apontamentos das pesquisas em eficácia escolar

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Qualidade da escola e do ensino: apontamentos das pesquisas em
eficácia escolar
Giseli Aparecida Caparros Klauck (UFGD) [email protected]
Resumo:
O artigo compreende uma série de apontamentos envolvendo a temática da qualidade de ensino,
tendo em vista as características evidenciadas pelas pesquisas realizadas sobre o enfoque da eficácia
escolar. Pretende-se identificar alguns dos principais fatores que qualificam a educação escolar,
tomando-os não como prontos e imediatos, mas como indicadores de referência para ações tanto
intraescolares quanto extraescolares no sentido do melhoramento escolar, fazendo ainda um
comparativo com os fatores do contexto norte-americano, da América Latina e do Brasil,
evidenciando semelhanças e diferenças entre as pesquisas com o apoio da literatura sobre o
tema,através de uma metodologia qualitativa, analisando ainda quais os efeitos dos resultados das
pesquisas sobre a realidade escolar e suas relações na dimensão do conceito de qualidade do
ensino.Assim, ao identificar os fatores de eficácia escolar encontram-se semelhanças e diferenças
entre as pesquisas, cada uma contemplando as peculiaridades locais, porém todas servem de
referência para a análise da eficácia escolar em outras realidades, apontando caminhos e referências
para a qualificação do ensino.
Palavras chave: Qualidade do ensino, Eficácia escolar, Paradigma.
Quality of school and education: notes of research on school
effectiveness
Abstract
The article comprises a series of brief involving the theme of quality education, in view of the
characteristics identified by the searches performed on the focus of school effectiveness. Seeks to
identify some of the key factors that qualify for school education, not as ready and immediate, but as
reference indicators for actions both intraescolares and extraescolares in the direction of school
improvement, doing a comparison with the factors of the North American context, Latin America and
Brazil, highlighting similarities and differences between the research with the support of the literature
on the subject, through a methodology qualitative, analyzing which the effects of the results of
research on school reality and their relationships in the dimension of the concept of quality education.
So, to identify the factors of school effectiveness are similarities and differences between surveys, each
comprising local peculiarities, but all serve as reference for the analysis of school effectiveness in
other realities pointing paths and references to the qualifications of the teaching.
Key-words: Quality of education, School effectiveness, Paradigm.
1 Introdução
Após o problema do acesso à escola ter sido quase que totalmente superado
principalmente no ensino fundamental, o tema relacionado à qualidade de ensino vem sendo
fortemente discutido pelos pesquisadores atualmente, segundo afirma Oliveira (2007, pp.686687) “[...] é a qualidade que „oprime o cérebro dos vivos‟ e ocupa o centro da crítica ao
processo presente de expansão, tornando-se a questão central da política educacional referente
à educação básica nos próximos anos”.
De acordo com as pesquisas sobre a qualidade de ensino, são apontadas diferentes
abordagens as quais buscam identificar os fatores que são mais preponderantes a indicar o
sucesso escolar, dentre essas abordagens podemos destacar o efeito-escola e a eficácia
escolar. Para a discussão neste texto, tomaremos como foco a proposta de investigação sobre
a eficácia escolar especificamente.
O texto apresentado tem por objetivo relacionar os principais fatores associados à
eficácia escolar estabelecidos pelas pesquisas nos contextos norte-americano, latinoamericano e brasileiro, tomando-os como indicadores de referência para ações que incidem no
melhoramento e qualificação do sistema de ensino.
Para isso, com o auxílio da literatura da área tomamos como principal fundamento os
textos da coletânea de Brooke; Soares, (2008), por apresentarem as produções mais
significativas atualmente na área da pesquisa em eficácia escolar vindo de encontro com a
proposta apresentada, complementando com artigos produzidos recentemente por autores do
contexto latino-americano e brasileiro que abordam o tema qualidade de ensino como
(Azevedo, 2007; Franco, 2007; Oliveira, 2007; Paul, Barbosa, 2008 e Bosco, 2009).
