Braz J Periodontol - September 2013 - volume 23 - issue 03 DOENÇA PERIODONTAL: UM MAL QUE PODE SER EVITADO? Periodontal disease: an evil that can be avoided? Adriane Cristina Richa Ferreira1, Ana Paula Grimião Queiroz2, Gabriela Palmer Pamponet³, Carolina Rios Costa3, Izadora Cândido Belizário3, Kizzy Esteves Ferreira3, Letícia Rodrigues Rocha3, Vania Filippi Goulart Carvalho Pereira4 1 Professora Meª em Periodontia pela SLMANDIC - Campinas SP. Profª do Curso de Odontologia da USS. 2 Professora Meª em Periodontia pela UNITAU - Taubaté SP. Profª do Curso de Odontologia da USS. 3 Graduandos em Odontologia da USS. 4 Professora Drª em Biologia pela UFRRJ - Rio de janeiro RJ. Profª de Estatística da USS. Recebimento: 24/06/13 - Correção: 12/07/13 - Aceite: 06/09/13 RESUMO As doenças periodontais (DP) são infecções que acometem os tecidos que circundam e suportam os dentes, causadas por microrganismos presentes no biofilme dental. O envolvimento dos profissionais da Odontologia com a prevenção e a educação continuada objetiva proporcionar uma conscientização maior dos pacientes para evitar o início da gengivite e sua conseqüente evolução para periodontite. Este trabalho teve o propósito de verificar os conhecimentos dos cirurgiões dentistas da rede pública e particular do município de Vassouras/RJ com relação ao diagnóstico, prevenção e tratamento da doença periodontal. Alunos do Curso de Odontologia da Universidade Severino Sombra (USS), sob a orientação do professor pesquisador, entrevistaram os cirurgiões-dentistas por meio de um questionário, com perguntas pertinentes ao tema abordado, entre março e outubro de 2012. Foram respondidos e entregues 14 questionários de dentistas da rede pública (postos de saúde da família- PSF) e 26 questionários de dentistas particulares da cidade, totalizando 40 participantes, o que corresponde a mais de 50% dos dentistas da cidade inscritos no CRO no momento da pesquisa. Pelas respostas obtidas, pôde ser observado que a maioria dos dentistas trabalha na prevenção das doenças periodontais. Entretanto, poucos têm como rotina o uso da sonda e da ficha periodontal no exame clínico de seus pacientes, o que pode estar relacionado à dificuldade existente em diagnosticar mais precisamente as doenças periodontais. Diante disto, conclui-se que o exame clínico periodontal ainda não se faz presente na prática dos dentistas entrevistados, o que impossibilita desta forma diagnósticos precoces das doenças periodontais. UNITERMOS: biofilme; doença periodontal; diagnóstico; prevenção; tratamento. Periodontia. R Periodontia 2013; 23:15-23. INTRODUÇÃO A importância em se definir um critério clínico para diagnóstico preciso em relação a qualquer enfermidade é indiscutível e fundamental, uma vez que somente a partir de uma definição precisa da doença em questão é possível que se consiga uma ação efetiva, tanto no que tange à prevenção, quanto ao tratamento da mesma. As doenças crônicas avançam em todas as regiões e permeiam todas as classes socioeconômicas. Dieta pouco saudável, má nutrição, sedentarismo, tabagismo, uso excessivo de álcool e estresse psicossocial são os An official publication of the Brazilian Society of Periodontology ISSN-0103-9393 fatores de risco mais importantes. Doença periodontal é um componente de carga global da doença crônica, tendo os mesmos fatores de riscos essenciais (Petersen & Ogawa, 2012). As Infecções periodontais e a cárie dentária, doenças induzidas pelo biofilme bacteriano, são indiscutivelmente as patologias infecciosas mais comuns na cavidade bucal. Nesse contexto, medidas regulares para a remoção do biofilme devem ser instituídas para que a saúde bucal seja mantida e doenças prevenidas (Couto & Duarte, 2006; Lindhe, 2010). Dados apresentados na literatura afirmam que a 15 Braz J Periodontol - September 2013 - volume 23 - issue 03 - 23(3):15-23 prevalência das doenças periodontais continua muito elevada, independe da idade e status socioeconômico, estando diretamente associada à higiene oral deficiente (Chambrone et al., 2008). Assim sendo, as conclusões observadas por Chambrone em 1993 continuam válidas para os dias de hoje. Ele já havia afirmado que “quando um profissional ao examinar um paciente não diagnosticar doença periodontal, em algum de seus estágios, seus exames deveriam ser revistos, pois a chance de encontrar