mesm
smos e tirem suas
conclusões.
O contextoo d
de fragmentação do realismo científico
A defesa ma
mais promissora para a tese realista é explana
anacionista, isto é,
afirma-se que o realismo científico
cie
é a melhor ou a única explicação pos
ossível para certas
características distintivass da
d ciência, e que, portanto, é a interpreta
etação correta do
conhecimento científico e das teorias científicas. Provavelmente, o aargumento mais
difundido em favor dessa te
tese é aquele de Putnam (1978/1984, p.141),
), qque diz que seria
“um milagre” que as teorias
ias científicas mais bem estabelecidas sejam tão bem sucedidas
se não fossem ao menoss aaproximadamente verdadeiras. (Aceito aqui
ui os critérios de
LAUDAN, 1981/1984, p.2
p.222, que afirma que uma teoria é bem su
sucedida “se faz
previsões substancialmente
te corretas, se leva a intervenções eficazes naa oordem natural, e
se passa por uma bateria de testes padronizados”).
50
Fine (1991) introduz a sugesti
stiva expressão ‘realismo em pequenas porções’ (piece
ecemeal realism), que
preferi verter como realismo cien
ientífico ‘aos pedaços’.
ISSN 2177-0417
- 58 -
PP
PPG-Fil
- UFSCar
V Seminá
inário de Pós-Graduação em Filosofia da UFSC
Car
19 a 23 de outubro de 2009
Boyd (1984)
4) elabora a defesa de Putnam, afirmando qu
que, dado que os
métodos científicos são ap
apoiados por teorias, e que essas teorias po
podem mudar, o
realismo científico passa a ser a única explicação possível para a consta
statação de que os
métodos científicos são in
instrumentos confiáveis, uma vez que a av
avaliação de sua
confiabilidade deveria serr aalterada juntamente com as teorias em que
ue estão apoiados.
Defesas mais recentes doo realismo enfatizam o papel de previsões ‘o
‘originais’ (novel
predictions), isto é, derivaç
ações que eram inesperadas, de modo que a teo
teoria não poderia
ter sido projetada para acom
omodá-las, e que os antirrealistas seriam incap
apazes de explicar
a não ser recorrendo à im
implausível coincidência de que teorias form
rmuladas para dar
conta de uma gama de fenô
nômenos se mostraram surpreendentemente be
bem sucedidas no
tratamento de fenômenoss ddistintos, que extrapolam o escopo pretendi
ndido inicialmente
para a teoria e que não fo
foram previstos de antemão (cf. LEPLIN, 19
1997; CHIBENI,
2006).
Os argumen
entos de Putnam (1978/1984) e Boyd (198
984) servem não
apenas como defesas em
m favor do realismo, mas também podem ser lidos como
formulações sintéticas de suas
su posições realistas, o primeiro sustentand
ndo que as teorias
científicas ‘maduras’, toma
madas como um todo, se aproximam de forma
ma progressiva da
verdade (o sucesso obtido
do significando um substancial progresso ness
esse sentido); e o
segundo, para o qual tal ap
aproximação é possível porque a ciência se ap
apoia em métodos
confiáveis (note-se, porém,
m, que essa é uma via de mão dupla, pois te
teorias científicas
mais bem sucedidas també
bém levariam à elaboração de métodos mais
is confiáveis). As
formulações de Putnam e Boyd são ‘canônicas’ do realismo cientí
ntífico de teorias
completas, e foram as prin
principais propostas positivas apresentadas pelos
pe
realistas ao
menos até o início da décad
ada de 1990.
Laudan (19
1981/1984) criticou em detalhe propostas
stas de realismo
convergente semelhantess a essas. Entretanto, exporei aqui apenass um dos pontos
centrais dessa análise, o ch
chamado argumento da indução pessimista,, por questão de
brevidade. O autor parte de uma lista de teorias científicas que foram co
consideradas bem
sucedidas em suas épocas
cas e posteriormente descartadas. Os itenss são: as esferas
cristalinas da astronomiaa aantiga e medieval; a teoria humoral da me
medicina; a teoria
efluvial da eletricidade está
stática; a geologia “catastrofista”, com seu com
compromisso com
um dilúvio (noélico) univer
versal; a teoria do flogisto da química; a teoria
ria do calórico do
calor; a teoria vibratória
ia do calor; as teorias da força vital da fis
isiologia; o éter
eletromagnético; o éter óp
óptico; a teoria da inércia circular; e teor
eorias de geração
ISSN 2177-0417
- 59 -
PP
PPG-Fil
- UFSCar
V Seminá
inário de Pós-Graduação em Filosofia da UFSC
Car
19 a 23 de outubro de 2009
espontânea. Laudan diz que essa lista poderia ser estendida “ad nause
seaum” e procede
indutivamente, afirmandoo qque, por esse histórico de teorias que foram
ram anteriormente
aceitas como bem sucedidas
das e que hoje são consideradas falsas (i.e. cujo
ujos inobserváveis
postulados falham em se re
referir), deve-se esperar que o mesmo eventu
ntualmente ocorra
com as teorias atuais. O arg
argumento de Laudan visa cortar a relação exp
xplicativa alegada
pelos realistas entre a aprox
oximação das teorias à verdade e o sucesso por
or elas obtido.
