sorriso perfeito

Propaganda
SERVIÇO
SHUTTERSTOCK
“Por muito tempo, a sensibilidade foi considerada uma consequência natural da técnica de
clareamento, mas hoje a ideia é
conseguir o resultado branqueador provocando o mínimo de
sensibilidade no paciente. Para
isso os dentistas têm optado por
usar [produtos clareadores] em
concentrações menores”, informa
Osmir de Oliveira Júnior, professor da Faculdade de Odontologia
de Araraquara da Universidade
Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp).
Contudo, para quem já sofre de
hipersensibilidade, o clareamento
pode não ser uma boa opção.
Segundo Oliveira, o procedimento não é aconselhável porque
pode agravar o quadro. Piragibe,
no entanto, considera que os pacientes com dentes sensíveis
podem fazê-lo, mas, nesse caso,
os cuidados devem ser redobrados. “O profissional deve usar
géis [clareadores] menos concentrados e fazer sessões mais curtas.
Também é recomendável que o
paciente faça tratamento para
sensibilidade antes do procedimento”, aponta.
Em busca do
sorriso perfeito
28
H
á alguns meses, a operadora de
bolsa de valores Cláudia Corrêa,
27, resolveu dar um upgrade no
visual. Mas nada de salão de beleza ou
clínica estética: a jovem foi a um consultório odontológico em Limeira, no
interior de São Paulo, e engrossou a lista
de brasileiros que se submetem a clareamento dental. O resultado atendeu às
suas expectativas, mas Cláudia não esperava que ter os dentes mais brancos seria
tão sofrido. “Senti muita dor, principalmente após as aplicações a laser”, conta a
moça, que combinou duas técnicas de
tratamento: a caseira e a feita em consultório (popularmente conhecida como
“a laser”). “A dentista tinha me avisado de
que poderia haver sensibilidade, mas não
imaginei que doeria tanto”, completa.
A possibilidade de o paciente ter hipersensibilidade nos dentes – aquela dor-
Revista do Idec | Agosto 2011
zinha fina que podemos sentir ao ingerir
algo gelado, por exemplo – é um dos
principais inconvenientes do clareamento. “A sensibilidade é um risco inerente ao
clareamento, mas sua ocorrência e intensidade dependem das características de
cada paciente”, explica Mauro Piragibe
Júnior, consultor da Associação Brasileira
de Odontologia (ABO) e especialista em
odontologia estética. Prova de que a sensibilidade varia muito de pessoa para pessoa é que a arquiteta paulistana Marcella
Godinho, 26, que também clareou os
dentes, não se queixa de ter sentido dor.
“Doía um pouco, mas nada demais”, lembra. De acordo com Piragibe, o incômodo
pode acontecer durante a aplicação do gel
clareador ou depois dela, mas, em geral,
dura cerca de 24 horas.
A boa notícia é que atualmente há
maior preocupação em evitar o problema.
ANTES
DEPOIS
meio da aplicação de géis com
substâncias químicas clareadoras
(peróxido de hidrogênio ou peróxido de carbamida). “O produto penetra na estrutura dentária,
e por meio de um processo de
oxidação quebra as moléculas de
pigmento que escurecem os dentes”, explica Piragibe.
O mecanismo de ação é o
mesmo nos dois tipos de clareamento existentes – o “caseiro”,
que consiste no uso de uma
moldeira com gel clareador, em
casa, a partir das orientações do
dentista; e o realizado no consultório pelo profissional. No
Prós e contras
Clareamento caseiro
Prós
Contras
Mais barato
(custa cerca de R$ 500*)
●
ARQUIVO PESSOAL
O clareamento
dental tem levado
cada vez mais
homens e mulheres
aos consultórios
odontológicos.
