por que inovamos tão pouco? - Rodrigues Garcia Advogados

Propaganda
Ano V, Março de 2014, 54ª Edição
Ano 16 | 25/07/2016
POR QUE INOVAMOS TÃO POUCO?
Falar da dificuldade em inovar no Brasil é como criticar a Seleção Brasileira de Futebol: todo
mundo tem algum palpite.
Um estudo realizado pela consultoria Accenture com 200 profissionais em cargos ligados à
inovação e à pesquisa no Brasil, obtido pela EXAME, mostra que para quase metade deles a
dificuldade em conseguir incentivos e a falta de políticas públicas são os dois principais
entraves à inovação. A lista de problemas não para por aí, e vai desde o excesso de
burocracia até a pouca interação com parceiros externos.
Não é um drama apenas para especialistas e empresas. É um obstáculo para economia como
um todo. Com o fim da expansão da demanda por commodities e com a queda
vertiginosa do preço do petróleo, economias muito dependentes de recursos naturais
têm perdido seu brilho. Um estudo coordenado pelos professores Juma e Lee Yee-Cheong, da
Universidade de Harvard, aponta a América Latina como prova de que somente o acúmulo de
capital não é suficiente para garantir a redução da pobreza e o crescimento da
economia no longo prazo. O continente tem um nível de renda relativamente alto e, ainda
assim, apresenta baixas taxas de crescimento. “É preciso inovação e tecnologia para
transformar a base de desenvolvimento e diminuir a dependência da exploração dos recursos
naturais”, afirmam os autores.
De acordo com o estudo, os casos mais bem-sucedidos estão na Ásia – Coréia do Sul e Taiwan
mantêm altas taxas de crescimento impulsionadas pela indústria e pela produção orientada
para exportação. Os brasileiros entendem tanto de café quanto os coreanos e
taiwaneses de tecnologia. Mas, enquanto Coreia do Sul e Taiwan exportam eletrônicos,
o Brasil importa cápsulas da Nespresso.
Ano V, Março de 2014, 54ª Edição
Ano 16 | 25/07/2016
POR QUE INOVAMOS TÃO POUCO?
“Temos importância fundamental na cadeia global de alimentos, e isso não está em
questão”, diz Humberto Luiz Ribeiro, secretário de Comércio e Serviços do Ministério do
Desenvolvimento entre fevereiro de 2011 e junho de 2014. “Somos imbatíveis até em
colheitadeira. O problema é que não participamos do que vem depois”. Ribeiro, que
passou o ano de 2015 como professor convidado na Universidade Cornell, no estado de Nova
York, diz que uma das chaves para o salto da economia do país é a “servicificação”, ou a
agregação de valor ao que produzimos.
Se o caminho parece claro, o mesmo não pode ser dito da consistência com que o Brasil se
mostra disposto a trilhá-lo.
A solução para superar os resultados pífios não depende só de dinheiro. Ao contrário
do que se poderia supor, em valores absolutos, o Brasil é o décimo país que mais investe em
pesquisa e desenvolvimento: 64 bilhões de reais em 2013.
Um dado diz muito sobre a dispersão dos esforços para a inovação no Brasil: países
inovadores têm menos prioridade oficiais nos investimento relacionados ao tema. No
caso da Coreia do Sul são seis. No Brasil, as prioridades até o ano passado eram 15.
A incapacidade da economia brasileira de incentivar a inovação produtiva – a que gera
empregos e cria empresas mais fortes e lucrativas resulta numa distorção básica. Ao contrário
do que acontece em nações reconhecidamente inovadoras, grande parte dos pesquisadores
brasileiros não trabalha em empresas. A esmagadora maioria – 68% – está empregada em
universidades. Apenas 26% estão no setor privado e outras 6% em instituições de pesquisa.
No Brasil, as empresas dispostas a investir em inovação ainda têm de encarar o tradicional
embate entre empresa e academia, sobretudo quando se trata da divisão de autoria e dos
lucros, fruto em grande parte da falta de prática nessa relação.
Uma política econômica protecionista também não favorece a inovação brasileira.
Como alguns dos empreendedores mais bem-sucedidos nessa frente sabem, a competição
global é um estimulante natural para a inovação.
Não há uma única medida capaz de solucionar todas as questões que ainda impedem
o país de avançar nessa frente. “As nações se engajam em trocas porque ganham ao se
especializar em vez de tentar produzir tudo domesticamente”. Por enquanto, essa é uma
batalha que, no Brasil, foi vencida por alguns empreendedores resilientes. E, infelizmente, é um
grupo que ainda está longe de ser a regra.
Fonte: Edição Especial Exame. Melhores e maiores – as 1000 maiores empresas do Brasil.
Julho 2016. Editora Abril.
Download