O realista ttem vários recursos para resistir à conc
onclusão indutiva
pretendida por Laudan (19
(1981/1984). Pode-se, por exemplo, tentarr m
minar o suporte
indutivo da conclusão, ne
negando não apenas que essa lista possa ser
se estendida ad
nauseaum, mas também qu
questionando a credibilidade a boa parte dos ex
exemplos citados
(cf. PSILLOS, 1999) - aoo menos
m
com relação aos padrões atuais de suc
sucesso científico,
que seriam muito mais exig
igentes. Há, também, autores que afirmam que
ue o argumento de
Laudan incorre em uma falá
falácia indutiva (cf. LEWIS, 2001; LANGE, 20
2002). Entretanto,
parece não ser o aspecto for
formal o que causa incômodo ao realista na aná
análise de Laudan,
e nem tampouco este parec
rece se dissipar com a simples rejeição de seu argumento por
um ou outro dos motivos cit
citados.
O ponto é qu
que o argumento de Laudan parece explicitar
itar que a ideia de
progresso subjacente à tese
se realista está em conflito com o registro hist
istórico de teorias
científicas abandonadas, ma
mas sua análise não é a primeira a se apoiar em considerações
sobre a possibilidade de m
mudanças radicais nas ciências para apontarr pproblemas desse
tipo, como disse de in
início. A ocorrência de substituições de teorias com
descontinuidades em suass oontologias, já notada por Kuhn (1962/1996),
), é suficiente para
refutar a concepção de que
ue o progresso ocorre de forma estritamentee ccumulativa, pois
isso impossibilita que a teo
teoria antecessora tenha todas as suas partess aassimiladas pela
sucessora, o que gera inescapáveis
in
perdas de significado. Entreta
etanto, é preciso
considerar que isso não re
refuta de imediato o realismo científico, po
pois embora este
requeira uma noção de pprogresso científico, essa não tem que sser estritamente
cumulativa, isto é, o realism
lismo científico pode suportar perdas de signifi
nificado em algum
grau, mas a noção de prog
rogresso como aproximação à verdade aindaa é enfatizada por
muitos autores como desejá
ejável ou essencial (cf. PSILLOS, 1999).
Em resposta
ta a esses desafios, alguns autores realistas (com
omo WORRALL,
1989; KITCHER, 1993; e PSILLOS, 1999) romperam com a tradiç
dição do realismo
científico, oferecendo ref
reformulações fragmentadas da tese realist
lista, em que as
afirmações de realismo são restritas a certas partes especiais das teori
orias científicas, e
ISSN 2177-0417
- 60 -
PP
PPG-Fil
- UFSCar
V Seminá
inário de Pós-Graduação em Filosofia da UFSC
Car
19 a 23 de outubro de 2009
não mais sustentadas com rrelação a teorias completas. A esperança é qque as partes das
teorias responsáveis por se
seu sucesso sejam isoladas, e que se mostre,
e, com a ajuda de
exemplos históricos, que es
essas partes especiais sejam, via de regra, ‘carr
arregadas’ para as
teorias sucessoras. Em tese
se, isso seria o suficiente não só para explicar
car sucesso obtido
pelas teorias abandonadas,
s, m
mas também para reconciliar a tese realistaa ccom a história da
ciência. Isso porque, com a retenção (ou aperfeiçoamento) dessas part
artes pelas teorias
subsequentes, estaria asseg
segurada uma continuidade entre as teorias qque se sucedem,
afastando o espectro dass revisões radicais de teorias, e permitindo
do uma noção de
progresso consonante com
m o realismo; e, nas análises mais avançada
das, são as partes
preservadas (ao invés de teorias como um todo) que são entend
endidas como se
aproximando cada vez mais
ais da verdade, inclusive nos casos de substitu
tituição de teorias.
