análise técnico-econômica do cultivo da soja orgânica

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ANÁLISE TÉCNICO-ECONÔMICA DO CULTIVO DA SOJA ORGÂNICA VERSUS
CONVENCIONAL NA REGIÃO DE LONDRINA
RESUMO
Este estudo analisou, comparativamente, o desempenho técnico e econômico dos métodos
orgânicos de produção versus convencional, na produção da soja em estabelecimentos
agrícolas familiares localizados na região de Londrina, norte do estado do Paraná. As
propriedades orgânicas analisadas encontram-se, ainda, em estágio de conversão do sistema
convencional para o sistema orgânico, sendo acompanhadas pelo Instituto Agronômico do
Paraná (IAPAR), por meio do Projeto Redes de Referência para a Agricultura Familiar
Orgânica, IAPAR/CNPq. Para realizar tal análise, foram construídas as matrizes tecnológicas
dos agricultores analisados de acordo com a metodologia de Custos Operacionais e
Rentabilidade do Instituto de Economia Agrícola (IEA). A partir das matrizes tecnológicas,
construíram-se indicadores de eficiência técnica e eficiência econômica para ambos os
sistemas de produção. Os dados utilizados na construção dos indicadores referem-se à safra
2001/02 e fazem parte do referido Projeto. De modo geral, comprovou-se a eficiência técnica
e econômica dos métodos orgânicos de produção, muito embora, o principal componente que
viabiliza, atualmente, a produção orgânica é o preço do produto orgânico obtido em mercados
diferenciados. Os sistemas orgânicos apresentaram uma produtividade menor do que a
observada no sistema convencional. Enquanto no sistema convencional foram produzidas
45,45sc por hectare, entre os sistemas de cultivo orgânicos ela variou de 32,67sc a 39,25sc por
hectare. O diferencial de preço de 53%, alcançado pela soja orgânica permitiu que os
produtores orgânicos obtivessem uma rentabilidade superior à obtida no sistema
convencional.
Palavras chave: Agricultura orgânica; Custos de produção; Viabilidade técnica e econômica.
1. Introdução
Nos últimos anos, tem se observado uma expansão significativa do mercado
de produtos orgânicos. O desenvolvimento sócio-cultural das sociedades modernas tem feito
emergir novos padrões de consumo no mercado de alimentos. A conscientização da
necessidade de preservação do meio ambiente e as crescentes exigências por uma alimentação
saudável e com qualidade têm potencializado a produção orgânica/ecológica. Os altos custos
da agricultura convencional têm levado vários agricultores a repensar sua forma de produzir.
Muitos pequenos produtores familiares, excluídos do atual modelo agrícola dominante1, têm
encontrado nas técnicas e princípios da agricultura orgânica uma forma de viabilizar
economicamente sua pequena escala de produção, permitindo, assim, um padrão de vida
melhor no campo.
1
Esse modelo, segundo Ehlers (1999), baseia-se no “pacote tecnológico” criado pela Revolução Verde privilegia a grande
escala de produção e o cultivo de monoculturas altamente mecanizadas e dependentes de insumos químicos industriais.
2
Entre os anos de 1920 e 1940 surgiram, de forma isolada e independente na
Europa, nos EUA e no Japão, alguns movimentos alternativos ao modelo industrial ou
convencional de agricultura. “Esses movimentos ‘rebeldes’ contrários à adubação química,
valorizando o uso de matéria orgânica e de outras práticas culturais favoráveis aos processos
biológicos” (EHLERS, 1999, p. 47) constituem, atualmente, a chamada agricultura orgânica.
O termo “agricultura orgânica”, utilizado nos últimos anos, abrange os sistemas de cultivo
orgânico, biodinâmico, natural, biológico, ecológico, regenerativo, agroecológico e
permacultura (DAROLT, 2002).
Os sistemas de produção orgânicos surgiram a partir da introdução de um
novo modelo de desenvolvimento agrícola baseado na concepção de sustentabilidade dos
recursos naturais renováveis. Esses sistemas apresentam, como princípios básicos, a utilização
de práticas tais como o uso de insumos orgânicos, integração agricultura/pecuária, rotação de
culturas, adubação verde, etc.
Atualmente, a agricultura orgânica vem sendo uma alternativa viável à
pequena escala de produção da agricultura familiar. A produção orgânica tem sido uma
estratégia adotada por muitos pequenos agricultores familiares para diferenciar seus produtos
e, ao mesmo tempo, agregar-lhes valor. A oportunidade de comercializar a produção orgânica
em mercados diferenciados, obtendo um diferencial de preço, tem viabilizado a produção
orgânica de muitos pequenos produtores familiares.
As técnicas adotadas na agricultura orgânica, diferentemente da agricultura
convencional, são mais simples e exigem um desembolso de recursos menor e, por isso, são
mais adequadas à pequena escala da produção familiar. Enquanto a agricultura convencional
propõe à adoção de um conjunto bastante homogêneo de práticas tecnológicas, impondo
custos cada vez maiores, na agricultura orgânica verifica-se o contrário.
Mundialmente, a agricultura orgânica já é praticada em mais de uma centena
de países sendo que, a Oceania apresenta 46,69% da área sob manejo orgânico do mundo,
seguida pela Europa (22,47%), América Latina (20,70%), América do Norte (6,60%), Ásia
(2,64%) e África (0,90%) (DAROLT, 2003). De acordo com esse autor, a expansão da
agricultura orgânica, em nível mundial, está associada, em grande parte, ao aumento dos
custos de produção da agricultura convencional, à degradação do meio ambiente e à crescente
exigência dos consumidores por produtos “limpos” ou livres de agrotóxicos.
