GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS QUÍMICOS EM LABORATÓRIOS DE ANÁLISES E PESQUISA: O DESENVOLVIMENTO DO SISTEMA EM LABORATÓRIOS DA ÁREA QUÍMICA Fabio Eduardo Penatti1, Solange T. Lima Guimarães2, Paulo Marcos da Silva3 Resumo: Laboratórios de análises e pesquisas envolvem uma gama de resíduos no desenvolvimento de seus estudos com características intrínsecas referente à sua forma de geração. A quantidade gerada de resíduos neste segmento é desprezível comparado às atividades industriais, mas a questão ambiental é que estes resíduos não possuem uma técnica padrão para o seu tratamento, devido ao potencial de variação da sua composição. Este trabalho buscou estabelecer um sistema de gerenciamento de resíduos convencional, mas que procurou desenvolver técnicas para a quantificação da geração dos resíduos a fim de criar uma sistemática padronizada de controle de uso excedente de produto para a condução e conclusão dos estudos. Palavras-Chave: Resíduos. Gerenciamento. Sistema. Meio Ambiente. Laboratório. Registros. Abstract: Analysis and research laboratories involve a wide range of residues during the development of their studies with inherent characteristics referring to their generation pathway. The generated amount of residues in this segment is despisable in comparison to the industry generated residue, however, the main environment related issue is that those laboratory generated residues do not have a standard technique for their treatment, due to the potential variation in their composition. This study aimed to establish a conventional residue management system, with the objective to develop a residue generation quantification in order to create a standardized systematic for using and controlling the exceeding products for the studies conduction and conclusion. Key words: Residues. Management. System. Environment. Laboratory. Registries. 1 Geógrafo; Mestrando em Organização do Espaço do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Estadual Paulista – Campus Rio Claro; Analista de Segurança e Meio Ambiente da Bioagri Laboratórios – Piracicaba/SP. E-mail: [email protected] 2 Professora Adjunta do Depto. de Geografia da Universidade Estadual Paulista – Campus Rio Claro. E-Mail: [email protected] 3 Químico formado pela UFSCAR; Mestre em Agronomia pela USP em Ciência do Solo e atual Diretor Técnico da Bioagri Laboratórios – Piracicaba/SP. E-mail: [email protected] 106 Introdução No decorrer do processo civilizatório, verificamos um crescimento acelerado da população humana, sendo que os diversos resíduos gerados como subprodutos de suas atividades, transcendem a capacidade de resiliência do meio ambiente, gerando desequilíbrios em seus ciclos originais. Grandes fluxos de elementos artificiais em altas concentrações, e muitos deles tóxicos e nocivos à vida na biosfera, são depositados a todo o momento em regiões em que o seu subsistema gira em torna da própria dinâmica da natureza. Este fluxo de deposição dos rejeitos acaba voltando ao ciclo de vida dos seres humanos sob formas de poluição, radiação, contaminação, chuva ácida, entre outras. (FIGUEIREDO, 1995). Sabemos que no Brasil são gerados milhares de toneladas de resíduos diariamente, porém, esses mesmos resíduos não são percebidos como uma significativa preocupação ambiental pela nossa sociedade. Esta problemática quase sempre é evitada até o momento em que acarretam ameaças, iniqüidades e conflitos ambientais mais graves às pessoas que estão diretamente ligadas a esses contextos, tais como as populações que habitam o entorno de áreas degradadas, a exemplo, daquelas onde a deposição de resíduos se apresenta potencial e efetivamente com altos níveis de poluição e contaminação. Os resíduos são rejeitos determinados pelo homem que não podem fluir diretamente para os rios, solo e ar. Para Philippi (1990) apud Silva (2004) resíduos sólidos podem ser considerados qualquer mistura de materiais ou restos destes, oriundos dos mais diversos tipos de atividades antropogênicas. São classificados de acordo com a sua natureza física, sua composição química, e os riscos potenciais que oferecem ao meio ambiente e a saúde pública (perigoso inerte e não inerte). Segundo a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) – NBR 10004 – os resíduos sólidos são definidos como: ...resíduos nos estados sólidos e semi-sólidos, que resultam de atividades