Passo a discorrer sobre dua
uas dessas formulações: o realismo de entidad
dades e o realismo
de constituintes teóricos.
Realismo de entidades
O realismoo de entidades foi formulado simultaneamen
ente por Hacking
(1983) e Cartwright (1983).
3). Como suas propostas são mais antigas, a ten
tendência atual de
fragmentação do realismoo nnão havia ainda se delineado na literatura, e es
esses autores são,
na verdade, seus precursore
ores. A proposta do realismo de entidades por
or ambos deve-se
não apenas a um descontent
entamento com as formulações clássicas do real
ealismo científico,
mas, principalmente, porr cconsiderações antiteóricas particulares que
ue cada um deles
pretende defender.
Cartwrightt (1
(1983) sustenta que leis científicas de grand
nde generalidade,
como a da gravitação, são,
ão, estritamente falando, falsas, uma vez quee aas regularidades
que descrevem só se realiz
lizam na ausência de interferências que norma
malmente ocorrem
na natureza. Já Hacking (1
(1983) enfatiza que a atividade de experimen
entação tem uma
vida mais independente ddas teorias do que é comumente suposto,
o, e justifica seu
realismo a respeito de entid
tidades inobserváveis com considerações sobre
re a capacidade de
manipulá-las e empregá-las
las em aplicações tecnológicas. Ao relatar um eexperimento que
tinha por objetivo detectar
ar qquarks livres (cuja carga teórica é 1/3 da do elétron) em que
pósitrons e elétrons eram aaspergidos por certos emissores em uma esf
esfera de nióbio a
baixas temperaturas comoo forma de controlar sua carga elétrica total,
l, Hacking (1983,
p.22-24) afirma a respeitoo ddos pósitrons e elétrons uma espécie de lema
ma: “Se você pode
aspergi-los, então eles sãoo rreais”.
ISSN 2177-0417
- 61 -
PP
PPG-Fil
- UFSCar
V Seminá
inário de Pós-Graduação em Filosofia da UFSC
Car
19 a 23 de outubro de 2009
Os dois auto
utores afirmam que temos razão para acreditar
ar na existência de
entidades mesmo que suas
uas descrições estejam incorretas, ou que as teorias que as
mencionam sejam falsas.. P
Porém, tal atitude antiteórica resulta em um
uma tese realista
bastante fraca, que apenas
as afirma a existência de determinada entidad
dade sem atrelá-la
mais firmemente a qualqu
quer teoria ou descrição em especial; e isso
so termina por se
revelar uma fraqueza, pois
is o antirrealista tem uma resposta pronta essa
ssa formulação, já
que é possível aceitar todos
os os efeitos diretamente observáveis sem quee sse concorde, por
fim, com a existência aleg
legada da entidade, uma vez que tais efeitos
itos poderiam, em
princípio ao menos, ser o re
resultado de algo distinto.
Entretanto,, eessa posição minimalista pode ser fortalecid
cida (com alguma
inflação ontológica...) afirm
irmando-se não apenas a existência de certas
tas entidades, mas
também que elas possuem
m certas propriedades de referência que sãoo instanciadas no
mundo - e é justamente ess
esse o caminho trilhado posteriormente por Ca
Cartwright (1994).
Ela diz, então, que as entid
tidades a que se pode assentir existência sãoo aaquelas que têm
certas ‘capacidades’ caus
ausais bem estabelecidas, o que possibilit
ilita uma defesa
explanacionista do seu rea
realismo, pois ela afirma também que taiss ccapacidades são
necessárias para explicar os fenômenos observados.
Realismo de constituintes teóricos
Kitcher (199
993) introduziu uma formulação fragmentad
tada do realismo
científico, que Psillos (19
(1999) posteriormente elaborou e chamou dde realismo de
constituintes teóricos. Ki
Kitcher (1993, p.142) responde diretame
mente a Laudan
(1981/1984), dizendo quee sua análise é a mais sofisticada que ele já encontrou em
oposição ao realismo cient
entífico, mas que a conclusão obtida só é po
possível porque o
último “pinta com um pin
pincel muito largo”, tomando cada teoria como
com um bloco e
distribuindo o sucesso obt
btido igualmente entre suas partes, o que ge
gera “correlações
espúrias”, uma vez que Kit
itcher entende que não são todas as partes de uma teoria que
estão envolvidas em derivaç
vações corretas.