Assim, podemos também delimitar a avaliação da qualidade da escola e do ensino
proporcionado através do paradigma da eficácia escolar. Segundo este modelo os
pesquisadores consideram primordialmente a natureza quantitativa do processo de ensinoaprendizagem, tomando como princípio para avaliar a qualidade os resultados acadêmicos e
sociais dos alunos. (REYNOLDS et al., 2008)
Neste sentido, Torrecilla (2008, p. 468) define que os estudos em eficácia escolar
buscam “[...] conhecer a capacidade que têm as escolas de influir no desenvolvimento dos
alunos e [...] conhecer o que faz com que uma escola seja eficaz.” Amplia ainda este conceito
considerando que uma escola eficaz “[...] consegue um desenvolvimento integral de todos os
seus alunos, em grupo e individualmente, maior do que seria esperado, levando-se em conta
seu rendimento prévio, além da situação social, econômica e cultural das famílias. (...)”.
Conceito bastante semelhante ao formulado por Mortimore (1991) apud Franco et. al. (2007)
p.280 “[...] escola eficaz é aquela que viabiliza que seus alunos apresentem desempenho
educacional além do esperado, face à origem social dos alunos e à composição social do
corpo discente da escola. [...]”. Estes conceitos vão além da priorização da natureza
quantitativa do processo de ensino-aprendizagem, permitindo que esta aponte o diagnóstico
escolar, mas que a análise da escola eficaz considere outros fatores que envolvem sua
complexidade.
É possível relacionar os significados intrínsecos ao conceito de eficácia escolar aos
significados que são atribuídos à qualidade de ensino. Do ponto de vista economicista, o que
se pressupõe como qualidade é a oferta de insumos necessários aos educandos para que
possam elevar os resultados em testes e avaliações padronizadas. Bem sabemos que este
conceito de caráter extremamente quantitativo, é muito restrito e inadequado, porém vem
sendo muito difundido entre gestores e governantes atualmente. Silva (2009, p.225) nos
remete a um conceito de qualidade mais amplo e desejável para que a escola pública cumpra
seu papel perante a sociedade:
Entendemos que o bom trabalho pedagógico é aquela atividade
intencional que acontece na escola, que possibilita as relações de
aprendizagens entre sujeitos, orientadas pela ética profissional; é
aquele que se alcança por meio de atividades voltadas para produção
de ideias, de concepções, conceitos, valores, símbolos, hábitos,
atitudes e habilidades. [...]
Podemos observar que a proposta deste paradigma é buscar indícios que conduzem a
qualidade do ensino e da escola a partir de exemplos de sucesso, desta maneira o objeto de
estudo a ser investigado passa a centrar-se nas escolas com bons resultados e que se destacam
dentre outras com as mesmas condições socioeconômicas, mas que não apresentam os
mesmos resultados.
2 A pesquisa em eficácia escolar na Inglaterra e Estados Unidos
Diante da perspectiva de encontrar fundamentos que possam caracterizar as escolas em
que a maioria dos alunos apresenta bons resultados de aprendizagem, podendo assim
identificá-la como eficaz, os pesquisadores tomaram a iniciativa de planejar investigações
priorizando a eficácia escolar como objeto de estudo.