de origem industrial doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição. Ficam incluídos nesta definição lodos provenientes de sistemas de tratamento de água, aqueles instalados em equipamentos e instalação de controle de poluição, bem como determinados líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou corpos de água, ou exijam para isso soluções técnicas e economicamente inviáveis em face à melhor tecnologia disponível. Para retratarmos diretamente o problema dos resíduos químicos especificamente, devemos considerar que a Química é uma das ciências que mais trouxe benefícios para a sociedade principalmente nos últimos tempos. Entretanto, um dos questionamentos mais graves relacionados ao uso inadequado da Química refere-se aos danos e riscos ambientais causados pela geração de resíduos. Os resíduos químicos compreendem uma infinidade de compostos gerados nas mais variadas atividades industriais e laboratoriais do ramo. Estes resíduos merecem uma preocupação especial devido à complexidade dos seus compostos, e principalmente por apresentarem vários níveis de toxidade, sendo eles de características físico-químicas ou bioquímicas, muito distintos em sua complexidade de geração. 107 No estudo efetuado sobre a geração de resíduos químicos em laboratórios de análises e pesquisas na área química, a quantidade da geração dos mesmos apresenta índices desprezíveis comparados às indústrias de grande porte deste mesmo ramo, como as de produtos químicos e petroquímicas. Segundo Zancanaro Jr. (2002), se considerarmos a quantidade de geração de resíduos no setor industrial (100ton/mês), os resíduos de instituições de pesquisas aparentam ser insignificantes. Gil et al. (2007), afirma que a grande diferença entre gerenciar resíduos industriais e resíduos de laboratórios está na forma de tratamento e disposição final. O grande problema destas formas de geração é a composição variada e inconstante que apresentam. As propriedades químicas dos resíduos mudam constantemente e dificilmente encontra-se um método padrão e eficaz para o seu tratamento (GERBASE et al., 2005). A importância para o meio ambiente de um padrão de gerenciamento destes resíduos justifica-se mediante o fato de que as fiscalizações dos órgãos competentes não possuem respaldo legislativo quanto ao tratamento que realmente deve ser dado (JARDIM, 1998). As deficiências para se estabelecer procedimentos para esta destinação obrigam algumas instituições a recorrer e se adaptar em outras leis, como a de Resíduos de Serviço de Saúde (RDC 306/04); Inventário de Resíduos Industriais (CONAMA 313/02), ou às normas internacionais. Objetivo Desenvolver um estudo que consiste em determinar os principais indicadores ambientais presentes em laboratórios da área química de análises e pesquisas para criar uma sistemática padronizada de quantificações dos resíduos gerados provenientes do processamento dos produtos químicos com as substancias testes. 1.0 Importância do gerenciamento de resíduos para a conservação ambiental Antes de discutirmos qual é o grau de importância do gerenciamento de resíduos industriais e de laboratórios para a conservação ambiental, é necessário contextualizarmos alguns conceitos sobre meio ambiente. Tommasi (1993), citando Grinover (1989), afirma que meio ambiente é um jogo de interações entre o meio que suporta os elementos vivos e as práticas sociais produtivas do homem. Sachs (1986) apud Tommasi (1993) coloca que o meio ambiente é a interação entre os elementos naturais e a sociedade humana, incluindo os domínios ecológico, social, econômico e político. Ao analisar o conceito sob uma perspectiva sistêmica, Christofoletti (1990) apud Tommasi (1993, p.11) afirma que neste mesmo meio ambiente estão os “geossistemas, que compreendem a organização espacial oriunda dos processos do meio ambiente físico, e os sistemas sócio-econômicos, que compreendem as organizações espaciais oriundas dos processos ligados às atividades humanas”. 