pacientes com todas as unidades gengivais e periodontais clinicamente saudáveis eram mínimas”. Dessa forma, estudos sobre prevalência da doença periodontal são de grande importância para que profissionais, leigos e governantes possam identificá-la, traçando estratégias de saúde individuais e comunitárias de prevenção, tratamento e controle da mesma (Araújo & Sukekava, 2007). O foco da epidemiologia periodontal global durante o último meio século tem sido na identificação de populações que tenham a doença periodontal e as situações onde existam disparidades na prevalência da doença entre os grupos (Dye, 2012). A chave principal para a prevenção das doenças periodontais é o controle regular do biofilme microbiano, por meio de métodos mecânicos, mecânico-químicos ou associação de ambos. Este é o procedimento básico para a prática odontológica, uma vez que, sem esse controle, a higiene bucal não pode ser alcançada e/ou preservada, comprometendo a efetividade de procedimentos restauradores futuros (Pontes et al., 2007). A forma mais aceita para se definir o estado de saúde ou doença periodontal ainda é o exame de sondagem (Pinto et al., 2006). Por meio dele, podemos obter parâmetros clínicos que refletem as condições periodontais, tais como: Profundidade Clinica de Sondagem (PCS) e Perda de Inserção Clinica (PIC). Essas medidas, obtidas com uma sonda periodontal milimetrada, são consideradas como razoavelmente corretas, supondo-se que para a PCS, a sonda identifique as células mais apicais do epitélio juncional (Tahim et al., 2007). O uso regular de sondas periodontais na prática odontológica de rotina facilita e aumenta a precisão do processo de diagnosticar a doença, formulando o tratamento e predizendo o resultado da terapia. Avanços no campo da sondagem periodontal levaram ao desenvolvimento de sondas que podem ajudar a reduzir os erros de determinação do valor usado para definir o estado da doença periodontal ativa. Outro avanço é o surgimento de sondas que avaliam supostamente a atividade da doença periodontal não-invasiva. A seleção da sonda periodontal depende do tipo de prática odontológica: o dentista clínico geralmente utiliza a primeira ou segunda geração de sondas, enquanto as sondas de terceira geração geralmente são usadas em instituições acadêmicas e de pesquisa, bem como nas práticas de especialidades (Ramachandra et al., 2011). Vários fatores afetam a precisão e confiabilidade da sondagem periodontal, incluindo a força de sondagem, o tipo de sonda e o sítio sondado (Khan & Cabanilla, 2009), e outros inerentes às características da própria doença periodontal, tais como nível de inflamação gengival, anatomia da coroa e da raiz e morfologia do defeito ósseo (Lindhe, 2005). Sabe-se, portanto, que a saúde bucal é extremamente importante para a saúde geral do indivíduo. A periodontite pode aumentar o risco para o desenvolvimento de doenças sistêmicas e não pode ser ignorada pelos profissionais da saúde. Uma atenção especial deve ser dada para prevenção e para o tratamento das doenças periodontais destrutivas. O envolvimento dos profissionais da Odontologia com a prevenção e a educação continuada tem como objetivo proporcionar uma conscientização maior dos pacientes para evitar o estabelecimento da gengivite e sua consequente evolução para periodontite, melhorando a qualidade de vida dos indivíduos. Quanto ao diagnóstico da doença periodontal (DP), há uma diversidade de critérios utilizados, o que se reflete na dificuldade de eleger uma classificação da doença e comparar entre os achados de trabalhos científicos desse campo da saúde. Critérios baseados na perda de inserção clínica têm sido referidos na literatura como os mais utilizados, Lopez et al. (2002a), Lopez et al. (2002b), Cruz et al. (2005). Vale ressaltar que a PIC é definida como a distância entre a junção cementoesmalte e o fundo do sulco/bolsa e é calculada como a soma das medidas de profundidade de sondagem e recessão gengival (Gomes Filho et al., 2006). A remoção periódica de biofilme, cálculo e substâncias incorporadas ao cemento periodontal, por meio de raspagem e alisamento, é o tratamento periodontal mais eficaz para se obter uma superfície radicular limpa e compatível com a saúde dos tecidos periodontais (Carraro, 2008). A aplicação dos procedimentos básicos não depende apenas do tipo de instrumento e das variações anatômicas dos dentes, mas da habilidade do profissional no uso e no conhecimento da função dos instrumentos periodontais (Souza et al., 2012). Levando-se em consideração os conhecimentos adquiridos pelos alunos durante o curso de graduação em Odontologia acerca do biofilme bacteriano e dos prejuízos que este pode trazer para a saúde do indivíduo, o propósito dessa pesquisa foi identificar a prática profissional entre os cirurgiões dentistas da rede pública e particular do município de Vassouras/RJ com relação à prevenção, diagnóstico, e tratamento da doença periodontal. 