DISTRAÇÃO ÓSSEA MAXILAR NA SEQÜELA DE FISSURA LÁBIO PALATINA. RELATO DE CASO REPAIRING CLEFT PALATE SEQUEL WITH MAXILLARY DISTRACTION OSTEOGENESIS. CASE REPORT MARCELO PAULO VACCARI-MAZZETTI Regente do Serviço de Cirurgia Plástica do Centro de Estudos e Pesquisas Defeitos da Face. CÉLIO TOSHIRO KOBATA Residente de Cirurgia Plástica do Centro de Estudos e Pesquisas Defeitos da Face. RYANE SCHMIDT BROCK Residente de Cirurgia Plástica do Centro de Estudos e Pesquisas Defeitos da Face. ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA Av. Ceci, 475 - São Paulo - SP - Tel : 50561224 - E-mail: [email protected]; [email protected] DESCRITORES LÁBIO, PALATO, ALONGAMENTO ÓSSEO KEYWORDS LIP, PALATE, BONE LENGTHENING RESUMO Introdução: O tratamento da hipoplasia maxilar em pacientes com fissura lábio-palatina é um desafio entre os cirurgiões, que se dividem entre técnicas convencionais, cirurgias ortognáticas e a distração osteogênica da maxila. 1, 2 A distração osteogênica foi utilizada no terço médio da face por Rachmiel e col. em 1993. Desde então, tem sido uma alternativa no tratamento de hipoplasia maxilar. 3, 4. Objetivo: O estudo avalia o crescimento ósseo maxilar de paciente com fissura lábio-palatina submetida a distração osteogênica para correção de hipoplasia maxilar. Métodos: Paciente de 13 anos, sexo feminino, tratada cirurgicamente de fissura lábio-palatina na infância e portadora de hipoplasia maxilar e classe oclusal III. Foi submetida à união de segmentos maxilares com fixação interna rígida e enxertia óssea na fenda alveolar, tornando único os blocos maxilares. Este bloco maxilar, recém coeso, foi submetido ao alongamento ósseo após a confecção de, com osteotomia tipo Le Fort I e tração com distrator externo rígido para alongamento. A própria fixação interna foi utilizada para a tração através de foi de aço 1. Foram realizadas medidas cefalométricas através de radiografias frontais e laterais, avaliação do perfil facial e oclusal no pré e pós-operatório. Resultados: A maxila apresentou alongamento com neoformação óssea na região ptérigo-maxilar, o que permitiu um avanço de 31 mm da maxila e das partes moles envolvidas, mudança da classe oclusal III para classe I e melhora do perfil facial. Conclusão: A distração osteogênica da maxila nos portadores de fissura lábio-palatina, apresenta alongamento ósseo adequado à correção da classe oclusal e melhora do perfil facial. ABSTRACT Background: The maxillary hipoplasy treatment on patients with lip and palate cleft has been a challenge to surgeons, that makes conventional techniques as orthognatic surgery or maxillary distraction osteogenesis. 1, 2 The first maxilary distraction osteogenesis was described by Rachmiel el al, (1993), since than it is an alternativa to maxillary hipoplasy treatment. 3, 4. objective: This study evaluates the maxillary growth of a patient submitted to distraction osteogenesis to maxilary hipoplasy correction. Methods: A girl with 13 years old had surgical treatment of cleft lip and palate at childhood and had antero-posterior maxillary hipoplasy. She had type III occlusal class. was submitted to a Le Fort I osteotomy and bone graft at the alveolar cleft and fixation of a rigid external distractor (RED) to bone elongation. The fixation was used to make the anterior traction througth a steal line. Cefalometric measures were taken at the pré and post operative. Results: This case had a maxillary elongation with bone formation at the pterigo-maxillar region. It leads to a hipoplasy correction, occlusal class change and a better facial lateral view. Conclusion: The maxillary distraction osteogenesis at lip and palate cleft patients results on an adequate bone elongation, occlusal class correction and a better facial lateral view. INTRODUÇÃO A fissura lábio-palatina é a malformação congênita mais comum na face. O tratamento cirúrgico pode levar a uma deficiência do desenvolvimento facial, em especial do terço médio da face, com hipoplasias maxilares e palatais1,4. As deformidades do terço médio da face incluem as alterações de mordida, alem de alterações funcionais e estéticas. Podem