XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro. ATIVIDADE ANTICARCINOGÊNICA DE ESPÉCIES ARBÓREAS CULTIVADAS AO LONGO DO CANAL DERBY-TACARUNA, RECIFE, PERNAMBUCO Amaro Bezerra de Lima Filho 1, Joelmir Marques da Silva2, Michele dos Anjos de Santana3, Eliude Maria de Melo 4, Dominique Lima Silva5 Introdução O câncer é uma doença cuja característica é a multiplicação e a disseminação descontrolada de células anormais do organismo com a capacidade de atingir vários órgãos e apresenta-se dependente de uma etiologia multifatorial. Segundo Madjarof (2009) o câncer é a segunda causa de morte, superada somente pelas doenças cardiovasculares nas regiões mais desenvolvidas do mundo. Conforme Grunfeld et al. (2006) acredita-se que em 2015 o câncer seja responsável por 9 milhões de mortes, em 2020, 30 milhões de pessoas sejam portadoras desta patologia e em 2030, 11,4 milhões de mortes no mundo. Conforme a World Health Organization - Who (2006) as estatísticas globais mostram que os cânceres de pulmão, estômago, fígado, coloretal, esôfago e próstata são os principais causadores de mortes em homens, e entre as mulheres são os cânceres de mama, pulmão, estômago, coloretal e cervical. Contudo, o principal responsável por óbitos é o câncer de pulmão, tanto em países desenvolvidos como em desenvolvimento. Os cânceres de próstata, mama e cólon são os mais observados em países desenvolvidos quando comparados a países em desenvolvimento, onde a maior incidência é de câncer de fígado, estômago e cervical. Dados do Instituto Nacional do Câncer - INCA (2012) mostram que 302.500 pessoas foram acometidas por câncer no Brasil em 2012. Os dados referem-se aos cânceres da mama feminina, da próstata, do colo do útero, do pulmão, do cólon e reto, do estômago, da cavidade oral, da laringe, da bexiga, do esôfago, do ovário, da glândula tireoide, do Sistema Nervoso Central, do corpo do útero, da pele e leucemias. O tratamento para o câncer se da por meio de três principais métodos terapêuticos: interferência cirúrgica, tratamento por radiação ionizante e quimioterapia. Porém, duas outras linhas de tratamentos são amplamente utilizadas, uma se refere aos medicamentos industrializado e a outra as plantas medicinais. As plantas têm sido, desde a antiguidade, fontes de medicamentos antitumorais. No Brasil, que detém a maior diversidade vegetal do mundo, a busca por medicamentos mais eficazes, viáveis economicamente e produzidos com tecnologia avançada tem ganhado cada vez mais incentivos de organizações governamentais e não-governamentais. Desta forma, o aperfeiçoamento das terapias com plantas medicinais brasileiras para os diferentes tipos de câncer tem sido um dos assuntos recorrente e alvo de especulações científicas. Diante do exposto acima, objetivou-se com o presente estudo identificar as plantas anticancerígenas presentes na arborização urbana, mas especificamente ao longo do canal Derby-Tacaruna, e verificar na literatura a atividade das espécies encontradas uma vez que será implantado ao longo do canal nove estações que pertencem ao corredor NorteSul que se configura como uma via exclusiva para o Transporte Rápido por Ônibus (TRO) onde o fluxo de pessoas será constante. Material e métodos A. Caracterização da Área de Estudo Tecnólogo em Radiologia pelo Instituto Federal de Pernambuco. Av. Prof. Luiz Freire, 500 – Cidade Universitária, Recife – PE – CEP: 50740-540, Recife-PE, Brasil. E-mail: [email protected]. 2 Doutorando em Desenvolvimento Urbano pela Universidade Federal de Pernambuco. Av. Prof. Moraes Rego, 1235 - Cidade Universitária, Recife PE - CEP: 50670-901. E-mail: [email protected] 3 Mestre em Desenvolvimento Urbano. Professora da do Curso de Arquitetura e Urbanismo da FAVIPE/Devry. Av. Adjar da Silva Casé, 800 – Indianópolis Caruaru / PE CEP: 55.024-740. Email: [email protected]. 4 Graduanda em Gestão Ambiental pelo Instituto Federal de Pernambuco. Docente da Secretaria de Educação do Estado de Pernambuco (SEPE). Av. Prof. Luiz Freire, 500 – Cidade Universitária, Recife – PE – CEP: 50740-540, Recife-PE, Brasil. Email: [email protected]. 