PARÂMETROS FÍSICOS DE PROJETO DE ACELERADOR CIRCULAR PARA PRÓTONS PARA FINS DE TELETERAPIA OCULAR RABELO, R. A.¹, CAMPOS, T. P. R.² Depto. de Engenharia Nuclear, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte (RN), Brasil E-mail: [email protected]¹, [email protected]² A terapia de prótons tem sido utilizada para o tratamento de tumores oculares, apresentando controle na maioria dos casos além de conservação do globo ocular, evitando a enucleação em crianças. Os prótons apresentam superior deposição de energia em profundidades com reduzido espalhamento lateral, em comparação ao feixe de fótons e elétrons, com característico pico de deposição de energia (pico de Bragg). Para essa técnica é necessário aceleradores de partículas de grande porte o que dificulta a implantação de um centro de Próton Terapia em alguns países devido à necessidade de um investimento de milhões de dólares. Este estudo é referente a um projeto de uma unidade eletromagnética de aceleração circular de prótons para ser acoplados aos cíclotrons nacionais produtores de radiofármacos, para atender à terapia ocular. Neste estudo são avaliados parâmetros físicos de circulação do feixe de prótons através de formulações de mecânica clássica e relativística; bem como os tempos de circulação do feixe na estrutura de aceleração utilizando código de transporte de íons em campos eletromagnéticos. A estrutura de aceleração é diferenciada dos demais aceleradores circulares (patente CTIT/UFMG do grupo de pesquisa NRI/UFMG). Os resultados mostram a viabilidade do desenvolvimento de uma unidade de aceleração compacta de terapia com prótons para tumor ocular que funciona como pré-acelerador ou pós-acelerador para cíclotrons, atendendo a um intervalo energético de 15 MeV a 64 MeV. Formas de redução de custos de fabricação, instalação e operação destes equipamentos facilitará na difusão deste tratamento no Brasil e consequentemente avanços no combate ao câncer. Palavras-chave: Acelerador, Prótons, Radioterapia, Tumor Ocular. 1. INTRODUÇÃO Partículas elementares com carga podem ser aceleradas por equipamentos chamados aceleradores de partículas, onde elas ganham energia cinética ao atravessar um potencial elétrico. O cíclotron é um acelerador compacto caracterizado pela trajetória espiral que partículas descrevem em seu interior. Ele foi criado com a finalidade de acelerar diversos íons, em variadas faixas de energia, onde o limite de energia cinética final depende da estrutura do equipamento. Seu campo de aplicação é variado e vai desde pesquisas de física nuclear até a produção de radioisótopos para uso em diagnóstico médico e terapia com feixes de prótons. (KAPLAN, 1978). A instalação de um centro de terapia com prótons requer um investimento de milhões de dólares, o que impede a sua implantação na maioria dos países. Formas de redução de custos de fabricação, instalação e operação desses equipamentos facilitará na difusão do tratamento em muitos países e consequentemente avanços no combate ao câncer. O objetivo deste estudo é investigar e projetar uma unidade de aceleração que possa ser acoplada a cíclotrons produtores de radioisótopos existentes no Brasil, a fim de acelerar feixes de prótons com energia de 15 MeV (energia de extração de feixes de prótons em cíclotrons) até 64 MeV. Este valor final é intermediário a faixa adequada à terapia ocular que é de 60 a 72 MeV. O interesse pelos prótons para fins de terapia clínica é motivado pela sua forma de deposição de energia em profundidade. Ao interagir com o meio biológico o próton perde sua energia a uma taxa constante enquanto penetra no tecido, mas em uma dada profundidade de penetração ele perde toda sua energia cinética remanescente de uma só vez (Pico de Bragg – Fig. 1) (WIESZCZYCKA; SCHARF, 2001). Essa característica é de extrema vantagem no tratamento do câncer porque os tecidos sadios adjacentes ao tumor têm maior possibilidade de serem preservados durante a penetração do próton, enquanto o pico de deposição de energia da partícula ocorre no tumor. Figura 1. Curva de interação de prótons com a matéria. Fonte: Modificado de RUTH, 2009 2. MATERIAIS E MÉTODOS No estágio inicial do projeto, é analisado os parâmetros analíticos associados ao movimento dos prótons, seguindo as Equações 1 a 6. Algumas dessas equações atendem a Mecânica Clássica e algumas correções devem ser postas, pois, quando a