PG Eng.Econômica 2016 Microeconomia PG ENG. ECONÔMICA - MICROECONOMIA Prof. Flávio Alencar do Rêgo Barros (Uerj, sala 5020E) Notas de aula – Parte 2/2 Estas notas de aula se prestam ao acompanhamento do aluno em sala de aula sem que se faça necessário um esforço intensivo de cópia. Elas contêm as figuras usadas na aula mais algum texto que complementa tais figuras, também aqui e ali se apresentará propostas de exercícios ilustrativos (não necessariamente com a respectiva resposta, em algumas o exercício proposto será resolvido em sala de aula!). Desta forma, aconselha-se ao aluno que mantenha sua cópia destas notas de aula em papel durante a aula preenchendo o espaço disponível com os complementos e os exercícios resolvidos em sala de aula. Muitas vezes nestas notas de aula são propostos um ou mais problemas que serão resolvidos em sala no início da aula seguinte. Ao final de cada módulo se encontra a respectiva lista de problemas propostos com alguma indicação de respostas. De forma geral estas respostas não correspondem a um gabarito, de modo que se torne viável usar alguns destes problemas na Prova. A Parte 1 deste material abrange os cinco primeiros módulos do curso, a Parte 2 abrange os quatro últimos. O curso de Microeconomia está organizado em 9 módulos temáticos (em princípio um módulo a cada dia de aula) abordando as questões mais fundamentais da matéria, em uma abordagem orientada à prática. Desta maneira, faremos uso frequente de exemplos ilustrativos explorando conceitos, gráficos ou quantitativos. Aconselha-se adicionalmente o uso da bibliografia indicada na figura ao final dos módulos. Os módulos estão distribuídos assim: Parte 1: 1 – Preferências do consumidor 2 – Restrições orçamentárias e demanda individual 3 – Elasticidades e incertezas 4 – A oferta no curto prazo 5 – A oferta no longo prazo Parte 2: 6 – Equilíbrio em concorrência perfeita 7 – Monopólio e monopsônio 8 – Competição monopolista e oligopólio 9 – Porque os mercados falham Módulo 6 – Equilíbrio Concorrência Perfeita PG Eng.Econômica 2016 Pg.6-1/26 Módulo 6 – Equilíbrio em concorrência perfeita Conceitos neste módulo: estruturas de mercado, eficiência de Pareto, caixa de Edgeworth, equilíbrio competitivo, 1º. e 2º. teoremas do bem-estar, equidade, vantagens comparativas, fronteira de possibilidades de produção, ganhos de comércio, falhas de mercado. Os módulos estão distribuídos assim: 1 – Preferências do consumidor 2 – Restrições orçamentárias e demanda individual 3 – Elasticidades e incertezas 4 – A oferta no curto prazo 5 – A oferta no longo prazo 6 – Equilíbrio em concorrência perfeita 7 – Monopólio e monopsônio 8 – Competição monopolista e oligopólio 9 – Porque os mercados falham Em Anexo: globalização e vantagens comparativas problemas propostos respostas selecionadas Módulo 6 – Equilíbrio Concorrência Perfeita PG Eng.Econômica 2016 Pg.6-2/26 O que vimos até aqui foi a análise do equilíbrio parcial, o pressuposto era que as atividades em um mercado podiam ser independentes das atividades de outros mercados. Não é verdade! Os mercados não são isolados, mas sim interdependentes. O objetivo deste módulo é fazer a análise do equilíbrio geral para mercado com concorrência perfeita e discutir questões como eficiência, equidade, ganhos de livre comércio e iniciar a discussão do porque os mercados falham. Entende-se como em concorrência perfeita o(s) mercado(s) onde nem compradores, nem vendedores podem determinar preços; existe o livre trânsito de entrada e saída do mercado e a informação é completa. Adicionalmente, por simplicidade, os produtos de todas as empresas são homogêneos. Todos agentes são tomadores de preço. Não é deste tipo o monopólio, onde uma única firma é responsável por vender produto, seja por embarreirar Módulo 6 – Equilíbrio Concorrência Perfeita PG Eng.Econômica 2016 Pg.6-3/26 concorrentes (por economia de escala, por controle de insumos, por posse de patentes, monopólio natural ou por concessões). Não é também deste tipo o monopsônio, o dual de monopólio, único comprador em mercado com vários vendedores. Gradações destes tipos extremos de mercado são os oligopólios, onde temos poucos vendedores com parcela majoritária de mercado e oligopsônio, onde o domínio do mercado é exercido por poucos compradores. Será útil para nossos propósitos analisar um tipo mais complexo de mercado, a concorrência monopolística, onde se mescla características de concorrência perfeita (grande número de vendedores) com características de monopólio (diferenciação de produto). As Figuras 6-3 e 64 mostram exemplos destes cinco tipos de mercado que não concorrência perfeita, tema deste módulo. Estes cinco tipos especiais serão tema dos próximos módulos. O que está em questão para todos estes seis tipos de mercado é a competitividade, cujas características estão resumidas na tabela da Figura 6-5. Módulo 6 – Equilíbrio Concorrência Perfeita Pg.6-4/26 PG Eng.Econômica 2016 Na Figura 6-6 se apresenta um exemplo simples de mercados interdependentes, no caso ingresso de cinema e DVDs. No início do exemplo ambos os mercados estão em equilíbrio em termos de oferta e demanda com ( Q C , $6,00) para cinema e ( Q C , $6,00) para DVD. Suponha que o governo imponha um imposto de $1 sobre cada ingresso do cinema, o que desloca a curva de oferta para ´ cima ( QC , $6,35)1. Este aumento de preço fará alguns espectadores mudar para o produto substituto, DVDs, o que desloca neste mercado a curva de demanda para a direita ( QD´ , $3,50). Se terminasse aqui, teríamos uma análise de equilíbrio parcial que subestimaria o efeito do imposto, ou seja, deixa de levar em conta um efeito de realimentação (o aumento de demanda por DVDs faz subir seu preço, por isto alguns consumidores preferem voltar ao cinema, e assim sucessivamente) que conduz a um ajustamento de preços e quantidades em um mercado causado por ajustamento de preços e quantidades em outros mercados. É exatamente isto que se chama análise de equilíbrio geral, importante também na consideração dos formuladores de políticas públicas. Na Figura 6-7 estão representados os efeitos de realimentação até que novo equilíbrio seja alcançado. A subida de preço, como vimos no módulo 5, não tem que ser necessariamente de mesma magnitude que a do imposto. Depende da elasticidade da demanda. 1 Módulo 6 – Equilíbrio Concorrência Perfeita PG Eng.Econômica 2016 Pg.6-5/26 Exemplo concreto: Brasil e EUA exportam soja e são, portanto, interdependentes. O Brasil restringiu suas exportações no final da década de 1960 e início da década de 1970. Sabia-se que os mecanismos de controle de exportações seriam removidos em algum momento, de modo que se esperava no futuro que as exportações brasileiras aumentassem. Na vigência da restrição às exportações: Análise de Equilíbrio Parcial – o preço da soja no mercado brasileiro deveria cair e a demanda doméstica pelo produto deveria aumentar. Análise de Equilíbrio Geral – o preço e a produção da soja nos EUA devem aumentar determinando também o aumento das exportações dos EUA e a queda das exportações brasileiras (mesmo após o fim das regulamentações), e assim sucessivamente. Em suma, os mercados são interdependentes. Módulo 6 – Equilíbrio Concorrência Perfeita PG Eng.Econômica 2016 Pg.6-6/26 Define-se Eficiência de Pareto como a situação de trocas na qual não é possível aumentar o bem-estar de qualquer indivíduo sem que algum outro indivíduo seja prejudicado. O que se quer aqui é chegar à eficiência na troca. Para isto consideramos algumas hipóteses simplificadoras: são dois consumidores (ou dois países), consideraremos João (J) e Maria (M); são dois bens, consideraremos como exemplo Alimento (A) e Roupa (R); as trocas não envolvem custos de transação. Ainda no exemplo consideremos a situação de partida com a alocação de bens como na tabela da Figura 6-9 e que cada um dos indivíduos se dispõe a fazer a troca unitária da tabela, de modo que a alocação final também é a da tabela. Suponhamos que Maria por ter muita Roupa, ela aceite abrir mão de 3 unidades de Roupa para obter uma unidade de Alimento. Pela mesma razão, mas, reversamente, João só aceite abrir mão de 0,5 unidades de Roupa para obter uma unidade de Alimento. Significa que, respectivamente J para TMgS RA = 0,5 M = 3 para Maria. Como as taxas marginais de substituição são diferentes, a João e TMgS RA troca é benéfica, pois mostram que a alocação é ineficiente. É a visão gráfica disto que trata a Caixa de Edgeworth. Trata-se do conjunto de trocas possíveis e alocações eficientes. A “Caixa” do exemplo descrito se encontra na Figura 6-10. Módulo 6 – Equilíbrio Concorrência Perfeita PG Eng.Econômica 2016 Pg.6-7/26 A questão é: com a troca, a alocação resultante B é mais eficiente que a alocação inicial A? A resposta depende do formato das curvas de indiferença para João e para Maria. Na Figura 6-11 estão traçadas curvas de indiferença para ambos os consumidores e incluem os dois pontos em questão, o inicial A e o final B. Qualquer troca que leve a um ponto fora da área sombreada reduzirá o bem-estar de, pelo menos, um dos consumidores (pois se estará mais próximo de sua origem). O ponto B corresponde a uma troca mutuamente vantajosa, porque se encontra numa curva de indiferença mais alta para ambos. O fato de a troca ser vantajosa para ambos não significa que ela seja necessariamente eficiente. Por quê? Porque as TMgS são iguais quando as curvas de indiferença são tangentes, neste caso, a alocação é eficiente. Aproveitando ainda a figura, o que se pode dizer dos pontos C e D? Ambos são pontos eficientes. O que se pode dizer a mais é que em C Maria é melhor negociadora (sua curva de indiferença é mais alta), no ponto D, João é melhor negociador. A junção na “Caixa de Edgeworth” de todos os pontos do tipo de C e de D forma a “Curva de Contrato”, que é o conjunto das tangências das curvas de indiferença de ambos consumidores, ou ainda, descreve todas as alocações eficientes no sentido de Pareto (Figura 6-12). Módulo 6 – Equilíbrio Concorrência Perfeita PG Eng.Econômica 2016 Pg.6-8/26 Observe que a “Caixa” nos dá uma ferramenta para analisar trocas eficientes entre dois consumidores, mas a alocação final depende muito da capacidade de negociação de cada um deles. Em um mercado competitivo é um pouco diferente. Existem muitos vendedores e muitos compradores, esta capacidade de negociação perde a validade, então se considera o automatismo do processo onde todos os indivíduos são tomadores de preço. O resultado é que os agentes vão ao mercado escolher a quantidade a comprar (ou vender) àquele preço. No nosso exemplo simplificado anterior, Maria pagaria 3 Roupas para obter 1 Alimento. A maneira pela qual o mercado leva à trocas eficientes quando os agentes são tomadores de preço leva em conta a Linha de Preço, reta de inclinação negativa que descreve o equilíbrio em que a quantidade demandada é igual à quantidade ofertada. Ainda explorando nosso exemplo, imaginemos que tal linha tem inclinação -1 que indica que o preço é igual para ambas as mercadorias e se pode trocar uma pela outra. Como mostra a Figura 6-14, se João compra 2R e vende 2A e Maria compra 2A e vende 2R o mercado está na situação ótima, favorável para ambos quando comparado com a situação A inicial. Perceba que para chegar à alocação eficiente João e Maria tiveram que determinar apenas a quantidade a trocar. Maria Módulo 6 – Equilíbrio Concorrência Perfeita PG Eng.Econômica 2016 Pg.6-9/26 reduziu sua TMgS (a demanda de Alimento de cada Maria é muito maior que a vontade de vender de cada João, então o preço do alimento sobe relativo ao preço da Roupa) e João subiu sua TMgS até que ambas fossem iguais a -1 para se chegar ao ponto eficiente. Observe que os preços absolutos não importam, interessa os preços relativos. Como indica a Figura 6-15, aos preços ajustados a quantidade demandada de Alimento é igual à quantidade ofertada de Alimento, o mesmo se passa com Roupa. Então, nestas condições, nos encontramos em equilíbrio competitivo, para um e para outro bem a quantidade ofertada é igual a quantidade demandada. Esta dinâmica de mercado está sumarizada no exemplo da Figura 616. De início os preços dos dois bens são diferentes e as TMSs dos dois consumidores também. Para o exemplo, João não deseja trocar se fossem apenas os dois consumidores. Maria sim estaria disposta à troca, mas com quem? Então existe um excesso de Roupa e uma escassez de Alimento. A dinâmica de mercado atua assim: diminui o preço do bem em excesso, aumenta o preço do bem escasso. O processo segue até que as TMSs se igualem, o que na figura ocorre no ponto C (mas, lembre-se da Figura 6-11, outros pontos poderiam ser eficientes!). Módulo 6 – Equilíbrio Concorrência Perfeita PG Eng.Econômica 2016 Pg.6-10/26 Observe que se o mercado só tivesse dois agentes (João e Maria) o equilíbrio estaria indeterminado, são vários os pontos eficientes de Pareto, a escolha de um específico dependeria da capacidade maior ou menor de negociação dos agentes. O mercado se ajusta automaticamente porque existem muitos Joãos e muitas Marias, no jargão de economês, se ajusta pela “mão invisível” do mercado (como dizia Adam Smith) de modo que a economia aloca recursos automaticamente. Este ajuste automático do mercado tem embutida uma ideia normativa de menos intervenção nos mercados. Fica a questão: poderia ser necessária (ou desejável) uma intervenção para aumentar a competitividade? Discutiremos isto futuramente. Na Figura 6-17 está descrito o que é conhecido como o 1º. Teorema do Bem-Estar: diz em última análise que se transações são feitas em mercado competitivo, então transações vantajosas são realizadas e o equilíbrio de mercado será eficiente no sentido de Pareto. Resta verificar se equilíbrios em concorrência perfeita que são eficientes podem ser ou não socialmente justos. É desta relação entre eficiência e equidade que trataremos a seguir. Módulo 6 – Equilíbrio Concorrência Perfeita PG Eng.Econômica 2016 Pg.6-11/26 Uma alocação eficiente também é necessariamente equitativa? Se de um lado o conceito de Pareto dá conta da eficiência nos mercados, de outro, não existe consenso entre economistas e outros cientistas sociais com relação à melhor forma de definir e quantificar equidade. Ainda assim dedicamos esta seção a esta questão. Na Figura 6-19 redesenhamos a “Curva de Contrato” em termos de Utilidade e aproveitamos os resultados do exemplo que discutimos ao longo deste módulo. Definimos Fronteira de Possibilidade de Utilidade como a curva que indica os níveis de satisfação que duas Módulo 6 – Equilíbrio Concorrência Perfeita PG Eng.Econômica 2016 Pg.6-12/26 pessoas podem alcançar através de trocas que levem a um resultado eficiente que, sabemos, está situado sobre a curva de contrato e onde as alocações são eficientes. Na figura o ponto D indica menos utilidade para João e menos utilidade para Maria, portanto, é ponto ineficiente. Os pontos extremos da curva são as condições extremas em termos de melhor e pior utilidade para cada agente, ainda que continue sendo eficiente. Na Figura 6-20 o ponto de alocação D pode ser mais equitativo que o ponto C, pois a distribuição é menos desigual. Portanto, uma alocação ineficiente pode ser mais equitativa. Como analisamos os pontos extremos da curva são eficientes, mas extremamente desiguais. Finalmente observe, por exemplo, o ponto B, assumindo que ele representa igual utilidade para João e para Maria. Ele também é eficiente já que se encontra sobre a curva de contrato. A conclusão é clara, um equilíbrio competitivo leva a resultado eficiente que pode ou não ser equitativo. Na Figura 6-21 estão listadas as quatro visões de equidade. Como já antecipamos, não existe consenso sobre a melhor forma de defini-la. Na mesma figura está postulado o 2º. Teorema do Bem-Estar, que, em resumo, diz que a equidade não precisa estar em contradição com a eficiência, resultado que intuitivamente já chegamos. Um equilíbrio tido como equitativo pode ser alcançado por meio de uma possível distribuição de recursos que não gerará ineficiências. Na prática, veremos que existem tradeoffs sim !... Módulo 6 – Equilíbrio Concorrência Perfeita PG Eng.Econômica 2016 Pg.6-13/26 Por ora, vejamos as condições de validade do 2º. Teorema. Na Figura 6-22 é mostrado um exemplo que nem todas as soluções eficientes podem ser equilíbrio de mercado. O ponto x na figura é eficiente, mas não é equilíbrio. Dada a linha de preço, o ponto y seria escolhido por A (curva de indiferença mais alta). As condições do 2º. Teorema do Bem-Estar: (1) A utilidade deve ser monotonicamente convexa (o contraexemplo está na figura); (2) Deve haver eficiência na produção com interligação dos vários elementos da oferta e da demanda (veremos brevemente). Módulo 6 – Equilíbrio Concorrência Perfeita PG Eng.Econômica 2016 Pg.6-14/26 O que se encaminha nesta seção é a eficiência dada pelo equilíbrio geral nas(os): 1) Trocas (TMgS, taxa marginal de substituição) 2) Fatores de produção ou insumos (TMgST, taxa marginal de substituição técnica) 3) Produção (TMgT, taxa marginal de transformação) De início vamos aproveitar para o mercado de fatores ( K e L , capital e trabalho) a “Caixa de Edgeworth”, ainda considerando