Curso de Jornalismo da Faculdade Satc – Criciúma – SC – dezembro de 2016 AIDS: A EVOLUÇÃO DO TRATAMENTO QUÍMICO1 LUCAS RENAN DOMINGOS, LUIZ FERANDO VELHO2 LIZE BÚRIGO3 Faculdade Satc, Criciúma, SC Resumo A AIDS ainda hoje é uma doença que assusta, porém seus efeitos estão cada vez menos agressivos aos pacientes, devido à evolução do tratamento químico. Esta pesquisa teve como objetivo a divulgação desta evolução e da qualidade de vida que os soropositivos possuem nos dias atuais. Muitos pacientes diagnosticados com o vírus HIV são pessoas de baixa renda, ou seja, não possuem acesso tão fácil à informação. Desta forma, este projeto surgiu com intuito de utilizar um veículo ágil e barato (rádio) na disseminação de informações que possam contribuir na melhoria da vida dos pacientes soropositivos através de um documentário radiofônico. Palavras-chave: HIV, AIDS, rádio, tratamento, evolução; 1 INTRODUÇÃO No ano de 1981, após uma investigação do Centro de Controle de Doenças dos EUA, uma nova síndrome surgia. Com 11 casos registrados, a epidemia ainda não possuía uma definição do que de fato se tratava (Diaz, 2012). Para descobrir o que estava levando homens, aparentemente saudáveis, a ter uma profunda perda de imunidade celular, gerando uma série de pneumonias, vários estudos foram realizados. O que se sabia eram alguns pontos comuns nos 11 casos: as pessoas apresentavam uma saúde prévia normal e eram, em sua maioria, homens que tinham relações sexuais com outro homem. Segundo Diaz (2012), a partir disso, surgiram hipóteses erradas na tentativa de descobrir o agente causador da doença. A primeira foi de que a causa fosse uma infecção por outro vírus, o citomegalovírus, que pertence à família do herpesvírus, a mesma dos vírus da catapora, herpes simples, herpes genital e do herpes zoster. Outra hipótese apontava como responsável o vírus da hepatite B. A terceira dizia que a absorção do sêmen via mucosa anal, entre homens que faziam sexo com homens, levava à diminuição de imunidade. Por fim, uma quarta 1 Trabalho apresentado para cumprimento da disciplina Projeto Experimental II do curso de Jornalismo da Faculdade Satc em dezembro de 2016. 2 Acadêmicos de Graduação do 5º semestre do Curso de Jornalismo da Satc, email: [email protected], [email protected] 3 Orientadora do trabalho. Professora Mestre do Curso de Jornalismo da Satc, email: [email protected] 1 Curso de Jornalismo da Faculdade Satc – Criciúma – SC – dezembro de 2016 hipótese apontava que os nitritos, substâncias usadas entre homens para relaxar e proporcionar maior prazer, quando absorvida de forma elevada também diminuía a imunidade. Hoje, conforme lembra o autor, sabemos que o responsável pela doença é o vírus HIV. O HIV é dividido em dois tipos, o HIV-1 e HIV-2. O HIV-1 teve origem em um vírus que causa a AIDS em chimpanzés, o vírus da imunodeficiência símia, denominado SIVcpz. O HIV-2 teve, por sua vez, origem no SIV que infecta outro tipo de macaco, o mangabeu fuligento (sooty mangabey) a partir do vírus denominado SIVsm (Fig. 7). (DIAZ, 2012, p.30) Lembra o autor que, nos seres humanos, o HIV-2 surgiu na região de países como Senegal, Guiné, Serra Leoa, Libéria e Costa do Marfim. Já o HIV-1 apareceu pela primeira vez na região de Uganda. Nestes locais existem as duas espécies de macacos. Sendo assim, a relação “reside ao fato de que o homem africano usa macacos como fonte de alimentação e, dessa forma, propicia a inoculação de vírus através da pele” (DIAZ, 2012, p.31). De acordo com Brasil (2015) os primeiros casos de AIDS no Brasil foram registrados em São Paulo, no ano de 1983. Como, naquela época não havia um meio de identificação do agente causador da doença, os pacientes detectados eram acompanhados pela Dermatologia Sanitária do Instituto de Saúde, junto com pacientes de hanseníase. O vírus foi identificado em 1985 como HTLV-III, quando os suspeitos de terem a doença eram acompanhados clinicamente, pois somente em 1985 foi desenvolvido um teste de identificação. Quando a doença foi diagnosticada no Brasil, o preconceito era grande. Conforme aponta o Brasil (2015), um sergipano, morador de São Paulo infectado pela doença, teve que retornar para a sua cidade natal. O prefeito pediu que o rapaz fosse tirado da cidade por oferecer riscos à população. A cadeira em que ele sentou na Unidade Básica de Saúde chegou a ser queimada para evitar a contaminação. O caso mais difícil ocorreu quando um homem vivendo com HIV/AIDS foi a óbito e a esposa me disse que tinha muita revolta e vergonha dele [...]