16 An official publication of the Brazilian Society of Periodontology ISSN-0103-9393 Braz J Periodontol - September 2013 - volume 23 - issue 03 - 23(3):15-23 MÉTODO Questão 7. “Encaminha doentes periodontais para tratamento com especialistas em periodontia?” Após a coleta dos dados obtidos nos questionários, os resultados foram expressos através de gráficos coloridos de acordo com a abordagem do tema (prevenção, diagnóstico e tratamento) e tabulados através de percentuais. Após aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Severino Sombra (USS), Vassouras/RJ, foi realizada uma pesquisa nos consultórios particulares e na rede pública deste município, entre março e outubro de 2012. Alunos do curso de Odontologia da Universidade Severino Sombra (USS), previamente calibrados e sob a orientação do professor pesquisador, entregaram um questionário aos cirurgiões-dentistas que trabalham em PSFs e em consultórios particulares da cidade de Vassouras /RJ. O questionário foi composto por sete perguntas pertinentes ao tema abordado, e apresentava como opções de resposta: sempre, nunca, às vezes, que eram prontamente respondidas e entregues, perfazendo um total de quatorze questionários de dentistas do PSF e vinte e seis questionários de dentistas particulares. Cada cirurgião dentista que aceitou participar da pesquisa recebeu e assinou um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TECLE). As perguntas que estruturaram o questionário foram as seguintes: Questão 1. “Você explica a relação da placa ou biofilme dental com a origem da doença periodontal ao seu paciente?” Questão 2. “Orienta seu paciente quanto ao modelo de escova ideal, do uso do fio dental ou outro meio auxiliar?” Questão 3. “Faz instrução da técnica de escovação? Questão 4. “Faz uso da sonda periodontal nos exames clínicos iniciais?” Questão 5. “Faz preenchimento de alguma ficha periodontal?” Questão 6 “Realiza tratamento periodontal (terapia básica)?” RESULTADOS A amostra final do estudo constituiu-se de quarenta questionários, dos quais quatorzes foram respondidos por dentistas da rede pública (PSF) e vinte e seis por dentistas particulares da cidade de Vassouras/RJ. Um número significativo de amostragem (mais de 50%) do número total de cirurgiões dentistas da cidade inscritos no Conselho Regional de Odontologia (CRO) no período da realização da pesquisa, numa população total de 34.439 habitantes (Censo Populaçional 2010, IBGE). Foi usada a “porcentagem” como forma de avaliação estatística para análise dos resultados obtidos com o questionário. Quando questionados sobre a importância em se explicar para os pacientes a relação de causa e efeito da placa bacteriana com a origem da doença periodontal, a grande maioria dos dentistas, tanto da rede pública (71,43%) quanto da rede particular (76,92%) responderam sempre esclarecerem essa relação. Apenas 3,85% dos dentistas da rede particular responderam nunca terem elucidado essa questão (Figura 1). Sobre a orientação do tipo de escova ideal para a higiene da cavidade bucal, bem como o uso do fio dental e de outros artifícios, 57,14% dentistas da rede pública e 73,08% da rede particular responderam sempre aclarar, contrapondo um 100 80 % 71,43 76,92 60 Rede Pública 40 Rede Particular 14,29 20 0,00 0 sempre 19,23 3,85 nunca 14,29 0,00 às vezes outras respostas Respostas Figura 1- Orientação aos pacientes sobre a relação da placa bacteriana e doença periodontal. An official publication of the Brazilian Society of Periodontology ISSN-0103-9393 17 Braz J Periodontol - September 2013 - volume 23 - issue 03 - 23(3):15-23 total de 42,86% dos dentistas da rede pública e 23,08% dos consultórios particulares que afirmaram às vezes fazerem essa explanação (Figura 2). Da necessidade em se ensinar uma técnica de escovação adequada, 78,57% dos dentistas da rede pública e 57,69% da rede particular responderam sempre fazerem essa ilustração. Um percentual maior dos dentistas da rede privada (38,46%) respondeu às vezes, quando comparados aos dentistas da rede pública (14,29%). Não se obteve nenhuma resposta negativa dos dentistas neste quesito (Figura 3). 