108 Para compreendermos melhor o meio ambiente, não apenas como um conjunto de elementos naturais interagindo entre si, mas envolvendo a interação destes elementos tendo a ação do homem como principal agente transformador, consideramos que algumas formas dessas relações podem causar danos ambientais irreparáveis ou irreversíveis se não forem controladas ou amenizadas através de medidas racionais visando sua conservação. Simmons (1982) destaca que o uso crescente do processamento dos recursos naturais está criando uma série de problemas ambientais. Por conseguinte, nos dias de hoje, o final do processo de produção e o descarte no uso doméstico de alguns desses mesmos recursos, transformados em produtos, estão causando sérios problemas de tratamento e disposição final dos resíduos para a gestão ambiental. A prevenção e a minimização de impactos ambientais causados pelas atividades industriais e humanas são alguns dos principais objetivos dos sistemas gestão ambiental. Para Tommasi (1993), impactos ambientais são alterações físicas ou funcionais no meio ambiente que trazem conseqüências desfavoráveis à sociedade humana. Eles são controlados através de ações integradas entre a administração pública, setores industriais, de serviços e sociedade civil para o estabelecimento de medidas de redução e tratamentos menos danosos relacionados à geração de resíduos. Através de práticas conservacionistas relacionadas à prevenção e à remediação de impactos, podemos contribuir para o restabelecimento do equilíbrio das relações entre os múltiplos componentes ambientais, acarretando um novo relacionamento do homem com seu ambiente total (DUBOS, 1974). 1.1 O Gerenciamento de Resíduos como processo do Sistema de Gestão Ambiental segundo a série ISO 14000 A série ISO 14000 foi criada pela Organização Mundial de Normatizações (ISO International Organization for Standardization). Esta instituição foi criada em 1946 com o caráter de promover o desenvolvimento de normas internacionais com características voluntárias na indústria, comércio e serviços. A série inicialmente formulada pela ISO/TC (International Organization for Standardization/ Technical Committees) 207 em 1993 tinha como meta principal a elaboração de normas de gestão ambiental promovendo um enfoque comum ao gerenciamento ambiental para aprimorar métodos de desempenhos ambientais e facilitar o comércio entre os países (CAVALCANTI apud FREIRE, 2000 p.20). De acordo com os seus conceitos, a organização que pretende implantar um Sistema de Gestão Ambiental, deve implantar parâmetros como políticas ambientais, identificação e controle dos seus aspectos ambientais, metas e objetivos, treinamentos contínuos, monitoramentos e verificação do desempenho ambiental, redução dos impactos ambientais referentes aos seus aspectos ambientais, entre outros. Os conteúdos da série ISO 14000 estão relacionados diretamente a implantação de técnicas que reduzem os processos de deterioração ambiental. No caso de laboratórios químicos de análises e pesquisas o principal potencial que pode gerar impacto ambiental é a geração de resíduos líquidos oriundos do processamento da amostra analisada e os insumos usados para obter os resultados analíticos. Segundo Gil et al. (2007), com as determinações desta norma pode-se estabelecer procedimentos de levantamento, armazenamento, recuperação e disponibilização dos dados oriundos da quantificação dos resíduos gerados favorecendo, desta forma, a prevenção de impactos ambientais de caráter compartimental e não-compartimental, tais como contaminações do solo, ar, água, flora e fauna. 109 Segundo a ISO 14001 após a primeira etapa do cumprimento das suas determinações que é o estabelecimento da política ambiental, a próxima etapa é o levantamento dos aspectos ambientais que potencialmente podem ocasionar impactos no meio ambiente, sendo ele de forma direta ou indireta. Nos laboratórios estudados, os aspectos ambientais que oferecem maior destaque é a geração de resíduos líquidos proporcionados por diversas áreas de atividade. Cada área de atuação possui uma característica intrínseca quanto aos tipos de produtos utilizados e aos tipos de amostras analisadas, ou seja, para cada tipo de amostra são necessários produtos diferentes para estabelecer os resultados esperados. Dentro da etapa do levantamento dos aspectos ambientais, segundo o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (2006), é necessária a classificação e a quantificação destes resíduos. Ao partirmos deste conceito, foi desenvolvido um sistema de classificação e subclassificação dos resíduos químicos gerados para o seu futuro levantamento para se cumprir a determinação da quantificação destes resíduos. Existem muitos benefícios quanto às quantificações dos resíduos gerados de acordo com o sistema de