. Sua revolta foi porque descobriu que o marido provavelmente contraiu a infecção pelo HIV numa relação homossexual. Ela disse que se sentiu “traída por outro homem” e abandonou o marido durante a doença. (BRASIL, 2015, p.97) 2 Curso de Jornalismo da Faculdade Satc – Criciúma – SC – dezembro de 2016 Além do preconceito, os pacientes soropositivos tinham que vencer outra dificuldade: o tratamento. Em entrevista ao Portal Brasil4, Wanderley Estrella, de 49 anos, foi diagnosticado como soropositivo no ano de 1989. Segundo ele, as dificuldades do acesso à informação sobre a doença prejudicavam o tratamento. Quando iniciou, chegava a tomar 27 remédios diferentes, que ocasionavam malestar. Hoje, a eficácia dos tratamentos vem evoluindo. O Portal da Saúde 5 afirma que o Brasil já registrou aproximadamente 800 mil casos de AIDS desde o início da epidemia até o ano de 2015. De 2010 a 2014, “o Brasil registrou 40,6 mil casos novos/ano, em média. Em relação à mortalidade, houve uma queda da taxa de mortalidade por AIDS de 10,9%, nos últimos anos, passando de 6,4 por 100 mil habitantes em 2003 para 5,7 em 2014” (PORTAL DA SAÚDE, 2016). Com a evolução dos tratamentos, a vida dos pacientes também vem ficando cada vez melhor em relação aos primeiros diagnósticos e processos criados. Afirma ainda, o Portal Brasil (2015), que em 2015 um novo tipo de tratamento começou a ser distribuído no Brasil. Com a medicação 3 em 1, que é uma dose tripla contendo substâncias do tratamento como Tenofovir, Lamivudina e Efavirenz, a quantidade de medicamentos para o processo começou a diminuir. Wandeley Estrella, que foi entrevistado pelo portal comemora essa evolução: As primeiras medicações eram terríveis. Você tomava e vomitava a metade. Em um segundo momento, com a evolução do tratamento, eu comecei a tomar 21 comprimidos. De 2007 pra cá eu estou indetectável, então eles começaram a me passar cinco comprimidos por dia e agora eu tenho a notícia de que existe um comprimido que serão 3 em 1. (PORTAL BRASIL, 2015) No dia 28 de setembro de 2016 o Brasil anunciou mais um passo importante no tratamento da doença. A partir de 2017, um novo medicamento, o dolutegravir, começou a ser distribuído pelo Sistema Único de Saúde (SUS)6. De acordo com o portal, o coquetel que é oferecido aos soropositivos, o 3 em 1, causa efeitos colaterais em alguns pacientes, como depressão e alucinações. Mais de 100 mil pessoas, segundo o portal UOL Notícias, deverão iniciar o novo tratamento em 2017. No Brasil, cerca de 483 mil pessoas utilizam 4 Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/saude/2015/01/paciente-diagnosticado-em-1989-fala-sobremedicamento-3-em-1>. Acesso em 1 de outubro de 2016. 5 Disponível em: <http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/cidadao/principal/agencia-saude/25857-saudeoferecera-melhor-tratamento-do-mundo-para-hiv-aids>. Acesso em 6 de outubro de 2016 6 Disponível em: <http://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2016/09/28/sus-passa-a-contarcom-novo-medicamento-para-tratamento-do-hiv.htm>. Acesso em 29 de setembro de 2016. 3 Curso de Jornalismo da Faculdade Satc – Criciúma – SC – dezembro de 2016 antirretrovirais, “sendo que 17 mil apresentam resistência aos medicamentos atuais. A estimativa é de 800 mil pessoas vivem com HIV no país” (UOL NOTÍCIAS, 2016). De acordo com o Programa de Atenção Municipal as DST/HIV/AIDS, o Pamdha, Santa Catarina se mantém desde 2002 entre os três estados do Brasil que possuem a maior taxa de detecção da doença7. Ainda segundo o programa, Criciúma, cidade que habitam os entrevistados desta pesquisa, está em quarto lugar entre as cidades com mais de 100 mil habitantes do estado. Por essa questão, este trabalho irá apontar a evolução do tratamento da AIDS. Para mostrar isso, os pesquisadores contarão histórias como a de um casal sorodiscordante (quando um dos parceiros vive com o vírus HIV e o outro não), que resolveram ter um filho mesmo sabendo dos riscos. Também a de duas mães que passaram a doença para suas filhas por meio da amamentação, sendo que uma das filhas também concedeu entrevista aos pesquisadores. E, para mostrar os processos de evolução do tratamento bem como os procedimentos, três profissionais que trabalham diretamente ligados ao tratamento da doença também foram consultados. Na visão dos pesquisadores essa reportagem pode auxiliar no combate ao preconceito, além de desmistificar que o “tratamento da AIDS” é penoso, fazendo, assim, com que as informações sobre a doença sejam mais divulgadas, com a intenção de que mais soropositivos busquem ajuda e orientação para terem uma vida melhor. Mas sem deixar de alertar que o melhor caminho ainda é a prevenção. 2 OBJETIVOS Produzir um documentário radiofônico sobre o tratamento químico da AIDS e a melhoria da qualidade de vida dos pacientes. Específicos: - Relatar a história da doença no Brasil e de pacientes com AIDS; - Divulgar a melhoria no tratamento químico da AIDS; 7 Em entrevista aos pesquisadores. Realizada em 7 de outubro de 2016. 