o exemplo que perpassa todo este módulo, mas agora com foco em mão de obra e capital. Mantemos as hipóteses simplificadoras que um grande número de agentes possui e vendem insumos para conseguir renda, e esta é totalmente gasta em Alimento e Roupa, portanto a ligação entre oferta e demanda se dá pela renda e pela despesa. Com a hipótese de equilíbrio competitivo podemos usar os achados na Figura 5-16 relacionando custo mínimo na produção e isoquanta: PMg L w = PMg K r e w = TMgSTLK , o que r significa que o equilíbrio competitivo é eficiente na produção. O exemplo na “Caixa” para o mercado de fatores é similar ao mercado de trocas. Na Figura 6-25 a partir de certa alocação A de fatores de produção se pode deslocar para pontos B ou C, ambos eficientes. A conclusão é a mesma do mercado de Módulo 6 – Equilíbrio Concorrência Perfeita PG Eng.Econômica 2016 Pg.6-15/26 trocas: mercados competitivos levam a um ponto de produção eficiente. O que estamos dizendo agora é que não basta a eficiência acontecer no mercado de fatores, ela deve ocorrer simultaneamente no mercado de trocas. No mercado de fatores a curva de contrato, como no mercado de trocas, pode ser representada por gráficos de utilidade, que na esfera da produção estendemos o conceito para a Fronteira de Possibilidades de Produção (FPP). A seguir veremos uma metáfora que oferece a intuição econômica para FPP e iniciamos a discussão das vantagens comparativas. Consideramos um exemplo da metáfora da economia Robinson Crusoé (RC) e SextaFeira (SF), ao mesmo tempo produtores e consumidores para os produtos coco (C) e peixe (F). Suponha conhecidos os gráficos de produção de RC e SF como na Figura 6-26. Comparando as TMgT de ambos os produtores podemos ver que RC tem vantagem comparativa no custo de oportunidade de produzir peixes (o custo de oportunidade de um peixe a mais é abrir mão de 2/3 de cocos, enquanto para SF o mesmo custo é de 2 cocos), enquanto SF tem vantagem comparativa na produção de cocos (raciocínio similar e dual). Então, considerando especificamente peixes, RC até 30 unidades tem menor custo de oportunidade de especialização, de modo que numa produção conjunta até este limite vale a pena usar a produção de RC, daí para frente só pode produzir peixes se SF produzir. É o gráfico destas circunstâncias que se mostra na Figura 6-27. Módulo 6 – Equilíbrio Concorrência Perfeita PG Eng.Econômica 2016 Pg.6-16/26 No ponto (F = 0, C = 70) ambos só produzem cocos e nenhum peixe. Qualquer peixe no limite até 30 unidades deve ser produzido por RC e para além deste limite de peixes só se SF produzir. O que se encaminha é o formato côncavo da FPP em relação à origem ao generalizarmos este raciocínio em muitos RCs e SFs, como também mostra a figura. Qualquer ponto da FPP a produção é factível e eficiente, pois explora a vantagem comparativa no custo de oportunidade de produzir. Observe que algum ponto interior à FPP ainda é factível, mas não é eficiente (se produz menos de um e de outro bem relativo à FPP!). Por outro lado, um ponto exterior à FPP não é possível produzir os bens. Outra forma de verificar o formato côncavo da FPP é observando que a TMgT, que é a inclinação da FPP em cada ponto, é crescentemente negativa, como na Figura 628, pois cada vez que se aumenta a produção de um bem, aumenta o custo de oportunidade de especialização. Neste ponto se encaminha o equilíbrio em todos os mercados. Por quê? Porque os bens devem ser produzidos a custo mínimo, como vimos no Módulo 5, porém isto não basta. A produção deve oferecer mercadorias que os consumidores estejam dispostos a comprar. Então não apenas cada mercado deve estar em equilíbrio, mas também estarão em equilíbrio entre si! Desta forma a oferta (TMgT da FPP) iguala a demanda (TMgS da curva de indiferença na linha de preço). A seguir veremos um exemplo para fixar a afirmação de equilíbrio entre todos os mercados. No exemplo da Figura 6-29 considere na partida TMgT = 1 e TMgS = 2, ou seja, os consumidores trocariam duas unidades de Roupa por uma de Alimento, o custo de produzir uma unidade de Alimento é uma unidade de Roupa. Então a Módulo 6 – Equilíbrio Concorrência Perfeita PG Eng.Econômica 2016 Pg.6-17/26 oferta de Alimento está baixa em relação à demanda, e a de Roupa está alta em relação à demanda. A dinâmica de mercado diminui TMgS (demanda menos unidades de Roupa por Alimento) e aumenta TMgT (produz mais Alimento) até, digamos, TMgS = TMgT = 1.5, correspondente ao ponto C na figura. Assim sendo, no mercado de trocas TMgS = PA PR no equilíbrio, no mercado de produção PA = CMg A e PR = CMg R no equilíbrio, o que leva ao equilíbrio também entre estes dois mercados: TMgT = CMg A PA = = TMgS . CMg R PR As equações de equilíbrio nos mercados quanto a demanda e a oferta estão listados na Figura 6-30. O ajustamento nos mercados pode ser mais bem compreendido pela sequência mostrada na Figura 6-31. Suponha que se está sobre a FPP com a alocação A. Neste ponto certamente os produtores estão usando insumos eficientemente (A está sobre a FPP), mas a relação entre preços que determina a TMgT tangente à FPP em A, também tangencia a curva de indiferença U 2 em B, ou seja, dos consumidores. Então estaria criado o paradoxo: em A o consumidor não compra (pois teria uma curva de indiferença mais alta), em B o produtor não produz (pois o ponto de alocação é externo à FPP, portanto a produção não é factível). O ajustamento nos preços leva a uma relação entre preços que ajusta a produção ao consumo, no ponto de alocação C na figura. A conclusão é que quando tanto o mercado de produção quanto o de consumo são competitivos a produção será eficiente, situação só alcançável quando TMgT = TMgS, ou seja, o ponto de tangência é único entre FPP e curva de indiferença. Esta situação determina que o benefício marginal de produzir uma unidade a mais é igual ao custo marginal de produzir uma unidade a mais. Módulo 6 – Equilíbrio Concorrência Perfeita PG Eng.Econômica 2016 Pg.6-18/26 Aproveitando o momento que discutimos o equilíbrio geral entre os mercados, vamos abrir um breve parêntesis e vejamos um exemplo quantitativo de haver vantagem comparativa e ganhos de comércio entre países. Suponha dois países, Holanda e Itália, ambos podem produzir queijo e vinho segundo a tabela abaixo: Hs/dia de Queijo Vinho mão de obra (1 lb) (1 gl) Holanda 1 2 Itália 6 3 A Holanda tem vantagem absoluta na produção de ambos os produtos. No entanto, o que determina seu comportamento é a vantagem comparativa relativa, no sentido que ela pode se concentrar na produção do produto que ela detém tal vantagem. A Holanda tem vantagem comparativa na produção de queijo, pois o custo do seu queijo é 0,5 do custo do seu vinho. Por seu lado, A Itália tem vantagem comparativa na produção de vinho, uma vez que o custo do seu vinho é 0,5 vezes o custo do seu queijo. Sem comércio a Itália poderia produzir e consumir cestas como (12 lbs, 6 gls) ou (24 lbs, 0 gls), etc. A Itália sem comércio poderia produzir e consumir (3 lbs, 2 gls) ou (0 lbs, 8 gls), etc. Com comércio, supondo, por simplicidade, PQ = PV , preços iguais de unidades de queijo e vinho, se Holanda se especializa e produz (24 lbs, 0 gls), vende 6 lbs para Itália e compra 6 gls, então sua nova dotação será (18 lbs, 6 gls); se Itália se especializa e produz (0 lbs, 8 gls), vende 6 gls para Holanda e compra 6 lbs, então sua nova dotação será (6 lbs, 2 gls). É fácil ver comparando as dotações marcadas que ambos, Holanda e Itália, saem ganhando ao comerciar explorando suas vantagens comparativas. Módulo 6 – Equilíbrio Concorrência Perfeita PG Eng.Econômica 2016 Pg.6-19/26 Na Figura 6-33 está ilustrado o ganho de comércio do ponto de vista holandês. No exemplo ilustrado, o ponto D não seria factível por estar exterior à FPP da Holanda, mas com comércio internacional passou a ser factível. A conclusão é que os ganhos de comércio levam a uma fronteira expandida das possibilidades de produção2. No entanto, devemos admitir, ajustes podem ser necessários. Com a redução da produção de vinho na Holanda, trabalhadores do setor deverão ser remanejados, o que não é imediatamente trivial! Ou seja, nem todos saem ganhando com o livre comércio. Mencionamos no 2º. Teorema do Bem-Estar que existiam tradeoffs. Eles começam a aparecer ... Juntemos todas as partes do equilíbrio geral para mercados competitivos. As Figuras 6-34 e 6-35 resumem isto, ainda para o nosso exemplo recorrente e simples de João e Maria, Alimento e Roupa, capital e trabalho e premissas simplificadores do livre comércio. No mercado de trocas a eficiência é alcançada quando J M TMgS AR = TMgS AR . Os consumidores conseguem isto porque para um mercado competitivo: A relação entre globalização e vantagens comparativas é ilustrada no quadro do anexo ao final deste módulo mostrando detalhes da produção de Ipod pela Apple no ano de 2005. 2 Módulo 6 – Equilíbrio Concorrência Perfeita J TMgS AR = Pg.6-20/26 PG Eng.Econômica 2016 PA M = TMgS AR , a linha de preço tangencia em mesmo ponto as curvas de utilidade PR dos consumidores. No âmbito da produção a eficiência no uso dos insumos acontece quando R , a taxa TMgSTLKA = TMgS LK marginal de substituição técnica é igual para todas as mercadorias. Consegue-se isto porque cada produtor maximiza lucros na proporção dos preços relativos dos insumos: w R . = TMgS LK r Os insumos devem ser escolhidos na proporção tal que se alcance a eficiência no mercado do produto TMgSTLKA = TMgT AR = TMgS AR , onde o que se produz é consumido. Esta igualdade é alcançada porque os produtores maximizam que lucros aumentam os níveis de produto até que se igualem preços e custos marginais: PA = CMg A , PR = CMg R , ou ainda TMgT AR = CMg A PA = . Da mesma CMg R PR forma, os consumidores maximizam sua satisfação se PA = TMgS AR , portanto PR TMgS AR = TMgT AR , ou seja, existe coordenação eficiente entre produção e consumo, ou, dito de outra forma, eficiência requer que os bens sejam produzidos segundo combinações e custos que correspondam ao que as pessoas estejam dispostas a pagar por eles. Ou seja ainda, e voltando ao começo: Existe o equilíbrio geral em trocas (TMS), insumos (TMgST) e produtos (TMgT) e os equilíbrios estão interligados. Módulo 6 – Equilíbrio Concorrência Perfeita PG Eng.Econômica 2016 Pg.6-21/26 Dito de outra forma, o equilíbrio geral é a prerrogativa dos preços nos diversos mercados tornar a quantidade demandada igual à quantidade ofertada em cada mercado e entre todos eles. Os agentes econômicos são, pois, todos, tomadores de preços. Assim é o mercado puramente competitivo. Aquele comportamento quase mágico embutido na teoria do equilíbrio geral (a “mão invisível” do mercado de Adam Smith) sofre críticas, assim como se acumulam algumas evidentes razões que levam os mercados a falharem. Esta seção se dedica a formular uma agenda destas razões que precisaremos detalhar nos módulos 7 e 8. Módulo 6 – Equilíbrio Concorrência Perfeita PG Eng.Econômica 2016 Pg.6-22/26 Existem ao menos quatro razões que levam a distorções no mercado competitivo. A primeira é o poder de mercado que se traduz por monopólio (único vendedor) e por monopsônio (único comprador). Como age o monopolista (ou monopsonista)? Quais as consequências de sua ação? Na Figura 6-38 estão relacionados alguns exemplos e consequências desta distorção. Uma segunda fonte de falha do mercado competitivo é a informação incompleta. Alguns dos agentes sabem mais que outros agentes, então o requisito de livre mobilidade no mercado fica comprometida. Uma terceira razão de falha se dá por externalidades. Estas podem criar custos ou mesmo benefícios extras para alguns, e mais uma vez aqui o equilíbrio obtido pode não ser eficiente. Finalmente os mercados podem falhar pela existência dos bens públicos, pode se tornar difícil medir consumo ou também difícil prover em quantidade suficiente certos bens. O que une todas estas falhas de mercado é a possível ineficiência, ou na alocação de recursos, ou no equilíbrio alcançado. Serão tratados em detalhes nos três últimos módulos3. Aqui estão apenas apontadas as razões porque os mercados falhas. Os detalhes específicos de cada caso são tão importantes que serão objeto de estudo dos módulos finais (7, 8 e 9). 3 Módulo 6 – Equilíbrio Concorrência Perfeita ANEXO: PG Eng.Econômica 2016 Pg.6-23/26 Módulo 6 – Equilíbrio Concorrência Perfeita PG Eng.Econômica 2016 Pg.6-24/26 Problemas Propostos: 6.1) Explique em poucas palavras: a) Mecanismo de realimentação no equilíbrio geral b) Eficiência nas trocas no sentido de Pareto c) Relação entre Linha de Preço e Taxa Marginal de Substituição d) 1º. e 2º. Teoremas do Bem-Estar e) Quatro visões de equidade f) Eficiência no uso de insumos g) Fronteira de Possibilidades de Produção h) Equilíbrio Geral em todos os mercados i) Por que existem ganhos com o comércio? 6.2) Explique em poucas palavras: a) Concorrência perfeita b) Monopólio c) Monopsônio d) Oligopólio e) Oligopsônio f) Concorrência monopolista 6.3) Suponha que ouro ( O ) e prata ( P ) sejam substitutos perfeitos um do outro, pelo fato de ambos servirem como garantia contra a inflação. Suponha, também, que a oferta de ambas as mercadorias seja fixa no curto prazo ( QO = 50; QP = 200 ), e que as demandas de ouro e prata sejam obtidas por meio das seguintes equações: PO = 850 − QO + 0,5 PP (1) e PP = 540 − QP + 0,2 PO , (2) onde PO e PP são, respectivamente, o preço do ouro e o da prata. a) Quais são os preços de equilíbrio do ouro e da prata? b) Suponha que uma nova descoberta de ouro aumente a quantidade ofertada em 85 unidades. De que forma tal descoberta influenciará os preços das duas mercadorias? c) Explique a lógica econômica da variação de preços do item anterior. 6.4) Considerando um mercado com dois bens, bem 1 e bem 2, se as funções de demanda e de oferta do bem 1 são: Módulo 6 – Equilíbrio Concorrência Perfeita PG Eng.Econômica 2016 Pg.6-25/26 S1 = 0,8 p1 D1 = 20 − 0,2 p1 − p 2 + 0,1R , onde R = $1000 é a renda disponível do consumidor e o preço do bem 2 é p 2 = $20 . Responda: a) Ache o preço de equilíbrio do bem 1, b) Ache a quantidade de equilíbrio do bem 1. c) O bem 1 pode ser um bem inferior? Justifique. 6.5) Utilize a metáfora da economia Robinson Crusoé para demonstrar as vantagens do livre comércio via vantagens comparativas. Considere dois bens, coco e peixe, dois produtores e consumidores, RC e SF. Considere os gráficos de produção de RC e SF com retas decrescentes, respectivamente, passando por [(0 peixe, 20 cocos) ; (30 peixes, 0 cocos)] e por [(0 peixe, 50 cocos) ; (25 peixes, 0 cocos)]. Ache a Fronteira de Possibilidade de Produção de coco e peixe. 6.6) Sejam dois países, Holanda e Itália, ambos podem produzir queijo e vinho segundo a tabela abaixo: Hs/dia de Queijo Vinho mão de obra (1 lb) (1 gl) Holanda 1 2 Itália 6 3 a) Se não houver comércio, indique algumas possibilidades de produção de cada país; b) Por que a Holanda tem vantagem absoluta de produção? c) Se houver comércio, mostre como ambos os países podem ganhar. 6.7) Mostre as relações que representam o equilíbrio geral nos mercados de trocas, de insumos e de produtos. O que relaciona tais mercados em termos de eficiência econômica? 6.8) Cite quatro razões porque os mercados falham. 6.9) Use a Caixa de Edgeworth para explicar eficiência econômica no mercado de trocas para dois consumidores e dois bens. Use a “Caixa” para explicar no mesmo cenário a eficiência na produção. 6.10) Supondo dois bens, use FPP, curvas de indiferença e linhas de preço para justificar o ajustamento nos mercado em direção ao equilíbrio geral. Módulo 6 – Equilíbrio Concorrência Perfeita PG Eng.Econômica 2016 Pg.6-26/26 Respostas selecionadas Este é possivelmente o módulo mais conceitual, com menos respostas quantitativas. 6.1) a) (Figs 6-6,7) b) (Fig 6-9) c) (Figs 6-15,17) d) (Figs 6-17,21) e) (Fig 6-21) f) (Figs 6-24,25) g) (Figs 6-27,28) h) (Figs 6-34,35) i) (Figs 6-32,33) 6.2) a) (Fig 6-3) b) (Fig 6-3) c) (Fig 6-3) d) (Fig 6-4) e) (Fig 6-4) f) (Fig 6-4) 6-3) a) Ouro - $1.077,78; prata - $555,56 b) Ouro - $983,33; prata - $536,66 c) Com maior oferta de ouro (desloca a curva de oferta para a direita) ele deve abaixar mais o preço (abaixa 8,8%). A prata não desloca sua curva de oferta, mas é bem substituto ao ouro e de menor valor, então deve abaixar um pouco por ter no mercado mais (e mais valiosos) meios de proteção contra a inflação (abaixa 3,4%). 