A pesquisa em eficácia escolar foi iniciada na América do Norte e Inglaterra, um dos
pesquisadores precursores desta iniciativa nos Estados Unidos foi Coleman et. al.(1966). O
primeiro estudo e mais importante foi publicado por este mesmo autor em 1966, com o título
“Igualdade de Oportunidades Educacionais”, realizado com o patrocínio do governo norteamericano, após a publicação dos resultados da pesquisa, o texto final ficou mais conhecido
como “Relatório Coleman”, porém na época teve pouca repercussão. No início da década de
70 os pesquisadores Jensen (1969); Armor (1972) e Jencks et. al. (1972) suscitaram críticas e
despertaram maiores interesses sobre o tema da eficácia escolar com suas publicações de
artigos e avanços nas pesquisas escolares. (MADAUS et al., 2008)
Estes estudos buscavam compreender a influência da educação escolar no desempenho
acadêmico dos alunos demonstrando que as ações escolares podem ou não fazer diferença no
processo de ensino-aprendizagem. Concluindo nesse período que na verdade a escola tinha
pouco efeito no desenvolvimento dos alunos. Na mesma época, na Inglaterra os pesquisadores
encontravam conclusões semelhantes em seus estudos, Plowden (1967) por sua vez, diante
desta mesma perspectiva, afirmou que a família era muito mais influenciável no desempenho
do aluno do que a escola. (RUTTER et al., 2008)
Já os pesquisadores Edmonds (1979) e Brookover considerados nomes de grande
importância e precursores da pesquisa em eficácia escolar nos Estados Unidos, buscavam
formas de promover o melhoramento das escolas, sob uma perspectiva diferenciada,
relacionando de maneira esperada os fatores de eficácia e melhoramento escolar.
(REYNOLDS et. al. 2008).
Esta perspectiva se fundamentou com maior número de pesquisas nos Estados Unidos,
pois na Inglaterra, poucos profissionais relacionaram ambos campos de conhecimento,
associando a eficácia e melhoramento da escola, sendo que não houve valorização neste
sentido. (REYNOLDS et. al. 2008).
O melhoramento escolar é definido como um processo de mudança educacional que
possa ser promovido dentro do âmbito da escola, com ações fortalecidas que melhorem o
desempenho dos estudantes. (REYNOLDS et. al. 2008).
Eficácia e melhoramento são perspectivas diferentes de pesquisas, mas podem ser
associadas, como podemos observar na afirmação de Reynolds et. al. (2008, p.439):
[...] a eficácia escolar difere do melhoramento escolar por se preocupar em
exaltar o “estado final” das escolas eficazes ao descrevê-las como “são”,
enquanto o melhoramento escolar tem se preocupado mais em descobrir o
que foi feito para trazer as escolas a tal estado.[...]
Após mais de três décadas de pesquisas, o enfoque ainda se encontra sobre a tentativa
de compreender a influência das ações escolares, mas acredita-se agora que realmente ela
pode fazer diferença, assim, através da busca de dados que possam fundamentar a prática da
qualidade de ensino, temos mais recentemente a indicação de alguns fatores que caracterizam
as escolas eficazes, como propõe Sammons (2008 p.351), resumindo-os em onze fatores
descritos sucintamente na lista abaixo:
 Liderança profissional;
 Objetivos e visões compartilhados;
 Ambiente de aprendizagem;
 Concentração no ensino e na aprendizagem;
 Ensino e objetivos claros;
 Altas expectativas;
 Incentivo positivo;
 Monitoramento do progresso;
 Direitos e responsabilidades do aluno;
 Parceria casa-escola; e
 Uma organização orientada à aprendizagem.
A pesquisa de Pam Sammons, não deixando de salientar que é advinda do contexto
norte-americano, vem indicar alguns dos principais fatores que envolvem a qualificação
escolar, lembrando ainda que é importante considerar as particularidades de cada realidade e
sistema de ensino, pois sabemos que a maneira de promover a educação escolar não pode ser
generalizada, mas estes estudos podem contribuir com indicações importantes para cada
instituição interessada em promover o melhoramento escolar, assim como direcionamento
para a promoção de políticas públicas educacionais.
Analisando estes fatores percebemos que a responsabilidade da qualidade sobre a
promoção da educação escolar perpassa por todos os atores envolvidos no processo, pais,
professores e alunos, são o foco fundamental num todo integrado, portanto são elementos que
não podem ser tomados isoladamente e distantes de sua realidade.
A autora Sammons (2008) conclui que estes indicadores representam apenas o
desempenho acadêmico dos alunos e conclui que (p. 377) “[...] pesquisas adicionais sobre
como as escolas eficazes influenciam os resultados sociais e afetivos, incluindo a motivação e
a dedicação dos estudantes à escola, seriam desejáveis [...]”, pois devido ao caráter subjetivo
que a escola possui ao lidar com um conjunto de seres humanos passíveis da previsão de
resultados, fatores emocionais com certeza influenciam a aprendizagem, aí então reside a
importância de estudos sobre os mesmos.