4 Curso de Jornalismo da Faculdade Satc – Criciúma – SC – dezembro de 2016 - Retratar a experiência dos pacientes em tratamento - Utilizar o rádio como meio prestador de serviço disseminador de informação 3 JUSTIFICATIVA O início da AIDS no Brasil assustava: “A nova epidemia matava rapidamente e, de início, apenas homens com idade inferior aos 30 anos” (BRASIL, 2015, p. 41). Por isso, foi difícil conseguir informar ao público que a doença não atingia apenas um grupo de risco e, sim, um grupo de pessoas que tinha comportamento de risco. Com o início do tratamento no Brasil, o perfil dos soropositivos do país vem mudando. Desde 2003, os pacientes que mais tiveram resultados positivos para o teste do HIV/AIDS foram mulheres, jovens, heterossexuais, pobres e residentes no interior8. De acordo com Brasil (2015), no início, a imprensa não contribuía com o combate à doença, mas depois, sim: Nos primeiros tempos, a mídia de Sergipe deu muito trabalho: existia uma curiosidade em divulgar os nomes de quem tinha AIDS e também em lançar manchetes de terror. As notícias eram assim: “Loira da Atalaia Nova contamina 300”, “Aidético retorna a São Paulo escoltado pela polícia”, “Aidético morre por ter comido uma feijoada”. Eu pedia aos repórteres que, em vez da divulgação de nomes e/ou informações não verdadeiras, ajudassem a diminuir o pânico divulgando informações corretas. Fizemos vários encontros sobre Mídia e AIDS e os repórteres passaram a realizar um papel importantíssimo, divulgaram notícias reais e ajudaram na prevenção”. (BRASIL, 2015, p. 98) Aponta Brasil (2015) que hoje a mídia sergipana deveria servir de exemplo para o restante do país por manter o assunto sempre em destaque nos noticiários, encarando a discriminação com a informação. Analisando o atual perfil dos soropositivos no Brasil, pode-se verificar o importante papel de um veículo de imprensa local, de baixo custo e que se aproxima do público. Ao afirmar que o rádio é um veículo muito pessoal, ou seja, fala com o público de forma direta, e considerando o ouvinte como se fosse uma única pessoa como se estivesse conversando com ela em uma ocasião informal, Ortriwano (1985) concorda com outro autor, quando diz que: 8 Disponível em < http://www.aids.gov.br/noticia/o-perfil-do-portador-de-hivaids-no-brasil-esta-mudandodesde-2003-o-maior-numero-de-pessoas- >. Acesso em 5 de outubro de 2016 5 Curso de Jornalismo da Faculdade Satc – Criciúma – SC – dezembro de 2016 Entre os meios de comunicação de massa, o rádio é, sem dúvida o mais popular o de maior alcance público, não só no Brasil como em todo o mundo, constituindo-se, muitas vezes no único a levar a informação para as populações de vastas regiões que não tem acesso a outros meios, seja por motivos geográficos, econômicos ou culturais. (apud Chantler e Harris 1985, p. 78) Os autores também criticam outros veículos de imprensa diferentes do rádio. Para eles, as ondas radiofônicas, de acordo com pesquisas junto ao público, são as melhores fontes de informações jornalísticas, tendo como vantagem a forma rápida como a notícia é divulgada. Afirmam também que o público vê os conteúdos divulgados pelos demais veículos como um local secundário, ou seja, meios que buscam as informações somente para saber um pouco mais que já escutaram no rádio. Os tablóides sensacionalistas, que buscam o mercado consumidor de baixa renda, são vistos simplesmente como veículos alimentadores de escândalos, cobrindo mais a vida de estrelas de cinema ou de televisão do que de eventos realmente jornalísticos. E os jornais sérios estão mais concentrados em análises e comentários do que nas notícias do momento. (CHANTLER, HARRIS, 1998, p.20) Ainda analisando o perfil dos pacientes diagnosticados com o vírus HIV, também é necessário que se fale dos veículos locais. Defende Chantler que a “força do jornalismo em uma emissora de rádio local é o instrumento que dá a ela a sensação de ser verdadeiramente do local [...]” (CHANTLER; HARRIS, 1998, p.20). Com relação ao papel da mídia na área da saúde, dizem Neto e Pinheiro: A questão do reconhecimento da necessidade de se discutir comunicação no âmbito da saúde é de certa maneira recente. Na saúde coletiva, essa necessidade vem se tornando crescente a partir do nascimento do SUS, o qual possui nas suas raízes, através da VIII Conferência Nacional de Saúde, o direito à informação, e em suas diretrizes a participação social na fiscalização de serviços e formulação de políticas públicas. (NETO; PINHEIRO, 2011, p. 529) 9 Por isso, o rádio possui como uma de suas principais funções a prestação de serviços para a sociedade. Zuculoto (2012) confirma essa funcionalidade do veículo por acreditar que, em qualquer tipo de rádio informativo no Brasil, há uma sedimentação da prestação de serviço, tendo sua maior expressão a área do radiojornalismo. Para Ortriwano (1985), a informação transmitida no rádio é a mesma transmitida nos demais veículos, porém, algumas características do veículo o fazem totalmente apto para a transmissão de informações. Destaca-se entre elas a mobilidade e o imediatismo. 