ser tratadas com cirurgias ortognáticas em associação ou não com enxertos ósseos e apresentam resultados Arquivos Catarinenses de Medicina - Volume 38 - Suplemento 01 - 2009 49 instáveis, com possibilidade de perda parcial do resultado9. A distração osteogênica, idealizada inicialmente por Codivilla (1904), permite alongamento ósseo gradual e é realizada através de forças mecânicas aplicadas em dois segmentos ósseos após realização de uma osteotomia entre os mesmos.8 Como alternativa para as cirurgias ortognáticas da maxila, Tairov (1987) sugeriu o uso de uma força de tração para promover o crescimento lento e gradual da maxila e do terço médio da face e posteriormente, realizou um estudo experimental de avanço maxilar com o uso de distrator osteogênico 5, 6, 7. Em 1993, Rachmiel et al. realizaram a primeira distração óssea maxilar para correção de deformidades do terço médio da face3. OBJETIVO Relatar o estudo do crescimento ósseo maxilar em paciente do sexo feminino, tratada de fissura lábio-palatina e que apresentou hipoplasia da maxila, submetida à distração maxilar. CASUÍSTICA E MÉTODOS: Foi estudado um caso de paciente do sexo feminino portadora de fissura lábio-palatina unilateral, tratada na infância, que apresentava hipoplasia maxilar, classe oclusal tipo III e alteração do perfil facial. For submetida a distração óssea da maxila, com realização de osteotomia tipo Le Fort I e posterior alongamento ósseo através de distrator externo rígido (RED). O tempo de latência foi de cinco dias, o alongamento durou 4 semanas. O aparelho permaneceu por mais 2 semanas para consolidação. Após a retirada com anestesia local e sedação, foi mantida força elástica intraoral tracionando a maxila no sentido póstero-anterior. Os aspectos avaliados foram clínicos e radiológicos através de radiografias simples em posições póstero-anterior, lateral e panorâmica de mandíbula para a avaliação de medidas lineares e angulares da maxila, expressas em milímetros e ângulos. DISCUSSÃO O tratamento cirúrgico da fissura lábio-palatina pode resultar em cicatrizes labiais e palatais, alteração da circulação local e alterações nos centros de crescimento faciais. Todas as situações podem contribuir em maior ou menor grau para sua deficiência no crescimento e desenvolvimento do terço médio da face em especial a maxila. Os distúrbios funcionais e estéticos causados pela hipoplasia maxilar requerem do cirurgião plástico alternativas para um tratamento efetivo. A opção técnica tradicional é a cirurgia ortognática, que consiste na realização de uma 50 osteotomia maxilar e avanço abrupto da maxila. Nos casos em que a necessidade de avanço é grande, ocorre um “gap” na maxila tornando o avanço instável. Nessa situação existe a necessidade de enxertos ósseos para estabilizar o resultado conseguido. Existe a possibilidade de perda dos enxertos ósseos, total ou parcialmente que, associado a presença de cicatrizes no palato, podem dificultar a manutenção do resultado obtido com a cirurgia. Nos últimos anos o tratamento das deformidades faciais que cursam com deficiência de crescimento ósseo passou a contar com mais uma forma de tratamento, a distração óssea. Inicialmente utilizada no campo da ortopedia, é atualmente, amplamente utilizada na cirurgia craniomaxilofacial3, 4, 10. Inicialmente descrita por Mc Carthy et al., para alongamento mandibular, a distração osteogênica foi descrita para uso maxilar em 1965, por Cleall et al., mas foi Rachmiel et al. (1993), que utilizaram a distração maxilar para corrigir deformidades do terço médio da face3. O distrator externo rígido, desenvolvido por Polley e Figueroa, é fixado na maxila, após a realização da osteotomia tipo Le Fort I, através de uma amarria com fio de aço na arcada dentária, exteriorizamos um fio de aço pela base da narina, proporcionando maior estabilidade de tração do bloco maxilar durante o período de distração osteogênica3, 4. A neoformação óssea ocorrerá pela tração gradual com força vetorial proporcionada pelo distrator externo. O alongamento inicia-se após cinco dias, em uma velocidade de 1 mm por dia3, 4. O crescimento e desenvolvimento