3 A pesquisa em eficácia escolar na América Latina
A pesquisa em eficácia escolar na região da América Latina possui características
peculiares, dentre as quais podemos destacar três: 1) possui um caráter aplicado; 2) sofre
influência inclusive dos estudos sobre produtividade escolar e 3) relaciona-se com o
crescimento da educação e da pesquisa educativa. (TORRECILLA, 2008, p. 469).
A influência dos estudos sobre o foco da produtividade escolar tem recebido muitas
críticas, pois são resultados da influência dos pesquisadores economistas que:
[...] buscam otimizar a eficácia e a eficiência das escolas para a tomada de
decisões políticas estão em oposição ao interesse dos pesquisadores
educativos, que querem conhecer mais profundamente o que ocorre nas
escola para poder melhorá-las.[...] (TORRECILLA,2008 p. 470)
Podemos encontrar ainda quatro linhas de estudo da pesquisa em eficácia escolar nessa
região como: 1) estudos sobre eficácia escolar; 2) relação entre certos fatores e o desempenho
escolar; 3) avaliações de programas de melhoria e 4) estudos etnográficos. Com ampla
produção na área, as pesquisas mais significativas em eficácia escolar encontram-se em países
como Bolívia, Venezuela, Chile, Colômbia, Argentina, Peru e com um pouco menos destaque
o Brasil, também temos o Laboratório Latino-Americano de Avaliação da Qualidade da
Educação (LLECE, 2001), que tem grande relevância na realizados dos estudos sobre o tema
na região. (TORRECILLA, 2008).
Ao analisarmos a pesquisa de Bosco (2009) autor mexicano, exposta em seu artigo
“La desigualdad de resultados educativos: aportes a la teoría desde la investigación sobre
eficacia escolar”, apresentando resultados em que considera a América Latina no que se refere
aos fatores de eficácia escolar, dispõe assim de dez itens importantes, sendo que seis deles
estão perfeitamente contemplados nos itens explicitados no quadro anterior, da pesquisa
acadêmica de Sammons (2008) . O que se apresenta além, diz respeito aos profissionais
docentes, considerando que a estabilidade do emprego, o trabalho em equipe e também
compromisso com a instituição escolar e a aprendizagem dos alunos, seria um fator
diferencial. Outro aspecto diz respeito ao bom relacionamento interpessoal com regras claras
de comportamento e ainda contar com um espaço de autonomia das decisões escolares.
As únicas características do quadro anterior que não foram contempladas
explicitamente referem-se ao monitoramento do progresso e direitos e responsabilidades do
aluno.
Grande parte dos elementos observados entre os contextos norte-americano e latinoamericano se assemelham, apresentando praticamente as mesmas características, apenas
alguns elementos diferenciados quanto aos profissionais docentes na América Latina,
acredita-se que realcem problemas específicos desse contexto, como o da rotatividade
docente.
Outra característica interessante diz respeito ao monitoramento do progresso, fator que
é específico da pesquisa de Sammons (2008) onde se pode notar que a avaliação e o
monitoramento da aprendizagem discente e do progresso institucional como um todo é uma
prática valorizada conforme a realidade da pesquisa, o que não se observa como prática
consolidada na América Latina.
Para Bosco (2009) p.57, pesquisador do contexto mexicano e latino-americano, toda e
qualquer reforma educativa, não terá grande efeito sobre a equidade e qualidade de ensino
devido a três fatores: a) a desigualdade e as condições de vida social dos alunos tem um efeito
muito maior sobre os fatores intraescolares; b) os fatores de aprendizagem possuem uma
importância muito maior que simplesmente a gestão e o clima, onde as políticas educativas
geralmente incidem; e c) as mudanças nas práticas educativas dependem muito mais de uma
mudança cultural do que das reformas no sistema educativo.
