Cursinho Triu – História Professores: Léo e Julie Aula 7

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Cursinho Triu – História
Professores: Léo e Julie
Aula 7: Renascimento e Humanismo
Comumente aprendemos as características do período moderno quase por oposição à
Idade Moderna: centralização política, ascensão da burguesia e crítica racionalizada às
ideologias religiosas. Entretanto, é preciso analisar criticamente as divisões dos períodos
históricos, sempre polêmicas e feitas posteriormente a eles. As mudanças que observamos nos
séculos XV a XVIII não foram acidentais, e tem suas raízes nas práticas medievais, muitas vezes
subestimadas. No caso do Renascimento, que marcou o início do período moderno, há duas
correntes interpretativas: uma que enaltece as rupturas com o período medieval, e outra que
identifica uma lenta transição de um período ao outro, afirmando que as características
socioculturais puramente modernas só iriam se consolidar nos séculos XVII e XVIII.
Um dos principais pilares para as renovações culturais do renascimento foi o
humanismo, que mudou a forma pela qual o ser humano enxergava a si mesmo e as suas
capacidades. Os humanistas se empenharam principalmente em resgatar as tradições clássicas
da Grécia ou de Roma, criticando o conhecimento produzido no período medieval por ele ser,
de certa forma, subordinado às doutrinas cristãs. A redescoberta dos humanistas ainda
perpassou aspectos políticos das sociedades clássicas, como a necessidade de expor
publicamente suas ideias e projetos políticos. Dessa forma, a antiguidade passava a ser não
somente um passado conhecido, mas um paradigma a ser observado e seguido.
O Renascimento teve como principais características: o antropocentrismo – ou seja, a
noção de “homem como centro”, glorificando feitos humanos e sua capacidade inventiva; o
racionalismo – valorizando a racionalidade como um dos grandes atributos humanos por meio
de explicações lógicas e estabelecimento de princípios racionais que pautaram as ciências do
período (que tinham como objetivo explicar o mundo de forma racional); o naturalismo –
contido no ímpeto de explorar e criar regras a fim de entender as leis da natureza, além das
investigações feitas à natureza humana; o individualismo – valor da tradição burguesa e
moderna que mantinha suas raízes tanto na vida pública quanto na vida privada (muitas vezes
também ligado às questões nacionalistas dos Estados modernos); e o já comentado resgate da
Antiguidade. Tais características, contudo, não podem ser enxergadas apenas como oposições
à vida medieval, algumas delas, como a “valorização do homem”, já eram expressas no
período da Idade Média, a diferença está nos esforços teóricos de justifica-la e na permanência
desse discurso até os dias de hoje.
O Renascimento floresceu principalmente no norte da Itália majoritariamente por
razões comerciais (de cidades que mantinham o domínio das rotas do Mediterrâneo e, por
isso, estiveram em contato com as tradições das civilizações Greco-romanas). A organização
republicana de tais cidades estimulava concorrência e mobilidade entre seus habitantes,
devido à ausência de uma ordem social muito rígida. As atividades realizadas nessas cidades
também se delineavam a partir das virtudes pessoais de seus governantes, possibilitando, em
certos casos, práticas de patrocínio artístico, chamadas de mecenatos - podendo se
estabelecer através do sistema doméstico (quando a pessoa rica estabelece uma relação
pessoal com o artista concedendo-lhe moradia e alimentação em troca de serviços artísticos),
sob encomenda (cenário mais comum) ou em um “sistema de mercado” (quando o artista
tenta vender um trabalho pronto). Os mecenas ocupavam a posição de patrocinar a arte e a
cultura no período renascentista.
Com essa gradual revalorização da arte, ela passou a exercer diferentes
funcionalidades na sociedade renascentista, dentre elas: religiosa – utilizadas nas igrejas
representando aspectos das vidas de santos e trechos bíblicos, estimulando a devoção dos
fiéis; didática – narrando histórias por meio das imagens e da cultura visual (em uma
sociedade na qual a leitura era um privilégio); política – fortalecendo o poder de autoridades
por meio de suas representações heroicas; e privada – retratando cenas cotidianas e retratos
pessoais. Entre os artistas que merecem destaque estão Giotto (1266-1337), Fra Angelico
(1400-1455), Botticelli (1445-1510), Leonardo da Vinci (1452-1519) e Michellângelo (14751564).
Ainda na Itália, mas no âmbito da literatura destaca-se Maquiavel (1469-1527). Sua
obra, que contém títulos como O Príncipe e Mandrágora, ainda influenciou o pensamento
político moderno através de sua leitura não teocêntrica do poder e sua defesa ao realismo
político. Na arquitetura destacam-se nomes como Filippo Brunelleschi (1377-1446) e Leon
Batista Alberti (1404-1472), responsáveis pela formulação da teoria da perspectiva, adotada
em diversas outras áreas artísticas depois de então.
Paralelamente ao campo das artes acontecia também o Renascimento Científico, no
qual cientistas como Nicolau Copérnico (1473-1543), autor da teoria heliocêntrica, Kepler
(1571-1630), responsável pela descoberta dos períodos de rotação dos planetas, e Galileu
Galilei (1564-1642), conhecido por enfrentar a Inquisição, redescobriram pensadores da
tradição clássica e, através da valorização da matemática, conseguiram revolucionar suas áreas
de atuação.
Apesar do predomínio italiano no fenômeno renascentista, ele não se restringiu
somente a essa área. A região dos Países Baixos e Flandres (importante rota comercial do
período da Baixa Idade Média) teve desenvolvimento semelhante ao norte da Itália.
Comerciantes enriquecidos também patrocinavam artistas importantes como Peter Bruegel
(1525-1569) e Hieronymus Bosch (1450-1516). Além deles, em outras partes da Europa,
também se sobressaíram a produção de artistas como Miguel de Cervantes (1547-1616) na
Espanha, William Shakespeare (1564-1616) e Thomas More (1478-1535) na Inglaterra, e
François Rabelais (1494-1553) na França.
As ideias humanistas e obras renascentistas espalharam-se por toda a Europa
ocidental graças a uma invenção que revolucionou a difusão de ideias e pensamentos: a
imprensa. Guttenberg publicou o primeiro livro impresso em 1456 e, a partir disso, a
informação passou a circular de maneira muito mais rápida. Outro aspecto da revolução
causada pela imprensa foi a não mais detenção dos saberes e conhecimento pela Igreja ou
alguns membros da nobreza (como acontecia frequentemente no período medieval –
lembram-se dos monges copistas?). Com a invenção da imprensa o conhecimento passou a ser
mais acessível, apesar dos custos, a diferentes camadas da população. Talvez devido a isso, a
tradição renascentista e o pensamento humanista conseguiram se perpetuar e chegar até os
dias de hoje através de inúmeras obras.
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