de partes moles estão associados ao alongamento ósseo e pode ser avaliado através de documentações fotográficas no pré e pós-operatório11, 12, 13. Utilizamos pontos cefalométricos lineares e angulares, avaliados através de estudos radiográficos, que permitem avaliar o crescimento ósseo vertical e horizontal da maxila e também o crescimento facial como um todo, pois o objetivo do tratamento é a simetria facial14,15. Além da melhora da simetria facial, notamos que a fala da paciente avaliada manteve-se igual, ou melhor, que no pré-operatório. A distração maxilar pós osteotomia tipo Le Fort I é um procedimento menos invasivo que reduz a necessidade do uso de enxertos ósseos e da fixação rígida com placas e parafusos, diminuindo, assim, o tempo de permanência hospitalar16. A neoformação óssea permite a manutenção dos resultados a longo prazo, no entanto, deve estar associada a técnicas ortodônticas para uma melhor oclusão dentária. O trabalho multidisciplinar da equipe é fundamental para o sucesso do tratamento17. RESULTADOS A paciente com hipoplasia maxilar submetida à distração osteogênica com distrator externo rígido, Arquivos Catarinenses de Medicina - Volume 38 - Suplemento 01 - 2009 apresentou evidências clínicas e radiológicas de protrusão maxilar, demonstrando a neoformação e alongamento ósseo satisfatórios. CONCLUSÃO A distração osteogênica da maxila proporciona o alongamento ósseo estável em pacientes tratados de fissura lábio-palatina, com deficiências póstero – anteriores da maxila, melhorando a classe oclusal e o perfil facial. REFERÊNCIAS 1. Roxo CEMB, Lacerda DJC, Bacigalupo MLJ. Cronologia precoce do tratamento cirúrgico.in: Altmann EBC. Fissuras lábio palatinas, 1992, Barueri. Pró-fono p.73-82 2. Ortiz Monastério F, Rebeil AS, Valderrama M, Cruz R. Cephalometric measurements on adult patients with nonoperated cleft palates. Plast Reconstr Surg, 1959. 24: 53-8. 3. Cho BC, Kyung HM. Distraction osteogenesis of the hypoplastic midface using a rigid external distraction system: the results of a one-to six year follow-up, Plast Reconstr Surg, 2006, 118(5): 1201-12. 4. Figueroa AA, Polley JW, Friede H, Ko EW. Long term skeletal stability after maxillary advancement with distraction osteogenesis using a rigid external distraction device in cleft maxillary deformities, Plast Reconstr Surg, 2004, 114(6): 1382-92. 5. Molina F, Ortiz-Monastério F, Aguilar MPA, Barrera J. Maxillary distraction: aesthetic and functional benefits in cleft lip- palate and prognathic patients during mixed dentition. Plast Reconstr Surg, 1998. cap 101(4), p.951-63. 6. Molina F & Ortiz-Monastério F. Maxillary distraction: aesthetic and functional beneficts in cleft lippalate and prognathic patients during mixed dentition. Plast Reconstr Surg, 1998. 101 (4): 951-63. 7. Polley JW, Figueroa. A. Rigid external distraction: its application in cleft maxillary deformities. Plast Reconstr Surg, 1998.102 (5):1360-72. 8. Codvilla A. On the means of lengthening, in the lower limb the muscle and tissues which are shorted through deformity. Am. J. Orthop. Surg. 2:353-69, 1904. 9. Franchi JB. Diagnóstico e planejamento ortodôntico - Pré-operatório, cirúrgico, técnicas cirúrgicas, casos clínicos, antes e depois da cirurgia ortognática; Atualização em Cirurgia Plástica, 2004, 125-35. 10.Baek S. Comparison of treatment outcome and stability between distraction osteogenesis and lefort I osteotomy in cleft patients with maxillary hypoplasia, The journal of Craniofacial Surgery, 2007, 18(5): 1209-15. 11.Mccarthy JG, Schreiber J, Karp N. Lenghtening the human mandible by gradual distraction. Plast Reconst. 89:1, 1992. 12.Molina F & Ortiz-Monasterio F. Mandibular elongation and remodeling by distraction: a farewell to major osteotomies. Plast. Reconstr. Surg. 96(4):825-40, 1995. 13.Klein C, Howaldt HP. Lengthening of the hypoplastic mandible by gradual distraction in childhood – a preliminary report. J Craniomaxillofac Surg. 23:68-74, 1995. 14.Vaccari-Mazzetti MP, Molina F, Garcilazo M. Facial growth in mandible elongation and hemifacial microsomia. 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