6.4) a) $100 b) 80 c) Não pode. Por quê? 6.5) (Figs 6-26,27) 6.6) (Fig 6-32 para todos) 6.7) (Figs 6-30,34,35) 6.8) (Figs 6-38,39) 6.9) (Figs 6-11,14,15,25) 6.10) (Fig 6-31) Módulo 7 – Monopólio e Monopsônio PG Eng.Econômica 2016 Pg.7-1/29 Módulo 7 – Monopólio e monopsônio Conceitos neste módulo: monopólio, otimização monopolista, markup, poder de monopólio, índice de Lerner, peso morto, captura de renda, regulação, monopólio natural, monopsônio, poder de monopsônio. Os módulos estão distribuídos assim: 1 – Preferências do consumidor 2 – Restrições orçamentárias e demanda individual 3 – Elasticidades e incertezas 4 – A oferta no curto prazo 5 – A oferta no longo prazo 6 – Equilíbrio em concorrência perfeita 7 – Monopólio e monopsônio 8 – Competição monopolista e oligopólio 9 – Porque os mercados falham Em Anexo: problemas propostos respostas selecionadas Módulo 7 – Monopólio e Monopsônio PG Eng.Econômica 2016 Pg.7-2/29 Neste e no próximo módulo vamos analisar formações econômicas onde não vigoram os preceitos do mercado livre e competitivo. O que causa e quais as características do monopólio? E do monopsônio? É o que veremos aqui. Vimos que em concorrência perfeita a empresa se confronta com uma curva de demanda horizontal e escolhe a quantidade q 0 a produzir onde CMg = RMg = CM = P, ou ainda, a empresa é tomadora de preço do mercado. No longo prazo seu lucro econômico é zero (senão ela sai Módulo 7 – Monopólio e Monopsônio PG Eng.Econômica 2016 Pg.7-3/29 do mercado!) em um mercado onde existe grande número de compradores e de vendedores, o produto é homogêneo e circula informação completa entre os agentes. No monopólio a situação muda. O mercado é formado por apenas um vendedor, mas vários compradores, não existem bens concorrentes substitutos e existe barreira à entrada de novos vendedores. Desta forma, não existe rigorosamente uma curva de oferta e a curva de receita média do monopolista é a curva de demanda do mercado. Porém, ele não pode colocar qualquer preço no produto. Como ele é maximizador de lucro, ele decidirá produzir na quantidade que seu custo marginal iguala sua renda marginal. Desta forma, o que caracteriza o monopolista é que ... P > RMg se a demanda é, como de costume, descendente. Exemplo1: Considere os casos em que a demanda é descendente, reta ( P = A − BQ ) ou parábola ( P = A − BQ 2 ) e prove a característica do monopolista (A e B são constantes positivas). Respostas: Para a reta, a receita é PQ = ( A − BQ)Q = AQ − BQ 2 , então RMg = d ( PQ) = A − 2 BQ . Realmente A − BQ > A − 2 BQ , ou seja, P > RMg. dQ Para a parábola, a receita é: PQ = ( A − BQ 2 )Q = AQ − BQ 3 , então RMg = d ( PQ) = A − 3BQ 2 . Realmente A − BQ 2 > A − 3BQ 2 , ou seja, P > RMg. dQ Módulo 7 – Monopólio e Monopsônio PG Eng.Econômica 2016 Pg.7-4/29 Exemplo2: Se a receita média do monopolista é P = 6 − Q , extraia a tabela com quantidade, preço, receita total, receita marginal e receita média. d ( PQ) = 6 − 2Q ; Respostas: Receita total: PQ = 6Q − Q 2 ; Receita Marginal: RMg = dQ Receita média = (Receita total)/Q = 6 - Q A tabela com os resultados do Exemplo 2 se encontra na Figura 7-4. Na Figura 7-5 estão traçados os itens da tabela do Exemplo 2. Observe alguns fatos: a) O máximo da receita total poderia ser obtido algebricamente: dRT d = 0= (Q(6 − Q)) , dQ dQ então Q = 3. b) Se RMg > 0 a receita total aumenta com a quantidade, mas se RMg < 0 a receita total diminui com a quantidade. c) É marcante o fato que para o monopolista a curva de Receita Marginal está SEMPRE abaixo da curva de Demanda, para qualquer nível de produção. Módulo 7 – Monopólio e Monopsônio PG Eng.Econômica 2016 Pg.7-5/29 O monopolista é maximizador, ele “galga” na curva de demanda até o ponto que lhe ofereça quantidade que lhe traga lucro máximo. O lucro máximo ocorre quando RMg = CMg, pois, por definição, π (Q) = R (Q) − C (Q) (relembre revendo slide 4-24!), então para achar o máximo derivamos e igualamos a zero: dπ dR dC = 0= − , então RMg = dQ dQ dQ dR dC = = CMg. Ou seja, problema do monopolista é maximizar a diferença entre dQ dQ receita e custo. A visão econômica do procedimento característico do monopolista é mostrada na Figura 7-6. A sua escolha ótima (Q*, P*) se dá na confluência das curvas RMg e CMg. Observe que neste caso P > RMg ou CMg. Se ele escolhesse Q1 < Q * , o preço seria maior, porém a área em laranja na figura representa lucro perdido por deixar de ganhar por produzir pouco, com preço acima de seu custo marginal. Da mesma forma, se ele escolhesse Q2 > Q * , porém a área em azul na figura representa lucro perdido por produzir demais, com preço acima do seu custo marginal. Exemplo3: Se o custo de produção para o monopolista é C (Q) = 50 + Q 2 e se a curva de demanda é P = 40 − Q , ache quantidade e preço ótimos para o monopolista. Respostas: Na Figura 7-7. Módulo 7 – Monopólio e Monopsônio PG Eng.Econômica 2016 Pg.7-6/29 Note que RMg = 40 – 2(10) = 20, ou seja, como se esperava P* > RMg. Na Figura 7-8 estão mostrados em detalhes cada um dos elementos custo, receita e lucro do Exemplo 3. As retas tracejadas representam as tangentes no ponto ótimo, ou seja, C (Q) 50 + Q 2 = RMg e CMg ótimos. Observe ainda que CM = . Observe mais ainda que o Q Q lucro nada mais é do que a receita total reduzida do custo total. Módulo 7 – Monopólio e Monopsônio Pg.7-7/29 PG Eng.Econômica 2016 Na Figura 7-9 está representado graficamente o lucro resultante na área sombreada do mesmo exemplo. Observe que tal área é delimitada verticalmente pelo preço do produto acima, e pelo custo marginal abaixo. Horizontalmente é limitada pelo valor de quantidade ótima para o monopolista. Markup é um conceito econômico que indica quanto do preço do produto está acima do seu custo de produção e distribuição, ou seja, a diferença entre o custo de um bem ou serviço e seu preço de venda. Um markup é adicionado ao custo total incorrido pelo produtor com o propósito de gerar lucro. A questão a se analisar é o tamanho do markup de um monopolista e como ele se altera quando a elasticidade da demanda ao preço se altera. Na Figura 7-10 se apresenta uma regra prática para a determinação de preço do monopolista. Sabemos que a renda marginal é ∆ R ∆ ( PQ) = . Ela ∆Q ∆Q pode ser decomposta em dois componentes: (1) produção de uma unidade extra a preço P: (1)(P); (2) como a demanda é decrescente, a venda RMg = Módulo 7 – Monopólio e Monopsônio Pg.7-8/29 PG Eng.Econômica 2016 daquela unidade extra resulta em pequena queda do preço em todas as unidades vendidas: Q( ∆P ∆P ) . Então se reescreve a receita marginal Q( ) + (1)( P ) . A elasticidade preço da ∆Q ∆Q P − CMg 1 P ∆Q = − ) , então considerando que CMg = RMg obtemos demanda é E d = ( )( , P Ed Q ∆P onde o termo da esquerda é a expressão do markup. Explicitando na equação o preço, temos uma regra prática de determinar o preço para o monopolista: P = CMg . Esta relação 1 + (1 E d ) deixa claro que o monopolista cobra preço maior que custo marginal, mas fica limitado pela elasticidade da demanda. Se a demanda é elástica ele cobra preço próximo ao custo marginal e a situação se aproxima de mercado competitivo. Se a demanda é inelástica, o monopolista sai do mercado ( E d muito baixo e negativo, então P= 1 Ed muito alto e negativo, então CMg inviável!). 1 + (1 E d ) Exemplo4: Se um monopolista se defronta com elasticidade E d = -0,5, desenvolva um raciocínio econômico intuitivo e conclua o que deve fazer o monopolista: produzir mais, produzir menos ou sair do mercado? Respostas: Detalhes em sala de aula (como Desafio para resposta no início da próxima aula). Ainda que fique para pensar em casa, a conclusão é que para o monopolista o melhor é que a demanda deva ser elástica, mas nem tanto! Na Figura 7-11 se analisam casos especiais envolvendo quantidade e preço. Mencionamos que mercado monopolista não apresenta curva de oferta. Para ilustrar, na figura são expostos os casos onde tanto se pode manter a quantidade ou Módulo 7 – Monopólio e Monopsônio PG Eng.Econômica 2016 Pg.7-9/29 manter o preço inalterado. Dito de outra forma, não existe propriamente uma relação entre P e Q. Em suma, para o monopolista, a quantidade ótima depende da curva de custos e o preço depende da elasticidade-preço da demanda. Uma nova evidência das distorções produzidas pelo monopólio puro é vista a seguir, quando analisamos o efeito da imposição de um imposto sobre a quantidade. Vimos que, na competição perfeita o preço tipicamente eleva-se menos que o imposto, pois produtores e consumidores dividem a carga fiscal. Com o monopólio, como mostra a Figura 7-12, o preço pode superar o imposto. Na Figura 7-13 se encontra um exemplo em que se o monopolista se defronta com uma elasticidade-preço da demanda de -2 e custo marginal constante, então P = = CMg 1 + (1 / E d ) CMg = 2CMg . Um imposto aumenta o custo marginal para CMg + t , então 1 + (1 /( − 2)) substituindo este valor na primeira equação: Módulo 7 – Monopólio e Monopsônio Pg.7-10/29 PG Eng.Econômica 2016 P = 2(CMg + t ) = 2CMg + 2t , ou seja, o imposto implica o preço absorver duas vezes o preço do imposto! Como o monopolista pode maximizar o lucro antes do imposto acontecer, então um imposto sobre o lucro não afeta as escolhas do monopolista do nível de produto, preço do produto ou demanda por insumos. Neste sentido, o imposto sobre os lucros é um imposto neutro. Já um imposto sobre quantidade eleva o custo marginal em t , então o imposto reduz o nível de produto de lucro máximo, provoca aumento no preço e reduz a demanda por insumos. Então o imposto sobre a quantidade é “distorção econômica”, o monopolista consegue repassar o imposto para os consumidores. Um caso de interesse é o comportamento de uma empresa com múltiplas instalações. Suponha uma empresa com a produção com duas fábricas, como mostra a Figura 7-14. Intuitivamente podemos imaginar que CMg 1 = CMg 2 , pois se não fosse assim a empresa redistribuiria a produção. Como o lucro é maximizado, RMg* = CMg1 = CMg 2 por superposição de efeitos. Exemplo5: Demonstre que a produção em duas fábricas de uma mesma empresa atende RMg* = CMg1 = CMg 2 . à relação Dica: o lucro é dado por π = PQT − C1 (Q1 ) − C 2 (Q2 ) Respostas: Use derivadas parciais e condição de maximização ∆π ∆π = = 0 ∆ Q1 ∆ Q2 Módulo 7 – Monopólio e Monopsônio Pg.7-11/29 PG Eng.Econômica 2016 Não precisa ser monopólio puro para se perceber poder de monopólio. O Exemplo 6 a seguir caracteriza o comportamento monopolista, mesmo que não se tenha o monopólio. Exemplo 6: Sejam quatro empresas A, B, C e D. Todas elas se defrontam com a curva de demanda de mercado Q = 50.000 − 20.000 P . Suponha, por simplicidade, que todas as empresas tenham comportamento idêntico e estejam produzindo no agregado 20.000 unidades por dia a $1,50 por unidade. (a) Qual a elasticidade-preço de demanda de mercado? (b) Qual a elasticidade-preço de demanda vista pela empresa A? (c) A empresa A tem comportamento monopolista ou não? P dQ dQ = 20.000 , então E d = ( )( ) = Respostas: (a) Para todas as empresas Q dP dP $1,50 )( − 20.000) = -1,5 20.000 (b) Como a empresa A é responsável por produzir 5.000 unidades, então ( $1,50 )(− 20.000) = -6 5.000 (c) A curva de demanda de A tem a forma Q A = A − BP , onde B = 20.000 e a empresa é responsável por produzir 5.000 unidades: 5.000 = A − (20.000)($1,50) , então E dA = ( A = 35.000 . Então a curva de demanda para A se reescreve assim: Módulo 7 – Monopólio e Monopsônio Q A = 35.000 − 20.000 P , ou Pg.7-12/29 PG Eng.Econômica 2016 seja, P = 1,75 − 1 QA . 20.000 A receita é 1 Q A2 e a receita marginal: 20.000 d ( PQ A ) 2 2 = 1,75 − Q A . Então RMg A = 1,75 − (5.000) = $1,25 < $1,50, ou dQ A 20.000 20.000 PQ A = 1,75Q A − seja, PA > RMg A = CMg A e a empresa A tem comportamento monopolista. O índice de Lerner mede o poder de monopólio e é baseado na relação de markup da Figura 7-10: P − CMg . O valor vai P desde 0 (empresa perfeitamente competitiva) até 1 (o maior poder de monopólio). Definido assim, L= também, L = − 1 , onde E d Ed é a elasticidade da empresa individual, e não do mercado. Como vimos, Se E d for alto, o markup será pequeno ( L → 0 ), o poder de monopólio é pequeno, enquanto se E d for pequeno, o markup será grande até o limite ( L → 1 ) e o poder de monopólio será grande. O quanto P > CMg , maior o poder de monopólio, como ilustra a Figura 7-17. Módulo 7 – Monopólio e Monopsônio PG Eng.Econômica 2016 Pg.7-13/29 Nas Figuras 7-18 e 7-19 estão ilustrados os casos particulares de supermercados e lojas de conveniência, ambos com valores típicos de elasticidade-preço da demanda, a fixação de preço pelo método prático e o poder de monopólio dado pelo índice de Lerner. Observe que para supermercados a demanda é mais elástica e seu poder de monopólio é mais baixo. Para o caso de lojas de conveniência, elas se defrontam com uma curva de demanda menos elástica, pois os clientes são menos sensíveis aos preços. Elas têm maior poder de monopólio que nos supermercados, o que não significa que elas geram mais lucro. Um exemplo similar às lojas de conveniência e mais aguçado são os jeans de marca. A elasticidade-preço da demanda é por volta de -2,5 e os preços são cobrados 50% a 100% acima da CMg. Módulo 7 – Monopólio e Monopsônio PG Eng.Econômica 2016 Pg.7-14/29 A elasticidade da demanda de uma empresa depende de três fatores: elasticidade da demanda de mercado, o número de empresas atuando no mercado e a interação entre as empresas. Quanto a demanda de mercado, a demanda da empresa será pelo menos tão elástica quanto a do mercado. Interessa o monopólio puro, vimos que a demanda da empresa monopolista será a demanda do mercado e seus possíveis concorrentes sofrem embarreiramento predatório. No entanto, podem acontecer barreiras naturais por: - patentes (nova droga descoberta); - decisão legal (serviço de correio brasileiro); - propriedade única de um recurso (pedágio de uma rodovia); Módulo 7 – Monopólio e Monopsônio PG Eng.Econômica 2016 Pg.7-15/29 - formação de um cartel (OPEP); - grande economia de escala (companhia de água e esgoto). A terceira condicionante da elasticidade que mencionamos é a interação entre as empresas. O leque de interação vai da concorrência agressiva e predatória até o conluio. Voltaremos a este assunto mais tarde. A questão central a ser respondida é: qual o efeito de monopólio sobre o bem-estar agregado dos vendedores e dos consumidores? Vale dizer, o monopólio é ou não eficiente no sentido de Pareto? Na Figura 7-22 está ilustrada a ineficiência do monopólio. A alocação ( QC , PC ) corresponde ao caso sem monopólio, e a alocação ( Qm , Pm ) é a do monopólio. A área A é a captura da renda pelo monopolista, mas a área B resulta ineficiente, pois representa os rendimentos perdidos porque os consumidores não adquirem e a área C corresponde à perda devido ao produtor não produzir. A eficiência seria máxima se os ganhos de troca fossem máximos. Na determinação do monopólio, no entanto, se vê que o consumidor perde as áreas A + B. O produtor ganha A – C. Então a diferença na troca é (A + B) – (A – C) = (B + C). Este é o peso morto ou perda líquida excedente. É, pois, um custo social do monopólio. Módulo 7 – Monopólio e Monopsônio PG Eng.Econômica 2016 Pg.7-16/29 Custos sociais do poder de monopólio vão além das ineficiências apontadas, por exemplo, com o rent seeking representado por lobbies, propaganda, apoios legais, etc. Um exemplo clássico: etanol de milho nos EUA. A dimensão do custo social do monopólio será tanto maior quanto for a transferência de renda dos consumidores para o monopolista. No entanto, sob certas circunstâncias, o monopólio é incentivado, como é o caso do monopólio natural que já citamos. Não se pode forçar o monopólio natural a apreçar com base do custo marginal, isto poderia obrigar a firma sair e destruir o mercado. Mas pode recorrer à regulação do monopólio puro ou natural. Na Figura 7-24 estão representados os efeitos de uma regulação. A alocação em A corresponde, como de costume, a que o monopolista faz e a curva de demanda é RM. Se o preço for limitado a P1 , a nova alocação se dá no ponto B e o monopolista ainda opera com P > CMg, mas o peso morto reduz da área ACE para a área BCD. A partir deste ponto vai se reduzindo o markup desejado pelo monopolista e pode surgir escassez. Significa que com regulação a curva de demanda se torna horizontal até o ponto B, para valores superiores de quantidade ela acompanha a curva RM. Módulo 7 – Monopólio e Monopsônio PG Eng.Econômica 2016 Pg.7-17/29 No caso de monopólio natural, que é decorrente de significativa economia de escala (observe na Figura 725 que CM está sempre decaindo, o que significa que CMg está sempre abaixo de CM), o cálculo que se faz da regulação de preço leva em conta uma taxa de retorno regulada s para tornar viável o monopólio, sem que ele tenha que encerrar suas atividades. Uma fórmula de cálculo é do tipo: Pr = CVM + ( D + T + sK ) Q . Porém, existem problemas em fixar s : (a) estoque de capital é difícil de ser avaliado; (b) um acordo difícil de ser negociado pode redundar em atraso na regulação. Os maiores detalhes de acordos com os monopólios são de natureza mais técnica e fogem ao escopo deste curso. Módulo 7 – Monopólio e Monopsônio PG Eng.Econômica 2016 Pg.7-18/29 No monopsônio a economia funciona como no monopólio, só que às avessas. Enquanto no monopólio temos a receita marginal e o custo marginal e médio determinando a alocação, no monopsônio temos o valor marginal (VMg), a despesa marginal (DMg) e a despesa média (DM). VMg é o benefício adicional pela compra de mais uma unidade do bem, DMg é o custo adicional de mais uma unidade e DM é o preço a pagar pela unidade do bem. Módulo 7 – Monopólio e Monopsônio Pg.7-19/29 PG Eng.Econômica 2016 No mercado competitivo, a curva VMg é a curva de demanda do bem, como de costume ela é negativamente inclinada porque o valor de uma unidade a mais diminui na medida em que se aumenta a quantidade. O comprador se defronta com o mercado competitivo já sabendo