100 73,08 80 % 60 57,14 Rede Pública 42,86 40 Rede Particular 23,08 20 0,00 0 sempre 0,00 0,00 nunca às vezes 3,85 outras respostas Respostas Figura 2- Orientação aos pacientes quanto ao modelo de escova ideal, fio dental e meios auxiliares. 100 90 80 70 60 % 50 40 30 20 10 0 78,57 57,69 Rede Pública 38,46 14,29 0,00 sempre 0,00 nunca às vezes Rede Particular 7,14 3,85 outras respostas Respostas Figura 3- Instrução da técnica de escovação. Sabendo-se da importância em se fazer o exame periodontal, e que o instrumento mais utilizado para essa função é a sonda periodontal, uma das perguntas deste questionário abordava tal questão. Como resposta foi observada que uma minoria dos dentistas sempre utiliza a sonda periodontal nos exames clínicos iniciais (14,29% da rede pública e 19,23% da rede privada). Os que responderam às vezes perfazem 50 % da rede pública para 65,38% da rede privada. Uma pequena porcentagem disse nunca ter usado (28,57% da rede pública e 15,38% da rede privada) (Figura 4). Em se tratando da necessidade de se registrar as medidas e alterações encontradas nos tecidos periodontais durante o exame clínico, o questionário continha uma questão que indagava a existência e preenchimento de uma ficha periodontal na clínica diária dos dentistas. Aproximadamente, a metade dos dentistas entrevistados respondeu nunca fazerem o preenchimento desta ficha (57,14% da rede pública; 50% da rede privada). No entanto, 35,71% dos dentistas da 18 An official publication of the Brazilian Society of Periodontology ISSN-0103-9393 Braz J Periodontol - September 2013 - volume 23 - issue 03 - 23(3):15-23 100 90 80 70 60 % 50 40 30 20 10 0 65,38 50,00 Rede Pública Rede Particular 28,57 14,29 19,23 15,38 7,14 sempre nunca às vezes 0,00 outras respostas Respostas Figura 4- Uso da sonda periodontal nos exames clínicos iniciais. 100 90 80 70 60 % 50 40 30 20 10 0 57,14 50,00 Rede Pública Rede Particular 35,71 26,92 19,23 0,00 7,14 3,85 sempre nunca às vezes outras respostas Respostas Figura 5- Preenchimento de ficha periodontal. rede pública e 26,92% da rede particular responderam às vezes preencherem. Apenas 3,85% dos dentistas da rede particular disseram sempre fazer (Figura 5). Ao serem perguntados se realizavam a terapia básica periodontal, 92,86% dos dentistas da rede pública e 42,31% da rede particular responderam que sempre a executam; 7,14% da rede pública e 38,46% afirmaram às vezes; todavia, 15,38% dos dentistas particulares atestaram nunca tratarem a doença periodontal (Figura 6). Caso não façam o tratamento periodontal dos pacientes, a questão que abordava o encaminhamento dos mesmos para tratamento periodontal com especialistas teve como resposta que 57,14% dos dentistas da rede pública e 84,62% da rede particular sempre direcionam seus pacientes aos profissionais específicos. Poucos profissionais disseram nunca encaminharem, perfazendo 7,15% da rede pública para 3,85% da rede particular (Figura 7). An official publication of the Brazilian Society of Periodontology ISSN-0103-9393 19 Braz J Periodontol - September 2013 - volume 23 - issue 03 - 23(3):15-23 100 90 80 70 60 % 50 40 30 20 10 0 92,86 Rede Pública 42,31 38,46 Rede Particular 15,38 7,14 0,00 sempre nunca 0,00 às vezes 0,00 outras respostas Respostas Figura 6- Realização de tratamento periodontal (terapia básica). 