Relatório de Inflação Março 2000 4 – Movimento de capitais 4.1 – Investimentos O ingresso de investimentos estrangeiros diretos mantém, no início de 2000, a trajetória delineada já há alguns anos, constituindo-se em importante fonte de financiamento do balanço de pagamentos. Nesse sentido, os recursos externos captados sob tal modalidade de capital atingiram US$ 4,9 bilhões no primeiro bimestre do ano, superando, com margem significativa, a necessidade de recursos necessária ao financiamento do déficit em transações correntes ocorrido no período, da ordem de US$ 2,2 bilhões. Nesse período, os ingressos relativos a privatizações representaram apenas US$ 158 milhões. A continuidade da reduzida participação de recursos associados a privatizações no total ingressado sob a modalidade de investimentos diretos, que no ano de 1999 situara-se em cerca de 30%, evidencia a percepção favorável da comunidade financeira internacional quanto aos fundamentos da economia brasileira. Investimentos US$ bilhões Discriminação 1998 1999 2000 I Tri II Tri III Tri IV Tri Ano Jan-Fev Estrangeiros 24,0 7,8 6,3 9,8 7,6 31,5 4,7 Diretos 25,9 7,6 5,3 9,6 7,4 30,0 4,9 Privatizações 6,1 4,1 1,0 3,3 0,5 8,8 0,2 Conversões 1,9 0,7 0,8 1,3 1,2 3,9 0,3 17,8 2,9 3,6 5,0 5,8 17,2 4,4 Demais Carteira -1,9 0,2 1,0 0,2 0,2 1,5 -0,1 Brasileiros -3,4 -0,7 0,6 -0,1 -1,7 -1,9 -0,6 Considerando-se os últimos doze meses finalizados em fevereiro, o total de investimentos estrangeiros diretos situou-se em US$ 29,2 bilhões, comparativamente a déficit de US$ 23,3 bilhões em transações correntes no mesmo período, sendo mantida a tendência observada no ano de 1999, quando o total de investimentos estrangeiros superara em aproximadamente 25% as necessidades de financiamento determinadas pelo saldo negativo em transações correntes. 75 Relatório de Inflação Março 2000 4.2 – Empréstimos e financiamentos Os financiamentos de médio e longo prazos, recursos de organismos internacionais, agências governamentais e créditos de fornecedores e compradores, apresentaram saldo negativo nos dois primeiros meses do ano. Esse resultado reflete a mudança no perfil de financiamento das importações, especificamente dos créditos de fornecedores e compradores, que correspondiam à terça parte das importações de mercadorias em 1998 e, hoje, equivalem a cerca de 15%, em virtude da flexibilização dos prazos para contratação de câmbio de importação, em vigor desde o início de 1999. Parte dos créditos de comércio migraram para operações de curto prazo, criando um descompasso temporário entre desembolsos e amortizações relativos a operações de médio e longo prazos. Usos e fontes de recursos externos US$ bilhões Discriminação 1998 1999 2000 I Tri II Tri III Tri IV Tri Ano Jan-Fev Usos -64,3 -22,9 -16,3 -14,0 -16,6 -69,7 -7,0 Transações correntes -33,6 -5,2 -7,0 -4,6 -7,6 -24,4 -2,2 Amortizações -30,7 -17,7 -9,3 -9,4 -9,0 -45,4 -4,8 -13,9 -12,8 -3,7 -4,0 -3,4 -23,9 -2,1 -1,3 -1,2 -0,3 -1,1 -3,9 -0,1 ... -11,6 -2,0 Empréstimos Públicos Privados Financiamentos Públicos Privados ... -2,4 -3,7 -2,4 -20,0 -16,8 -4,9 -5,6 -5,4 -5,5 -21,4 -2,7 ... -0,7 -1,0 -0,6 -1,0 -3,2 -0,3 -4,6 -18,2 -2,4 ... -4,2 -4,6 -4,8 Fontes 64,3 22,9 16,3 14,0 16,6 Investimentos diretos 25,9 7,6 5,3 9,6 7,4 Investimentos em carteira -1,9 0,2 1,0 0,2 Financiamentos de import. 24,9 4,5 4,0 4,0 Empréstimos de longo prazo 41,6 2,7 9,4 Capitais de curto prazo (líq.) -31,2 -1,6 -12,4 -1,0 Var. de reservas (-=aumento) 17,3 Reservas líquidas RLA (piso - FMI) Demais 1/ 69,7 7,0 30,0 4,9 0,2 1,5 -0,1 4,0 16,5 1,6 4,0 8,8 25,0 4,5 -2,8 -1,8 -3,5 -9,7 -0,7 -1,6 -0,7 -1,0 -4,3 -0,9 10,5 0,9 -1,2 0,6 10,8 -2,3 34,4 24,1 23,3 24,5 23,9 23,9 26,1 24,8 21,3 21,3 19,8 34,4 24,1 23,3 Operações de regularização 9,3 0,0 8,5 Res. (Liquidez internacional) 44,6 33,8 41,3 0,0 -5,5 3,0 0,0 42,6 36,3 36,3 38,3 1/ Inclui investimentos brasileiros no exterior, constituição de colateral, financiamentos brasileiros ao exterior, outros ao exterior, outros capitais, erros e omissões e obrigações do Banco Central. 76 As captações de empréstimos de médio e longo prazos superaram os pagamentos de principal em US$ 2,4 bilhões no primeiro bimestre do ano. Excluídas as colocações de bônus da República Federativa do Brasil, registrou-se captação líquida de US$ 1,2 bilhão, especialmente via notes e commercial papers que, em conjunto, proporcionaram aporte líquido de recursos no montante de US$ 967 milhões no período. Esse valor é inferior ao verificado nos primeiros meses de 1998, quando o diferencial de taxas de juros, interna e externa, associado ao regime de bandas cambiais, proporcionou condições favoráveis ao endividamento externo, principalmente por meio de captações bancárias. Entretanto, em relação a 1999, as captações mostramse mais elevadas e com prazo médio superior, desempenho determinado, primordialmente, pelas emissões de bônus de 20 anos e de 30 anos, realizadas pela República Federativa do Brasil, nos meses de janeiro e fevereiro, respectivamente. Relatório de Inflação Março 2000 4.3 – Conclusão O balanço de pagamentos, no primeiro bimestre de 2000, apresentou-se superavitário, haja vista as captações da República e o expressivo ingresso de investimentos estrangeiros diretos, proporcionando ganho de haveres de curto prazo para o Banco Central no valor de US$ 1,9 bilhão. O ingresso de investimentos estrangeiros diretos persiste ocorrendo de forma independente do processo de privatização, revelando a percepção externa no que se refere à condução eficiente da política econômica brasileira. Nesse cenário, a razão determinada pela relação entre o ingresso de investimentos diretos e o déficit em transações correntes deverá ser favorecida, não apenas pela persistência dos fluxos de capitais, mas também pela melhora nas contas comercial e de serviços, associada ao amadurecimento do atual regime cambial. Explicitando o cenário positivo quanto à evolução do relacionamento comercial e financeiro com a comunidade internacional, o mercado doméstico de câmbio tem sancionado as expectativas positivas relativas à trajetória do balanço de pagamentos, pactuando, em suas transações, taxas de câmbio que têm-se mantido em patamar estável nos últimos meses. 77