Tecnologias de Manejo Posicionamento Técnico: Manejo de Viroses Transmitidas por Pulgões na Cultura do Milho Uilson Santos Tecnologias de Manejo Posicionamento Técnico: Manejo de Viroses Transmitidas por Pulgões na Cultura do Milho O pulgão-do-milho é um inseto sugador de seiva, que se alimenta ao introduzir seu aparelho bucal nas folhas novas. São transmissores da virose como a do mosaico comum, causada por “potyvirus”, por exemplo. Essa virose tem se destacado entre as doenças mais importantes na cultura do milho, em razão do aumento em sua incidência e das perdas que pode causar na produção. Causada por um complexo de vírus do gênero potyvirus, transmitidos na natureza por várias espécies de afídeos, se distingue o pulgão-do-milho, Rhopalosiphum maidis, pela eficiência na transmissão. A existência de um elevado número de tipos de potyvirus e uma elevada gama de plantas hospedeiras aumentam a força desta doença. Como exemplo, na safra 2005/2006, os produtores de milho no sul do Brasil foram surpreendidos por altas infestações do pulgão-do-milho. O clima seco que predominou durante a safra, associado ao complexo pulgão + viroses, foi responsável por elevadas perdas de produtividade na cultura. Nos últimos anos tem sido constatada a ocorrência de pulgões e viroses, de forma isolada, em várias regiões do Brasil, demonstrando a necessidade de se capacitar os técnicos e agricultores na bioecologia desta praga e na correta identificação de sintomas e danos, visando à implementação de práticas de MIP para reduzir os danos causados. Biologia O pulgão-do-milho, Rhopalosiphum maidis, possui corpo alongado de coloração amarelo-esverdeada ou azul-esverdeada, com manchas negras na área ao redor dos sifúnculos; tamanho variando de 0,9 a 2,6 mm de comprimento; pernas e antenas de coloração negra; tubérculos antenais pouco desenvolvidos; antenas curtas, com seis segmentos, e processo terminal do segmento VI com 2 a 2,3 vezes o comprimento da base; sifúnculos com base mais larga que o ápice, de coloração negra e com constrição apical; cauda de coloração negra com dois pares de cerdas laterais. O pulgão-do-milho é um inseto sugador encontrado em colônias formadas por adultos e ninfas. Os adultos, que podem ser ápteros (sem asas) ou alados (com asas), Figura 1 Rhopalosiphum maidis: A) Fêmea áptera adulta em vista dorsal. B) Antena. C) Porção final do abdômen. 2 são sempre fêmeas e se reproduzem de forma assexuada (partenogênese). A forma adulta frequentemente observada nas colônias é a áptera, e a forma alada, responsável pela dispersão das colônias, é observada quando a população do inseto na planta é alta, quando a fonte de alimento está se esgotando ou quando as condições ambientais são desfavoráveis ao inseto. • Ciclo biológico (24°C): 20 dias • Período ninfal: 4 dias • Período reprodutivo: 12 dias • Longevidade: 16 dias • Número médio de ninfas/fêmeas: 72 • Condições favoráveis ao crescimento populacional: clima quente e seco Figura 2 - Adultos de Rhopalosiphum maidis. Fonte: Gasparin, R. Tecnologias de Manejo Posicionamento Técnico: Manejo de Viroses Transmitidas por Pulgões na Cultura do Milho Condições para Desenvolvimento da Praga A temperatura ideal para o desenvolvimento de Rhopalosiphum maidis fica entre 18°C e 24°C. Em aproximadamente sete dias após o nascimento das ninfas, este inseto atinge a fase adulta. Nestas condições de temperatura e com clima seco, o pulgão-do-milho apresenta alta capacidade de proliferação, sendo a duração média do período reprodutivo de 12 dias, quando cada fêmea pode gerar até seis ninfas por dia. A duração média do ciclo biológico de Rhopalosiphum maidis a 20°C é de 28 dias. Condições de estiagem, combinada com altas temperaturas, beneficiam o rápido desenvolvimento e a dispersão deste inseto, Sintomas e Danos Para implementar as táticas do MIP é necessário o monitoramento semanal das populações de pulgões, como também o correto diagnóstico dos sintomas causados pelo complexo pulgão-virose, distinguindo daqueles causados por estresse hídrico. Somente a realização do monitoramento