o preço ( sua P* = DMg = DM ), curva de demanda lhe dirá qual quantidade comprar. Do lado do vendedor competitivo, sua curva CMg lhe diz quanto produzir quando ele se defronta com a curva de preço dada ( P* = RMg = RM ). Estas características estão ilustradas na Figura 7-28. No monopólio (único vendedor) a curva de demanda era a curva RM do monopolista. Agora, no monopsônio (único comprador), a situação é dual, a curva de oferta é a curva de despesa média DM. Na Figura 7-29 estão representados os elementos do monopsônio. Note que o monopolista minimizava o custo líquido, aqui no monopsônio ela vai maximizar o benefício líquido. Se o benefício líquido é a diferença entre o valor e a despesa ( então BL = V − D ), ∆ ( BL) ∆ V ∆ D = − = 0 , então ∆Q ∆ Q ∆Q VMg DMg VMg = DMg . A curva de oferta é a curva DM e o monopsonista “galga” a curva de oferta até o seu ponto ideal, VMg = DMg . Então funciona como se não existisse uma curva de demanda. Exemplo7: A Figura7-29 sugere que a curva DMg está sempre acima da curva DM. Prove isto. Módulo 7 – Monopólio e Monopsônio PG Eng.Econômica 2016 Pg.7-20/29 Respostas: Supondo a oferta S = DM é a reta P = A + BQ , onde A e B são constantes positivas. A despesa é: D = P (Q) × Q = AQ + BQ 2 . Maximizando: dD = DMg = A + 2 BQ . De fato sempre DMg = A + 2 BQ > DM = A + BQ ! dQ A figura 7-30 sintetiza as características e a dualidade entre monopólio e monopsônio. Módulo 7 – Monopólio e Monopsônio PG Eng.Econômica 2016 Pg.7-21/29 O monopsonista tira proveito da curva de oferta ascendente com a curva DMg sempre maior que a curva DM (perceba que a situação é dual ao monopólio!). Quanto menos elástica for a oferta de mercado, maior é a diferença entre DMg e DM, e mais o monopsonista ganha no preço (maior o poder de monopsônio). Observe que quanto maior o número de compradores, mais elástica fica a oferta baixando o poder de monopsônio. Dito de outro modo, se compradores competirem, não é possível monopsônio, e o preço se eleva. Só se os compradores se unirem formando um truste que os preços não se elevam, e tudo funciona Módulo 7 – Monopólio e Monopsônio PG Eng.Econômica 2016 Pg.7-22/29 como um monopsônio puro (pense um conjunto de moradores de um condomínio ou de uma rua se unindo para comprarem juntos no CEASA!). Na Figura 7-33 está representada a relação entre elasticidade e monopsônio que mencionamos. Observe que para o monopsônio melhor é uma oferta inelástica, enquanto para o monopólio melhor é uma demanda um pouco elástica. O peso morto no monopsônio é dual ao do monopólio (como, aliás, quase tudo!). Na Figura 7-34 as áreas sombreadas marcadas como A e C representam as perdas do vendedor por causa do comprador monopsônico abaixar o preço de compra, a variação do excedente do vendedor é de –(A + C). O valor A que o vendedor perdeu por causa do preço mais baixo é transferido para o comprador. Por outro lado, o comprador deixa de comprar a área B por causa da quantidade mais baixa, então a variação no excedente do comprador é (A - B). Então A representa transferência do vendedor para o comprador, B e C representam ineficiências. A variação total é de –(A + C) + (A - B) = -(C + B), que é o peso morto do monopsônio, que mostra sua ineficiência. Módulo 7 – Monopólio e Monopsônio PG Eng.Econômica 2016 Pg.7-23/29 Um e outro, monopólio e monopsônio, como mostramos, via de regra, representam atentados contra a economia popular e o bem-estar social. Países do mundo ocidental tem uma legislação específica antitruste, como a americana listada na Figura 7-35. Sugerimos também que leiam no anexo a polêmica da Divisão Antitruste do Departamento de Justiça dos EUA e a Microsoft. Módulo 7 – Monopólio e Monopsônio PG Eng.Econômica 2016 Pg.7-24/29 Módulo 7 – Monopólio e Monopsônio PG Eng.Econômica 2016 Pg.7-25/29 Problemas Propostos: 7.1) Descreva em poucas palavras: j) Receitas em monopólio e decisão monopolista; k) Regra de markup para o monopólio; l) Efeito de imposto em monopólio; m) Poder de monopólio e elasticidade de demanda; n) Ineficiência do monopólio; o) Comparações monopólio versus monopsônio. 7.2) Uma empresa monopolista defronta-se com uma elasticidade de demanda constante de -2. A empresa tem custo marginal constante de $20 por unidade e estabelece um preço para maximizar o lucro. Se o custo marginal subisse 25%, o preço estabelecido pela empresa também subiria 25%? Explique. 7.3) A tabela a seguir mostra a curva de demanda com a qual se defronta um monopolista que produz com um custo marginal constante igual a $10. Preço Quantidade 27 24 21 18 15 12 9 6 3 0 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 a) Calcule a curva de receita marginal da empresa. b) Quais são, respectivamente, o nível de produção e o preço capaz de maximizar o lucro da empresa? Qual é o lucro da empresa? c) Quais seriam, respectivamente, o preço e a quantidade de equilíbrio em um setor competitivo? d) Qual seria o ganho social se esse monopolista fosse obrigado a praticar um nível de produção e preço competitivo? Quem ganharia ou perderia em consequência disto? 7.4) Uma empresa fabricante de medicamentos possui monopólio sobre um novo remédio patenteado. O produto pode ser produzido por qualquer uma dentre duas fábricas disponíveis. Os custos de produção para as duas fábricas são, respectivamente: CMg 1 = 20 + 2Q1 e CMg 2 = 10 + 5Q2 A estimativa de demanda do produto é P = 20 − 3(Q1 + Q2 ) . Qual seria a quantidade que a empresa deveria produzir em cada fábrica e a que preço ela deveria planejar vender o produto? Módulo 7 – Monopólio e Monopsônio 7.5) PG Eng.Econômica 2016 Pg.7-26/29 Um monopolista defronta-se com a curva de demanda P = 11 − Q , onde P é medido em dólares por unidade e Q é medido em milhares de unidades. O monopolista tem custo médio constante de $6 por unidade. a) Desenhe as curvas de receita média e de receita marginal e as curvas de custo médio e de custo marginal. Quais são, respectivamente, o preço e a quantidade capazes de maximizar os lucros do monopolista? Qual será o lucro resultante? Calcule o grau de poder de monopólio da empresa utilizando índice de Lerner. b) Um órgão de regulamentação governamental define um preço-teto de $7 por unidade. Quais serão, respectivamente, a quantidade produzida e o lucro da empresa? O que ocorrerá com o grau de poder de monopólio? c) Qual é o preço-teto que possibilita o nível mais elevado de produção? Qual será este nível de produção? Qual será o grau de monopólio da empresa para este preço? 7.6) O emprego de professores universitários pelas universidades poderia ser classificado como monopsônio. Suponha que a demanda por professores universitários seja w = 30.000 − 125n , onde w é o salário anual e n o número de professores contratados. A oferta de professores é dada por w = 1.000 + 75n . a) Se a universidade tirasse proveito de sua posição monopsonista, quantos professores ela contrataria? Que salário ela pagaria? b) Por outro lado, se as universidades se defrontassem com uma oferta infinita de professores para um salário anual de $10.000, quantos professores ela contrataria? 7.7) Considere os casos em que a demanda é descendente, reta ( P = A − BQ ) ou parábola ( P = A − BQ 2 ) e prove a característica do monopolista (A e B são constantes positivas). 7.8) Se a receita média do monopolista é P = 6 − Q , extraia a tabela com quantidade, preço, receita total, receita marginal e receita média. 7.9) Se o custo de produção para o monopolista é C (Q) = 50 + Q 2 e se a curva de demanda é P = 40 − Q , ache quantidade e preço ótimos para o monopolista. 7.10) (Desafio) Se um monopolista se defronta com elasticidade E d = -0,5, desenvolva um raciocínio econômico intuitivo e conclua o que deve fazer o monopolista: produzir mais, produzir menos ou sair do mercado? Módulo 7 – Monopólio e Monopsônio PG Eng.Econômica 2016 Pg.7-27/29 7.11) Demonstre que a produção em duas fábricas de uma mesma empresa atende à relação RMg* = CMg1 = CMg 2 . Dica: o lucro é dado por π = PQT − C1 (Q1 ) − C 2 (Q2 ) . 7.12) Sejam quatro empresas A, B, C e D. Todas elas se defrontam com a curva de demanda de mercado Q = 50.000 − 20.000 P . Suponha, por simplicidade, que todas as empresas tenham comportamento idêntico e estejam produzindo no agregado 20.000 unidades por dia a $1,50 por unidade. (a) Qual a elasticidade-preço de demanda de mercado? (b) Qual a elasticidade-preço de demanda vista pela empresa A? (c) A empresa A tem comportamento monopolista ou não? 7.13) A Figura7-29 sugere que a curva DMg está sempre acima da curva DM. Prove isto. 7.14) Faça uma análise gráfica demonstrando o que é o peso morto para o monopólio. Repita a análise para monopsônio. 7.15) Liste as fontes de poder do monopólio. Liste as fontes de poder de monopsônio. Para um e outro, qual o efeito sobre o bem-estar agregado de consumidores e produtores? 7.16) Uma empresa monopolista produz um bem q de acordo com a função custo dado por c (q) = q + q 2 . Suponha que a curva de demanda inversa do mercado seja p (q ) = 13 − q . a) Calcule a quantidade q produzida pelo monopolista. Qual o seu lucro? b) Suponha agora que, embora a empresa monopolista funcione em um mercado protegido contra a importação, esta tenha a opção de vender o seu bem no mercado exterior. Mais especificamente, o monopolista tem a opção de vender o bem no mercado doméstico, em que este enfrenta uma curva de demanda inversa dada por p d ( q d ) = 13 − q d (em $), mas tem também a opção de vender o bem no mercado internacional por um preço pi = $11 . O preço do bem no mercado internacional não depende da quantidade qi vendida pelo monopolista neste mercado. A função custo da firma continua sendo dada por c( q) = q + q 2 . A diferença é que q = q d + qi . Quanto a firma venderá no mercado doméstico e no mercado internacional? Qual o seu lucro agora? Módulo 7 – Monopólio e Monopsônio PG Eng.Econômica 2016 Pg.7-28/29 Respostas selecionadas 7.1) a) (slides 7-5,6) b) (slide 7-10) c) (slides 7-12,13) d) (slides 7-16,17) e) (slide 7-22) f) (slide 7-30) 7.2) (slide 7-10) P − CMg 1 CMg CMg = − = Como , então P = = 2CMg P Ed 1 + (1 E d ) 1 + (1 − 2) Então se CMg aumenta de 25%, o preço estabelecido pela empresa sobe também 25%. Vendo a situação pontualmente: Ponto 1: Se originalmente CMg = $20 , então P = ($20)(2) = $40 Ponto 2: Se CMg sobe 25%: CMg = ($20)(1,25) = $25, então P = ($25)(2) = $50, que é 25% maior que $40. Atenção: variações percentuais NÃO SÃO iguais a valores pontuais! 7.3) a) (slide 7-4,5) RMg = 27 − 3Q b) 5,67; $18,5 ; $48,16. c) $10; 11,3. d) (slide 7-22) Peso morto = $24,10 - Os consumidores ganham $72,27 - O lucro do monopolista se reduz a zero (perdem). 7.4) (slides 7-5,14) 0; 0,91; $17,3 7.5) a) (slide 7-4,16) Q = 2.500 unidades; P = $8,50; π = $6,50 ; Índice de Lerner: 0,294 b) 4.000 ; $4,00; 0,143; reduzirá. δ → 0 quando δ → 0. c) $6 + um valor pequeno; 5.000 unidades; 6+ δ 7.6) a) (slide 7-29) 105,5; $8.909 b) 160 7.7) . (slide 7-5) Módulo 7 – Monopólio e Monopsônio Reta: PG Eng.Econômica 2016 Pg.7-29/29 P = A − BQ ⇒ PQ = AQ − BQ 2 ⇒ d ( PQ ) = A − 2 BQ dQ P RMg Se B > 0 necessariamente P > RMg Parábola: P = A − BQ 2 ⇒ PQ = AQ − BQ 3 ⇒ d ( PQ ) = A − 3BQ dQ P RMg Se B > 0 necessariamente P > RMg Para ambos os casos, reta e parábola, a demanda é descendente. 7.8) (slide 7-4) 7.9) (slide 7-7) 10 e $30 7.10) (slide 7-10) Desafio. Em sala da próxima aula. 7.11) (slide 7-14) Pensando a empresa como um todo: π = PQT − C1 (Q1 ) − C 2 (Q2 ) ; pensando agora especificamente a Fábrica 1, como a empresa é maximizadora ela deverá: ∆ ( PQT ) ∆ C1 ∆π = 0= − ∆ Q1 ∆ Q1 ∆ Q , então RMg = CMg1 1 RMg CMg1 Se pensássemos especificamente a Fábrica 2, analogamente obteríamos: RMg = CMg 2 Então a conclusão é que RMg = CMg1 = CMg 2 (CQD) 7.12) (a) (slides 7-15,16 para todos) -1,5 (b) -6 (c) Sim: PA = 1,5 > 1,25 = CMg A 7.13) (slide 7-29) Para o monopsonista S = DM , tomemos como uma reta positivamente inclinada P = A + BQ dDM d ( PQ) 2 = = A + 2 BQ Sendo DM = Despesa Média = P (Q ) ⋅ Q = AQ + BQ ⇒ dQ dQ Como 2 B > B sempre, então DMg estará sempre acima de DM CQD 7.14) (slides 7-22,34) 7.15) (slides 7-21,32) 7.16) a) (slide 7-6 para todos) 3; $18 b) 1 ; 4 ; $26 Módulo 8 – Competição Monopolista e Oligopólio PG Eng.Econômica 2016 Pg.8-1/29 Módulo 8 – Competição monopolista e oligopólio Conceitos neste módulo: concorrência monopolística, oligopólio, peso morto, concorrência por quantidades, equilíbrio de Nash, modelo de Cournot, conluio, modelo de Stakelberg, concorrência por preços, modelo de Bertrand, produtos diferenciados, dilema do prisioneiro, curva de demanda quebrada, sinalização e liderança, cartéis. Os módulos estão distribuídos assim: 1 – Preferências do consumidor 2 – Restrições orçamentárias e demanda individual 3 – Elasticidades e incertezas 4 – A oferta no curto prazo 5 – A oferta no longo prazo 6 – Equilíbrio em concorrência perfeita 7 – Monopólio e monopsônio 8 – Competição monopolista e oligopólio 9 – Porque os mercados falham Em Anexo: comparações entre tipos de mercados problemas propostos respostas selecionadas Módulo 8 – Competição Monopolista e Oligopólio PG Eng.Econômica 2016 Pg.8-2/29 Neste módulo se sofistica a análise em relação ao módulo anterior. De um lado mantém a característica dos mercados competitivos como o número de concorrentes, de outro se faz presente o poder de monopólio. Surgem duas formas de mercado com estas características, a competição monopolística e o oligopólio. Com o primeiro entra em cena a diferenciação do produto, com o segundo entra em cena o comportamento estratégico da empresa. Em concorrência monopolística assim como em mercados competitivos se pressupõe muitas empresas com livre trânsito, de tal modo que as empresas no longo prazo trabalham com lucro econômico zero. Por outro lado, aqui se considera que os produtos não são homogêneos, são diferenciados, mas existem produtos substitutos e o grau de Módulo 8 – Competição Monopolista e Oligopólio PG Eng.Econômica 2016 Pg.8-3/29 diferenciação determina o tamanho do poder de monopólio. Neste aspecto se assemelha ao monopólio puro, com preço de equilíbrio superior ao custo marginal. Vários exemplos: cafés, cremes dentais, refrigerantes, etc. A Figura 8-4 mostra o monopolista competitivo no curto e no longo prazo. No CP, como de costume, o competidor monopolista determina a quantidade quando CMg = RMg e o preço é determinado por esta quantidade na curva de demanda CP, superior ao CMg. A situação, porém, é dinâmica. No LP os lucros atraem novas empresas (não há barreiras à entrada) e se a demanda é relativamente elástica novos competidores são atraídos ao mercado até a situação de lucro econômico zero. Então, por isto, a demanda da empresa original, que queria ser monopolista, cai. Assim, caem sua produção e o seu preço, mas a produção da indústria como um todo aumenta. Não há lucro econômico no LP (P = CM), mas P > CMg, ou seja, persiste algum grau de poder de mercado, dado que algumas marcas de produtos concorrentes sobressaem. Mais uma vez, o que interessa do ponto de vista econômico é testar a eficiência desta modalidade de concorrência. Módulo 8 – Competição Monopolista e Oligopólio PG Eng.Econômica 2016 Pg.8-4/29 Na Figura 8-6 se compara concorrência monopolista com concorrência perfeita. Em ambos os casos novas empresas levam à situação de lucro zero no LP. A existência do poder de monopólio pela diferenciação do produto implica um preço mais elevado do que na competição perfeita. Se o preço diminuísse até o ponto onde CMg = DLP (demanda de longo prazo), o excedente total aumentaria na magnitude do triângulo amarelo, ou seja, de novo, como no monopólio, ocorre o peso morto e ineficiência por excesso de capacidade, como analisamos no módulo anterior. Se de um lado existe uma ineficiência, de outro, os consumidores ganham com a diversidade do produto. Observe que as características do competidor monopolista são: (a) Ele carrega um markup maior que CMg; (b) Ele não produz a CMmin, ou seja, opera com excesso de capacidade. Os mercados de refrigerantes e café, mostrados a seguir, ilustram as características da competição monopolística. A tabela a seguir retrata marcas concorrentes americanas nos setores de refrigerantes e café moído. São analisados aspectos das elasticidades. Refrigerantes Café moído Marca Royal Crown Coca-Cola Hills Brothers Maxwel House Chock Full o’Nuts Fonte: Pindyck Interessam as seguintes questões: Elasticidade da demanda -2,4 -5,2 a -5,7 -6,4 -8,9 -3,6 Módulo 8 – Competição Monopolista e Oligopólio PG Eng.Econômica 2016 Pg.8-5/29 1) Por que a demanda por Royal Crown é mais inelástica em relação ao preço que a demanda por Coca-Cola? Por causa do sabor característico que leva o consumidor ser mais fiel e este diferencial significa maior poder de monopólio. 2) Por que, ainda assim, Royal Crown é menos lucrativa que a Coca-Cola? Porque o lucro depende de diversos fatores como custos fixos, volume de venda, preços, etc. Embora o lucro médio seja menor, a Coca-Cola vai gerar lucros muito maiores pelo volume de venda muito maior. 