DOENÇA pERIODONTAL

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Braz J Periodontol - September 2013 - volume 23 - issue 03
DOENÇA PERIODONTAL: UM MAL QUE PODE SER
EVITADO?
Periodontal disease: an evil that can be avoided?
Adriane Cristina Richa Ferreira1, Ana Paula Grimião Queiroz2, Gabriela Palmer Pamponet³, Carolina Rios Costa3, Izadora Cândido
Belizário3, Kizzy Esteves Ferreira3, Letícia Rodrigues Rocha3, Vania Filippi Goulart Carvalho Pereira4
1
Professora Meª em Periodontia pela SLMANDIC - Campinas SP. Profª do Curso de Odontologia da USS.
2
Professora Meª em Periodontia pela UNITAU - Taubaté SP. Profª do Curso de Odontologia da USS.
3
Graduandos em Odontologia da USS.
4
Professora Drª em Biologia pela UFRRJ - Rio de janeiro RJ. Profª de Estatística da USS.
Recebimento: 24/06/13 - Correção: 12/07/13 - Aceite: 06/09/13
RESUMO
As doenças periodontais (DP) são infecções que acometem os tecidos que circundam e suportam os dentes, causadas
por microrganismos presentes no biofilme dental. O envolvimento dos profissionais da Odontologia com a prevenção e a
educação continuada objetiva proporcionar uma conscientização maior dos pacientes para evitar o início da gengivite e
sua conseqüente evolução para periodontite. Este trabalho teve o propósito de verificar os conhecimentos dos cirurgiões
dentistas da rede pública e particular do município de Vassouras/RJ com relação ao diagnóstico, prevenção e tratamento
da doença periodontal. Alunos do Curso de Odontologia da Universidade Severino Sombra (USS), sob a orientação do
professor pesquisador, entrevistaram os cirurgiões-dentistas por meio de um questionário, com perguntas pertinentes
ao tema abordado, entre março e outubro de 2012. Foram respondidos e entregues 14 questionários de dentistas da
rede pública (postos de saúde da família- PSF) e 26 questionários de dentistas particulares da cidade, totalizando 40
participantes, o que corresponde a mais de 50% dos dentistas da cidade inscritos no CRO no momento da pesquisa.
Pelas respostas obtidas, pôde ser observado que a maioria dos dentistas trabalha na prevenção das doenças periodontais.
Entretanto, poucos têm como rotina o uso da sonda e da ficha periodontal no exame clínico de seus pacientes, o que
pode estar relacionado à dificuldade existente em diagnosticar mais precisamente as doenças periodontais. Diante
disto, conclui-se que o exame clínico periodontal ainda não se faz presente na prática dos dentistas entrevistados, o
que impossibilita desta forma diagnósticos precoces das doenças periodontais.
UNITERMOS: biofilme; doença periodontal; diagnóstico; prevenção; tratamento. Periodontia. R Periodontia 2013;
23:15-23.
INTRODUÇÃO
A importância em se definir um critério clínico para
diagnóstico preciso em relação a qualquer enfermidade é
indiscutível e fundamental, uma vez que somente a partir
de uma definição precisa da doença em questão é possível
que se consiga uma ação efetiva, tanto no que tange à
prevenção, quanto ao tratamento da mesma.
As doenças crônicas avançam em todas as regiões
e permeiam todas as classes socioeconômicas. Dieta
pouco saudável, má nutrição, sedentarismo, tabagismo,
uso excessivo de álcool e estresse psicossocial são os
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fatores de risco mais importantes. Doença periodontal é
um componente de carga global da doença crônica, tendo
os mesmos fatores de riscos essenciais (Petersen & Ogawa,
2012).
As Infecções periodontais e a cárie dentária, doenças
induzidas pelo biofilme bacteriano, são indiscutivelmente
as patologias infecciosas mais comuns na cavidade bucal.
Nesse contexto, medidas regulares para a remoção do
biofilme devem ser instituídas para que a saúde bucal seja
mantida e doenças prevenidas (Couto & Duarte, 2006;
Lindhe, 2010).