9 Disponível em < http://www.scielo.br/pdf/csc/v18n2/24.pdf>. Acesso em 5 de outubro de 2016. 6 Curso de Jornalismo da Faculdade Satc – Criciúma – SC – dezembro de 2016 Por isso, fazer um documentário radiofônico apontando as melhorias do tratamento do HIV/AIDS poderá colaborar para que mais pessoas busquem auxílio para terem uma melhor qualidade de vida. Com o rádio, que é um veículo popular e que atinge diretamente o público-alvo das campanhas de combate à doença, esse trabalho ficaria bem mais fácil e objetivo. 4 MÉTODOS E TÉCNICAS UTILIZADOS A metodologia utilizada para a realização deste projeto foi a pesquisa bibliográfica sobre o vírus causador da AIDS, o HIV. Fazendo a leitura de livros, os acadêmicos buscaram conhecer de forma mais profunda e embasada como surgiu o vírus, a primeira aparição dele no mundo e, buscando a proximidade do tema com os ouvintes, como o vírus surgiu no Brasil. Como a tratamento da AIDS é algo que vem se renovando a cada ano, também foram realizadas pesquisas em artigos e portais de notícias da internet. Para a realização das entrevistas, em sua maioria por dificuldades de agendamento de horários com os entrevistados, foram utilizadas diferentes ferramentas. As entrevistas de M.P.A.A, portadora do vírus, e de seu companheiro R.F.S.F., não portador do vírus, foram realizadas por meio do aplicativo de mensagens whatsapp, bem como as entrevistas com M.E.B., M.B. e S.V.P, todas portadoras do vírus. Ao vivo, utilizando um aplicativo de gravador para celular, foram entrevistados o médico infectologista Raphael Elias Farias, a farmacêutica Graziela Marques de Oliveira e a psicóloga Andréia Sharon Salomão. Schimtz (2011) afirma que a fonte primária que fornece fatos, números, versões por estar perto da informação. Nesta pesquisa, podemos qualificar como uma fonte primária, P.A.A., R.F.S.F., M.E.B., M.B e S.V.P. Já Raphael Elias Farias, Graziela Marques de Oliveira e Andréia Sharon Salomão, além de serem fontes primárias, também são fontes especializadas, que são definidas como pessoas “de notório saber específico[...] ou organização detentora de um conhecimento reconhecido. Normalmente está relacionada a uma profissão, especialidade ou área de atuação” (SCHIMTZ, 2011, p. 26). 7 Curso de Jornalismo da Faculdade Satc – Criciúma – SC – dezembro de 2016 Após levantadas as sonoras, um roteiro contendo o material foi produzido, gravado e editado pelos acadêmicos. Para a realização da edição e montagem do projeto de rádio, foi utilizado o programa SoundForge. 5 DESCRIÇÃO DO PRODUTO OU PROCESSO O documentário de rádio “AIDS: A EVOLUÇÃO DE UM TRATAMENTO”, com duração de 15m58s, é um projeto que tem como principal objetivo o relato do tratamento da AIDS e da melhoria na vida de uma pessoa portadora do vírus HIV desde a descoberta da doença. A ideia do material ser divulgado nas emissoras de rádio é a popularidade e o baixo custo do veículo, atingindo, assim, o público-alvo de campanhas realizadas pelo Governo na luta da conscientização do tema. Porém sabemos que a doença não atinge somente o público menos esclarecido, ela também se dissemina em pessoas mais instruídas e de classes sociais mais elevadas. A ideia, então, é de que o programa também seja disponibilizado em formato podcast em portais de notícias de faculdades (pensando na conscientização do público mais jovem) e de portais do governo, além da possibilidade de ser reproduzido em qualquer rádio do Brasil que tenha o interesse de veicular o material ou disponibilizado em plataformas como o SoundCloud. As pautas do programa também foram pensadas de acordo com o interesse do público-alvo. As pessoas entrevistadas são portadoras do vírus e enfrentam a doença. Podem servir de exemplo para pessoas que possuem a doença e têm medo do diagnóstico e posteriormente do tratamento. Além disso, o lado informativo do projeto conta com dados de profissionais que possuem longa experiência no tratamento da doença, para que os interessados entendam como funcionam cada processo da doença e do tratamento. Outro ponto que cabe destacar sobre este projeto são as trilhas escolhidas para compor a parte técnica do projeto radiofônico. Todas as músicas utilizadas neste documentário são letras de ícones da música brasileira e mundial. São elas: Codinome Beija-Flor (Cazuza); Pais e Filhos, Metal Contra as Nuvens, Tempo Perdido e Eduardo e Mônica (Renato Russo – Legião Urbana); Somebody 8 Curso de Jornalismo da Faculdade Satc – Criciúma – SC – dezembro de 2016 To Love e Love Of My Life (Queen – Freddie Mercury). As trilhas foram escolhidas, pois todos os cantores foram vítimas da AIDS (Cazuza, Renato Russo e Freddie Mercury). 