Idealismo e Colapso da Onda

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Morungaba Quântica – encontro 2:
Idealismo e Colapso da Onda
Idealismo (ou subjetivismo) designa as visões de mundo que consideram que a realidade do
mundo externo depende de nossas mentes. Há, é claro, diferentes formas de idealismo, desde a
doutrina do “drstisrsti” da tradição advaita vedanta do hinduismo (séc. X), para quem o mundo é
criado pela percepção (“idealismo subjetivista”), passando pelo bispo Berkeley (1710), para quem
só é real aquilo que é perceptível (sendo que Deus também percebe), até formas mais brandas como
o “idealismo conceitual”, segundo o qual qualquer caracterização do real que podemos construir é
de natureza mental. “O mundo é a minha representação” – assim Schopenhauer (1819) abriu sua
obra capital. Para o “solipsista”, só existo eu, e na minha morte o mundo deixa de existir!
Algumas interpretações da física quântica adotaram uma posição idealista, como London &
Bauer (1939) que defenderam que a consciência humana é quem causa o “colapso” de uma onda
quântica. O colapso, ou “redução de estado”, é uma alteração drástica na onda associada a um
objeto quântico. Na figura abaixo, considere um átomo que entra pela esquerda, e está representado
como um pacote de onda vermelho. Seu “spin” é representado por uma flechinha. Ao passar entre
um par de imãs (de Stern-Gerlach), é como se a onda se localizasse em dois caminhos diferentes, ao
mesmo tempo, em uma “superposição”. Mas quando a medição é realizada, e o átomo deixa sua
trajetória em um dos detectores, a onda se reduz para o caminho correspondente.
Supondo que o colapso é um evento físico (o que nem todas as interpretações
concordariam), qual é sua causa? A medição. Mas que etapa da medição?A figura abaixo ilustra
algumas das possibilidades.
Alguns físicos acham que o colapso ocorre na detecção, ou na amplificação, ou quando
ocorre um registro macroscópico. London & Bauer defenderam que ele ocorre quando o observador
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humano interage com o sistema! A consciência humana causaria o colapso! Esta interpretação é
ilustrada pela cena de basquete do filme Quem somos Nós?, que buscaremos explicar.
Outro filme recente, O Segredo, defende um idealismo que chega às raias da telecinese – a
capacidade que a mente teria de alterar a realidade sem a mediação do corpo. A ciência ortodoxa
não aceita essa possibilidade, e considera que alguns experimentos que favorecem essa hipótese
(uma delas é conhecida pela sigla PEAR) são errôneos, pois não foram reproduzidos em outros
laboratórios. Em nosso 3º encontro, tentaremos entender melhor as bases metafísicas da visão
ortodoxa da ciência. Esta também considera falsas as fotografias de cristais de gelo feitas pelo
japonês Emoto, que alega que seu aspecto é influenciado pelas emoções das pessoas.
Discutimos também a questão de se as cores que vemos, ou seja, as qualidades sensoriais
associadas às cores, estão nas coisas ou em nossas mentes. Um argumento a favor da segunda
alternativa é considerar o arco-íris: uma análise física dos comprimentos de onda da luz nos diria
que a variação no espectro do arco-íris é contínua, porém nós vemos o espectro de maneira
descontínua, separada em (mais ou menos) sete cores.
Um dos mais fascinantes exemplos de visão de mundo idealista é a da civilização de Tlön,
retratada por Jorge Luis Borges em Ficções. Sua leitura é um tanto difícil, então só comentamos
alguns trechos do conto em questão, que se encontra na internet no sítio (em espanhol):
http://www.ciudadseva.com/textos/cuentos/esp/borges/tlon.htm . Abrimos a reunião com a leitura
de um poema de Álvaro de Campos (Fernando Pessoa), chamado Esta velha angústia, na qual
aparece o lema idealista: “Pois o que é tudo senão o que pensamos de tudo?”.
Encontro realizado na Associação Morungaba em 20 de junho de 2007.
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