Dados apresentados na literatura afirmam que a
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prevalência das doenças periodontais continua muito elevada,
independe da idade e status socioeconômico, estando
diretamente associada à higiene oral deficiente (Chambrone
et al., 2008). Assim sendo, as conclusões observadas por
Chambrone em 1993 continuam válidas para os dias de
hoje. Ele já havia afirmado que “quando um profissional ao
examinar um paciente não diagnosticar doença periodontal,
em algum de seus estágios, seus exames deveriam ser
revistos, pois a chance de encontrar pacientes com todas
as unidades gengivais e periodontais clinicamente saudáveis
eram mínimas”. Dessa forma, estudos sobre prevalência da
doença periodontal são de grande importância para que
profissionais, leigos e governantes possam identificá-la,
traçando estratégias de saúde individuais e comunitárias
de prevenção, tratamento e controle da mesma (Araújo &
Sukekava, 2007). O foco da epidemiologia periodontal global
durante o último meio século tem sido na identificação de
populações que tenham a doença periodontal e as situações
onde existam disparidades na prevalência da doença entre
os grupos (Dye, 2012).
A chave principal para a prevenção das doenças
periodontais é o controle regular do biofilme microbiano,
por meio de métodos mecânicos, mecânico-químicos
ou associação de ambos. Este é o procedimento básico
para a prática odontológica, uma vez que, sem esse
controle, a higiene bucal não pode ser alcançada e/ou
preservada, comprometendo a efetividade de procedimentos
restauradores futuros (Pontes et al., 2007).
A forma mais aceita para se definir o estado de saúde ou
doença periodontal ainda é o exame de sondagem (Pinto et al.,
2006). Por meio dele, podemos obter parâmetros clínicos que
refletem as condições periodontais, tais como: Profundidade
Clinica de Sondagem (PCS) e Perda de Inserção Clinica
(PIC). Essas medidas, obtidas com uma sonda periodontal
milimetrada, são consideradas como razoavelmente corretas,
supondo-se que para a PCS, a sonda identifique as células mais
apicais do epitélio juncional (Tahim et al., 2007). O uso regular
de sondas periodontais na prática odontológica de rotina
facilita e aumenta a precisão do processo de diagnosticar a
doença, formulando o tratamento e predizendo o resultado da
terapia. Avanços no campo da sondagem periodontal levaram
ao desenvolvimento de sondas que podem ajudar a reduzir
os erros de determinação do valor usado para definir o estado
da doença periodontal ativa. Outro avanço é o surgimento
de sondas que avaliam supostamente a atividade da doença
periodontal não-invasiva. A seleção da sonda periodontal
depende do tipo de prática odontológica: o dentista clínico
geralmente utiliza a primeira ou segunda geração de sondas,
enquanto as sondas de terceira geração geralmente são
usadas ​​em instituições acadêmicas e de pesquisa, bem como
nas práticas de especialidades (Ramachandra et al., 2011).
Vários fatores afetam a precisão e confiabilidade da sondagem
periodontal, incluindo a força de sondagem, o tipo de sonda
e o sítio sondado (Khan & Cabanilla, 2009), e outros inerentes
às características da própria doença periodontal, tais como
nível de inflamação gengival, anatomia da coroa e da raiz e
morfologia do defeito ósseo (Lindhe, 2005).
Sabe-se, portanto, que a saúde bucal é extremamente
importante para a saúde geral do indivíduo. A periodontite
pode aumentar o risco para o desenvolvimento de doenças
sistêmicas e não pode ser ignorada pelos profissionais da
saúde. Uma atenção especial deve ser dada para prevenção
e para o tratamento das doenças periodontais destrutivas.
O envolvimento dos profissionais da Odontologia com
a prevenção e a educação continuada tem como objetivo
proporcionar uma conscientização maior dos pacientes para
evitar o estabelecimento da gengivite e sua consequente
evolução para periodontite, melhorando a qualidade de vida
dos indivíduos.
Quanto ao diagnóstico da doença periodontal (DP), há
uma diversidade de critérios utilizados, o que se reflete na
dificuldade de eleger uma classificação da doença e comparar
entre os achados de trabalhos científicos desse campo da
saúde.
Critérios baseados na perda de inserção clínica têm sido
referidos na literatura como os mais utilizados, Lopez et al.