Assim, é revelado que toda e qualquer mudança, principalmente no sistema educativo,
depende de uma gama de fatores peculiares que podem favorecer ou levantar entraves para o
seu desenvolvimento, o que não impede que iniciativas sejam tomadas para a promoção do
seu desenvolvimento.
4 A pesquisa em eficácia escolar no Brasil
No caso do Brasil, a pesquisa é recente e, com isso, os dados provenientes para
estudos sobre a qualificação do ensino não são advindos da sistematização de pesquisas
específicas, as análises são observadas pelos grupos de pesquisa a partir de dados do Censo
Escolar e os resultados de avaliações em larga escala como o SAEB e a Prova Brasil.
(ALVES; FRANCO, 2008).
As análises específicas considerando “fatores intraescolares” vieram estar mais
presentes somente no início da década de 80, pois as pesquisas anteriores apresentavam
dificuldades em considerar mais de um aspecto do conjunto escolar, como por exemplo escola
e aluno, apesar de ainda existirem dificuldades, esse período foi considerado um marco para o
avanço nas pesquisas. (FRANCO et.al.,2007).
Sabemos que no contexto brasileiro a homogeneidade e a desigualdade prevalecem na
caracterização da escola pública, indícios que não podem ser esquecidos em qualquer análise
sobre a oferta de educação escolar.
Para atuar na pesquisa educacional é imprescindível conhecer seu contexto, na busca
de compreender a realidade, como vemos abaixo na afirmação de Franco; Alves, (2008, p.
483) sobre o levantamento de dados brasileiros a fim de caracterizá-lo quanto à oferta
educacional:
Para se conhecer a realidade educacional de um país são necessários dados
de oferta educacional, acesso aos sistemas de ensino, modalidades de ensino,
fluxo dos alunos ao longo da trajetória escolar e desempenho escolar. [...]
Quanto aos fatores de eficácia escolar as pesquisas brasileiras apontam os mesmos,
abordados como cinco categorias, que são as seguintes: recursos escolares; organização e
gestão da escola; clima acadêmico; formação e salário docente e por fim a ênfase pedagógica.
(ALVES; FRANCO, 2008)
Os recursos escolares compreendem a existência e conservação dos equipamentos e do
prédio escolar, onde o que realmente importa não é somente a presença dos mesmos, mas
principalmente a forma como são utilizados. (FRANCO et.al., 2007, p.282).
A categoria organização e gestão da escola refere-se principalmente aos fatores de
liderança da direção escolar e também quanto ao comprometimento e empenho dos docentes
no desenvolvimento da aprendizagem dos alunos. (ALVES; FRANCO, 2008, p. 495).
O clima acadêmico está associado ao fato de que as ações escolares estão sempre
vinculadas com os objetivos da aprendizagem e situações como a cobrança de dever de casa,
o respeito e a disciplina na relação professor-aluno, associados a um clima positivo no espaço
da sala de aula, podem aumentar o desempenho acadêmico. (ALVES; FRANCO, 2008,
p.496).
Os estudos sobre a formação e o salário docente foram realizados com base de dados
do SAEB e apontaram segundo os pesquisadores Menezes e Pazello (2004) que quanto menor
o salário do professor mais baixo o desempenho acadêmico, sendo mais frequente esta
situação na região Nordeste do Brasil. Embora os pesquisadores reconheçam a necessidade de
estudos mais amplos sobre esse fator utilizando diferentes bases de dados. (ALVES;
FRANCO, 2008, pp. 496-497).
Além disso, Paul; Barbosa (2008, p.122) afirmam ainda que, ao se analisar o
desempenho acadêmico dos alunos, pode-se medir também a qualificação docente, o que, no
entanto, pode apresentar discrepâncias dependendo da realidade a ser analisada. Portanto, é
um aspecto que não pode ser tomado como regra, mas certamente deve ser considerado, pois
as ações pedagógicas também são determinantes ao processo de ensino-aprendizagem.