6 CONSIDERAÇÕES No início, a elaboração do trabalho foi um pouco difícil. Isso pelo fato dos pesquisadores não terem nenhuma fonte soropositiva. Porém, já havia um contato com os profissionais do Programa de Atenção Municipal as DST/HIV/AIDS - Phamda. Em conversa com esta equipe, então, ficou definido a importância de se retratar o tema. Por isso, foi necessária uma pesquisa profunda e mais detalhada da história do vírus e também da evolução do tratamento contra a AIDS, ponto central deste trabalho. Outra dificuldade, devido ao preconceito que ainda está presente na sociedade, alguns dos entrevistados ficaram com receio de conceder entrevista. Assim, foi necessário convencer e explicar às fontes que iríamos ocultar as identidades de cada um que não fossem identificados. Pelo lado positivo, pode-se pontuar o aprendizado sobre o tema adquirido durante as pesquisas bibliográficas realizadas. Apesar de atrasos no desenvolvimento do projeto, os acadêmicos deram continuidade por acreditarem na importância de proliferar informações sobre o tratamento da doença e realizar a prestação de serviço para a sociedade, uma das funções do Jornalismo. O primeiro ponto que mostra isso é o fato do Jornalismo contar histórias, como as relatadas durantes este projeto. O segundo, por acreditar que o Jornalismo pode transformar vidas. Foram realizadas um total de oito entrevistas para a conclusão do projeto, mas em conversa com a orientadora, viu-se a necessidade de cortar uma das fontes, pois, caso as sonoras fossem mantidas, o tempo do documentário iria exceder o limite definido. Então, a entrevista com a psicóloga Andréia Salomão, foi excluída do roteiro, pois tratava mais da questão de instituições de apoio psicológico para enfrentar a doença, que não era foco desta reportagem. 9 Curso de Jornalismo da Faculdade Satc – Criciúma – SC – dezembro de 2016 Cumprindo nosso objetivo acreditamos que a reportagem produzida se mostra eficiente na tentativa de incentivar cada vez mais soropositivos a procurarem o auxílio para realizarem o tratamento como busca de uma vida melhor. Também pelo fato de mostrar que é importante o papel da mídia para que informações relacionadas à AIDS e outras doenças cheguem ao maior número de pessoas possível. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL, Ministério da Saúde. Histórias de luta contra a AIDS. Brasília: Ministério da Saúde, 2015. BRASIL, Portal. O perfil do portador de HIV/Aids no Brasil está mudando. Desde 2003, o maior número de pessoas que vivem com a doença é formado por mulheres jovens, heterossexuais, pobres e.... Disponível em < http://www.aids.gov.br/noticia/o-perfil-do-portador-de-hivaids-no-brasil-estamudando-desde-2003-o-maior-numero-de-pessoas- >. Acesso em 5 de outubro de 2016. BRASIL, Portal. Paciente diagnosticado em 1989 fala sobre medicamento 3 em 1. Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/saude/2015/01/pacientediagnosticado-em-1989-fala-sobre-medicamento-3-em-1>. Acesso em 1 de outubro de 2016. CHANTLER, Paul; HARRIS, Sim. Radiojornalismo. São Paulo: Summus, 1998. DIAZ, Ricardo Sobhie. A história de uma doença: os primeiros 30 anos da epidemia pelo HIV e a ciência por detrás da história. São Paulo: Permanyer Brasil Publicações Ltda, 2012. NETO, Alfredo de Oliveira. O que a saúde tem a ver com rádio comunitária? Uma análise de uma experiência em Nova Friburgo – RJ, 2011. Disponível em < http://www.scielo.br/pdf/csc/v18n2/24.pdf>. Acesso em 5 de outubro de 2016. NOTÍCIAS, UOL. SUS passa a contar com novo medicamento para tratamento do HIV. Disponível em: <http://noticias.uol.com.br/saude/ultimasnoticias/redacao/2016/09/28/sus-passa-a-contar-com-novo-medicamento-paratratamento-do-hiv.htm>. Acesso em 29 de setembro de 2016. ORTRIWANO, Gisela Swetlana. A informação no rádio: os grupos de poder e determinação dos conteúdos. 4. ed. São Paulo: Summus, 1985. SAÚDE, Portal da. Saúde oferecerá melhor tratamento do mundo para HIV/Aids. Disponível em: <http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/cidadao/principal/agenciasaude/25857-saude-oferecera-melhor-tratamento-do-mundo-para-hiv-aids>. Acesso em 6 de outubro de 2016 10 Curso de Jornalismo da Faculdade Satc – Criciúma – SC – dezembro de 2016 SCHMITZ, Aldo Antonio. Fontes de notícias: ações e estratégicas das fontes no jornalismo. Florianópolis, Combook: 2011. ZUCULOTO, Valci Regina Mousquer. No ar: a história da notícia de rádio no Brasil. Florianópolis: Insular, 2012. 