partícula se aproxima da velocidade da luz, efeitos relativísticos devem ser contabilizados. O tempo de aceleração e velocidade da partícula na unidade de aceleração foram obtidos de simulação no software CST (Computer Simulation Technology). Considere um feixe de prótons de carga qp e massa em repouso mo, emitidos por uma fonte de íons e pré-acelerados (no cíclotron) a uma energia inicial Eo igual a 15 MeV. Este feixe de prótons deve passar várias vezes por uma unidade de aceleração para atingir energias cinéticas de 64 MeV. Esta unidade é descrita de uma forma simplificada como composta por duas regiões: uma região de circulação, onde existe um campo magnético uniforme B que permite a circulação do próton; e uma região de aceleração onde está presente um campo elétrico E. Ambas as regiões são acopladas e distintas. A partícula entra inicialmente na região de aceleração, onde o campo magnético B é nulo e o campo elétrico E é constante, com uma velocidade vo. Ao passar por essa região a partícula ganha mais energia e aumenta a sua velocidade. A partícula percorre o interior da região de aceleração em um tempo td. Em seguida sai com uma velocidade vf conforme mostra a Fig.2 e retorna ao ponto inicial após completar uma volta circular de raio R em um tempo tf (tempo fora da região de aceleração). Como seu movimento é perpendicular ao campo magnético uniforme, a partícula descreverá uma trajetória circular na região fora da estrutura de aceleração. Quanto maior a velocidade e energia da partícula, maior o raio R da curvatura na região de circulação (RABELO E CAMPOS, 2010). Figura 2. Esquema ilustrativo do percurso da partícula no interior do dispositivo de aceleração projetado. 2.2 Região de Circulação Sendo a velocidade v perpendicular ao campo meagnético B teremos que a partícula evoluirá para uma trajetória circular, com força F atuando de forma centrípeta. Esse movimento pode ser descrito pela Equação de Lorentz: 𝑭 = 𝑚0 𝒂 = 𝑞𝑝 𝐵𝑣 (1) onde mo é a massa da partícula, a aceleração, qp a carga, e 𝐵𝑣 é o produto do modulo de do campo magnético B e velocidade 𝒗 , sendo que os vetores são perpendiculares. Sabe-se que o modulo do vetor aceleração a é fornecida pela relação: 𝑎 = 𝑣2 𝑅 (2) Logo é possível calcular o raio R da trajetória do próton na região de circulação, a cada volta, substituindo (2) em (1). O valor do raio R será avaliado por: 𝑅 = 𝑝 𝑞𝑝 𝐵 (3) onde p é o módulo do momento linear relativístico da partícula, equivalente a mv. Em termos de energia cinética Ec e para p não relativístico, temos o momento linear p: 𝐸𝑐 = 1 1 𝑚0 𝑣² → (𝑚0 ). 𝐸𝑐 = 𝑚0 𝑣². (𝑚0 ) → 2𝑚0 𝐸𝑐 = (𝑚0 𝑣)² → 𝑝 = √2𝑚0 𝐸𝑐 2 2 (4) O momento linear relativístico pr pode ser encontrado pela Eq. (5): 1 𝐸𝑛𝑒𝑟𝑔𝑖𝑎 𝑇𝑜𝑡𝑎𝑙 (𝐸) = 𝑚0 𝑐 2 + 𝐸𝑐 → 𝐸𝑐 2 = 𝑝2 + (𝑚0 𝑐 2 )2 → 𝑝𝑟 = √𝐸𝑐 2 + 2𝐸𝑐 𝑚0 𝑐² 𝑐 (5) onde Ec é a energia cinética da partícula. Substituindo a Eq. (4) em (3) ou para o raio relativístico Rr , i.e. (5) em (3), temos: 𝑅1 = 𝑝𝑟1 𝑝𝑟2 √2𝑚𝑝 𝐸1 √2𝑚𝑝 𝐸2 , 𝑅2 = , … 𝑜𝑢 𝑅𝑟1 = , 𝑅𝑟2 = ,… 𝑞𝑝 𝐵 𝑞𝑝 𝐵 𝑞𝑝 𝐵 𝑞𝑝 𝐵 (6) Onde R1 e R2 representam os raios de curvatura da partícula em cada órbita na região de circulação. 2.1 Região de aceleração O tempo, velocidade e ganho de energia dentro da estrutura de aceleração pode ser gerado pelo código determinístico de simulação CST e obtidos na simulação da trajetória do feixe ao passar por campos eletromagnéticos, levando em consideração um sistema real de aceleração. 3 RESULTADOS Os resultados da aplicação das Eq. 1 a 6 citadas no capítulo anterior, para energias de 15 a 64 MeV, são apresentados na Tab.2. O tempo, velocidade e ganho de energia dentro da estrutura de aceleração gerado pelo código CST são também apresentados na Tab. 2. Para esses cálculos e simulação foram adotados os valores para cada grandeza mostrados na Tabela1. Tabela 1. Grandezas adotadas no processo de aceleração de partículas. Massa do próton Carga do próton Diferença de potencial entre eletrodos Campo magnético Velocidade da Luz Distância entre eletrodos Energia Inicial 1,67 x 10-27 kg 1,6 x 10-19 C 200 kV 3T 3 x 108 m/s 0,2 m 15 MeV Tabela 2. Resultados de cálculos analíticos de grandezas envolvidas na circulação dos prótons e simulação da passagem do feixe na estrutura de aceleração. Energia (MeV) Energia (Joules) Nº de voltas Raio (m) Momento Linear (kg.m/s) Momento linear (relativístico) (kg.m/s) Velocidade (m/s) Velocidade (relativística) / (m/s) Velocidade obtida em simulação no CST (m/s) Ganho de energia (keV) Massa relativística (kg) 15 2,40 x 10-12 1 0,18 8,96 x 10-20 9,0 x 10-20 64 1,02 x 10-11 248 0,38 1,85 x 10-19 1,88 x10-19 5,36 x 107 5,29 x 107 11,0 x 107 10,5 x 107 5,29 x 107 157 2,03 x10-27 1,05 x 107 93 2,65 x10-27 O tempo de aceleração do feixe de prótons para diferentes valores de energia pode ser visto na Fig. 3. Figura 3. Relação de tempo gasto para atravessar a região de aceleração para diferentes valores de energia. Onde Ti é o tempo inicial, Tm é o tempo gasto para o feixe chegar a metade da estrutura de aceleração e Tf o tempo gasto para atravessar toda a região. 