Tratores Tratores Erramos

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Tratores
ruídos
Barulho
ensurdecedor
Este artigo apresenta um
estudo desenvolvido em três
partes sobre o ruído em tratores
e implementos agrícolas e o
risco de perda auditiva dos
operadores dessas máquinas.
Numa primeira pesquisa foi
encontrado um nível médio de
ruído para tratores nacionais
de 97 decibéis (para exposições
de 8 h diárias, níveis de ruído
acima de 80 dB já podem
causar lesão auditiva) e 60%
dos tratoristas com perda
auditiva, indicando que a
operação de tratores é
altamente insalubre. Na
tentativa de indicar possíveis
soluções, um segundo estudo,
analisando o ruído emitido em
cada parte do trator, elegeu o
escapamento como principal
fonte de ruído. O terceiro passo
foi propor alterações no
escapamento de um trator,
obtendo níveis de ruído
inferiores a 80 dB
Erramos
O
Departamento de Engenharia
Mecânica da Unesp, campus de
Bauru, possui um grupo de pesquisa em Projeto e Segurança em Máquinas
Agrícolas, no qual professores e alunos vêm
desenvolvendo estudos sobre a relação homem/máquina em equipamentos agrícolas.
Uma das pesquisas mais destacadas é a avaliação dos níveis de ruído existentes nessas
máquinas.
Do ponto de vista da ergonomia, o posto de trabalho do tratorista é um dos mais
sacrificantes para o desempenho da função.
Além do ruído, o operador do trator está sujeito à vibração, insolação, calor e gases do
motor, poeira, insetos, defensivos agrícolas
etc. A tudo isso se deve somar o fato de ele
operar, ao mesmo tempo, o trator e o implemento, obrigando-se a olhar para trás várias vezes a cada minuto. Neste artigo vamos
dar ênfase à questão do ruído.
LEVANTAMENTO DE DADOS
Entre os anos de 1989 e 1991 realizamos uma pesquisa descritiva com o objeti-
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Máquinas
www.cultivar.inf.br
Fernande fal
ruído do trat
Fevereiro 2003
“Do ponto de vista da ergonomia, o posto de trabalho do tratorista
é um dos mais sacrificantes para o desempenho da função
vo de avaliar os níveis de ruído em tratores
agrícolas nacionais e o risco de perda auditiva de seus operadores. Foi medido o ruído de mais de 300 tratores, sendo 198 em
condições reais de trabalho no campo e os
demais em condições controladas. A Tabela 1 mostra o nível médio de ruído para cada
grupo de potência.
Quanto à operação agrícola executada,
a roçagem e a colheita de milho apresentaram os maiores níveis de ruído (em função
do ruído causado pelo implemento), enquanto que nas operações de preparo do
solo, a subsolagem e a aração se mostraram
mais ruidosas (em razão dos grandes esforços do motor, requeridos pelo implemento).
Do ponto de vista de conforto do operador (Norma NBR 10152), os níveis de ruído apresentaram uma situação de extremo
desconforto para o tratorista, gerando fadiga, desconcentração no serviço e diminuição na produtividade. Quanto ao risco auditivo, a Tabela 2 mostra o tempo máximo
de exposição diária permissível para algumas operações agrícolas, estabelecido com
base na NR-15, da Portaria 3214 da CLT.
Como se sabe que a maioria dos operadores
de máquinas agrícolas trabalha 8 horas por
dia, raramente utilizando protetores auriculares, a situação de insalubridade existente nesse trabalho fica bastante clara.
Para a análise do risco auditivo dos tratoristas, foram feitos exames audiológicos
(consulta com um médico e audiometria
com fonoaudióloga) em 111 trabalhadores.
A Tabela 3 mostra o grupo de tratoristas testados.
Os resultados revelaram um índice de
34,7 % de ouvidos normais; 59,8 % de ouvidos com perda de audição provocada por
ruído; 2,3 % dos ouvidos com déficit auditivo de etiopatia mista, e 3,2% dos ouvidos
com perda de audição provocada por causas diversas do ruído.
Notou-se que o déficit auditivo evoluiu
com a idade e com o tempo de exposição,
comprovando ser o ruído a causa da perda
auditiva (hipoacusia). Também ficou evidente a precocidade da perda auditiva: para
tratoristas com até 5 anos de trabalho, 42,9
% já apresentavam déficit auditivo e, entre
5 e 10 anos de exposição ao ruído do trator,
58,0 % já tinham hipoacusia. Percebe-se,
claramente, a severidade das condições de
trabalho do tratorista.