(2002a), Lopez et al. (2002b), Cruz et al. (2005). Vale ressaltar
que a PIC é definida como a distância entre a junção cementoesmalte e o fundo do sulco/bolsa e é calculada como a soma
das medidas de profundidade de sondagem e recessão
gengival (Gomes Filho et al., 2006).
A remoção periódica de biofilme, cálculo e substâncias
incorporadas ao cemento periodontal, por meio de raspagem
e alisamento, é o tratamento periodontal mais eficaz para
se obter uma superfície radicular limpa e compatível com a
saúde dos tecidos periodontais (Carraro, 2008). A aplicação
dos procedimentos básicos não depende apenas do tipo de
instrumento e das variações anatômicas dos dentes, mas
da habilidade do profissional no uso e no conhecimento da
função dos instrumentos periodontais (Souza et al., 2012).
Levando-se em consideração os conhecimentos
adquiridos pelos alunos durante o curso de graduação em
Odontologia acerca do biofilme bacteriano e dos prejuízos
que este pode trazer para a saúde do indivíduo, o propósito
dessa pesquisa foi identificar a prática profissional entre os
cirurgiões dentistas da rede pública e particular do município
de Vassouras/RJ com relação à prevenção, diagnóstico, e
tratamento da doença periodontal.
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MÉTODO
Questão 7. “Encaminha doentes periodontais para
tratamento com especialistas em periodontia?”
Após a coleta dos dados obtidos nos questionários, os
resultados foram expressos através de gráficos coloridos de
acordo com a abordagem do tema (prevenção, diagnóstico
e tratamento) e tabulados através de percentuais.
Após aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa
da Universidade Severino Sombra (USS), Vassouras/RJ, foi
realizada uma pesquisa nos consultórios particulares e na
rede pública deste município, entre março e outubro de 2012.
Alunos do curso de Odontologia da Universidade Severino
Sombra (USS), previamente calibrados e sob a orientação
do professor pesquisador, entregaram um questionário aos
cirurgiões-dentistas que trabalham em PSFs e em consultórios
particulares da cidade de Vassouras /RJ. O questionário foi
composto por sete perguntas pertinentes ao tema abordado,
e apresentava como opções de resposta: sempre, nunca,
às vezes, que eram prontamente respondidas e entregues,
perfazendo um total de quatorze questionários de dentistas
do PSF e vinte e seis questionários de dentistas particulares.
Cada cirurgião dentista que aceitou participar da pesquisa
recebeu e assinou um Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (TECLE).
As perguntas que estruturaram o questionário foram as
seguintes:
Questão 1. “Você explica a relação da placa ou biofilme
dental com a origem da doença periodontal ao seu paciente?”
Questão 2. “Orienta seu paciente quanto ao modelo de
escova ideal, do uso do fio dental ou outro meio auxiliar?”
Questão 3. “Faz instrução da técnica de escovação?
Questão 4. “Faz uso da sonda periodontal nos exames
clínicos iniciais?”
Questão 5. “Faz preenchimento de alguma ficha
periodontal?”
Questão 6 “Realiza tratamento periodontal (terapia
básica)?”
RESULTADOS
A amostra final do estudo constituiu-se de quarenta
questionários, dos quais quatorzes foram respondidos por
dentistas da rede pública (PSF) e vinte e seis por dentistas
particulares da cidade de Vassouras/RJ. Um número
significativo de amostragem (mais de 50%) do número total
de cirurgiões dentistas da cidade inscritos no Conselho
Regional de Odontologia (CRO) no período da realização da
pesquisa, numa população total de 34.439 habitantes (Censo
Populaçional 2010, IBGE).
Foi usada a “porcentagem” como forma de avaliação
estatística para análise dos resultados obtidos com o
questionário. Quando questionados sobre a importância
em se explicar para os pacientes a relação de causa e efeito
da placa bacteriana com a origem da doença periodontal, a
grande maioria dos dentistas, tanto da rede pública (71,43%)
quanto da rede particular (76,92%) responderam sempre
esclarecerem essa relação. Apenas 3,85% dos dentistas da
rede particular responderam nunca terem elucidado essa
questão (Figura 1).