O tratamento, no
entanto, oferece alguns
riscos que devem
ser conhecidos
pelos pacientes
previamente
CLAREAR OU NÃO CLAREAR
Se não há consenso sobre se as
pessoas com hipersensibilidade
preexistente podem realizar o clareamento, em outros casos o
tratamento estético é decididamente contraindicado. Segundo
Piragibe, os pacientes com doença
periodontal (inflamação na gengiva que afeta o osso) não controlada, placa bacteriana, tártaro, lesões cariosas ou alergia a algum
componente da formulação não
devem se submeter ao tratamento.
Oliveira acrescenta à lista crianças
e adolescentes de até 15 anos, e
pacientes com histórico familiar
de câncer, especialmente bucal.
“É importante ressaltar que o gel
clareador não causa câncer, mas
pode ser um fator irritante e potencializador para as pessoas com
histórico familiar da doença”,
pondera o professor da Unesp.
Além disso, quem tem restaurações deve saber que elas não
clareiam. Assim, após o clareamento, elas precisarão ser trocadas por outras com tom compatível ao da nova cor dos
dentes. E vale o alerta de que
como o clareamento chama a
atenção das pessoas para o sorriso, pequenos defeitos, como
dentes desalinhados ou separados, ficam mais evidentes.
Apesar desses poréns, os profissionais garantem que desde
que se siga a técnica corretamente
e que o procedimento seja realizado por um profissional habilitado, ele é seguro. “O clareamento é feito desde antes dos anos 70.
Hoje, as técnicas são mais modernas e seguras, mas é como
tomar antibióticos: se você exagera ou não segue as recomendações médicas, pode vir a ter
problemas”, compara Oliveira.
Mauro Piragibe
Júnior recomenda
tratamento para
sensibilidade
antes do
clareamento
TIPOS DE CLAREAMENTO
Não tem jeito, ninguém está
livre do amarelamento dos dentes
ao longo dos anos. Vários são os
fatores responsáveis pelo escurecimento, desde má higienização
até consumo de alimentos com
corantes, fumo e o próprio envelhecimento. Os pigmentos se acumulam na estrutura dos dentes, tornando-os amarelados. Para
branqueá-los é preciso fazer uma
espécie de “limpeza interna” por
Resultado mais
duradouro
●
●
Branco mais intenso
Tratamento mais longo (cerca
de um mês, com aplicação diária)
●
●
Menor controle do profissional
Contraindicado para pacientes
com retração de gengiva
●
Clareamento em consultório
Prós
Contras
Mais prática: são feitas cerca de ● Mais caro (custa
três sessões de uma hora cada cerca de R$ 1.200*)
●
●
Maior controle do profissional
Pode ser feito por pessoas
com retração de gengiva
●
●
Resultado menos duradouro
Efeito branqueador
menos intenso
●
*Os valores podem variar bastante de acordo com a cidade em que for realizado
Fonte: Mauro Piragibe Júnior, da Associação Brasileira de Odontologia
Revista do Idec | Agosto 2011
29
LUIS RAFAEL CALIXTO
SAÚDE
CULTURA CONSUMERISTA
SAÚDE
não é mais utilizado, e sim um
tipo de luz chamado LED. “O
que clareia são as substâncias
químicas, não a luz”, ressalta
Oliveira. “Existem produtos [clareadores] que não dependem de
nenhum equipamento; outros
dependem de uma fonte de luz
para funcionar. Em alguns casos,
ainda, a luz serve apenas para
acelerar o processo”, explica. Piragibe informa ainda que a tendência é o LED ser abandonado
também. “Estudos recentes apontam que a luz aumenta a temperatura da polpa do dente [a parte mais interna], danificando-a a
longo prazo e aumentando o
risco de hipersensibilidade pós-clareamento. Alguns artigos mostram que a luz acelera o processo,
outros, que ela não ajuda nada,
só prejudica”, diz. Pelo sim pelo
não, o consultor da ABO não usa
mais LED no consultório.
De acordo com os especialistas,
os dois tipos de clareamento são
eficientes, mas há algumas nuances que precisam ser levadas em
consideração. Para obter melhor
resultado, Piragibe aconselha que
as duas técnicas sejam associadas, mas afirma que se for feito
ARQUIVO PESSOAL
Dr. Osmir de
Oliveira Júnior
compara o
clareamento
ao uso de
antibióticos:
é preciso
seguir as
recomendações
médicas
isoladamente, o tratamento com
o uso de moldeira leva vantagem.