5 Engenheiro Eletrônico pela Universidade de Pernambuco. Rua Benfica, 455 - Madalena - Recife/PE CEP: 50720-001 E-mail: [email protected] 1 XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro. O canal Derby-Tacaruna que está situado ao longo da Avenida Agamenon Magalhães na cidade do Recife e possui uma extensão de 5km. O clima da cidade é do tipo As’ - tropical chuvoso, quente e úmido, com temperaturas médias mensais superiores a 23ºC, apresentando um período de alta umidade entre os meses de março e agosto, com precipitações máximas ocorrendo em junho e julho. B. Coleta do Material Botânico e Tratamento Sistemático Para o levantamento florístico usou-se o método de censo. Para tanto fez-se uso do seguinte protocolo: Localização e identificação, quantitativo de indivíduos geral e por espécies e o nome científico e vulgar. A identificação taxonômica dos espécimes foi realizada in loco - apenas para espécies conhecidas, as demais tiveram material botânico coletado e comparado com exsicatas do Neotropical Herbarium Specimens e do Neotropical Live Plant Photos seguindo o sistema de classificação do Angiosperm Phylogeny Group III. C. Levantamento Bibliográfico Foram compilados trabalhos etnobotânicos, etnoecológico, etnofarmacológicos, taxonômicos, químicos e florísticos que citassem plantas medicinais, bem como suas possíveis atividades terapêuticas fazendo-se uso principalmente do portal eletrônico SciELOBrasil. Os trabalhos incluídos nesta revisão foram publicados em revistas indexadas, reconhecidas nacional e internacionalmente. As principais revistas foram : Journal of Ethnopharmacology, Journal of the Brazilian Chemical Society, Brazilian Journal of Microbiology, Revista Brasileira Farmacognosia, Revista Brasileira Farmácia, Revista Brasileira de Plantas Medicinais, Megadiversidade, Química Nova e Ciência Florestal. Resultados e Discussão A vegetação foi representada por uma biota composta por 817 indivíduos pertencente a 31 espécies, 26 gêneros e 10 famílias botânicas. Para um total de 4 espécies (12,90%) foram encontrados na literatura registros referentes à atividade anticancerígena são elas Annona asiatica (Anonaceae), Caesalpinia echinata (Fabaceae), Mangifera indica (Anacardiaceae) e Plumeria rubra (Apocynaceae) totalizando 66 indivíduos (48,08%). Annona asiatica: A ação anticancerígena da A. asiatiatica se dá conforme Duret et al. (1998) pela ação da acetonina. De acordo com Chao-Ming et al. (1997) as acetogeninas são estudadas por suas propriedades anti-tumorais, sendo as atividades desses compostos mais fortes que as do taxol, droga extraída de Taxus cuspidata utilizada como antineoplásico. Khan Ashol e colaboradores ao estudarem os extratos aquosos e orgânicos das sementes de A. squamosa em células tumorais histiocíticas AK-5 em rato relataram que ambos os extratos causaram a morte de células tumorais com apoptose significativa mediante o aumento da atividade da caspase-3. Adicionados a fragmentação de DNA e Anexina-V os extratos induziram apoptose e nas células tumorais mediante o estresse oxidativo. O extrato aquoso de sementes de A. asiatiatica possui significativa atividade antitumoral in vivo contra o tumor AD-5 (Khar Ashok at al., 2004). Caesalpinia echinata: Pouco se sabe da ação farmacológica da C. echinata, alguns dados da literatura relatam que a planta possui propriedades medicinais, sendo o lenho adstringente, corroborante e secante, odontológico e tônico (Xavier, 1995). Segundo Juchum (2007) pesquisas recentes sugerem que o uso do extrato da C. echinata pode se revelar um agente no combate ao câncer, inibindo o crescimento de tumores. Estudos desenvolvidos por Rodrigues & Souza (2009) com extrato etanólico das folhas de C. echinata frente ao Carcinoma de Ehrlich em camundongos constataram que o extrato administrado por via oral não foi capaz de inibir significativamente o crescimento do tumor sólido de Ehrlich. Em camundongos fêmeas a inibição máxima (46,27%) foi observada na menor dose (100 mg/Kg) em relação ao grupo controle. Para as demais doses, 200 e 300 mg/Kg foram verificadas inibições de 25,50% e 16,80% respectivamente. O fármaco padrão metotrexato, único com inibição estatisticamente significativa, causou redução de 76,36% no crescimento tumoral. Em estudos desenvolvidos por Silva (2006) utilizando o extrato etanólico do cerne da C. echinata em animais machos foram observados a inibição tumoral estatisticamente significativa frente ao Carcinoma de Ehrlich. Neste experimento o