registro implantado (conforme item 4 p.7-11), o principal deles é o de atender o requisito da norma que obriga verificar os indicadores de desempenho ambiental do Sistema de Gestão Ambiental (SGA) implantado. Para a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (2007), os elementos presentes no SGA, em especial as operações relacionadas aos aspectos e impactos ambientais significativos, devem ser monitoradas e medidas, sendo que a organização deve manter registros e controle dessas medições. Outro ponto importante relacionado às medições de desempenho ambiental é o cumprimento das metas ambientais estabelecidas periodicamente pelos laboratórios. Estas metas são traçadas de acordo com os índices de geração de resíduos anuais, e de forma gradativa são implantados sistemas de redução na fonte, de reutilização e de reciclagem, com o intuito de diminuir estes índices, e consequentemente melhorar continuamente o sistema de gerenciamento implantado. Além do ponto principal que é o cumprimento das determinações exigidas pela ISO 14001, os laboratórios estudados possuem atividades diretamente ligadas ao bem estar humano, tais como análise de fármacos e análise de resíduos de alimentos, portanto, é necessário que o sistema de gerenciamento de resíduos seja adequado à resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) número 306/04, pois a sua abrangência enfoca laboratórios de análises de produtos para saúde, além de outras normas e leis como as da ABNT- NBR 10004, NBR 12235, NBR 7500, NBR 13221 e da Comissão Nacional de Energia Nuclear – (CNEN) NE- 6.05, entre outras. Assim como exige na ISO 14001, como na RDC 306/04, é necessário após o levantamento dos aspectos ambientais, a aplicação do seu manejo segundo outros requisitos legais aplicáveis. No caso da RDC 306/04, são citados quais os requisitos legais que devem ser seguidos, já na ISO 14001 ficam abertos para as adequações conforme a realidade dos aspectos e seus impactos decorrentes. Ambas corroboram para a melhoria do bem estar social visando à implantação de técnicas que conservem e preservem o meio ambiente. Especificamente a RDC 306/04 é o requisito legal que mais se aproxima da realidade estudada dos laboratórios da área química, portanto, o sistema de gerenciamento que consiste em caracterizar, classificar, segregar, transportar, armazenar, tratar e destinar, além das suas quantificações que consiste em desenvolver “instrumentos de avaliação e controle, incluindo a construção de indicadores claros, objetivos, auto-explicativos e confiáveis, que permitam acompanhar a eficácia do PGRSS implantado” (RDC 306/04 item 4.2.1 p.6) contribuem para o fornecimento de dados para o estabelecimento de metas de redução da geração de resíduos, e, conseqüentemente, da diminuição dos riscos e impactos ambientais adversos. 110 2.0 Definição da área de estudo e a metodologia aplicada para o levantamento dos compostos de resíduos gerados As atividades dos laboratórios envolvidos no estudo se definem em análises físicoquímicas, radioativas e residuais em produtos como agroquímicos, domissanitários e fármacos que agem diretamente no meio ambiente e que podem causar diferentes impactos ambientais. Em suas análises químicas são usados muitos compostos de reagentes como solventes halogenados, não halogenados, radiomarcados, ácidos e bases, entre outras características, que necessitam ser controlados desde o momento em que são retirados do almoxarifado, até o momento em que devem ser descartados. Os laboratórios envolvidos no programa são: • • • • • Laboratório de Análise de Resíduos (LAR) Laboratório de Fármacos (LFAR) Laboratório de Espectrometria de Massa (LEM) Laboratório de Rádioquímica (LRD) Laboratório de Físico-Químca (LFQ) Para iniciar o Programa de Gerenciamento de Resíduos primeiramente foram mapeados os compostos gerados nas principais fontes geradoras para definir todas as soluções usadas em suas análises. Com o objetivo de determinar as características essenciais dos compostos dos resíduos, foram inventariados os ativos de geração, como forma de levantar os aspectos ambientais presentes no objeto da pesquisa de acordo com a norma ISO 14001. A metodologia de Inventário do Ativo foi desenvolvida por Jardim (1998) nos laboratórios de análises químicas da Universidade de Campinas (UNICAMP). Para esse autor, ativo é todo o resíduo gerado na rotina de trabalho da