“As moléculas de pigmentação
são muito instáveis, por isso,
quando o gel clareador é aplicado diariamente, como acontece
no caseiro, o resultado é mais
duradouro que quando são feitas
sessões no consultório, que costumam ter intervalo de 10 a 15
dias”, aponta o dentista.
Contudo, Oliveira pondera que
o procedimento feito no consultório é mais seguro. “É muito
comum o paciente usar o produto inadequadamente. No consultório, o profissional consegue
controlar o tratamento e acompanhar os resultados”, pontua.
Além disso, o professor alerta
que os pacientes que têm hipersensibilidade, desgaste da borda
dos dentes, trincas e exposição
de raiz não devem fazer tratamento caseiro. “No consultório,
o dentista consegue proteger essas áreas, além de escolher a concentração do gel de clareamento,
analisar a quantidade de aplicações que podem ser feitas numa
única sessão etc.”, defende. Veja
no quadro à página 29 os prós e
contras de cada técnica.
Mitos e verdades
Conhecer os riscos e confiar no dentista que fará o tratamento é um bom começo para quem pensa em dar adeus ao sorriso amarelo. Contudo, o tema ainda é
cercado por dúvidas e mitos. Por isso, os especialistas consultados pela REVISTA DO IDEC
responderam às principais questões sobre
clareamento:
O clareamento desgasta os dentes?
Não. Alguns clareadores podem desmineralizar os dentes, o que produz a sensação
de que eles estão mais finos, mas não há
desgaste do esmalte. Normalmente, as pessoas confundem clareamento com microabrasão, um procedimento indicado para tirar as manchas superficiais dos dentes — esse sim é feito a partir de um desgaste controlado pelo dentista.
30
Os dentes voltam a amarelar?
Sim, mas em geral não ficam mais tão
escuros quanto eram antes. A durabilidade do
branqueamento depende muito do fator que
produz o escurecimento dos dentes: se for
envelhecimento, o clareamento perde efeito
em cerca de dois anos. Já em pessoas jovens
e não fumantes, ele dura em média de quatro
a seis anos.
É preciso deixar de ingerir alimentos e
bebidas de cor forte durante o tratamento?
Sim, o paciente deve evitar chá, café, refrigerante, vinho tinto, molho de tomate, e até
mesmo o uso de creme dental colorido, pois os
dentes podem “pegar” as cores que entram em
contato com eles. Depois do tratamento, ele
pode voltar a comer e usar os produtos normalmente, mas deve saber que isso influencia-
Revista do Idec | Agosto 2011
rá a durabilidade do resultado. No caso das
bebidas, há um macete para diminuir o risco
de manchas: tomar de canudinho, pois assim
o contato do líquido com os dentes diminui.
Cremes dentais e enxaguatórios bucais
que prometem clarear os dentes funcionam?
Funcionam apenas como coadjuvantes ou
complemento do tratamento de clareamento
convencional. Alguns enxaguatórios que têm
em sua composição peróxido de hidrogênio — a
mesma substância utilizada nos géis clareadores — deixam os dentes com aparência mais
clara, mas a capacidade de branqueamento é
inferior à do procedimento tradicional. Quanto
aos cremes dentais, é importante tomar cuidado, pois o produto costuma ser mais abrasivo,
e por isso, se usado por muito tempo, pode
desgastar o esmalte dos dentes.
Como encantar o consumidor
REPRODUÇÃO
caseiro, o paciente aplica o produto diariamente por cerca de 20
a 30 dias (o período varia conforme o grau de amarelamento e a
resposta de cada um). A depender do tipo de gel empregado, o
paciente permanece com a moldeira por seis a oito horas (normalmente durante o sono) ou
apenas por uma hora ao dia.