100 90 80 70 60 % 50 40 30 20 10 0 84,62 57,14 Rede Pública Rede Particular 28,57 7,14 sempre 11,54 3,85 nunca às vezes 7,14 0,00 outras respostas Respostas Figura 7- Encaminhamento dos pacientes doentes periodontais para tratamento com especialistas. DISCUSSÃO O Brasil vive um contexto de dificuldades que poderiam ser minimizadas se existissem ações educativas voltadas para autoproteção, conscientizando a comunidade para a necessidade de cuidados com a saúde bucal (Henriques et al., 2007). Essa conscientização deveria fazer parte da rotina diária de todos os cirurgiões dentistas, independentes da área específica de atuação. Quando foram propostas na nossa pesquisa questões que interrogavam os dentistas sobre a prevenção das doenças periodontais, a maior parte mostrou grande preocupação em atuar neste próposito, ensinando métodos para impedir o início e progressão dessas doenças. A orientação de um profissional da odontologia quanto ao tipo de escova dental que atenda as reais necessidades do usuário é de suma importância, visto que ao longo do tempo elas têm sofrido modificações, variando em forma, tamanho, dureza, comprimento e distribuição das cerdas. Face a essa diversidade, a escolha por um tipo torna-se uma tarefa difícil. Esse estudo constatou que uma significativa parcela dos cirurgiões-dentistas não orienta seus pacientes quanto ao tipo de escova dental ideal, visto que a mesma é o recurso mais comum e, frequentemente, o único que o paciente utiliza. Bottan et al. (2010) já haviam identificado 20 An official publication of the Brazilian Society of Periodontology ISSN-0103-9393 Braz J Periodontol - September 2013 - volume 23 - issue 03 - 23(3):15-23 esse reduzido envolvimento dos cirurgiões-dentistas atuando como educador e motivador da saúde, quando em seu estudo concluíram que o critério mais adotado para aquisição da escova era o preço, e a participação do cirurgião-dentista quanto a escolha foi de apenas 10,5%, a qual foi evidenciada por sujeitos da classe socioeconômica mais elevada. Além de uma adequada escova dental para controle do biofilme, o cirurgião-dentista, independente da especialidade que atua, deve atentar-se ao correto uso desse recurso. A escovação supervisionada conduz o paciente a cuidados com quesitos como força excessiva, frequência, duração e sequencia da escovação. O treinamento da limpeza interproximal também deve ser incorporado ao ato da escovação. Essa pesquisa demonstrou um dado alarmante, elucidando que apenas um pouco mais da metade dos cirurgiões-dentistas da rede particular relataram sempre atuar nessa prática, estando os profissionais da rede pública mais envolvidos nesse quadro de motivação e prevenção. O cirurgião-dentista (CD) necessita, na sua prática clínica diária, tomar decisões tanto relacionadas ao diagnóstico quanto ao plano de tratamento. O processo diagnóstico é realizado rotineiramente, desde diferenciar processos de saúde de doença, até determinar o estágio/severidade da doença para poder escolher a melhor alternativa terapêutica (AAP, 2003; Armitage, 2004; Moreira et al., 2007). O diagnóstico da doença é feito pelo registro das medidas de sondagem, presença de sangramento e supuração, grau de mobilidade dos dentes aliado à observação da quantidade de biofilme e exame radiográfico. Moreira et al. (2007), em pesquisa onde foram entrevistados CDs de consultórios particulares, obser varam que um elevado percentual utiliza exame radiográfico na consulta inicial, existindo uma associação entre a utilização deste exame e o uso da sonda periodontal, e que CDs formados mais recentemente utilizam o exame radiográfico mais freqüentemente. Reconhecidamente, o primeiro sinal que evidencia a presença da inflamação é o sangramento à sondagem provocado ou espontâneo. Embora esse parâmetro não indique a severidade da doença, é um indicador de extrema importância no diagnóstico e na avaliação das condições periodontais após os tratamentos executados (Coelho et al., 2008; Ramachandra et al., 2011). Em nossa pesquisa foi observado que há uma deficiência por parte dos dentistas em diagnosticar a doença periodontal, visto que os mesmos não têm como rotina o uso da sonda periodontal e nem do preenchimento das fichas periodontais. Resultado parecido com o estudo de Ghiabi & Weerasinghe (2011) onde foi observado que a maioria dos dentistas entrevistados realiza exames periodontais em seus pacientes, mas uma pequena parcela apresenta uma ficha com registros de medições de profundidade a sondagem e exames radiográficos, práticas que podem levar a uma subestimação do diagnóstico e tratamento da doença periodontal. Dada a extraordinária resistência dos microrganismos que compõem o biofilme aos mecanismos de defesa do hospedeiro e aos agentes antimicrobianos, o primeiro passo para controle desses patógenos seria a sua remoção mecânica através de procedimentos que vão da higiene bucal pelo próprio indivíduo, à raspagem e ao alisamento radicular, ou à cirurgia periodontal (Nunes et