análise do processo adaptativo do camu camu

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Análise do Processo Adaptativo do Camu Camu Proveniente das Condições do
Cerrado.
Arruda, Alcione da Silva1; Tomazini, Maico2; Prudente, Leandro3; Cristina,
Verônica3.
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Orientadora, docente do curso de Agronomia da UnU Ipameri - UEG, e-mail:
[email protected];
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Bolsista PBIC/UEG, graduando do curso de Agronomia da UnU-Ipameri -UEG, e-mail:
[email protected];
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Graduandos do curso de Agronomia da UnU-Ipameri –UEG e colaboradores do Projeto.
RESUMO
O Camu-camu Myrciaria dúbia (H.B.K.) McVaugh, Myrtaceae é uma frutífera nativa de
porte arbustivo pertencente à família Myrtaceae, com um fruto de alto valor nutritivo em
que é praticamente ignorado pelos caboclos da região. O alto teor de ácido ascórbico nos
frutos constitui um fator para seu aumento na demanda para consumo no país e exportação.
A espécie distribui-se principalmente pela Amazônia brasileira, podendo ser encontrada
também na Amazônia peruana e na Amazônia venezuelana. A Amazônia peruana
apresenta as populações mais expressivas de M. dubia, observando-se em algumas
localidades a sua formação praticamente monoespecíficas. No Brasil, nas áreas de
ocorrência natural, a espécie M. dubia é conhecida principalmente como camu-camu,
mesmo nome que recebe na região do Peru.
Termos para indexação: camu-camu, frutífera, desenvolvimento, cerrado, ácido
ascórbico.
Introdução
A Amazônia apresenta um dos maiores índices de biodiversidade do mundo, no
qual estão incluídas espécies vegetais de grande potencial econômico, ainda não
domesticada. O camu-camu (Myrciaria dubia (H.B.K.) McVaugh, Myrtaceae) é uma
fruteira nativa de porte arbustivo, encontrado nas margens inundáveis dos rios e lagos da
Bacia Amazônica, podendo ficar submersa por quatro a cinco meses VILLACHICA 1996.
A espécie distribui-se por grande parte da Amazônia brasileira, nos Estados do Pará,
Amapá, Amazonas, Rondônia, Roraima e Mato Grosso. É encontrada, ainda, na Amazônia
peruana e na Amazônia venezuelana (MCVAUGH 1963). De acordo com VILLACHICA
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(1996), a Amazônia peruana apresenta as populações mais expressivas de M. dubia,
observando-se em algumas localidades formações praticamente monoespecífica.
No Brasil, nas áreas de ocorrência natural, a espécie é conhecida por diversos
nomes vernáculos: araçá, araçarana, araçazinho, araçá-d’água, araçá-do-lago, caçari, murta,
sarão e socoró, entretanto, a maioria das referências sobre M. dubia adotou a denominação
que a espécie recebe no Peru, camu-camu (VILLACHICA 1996).
O fruto da M. dubia é uma baga esférica de superfície lisa e brilhante, coloração,
vermelho-arroxeada, tendo de dois a quatro centímetros de diâmetro e uma a quatro
sementes, apreciado para a confecção de sorvetes, sucos e licores, com grande potencial
econômico (VILLACHICA 1996).
A dispersão das sementes é endozoocórica, feita principalmente por peixes como o
tambaqui (Colossoma macropomum Cuvier 1818, Caracidae), e pela própria correnteza dos
cursos d´água (YUYAMA e SIQUEIRA, 1999). Segundo LESLIE (1998) e ANDRADE et
al. (1995), o camu-camu apresenta o mais elevado teor de ácido ascórbico (2.880 mg.100
g-1 de polpa) se comparado com outras frutas tropicais tal como a acerola (1.790 mg.100
g-1 de polpa). ZAPATA E DUFOUR (1993) confirmaram a alta concentração de ácido
ascórbico na polpa do camu-camu. Esta característica permite a existência de um mercado
promissor para a fruta no país e no exterior (LESLIE 1998, FERREIRA E GENTIL, 1997).