Unidade Geradora (ou Fonte Geradora), sendo imprescindível esta atividade para o Gerenciamento, pois é através dela que “se poderá traçar metas e objetivos a serem atingidos em termo de geração futura de resíduos” (JARDIM, 1998, p.10). O inventário do ativo foi desenvolvido através da visitação de todos os laboratórios envolvidos. Nos laboratórios foram entrevistados os responsáveis com o objetivo de coletar informações sobre as características dos resíduos gerados e quais eram as suas principais fontes geradoras. Após o levantamento de todos os tipos e fontes de resíduos gerados, essas mesmas fontes foram codificadas e inseridas em um mapa de resíduos com a função de localizar as fontes no interior dos laboratórios. Para auxiliar o levantamento dos resíduos e de suas fontes, foi desenvolvida uma planilha específica para registro das informações coletadas. Após a tabulação de todos os dados, os resíduos foram classificados segundo as características definidas pela ABNT – NBR 10004/04. 3.0 Gerenciamento de Resíduos Químicos nos Laboratórios Gerenciamento de resíduos é uma prática que consiste em controlar o potencial de impactos ambientais dos resíduos gerados de uma determinada atividade (ROCCA et al., 1993). Esta atividade é considerada com uma prática de Produção Mais Limpa (P+L) na medida em que o gerenciamento de resíduos estabelece formas de conter ou minimizar uma geração demasiada de resíduos, ou até mesmo de buscar outras alternativas para as suas destinações. 111 A metodologia aplicada para o gerenciamento dos resíduos químicos consiste em caracterizar, segregar, armazenar e destinar de forma correta e legal os resíduos gerados (JARDIM, 1998; CUNHA, 2001). Para Jardim (1998), esta forma de gerenciamento é figura de mérito para qualquer plano de gerenciamento e também propõe uma hierarquia de medidas visando uma otimização da “Unidade Geradora”, com intuito de proporcionar a minimização dos resíduos e a redução dos custos das análises, meta comum a ser cumprida por qualquer tipo de Sistema de Gestão Ambiental. Através desta estratégia hierárquica de medidas para o gerenciamento de resíduos nos laboratórios de análises químicas, a próxima ação após o levantamento dos resíduos fornecidos através do inventário do ativo, foi a caracterização dos resíduos gerados nos laboratórios. Com a identificação da fonte geradora de resíduos podemos estabelecer padrões de caracterização de suas propriedades. Para facilitar a caracterização dos resíduos foi necessário identificá-lo, caracterizando apenas os resíduos químicos e depois definir como ele foi gerado (UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, 1996). 4.0 Procedimento de levantamento e tratamento dos dados referentes à geração de resíduos Um laboratório de análises químicas é visto como um local que reúne as condições indispensáveis à experimentação científica e à comprovação dos conhecimentos expostos teoricamente utilizando as suas próprias metodologias para o desenvolvimento dos seus estudos (CHRISPINO, 1994). Sabemos que a função das atividades de laboratórios de análises e pesquisas, principalmente da área química, é de fornecer dados para certificações de resultados referentes às características das amostras, como composição físico-química; potencial residual; potencial de lixiviação; impurezas residuais; estabilidade, entre outras (BOETHILING; MACKAY, 2000; SETTLE, 1997). Diferentemente da confecção de um produto final em uma indústria, os laboratórios geram laudos ou relatórios finais tomando como base os resultados analíticos tendo como referência normas da Environmental Protection Agency (EPA), Organisation for Economic Co-operation and Development (OECD) e ABNT, principalmente. Para a quantificação dos resíduos gerados nestes laboratórios, foi necessário que os operadores e técnicos seguissem um sistema implantado de registros de descartes, e através destes registros pôde-se quantificar periodicamente as principais composições de resíduos. O sistema implantado através da formulação de livros de registros para atividades específicas de descarte foi baseado na norma ISO17025 - Requisitos gerais para competência de laboratórios de ensaio e calibração. 