Assim, a aná
nálise de Laudan (1981/1984) talvez seja insu
suficiente porque,
mesmo que as teorias pass
assadas sejam consideradas bem sucedidas, é possível que as
partes de suas ontologias
ias que foram abandonadas não sejam, real
ealmente, aquelas
responsáveis por seu sucess
esso, e seria incorreto incluir casos desse tipo
po em sua célebre
lista. Além disso, Kitcherr ((1993, p. 143) afirma, com relação aos outr
utros exemplos da
lista, que encontrou proble
blemas com a atribuição de referência aos po
postulados dessas
ISSN 2177-0417
- 62 -
PP
PPG-Fil
- UFSCar
V Seminá
inário de Pós-Graduação em Filosofia da UFSC
Car
19 a 23 de outubro de 2009
teorias, ou isso juntamente
te com o problema citado anteriormente – muito
mu embora não
discrimine os exemplos que
ue se enquadrariam em cada um desses casos.
Kitcher (197
978, p. 520) também rejeita o relativismo conc
onceitual de Kuhn
(1962/1996) e Feyerabendd (1958/1988), que seria o resultado de “umaa leitura sensível
de alguns episódios da ci
ciência combinada com uma abordagem cr
crua de questões
semânticas”, afirmando que
que o suporte às conclusões relativistas é retira
tirado ao se adotar
uma semântica mais sofisti
isticada. Mais especificamente, Kuhn e Feyera
erabend sustentam
que mudanças no significad
ado dos conceitos que ocorrem com a substitui
ituição de teorias –
como alterações em suass ddescrições - também acarretam em mudança
ças na referência,
isto é, as teorias passam aa discorrer sobre objetos distintos (cf. SAN
NKEY, 2000); e
Kitcher (1978, 1999) reco
corre a uma concepção causal da teoria da referência para
rejeitar tal conclusão.
Na concepçã
ção tradicional (descritivista), considera-se que
qu a referência é
estabelecida por uma descri
crição (e.g. “o homem é um bípede implume”)
”) ou por uma lista
descritiva. Porém, em umaa teoria causal (cf. KRIPKE, 1972/1980; PUT
TNAM, 1975) há
uma ‘cerimônia de batismoo’ em que um objeto é nomeado, e tal relação
ção entre palavra e
o objeto é aprendida e prese
eservada através do tempo pelos usuários da li
linguagem, o que
se dá mesmo que sua descri
crição esteja incorreta. Kitcher (1978) afirmaa qque os conceitos
da ciência são sensíveis aa contextos, e que esses podem ser emprega
gados nos modos
descritivo ou causal de refer
ferência.
Assim, com
m relação aos conceitos abandonados da ciênci
ncia (e.g. flogisto),
há momentos em que se de
deve interpretá-los como falhando em se refe
eferir, quando são
empregados em descriçõe
ões que se revelaram falsas (“o flogisto é emitido numa
combustão”), mas em outro
tros momentos o modo causal é empregado, me
mencionando algo
que é responsável por certa
rta propriedade observável (“aquilo que susten
stenta a respiração
de ratos” - chamado entãoo dde ‘ar deflogisticado’); e Kitcher (1978, 1993
93) diz que nesses
casos os termos se referem
m, com correspondência na terminologia atual
ual (i.e. oxigênio).
Dessa maneira, o autor amp
mpara a ideia de que há relações de referência
ia preservadas nas
substituições de teorias, ee ta
também sustenta um realismo progressivo, af
afirmando que há
uma crescente estabilidade
de dos inobserváveis postulados na história da ciência que são
responsáveis por derivações
ões bem sucedidas.
Com relaçã
ção a Psillos (1999), ele segue uma lin
linha fortemente
kitcheriana, mas conseguee rrealizar alguns progressos relevantes. É inter
teressante destacar
que Psillos (1999, p. 108
08) sustenta que não apenas inobserváveis
is postulados são
ISSN 2177-0417
- 63 -
PP
PPG-Fil
- UFSCar
V Seminá
inário de Pós-Graduação em Filosofia da UFSC
Car
19 a 23 de outubro de 2009
‘carregados’ para as teorias
rias sucessoras (como afirma KITCHER, 1993
93), mas também
“leis teóricas e mecanismo
mos” envolvidos em derivações bem sucedid
didas, isto é, seu
realismo, mesmo fragment
ntado, suporta um nível maior de generalida
dade. Isso porque
(diferindo de Kitcher, que
ue aposta na referência estável dos postulad
lados efetivos em
derivações) Psillos adota uuma concepção de confirmação parcial, ou se
seja, é o sucesso
das derivações que é em
empregado para identificar as partes de teo
teorias mais bem
confirmadas, cujos inobserv
erváveis postulados há razão para assentir exis
xistência. Por fim,
ele também emprega umaa teoria mista (i.e causal e descritiva) da re
referência, como
forma de assegurar que os conceitos continuem a se referir a seus obj
objetos quando há
substituições de teorias cien
ientíficas, e com isso o mesmo se dá com ass le
leis teóricas e os
mecanismos bem sucedidos
os assentados sobre eles.