O procedimento feito no consultório é popularmente conhecido como “clareamento a laser”,
mas na verdade esse aparelho
Programetes:
Amália Safatle*
“P
orque o mundo nunca esteve tão pouco solidário, a
economia solidária está em
expansão”, disse-me uma vez Luiz
Humberto Verardo, o Luigi, por ocasião de uma reportagem publicada na
revista Página22, para a qual ouvi a
Anteag, sigla de um nome comprido:
Associação Nacional dos Trabalhadores e Empresas de Autogestão e
Participação Acionária.
Na reportagem, Luigi explicou que
embora muitas vezes seja confundida
com caridade, solidariedade vem do latim solidum, que significa “partes integradas com o todo”. De fato, o capitalismo, da forma selvagem como avançou ao longo da História, desagregou o
trabalhador dos seus meios de produção, separou o homem do seu ambiente
natural, contribuiu para a dominação
de uns pelos outros e, no final das contas, distanciou as pessoas do bem-estar.
A boa notícia é que tem muita gente
buscando reunir as peças, dando mais
civilidade ao capitalismo, por meio da
economia solidária. Em miúdos, isso
significa produzir e consumir levando
em conta boas condições de trabalho,
utilizando processos participativos e
de autogestão, com respeito ao meio
ambiente e à diversidade social, e
dando atenção ao desenvolvimento
local. A economia solidária funciona
em rede, de forma horizontal e não
hierárquica, e pressupõe integração
das cadeias produtivas.
A série de programas do Faces do
Brasil – Por um Comércio Justo e Solidário, disponível no YouTube, se detém a explicar didaticamente cada um
desses pontos. De início – vício de editora, talvez – detectei um erro ortográfico em um dos títulos. Chatice minha,
mas o diabo mora nos detalhes: meio
ambiente grafado com hífen, como se
fosse o ambiente pela metade, justamente quando estamos falando em
“partes integradas com o todo”.
Também me chamou atenção a fala
de uma das entrevistadas no programa
Condições de Trabalho e Diversidade:
“Nós somos em 26 pessoas e só tem
um homem”. Entendi que a ideia era
enaltecer o “empoderamento” feminino, mas o internauta pode se perguntar: “Ué, então cadê a diversidade?”.
Mas afora os detalhes, uma observação de cunho geral. Ainda que a
ideia da série de programas fosse apresentar o comércio justo e solidário de
forma institucional, faltou “encantar”
o ator estratégico dessa história toda: o
consumidor.
1. Comércio Justo e Solidário — Democracia e Autogestão
<www.youtube.com/watch?v=guaYX0BrteY>
2. Comércio Justo e Solidário — Condições de Trabalho e
Diversidade <www.youtube.com/watch?v=TSBoPBWEAPU>
3. Comércio Justo e Solidário — Desenvolvimento Local e
Meio-Ambiente <www.youtube.com/watch?v=r_oqmIexBaA>
4. Comércio Justo e Solidário — Integração da Cadeia
Produtiva <www.youtube.com/watch?v=cD-jqBbDsro>
5. Comércio Justo e Solidário
<www.youtube.com/watch?v=WPzoIq8FLm8>
Realização: Faces do Brasil — Por um Comércio Justo e
Solidário <www.facesdobrasil.org.br>
Ano: 2011
Os programas me pareceram pouco
atraentes para o público consumidor
em geral, em termos de apresentação,
linguagem, forma e conteúdo. Além
disso, todos os vídeos conclamam o
espectador a consumir produtos do comércio justo e solidário, mas não explicam exatamente como, nem onde encontrá-los. A frase é seguida por “para saber mais, acesse facesdobrasil.
org.br”. Mas lá também não encontrei
essas informações.
A economia solidária é uma das
mais empolgantes ideias capazes de
reformar o capitalismo. Mas para isso
precisa conquistar coração e mente
do consumidor.
*Jornalista, fundadora e editora da revista
Página 22 <www.fgv.br/ces/pagina22>
Revista do Idec | Agosto 2011
31
Download