E por fim a ênfase pedagógica se atribui pela investigação de Franco, Sztajn e Ortigão
(2007), onde a utilização de “[...] raciocínios de alta ordem e em resolução de problemas
genuínos e contextualizados [...]” no ensino da matemática, elevaram o desempenho
acadêmico dos alunos, porém, os pesquisadores ressaltam a importância de estudos mais
aprofundados sobre este fator com o objetivo de caracterizar sua importância como requisito
para a eficácia escolar. (ALVES; FRANCO, 2008, p.497).
As categorias elencadas pelo contexto brasileiro são bastante complexas e observamos
que podemos incluir dentro delas grande parte dos fatores apresentados anteriormente, como é
possível observar no esquema organizado abaixo num comparativo, desta forma observamos
novamente semelhanças nos resultados sobre a qualificação escolar, apesar de serem
utilizadas diferentes metodologias.
Assim é fácil perceber que além das semelhanças, também existem diferenças, pois as
categorias recursos escolares e formação e salário docente são peculiares à realidade
brasileira, revelando então realidades distintas. Por isso, é tão importante a realização de
pesquisas que orientem a sistemática e planejamento de práticas e políticas na área
educacional.
Quadro 02 – Comparativo dos fatores de eficácia escolar
Categorias de fatores
Inclusão
dos
onze
fatores
de eficácia escolar
escolar de Sammons (2008) nas
no Brasil:
categorias brasileiras:
de
eficácia
 Recursos escolares
Liderança profissional;
 Organização e gestão da escola
Objetivos e visões compartilhados; e
Monitoramento do progresso.
 Clima acadêmico
Ambiente de aprendizagem; Incentivo positivo; Direitos e
responsabilidades do aluno; e Parceria casa-escola.
 Formação e salário docente
Concentração no ensino e na aprendizagem;
 Ênfase pedagógica
Ensino e objetivos claros; Altas expectativas
e Organização orientada ä aprendizagem.
Nas pesquisas norte-americanas, os recursos não foram considerados como fator
explícito de eficácia escolar, pois geralmente a maioria das escolas são bem providas de
recursos, pelo que foi observado, mas ressaltam ainda que mesmo assim é um fator
importante que não deve ser esquecido em qualquer análise, também consideraram o ambiente
físico e a estabilidade dos professores como condições significativas. (SAMMONS, 2008,
p.381)
Diante das pesquisas nos diferentes âmbitos abordados, sabemos que estas identificam
o que precisamos saber para o melhoramento escolar, talvez essas indicações possam até
parecer óbvias para aqueles atores envolvidos no contexto escolar, como pais, professores,
gestores e alunos, mas não se pode deixar de salientar que certamente são elementos
fundamentais para o alcance de um dos principais objetivos das políticas públicas atualmente,
“a qualidade de ensino”. Pelo menos é nessa ideia que está centrada a propaganda de ações
governamentais para a área da educação atualmente.
Ainda para a pesquisa de Franco et. al. (2007, p. 280) onde “[...] busca identificar e
avaliar o efeito sobre a equidade de características escolares associadas simultaneamente à
eficácia escolar e ao aumento das desigualdades dentro das unidades escolares”, onde utilizou
dados do SAEB 2001, na sua conclusão dos resultados observa (p.291) “[...] que a relação
entre qualidade e equidade em educação é complexa, pois políticas e práticas voltadas para o
aumento da qualidade não têm, necessariamente, repercussão direta sobre a equidade
intraescolar.[...]”.
Quanto à análise de aspectos intraescolares Dourado; Oliveira (2009) tendo em vista a
ótica da qualidade apontam as seguintes categorias de elementos característicos ao interior da
dinâmica escolar e que fazem parte da análise educativa: 1) plano do sistema (condições de
oferta do ensino); 2) plano de escola (gestão e organização do trabalho escolar); 3) plano do
professor (formação, profissionalização e ação pedagógica); e 4) plano do aluno (acesso,
permanência e desempenho escolar).