Conclusão
Termino co
concordando com Psillos (1999), afirmand
ndo que defesas
fragmentadas do realismoo pparecem não somente a melhor alternativa pa
para responder às
objeções baseadas em consi
nsiderações sobre revisões científicas, mas tam
ambém para tentar
reconciliar o registro históri
tórico de teorias científicas descartadas com a nnoção realista de
progresso como conducente
nte à verdade. Entretanto, para estabelecer ess
essas conclusões é
necessário recorrer a estudo
udos de caso detalhados que mostrem se há pa
padrões gerais de
retenção em substituiçõess de teorias científicas com relação a uma ggama de tópicos
científicos, em especial aqu
aqueles que desenvolveram teorias bem sucedi
edidas e das quais
foram derivadas previsõess ooriginais.
Referência
BOYD, R. N. The current
nt status of scientific realism. In: LEPLIN, J. (ed.). Scientific
realism. Los Angeles: Univ
iversity of California Press, 1984.
CARTWRIGHT, N. Natu
ature's capacities and their measurement. Oxford:
O
Oxford
University Press, 1994.
CARTWRIGHT, N. How
w the laws of physics lie. Oxford: Oxford U
University Press,
1983.
ndo o consequente: uma defesa do realismoo científico (?!).
CHIBENI, S. S. Afirmand
Scientiae Studia, São Paulo,
lo, v. 4, n. 2, p. 221-249, 2006.
FEYERABEND, P. Against
nst method. Rev. ed. London: Verso, 1988. (195
1958)
ISSN 2177-0417
- 64 -
PP
PPG-Fil
- UFSCar
V Seminá
inário de Pós-Graduação em Filosofia da UFSC
Car
19 a 23 de outubro de 2009
FEYERABEND, P. Realis
lism, rationalitism & scientific method: philoosophical papers
volume 1. Cambridge: Cam
ambridge University Press, 1981.
FINE, A. Piecemeal realism
sm. Philosophical Studies, v. 61, n. 1-2, p. 79-996, 1990.
HACKING, I. Representing
ting and intervening: introductory topics in th
the philosophy of
natural science. Cambridge
ge: Cambridge University Press, 1983.
KITCHER, P. The advance
cement of science: science without legend, ob
objectivity without
illusions. Oxford: Oxford University
U
Press, 1993.
KITCHER, P. Theories, the
theorists and theoretical change. The Philosoph
ophical Review, v.
87, n. 4, pp. 519-547, 1978.
8.
KRIPKE, S. A. Naming aand necessity. 2. ed. Cambridge: Harvard U
University Press,
1980. (1972)
ure of scientific revolutions. 3. ed. Chicago: Th
The University of
KUHN, T. S. The structure
Chicago Press, 1996. (1962
62)
LANGE, M. Baseball, pess
essimistic inductions and the turnover fallacy.
y. Analysis, v. 62,
n. 4, p. 281-285, 2002
ation of convergent realism. In: LEPLIN, J. (ed.). Scientific
LAUDAN, L. A confutatio
realism. Los Angeles: Univ
iversity of California Press, 1984. (1981)
LEPLIN, J. A novel defense
se of scientific realism. Oxford: Oxford Univer
versity Press,1997.
LEWIS, P. J. Why pessimis
mistic induction is a fallacy. Synthese, v. 129,, nn. 3, p. 371-380,
2001.
PSILLOS, S. Scientific real
ealism: how science tracks truth. London: Routl
utledge, 1999
PUTNAM, H. What is real
ealism? In: LEPLIN, J. (ed.). Scientific realism
lism. Los Angeles:
University of California Pre
Press, 1984. (1978)
PUTNAM, H. Explanation
ion and reference. In:_______. Mind, langua
uage and reality:
philosophical papers volum
ume 2. Cambridge: Cambridge University Pres
ress, 1975. p. 196214.
uage of science: meaning variance and theo
eory comparison.
SANKEY, H. The langua
Language Sciences, v. 22,, n.2,
n p. 117-136, 2000.
WORRALL, J. Structurall rrealism: the best of both worlds? Dialectica,, v. 43, n. 1-2, p.
99-124, 1989.
ISSN 2177-0417
- 65 -
PP
PPG-Fil
- UFSCar
Download