112 4.1 Técnicas para o levantamento dos dados Antes dos registros em livros específicos de descarte de resíduos, foi necessário criar um sistema de identificação e rotulagem dos frascos coletores. Através de normas internas de meio ambiente, ficou estabelecido que frascos coletores considerados de atividades de geração rotineira de resíduos teriam uma capacidade máxima de 5 litros. As informações da rotulagem destes frascos foram baseadas na Ficha de Caracterização de Resíduos aplicadas no Programa de Gerenciamento de Resíduos da Universidade Federal de São Carlos (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS, 2005). A identificação deste tipo de descarte é “Descarte Usual” que contém: o grupo de descarte e o código da fonte geradora1, informações pertinentes às características do resíduo, a data, a rubrica e vencimento de utilização do frasco: Descarte Usual Grupo Descarte: __________________ cod.:__________ Ácido Inflamável Explosivo Metais pesados Oxidante energético Contém agroquímicos Básico Aquoso Radioativo Material biológico infeccioso Redutor Energético Outros: Data: ______________ Vencimento 4 meses Rubrica: _____________ Figura 1 - Rotulagem de Descarte Usual (Bioagri Laboratórios, 2005) Fonte: Adaptado UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS (2005) Após o uso destes frascos coletores com os descartes gerados rotineiramente em locais de uso comum que ficam geralmente próximos a bancadas ou equipamentos, baseando-se no sistema implantado de segregação, estes resíduos são transferidos em frascos coletores maiores, como bombonas de 50 litros. Estes frascos maiores, em geral, ficam em locais afastados do interior dos laboratórios, como as salas de lavagens. Este tipo de descarte recebe o nome de “Descarte Temporário”. A rotulagem destes recipientes foi desenvolvida internamente, contendo informações pertinentes ao grupo de descarte, e outro código que no caso é identificado com o código do laboratório em um número seqüencial: Descarte Temporário Grupo do Resíduo:____________________ cod.:_______ Figura 2 - Rotulagem de Descarte Temporário Fonte: BIOAGRI LABORATÓRIOS, 2005. 1. Definido pelo levantamento na planilha de Identificação de Resíduos e Mapeamento das suas Fontes Geradoras (IRMFG) 113 O procedimento que envolve a transferência de um volume menor de resíduo coletado nos frascos de “Descarte Usual” para os frascos de maior capacidade designado como “Descarte Temporário”, deve ser registrado em um livro de registro criado pelo sistema implantado, intitulado de “Registro de Identificação do resíduo gerado na fonte para o armazenamento temporário no laboratório”, de acordo com a figura 3. Este livro coleta informações para a quantificação dos dados referentes à geração dos resíduos nos laboratórios. Neste livro são informados: o volume descartado; a pessoa que descartou; o horário; o código da fonte pela qual procede este resíduo identificado na etiqueta de “Descarte Usual”, e o código do coletor pelo qual o resíduo está sendo transferido, encontrado no rótulo do recipiente de “Descarte Temporário”. Dentro das informações contidas neste livro de registro é que os dados são coletados para tabular e quantificar o total de resíduos gerados divididos em determinado períodos de tempo. Registro de Identificação do resíduo gerado na fonte para o armazenamento temporário no Laboratório Data Horário Volume Código Especificações Gerais Recipiente Rubrica Fig. 3 - Registro de Identificação do resíduo gerado na fonte para o armazenamento temporário no Laboratório. Fonte: BIOAGRI LABORATÓRIOS, 2005. Da mesma forma pela qual é feito o “Descarte Usual” (sempre que se esgota a capacidade do recipiente, o seu conteúdo deve ser transferido para o “Descarte Temporário”), o procedimento de registro se repete quando o recipiente de “Descarte Temporário” esgota a sua capacidade de armazenamento e passa a ser descartado. Neste livro, a todo o momento que o próprio pessoal responsável do laboratório coleta os resíduos e encaminha para o armazenamento na Área Central de Armazenamento Temporário de Resíduos da instituição, a atividade é registrada, informando a identificação do recipiente que leva o código do laboratório e o seu número seqüencial; a quantidade aproximada do volume existente no coletor; algumas observações; e o destino do coletor, como mostra a figura 4. Com as informações contidas neste livro é possível estabelecer o período de geração de resíduos, ou seja, em qual espaço de tempo é gerado aproximadamente 50 litros de resíduos por laboratório, e com isso estabelecer através de planilhas de cálculos, a variação mensal e diária dos tipos e do total de resíduos gerados: Livro de Registro de Descarte do Laboratório Data Identificação Quantidade Aproximada Observações Destinação Responsável Fig. 4 - Livro de Registro de Descarte do Laboratório. Fonte: BIOAGRI LABORATÓRIOS, 2005. 