desta praga permitirá a avaliação da necessidade de aplicações específicas de inseticidas e o momento ideal de aplicação. Esses insetos, ao se alimentarem da seiva das plantas, secretam parte não aproveitada desta seiva, conhecida como “honeydew”, que propicia o desenvolvimento de fungos (fumagina) capazes de interferir na polinização e prejudicar a atividade de fotossíntese da planta. Em casos severos, o complexo pulgão-virose pode levar à morte de plantas, causar perfilhamento de espigas, espigas atrofiadas e espigas com granação deficiente. Esses sintomas muitas vezes são confundidos no campo com problemas de polinização. Segundo a literatura, ao se alimentar em plantas infectadas, adquire o vírus em poucos segundos ou minutos e, da mesma forma, em poucos segundos ou minutos transmite-o ao se alimentar de plantas sadias. Alguns sintomas permitem a identificação das viroses que ao colonizar lavouras novas não é percebido pelos agricultores. O déficit hídrico favorece os insetos por meio do aumento da concentração de nutrientes na seiva e maior disponibilidade de aminoácidos livres, permitindo uma dieta mais rica e apropriada para sua multiplicação. No campo, observa-se que o aumento na população de indivíduos está correlacionado diretamente com o desenvolvimento da cultura (estádios fenológicos), sendo máximo no florescimento, a partir do qual os insetos têm elevada mortandade pela maior exposição ao sol e a inimigos naturais. associadas, como presença de manchas verdes nas folhas, entremeadas por manchas amareladas, em padrão de mosaico. Esses sintomas são claramente visíveis em plantas jovens e tendem a desaparecer na medida em que se tornam adultas, tornando difícil sua identificação após o florescimento. Também podem causar encurtamento de internódios e redução no tamanho das espigas e dos grãos. Há uma variação dos danos causados pelo complexo pulgão-virose entre os diferentes cultivares de milho; entretanto, a intensidade dos danos está relacionada com o conjunto de fatores relativos ao solo e ao clima. Mesmo para híbridos tolerantes é recomendado o MIP evitando atingir o nível de dano econômico, com perdas significativas de produtividade, em anos mais favoráveis ao complexo pulgão-virose. Os maiores danos são observados quando a infestação de pulgões ocorre na fase inicial de desenvolvimento vegetativo da cultura, com estimativas de perdas que podem alcançar até 60% da produção. A redução na produtividade ainda precisa ser mais bem estudada; entretanto, admite-se que é uma resposta fisiológica da planta, associada à interação dos pulgões aos seguintes fatores: a) viroses transmitidas; b) altas populações de pulgões; c) estresse hídrico. 3 Tecnologias de Manejo Posicionamento Técnico: Manejo de Viroses Transmitidas por Pulgões na Cultura do Milho Ambiente • Duração Estresse Hídrico • Momento Estresse Hídrico • Umidade Do Solo Danos Pulgão • População Inicial • População Na Planta • Inimigos Naturais Pulgão • Incidência • Tolerância • Genótipo Hospedeiro Figura 3 - Fatores que interferem nos danos de pulgão. Fonte: Desenvolvimento de Produtos Monsanto. Muitas espécies de gramíneas também são hospedeiras dos potyvirus, destacando–se, no Brasil: Brachiaria plantaginea (capim-marmelada), Digitaria horizontalis (capim-colchão) e Eleusine indica (capim-pé-de-galinha), que se incluem entre as plantas daninhas mais comuns em lavouras de milho. Essas plantas podem constituir reservatório de inóculo dos vírus na ausência do milho no campo. B C Figura 4 - Danos ocasionados por Rhopalosiphum maidis: A) Morte de plantas. B) Perfilhamento de espigas. C) Espigas com granação deficiente. Fonte: Santos, U. (A); Gasparin, R. (B e C). 