Sobre a orientação do tipo de escova ideal para a higiene
da cavidade bucal, bem como o uso do fio dental e de outros
artifícios, 57,14% dentistas da rede pública e 73,08% da rede
particular responderam sempre aclarar, contrapondo um
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80
%
71,43
76,92
60
Rede Pública
40
Rede Particular
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20
0,00
0
sempre
19,23
3,85
nunca
14,29
0,00
às vezes
outras respostas
Respostas
Figura 1- Orientação aos pacientes sobre a relação da placa bacteriana e doença periodontal.
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total de 42,86% dos dentistas da rede pública e 23,08% dos
consultórios particulares que afirmaram às vezes fazerem essa
explanação (Figura 2).
Da necessidade em se ensinar uma técnica de escovação
adequada, 78,57% dos dentistas da rede pública e 57,69% da
rede particular responderam sempre fazerem essa ilustração.
Um percentual maior dos dentistas da rede privada (38,46%)
respondeu às vezes, quando comparados aos dentistas da
rede pública (14,29%). Não se obteve nenhuma resposta
negativa dos dentistas neste quesito (Figura 3).
100
73,08
80
%
60
57,14
Rede Pública
42,86
40
Rede Particular
23,08
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0,00
0
sempre
0,00
0,00
nunca
às vezes
3,85
outras respostas
Respostas
Figura 2- Orientação aos pacientes quanto ao modelo de escova ideal, fio dental e meios auxiliares.
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% 50
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0
78,57
57,69
Rede Pública
38,46
14,29
0,00
sempre
0,00
nunca
às vezes
Rede Particular
7,14
3,85
outras respostas
Respostas
Figura 3- Instrução da técnica de escovação.
Sabendo-se da importância em se fazer o exame
periodontal, e que o instrumento mais utilizado para essa
função é a sonda periodontal, uma das perguntas deste
questionário abordava tal questão. Como resposta foi
observada que uma minoria dos dentistas sempre utiliza a
sonda periodontal nos exames clínicos iniciais (14,29% da rede
pública e 19,23% da rede privada). Os que responderam às
vezes perfazem 50 % da rede pública para 65,38% da rede
privada. Uma pequena porcentagem disse nunca ter usado
(28,57% da rede pública e 15,38% da rede privada) (Figura 4).
Em se tratando da necessidade de se registrar as medidas
e alterações encontradas nos tecidos periodontais durante
o exame clínico, o questionário continha uma questão
que indagava a existência e preenchimento de uma ficha
periodontal na clínica diária dos dentistas. Aproximadamente,
a metade dos dentistas entrevistados respondeu nunca
fazerem o preenchimento desta ficha (57,14% da rede pública;
50% da rede privada). No entanto, 35,71% dos dentistas da
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Rede Particular
28,57
14,29
19,23
15,38
7,14
sempre
nunca
às vezes
0,00
outras respostas
Respostas
Figura 4- Uso da sonda periodontal nos exames clínicos iniciais.
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% 50
40
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0
57,14
50,00
Rede Pública
Rede Particular
35,71
26,92
19,23
0,00
7,14
3,85
sempre
nunca
às vezes
outras respostas
Respostas
Figura 5- Preenchimento de ficha periodontal.
rede pública e 26,92% da rede particular responderam às
vezes preencherem. Apenas 3,85% dos dentistas da rede
particular disseram sempre fazer (Figura 5).
Ao serem perguntados se realizavam a terapia básica
periodontal, 92,86% dos dentistas da rede pública e 42,31%
da rede particular responderam que sempre a executam;
7,14% da rede pública e 38,46% afirmaram às vezes; todavia,
15,38% dos dentistas particulares atestaram nunca tratarem
a doença periodontal (Figura 6).
Caso não façam o tratamento periodontal dos pacientes,
a questão que abordava o encaminhamento dos mesmos
para tratamento periodontal com especialistas teve como
resposta que 57,14% dos dentistas da rede pública e 84,62%
da rede particular sempre direcionam seus pacientes aos
profissionais específicos. Poucos profissionais disseram nunca
encaminharem, perfazendo 7,15% da rede pública para
3,85% da rede particular (Figura 7).
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Rede Pública
42,31
38,46
Rede Particular
15,38
7,14
0,00
sempre
nunca
0,00
às vezes
0,00
outras respostas
Respostas
Figura 6- Realização de tratamento periodontal (terapia básica).