PETERS E VASQUEZ (1986/1987) estudaram a densidade e a estrutura de uma
população natural de camu-camu na Bacia do Rio Ucayali, no Peru, e registraram as
primeiras informações sobre a biologia floral: as flores são hermafroditas e apresentam
uma elevada taxa de geitonogamia, sendo descritos como principais vetores de polinização,
naquela região, o vento e as abelhas sem ferrão da subfamília Meliponinae.
Instituições de pesquisa brasileiras e peruanas vêm desenvolvendo pesquisas sobre
a domesticação de M. dubia, através de programas de melhoramento genético para cultivo
em terra firme (CLEMENT et al. 1982, COUTURIER et al. 1999).
O solo do cerrado é marcado como sendo pobre em fertilidade, de alta acidez e de
elevado teor de alumínio o que pode prejudicar a disponibilidade de água e impedir o
desenvolvimento da cultura. Porém, o que se pode observar com a correção dos solos de
forma adequada e com uma boa disponibilidade de nutrientes hábil, o solo do cerrado pode
tornar-se altamente produtivo.
O objetivo do presente trabalho foi avaliar o desenvolvimento em campo de plantas
camu-camu obtidas do viveiro da Unidade de Ipameri sob solo do cerrado e observar a
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influência das condições edafoclimaticas e posterior analise da concentração de ácido
ascórbico no fruto.
Material e Métodos
Local de Implantação
A instalação e condução do ensaio foi realizado na área experimental pertencente à
Universidade Estadual de Goiás-GO, em Ipameri-GO, situada na Rodovia GO-330, km
241, Anel Viário de Ipameri, GO, a 810 m de altitude média, 8.041.043,9950 S,
804.512,0582 W e fuso K22, em solo classificado como Latossolo Vermelho distroférrico.
Espaçamento e número de plantas por hectare
Utilizou-se o espaçamento de 4,0 m x 4,0 m (625 plantas/ha), totalizando em nossa
área 135 plantas, divididas em três blocos. A marcação foi definida em função da
declividade do terreno, no caso em curvas, acompanhando o relevo.
Coveamento
Utilizou-se as dimensões de 0,30 m x 0,30 m x 0,30 m. O coveamento foi manual,
reduzindo desta forma a compactação das paredes da cova. Após abertas foram novamente
cheias, tendo-se o cuidado de utilizar para a parte do fundo da cova, a terra da superfície,
com a qual foi misturado o adubo necessário, 200g de superfosfato triplo e esterco bovino,
na proporção de três carrinhos de terra para um de esterco.
Plantio no local definitivo
O plantio no local definitivo foi realizado quando as plantas alcançaram uma altura
em torno de 50 centímetros e com um centímetro de diâmetro. O transplantio das mudas
foi realizado em meados de junho com a utilização de irrigação.
Tratos culturais
Os tratos culturais abrangeram todas as operações realizadas no pomar, tais como:
adubações complementar, no caso duas no decorrer do ano (50g por cova), pulverizações
com aplicação de glifosato (N-(fosfonometil) glicina, C3H8NO5P). Para eliminação de
plantas daninhas com o objetivo de reduzir a competição, foi aplicado 300 ml de glifosato
em toda a área do experimento totalizando 870m2. Ressaltando o cuidado para que o
produto não entrasse em contato com as plantas do estande.
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As pragas encontradas de maior dano econômico foram respectivamente formigas
cortadeira Atta sexdens, que exigiram um monitoramento maior devido a sua intensidade
de danos e possível redução do estande para tal utilizou-se isca granulada à base de
dodecacloro, e a Cochonilha verde Coccus viridis o qual teve uma grande incidência
prejudicando algumas plantas do estande.
Adubação
No projeto em questão foi utilizado, 200 g/planta de superfosfato triplo e adubação
orgânica na proporção de três carrinhos de terra para um de esterco bovino.