ANÁLISE DA MÁQUINA
a sobre as principais fontes de
or e possíveis soluções
Fevereiro 2003
Dando prosseguimento aos estudos, foi
desenvolvido uma pesquisa com o objetivo
de identificar, isolar e analisar o ruído de
cada parte do trator. Utilizou-se nos ensaios um trator Massey Ferguson 290 (4x2),
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Tabela 1 - Níveis de ruído para tratores de cada grupo
GRUPO
Nível de Ruído dB(A)
Nº de Tratores
até 49 cv
De 50 a 99 cv
de 100 a 199 cv
+ que 200 cv
Trat. Esteiras
MÉDIA
96,97
96,49
98,23
87,17
102,17
97,06
20
137
29
01
11
198
Tabela 2 - Exposições máximas permissíveis (NR 15)
Trator
Ruído Exposição máxima
dB(A)
permissível
Operação
Agrale 4300
Roçagem
Yanmar 1040
Transporte
M.F. 265
Roçagem
Valmet 65
Colheita de milho
Ford 4610
Aração
CBT 8440
Subsolgem
Caterpilar D6
Cultivo
Fiatallis 7D
Cultivo
Komatsu
Subsolagem
98,3
96,3
100,3
99,8
100,5
99,0
102,0
103,5
104,3
1:00 h
1:15 h
45 min.
1:00 h
45 min.
1:00 h
45 min.
35 min.
30 min.
Tabela 3 - Perfil dos tratoristas pesquisados
Nº de
Faixa de idade
Tratoristas
(anos)
Entre 20 e 30
Entre 30 e 40
Entre 40 e 50
Entre 50 e 60
Mais que 60
29
34
34
12
02
Tempo de
Operação (anos)
Nº de
Tratoristas
Até 5
Entre 5 e 10
Entre 10 e 15
Entre 15 e 20
Entre 20 e 25
Mais que 25
21
25
26
10
16
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sem cabine, com todos equipamentos originais. As cinco principais fontes de ruído
(exaustão dos gases, admissão e filtragem
do ar, hélice de ventilação, bomba injetora
e a vibração geral do motor) foram isoladas. Foi medido o ruído de cada uma, sem
a interferência das outras fontes.
A Figura 1 apresenta o espectro do ruído de cada fonte, com valores corrigidos
em função da distância entre a fonte e o
operador.
O ruído da exaustão dos gases se colocou como a fonte sonora mais intensa do
trator. O pico de 109 dB (a 30 cm, com
silencioso) deve atingir o ouvido do tratorista (a 1,71 metros dessa fonte) com valores próximos a 94 dB. A somatória de todos os ruídos (o ruído total) atinge o ouvido do tratorista com um nível de 99 dB (a
60 Hz). Esses valores indicam altos níveis
de pressão sonora, com risco iminente de
perda auditiva do operador, exigindo proteção auditiva adequada. A Portaria 3.214
do Ministério do Trabalho, em sua NR 15,
Anexo1, obriga a proteção de todos os
Máquinas
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“Para a análise do risco auditivo dos tratoristas, foram feitos exames audiológicos (consulta
com um médico e audiometria com fonoaudióloga) em 111 trabalhadores”
... trabalhadores expostos a níveis de ruído
acima de 85 dB(A) por 8 horas diárias.
Outra consideração importante que
deve ser feita é que esses níveis se referem
ao trator parado; com o trator em movimento, executando uma operação agrícola, em razão do esforço do motor, a intensidade do ruído, comprovadamente, é
maior.
REDIMENSIONAR O ESCAPAMENTO
Com a identificação da exaustão dos
gases como a principal fonte de ruído do
trator, passamos para a próxima etapa da
pesquisa: uma proposta de redimensionamento do escapamento dos gases, visando a diminuição do ruído para níveis não
insalubres. Utilizou-se o mesmo trator
da pesquisa anterior.
Foram ensaiadas duas propostas de alteração do escapamento:
1 - alteração na posição: passando os
tubos do escapamento por baixo e para
trás do trator (como em um automóvel)
e posicionando a câmara de expansão no
final da tubulação.
2 – redimensionamento da câmara de
expansão: executou-se um novo projeto
para o escapamento do trator, utilizandose uma câmara de expansão dupla e fator
de expansão igual a 16.
Os resultados revelaram um ruído de
79 dB(A) próximo ao ouvido do operador. A comparação desse nível com os limites de tolerância para ruído (Portaria
3.214) deixa claro que, ao serem processadas as citadas alterações no trator, a sua
operação deixou de ser insalubre para ser
apenas desconfortável.
Fig. 01 - Densidade espectral do ruído de todas
as fontes no ouvido do tratorista (1800 RPM)
CONCLUSÕES
As pesquisas descritas neste trabalho
permitiram concluir-se que:
• os tratores nacionais, sem cabines
acústicas, emitem níveis de ruído acima
dos limites toleráveis (média de 97 dB), o
que torna insalubre a sua operação;
• os operadores de tratores apresentam altas porcentagens de perda auditiva
(60%), acima dos índices encontrados em
trabalhadores da indústria;
• a principal fonte de ruído dos tratores é a exaustão dos gases, em razão da
pequena atenuação da câmara de expansão e da proximidade com o tratorista;
• a colocação do escapamento por baixo do trator e o redimensionamento da câmara de expansão dos gases pode atenuar
M
o ruído para níveis não insalubres.
João Candido Fernandes,
UNESP
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Máquinas
Fig. 02 - Comparação entre o espectro do ruído
do trator original e as modificações propostas
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Fevereiro 2003
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