4 Figura 5 - Planta de milho com sintomas de mosaico comum (potyvirus). Fonte: Gasparin, R. Tecnologias de Manejo Posicionamento Técnico: Manejo de Viroses Transmitidas por Pulgões na Cultura do Milho Figura 6 - Encurtamento de entrenós. Foto: Santos, U. Manejo Integrado de Pragas (Mip) Figura 7 - Espigas com granação deficiente. Foto: Santos, U. Algumas estratégias podem ser recomendadas visando à redução potencial do ataque de pulgões, como: eliminação de plantas daninhas hospedeiras (gramíneas selvagens), eliminação de plantas de milho voluntárias (tiguera) apresentando sintomas de mosaico e principalmente o monitoramento da praga. Nas áreas com reconhecido histórico de danos causados pela praga, é aconselhável o plantio de híbridos que apresentem maior tolerância à virose, além da adoção de boas práticas agronômicas, como uma adubação equilibrada e sobretudo o tratamento de sementes com neonicotinoides, com o objetivo de evitar a infestação Figura 9 - Planta com presença de pulgão. Fonte: Gasparin, R. Figura 8 - Colônia de pulgões (diagnóstico tardio). Foto: Santos, U. precoce nas lavouras, quando as plantas estão na fase mais suscetível. 1- Monitoramento O monitoramento da população de pulgões deve ser realizado semanalmente durante a fase vegetativa da cultura, a partir de V4 até o início da fase reprodutiva, examinando-se aleatoriamente 100 plantas/talhão em grupos de 20 plantas. Durante o monitoramento devese observar detalhadamente as plantas na região do cartucho, avaliando a presença de pulgões adultos, ninfas e a população de inimigos naturais, que devem indicar a necessidade ou não de aplicação de inseticidas. - Aleatoriamente - 100 plantas / 10 ha - 5 grupos de 20 plantas Fonte: Adaptado do Folheto EMBRAPA - Dr. Paulo Pereira e Roberto Salvadori. 5 Tecnologias de Manejo Posicionamento Técnico: Manejo de Viroses Transmitidas por Pulgões na Cultura do Milho 2 - Controle Químico* A utilização de inseticidas é uma medida complementar no manejo de pulgões, contribuindo para a redução dos danos em casos onde as condições relativas ao solo e ao clima sejam favoráveis ao complexo pulgão-virose. • No estádio V4 a VT, sugere-se o controle com inseticidas quando 10 a 20% das plantas amostradas apresentarem presença de população ativa de pulgões (sob consulta de um Engenheiro Agrônomo). • A partir do pendoamento não se recomenda o controle por inseticidas, já que o controle natural é eficiente na morte dos insetos. Além disso, os possíveis benefícios sobre a virose não serão mais efetivos, considerando a incidência da doença ainda no início do ataque. Recomendações importantes: - Utilizar inseticidas neonicotinoides registrados para a cultura. - Utilizar volumes de calda superiores a 200 litros/ha. - Utilizar gotas grandes e pontas antideriva. - Aplicações em pleno florescimento podem causar fitotoxidez e falhas de polinização. - Seguir a recomendação de um Engenheiro Agrônomo. Inimigos Naturais A ocorrência de inimigos naturais dos pulgões, como larvas e adultos de coccinelídeos (joaninhas), crisopídeos e microimenópteros (múmias), deve ser observada durante o monitoramento, pois a presença de um grande número de predadores e parasitoides sugere que o controle natural está reduzindo o número de pulgões. Figura 10 - Presença de inimigos naturais. Fonte: Gasparin, R. (*) Consulte sempre um profissional legalmente habilitado para obter a recomendação aplicável à sua área de plantio. Figura 11 - Presença de inimigos naturais. Fonte: Gasparin, R. Considerações A diferenciação entre perdas causadas por estiagem, perdas causadas pela ação direta do pulgão-do-milho ou viroses associadas é uma tarefa difícil, uma vez que a ocorrência de infestações do inseto é estimulada pelo clima seco e os danos finais podem se confundir. Entretanto, os assistentes técnicos e os agricultores precisam estar conscientes de que o monitoramento constante das lavouras é de fundamental importância para evitar perdas significativas de produtividade, pois os danos relacionados à virose acontecem posteriormente à ocorrência dos pulgões, que tendem a desaparecer após o florescimento da cultura. 6 Tecnologias de Manejo Posicionamento Técnico: Manejo de Viroses Transmitidas por Pulgões na Cultura do Milho Referências: CRUZ, I. Inimigos naturais da lagarta-do-cartucho e pulgões na cultura do milho: Chrysoperla externa. [S.l.:s.n.], 2000a. Folder. GASSEN, D. N. 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