3) Marcas de café são bem mais elásticas ao preço que refrigerantes. Por quê? Porque existe menos lealdade à marca, a diferenciação é menos perceptível. Chock Full o’Nuts, dentre as marcas de café moído, é menos elástica ao preço porque é mais perceptível a diferenciação do sabor. Observando em conjunto os dois setores, com exceção de Royal Crown e Chock Full o’Nuts todas as marcas de refrigerantes e de cafés são elásticas ao preço (entre -4 e -9). Ser elástica ao preço, mas não muito, é típico de competição monopolista (lembre-se do módulo 7!). Módulo 8 – Competição Monopolista e Oligopólio PG Eng.Econômica 2016 Pg.8-6/29 Num certo sentido, oligopólio se parece com concorrência monopolista, pois existem concorrentes. Porém, diferentemente, o produto pode ser ou não diferenciado. Importa que um pequeno número de empresas dominem o mercado. Então existem barreiras à entrada além daquelas barreiras naturais que já estudamos (lembrando: economias de escala, por exemplo AT&T; patentes, por exemplo remédios; acesso à tecnologia, por exemplo indústria aeronáutica; reputação da marca, por exemplo roupas de grife), pode haver barreiras também por ações estratégicas cautelosas levando em conta a reação dos (poucos) concorrentes ou pode se impor controle de insumos essenciais. Trata-se, pois, de um equilíbrio tenso e complexo, sempre levando em conta o que o concorrente pode fazer e levando em conta que o concorrente também considera suas próprias decisões. Módulo 8 – Competição Monopolista e Oligopólio PG Eng.Econômica 2016 Pg.8-7/29 Vários são os exemplos de mercados oligopolizados: automóveis, aço, petroquímicos, equipamentos elétricos, computadores, etc. À concorrência monopolística se aplicam modelos baseados em escolhas de quantidades (modelos de Cornout, conluio, modelo Stackelberg) ou baseados em preços (modelos de Bertrand ou de produto diferenciado). Importa estabelecer situações de equilíbrio em mercados deste tipo, e, como os outros casos que já visitamos, verificar sua eficiência econômica. O ponto de partida é o equilíbrio de Nash: “as empresas estão fazendo o melhor que podem e não tem incentivo para mudar suas decisões quanto a preço e quantidade. É suposto que todos concorrentes estejam fazendo o mesmo”. Esta é a base do equilíbrio em concorrência não cooperativa. Todos os modelos que veremos a seguir, por simplicidade, consideram o duopólio, a generalização é direta. O modelo de Cournot considera que duas empresas competem produzindo produto homogêneo, ambas conhecem a curva de demanda de mercado e cada empresa considera fixa a quantidade produzida pela rival ao tomar sua própria decisão de produção. Neste sentido, este modelo segue o equilíbrio de Nash com decisões simultâneas. Módulo 8 – Competição Monopolista e Oligopólio PG Eng.Econômica 2016 Pg.8-8/29 Na Figura 8-12 estão representadas as decisões da Empresa 1 caso ela julgue a ação de sua concorrente (Empresa 2). No exemplo estamos supondo a demanda de mercado: P = 120 − Q . Pode-se provar que RMg1 = 120 − 2Q1 − Q2 . Então Se a Empresa 1 acredita que a concorrente não produzirá nada a curva de demanda e a RMg1 (0) serão como em azul cheio na figura. Se acreditar que a concorrente produzirá 50 unidades e 75 unidades as curvas serão, respectivamente, como em azul tracejado e como em azul claro. Os valores de produção para os três casos serão respectivamente 50, 25 e 12.5 unidade. Exemplo1: Prove a afirmação feita acima: RMg1 = 120 − 2Q1 − Q2 . Respostas: Possivelmente em sala de aula. Exemplo2: Se a Empresa 1 acredita que a Empresa 2 produzirá 100 unidades, quanto produzirá a Empresa 1? Respostas: Como RMg1 = 120 − 2Q1 − Q2 = 120 − 2Q1 − 100 = CMg1 = 20 , então Q1 = 0 , ou seja, Empresa 1 decide sair do mercado! Módulo 8 – Competição Monopolista e Oligopólio PG Eng.Econômica 2016 Pg.8-9/29 Com os dois exemplos anteriores nós estamos encaminhando uma visão intuitiva da essência de Cournot. A curva de reação de uma empresa é uma função decrescente do nível de produção esperado da outra empresa, como ilustra a Figura 8-13. No equilíbrio, cada empresa estima corretamente quanto sua rival vai produzir, portanto, maximiza seu lucro. Observe que o equilíbrio de Cournot é um equilíbrio de Nash. Uma crítica imediata ao modelo de Cournot é que ele nada nos diz sobre o processo de ajuste, se pressupõe que as empresas estão imediatamente no equilíbrio. Vejamos como opera o modelo analisando a curva de reação do ponto de vista quantitativo. Consideremos de novo um duopólio (Figura 814) com a demanda de P = 30 − Q . mercado Por simplicidade as empresas são idênticas e CMg 1 = CMg 2 = 0 . Para chegar à curva de reação vamos calcular a receita da empresa 1: R1 = PQ1 = (30 − Q)Q1 = 30Q1 − Q12 − Q2 Q1 . Como RMg1 = dR1 = 30 − 2Q1 − Q2 e como dQ1 RMg1 = CMg1 = 0, então obtemos a curva de reação da Empresa 1: Q1 = 15 − 1 Q2 (1). 2 Módulo 8 – Competição Monopolista e Oligopólio Para a Empresa 2: Q2 = 15 − consequência, PG Eng.Econômica 2016 Pg.8-10/29 1 Q1 (2). Resolvendo o sistema de equações: Q1 = Q2 = 10 . Por 2 P = 30 − (10 + 10) = 10 . Ou seja, o equilíbrio de Cournot foi em (Q1 , Q2 ) = (10,10) . Observe que se não houvesse esta consideração de estratégia e as duas empresas concorressem livremente, P = CMg1 = 0 , o que nos leva na equação de demanda: 0 = 30 − Q . Isto significa que para livre competição (Q1 , Q2 ) = (15,15). Uma terceira alternativa seria o “conluio”, equilíbrio cooperativo. O conluio ocorre quando ambas as empresas produzem com lucro máximo total, ou seja, Q (total) é escolhido de modo que a receita total: R = PQ passa por um ponto de máximo. Assim, RMg = dR d [(30 − Q)Q] = = dQ dQ 30 − 2Q = 0, então Q = 15 . Vale dizer, no conluio, ambas as empresas produzem 7,5 unidades (Q1 , Q2 ) = (7.5,7.5) . Estas três possibilidades estão ilustradas na Figura 8-15. A tabela abaixo sumariza os dados para este exemplo das três possibilidades: Competitivo Cournot Conluio Quantidade 30 20 15 Preço 0 10 15 Lucro 0 200 225 Característica P = CMg curva de reação RMg = 0 Destacamos que do ponto de vista das empresas o conluio é melhor do que Cournot que, por sua vez, é melhor do que competição pura. Do ponto de vista do consumidor é exatamente o contrário. Ocorre que o conluio é, na maioria das legislações, proibido e criminalizado. Módulo 8 – Competição Monopolista e Oligopólio PG Eng.Econômica 2016 Pg.8-11/29 Uma variante do Cournot é o modelo de Stakelberg. Em Cournot se supõe que as empresas tomam decisões simultâneas, a receita marginal leva em conta a curva de reação do concorrente. No modelo de Stackelberg a empresa toma primeiro a decisão de quantidade (sabendo a curva de reação da concorrente) a ser produzida e, então, a anuncia. O anúncio cria um fato consumado. O concorrente para maximizar os lucros pode ter que optar por uma quantidade mais baixa, pois se decidir por uma quantidade (também) alta pode fazer o preço cair e então ambas as empresas operarão em prejuízo. Tendo em mente estas premissas e as condições iniciais do exemplo anterior (curva de demanda de mercado, 1 Q1 ), vamos 2 analisar o mecanismo deste modelo e a vantagem de ser o primeiro a escolher. A Empresa 1, empresa monopolista conhece a curva de reação da concorrente: Q2 = 15 − monopolista, tem a função de receita R1 = PQ1 = (30 − Q)Q1 = 30Q1 − Q12 − Q2 Q1 , mas ela 2 conhece a curva de reação da concorrente então R1 = 30Q1 − Q1 − (15 − maximizando sua receita marginal RMg1 = 1 Q1 )Q1 . Então 2 dR1 = 15 − Q1 = 0. Portanto Q1 = 15 e a empresa dQ1 1 anuncia esta quantidade. Como a Empresa 2 também é maximizadora resta à ela seguir a 1 (15) = 7,5 unidades. O conjunto do mercado produz 22,5 2 unidades, então o preço será P = 30 − 22,5 = $7,5. A empresa monopolista lucrará (15)(7,5) = $112,5, a concorrente seguidora de quantidade lucrará $56,25. Note que a empresa líder lucra bastante, mas o mercado não é tão abastecido quanto se fosse competitivo, mas é mais abastecido do que no modelo de Cournot, e muito mais que no conluio. líder e produzir Q2 = 15 − Fica a pergunta: qual o modelo mais adequado para concorrência não cooperativa por quantidades? Se o setor for de produtos semelhantes parece mais realista Cournot (ex: pão francês), se o setor tiver liderança parece mais realista Stakelberg (ex: sistemas operacionais). Com o olhar dos consumidores obviamente o melhor resultado (maior abastecimento) seria com a livre concorrência. Veremos futuramente que a coisa não é assim tão simples ... Módulo 8 – Competição Monopolista e Oligopólio PG Eng.Econômica 2016 Pg.8-12/29 Até agora analisamos modelos de concorrência pela decisão de quantidade a ser produzida. Vejamos agora modelos por concorrência de preços (modelo de Bertrand). Vamos aproveitar o problema anterior com uma pequena diferença, ao invés de zero, o CMg = $3 para cada empresa do duopólio. Se refizermos o problema pelo modelo Cournot: dR1 RMg1 = = CMg1 = 3 , dQ1 então 30 − 2Q1 − Q2 = 3 , que leva a: 1 Q1 = 13,5 − Q2 2 1 Q2 = 13,5 − Q1 2 e, portanto, Q1 = Q2 = 9 , vale dizer, o preço será $12 e o lucro da Empresa 1 será π 1 = (9)(12) − (3)(9) = $81 (receita menos custo), o mesmo para a Empresa 2. Módulo 8 – Competição Monopolista e Oligopólio PG Eng.Econômica 2016 Pg.8-13/29 E se uma empresa abaixar unilateralmente o preço para vender mais? Sabemos que se ela fizer isto o limite é o lucro zero4, ou seja, P1 = P2 = $3 e Q1 = Q2 = 13,5 , que é equilíbrio de Nash, porque se abaixar deste preço ela ganha todo mercado, mas tem prejuízo em cada unidade. Se a empresa subir o preço ela perderá o mercado. Então o modelo de Bertrand significa concorrer por preço (e não por quantidade) até P = CMg e lucro zero. O modelo de Bertrand tem recebido críticas: quando o produto é homogêneo é mais natural a concorrência se dar por quantidades; mesmo que as empresas fixem e exerçam o mesmo preço, o modelo não prevê qual a fatia de mercado para cada uma, coisa que o próximo modelo tratará. Por outro lado, Bertrand nos mostra que o equilíbrio em oligopólio depende da escolha da variável estratégica. Fica como desafio a concorrência com fixação simultânea de preços na Lista 8-7. No âmbito de mercados oligopolistas, quando os produtos são diferenciados, as parcelas de mercado de cada empresa dependem não apenas dos preços, mas também da diferenciação (em desempenho, durabilidade, garantias, design, etc.). Como antecipamos, em caso de diferenciação é mais natural que as empresas concorram por preço. No exemplo da Figura 8-20 temos de novo duopólio, com as empresas se confrontado com a Nunca é demais lembrar que lucro zero significa retornos econômicos básicos de mercado. Uma empresa pode se situar nesta situação. 4 Módulo 8 – Competição Monopolista e Oligopólio PG Eng.Econômica 2016 Pg.8-14/29 mesma curva de demanda Q1 = 12 − 2 P1 + P2 e Q2 = 12 − 2 P2 + P1 , onde fica clara a dependência reversa do preço do concorrente. Supõe-se CF = $20 e CV = 0 por simplicidade. Se as duas empresas fixem simultaneamente seus preços considerando fixo o preço do concorrente, temos um equilíbrio de Nash, agora em preços. Iniciando pela empresa 1: π 1 = P1Q1 − 20 = 12 P1 − 2 P12 + P1 P2 − 20 . Se P2 é considerado fixo por ela, então dπ 1 = 12 − 4 P1 + P2 = 0 para a empresa ser maximizadora de lucros. Conclusão: as curvas de dP1 reação serão: 1 1 P1 = 3 + P2 e P2 = 3 + P1 , respectivamente. Resolvendo o sistema de equações: P1 = P2 = 4 4 $4, com o lucro total de 2π 1 = $24 (cada empresa com lucro de $12). Nenhuma empresa tem estímulo para alterar o preço, pelas razões já vistas (um bom exercício: quais são as razões já vistas mesmo?). Generalizando, o equilíbrio de Nash em concorrência com fixação simultânea de preços em situação de duopólio e raciocinando sobre a empresa 1, implica que, dado um preço P2 da sua concorrente, o preço P1 que maximiza o lucro da empresa 1 resolve o seguinte ( P1 , Q1 ) , portanto, igualando a condição de primeira ordem a problema de maximização: max P1 zero5. Raciocínio análogo pode ser feito sobre a empresa 2. Ou seja, cada empresa resolve seu problema de maximização. Lembrando mais uma vez, a condição de primeira ordem igual a zero equivale a achar um máximo ou um mínimo, ou seja, o ponto onde a inclinação da curva é zero significando que ela chegou a um máximo (aplicável quando o problema é de maximização, como no lucro) ou a um mínimo (quando o problema é de minimização, como no custo). 5 Módulo 8 – Competição Monopolista e Oligopólio PG Eng.Econômica 2016 Pg.8-15/29 Por outro lado, se ambas as empresas ao invés de equilíbrio de Nash optarem por agir em conluio, com os mesmos dados do problema anterior do produto diferenciado, elas que têm o mesmo custo cobrarão o mesmo preço a partir da maximização do lucro total das empresas (e não mais do lucro específico da empresa como no equilíbrio de Nash): π total = π1+ π 2 = 2 × (12 P − 2 P 2 + P 2 − 20) = 24 P − 2 P 2 − 40 . As empresas em conluio vão dπ total = 0 = 24 − 4 P , dP que leva ao preço de conluio P = $6. A quantidade produzida por ambas as empresas será de 6 unidades. A situação dos preços está ilustrada na Figura 8-21, onde além do equilíbrio de Nash está representado o ponto correspondente ao equilíbrio por conluio. Ambas as empresas estarão com lucro maior no conluio ($16, contra $12 no equilíbrio de Nash). maximizar este lucro total (e, naturalmente, repartir entre si os lucros!): Importa saber se o equilíbrio é ou não cooperativo. Um detalhe agora é relevante: se está no equilíbrio de Nash ou em conluio em concorrência por preços, então é melhor para a empresa que seu concorrente suba de preço primeiro, porque dá oportunidade para a empresa que se move depois reduzir levemente o preço (em relação ao cobrado pelo concorrente), e então, capturar parcela maior do mercado. Note que o resultado é o contrário do que acontece com o modelo de Stackelberg, onde quem se movia primeiro tinha vantagem! Vale dizer, o modelo mais adequado e o tipo de concorrência depende fundamentalmente do tipo de produto, se homogêneo ou se diferenciado. Perceba também que fica aqui uma dúvida sobre a estabilidade dos equilíbrios, o que nos remete ao assunto a seguir. Módulo 8 – Competição Monopolista e Oligopólio PG Eng.Econômica 2016 Pg.8-16/29 Vimos que o equilíbrio de Nash é não cooperativo, o conluio é cooperativo, e o lucro é maior. No entanto, conluio é ilegal, pois atenta contra a 6 economia popular . O que se coloca é um modelo em que os concorrentes estimam o preço como em conluio esperando que seu concorrente também assim o fizesse. O problema deste modelo é que aquele que mantivesse o conluio poderia acabar se dando mal, caso o concorrente “traísse” o conluio. Revisitemos o problema simples com produto diferenciado. Lá vimos que o equilíbrio de Nash aconteceria com P = $4 e com π = $12 para ambas as empresas, onde Q1, 2 = 12 − 2 P.21 + P2,1 , e o equilíbrio em conluio se dá com P = $6 6 O conluio força transferência de renda dos compradores para as empresas em conluio. Módulo 8 – Competição Monopolista e Oligopólio PG Eng.Econômica 2016 Pg.8-17/29 e com π = $16 para ambas as empresas. Porém, se a Empresa 2 resolvesse unilateralmente cobrar $4 (“traísse” o conluio) ao invés de $6: Empresa 2: π 2 = P2 Q2 − 20 = (4){12 – (2)(4) + 6} – 20 = $20 Empresa 1: π 1 = P1Q1 − 20 = (6){12 – (2)(6) + 4} – 20 = $4 Conclusão: Se de um lado o conluio é vantajoso para o duopólio, de outro, a instabilidade é inerente se o conluio for rompido e se isso ocorrer o cenário é pior para quem mantiver o conluio. Isto nos leva ao clássico “Dilema dos Prisioneiros”. Coloquemos os possíveis resultados do problema anterior em uma matriz de payoff, como na Figura 8-24, que representa este jogo não cooperativo (porque conluio é criminalizado). Observe que cada empresa, independentemente, faz o melhor para si se cobrar o preço de equilíbrio de Nash ($4). Ou dito de outra forma, o conluio só valeria a pena se fosse explicitamente possível, senão, entra em cena o risco de se dar muito mal! Vamos ver isto melhor. Na Figura 8-25 se encontra o exemplo clássico do “Dilema dos Prisioneiros”, metáfora adequada para o problema dos mercados oligopolistas. Na matriz de payoff estão os anos de cadeia que cada prisioneiro pegaria, caso confesse ou não, considerado ainda se o seu cúmplice confessa ou não. Perceba que também aqui o prisioneiro faria melhor para si se confessasse, pois, se o outro confessar, ele pega mais tempo de prisão se não confessar. Módulo 8 – Competição Monopolista e Oligopólio PG Eng.Econômica 2016 Pg.8-18/29 Mapeando a visão do “Dilema dos Prisioneiros” para os mercados oligopolistas, podemos resumir que: o conluio leva a lucros maiores, as empresas podem praticar conluios implícitos ou explícitos (só que este último, cartel, é problemático por ser criminalizado. Veremos mais à frente). Quando duas empresas cooperam, cada uma tem forte incentivo para “trair” a outra, cobrando preço mais baixo que lhe oferecerá lucros mais elevados. O leque de possibilidade para mercados oligopolistas é amplo: vai desde mercados com histórico de interação repetida entre empresas ao longo do tempo. Elas se observam e vão se ajustando, de modo que pode haver conluios implícitos. No outro extremo temos mercados de concorrência agressiva, então a concorrência levará aos preços baixos do equilíbrio de Nash. Existem ainda mercados oligopolistas onde uma empresa líder