11 Curso de Jornalismo da Faculdade Satc – Criciúma – SC – dezembro de 2016 APÊNDICE Projeto Experimental II Aids: a evolução do tratamento Locutor Lucas: “Aids: a evolução do tratamento” é um documentário produzido pelos acadêmicos Lucas Renan Domingos e Luiz Fernando Velho, da quinta fase do curso de Jornalismo da Faculdade SATC, sob a orientação da Professora Mestra Lize Búrigo. Locutor Luiz: Este documentário apresenta a melhora da qualidade de vida de pessoas portadoras do HIV, que fazem uso dos medicamentos antirretrovirais. A pedido dos pacientes seus nomes e vozes foram modificados. TRILHA – Metal contra as nuvens – Legião Urbana (Instrumental) Teaser - hoje já se sabe que fazendo o uso da medicação o paciente vai ter uma boa perspectiva de vida. Teaser - vivo feliz e para mim não tenho nada, eu tomo remédio, por que eu sei que tenho que tomar, mas eu vivo normalmente, eu até esqueço que tenho a doença. Teaser - aquilo começou a fazer bem para mim mesmo, minha imunidade voltou ao normal e, desde o ano passado, estou indetectável. TRILHA - Codinome Beija-Flor – Cazuza (Instrumental) VINHETA – Você está ouvindo o documentário AIDS, a evolução de um tratamento Sorona - Eva (nome fictício): - Ele foi diagnosticado com um tumor na cabeça, o médico disse que foi esse tumor que matou ele, mas depois que ele faleceu é que veio o resultado do exame que ele era positivo, que um médico resolveu fazer o exame antes de ele falecer. Então a gente não sabe se foi HIV que causou esse tumor, mas na família dele já tinha vários casos de tumor, então o que foi diagnosticado foi um tumor maligno no cérebro. Locutor Lucas: Essa é Eva, nome fictício. 46 anos, soropositiva há 20 anos, casada, e mãe de três filhas. Ela descobriu que tinha AIDS, quando seu primeiro marido faleceu. Graças ao tratamento iniciado logo na descoberta, hoje é indetectável, sua carga viral é zero, devido ao uso correto dos medicamentos e do apoio do atual marido. Sonora – Eva (nome fictício): Ele aceitou, mesmo porque eu e ele já estávamos envolvidos quando eu fiquei sabendo, a gente já estava junto há 17 anos, mas ele aceitou e nunca teve problema. E ele até hoje é soronegativo. E eu tenho duas filhas que são negativas, uma de 16 e outra de 14 anos. 12 Curso de Jornalismo da Faculdade Satc – Criciúma – SC – dezembro de 2016 Locutor Luiz – Eva transmitiu HIV para a filha mais velha, fruto do seu primeiro casamento. Hoje, a filha de Eva também é indetectável e tem uma vida normal por usar as medicações corretamente. Mas não foi através de Eva que ela ficou sabendo sobre a doença. Sonora - Eva (nome fictício): Só que eu não contei para ela não, deixei ela descobrir sozinha, ai um dia ela me perguntou e eu confirmei, claro ela ficou assustada porque ela teve problemas de saúde, ela ficou bastante assustada. Hoje ela tem 23 anos, é casada tem duas filhas, a Juliana que esta com três anos e é soronegativa e a Manuela que vai fazer seis meses. A gente está esperando o prazo certo, para fazer o exame, mas até então o acompanhamento dela está tudo legal, é 99,99% para ser negativa também. Locutor Lucas – Hoje, fazendo os exames cada vez mais cedo é possível prevenir a transmissão do vírus da mãe para o bebê. Como explica o Infectologista Raphael Elias. Sonora – Raphael Elias - A transmissão vertical, que é a passada de mãe para filho, ela ocorre com uma incidência não muito alta, ainda mais com todo arsenal terapêutico e com os exames e tudo o que fazemos pré e pós-parto. Cabe ressaltar, que hoje o pré-natal esta cada vez mais eficaz em termo de exames e é recomendado o anti-HIV tanto no primeiro trimestre da gestação, quanto no último e até na sala de parto, no pré-parto, tudo isso para fazermos um diagnóstico precoce e tentar diminuir a chance de exposição da criança para a mãe. Locutor Luiz – Glória, nome fictício, tem 49 anos e é soropositiva há 18 anos. Conta que sempre foi muito cuidadosa com a saúde, casou e sonhava em constituir família. Nunca imaginou que fosse portadora do HIV. Sonora - Glória (nome fictício) - Fiz parto normal, fiz pré-natal, tudo certinho. Programei ter filho, tudo certinho. Não queria ter filho tão cedo, porque casei com 27 anos. Quando digo cedo, porque eu queria mobiliar a casa, que era um casamento que não tínhamos nada, fomos adquirindo as coisas. Aí tive o primeiro, aconteceu aquilo ali, teve infecção pulmonar, foi para hospital e veio entubado para Criciúma. Durou três dias. Tinha 11 meses de vida, quase um ano, provavelmente foi do HIV. Só que, como eu não sabia, nunca senti nada. Porque eu era toda certinha, não fizeram o Elisa, eu podia ter evitado perder o primeiro, perder o segundo. TRILHA: Pais e filhos – Legião Urbana (Instrumental) Locutor Luiz – Glória, então, só descobriu que havia contraído HIV do seu exmarido após exames realizados na sua terceira filha que, aos quatro meses vida, estava hospitalizada. Assim como Eva, Glória também transmitiu o vírus para a filha através da amamentação. 