al., 2007; Souza et al., 2012). A remoção meticulosa do biofilme dental supragengival como forma efetiva de terapia em associação à raspagem e alisamento radicular leva a melhoras clínicas e microbiológicas nos sítios tratados. A combinação desses procedimentos parece potencializar os efeitos benéficos dos mesmos (Faveri et al., 2006). Outro objetivo desta nossa investigação foi averiguar se os cirurgiões-dentistas tratavam seus pacientes com doença periodontal, executando procedimentos básicos não cirúrgicos ou se encaminhavam os mesmos para especialistas. Com relação ao tratamento, houve diferença percentual significante entre os grupos, tanto no que diz respeito à execução da terapia básica quanto ao encaminhamento especializado aos pacientes. Os dentistas da rede pública superaram os da rede particular no tratamento dos pacientes, e mostraram um percentual menor de encaminhamento dos mesmos. Diante da realidade das unidades básicas de saúde para se efetivar adequadamente o tratamento periodontal dos pacientes, onde em geral há deficiência de materiais e instrumentais específicos para a execução da terapia básica, esse achado no mínimo é curioso. Supõe-se que esse pressuposto pudesse ser explicado pelo fato da maioria dos dentistas da rede pública desenvolver procedimentos básicos gerais da odontologia nesses postos de atendimento, independente da sua especialidade. Já os dentistas da rede particular, por provavelmente terem autonomia e poderem optar pela área que querem atuar, preferem não realizar o tratamento periodontal, e então encaminham seus pacientes a especialistas da área. Seriam necessárias mais pesquisas relativas a essa questão para que pudéssemos comprovar e certificar com mais exatidão tal hipótese. An official publication of the Brazilian Society of Periodontology ISSN-0103-9393 21 CONCLUSÃO Conclui-se que apesar dos dentistas entrevistados estarem preocupados e atuarem na prevenção das doenças periodontais, executando tratamento básico, a maioria não têm como rotina o uso da sonda periodontal para promoveram um correto diagnóstico, e nem o preenchimento de uma ficha específica. Braz J Periodontol - September 2013 - volume 23 - issue 03 - 23(3):15-23 ABSTRACT Periodontal diseases (PD) are infections that affect the tissues that surround and support the teeth, caused by microorganisms present in the biofilm. The involvement of dental professionals with continuing education and prevention aims to provide a greater awareness of patients to avoid the onset of gingivitis and its eventual progression to periodontitis. This study aimed to verify the knowledge of dentists in private and public in the city of Vassouras / RJ regarding the diagnosis, prevention and treatment of periodontal disease. Students of Dentistry, University Severino Sombra (USS) under the guidance of Professor Researcher, interviewed dentists through a questionnaire with questions relevant to the topic discussed, the period from March to October 2012. Were completed and delivered 14 questionnaires of dentists in public (health family-PSF) and 26 questionnaires of private dentists in the city, totaling 40 participants, representing more than 50% of dentists city registered at the CRO at the time of the survey. The responses obtained, it could be observed that the majority of dentists working in the prevention of periodontal diseases. However, few have the routine use of the probe and plug in periodontal clinical examination of their patients, which may be related to the existing difficulty in diagnosing periodontal diseases more accurately. Given this, it is concluded that the clinical examination is not present yet in practice by dentists, which makes this so early diagnosis of periodontal diseases. UNITERMS: biofilm; periodontal disease; diagnosis; prevention; treatment. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1- Petersen PE, Ogawa H. The global burden of periodontal disease: towards integration whit chronic disease prevention and control. 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Endereço para correspondência: Ana Paula Grimião Queiroz Rua dos Pintassilgos, 26 - Monte Belo CEP: 27600-000 – Valença - RJ TELs: (24) 8813-7677 / (24) 2452-5357 / (24) 2453-4842 E-mail: [email protected] An official publication of the Brazilian Society of Periodontology ISSN-0103-9393 23