atua sinalizando preços, como veremos. Por ora, o conluio implícito tende a ser frágil e as empresas oligopolistas muitas vezes apresentam rigidez de preços. Nas Figuras 827 e 8-28 se ilustra o modelo da “curva de demanda quebrada”, que tenta explicar aquela rigidez de preços e expressa o seguinte fato econômico: se o produtor reduzir o preço ele acredita que os competidores o seguirão e a demanda será mais inelástica (curva azul), mas se o produtor elevar o preço ele acredita que os competidores não o seguirão e a demanda será mais elástica (curva vermelha). Módulo 8 – Competição Monopolista e Oligopólio PG Eng.Econômica 2016 Pg.8-19/29 Como mostra a Figura 8-28, supondo o equilíbrio em (Q*, P*) , enquanto o custo marginal se encontra na região vertical da receita marginal, o preço e a quantidade produzida serão constantes. Embora este modelo da “demanda quebrada” seja simples, pode receber críticas como: ela não explica como chegar ao preço de equilíbrio P * , ou outro preço diferente (é boa descrição, mas não é boa explicação!). É mais razoável explicar a rigidez de preços nos mercados oligopolistas por causa do “dilema dos prisioneiros”, onde os oligopolistas “pagam” para não se destruírem mutuamente. Vamos agora focar o caso de mercados onde existe uma empresa líder (por exemplo, a empresa possui maior fatia de venda e um grupo de empresas abastecem o resto do mercado) que sinaliza um aumento de preço. As demais empresas do mercado, após o anúncio, seguem a sinalização da líder. Este cenário é conhecido como “Modelo da Empresa Dominante”. Módulo 8 – Competição Monopolista e Oligopólio PG Eng.Econômica 2016 Pg.8-20/29 Na Figura 8-30, a seguir, estão colocados graficamente todos componentes e aspectos deste modelo e mostra como a empresa dominante estabelece o preço. As pequenas empresas deste mercado se confrontam com a demanda de mercado dada pela curva azul claro da figura. Estas mesmas empresas são capazes de ofertar S F na figura (que é, como vimos, a curva do custo marginal agregado das pequenas). A empresa dominante se comporta como competidor monopolista, ou seja, decidirá a quantidade que produzirá no ponto de encontro de suas curvas de custo e de receita marginal ( CMg D = RMg D ). Para a empresa dominante maximizar seus próprios lucros ela levará em conta como produz as demais empresas que complementarão o abastecimento do mercado. Então, a curva de demanda para a empresa dominante será a diferença entre a demanda de mercado e a oferta das empresas pequenas (no gráfico a diferença entre a curva D e a curva S F , curva preta). Por esta forma de construir sua curva de demanda, a líder (ou dominante) ao preço P1 nada produziria, então obviamente não escolherá este preço. Escolhida a quantidade a produzir QD , fica determinada na SUA curva de demanda o preço que vai vigorar P * . A este preço resta às pequenas empresas produzir QF = QT − QD na esquerda do gráfico, pois as pequenas empresas se defrontam com Curva de Demanda de mercado. Observe que para preços aquém de P2 apenas a empresa dominante pode operar (vira monopolista). Algumas observações sobre este modelo: a elasticidade de demanda da empresa dominante é naturalmente maior que a elasticidade da demanda de mercado no trecho onde as pequenas empresas podem operar. Poderá ser neste trecho que a empresa dominante vai querer operar, tudo vai depender do ponto para ela, como de costume, de igualdade entre custo e receita marginal. Módulo 8 – Competição Monopolista e Oligopólio PG Eng.Econômica 2016 Pg.8-21/29 Conluio explícito formam os cartéis. Tanto preço quanto quantidade são determinados pelos cartéis e não incluem necessariamente todas as empresas daquele setor industrial. Muito frequentemente operam em escala internacional. Nesta seção vamos nos ater em mostrar as características dos cartéis bem sucedidos em algum momento histórico, como o da OPEP (produtores de petróleo) e também dos mal sucedidos, como o CIPEC (produtores de cobre). Módulo 8 – Competição Monopolista e Oligopólio PG Eng.Econômica 2016 Pg.8-22/29 Em 1970 o cartel de petróleo foi utilizado para elevar os preços bem acima dos preços competitivos. Em 1989 os preços caíram por causa dos ajustes de longo prazo na demanda e na oferta que não as da OPEP. Na Figura 8-33 está ilustrado o mecanismo de ação do cartel onde é mostrada a demanda de mercado DT em azul. S C é a oferta competitiva (não OPEP) e, como de costume, a demanda da OPEP é a diferença entre as duas curvas (como em preto). Por sua natureza o custo marginal da OPEP é bem baixo, então a quantidade ofertada do cartel, também como de costume, é dada pela confluência CMg OPEP = RMg OPEP . O preço P * fica determinado na sua curva de demanda (da OPEP) e resta aos produtores não OPEP produzirem a este preço em quantidade também imposta pelo cartel. Observe na figura que a curva de demanda da OPEP ainda é relativamente inelástica, significa que a OPEP tem alto poder de monopólio no CP. No longo prazo as coisas são um pouco diferentes, a curva de demanda da OPEP se torna mais elástica (por que mesmo?) e, assim, reduz o poder de monopólio da OPEP. Na Figura 8-34 está mostrado o que ocorreria se o setor de petróleo não tivesse cartel. A curva de oferta da OPEP seria sua curva de custo marginal e a quantidade produzida seria substancialmente aumentada e o preço também substancialmente diminuído ( QC , PC ). Módulo 8 – Competição Monopolista e Oligopólio PG Eng.Econômica 2016 Pg.8-23/29 Um caso dual de cartel mal sucedido é o do CIPEC (Chile, Peru, Zâmbia, Congo) para o cobre. Na Figura 834 estão representados seus elementos. A oferta de cobre é mais elástica (além do que a curva de custo já parte de um patamar alto) por causa do cobre secundário e a demanda de mercado também é elástica (por causa de alumínio, plástico, etc.). A curva de demanda da CIPEC é bastante elástica o que reduz o poder de monopólio deste cartel. Observe na figura que a quantidade competitiva QC fica entre QCIPEC e QT , então compare com o caso do petróleo onde QC fica na ponta. Esta é outra maneira de dizer sobre o baixo poder de monopólio do CIPEC. De tudo que vimos nesta seção podemos concluir que para um cartel obter sucesso ele deve ter: 1) Demanda total inelástica ou pouco elástica; 2) Controle da produção ou ... a oferta do não-cartel não pode ser elástica. Módulo 8 – Competição Monopolista e Oligopólio ANEXO PG Eng.Econômica 2016 Pg.8-24/29 Módulo 8 – Competição Monopolista e Oligopólio Pg.8-25/29 PG Eng.Econômica 2016 Problemas Propostos: 8.1) Descreva em poucas palavras: a) Concorrência monopolista e oligopólio b) Modelo de Cournot c) Modelo de Conluio d) Modelo de Stalkelberg e) Concorrência por preços f) Curva de “demanda quebrada” e empresa dominante g) Cartéis bem e mal sucedidos 8.2) Duas firmas, 1 e 2, produzem estofamentos de pele de carneiro para bancos de automóveis. A função de custo de cada firma é dada por: C ( q) = 20q + q 2 . A demanda de mercado para esses estofamentos é representada pela equação de demanda: P = 200 − 2Q , onde Q = q1 + q 2 , é a quantidade total produzida. a) Se cada firma age para maximizar seus lucros, e estima que a produção de seu concorrente esteja determinada (isto é, as empresas se comportam como oligopolistas de Cournot), quais serão as quantidades de equilíbrio selecionadas por cada uma das firmas? Qual será a quantidade total produzida e qual é o preço de mercado? Quais são os lucros de cada uma das firmas? b) Uma forma alternativa de obter o equilíbrio de Cournot é via lucro de cada firma. Prove que o resultado obtido assim é o mesmo. c) Ocorre para os administradores da Firma 1 e da Firma 2 que eles podem melhorar seus resultados fazendo conluio. Se as duas firmas fizerem conluio, qual será a quantidade total produzida maximizadora de lucro? Qual é o preço da indústria? Qual é a quantidade produzida e o lucro para cada uma das firmas? d) Os administradores das firmas percebem que os conluios explícitos são ilegais. Cada firma precisa decidir por conta própria se produz quantidade de Cournot ou a quantidade que um cartel produziria. Para ajudar a decisão o administrador da Firma 1 construiu uma matriz de Payoff como abaixo. Preencha cada quadro com o lucro da Firma 1 e o lucro da Firma 2. A partir desta matriz, quais quantidades que cada firma está inclinada a produzir? Firma 2 Produz quantidade de Cournot Firma 1 Produz quantidade de Cournot Produz quantidade de cartel Produz quantidade de cartel Módulo 8 – Competição Monopolista e Oligopólio PG Eng.Econômica 2016 Pg.8-26/29 e) Suponha que a Firma 1 possa determinar seu nível de produção antes que a Firma 2 o faça. Quanto a Firma 1 produzirá? Quanto a Firma 2 produzirá? Qual é o preço de mercado e qual o lucro de cada empresa? A Firma 1 estará obtendo melhores resultados por determinar sua produção primeiro? Explique por quê. 8.3) Duas empresas concorrem por meio de escolha de preço. Suas funções de demanda são: Q1 = 20 − P1 + P2 e Q2 = 20 + P1 − P2 , onde P1 e P2 são os preços cobrados por cada empresa e Q1 e Q2 são as demandas resultantes. Observe que a demanda de cada mercadoria depende apenas da diferença entre preços. Se as duas empresas entrarem em conluio e determinarem o mesmo preço, poderão torná-lo tão alto quanto desejarem e, assim, obter lucros infinitamente grandes. Os custos marginais são zero. a) Suponha que as duas empresas determinaram seus preços simultaneamente. Descubra o equilíbrio de Nash. Para cada uma das empresas, quais serão, respectivamente, o preço, a quantidade vendida e os lucros? (Dica: faça a maximização do lucro de cada empresa em relação ao seu preço) b) Suponha que a Empresa 1 determine seu preço em primeiro lugar e somente depois a Empresa 2 estabelece o seu. Qual o preço que cada uma das empresas utilizará? Qual será a quantidade que cada empresa venderá? Qual o lucro de cada uma delas? c) Suponha que você fosse uma dessas empresas e que houvesse três maneiras possíveis de atuação neste jogo. (i) ambas as empresas determinam seus preços simultaneamente; (ii) você determina seu preço em primeiro lugar; (iii) seu concorrente determina o preço em primeiro lugar. Se você pudesse escolher entre estas alternativas, qual seria sua opção? Explique por quê. 8.4) Se em um duopólio a curva de demanda de mercado é dada por P = 120 − Q e as empresas concorrem por quantidades, demonstre a expressão da receita marginal supondo as empresas idênticas. Se a Empresa 1 acredita que a Empresa 2 produzirá 100 unidades, quanto produzirá a Empresa 1? 8.5) Considere duopólio com a demanda de mercado dada por P = 30 − Q , empresas idênticas e custo marginal de produção igual a zero. a) Ache o equilíbrio de Cournot e as curvas de reação e o lucro total; b) Ache o equilíbrio competitivo e o lucro total; c) Ache o equilíbrio de conluio considerando quantidades e o lucro total; d) Supondo que a empresa 1 determina seu nível de produção primeiro, ache o equilíbrio de Stackelberg e o lucro total; Módulo 8 – Competição Monopolista e Oligopólio 8.6) PG Eng.Econômica 2016 Pg.8-27/29 Considere duopólio concorrendo por preços e com a demanda de mercado dada por Q1, 2 = 12 − 2 P1, 2 + P2,1 , CF = $20 e CV = 0, ache o equilíbrio de Nash, lucro total e as curvas de reação. Qual seria o equilíbrio em conluio? Por que este equilíbrio é instável? 8.7) (Desafio, fixação simultânea de preços com bens distintos) Suponha que duas lojas em um mesmo shopping vendam dois produtos distintos. A competição entre elas se dá pela fixação simultânea de seus preços. Embora as lojas vendam produtos distintos, o preço cobrado por uma loja afeta as vendas da outra. Mais especificamente, a curva de 1 demanda para o bem 1 é dada por Q1 = 1 − p1 + p 2 . Já a curva de demanda para o 2 1 bem 2 é dada por Q2 = 1 − p 2 + p1 . Por simplicidade, suponha que os custos fixos e 2 marginais de ambas as lojas sejam nulos. a) Calcule os preços que ambas as lojas cobrarão no equilíbrio. Calcule o lucro das duas lojas neste caso. b) Suponha agora que as duas lojas tenham o mesmo dono. Que preço elas cobrariam? Novamente calcule o lucro das duas lojas. c) Voltemos ao caso em que as lojas têm donos diferentes. Suponha que o administrador do shopping ao perceber que as lojas estão praticando uma política de preços predatória, e percebendo que ambas poderiam obter um lucro agregado maior se agissem de forma coordenada, implemente a seguinte política: no final do mês a loja 1 tem que repassar 1/3 de seus lucros para a loja 2. De forma similar, no final do mês a loja 2 tem que repassar uma fração t dos seus lucros para a firma 1. Encontre o valor de t que faz com que as lojas escolham os mesmos preços da letra (b) mesmo tendo donos diferentes. Módulo 8 – Competição Monopolista e Oligopólio Pg.8-28/29 PG Eng.Econômica 2016 Respostas selecionadas 8.1) a) (slides 8-3,4,5,9,10,11) b) (slides 8-11,13,14,15) c) (slide 8-15) d) (slide 8-16) e) (slides 8-18,19,20) f) (slides 8-27,28) g) (slide 8-32,33,34,35) 8.2) a) (slides 8-11,12,13) q 2 = q1 = 22,5 então Q = 45; P = $110; π = $1.518,75 ( π 1 = π b) (slide 8-15) demonstração c) (slide 8-15) q 2 = q1 = 18; P = $128; π 1 = π 2 = $1.620 d) 2 = π ) Firma 2 Firma 1 Produz quantidade de Cournot Produz quantidade de cartel (slides 8-15,24) e) (slide 8-16) q1 = 25,7; q 2 = 21,4; P = $105,80; Lucros: $1.544,57; $1.378,16 Produz quantidade de Cournot $1.518,75;$1.518,7 5 $1.458,00;$1.721,2 5 Produz quantidade de cartel $1.721,25;$1.458,00 $1.620,00;$1.620,00 Módulo 8 – Competição Monopolista e Oligopólio PG Eng.Econômica 2016 Pg.8-29/29 8.3) a) (slide 8-18) P1 = $20 e P2 = $20; Q1 = 20 e Q2 = 20; π 1 = = $400 π 2 = = $400 b) (slide 8-20) P1 = $30; P2 = $25; Q1 = 15; Q2 = 25; π 1 = $450; π 2 = (25)(25) ⇒ π 2 = $625 c) (slide 8-21) (iii), sua segunda escolha seria (ii) 8.4) (slide 8-12) q1 = 0 e a Empresa 1 sai do mercado! 8.5) a) (slides 8-6,14,15 para todos) Q1 = Q2 = 10; P = $10; Lucro de cada empresa: $200. b) (Q1 , Q2 ) = (15,15); Lucro $0. c) P = $15; (Q1 , Q2 ) = (7.5,7.5); lucro total é de $225. d) (slide 8-16) (Q1 , Q2 ) = (15,7.5); P = $7,5; Lucros: Empresa 1: $112,50. Empresa 2: $56,25. 8.6) (slides 8-20,21) Determinação simultânea de preços: P1 = P2 = $4; Q1 = Q2 = 8; π 1 = π 2 = $12. (equilíbrio de Nash) Conluio: P = $6; Q = 6; π total = $32. ($16 para cada empresa) O problema deste modelo é que ele é propenso à “traição”. 8.7) (Desafio) Módulo 9 – Porque os Mercados Falham PG Eng.Econômica 2016 Pg.9-1/28 Módulo 9 – Porque os mercados falham Conceitos neste módulo: poder de mercado, informação assimétrica, seleção adversa, padronização, grupamento de riscos, reputação, sinalização de mercado, risco moral, relação agente-principal, gratificação, participação nos lucros, teoria do salário eficiência, modelo “dissimulação”, problema do carona, comportamento de manada, bolhas econômicas, externalidades, padrão, imposto, permissão transferíveis de emissão, recursos de propriedade comum, bens públicos. Os módulos estão distribuídos assim: 1 – Preferências do consumidor 2 – Restrições orçamentárias e demanda individual 3 – Elasticidades e incertezas 4 – A oferta no curto prazo 5 – A oferta no longo prazo 6 – Equilíbrio em concorrência perfeita 7 – Monopólio e monopsônio 8 – Competição monopolista e oligopólio 9 – Porque os mercados falham Em Anexo: problemas propostos respostas selecionadas Módulo 9 – Porque os Mercados Falham PG Eng.Econômica 2016 Pg.9-2/28 Os mercados competitivos falham devido a quatro razões básicas: poder de mercado, informações incompletas (ou assimétricas), externalidades e bens públicos. Até aqui, em diversos módulos, destacamos premissas favoráveis ao funcionamento pleno do mercado, agora vejamos estes motivos de falha. Vimos no módulo 7 que o poder de monopólio se produz porque se fixa um preço acima da receita marginal. O monopolista não coloca qualquer preço, e sim aquele em que com CMg = RMg se atende à curva de demanda. O nível de produção é menor que em mercado competitivo resultando em alocação ineficiente e o preço é maior. No caso do poder de monopsônio o preço é colocado Módulo 9 – Porque os Mercados Falham PG Eng.Econômica 2016 Pg.9-3/28 abaixo da despesa marginal de modo que com DMg = VMg se atende à curva de oferta a Figura 7-30 sintetiza estas constatações. Um exemplo específico poderia ser para o exemplo competitivo que desenvolvemos no módulo 6 (para Alimento e Roupa) considerar a oferta de trabalho restrita para produção de Alimento. O resultado é que o salário w A na produção de Alimento aumenta, na produção de Roupa wR diminui, e se r é o preço do capital, wR w R , TMgSTLKA = A , então TMgSTLK < TMgSTLKA e, de novo, a alocação é r r ineficiente. Resulta do monopsônio um nível de produção menor e preço também menor que no caso competitivo. Esta modalidade de falha de mercado já foi suficientemente explorada nos módulos imediatamente anteriores. R TMgSTLK = Uma segunda razão dos mercados falharem é a falta de informação completa, que cria uma barreira à mobilidade dos recursos, portanto, afeta a alocação de recursos e o sistema de preços. Na economia este problema é conhecido como informações assimétricas, situação na qual nem todos que vão ao mercado para transacionar têm informações iguais sobre o produto. Uma terceira razão é a ocorrência de externalidades, o consumo ou a produção de um bem cria custos ou benefícios que afetam terceiros, modificando suas decisões e criando, mais uma vez, ineficiências. A terceira razão de falha de mercado é a existência de bens públicos e recursos de propriedade comum.7 Os mercados tendem a ofertar bens públicos em quantidades insuficientes, de um lado, devido às dificuldades na medição correta do consumo destes bens públicos, de outro, custos de recursos de propriedade comum são subestimados quando em uso privado. Estas quatro formas de falhas de mercado levam, todas elas, a alocação ineficiente de recursos, seja do ponto de vista de Pareto, seja porque afasta do mercado agentes importantes. Qualquer dentre as visões econômicas vigentes concordam no diagnóstico destas falhas, porém nem todos concordam nos “remédios” a se aplicar! 