4. DISCUSSÃO E CONCLUSÃO Este trabalho aborda o desenvolvimento de um acelerador circular para prótons que pode ser acoplado aos aceleradores cíclotrons, como o Cyclone 30 do IPEN (Instituto de Pesquisas Energéticas – São Paulo/SP), ou até mesmo o acelerador PETtrace do CDTN (Centro de Desenvolvimento de Tecnologia Nuclear – Belo Horizonte/MG). Tais aceleradores atendem a energia cinética mínima de 15 MeV necessária para circulação no equipamento em estudo. Neste equipamento, com uma energia cinética inicial de 15 MeV e uma cavidade de aceleração alimentada por uma diferença de potencial de 200kV, é possível acelerar prótons a energias suficientes para o tratamento de tumor ocular em um acelerador compacto de 64 MeV após 248 voltas do feixe no equipamento. O presente estudo é encorajador, porque a ideia de acoplar uma unidade de aceleração juntamente do cíclotron produtor de radioisótopo, pode produzir feixes de prótons para terapia com baixo custo de instalação, facilitando a implementação deste tratamento no país. AGRADECIMENTOS CNPq, CAPES e FAPEMIG pelo apoio institucional e ao grupo NRI. REFERÊNCIAS CST Suite: Charged Particle Simulation. 2012 Kaplan, I., Física Nuclear, 2 ed. Ed. Guanabara Dois, 1978, 636 p. Rabelo. L. A.; Campos, T.P.R. “Development of Circular Protons Accelerator for Ocular Teletherapy.” In: International Conference on Mathematics and Computational Methods Applied to Nuclear Science and Engineering, M&C. Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 2011. [Anais Eletrônicos]. 1 CD-ROM Ruth, T. J. “The production of Radionuclides for Radiotracers in Nuclear Medicine.”Reviews of Accelerator Science and Technology.v. 2.: Medical Applications of Accelerators, p 17-33, 2009. Wieszczycka, W; Scharf, W. H. “Proton Radiotherapy Accelerators.”World Scientific Publishing.2001, 323 p. PHYSICAL PARAMETERS OF CIRCULAR ACCELERATOR PROJECT WITH PROTONS FOR OCULAR TELETHERAPY RABELO, L. A., CAMPOS, T. P. R. Department of Nuclear Engineering, Federal University of Minas Gerais, Belo Horizonte (MG), Brazil E-mail: [email protected]¹, [email protected]² Proton therapy has been used for the treatment of Ocular Tumors, presents control in most cases as well as conservation of the eyeball, and avoids the enucleation in children. The protons have higher energy deposition with depths reduced lateral scattering when compared to photon and electron beam, with a characteristic peak of energy deposition (Bragg peak). For this technique is required large particle accelerators which complicates the deployment of Proton Therapy Center in some countries due to the need for an investment of millions of dollars. This study is related to a project of an electromagnetic unit of circular acceleration of protons to be bound to the national producers of cyclotrons radiopharmaceuticals, for purposes of ocular therapy. In this study are evaluated physical parameters of proton beam circulation by equations of classical mechanics and relativistic; as well as the circulation of the times on the beam acceleration structure using ion transport code in electromagnetic fields. Acceleration structure is different from other circular accelerators (patent CTIT/UFMG, NRI research group/UFMG). The results show the feasibility of developing a compact accelerator unit for proton therapy. This can be applied in ocular tumor therapy and can be used as accelerator gun or post accelerator to cyclotrons, given 15 MeV energy range the 64 MeV. Cost reduction methods of manufacture, installation and operation of this equipment will facilitate the dissemination of this treatment in Brazil and, consequently, advances in the fight against cancer. Key words: Accelerator, Proton, radiation therapy, Ocular Tumor.