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% 50
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Rede Pública
Rede Particular
28,57
7,14
sempre
11,54
3,85
nunca
às vezes
7,14
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outras respostas
Respostas
Figura 7- Encaminhamento dos pacientes doentes periodontais para tratamento com especialistas.
DISCUSSÃO
O Brasil vive um contexto de dificuldades que poderiam
ser minimizadas se existissem ações educativas voltadas
para autoproteção, conscientizando a comunidade para a
necessidade de cuidados com a saúde bucal (Henriques et
al., 2007). Essa conscientização deveria fazer parte da rotina
diária de todos os cirurgiões dentistas, independentes da área
específica de atuação. Quando foram propostas na nossa
pesquisa questões que interrogavam os dentistas sobre a
prevenção das doenças periodontais, a maior parte mostrou
grande preocupação em atuar neste próposito, ensinando
métodos para impedir o início e progressão dessas doenças.
A orientação de um profissional da odontologia quanto
ao tipo de escova dental que atenda as reais necessidades
do usuário é de suma importância, visto que ao longo do
tempo elas têm sofrido modificações, variando em forma,
tamanho, dureza, comprimento e distribuição das cerdas.
Face a essa diversidade, a escolha por um tipo torna-se uma
tarefa difícil. Esse estudo constatou que uma significativa
parcela dos cirurgiões-dentistas não orienta seus pacientes
quanto ao tipo de escova dental ideal, visto que a mesma
é o recurso mais comum e, frequentemente, o único que o
paciente utiliza. Bottan et al. (2010) já haviam identificado
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esse reduzido envolvimento dos cirurgiões-dentistas atuando
como educador e motivador da saúde, quando em seu estudo
concluíram que o critério mais adotado para aquisição da
escova era o preço, e a participação do cirurgião-dentista
quanto a escolha foi de apenas 10,5%, a qual foi evidenciada
por sujeitos da classe socioeconômica mais elevada.
Além de uma adequada escova dental para controle do
biofilme, o cirurgião-dentista, independente da especialidade
que atua, deve atentar-se ao correto uso desse recurso. A
escovação supervisionada conduz o paciente a cuidados
com quesitos como força excessiva, frequência, duração
e sequencia da escovação. O treinamento da limpeza
interproximal também deve ser incorporado ao ato da
escovação. Essa pesquisa demonstrou um dado alarmante,
elucidando que apenas um pouco mais da metade dos
cirurgiões-dentistas da rede particular relataram sempre atuar
nessa prática, estando os profissionais da rede pública mais
envolvidos nesse quadro de motivação e prevenção.
O cirurgião-dentista (CD) necessita, na sua prática clínica
diária, tomar decisões tanto relacionadas ao diagnóstico
quanto ao plano de tratamento. O processo diagnóstico é
realizado rotineiramente, desde diferenciar processos de saúde
de doença, até determinar o estágio/severidade da doença
para poder escolher a melhor alternativa terapêutica (AAP,
2003; Armitage, 2004; Moreira et al., 2007). O diagnóstico
da doença é feito pelo registro das medidas de sondagem,
presença de sangramento e supuração, grau de mobilidade
dos dentes aliado à observação da quantidade de biofilme
e exame radiográfico. Moreira et al. (2007), em pesquisa
onde foram entrevistados CDs de consultórios particulares,
obser varam que um elevado percentual utiliza exame
radiográfico na consulta inicial, existindo uma associação
entre a utilização deste exame e o uso da sonda periodontal,
e que CDs formados mais recentemente utilizam o exame
radiográfico mais freqüentemente. Reconhecidamente, o
primeiro sinal que evidencia a presença da inflamação é
o sangramento à sondagem provocado ou espontâneo.
Embora esse parâmetro não indique a severidade da doença,
é um indicador de extrema importância no diagnóstico e na
avaliação das condições periodontais após os tratamentos
executados (Coelho et al., 2008; Ramachandra et al., 2011).
Em nossa pesquisa foi observado que há uma deficiência por
parte dos dentistas em diagnosticar a doença periodontal,
visto que os mesmos não têm como rotina o uso da sonda
periodontal e nem do preenchimento das fichas periodontais.
Resultado parecido com o estudo de Ghiabi & Weerasinghe
(2011) onde foi observado que a maioria dos dentistas
entrevistados realiza exames periodontais em seus pacientes,
mas uma pequena parcela apresenta uma ficha com registros
de medições de profundidade a sondagem e exames
radiográficos, práticas que podem levar a uma subestimação
do diagnóstico e tratamento da doença periodontal.