7 Módulo 9 – Porque os Mercados Falham PG Eng.Econômica 2016 Pg.9-4/28 Informações assimétricas são muito comuns. Você sabe mais da sua capacidade produtiva do que aquele que vai lhe contratar, se você colocar para vender seu carro os problemas dele serão mais conhecidos por você que o pretenso comprador, os administradores sabem mais do custo, das questões competitivas e das oportunidades que os proprietários, e assim por diante. São exemplos de informação assimétrica. Vamos usar um problema específico do mercado de carros usados para concluir sobre incertezas e sobre o problema da qualidade duvidosa. Neste mercado a informação incompleta aumenta o risco da aquisição e reduz o valor do carro. Se todos os compradores e todos os vendedores fossem capazes de distinguir automóveis de alta e baixa qualidade, então haveria dois mercados diferentes com baixa dependência entre eles. Não ocorre isto na prática. Por informação assimétrica, as incertezas Módulo 9 – Porque os Mercados Falham PG Eng.Econômica 2016 Pg.9-5/28 positivas e negativas se entrelaçam e o comum é que o que ocorre no mercado de baixa qualidade afeta o mercado de alta qualidade. Mercados de produto de qualidade duvidosa levam ao problema de Seleção Adversa, com o nivelamento por baixo, como veremos. No exemplo da Figura 9-7 o vendedor de carros sabe muito mais que o comprador. De início suponhamos que os compradores estimam em 50% a chance de o carro ter alta qualidade. As demandas de alta e baixa qualidade estão como em azul cheio (por hipótese, de início, iguais), similarmente as ofertas de alta e de baixa em preto cheio. Com o processo de mercado a qualidade média percebida faz com que a curva de demanda (DM em azul claro cheio) se desloque por causa do preço, de modo que aumenta a fração de venda de carros de mais baixa qualidade (diminui a fração de venda dos de maior qualidade). Então a percepção dos Módulo 9 – Porque os Mercados Falham PG Eng.Econômica 2016 Pg.9-6/28 consumidores é de que a maioria dos carros é de baixa qualidade e curva de demanda abaixa mais ainda em um ajuste contínuo, até que ... os carros de alta qualidade são “expulsos” do mercado! Este exemplo ilustra o problema da seleção adversa mencionado. Esta é a razão de você só conseguir vender seu carro novo, que você SABE estar em perfeitas condições, por valor muito inferior ao que você pagou por ele. Trata-se de um problema derivado das expectativas, ou de informações assimétricas. Na Figura 9-8 mostramos um exemplo quantitativo envolvendo Seleção Adversa. Na figura está a tabela de preços que compradores (que acham que vale...) e vendedores (que sabem que vale ...) admitem para carros e baixa e alta qualidade, respectivamente. O valor esperado do preço, supondo 50% a chance de o carro ser do tipo alta qualidade: VE (compradores ) = (0,5)($5.000) + (0,5)($10.000) = $7.500. Observe que a este preço os vendedores só vendem carros de baixa qualidade. Isto sintetiza o significado de seleção adversa. São inúmeros outros exemplos de seleção adversa. No mercado de seguros de saúde encontramos outro exemplo clássico de seleção adversa. Se mais pessoas com problemas de saúde procuram o seguro saúde ... então o preço aumenta mais ainda ... de modo que, no limite, só doentes procuram seguro ... no limite deste processo, as seguradoras deixam de oferecer o seguro! Módulo 9 – Porque os Mercados Falham PG Eng.Econômica 2016 Pg.9-7/28 No mercado de seguros de automóveis a seguradora pode ser incapaz de distinguir alto de baixo risco, então as pessoas de baixo risco não compram seguro, só as de alto risco. No mercado de crédito é possível que apenas indivíduos com alto risco de inadimplência decidam tomar empréstimos. Ainda neste mercado este comportamento explica o porquê os juros de cartão de crédito são tão altos. Tomadores de alta qualidade buscam empréstimo, tomadores de baixa qualidade buscam crédito8. Naturalmente os juros de crédito abaixariam se as empresas tivessem acesso ao histórico de crédito, mas existe a questão da invasão da privacidade. Outros remédios contra informação assimétrica são: padronização, grupamento de risco e reputação. Exemplos típicos de grupamento de risco são as ações de governo ou de empresas na área de saúde: SUS no Brasil, Medicare nos EUA, seguro-empresa. A padronização reduz a incerteza na qualidade. A reputação também reduz esta incerteza. Além da seleção adversa e da qualidade duvidosa outras questões de informações assimétricas se colocam. Outra questão é a da sinalização de mercado. Por exemplo, por que não contratar um trabalhador, verificar a qualidade de sua atuação, e, eventualmente, o demitir? A resposta é simples: sai caro! O melhor é SABER da qualidade antes de contratar via sinalização. Vejamos um modelo simples de sinalização. Considere dois grupos de 8 A tese é polêmica, mas, na prática tem frequentemente sido verificada. Módulo 9 – Porque os Mercados Falham PG Eng.Econômica 2016 Pg.9-8/28 trabalhadores. Grupo I: baixa produtividade com PM e PMg = 1; Grupo II: alta produtividade com PM e PMg = 2. Se os dois grupos for de mesmo tamanho, podemos esperar que o VE(PM) = (0,5)(1) + (0,5)(2) = 1,5. Vamos considerar que o mercado de produto competitivo tem preço do produto de $10.000 e contrata metade de trabalhadores de cada um dos grupos e o tempo médio de permanência seja de 10 anos. Nestes termos, a receita gerada por cada grupo será: Grupo I : $10.000 x 10 anos = $100.000 Grupo II: $20.000 x 10 anos = $200.000 Se a empresa oferece salário igual à receita marginal e a informação é completa, então: Salário do Grupo I : $10.000/ano. Salário do Grupo II: $20.000/ano. Porém, com informação assimétrica, o salário será a produtividade média para todos: Salário dos Grupos I e II: $15.000/ano. Agora vamos introduzir no modelo a sinalização via educação no mercado de trabalho. Sinais de educação são considerados dos mais fortes sinais de mercado com o objetivo de reduzir as informações assimétricas. Seja y o índice de educação que reflete os anos de educação superior. Seja C o custo de obtenção do nível de educação y . Então podemos modelar a sinalização assim: Grupo I : C I ( y ) = $40.000 y ; Grupo II: C II ( y ) = $20.000 y ; A característica deste modelo simples se encontra especificado na Figura 9-13, como também a respectiva regra de decisão da empresa. Módulo 9 – Porque os Mercados Falham PG Eng.Econômica 2016 Pg.9-9/28 Estas equações do modelo refletem um custo mais alto para trabalhadores de baixa qualidade, os motivos são diversos: são menos estudiosos, progridem mais lentamente, etc. Por simplicidade, vamos supor que a educação não afeta a produtividade do trabalhador, seu único valor é sinalizar. Nestes termos, podemos derivar uma regra de decisão da empresa, onde y * (um valor arbitrário que reflete o índice de educação buscada pela empresa) ou superior sinaliza que o trabalhador pertence ao Grupo II e o salário é de $20.000. Por outro lado, abaixo de y * sinaliza que o trabalhador pertence ao Grupo I e o salário é de $10.000. Para tornar concreto o modelo proposto vamos supor os gráficos como na Figura 9-14 onde o valor índice arbitrário é de 4. Se B( y ) chamarmos o aumento de salário associado a cada nível de educação, esta curva tem aquele formato discreto em azul na figura e define a regra de decisão sobre salários. As curvas de custo por grupo, como já foram definidas, estão representadas em preto. A questão é achar o equilíbrio neste modelo simples, ou seja, qual o nível de educação que os trabalhadores escolherão? Módulo 9 – Porque os Mercados Falham Pg.9-10/28 PG Eng.Econômica 2016 A decisão relativa ao nível de educação baseia-se na comparação de custos e benefícios (aumento na remuneração) em cada grupo. Para ambos os grupos o benefício será de $100.000. No Grupo I o benefício com a educação é de $100.000 e está acima dos custos $100.000 < $40.000 y , o que nos leva a y* > 2,5 , os indivíduos de Grupo I não obterão educação se y * > 2.5, como é! A escolha dos indivíduos deste grupo será y = 0 , pois qualquer nível de educação inferior a y * resultará no mesmo rendimento básico de $100.000. A respeito do Grupo II a coisa muda: $100.000 > $20.000 y , ou seja, y * < 5. Os indivíduos do Grupo II concluirão que a educação se justifica e farão o possível para obter y * = 4. Os indivíduos de alta produtividade obterão educação para poder sinalizar sua produtividade e a eles as empresas oferecerão salários de $20.000. Nunca é demais relembrar que além das considerações deste modelo simples de sinalização, a educação AUMENTA a produtividade dos indivíduos. Neste caso, no entanto, estamos a usando apenas como sinalização. Naturalmente existem outros mecanismos de sinalização ao mercado, como garantias e certificados. Para você pensar: Quanto é custoso oferecer um produto de baixa qualidade com garantia? Além da qualidade duvidosa, seleção adversa e sinalização de mercado, mais outra questão de informação assimétrica é o risco moral. Risco moral ocorre quando as ações de uma parte não são observadas por outra parte, podendo afetar a probabilidade ou a magnitude do pagamento associado ao evento. A Figura 9-16 a seguir contém um exemplo de seguro contra incêndio. Existe um programa contra incêndio no valor de $50 o que reduz o risco de incêndio para 0,005. Se não implementar o programa o risco dobra: 0,01. Se o imóvel vale $100.000, então o prêmio com o programa será de 0,005 x $100.000 = $500, que é um equilíbrio eficiente, mas após a contratação do seguro, o dono do imóvel não tem incentivo para implementar o programa, então a probabilidade de incêndio sobe. O prêmio de $500 causa prejuízo à seguradora, pois sua perda esperada passa a ser 0,01 x $100.000 = $1.000! Resultado: por causa do Risco Moral, aumenta o prêmio ou deixa de oferecer o produto... Módulo 9 – Porque os Mercados Falham PG Eng.Econômica 2016 Pg.9-11/28 Um exemplo clássico de Risco Moral, onde é alterada a capacidade de mercados alocarem eficientemente, é o sistema de prêmio de seguro para aluguel de carros por semana. Na Figura 9-17 se encontra a curva de demanda relacionando custo/Km por Km/semana. Observe que a curva de demanda é o benefício marginal e é decrescente porque muitas famílias mudam o tipo de transporte à medida que o custo de utilização do automóvel aumenta. Se a informação fosse completa e as seguradoras, não precisassem considerar risco moral, ou seja, se fossem capazes de medir a quilometragem correta, então a alocação eficiente seria no ponto A na figura. Os motoristas saberiam que usar mais aumenta o prêmio de seguro e desta maneira seu custo total. Com risco moral, as seguradoras não são capazes de medir a quilometragem, o custo marginal percebido é menor e a quilometragem é maior, como no ponto B e o prêmio de seguro não varia com a quilometragem e é rateado entre muitos. Desta forma o ponto B resulta uma alocação ineficiente e sua quantificação é denotada pela área ABC da figura. Módulo 9 – Porque os Mercados Falham PG Eng.Econômica 2016 Pg.9-12/28 O consumo predial de água sem hidrômetros individuais vai pelo mesma lógica de risco moral. Um caso importante de risco moral é a relação agente-principal. O agente é a pessoa que atua, por exemplo, trabalhadores, administradores, etc. O principal é a pessoa que é afetada pelas ações do agente, por exemplo, o proprietário, ou o(s) acionista(s). A questão de risco moral é que o principal não tem conhecimento completo das ações do agente. Define-se assim o problema do agente-principal: os empregados podem estar interessados em atingir seus próprios objetivos, o que pode levar a lucros menores para os proprietários. A mesma lógica pode ocorrer dentro de uma empresa nas relações e interesses entre administradores e acionistas. Na Figura 9-19 se ilustra o exemplo da loja de manutenção de relógios. O agente é o técnico relojoeiro e o proprietário é o principal. Vamos fazer o problema se tornar quantitativo. Suponha que o técnico pode se empenhar muito ou pouco, para “incentivar” o problema do agente principal vamos supor que para o técnico se empenhar exista um custo para ele, enquanto não se empenhar não tenha custo para ele. Também vamos supor que ele pode dar sorte ou dar azar no Módulo 9 – Porque os Mercados Falham PG Eng.Econômica 2016 Pg.9-13/28 conserto. Estas variáveis resultam na tabela de receita da produção (para o principal) dada na figura. Observe primeiramente que com o payoff dado o principal não tem como saber se o agente se empenhou ou não se a receita for de $20.000, poderia ser apenas resultado da sorte e o principal deixaria de obter receita de $40.000! Se sorte ou azar são igualmente prováveis, a receita esperada do principal e do agente com pouco empenho será: (0,5)($10.000) + (0,5) ($20.000) = $15.000. A receita esperada com muito empenho é diferente para o principal e para o agente: Principal: (0,5)($20.000) + (0,5)($40.000) = $30.000 Agente: (0,5)($10.000) + (0,5)($30.000) = $20.000, nestes termos há um “incentivo” para o agente não se empenhar! Para dar conta desta disparidade colocada pelo problema, existem esquemas de incentivo: gratificação e participação nos lucros. Com gratificação, por exemplo, se R = $10.000 ou $20.000, então é considerado baixo empenho e o agente fica sem remuneração, w = 0. Se R = $40.000, então é considerado alto empenho e o agente é gratificado, w = $24.000. Então a remuneração esperada é de: (0,5)($0) + (0,5)($24.000) = $12.000 Como o custo para o técnico é de $10.000, então $12.000 - $10.000 = $2.000 é o lucro líquido esperado. Para o técnico, ele ganha $12.000 maior que $10.000 que é o custo sem gratificação. Para o principal, que com este esquema ele pressupõe a = 1, a receita esperada é: (0,5)($20.000) + (0,5)($ 40.000) = $30.000. Então o lucro esperado é $30.000 - $12.000 = $18.000, também é vantajoso, por ser maior que $15.000, que é a receita esperada sem empenho, a = 0. Conclusão: o esquema de gratificação é vantajoso para ambos. Módulo 9 – Porque os Mercados Falham PG Eng.Econômica 2016 Pg.9-14/28 Outro esquema para superar o problema agente-principal é o da participação nos lucros. Se R < $18.000 então w = 0. Se R > $18.000 então w = R − $18.000 , ou seja, o técnico ganha mais quanto maior for a receita que ele gere. Para o agente, se agir com baixo empenho, a sua remuneração esperada será: [(0,5)($0) + (0,5)($20.000)] – (0,5)($18.000) = $1.000. Como tem o custo do técnico, fica evidente que ele não vai preferir esta opção, ou seja, ela vai agir com alto empenho. Se ele agir com alto empenho: [(0,5)($20.000) + (0,5)($40.000)] – $18.000 = $12.000. Com o custo de $10.000, então o lucro líquido do técnico é de $2.000. Para o principal, o lucro esperado será de $30.000 - $12.000 = $18.000, pois mais uma vez ele vai supor que a = 1. Conclusão: ambos os esquemas resultam na mesma vantagem para ambos! Para combater os malefícios da informação assimétrica, além da reputação, agrupamento de riscos, padronização, sinalização e esquemas de remuneração, temos a considerar a Teoria do Salário Eficiência. Mesmo em um mercado de trabalho competitivo existe o desemprego. Alguns explicam o desemprego nestas condições pelo “modelo de enrolação” ou de “dissimulação no trabalho”, que é uma forma de informação assimétrica onde o trabalhador finge que trabalha, mas não o faz. Como a remuneração no mercado de trabalho competitivo é Módulo 9 – Porque os Mercados Falham PG Eng.Econômica 2016 Pg.9-15/28 igual ao seu produto marginal, com a “dissimulação” a informação de desempenho é limitada, o que pode provocar ineficiências. Na Figura 9-22 está representado o mecanismo do “modelo de dissimulação do trabalho”. Sem dissimulação o salário de mercado é de w * e o pleno emprego ocorre em L * . A curva de Restrição de Ausência de Negligência (RAN) aponta um salário mais alto we em que a dissimulação deixa de existir, porém, implicitamente isto cria nível de desemprego como ilustra a figura. Com o desestímulo dos “enroladores”, a curva de demanda por trabalho se desloca como em cinza, então aumenta mais o desemprego, as diminui o salário eficiência. Com o desemprego maior, menor a diferença w * − we , o que significa estímulo para os negligentes produzirem. Se não o fizerem, eles podem permanecer longo período desempregados reduzindo a demanda