Fenômeno “Seje”

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Fenômeno “Seje”
Carlos Zev Solano
http://rascunhosnanet.blogspot.com/
Já faz algum tempo que se nota a presença incomoda do “verbete” “seje” em nosso cotidiano.
Não que a língua portuguesa seja fácil, mas é quase deliberado o uso do “vocábulo”. Vez
por outra ele é percebido em entrevistas, em novelas e pasmem, até mesmo vindo da
boca de quem não devia – universitários, bacharéis, autoridades e políticos, só para citar
alguns.
Tudo bem que é um verbo irregular e por isso tem um quê a mais de dificuldade, mas
será que lá no coleginho da tia Tetéia não foi pelo menos uma vez conjugado? Ou
lembrado mais recentemente?
O que impressiona é a quase forçada pronúncia do “seje”. Acredito que na maioria das vezes
até o próprio interlocutor sinta certa estranheza ao proferi-lo. Mas, mesmo assim a utilização
é reiterada. Exagero? Pesquisa rápida: Google: “seje”: 3,8 milhões de ocorrências. Ah,
dentre elas temos as que corrigem o erro crasso. Novo exame: seje -seja -erro: 1,36 milhão.
Se reparar bem, vai até notar alguns anúncios usando o “termo”! Nova busca: “seje” no
Orkut, resultado, mais de 1000, entre elas 204 comunidades – claro que algumas são
justamente – ainda bem – para criticar o uso errôneo da “palavra”.
Nem o YouTube escapa. Alguns vídeos achados: “Se for amor que seje verdadeiro” – vai ver o
amor não é tão verdadeiro assim; “Viva e seje feliz” – será feliz e ignorante por toda a vida;
“Seje vc um Rocky” – esse nunca será um Rocky; e até um assassinato de um verso de
Vinicius de Moraes: “E que seje eterno enquanto dure” – com certeza alguma coisa vai durar
pouco.
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Uma explicação plausível para tanta incidência do equívoco é que no presente do
subjuntivo o “e” final seja usado com bastante freqüência – desculpe-me pelo eco. Mas, essa
desinência só ocorre – em regra – nos verbos da primeira conjugação, final “ar”. Ou seja,
somente para verbos como estar, falar etc. Já os da segunda e terceira formam – não sei se
há exceções – em “a” assim como o nosso seja.
O fato é que de tanto ouvir alguns menos letrados ou desatentos acabam se viciando no
“seje” e o dão como certo. Um verdadeiro fenômeno. Fica uma dúvida será que existe erro
verbal mais comum que esse?
Obra original disponível em:
http://www.overmundo.com.br/banco/fenomeno-seje
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