Talvez seja possível no Brasil que através de pesquisas, da produção acadêmica e a
divulgação destas, possamos aprimorar o sistema de ensino, a prática educativa e também as
formas de avaliação, permitindo um diagnóstico mais eficaz dos padrões de ensino,
considerando os diferentes aspectos que envolvem a sua complexidade. Conforme Azevedo
(2007, p.13) não podemos deixar que “[...] o discurso da eficiência e do controle gerencial
corresponde à ideia da educação-mercadoria, como produto de compra e venda no mercado,
desconstituindo a escola como espaço público.”
A ideia exposta por Azevedo (2007) é diferente de pretender encontrar indícios da
escola eficaz, podendo caracterizá-la e, assim, construir uma base para a qualificação do
ensino, como a proposta no paradigma descrito no início do texto, sendo importante não
confundi-las, embora possamos observar que as afirmações do autor estejam constantemente
presentes em ações governamentais, disseminando a visão economicista da educação.
5 Considerações finais
Considerando os fatores de eficácia escolar apresentados neste texto, como principal
fundamento do artigo, encontramos um caminho ainda a ser muito explorado, pois cada um
dos fatores com certeza demanda um estudo exploratório bastante amplo, sendo que, convém
ressaltar que isoladamente nenhum deles faz sentido, mas devem ser tomados pelo mesmo
contexto, que é o escolar, de onde são advindos e onde realmente tornam-se significativos um
ao outro. Convém ainda ressaltar que estes fatores não podem ser tomados como indícios
prontos e acabados, pois com o tempo, devido a mudanças de contexto, a escola pode mudar,
apontando novos fatores a serem considerados e até mesmo abandonando outros tomados
como sendo importantes atualmente. Neste sentido, a pesquisa continua.
É relevante propor também que a análise dos fatores de eficácia escolar deva fazer
parte de uma prática permanente no contexto escolar, mas não observando um ou outro como
aspecto positivo para o sistema de ensino. O mais importante realmente é que o grupo ou
equipe promotora de educação sistematizada tenha condições de enxergar os aspectos
positivos e negativos na sua dinâmica e se sinta capaz de promover as melhores condições
educacionais para um grupo a ser considerado privilegiado, o alunado. Podendo ter a visão
total do contexto inserido, caracterizando-se não somente com fatores generalizáveis, mas
principalmente os efeitos peculiares.
Com isso, revelar os principais fatores de eficácia escolar não significa dispor uma
“receita” de qualidade de ensino, particularmente acredita-se que isso realmente é impossível.
Também não é adequado que a divulgação do desempenho acadêmico, em avaliações de larga
escala, como um diagnóstico da qualidade de ensino em cada instituição sirva somente para
responsabilizar a escola por seus resultados, pois a educação não efetiva-se somente dentro
dos muros da escola, mas há um sistema integrado mais amplo que influencia este processo,
são os aspectos extra e intraescolares a serem analisados.
Acredita-se que seja possível diante dos fatores de qualidade, buscar alternativas e
indícios que sejam considerados fundamentais na dinâmica do processo educativo, pois
sabemos que ainda a qualificação da educação escolar no Brasil, como já vimos
anteriormente, representa um desafio. Neste processo as ações escolares, tanto individuais
quanto coletivas, as políticas públicas, os recursos financeiros e a sistematização de estudos e
pesquisas podem colaborar para um processo de mudança e superação, num processo gradual
que represente o melhoramento educativo em nosso país, apesar das inúmeras desigualdades
ainda existentes.
Existe ainda a potencialidade da criação de uma cultura social que valorize a escola
pública considerando a educação como condicionante do exercício da cidadania, sabendo
assim ter acesso e utilizar o conhecimento científico em benefícios individuais e coletivos,
podendo talvez produzir este conhecimento, representando um progresso que dispõe de
influências em vários campos da sociedade, o poder da escola então se amplia e os avanços se
articulam no meio social, econômico, cultural, entre outros aspectos passíveis de mensuração
diminuindo assim os efeitos de tantas desigualdades presentes em nosso meio.
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Horizonte: Editora UFMG, 2008. pp.466-481.
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Mestranda bolsista Capes/Demanda Social junto ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade
Federal de Dourados, sob orientação da Profa. Dirce Nei Teixeira de Freitas.
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