114 O último procedimento de registro estruturado pelo sistema é quando um dado lote de resíduos recebe uma determinada forma de tratamento, ou é destinado a um local de destruição ou deposição permanente. O livro de registro de “Destinação Final” (fig.5) é utilizado quando os resíduos são destinados para aterros sanitários especializados, coprocessamento ou incineração. Através do sistema de gestão implantado nos laboratórios, os resíduos são segregados previamente, de acordo com a sua composição. Tendo em vista a característica dos estudos desenvolvidos nos laboratórios inclusos no sistema, determina-se qual o seu melhor destino, por onde são armazenados separadamente por local de origem na “Área Central de Armazenamento Temporário de Resíduos”: Registro de Destinação Final de Resíduos Data Identificação Quantidade Destino Final Responsável Responsável Nº do Entrega Recebimento Compr. Fig.5 - Registro de Destinação Final de Resíduos Fonte: BIOAGRI LABORATÓRIOS, 2005. Atualmente, a maior parte dos resíduos gerados nestes laboratórios tem o potencial de co-processamento para queima em equipamentos industriais. Segundo laudos técnicos efetuados por análises de classificação, eles são caracterizados de acordo com o seu poder calorífico acima de 3500 cal/kg e uma baixa concentração de cloro livre, o que potencializa o uso para este tipo de destinação. Para Rocca et al. (1993), este tipo de alternativa pode garantir uma destinação aceitável referente aos custos e à própria proteção ambiental. 4.2 Levantamento dos resíduos e tratamento dos dados Como todo sistema de gerenciamento, além da organização da sua gestão, como foi citada nos itens pertinentes a estas aplicações, os dados levantados através dos inventários de resíduos devem ser analisados e tratados conforme os seus riscos correlacionados ao meio ambiente e o seu potencial de minimização. A metodologia aplicada para qualificar os resíduos, foi baseada em um estudo desenvolvido por Cercal (2000) apud Souza (2005 p.48). Este estudo consistiu em criar subsídios para a priorização da minimização da sua geração em uma indústria alimentícia de Curitiba. Nele, são avaliados para aplicação três modelos de análises para se estabelecer uma classificação para os rejeitos: 1. 2. 3. Análise do resíduo por valor econômico Análise do resíduo por risco Análise do resíduo por facilidade de minimização. 115 Neste estudo, a principal análise efetuada para estabelecer formas de minimização da sua geração foi a análise do resíduo por facilidade de minimização. A minimização desta geração é o principal instrumento econômico para propiciar fundamentos de incentivos do desenvolvimento do sistema de gerenciamento pela alta diretoria de certas empresas deste ramo. Ao contabilizar a quantidade de resíduos gerados pelos laboratórios, relacionando estes dados com o total de insumos mais utilizados nas análises, e a quantidade de estudos desenvolvidos em um mesmo período de tempo, foi possível traçar curvas rítmicas destas variáveis. De acordo com o desempenho destas curvas foi possível definir os momentos em que os insumos estavam sendo utilizados com eficiência, se estava havendo algum tipo de desperdício ou havendo um maior consumo de insumos em relação ao estudo desenvolvido. Durante um determinado período de tempo a variação destes três fatores foi monitorada e analisada para estabelecer o desempenho da dinâmica deste sistema no período de um ano. 5.0 Treinamento e Educação Ambiental O sistema implantado de gerenciamento de resíduos nos laboratórios, também preconiza a aceitação e o entendimento dos funcionários como fator fundamental para a efetivação e continuidade do programa, pois é a partir da conscientização do funcionário que se pode evitar a sua obsolescência. Para se criar um hábito para a aplicação do programa, principalmente referente aos registros de descarte pelos funcionários, foi preciso aplicar ciclos de treinamentos intensivos, assim como atividades de Educação Ambiental, como palestras, campanhas e divulgação de documentários e notícias ambientais. Podemos tomar como