por trabalho. Um caso clássico da ação sobre informação assimétrica foi o que aconteceu com a Ford a partir de 1913. Até este ano a produção dependia de mão de obra especializada, depois a linha de montagem passou a exigir menos especialização. Em 1913 a rotatividade era de 380%, subiu para 1000% em 1914 e a margem de lucro reduziu. A remuneração média era algo entre $2 e $3, então a Ford aumentou o salário para $5 em busca de mão de obra mais eficiente. Com isto a produtividade cresceu 51%, o absenteísmo caiu à metade e a lucratividade aumentou de $30 Módulo 9 – Porque os Mercados Falham PG Eng.Econômica 2016 Pg.9-16/28 milhões em 1914 para $60 milhões em 1916. Ou seja, o uso do salário eficiência mitigou o problema de informação assimétrica. Concluímos a análise desta modalidade de falha de mercado destacando que incertezas, seleção adversa e risco moral podem ser mitigados com mais informações. Existe, no entanto, um problema econômico associado à obtenção destas informações. É o efeito “Carona”: se todas as informações estiverem disponíveis no mercado, quem não investiu em sua obtenção pode beneficiar-se indevidamente dos esforços onerosos aqueles que não investiu na sua obtenção. É o caso de direitos autorais, de patentes, etc. O problema associado é que pode ensejar a “ignorância racional”. Se os “ignorantes” puderem seguir os mais bem informados pode gerar outro problema econômico conhecido como “comportamento de manada”. No sistema financeiro, por exemplo, sob informações assimétricas, a incerteza é difusa e inevitável, as “manadas” podem inflar preços resultando nas chamadas “bolhas”. Na história financeira o estouro de “bolhas” resultou crises severas com imenso custo social. Módulo 9 – Porque os Mercados Falham PG Eng.Econômica 2016 Pg.9-17/28 Outra falha de mercado, esta não associada à informação, mas devido a influências negativas ou positivas de outros é conhecida como externalidades. Como elas não se refletem nos preços de mercado, elas podem ser causa de ineficiência econômica. Por exemplo, quanto mais a CSN em Volta Redonda despeja efluentes no rio Paraíba do Sul, menos peixes haverá no rio (externalidade negativa). Outro exemplo, um aeroporto público perto, ou dentro, de uma fazenda, melhor para o dono da fazenda (externalidade positiva). Observe que a eficiência na indústria é diferente da eficiência social. Na Figura 9-26 está ilustrada a situação em que, seja do ponto de vista da empresa, seja do setor, na presença de externalidades negativas, o custo social marginal (CMgS) é maior que o custo marginal. A diferença é o custo Módulo 9 – Porque os Mercados Falham PG Eng.Econômica 2016 Pg.9-18/28 marginal externo, CMgE, também ilustrado na figura. Observe que o preço P1 é baixo, pois reflete apenas o custo marginal privado. A empresa maximizadora de lucro produz em q1 enquanto o nível eficiente é q * . A produção competitiva da indústria é Q1 , enquanto a produção eficiente é Q * . Na figura, a área em amarelo representa o custo social agregado da externalidade negativa. Perceba que o nível de produção é mais alto que o eficiente, ou seja, externalidades negativas estimulam empresas demais no setor. Em suma, mais uma vez temos distorções no mercado. Para corrigir falhas de mercado existem três caminhos principais: padrão, imposto e permissões transferíveis de emissão. Pensemos em termos de emissão de efluentes, como no exemplo da Figura 9-27, onde estão representadas as curvas de custo marginal externo (CMgE) e custo marginal de Redução de emissão (CMgR), este último decrescente significando que se não se preocupar em conter as emissões o custo da redução se aproxima de zero, o primeiro, CMgE, crescente com as emissões representa o custo marginal social infligido pela empresa. Com um padrão, se adota um limite legal de emissão. Com imposto, se taxa por unidade de emissão. Para efeito de raciocínio, considere que de início o nível de emissão é de E 0 , o CMgR é maior que o CMgS (custo muito alto para as empresas, porém excelente para as pessoas). Inversamente, em E1 o CMgS é maior que o CMgR das emissões (custo melhor para as empresas, porém danoso para as pessoas). Intuitivamente isto nos leva a pensar que o nível ótimo se dá na confluência das duas curvas, E * . Módulo 9 – Porque os Mercados Falham PG Eng.Econômica 2016 Pg.9-19/28 Para tentar alcançar tal nível ótimo se pode estabelecer padrão ou imposto, como mostra a Figura 9-28, o padrão impondo nível E * diretamente, o imposto infligindo custo que remete ao nível E * de emissões. Observe que a área cinzenta à esquerda de E * representa o total do imposto pago e em qualquer ponto desta área CMgR > imposto, vale dizer, melhor pagar o imposto. Por outro lado, a área azul à direita de E * representa o custo total de redução de emissões, onde CMgR < CMgE ou ainda CMgR < imposto, ou seja, vale a pena reduzir emissões (melhor não pagar imposto!). Se adotar o padrão, o nível de emissão e seu custo ficam pré-determinados. O melhor dentre eles, imposto ou padrão, vai depender dos formatos de CMgE e CMgR, como veremos a seguir. Imaginemos duas empresas com CMgS idênticos. Na Figura 9-29 estão exemplificados os casos de estabelecimento de padrão e de imposto para cada uma. O efeito de um padrão de redução de 7 unidades para ambas as empresas é ilustrado, mostrando que padrão não é eficiente pois CMgR1 < CMgR2. Por outro lado, com um imposto de $3, as emissões da Empresa 1 cairiam de 14 para 8. As emissões da Empresa 2 cairiam de 14 para 6. A solução minimizadora de custos para a Empresa 1 é uma redução de 6 unidades, e a área verde representa o aumento relativo ao imposto da emissão para a Empresa 1. A solução minimizadora para a Empresa 2 é de 8 unidades, e a área roxa representa a Módulo 9 – Porque os Mercados Falham PG Eng.Econômica 2016 Pg.9-20/28 diminuição relativa ao imposto para a Empresa 2. Veremos que o imposto é melhor que padrão quando CMgE forma mais plano, CMgR mais inclinado. Exemplo1: Para os dados da Figura 9-29, prove quantitativamente que imposto é melhor do que padrão. Respostas: Possivelmente em sala de aula. A Figura 9-30 ilustra a vantagem de padrões. Na Figura o imposto eficiente seria $8, mas sob informação incompleta, se o imposto fosse $7 – com redução de 12,5% - as emissões aumentariam muito, de 8 para 11. A área ABC representa a ineficiência caso haja erro de 12,5% no estabelecimento do imposto, quanto mais inclinado CMgS maior esta ineficiência. Para comparar com a solução por padrão, se sob informação incompleta, o padrão for 9 unidades de nível de emissão (ampliação de 12,5%), então teríamos a ineficiência ADE < ABC, evidenciando que, para este caso, padrão é melhor que imposto. Como já mencionamos pelo reverso: padrão é melhor quando CMgE é muito inclinado e CMgR (ou CMgS) é mais plano. Concluímos a comparação entre imposto/padrão observando que os impostos propiciam maior grau de certeza quanto ao custo e menor grau de certeza quanto às emissões. A preferência entre as duas políticas depende da natureza da incerteza e das inclinações relativas das curvas de custo. A terceira forma de corrigir falhas de mercado são as permissões de emissões transferíveis. Trata-se de uma Módulo 9 – Porque os Mercados Falham PG Eng.Econômica 2016 Pg.9-21/28 forma de desenvolver um mercado competitivo para externalidade. O órgão regulador determina o nível de emissões e o número de permissões, estas sendo transacionáveis. As empresas com custo elevado comprará permissões sãs empresas de baixo custo. Retornando ao slide da Figura 9-29 são permitidas emissões até 7 unidades. A Empresa 2 poderia vender sua permissão por preço entre $2,50 a $3,75 para a Empresa 1. Então um nível de emissões seria atingido por um custo mínimo (e estaria criado um mercado de externalidades). Podem surgir externalidade quando se usa recursos sem ter que pagá-los. É o caso de recursos de propriedade comum. É também o caso de bens públicos. Módulo 9 – Porque os Mercados Falham PG Eng.Econômica 2016 Pg.9-22/28 Bens de uso público podem ser não rivais, quando o custo marginal de prover o bem para um consumidor adicional é zero para qualquer nível de produção. Podem ser não excludentes, caso em que os indivíduos não podem ser excluídos do consumo do bem. Podem ser rivais ou excludentes, por exemplo: educação, parques, etc. Para este caso, no entanto, o governo pode estabelecer imposto. O problema econômico associado é que os indivíduos não têm incentivos para pagar o valor que atribuem ao bem pelo direito de consumi-lo, surge o problema já mencionado do “carona”, fica difícil determinar o nível ótimo de uso. Vejamos primeiramente a ineficiência de recursos de propriedade comum. Imaginemos um lago onde a pesca é recurso de propriedade comum, acessível a todos. A Figura 9-34 ilustra a situação onde na ausência de controle, o número de peixes é FC e o custo privado é igual ao benefício marginal. Observe que o preço dos peixes para os pescadores é tido como dado (constante), mas pode esgotar o recurso, ou seja, usar mais que o necessário para manter o recurso disponível. Os custos privados subestimam os verdadeiros custos, o CMgS inclui além dos custos privados o custo social do esgotamento do estoque de peixes. O nível eficiente é F * e CMgS = BMg, ou seja, o recurso de propriedade comum deveria ter um único administrador que imporia P = CMg (do esgotamento do recurso). Porém, nem sempre esta solução é viável. Módulo 9 – Porque os Mercados Falham PG Eng.Econômica 2016 Pg.9-23/28 Exemplo2: No lago, se as variáveis de interesse são F , quantidade de peixes, e C , custo privado, são dadas a demanda: C = 0,401 − 0,0064 F , o custo marginal social: C = − 5,645 + 0,6509 F , e o custo privado: C = − 0,357 + 0,0573F . a) Quais seriam quantidade e custo eficientes? b) Quais seriam quantidade e custo efetivo? c) Qual seria o excesso de custo social em relação ao custo privado? Respostas: Possivelmente em sala de aula. Para provisão eficiente de bem público, BMg = CMg, como no caso do bem privado. No entanto, para bens privados BMg é o recebido pelo consumidor, enquanto nos bens públicos BMg é a soma de TODOS consumidores. A Figura 935 ilustra o caso de 2 consumidores. Quando um bem é não rival, o benefício marginal social do seu consumo (D) é determinado pela soma das curvas de demanda individuais pelo bem. Observe na figura que a produção eficiente ocorre onde CMg = BMg = $1,50 + $4,00 = $5,50. Vejamos por indução intuitiva no gráfico que Q = 2 é realmente eficiente. - Se Q = 1 e CMg = $5,50, então vemos que BMg ≅ $7,00 o que nos mostra que BMg > CMg então a quantidade é ineficiente. - Se Q = 3 e CMg = $5,50, então vemos que BMg ≅ $4,00 o que nos mostra que BMg < CMg então a quantidade é excessiva. Módulo 9 – Porque os Mercados Falham PG Eng.Econômica 2016 Pg.9-24/28 Módulo 9 – Porque os Mercados Falham PG Eng.Econômica 2016 Pg.9-25/28 Problemas Propostos: 9.1) Descreva em poucas palavras: a) Informação assimétrica b) Exemplos de sinalização de mercado c) Incentivos para redução do problema agente-principal d) Modelo “dissimulação no trabalho” e) Ineficiência de externalidades f) Comparação “padrão” versus “imposto” g) Ineficiência no uso de recursos de propriedade comum h) Comparação de eficiências: privado versus público 9.2) Suponha que estudos científicos mostrem as seguintes informações sobre benefícios e custos das emissões de dióxido de enxofre: Benefícios de reduzir as emissões: BMg = 400 − 10 A Custos de reduzir as emissões: CMg = 100 + 20 A onde A é a quantidade de emissões reduzida em milhões de toneladas, e os benefícios e custos são dados em dólares por tonelada. a) Qual é o nível de redução de emissões socialmente eficiente? b) Quais são os benefícios marginais e os custos marginais das emissões no nível socialmente eficiente? c) O que aconteceria com os benefícios sociais líquidos (benefícios menos custos) se você reduzisse 1 milhão de toneladas a mais que o nível de eficiência? E 1 milhão a menos? d) Por que é eficiente em termos sociais igualar os benefícios marginais aos custos marginais em vez de reduzir as emissões até os benefícios totais se igualarem com os custos totais? 9.3) Para os dados da Figura 9-29, prove quantitativamente que imposto é melhor do que padrão. Módulo 9 – Porque os Mercados Falham PG Eng.Econômica 2016 Pg.9-26/28 9.4) No lago, se as variáveis de interesse são F , quantidade de peixes, e C , custo privado, são dadas: a demanda C = 0,401 − 0,0064 F , o custo marginal social C = − 5,645 + 0,6509 F , e o custo privado C = − 0,357 + 0,0573F . Responda: a) Quais seriam quantidade e custo eficientes? b) Quais seriam quantidade e custo efetivo? c) Qual seria o excesso de custo social em relação ao custo privado? 9.5) Um investidor está pensando em comprar um campo de petróleo. A probabilidade de que existam 20 barris de petróleo no campo é igual a 1/3, a probabilidade de que existam 40 é também 1/3. Por fim, novamente com probabilidade igual a 1/3 pode ser que existam 120 barris de petróleo no campo. O dono atual do campo de petróleo poderia obter um lucro de $1 por barril. Ou seja, se o campo tivesse 40 barris o seu lucro seria de $40. O investidor é um produtor mais eficiente e conseguiria obter um lucro de $1,5 por barril caso este comprasse o campo. Ou seja, se o campo tivesse 40 barris ele obteria um lucro de $60. O dono do campo fez uma pesquisa intensa e sabe exatamente quantos barris existem lá, mas o investidor não sabe. O investidor é neutro ao risco, ou seja, sua única preocupação é maximizar o seu lucro esperado. Seja p o preço pelo qual o campo de petróleo está sendo vendido. Além disto, suponha que se o dono do campo de petróleo fosse indiferente entre vender ou não vender o campo pelo preço p , então ele venderia. Qual o máximo valor de p pelo qual um investidor inteiramente racional aceitaria comprar o campo? Detalhe os cálculos. 9.6) A receita de curto prazo de uma empresa é dada por R = 10e − e 2 , onde e é o nível de esforço do trabalhador (supõe-se que todos trabalhadores sejam idênticos). Um trabalhador escolhe seu nível de esforço, ( w − e ) com o custo por unidade de esforço sendo igual a 1. Determine o nível de esforço e o nível de lucro (receita menos salário pago) para cada uma das condições a seguir. Explique por que estas diferentes relações agente-principal geram resultados distintos. a) w = 2 para e ≥ 1 ; caso contrário, w = 0 b) w = R 2 c) w = R − 12,5 Módulo 9 – Porque os Mercados Falham PG Eng.Econômica 2016 Pg.9-27/28 Respostas Selecionadas 9.1) a) b) c) d) e) f) g) h) 9.2) a) b) c) d) 9.3) (slide 9-4,6 até 24) (slides (9-11 até 15) (slide 9-20) (slide 9-22) (slide 9-26) (slides 9-28,29,30) (slide 9-34) (slide 9-35) A = 10 milhões de toneladas 300, para ambos Respectivamente: a mais, US$1.485 milhões; a menos, US$1.485 milhões. Porque desejamos maximizar o benefício líquido (BT – CT), então, na margem, a última unidade de emissão reduzida deve apresentar um custo igual ao benefício. Se optássemos pelo ponto onde BT = CT, obteríamos uma redução excessiva das emissões; tal escolha seria análoga a produzir no ponto em que a receita total é igual ao custo total, ou seja, num ponto em que o lucro é zero. No caso das reduções das emissões, maiores reduções implicam maiores custos. Dado que os recursos financeiros são escassos, o montante de dinheiro destinado à redução de emissões deve ser tal que o benefício da última unidade de redução seja maior ou igual ao custo a ela associado. Custos de redução de emissão: IMPOSTO: $42; PADRÃO: $43,75 9.4) a) Respectivamente: 9,2 e $0,342 b) Respectivamente: 11,95 e $0,3325, custo social eleva para $2,10 c) $2,44 9.5) O segredo aqui é perceber que o problema é uma questão de seleção adversa. Primeiro observe que caso o dono do campo de petróleo soubesse que o número de barris ali fosse 123, ele só aceitaria vender o campo por um preço maior ou igual a $120. Mas suponha que o campo esteja sendo vendido por um preço maior ou igual a $120. Neste caso, o investidor sabe que existe uma probabilidade igual a um terço de que o campo contenha 20, 40 ou 120 barris. Mas então o seu lucro esperado será: 1 1 1 π = × 180 + × 60 + × 30 − p = 90 − p < 0. Ou seja, quando p ≥ 120 o investidor espera 3 3 3 ter um lucro negativo com o campo de petróleo, portanto, não o compraria. Com um preço p < 120, o investidor sabe que se o dono está aceitando vender o campo de petróleo, então Módulo 9 – Porque os Mercados Falham PG Eng.Econômica 2016 Pg.9-28/28 este não tem 120 barris. Se p ≥ 40, então o dono aceitaria caso ele tivesse 20 ou 40 barris. Como as probabilidades iniciais de haver 20 ou 40 barris eram iguais, ao aprender que não existe mais a possibilidade da existência de 120 barris, o investidor conclui que agora as probabilidades de haver 20 ou 40 barris são ambas iguais a 1 . Sob tais probabilidades, o 2 lucro esperado pelo investidor é: 1 1 π = × 60 + × 30 − p = 45 − p 2 2 Portanto, para p ≤ 45 o lucro do investidor seria positivo e, de fato, 45 é o maior valor para o qual isto ocorreria. 9.6) a) Não há estímulo para que o trabalhador faça um esforço que exceda 1; π = $7 b) e = 4; salário = $12; π = $12 c) e = 4,5; salário = 12,25; π = $12,50