As adubações de manutenção foram efetuadas tomando como base a análise do
solo. No projeto foram feitas duas adubações ao ano. Na primeira adubação, a quantidade
total do adubo foi de 50g por cova. Na segunda, aplicou-se a mesma proporção. A partir do
segundo ano, é recomendado aplicar nitrogênio (80 kg/ha), fósforo (60 kg/ha) e potássio
(80 kg/ha).
Resultados e Discussão
A propagação do camu-camu é feita por sementes em seu estagio inicial, de acordo
com Pinedo (1989), que emergem por volta do 34ª dia, prolongando-se até mais de 70 dias,
no entanto, caso seja semente escarificada, 60% delas emergem até seu 34ª dia.
O projeto não teve como objetivo avaliar a germinação das sementes, e sim o
desenvolvimento das mudas transplantadas já em seu local definitivo, para então, analisar o
comportamento e resposta da planta.
Durante a avaliação do desenvolvimento do camu-camu, os graus de umidade e
temperatura se mantiveram estáveis para a região não sofrendo grandes alterações. Desse
modo, os fatores edafoclimáticos não afetaram o desenvolvimento das plantas, porém vale
ressaltar que as condições climáticas não são as mesmas de origem da cultura. Ribeiro,
Mota e Corrêa (2002), demonstrando que o camu-camu é capaz de produzir sob solo do
cerrado, apesar da planta passar uma boa parte do tempo em regiões inundáveis em que o
clima é seco e úmido com temperaturas variando de 20º a 28º C.
O stress sofrido pelas plantas nas condições do cerrado serviu de parâmetro e
indicador para a condução da cultura, em relação a sua exigência nutricional e hídrica,
estabelecendo assim uma irrigação adequada para a frutífera.
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A presença de pragas como a Cochonilha verde Coccus viridis e formigas
cortadeira (Atta sexdens) tiveram um papel relevante no projeto, visto que, foram
responsáveis pela destruição de alguns exemplares de camu-cumu, sendo necessária a
reposição de tais plantas.
As 135 plantas foram submetidas ao mesmo tipo de tratamento, ou seja, mesmas
condições de fertilidade do solo, umidade do solo, temperatura e radiação solar. Ao serem
analisadas ao longo do seu estágio de desenvolvimento, em seu sexto mês apresentou em
media uma altura de 1,0 m, diâmetro de 1,5 cm, inserção da primeira folha a 10 cm e
aproximadamente 200 folhas, características e aspectos positivos.
Durante os meses subseqüentes foram realizados novos tratos culturais de
manutenção das parcelas e adubação (50g de superfosfato triplo, por muda) e continua
analise de pragas e doenças, nesse período ocorreu alta incidência de formigas cortadeira
(Atta sexdens), que foram controladas com granulados a base de dodecacloro. No 11º mês
uma nova analise a respeito da fixação da planta foi realizada em que os seguintes dados
foram obtidos, altura medida das plantas de 1,70m, diâmetro de 4,0cm e aproximadamente
500 folhas.
A amostragem dos dados de diâmetro, inserção das primeiras folhas e altura das
plantas foram feitos em todas as plantas do experimento com seis meses e posteriormente
com onze meses. Essas atividades tiveram como objetivo avaliar a adaptação das plantas as
condições do cerrado.
Com esses dados observasse uma adaptação positiva do Camucamuzeiro às
condições do cerrado evidenciando a sua provável produtividade e manutenção das
características fisiológicas. Desde que sejam mantidas as exigências nutricionais e
climáticas mais próximas possíveis das recomendas para a cultura, segundo Ribeiro, Mota
e Corrêa (2002).
Conclusão
A analise do processo adaptativo de introdução e domesticação do Camu Camu
durante o período de 12 meses demonstrou se viável e promissor para o solo do cerrado,
abrindo assim espaço para a introdução da cultura. No entanto o estudo comportamental da
espécie deve continuar, nesse sentido, o projeto se estendera, pois se trata de uma fruteira
que pouco se conhece sobre seu comportamento na região.
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Referências Bibliográficas
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