exemplo, a Semana Interna de Prevenção de Acidentes (SIPAT), onde além da temática de Segurança no Trabalho, também foram realizadas algumas palestras sobre a temática da égide ambiental com enfoque na geração de resíduos e diminuição de desperdícios. Treinamentos e atividades de Educação Ambiental são instrumentos muito eficazes para o Programa de Gerenciamento de Resíduos obter resultados positivos. É importante que a instituição, ou a empresa, que deseja implantar um programa como esse tenha um departamento ou um setor responsável pelo fornecimento destes serviços, tendo em vista que este trabalho é muito significativo perante a sua responsabilidade para a conservação ambiental, necessitando de uma boa base organizacional com profissionais especializados para exercer atividades multidisciplinares. 116 Considerações finais A realização deste trabalho permitiu mostrar outra forma de caracterizar e classificar os resíduos que são oriundos principalmente do final das análises químicas relacionadas basicamente ao processamento das substancias testes com os produtos utilizados para a efetivação dos resultados. Neste trabalho procuramos enfocar, não somente a quantificação dos resíduos provenientes dos aspectos ambientais, mas também identificar as principais fontes geradoras no interior dos próprios laboratórios. Desta forma, além desta quantificação, através do sistema implantado de registros, fica possível também identificar quais as fontes geradoras que mais produzem resíduos, e finalmente poder traçar planos de ações específicos e focalizados para a realidade de cada atividade que estruturam estas fontes. Assim como toda atividade que envolve o aspecto humano para colher os resultados esperados na pesquisa, a principal dificuldade encontrada durante este estudo foi a assimilação e a aplicação dos procedimentos implantados pelos funcionários dos laboratórios. Foi necessária primeiramente a implantação de um projeto piloto em um dos laboratórios do escopo do estudo para levantar as principais dificuldades encontradas pelos funcionários referentes aos registros de quantificação, caracterização e classificação dos resíduos nos livros aplicáveis. Neste projeto piloto foi quantificado a totalidade dos descartes registrados em livros. Comparados ao volume total gerado foi constatado que os resíduos não estavam sendo registrados em sua totalidade, portanto não poderia estabelecer a quantidade real da geração. Para sanar este problema foi necessário a implantação de treinamentos e auditorias periódicas para que os laboratórios se adequassem ao novo sistema de registros, tendo como meta que os dados registrados do volume descartado atingissem uma margem de erro de no máximo 5% referentes ao da sua totalidade gerada. Sendo este trabalho parte de um sistema de gerenciamento de resíduos implantado na instituição, muitos aspectos positivos são destacados com a prática das suas atividades, mas entre estes podemos destacar – a diminuição dos gastos com a compra de reagentes e insumos de uso excedente nos estudos detectados pela análise dos dados do gerenciamento; desenvolvimento de novas técnicas de tratamento para redução, reciclagem e reutilização dos resíduos; minimização da exposição aos riscos dos funcionários envolvidos nos estudos quanto aos atributos de saúde ocupacional. Tendo como base estes aspectos positivos, o sistema remete-se a importância de que as preocupações para se estabelecer o gerenciamento dos seus resíduos e dos seus indicadores, podem perpetuar e disseminar novas atitudes e condutas benéficas ao meio ambiente quando incentivadas pelos responsáveis deste seguimento e aplicadas pelos funcionários diretamente envolvidos na continuidade e melhoria dos sistemas. 117 Referências ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10004. Resíduos Sólidos. Rio de Janeiro: ABNT, 1987. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 12235. Armazenamento de resíduos sólidos. Rio de Janeiro: ABNT, 1992. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR ISO 14001. Sistema de gestão ambiental: especificação e diretrizes para uso Rio de Janeiro: ABNT, 2004. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR ISO/IEC 17025. Requisitos gerais para competência de laboratórios de ensaio e calibração. Rio de Janeiro: ABNT, 2005. BIOAGRI LABORATÓRIOS LTDA. 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