13 Curso de Jornalismo da Faculdade Satc – Criciúma – SC – dezembro de 2016 Sonora – Glória (nome fictício) - Ai fizeram o Elisa nela e descobriram, fizeram no pai e não deu, em mim deu. E a partir daí a gente começou a usar a camisinha. Mas eu descobri que era soropositiva quando ela tinha quatro meses de vida, e ela já tinha pegado na amamentação. Ela nasceu em 1998 e eu contei quando ela tinha oito anos, e ela contou para o colégio inteiro. Locutor Luiz – A filha de Glória, hoje tem 18 anos e encara a doença não como um problema. Sonora - Filha de Glória - Houve um pouco de preconceito. As mães das meninas foram ao colégio para saber um pouco mais, algumas colegas se afastaram de mim porque as mães proibiram. Fora isso, não me afetou em nada. E eu convivo muito bem e quem eu posso ajudar eu ajudo. E a minha experiência é isso, vivo feliz e para mim não tenho nada, eu tomo remédio, por que eu sei que tenho que tomar, mas eu vivo normalmente, eu até esqueço que tenho a doença. TRILHA – Tempo Perdido – Legião Urbana (Instrumental) Locutor Lucas - Hoje ter vírus HIV está longe de ser sinônimo de condenação a morte. Com todo empenho da medicina para a boa qualidade de vida dos pacientes, hoje eles podem ter uma expectativa de vida muito maior, como afirma o infectologista. Sonora – Raphael Elias: Fazendo o uso da medicação, o paciente vai ter uma boa perspectiva de vida. Até porque é um paciente que vai acompanhar com um médico regularmente e fazer seus exames, e com isso a gente consegue trabalhar tanto na prevenção quanto no diagnostico das doenças. Locutor Luiz: O tratamento com os antirretrovirais, conhecido como coquetel, começou na década de 80, quando os pacientes ingeriam mais de 20 comprimidos por dia. Com o passar dos anos, o tratamento vem evoluindo, como explica a farmacêutica Graziela Marques de Oliveira. Sonora - Graziela de Oliveira: 2015 a terapia inicial passa de quatro para apenas um comprimido ao dia. E em um futuro próximo o Dolutegravir, com elevada barreira genética e menos toxicidade fará parte do tratamento de primeira escolha. Locutor Lucas – O efeito colateral era a principal reclamação dos pacientes no inicio do tratamento. Mas, graças às pesquisas, os medicamentos foram evoluindo e os efeitos diminuindo. Como explica o infectologista: Sonora – Raphael Elias: Quando o paciente tem um ou outro sintoma, em geral, é temporário nos primeiros dias e depois ele melhora com o uso crônico. Sonora – Eva (nome fictício): Eu comecei a tomar uma medicação, o Kaletra, e outro que eu não lembro, mas me faziam muito mal, e o médico trocou para dois comprimidos, dois pela manhã e dois a noite e eu estou esses anos todos com 14 Curso de Jornalismo da Faculdade Satc – Criciúma – SC – dezembro de 2016 esses comprimidos, quatro comprimidos por dia. Mas eu também sempre procurei tomar a medicação certa, não falhar. Sonora – Glória (nome fictício): Dois eu tomava tranquilo. Mas aquele parece que eu estava tomando aqueles produtos de lavar vaso, dava náusea. E aquilo não descia, parecia àquela pastilha de sonrisal, mas não é pelo tamanho, eu até engolia, tanto que eu engulo meus três juntos, não é a questão de ser grande, era o cheiro que ele soltava. Liguei para o Dileta, e ela me encaixaram com o doutor Roberto e ele me indicou os que eu tomo até hoje e estou ótima. Sonora – Raphael Elias: Temos opções no Brasil já de um comprimido apenas a noite antes de dormir o que facilita em muito o uso desses medicamentos, então o que podemos dizer é que o paciente vai ter uma boa qualidade de vida, que vai ter sua vida praticamente normal com o uso de um medicamento, eu comparo muitas vezes os pacientes com tratamento de hipertensão, o paciente não sente nada, mas ele tem que tomar o todo dia o remédio, para que sua pressão baixe, mesmo sem sentir nada. TRILHA – Somebody To Love - Queen (Instrumental) VINHETA – Você está ouvindo o documentário AIDS, a evolução de um tratamento Locutor Luiz: Apesar de toda evolução no tratamento o alerta continua. Sonora – Raphael Elias: A melhor prevenção, que é muito eficaz, é o preservativo. Então, a nossa orientação é que todas as pessoas quem tenham relação sexual: utilize o preservativo como forma de prevenção da transmissão. Sonora – Paula (nome fictício): Eu me achava totalmente imune, porque eu, pensava, estou num relacionamento sério, estou com a mesma pessoa há quatro anos, respeito ele, então eu não vou ter HIV. TRILHA - Love of My Life - Queen (Instrumental) Locutor Luiz: Essa é a história de Paula, nome fictício, mas podia ser a minha ou a sua. Paula 26 anos, soropositiva desde os 19 anos, contraiu o vírus de um exnamorado. Sonora – Paula (nome fictício): - Eu acho que a pior parte é quando você descobre, porque na hora ali que você descobre você fica totalmente sem chão. Eu fiquei grávida e não fiz o pré-natal, eu tenho uma saúde boa, meu marido tem uma saúde boa. Ai chegou na hora do parto, eu nunca esqueço, ao mesmo tempo em que foi uma alegria, foi uma tristeza, porque na mesa de parto quando eu estava fazendo força para o meu filho nascer, eu ouvi a enfermeira falar para o médico: ‘Ela não pode amamentar, porque o dela deu positivo’. E, no que eu ouvi isso, eu já fiquei meio sem chão. Eu voltei a mim com o médico gritando para eu não parar de fazer força para o meu bebê não morrer. 