10-12-2015 Fórumdasemana Que impactos terá a subida do salário mínimo? O primeiro-ministro António Costa prometeu no seu programa um aumento do salário mínimo para 600 euros em 2019, através de um crescimento gradual ao longo da legislatura. Já em 2016 está prevista uma subida para 530 euros mensais. Ambas as propostas a apresentar em sede de concertação social. Vários representantes de associações patronais têm vindo a manifestar-se contra esta intenção do Governo, por considerarem que comporta riscos para as empresas. A CIP – Confederação Empresarial de Portugal, por Pedro Faria, empresário José Reis, professor catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra Ana Rita Carvalhais, coordenadora da União de Sindicatos de Leiria O aumento do salário mínimo é algo que é importante que aconteça, porque em Portugal o salário mínimo é demasiado baixo e o seu aumento vai fazer mexer a economia. Mas, se não tem qualquer importância para muitas empresas, há outras em que tem um peso grande e poderá alterar a competitividade. Outra situação muito importante é que o aumento do poder de compra só é positivo se for para comprar produtos nacionais, porque para comprar produtos importados vai empobrecer o país. Tem reflexos e bons. É uma condição elementar quer do relançamento da economia, quer da justiça social em Portugal e as duas coisas têm de estar ligadas. É uma medida positiva e necessária. Um dos nossos grandes problemas é o relançamento da nossa economia, porque ela está moribunda e foi tornada moribunda pela austeridade que incidiu injustamente, sobretudo, no rendimento salarial. O aumento do SMN é uma reivindicação da CGTP e dos trabalhadores que já não é de hoje. Mantemos a nossa proposta que é de 600 euros para 2016, pela qual nos temos batido nos últimos anos. Vamos à negociação e tudo faremos para que o resultado vá ao encontro das expectativas dos trabalhadores. Acreditamos que terá um impacto positivo na economia. Não é o custo do trabalho o factor que mais pesa às empresas. Que comentários lhe merece este assunto? João Vieira Lopes, presidente da Confederação do Comércio e Serviços Pedro Custódio, empresário Eduardo Louro, economista exemplo, já anunciou que vai sugerir um valor inferior, que resulta dos indicadores de produtividade, crescimento da economia e inflação. Do outro lado estão os sindicatos, que aplaudem a medida. O director-executivo da D. Dinis Business School, Vítor Ferreira, afirma nesta edição (entrevista na página 8) que não é de esperar um efeito acentuado em termos macro, na economia portuguesa, mas os próprios economistas estão divididos quanto aos impactos da subida do salário mínimo. Nos sectores ligados ao consumo, um aumento do rendimento disponível dos portugueses é encarado como uma oportunidade de crescimento. Para sectores de serviços de mão-de-obra intensivos que representamos, um aumento muito abrupto é causa de grandes preocupações. De uma forma geral, a CCP aceita como princípio o aumento do salário mínimo nacional, mas tal deve acontecer no dia 1 de Janeiro de cada ano e decidido com dois a três meses de antecedência, por forma a permitir às empresas incorporarem o novo valor nos contratos anuais. Estamos abertos a um acordo que preveja o aumento gradual até 600 euros, mas sempre ajustado em função de parâmetros como a produtividade, PIB e inflação, e sem prazos fechados. Defendemos ainda que o centro de decisão deve ser a concertação social. Começa logo mal, porque o nosso histórico é que o valor do salário mínimo seja decidido em sede de concertação social e estamos a assistir à promoção desse aumento sem a concertação social, o que desvaloriza todas as entidades intervenientes, nomeadamente, os sindicatos. Antes disso, era preferível os políticos tentarem perceber a realidade das empresas em Portugal. A mim parece-me que vivem num mundo à parte. Gostaria de poder subir os salários, porque os meus colaboradores merecem ganhar mais. Mas uma coisa é o que gostava e outra é o que realmente posso. Julgo que poderiam ser tomadas medidas mais inteligentes, aumentando os salários pela via da redução da carga fiscal. O aumento salarial tem que ver com aumento de produtividade, que é, a par da distribuição rendimento, um dos problemas do País. Em proporção, o Salário Mínimo Nacional (SMN) é hoje inferior ao que era em 1974, quando foi criada, com a agravante de actualmente haver discrepâncias muito maiores na distribuição de riqueza. É confrangedor falar de um aumento de 10 ou 15 euros, mas a verdade é que o SMN é, cada vez mais, referência na política salarial. Pelo que, qualquer aumento, por muito pequeno que seja, tem impacto nas empresas. Por outro lado, tem efeitos positivos no consumo, uma vez que é integralmente para aí canalizado.