efeito inibitório aumentou com a diminuição da dose, obtendo percentual máximo de inibição com a dose de 50mg/Kg (90,40%). Mangifera indica: Polifenóis presentes em polpa de M. indica, incluindo galotaninos, glicosídeos de flavonóides, ácido gálico, derivados da benzofenona, e mangiferina, têm demonstrado propriedades anticarcinogênicas (Makare, 2001). Conforme Bertoldi (2009) a etapa de deglicosilação por β-glicosidases tem se mostrado necessária ao metabolismo e à absorção de polifenóis derivados da dieta pelo organismo humano, o que poderia influenciar suas propriedades anticarcinogênicas em modelos in vitro de cultura de células cancerosas, incluindo as linhagens celulares de câncer humano Molt-4 (leucemia), A-549 (câncer de pulmao), MDA-MB-231 (câncer de mama), LnCap (câncer de próstata), SW-480 (câncer de cólon) e células de colón não cancerosas CCD-18Co. Polifenóis de polpa de M. indica de diferentes variedades exibiram efeitos anticarcinogênicos em modelos de cultura de células, os quais poderiam não ser necessariamente dependentes da hidrólise enzimática pela β-glicosidase. XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro. Plumeria rubra: Estudos tem sido feitos no sentido de investigar as propriedades farmacológicas da P. rubra. Pesquisas desenvolvidas por Hamburguer et al. (1991) comprovaram que os compostos isolados do cerne da P. rubra apresentaram efeitos moluscida, citotóxico e antibacteriano. Já o estudo feito com a casca apresentaram atividade antifúngica, antálgica e antibacteriana (Kuigoa, 2010). Análises fitoquímicas com o látex revelou a presença de iridóides – metabólico secundário monoterpênico – que apresentou atividade algicida, antibacteriana e citotóxica contra linhagens de célula de leucemia linfocítica (P-388) e contra células de vários tipos de câncer humano (mama, cólon, fibrossarcoma, pulmão e melanoma (Kuioga, 2010). O extrato metabóligo das folhas de P. rubra apresentou atividade anticancerígena (Banu & Jayakar, 2011). Referências Banu, J.R.; Jayakar, B. Anti câncer activity of ethanolic extract of leaves of Plumeria rubra (Lim.). Curr. Pharm. Res., v. 1, n. s/n, p. 175-179, 2011. Bertoldi, M.C. Antioxidant capacity, anticancer effects and absorption of mango (Mangifera Indica L.) polyphenols in vitro. Viçosa: Universidade Federal de Viçosa, 2009. 127p. Tese de Doutorado. Chao-Ming, L. Cyclopeptide from the seedes of Annona squamosa.Phytochemistry, v. 45, n. s/n, p. 521-523, 1997. Grunfeld E.; Levine, M.N.; Julian, J.A.; Coyle, D.; Szechtman, B.; Mirsky, D.; Verma, S.; Dent, S.; Sawka, C.; Pritchard, K.I.; Ginsburg, D.; Wood, M.; Whelan, T. Randomized trial of long-term follow-up for early-stage breast cancer: a comparison of family physician versus specialist care. J Clin Oncol.. v. 24, n. s/n, p. 848–854, 2006. Hamburger, M.O. Cordell, G.A. Ruangrungsi, N. traditional medicinal plants of Thailand. Biologically active constituents of Plumeria rubra. J. Ethnopharmacol, v. 33, n. s/n, p. 289-292, 1991. (INCA) Instituto Nacional de Câncer (Brasil). Estimativa www.inca.gov.br/estimativa/2012/index.asp?ID=5. 12 de out. 2013. 2012: incidência de câncer no Brasil. Junchum, F.S. Análise filogenética das variedades morfológicas foliares de Caesalpina echinata Lam. (Paul-Brasil) na região sul baiana com base em sequencias de DNA. Santa Cruz: Universidade Estadual de Santa Cruz, 2007. 90f. Dissertação de Mestrado. Khar, A.; Pardhasaradhi, B. V. V.; Reddy, M.; Ali, M. A.; Kumari, L.A. Antitumour activity of Annona squamosa seed extracts is through the generation of free radical s and induction of apoptosis”. Indian journal of Biochemistry and Biophysics, v. 41, n. s/n, p. 167-172, 2004. Kuigoua, G.M. Minor secondary metabolic produts from the stem bark of Plumeria rubra Lim., displaying antimicrobial activities. Planta Med., v. 76, n. s/n, p. 620-625, 2010. Madjarof, C. Atividade antitumoral, antiinflamatória e antiulcerogênica de duas variedades de própolis brasileira. Campinas: Universidade Estadual de Campinas, 2009. 130p. Tese de Doutorado. Makare, N.; Bodhankar, S.; Rangari, V. Immunomodulatory activity of alcoholic extract of Mangifera indica L. in mice. Journal of Ethnopharmacology, v. 78, n. s/n, p. 133-137, 2001. Rodrigues, G. C. 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