Dada a extraordinária resistência dos microrganismos
que compõem o biofilme aos mecanismos de defesa do
hospedeiro e aos agentes antimicrobianos, o primeiro passo
para controle desses patógenos seria a sua remoção mecânica
através de procedimentos que vão da higiene bucal pelo
próprio indivíduo, à raspagem e ao alisamento radicular, ou
à cirurgia periodontal (Nunes et al., 2007; Souza et al., 2012).
A remoção meticulosa do biofilme dental supragengival
como forma efetiva de terapia em associação à raspagem e
alisamento radicular leva a melhoras clínicas e microbiológicas
nos sítios tratados. A combinação desses procedimentos
parece potencializar os efeitos benéficos dos mesmos (Faveri et
al., 2006). Outro objetivo desta nossa investigação foi averiguar
se os cirurgiões-dentistas tratavam seus pacientes com
doença periodontal, executando procedimentos básicos não
cirúrgicos ou se encaminhavam os mesmos para especialistas.
Com relação ao tratamento, houve diferença percentual
significante entre os grupos, tanto no que diz respeito à
execução da terapia básica quanto ao encaminhamento
especializado aos pacientes. Os dentistas da rede pública
superaram os da rede particular no tratamento dos pacientes,
e mostraram um percentual menor de encaminhamento dos
mesmos. Diante da realidade das unidades básicas de saúde
para se efetivar adequadamente o tratamento periodontal
dos pacientes, onde em geral há deficiência de materiais
e instrumentais específicos para a execução da terapia
básica, esse achado no mínimo é curioso. Supõe-se que
esse pressuposto pudesse ser explicado pelo fato da maioria
dos dentistas da rede pública desenvolver procedimentos
básicos gerais da odontologia nesses postos de atendimento,
independente da sua especialidade. Já os dentistas da rede
particular, por provavelmente terem autonomia e poderem
optar pela área que querem atuar, preferem não realizar o
tratamento periodontal, e então encaminham seus pacientes
a especialistas da área. Seriam necessárias mais pesquisas
relativas a essa questão para que pudéssemos comprovar e
certificar com mais exatidão tal hipótese.
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CONCLUSÃO
Conclui-se que apesar dos dentistas entrevistados
estarem preocupados e atuarem na prevenção das doenças
periodontais, executando tratamento básico, a maioria
não têm como rotina o uso da sonda periodontal para
promoveram um correto diagnóstico, e nem o preenchimento
de uma ficha específica.
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ABSTRACT
Periodontal diseases (PD) are infections that affect the
tissues that surround and support the teeth, caused by
microorganisms present in the biofilm. The involvement of
dental professionals with continuing education and prevention
aims to provide a greater awareness of patients to avoid the
onset of gingivitis and its eventual progression to periodontitis.
This study aimed to verify the knowledge of dentists in
private and public in the city of Vassouras / RJ regarding the
diagnosis, prevention and treatment of periodontal disease.
Students of Dentistry, University Severino Sombra (USS) under
the guidance of Professor Researcher, interviewed dentists
through a questionnaire with questions relevant to the topic
discussed, the period from March to October 2012. Were
completed and delivered 14 questionnaires of dentists in
public (health family-PSF) and 26 questionnaires of private
dentists in the city, totaling 40 participants, representing more
than 50% of dentists city registered at the CRO at the time
of the survey. The responses obtained, it could be observed
that the majority of dentists working in the prevention of
periodontal diseases. However, few have the routine use of
the probe and plug in periodontal clinical examination of their
patients, which may be related to the existing difficulty in
diagnosing periodontal diseases more accurately. Given this,
it is concluded that the clinical examination is not present yet
in practice by dentists, which makes this so early diagnosis of
periodontal diseases.
UNITERMS: biofilm; periodontal disease; diagnosis;
prevention; treatment.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Endereço para correspondência:
Ana Paula Grimião Queiroz
Rua dos Pintassilgos, 26 - Monte Belo
CEP: 27600-000 – Valença - RJ
TELs: (24) 8813-7677 / (24) 2452-5357 / (24) 2453-4842
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