15 Curso de Jornalismo da Faculdade Satc – Criciúma – SC – dezembro de 2016 SOBE TRILHA Locutor Lucas – E depois? Como é o depois, sabendo que tem uma doença como esta? Sonora – Paula (nome fictício): Como eu nunca tinha convivido com ninguém que tivesse HIV antes, eu não sabia nada sobre isso. Então, eu cheguei em casa e acabei entrando em depressão, porque eu olhava para os meus braços e via vários bichinhos subindo no meu corpo. Bichinhos tipo umas formiguinhas bem pequeninhas. Eu olhava pro meu pulso e via elas subindo pelo corpo inteiro, e pensava: meu Deus do céu, eu vou morrer com 19 anos, eu vou morrer. O que eu fiz para merecer? Locutor Lucas – Passado o susto e já conformada com sua situação, Paula admite que se surpreendeu com as pessoas para quem revelou ser soropositiva. Sonora – Paula (nome fictício): Na questão de relacionamentos isso me surpreendeu muito. A maioria das pessoas que eu contei não se assustou e não terminaram. Eu tive três relacionamentos de namoro que eu contei e as três pessoas aceitaram meu problema, mas nós nos cuidávamos mais, usávamos preservativo. E teve uma pessoa só que eu contei e ele disse: ‘Olha, a gente pode continuar sendo amigos, mas eu não quero ter um relacionamento com você. Não por preconceito ou qualquer outra coisa, mas por que eu não gosto de usar preservativo’. TRILHA – Eduardo e Mônica – Legião Urbana Locutor Lucas – Hoje, Paula é casada. O marido, que não quer ser identificado, não tem o vírus. Sonora – Marido de Paula: Ai ela me falou que era soropositivo. Na hora me deu um branco, porque eu nunca imaginei que estaria nessa situação. Mas, como eu convivi com outras pessoas que tinham e tenho amigos também, eu olhei bem nos olhos dela e perguntei se ela me amava. Se ela dissesse que não, eu iria embora. Ela olhou bem nos meus olhos e disse que me amava, ai eu encarei de boa. Sonora – Paula (nome fictício): Ai ele olhou para mim: ‘Tá você espera aqui, que eu vou falar com um médico, para mim ver como que vai ser nossa relação quanto a isso, caso a gente decida ter um relacionamento. Passou três dias e ele não voltou. Pronto pensei: meu Deus, perdi o “bofe”. Ele me ligou e perguntou se eu estava em casa. Eu disse: estou. Ele falou que estava vindo aqui em casa. O médico explicou tudo para ele. E ele disse para mim: ‘Nós podemos ter um relacionamento, a gente pode ficar junto e inclusive até morar junto, que eu estou pensando fazer isso ainda esse mês, mas isso só vai acontecer se você tomar seus remédios muito corretamente, do contrário não. SOBE TRILHA 16 Curso de Jornalismo da Faculdade Satc – Criciúma – SC – dezembro de 2016 Sonora – Paula (nome fictício): Aí, no início, nas minhas primeiras consultas que eu retornei, ele me acompanhou. Então eu tive que andar certinho na linha e aquilo começou a fazer bem para mim mesmo, minha imunidade voltou ao normal. Sonora – Marido de Paula: Nós conversamos com o médico, ele disse que podíamos ter uma vida normal, uma vida tranquila. Ela foi fazendo os exames direito e foi constatado que ela estava indetectável e eu perguntei se poderíamos ter um bebê para construir uma família, ser igual duas pessoas normais, já que sou soro discordante. Sonora – Paula (nome fictício): Como moramos só nós dois, eu tenho três filhos que não moram comigo e ele tem dois que moram com a ex mulher dele. Então resolvemos fazer o nosso bebê, aí entrava a questão do preservativo e fizemos todos os exames. Eu estava indetectável e ele estava com a saúde boa, não tínhamos nenhuma DST. Sonora – Marido de Paula: A médica nos falou que eu teria 96% de chance não contrair e 4% de contrair, ela nos aconselhou de tentar os outros métodos camisinha, seringa, mas arriscamos no método tradicional. Foram seis meses de relação normal sem preservativo até ela engravidar. Ela engravidou, eu fiz uma bateria de exames, deu tudo normal. Locutor Lucas: O Marido de Paula ainda hoje continua negativo e ela indetectável. Durante a gravidez, não precisou mudar a medicação, pois sua imunidade estava boa. E há dois meses nasceu seu filho, de parto normal. Sonora – Paula (nome fictício): E graças a Deus eu tenho uma família, da qual a única positiva sou eu. Faz três anos que estou com meu marido e agora nasceu nosso bebê, lindo saudável, sem problema nenhum. Sonora – Marido de Paula:: Nós vivemos uma vida normal, ela toma todos os medicamentos, que ela nunca vai poder deixar. Mas já encaramos de boa, nem lembro mais, eu olho para minha esposa nem lembro se ela tem ou não tem. SOBE A TRILHA Sonora – Paula (nome fictício): A melhor parte de tomar os meus remédios, não é nem ver que a minha saúde está boa, é ver que as pessoas que eu amo estão bem, podem viver comigo normalmente. 17