A produção orgânica no Brasil, nos últimos anos, de acordo com alguns
autores (DAROLT, 2002; ORMOND et al., 2002), cresce a uma taxa entre 30% e 50% ao
ano. Esse crescimento da utilização dos métodos orgânicos, principalmente na pequena
produção familiar, tem chamado a atenção de pesquisadores, agricultores, comerciantes,
consumidores e da comunidade em geral, que querem saber se a adoção desse “novo” método
alternativo de produção é ou não técnica e economicamente viável na produção de alimentos.
Diante das dificuldades enfrentadas pelos pequenos produtores familiares
em adotar o padrão tecnológico da Revolução Verde e das possibilidades desses de
produzirem de forma “alternativa” por meio da utilização dos métodos orgânicos de produção,
este estudo, propõe-se a responder o seguinte problema de pesquisa: os métodos orgânicos de
produção, utilizados alternativamente, são técnica e economicamente viáveis para o
desempenho da produção agrícola da soja, em estabelecimentos agrícolas familiares na região
de Londrina2?
Mediante as inúmeras dúvidas e questionamentos oriundos da sociedade no
que diz respeito à agricultura orgânica, este estudo teve como objetivo central analisar,
2
As propriedades analisadas, neste estudo, localizam-se no município de Jataizinho, Norte do estado do Paraná. São
propriedades acompanhadas pelo Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR), por meio do Projeto Redes de Referência para a
Agricultura Familiar Orgânica, IAPAR/CNPq. Trata-se de propriedades que estão, ainda, passando por um processo de
conversão do sistema convencional para o sistema orgânico.
3
comparativamente, os aspectos técnicos e econômicos que envolvem a produção agrícola da
cultura da soja, nos diferentes sistemas de produção químico-convencional versus orgânicoecológico em estabelecimentos agrícolas familiares na região de Londrina, Norte do estado do
Paraná. Neste sentido, o trabalho divide-se em 5 tópicos. Inicia-se com a introdução, que
apresenta os objetivos da pesquisa. No item 2, é apresentada a evolução da agricultura
orgânica no Brasil e no Paraná, enquanto o 3 mostra a metodologia utilizada. O tópico 4
mostra os resultados do estudo e, finalmente, no item 5, são apresentadas os comentários
finais da pesquisa.
2. Evolução da agricultura orgânica
2.1 No Brasil
Durante os anos 80, surgiram vários movimentos, liderados principalmente,
por organizações não-governamentais, questionando a estratégia de “modernização” da
agricultura brasileira. Por meio dessas entidades, os problemas sociais e ambientais, causados
pelo atual padrão agrícola, começaram a ser questionados (EHLERS, 1999), permitindo,
assim, que se começasse a repensar o modelo convencional de produção agropecuária a partir
do início dos anos 90 (DAROLT, 2002).
Segundo Ehlers (1999), no campo produtivo duas experiências práticas
surgiram quase que simultaneamente durante a década de 70 e marcaram o início da produção
orgânica no país. Uma delas foi a fundação, em 1972, da Estância Demétria, seguindo os
princípios da agricultura biodinâmica, em Botucatu, interior de São Paulo, enquanto a outra
foi a instalação de uma granja orgânica no município de Cotia-SP.
Apesar de existirem poucos dados sistematizados a respeito da produção
orgânica no Brasil, sabe-se que de 1973 a 1995 o desenvolvimento da agricultura orgânica foi
muito lento (DAROLT, 2000). Nesse período, a prática da agricultura orgânica concentrou-se
em pequenos grupos isolados de agricultores ligados, principalmente, às organizações nãogovernamentais. Durante a década de 90, os vários movimentos internacionais em defesa do
meio ambiente acabaram por impulsionar as práticas orgânicas no país. Os dados indicam um
crescimento de 10% ao ano até meados dessa década e, nos últimos cinco anos, em torno de
30% a 50% ao ano (DAROLT, 2002).
A Tabela 1 apresenta algumas estimativas sobre a produção orgânica no
Brasil segundo os principais estados produtores para a safra 2000/2001. Como pode se
observar, os estados da região Sul (Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina) e o estado de
São Paulo apresentam os maiores números de produtores orgânicos. Nesses estados, a
agricultura orgânica tem crescido mais rapidamente, onde as estimativas indicam que 80% da
produção orgânica brasileira na safra 2000/2001 foi proveniente dos estados do Sul e Sudeste
(DAROLT, 2002). Já os estados do Mato Grosso e do Mato Grosso do Sul destacam-se pelas
maiores áreas sob manejo orgânico principalmente por incluir grandes áreas de pastagens
naturais em conversão destinadas à prática da pecuária extensiva.
Na safra 2000/2001 foram cultivadas no Brasil, aproximadamente, 275 mil
hectares sob manejo orgânico em 14,8 mil propriedades orgânicas, sendo cerca de 158 mil
hectares ocupados com agricultura e 119 mil com pastagens (DAROLT, 2002). De acordo
com o mesmo autor, aproximadamente 70% da produção orgânica nacional produzida na safra
2000/2001 foi proveniente de pequenos produtores familiares, em que estes representam 90%
do total dos agricultores orgânicos no país. O restante foi produzido por grandes produtores
empresariais, ligados a empresas privadas, em que esses foram responsáveis por 30% da
produção orgânica brasileira.
4
De acordo com Darolt (2002) cerca de 85% da produção orgânica brasileira
é exportada, sobretudo para Europa, EUA e Japão, sendo o restante consumido internamente.
Para o autor, os principais produtos orgânicos brasileiros exportados são o café (Minas
Gerais); cacau (Bahia); soja, açúcar mascavo, erva-mate, café (Paraná); suco de laranja,
açúcar mascavo e frutas secas (São Paulo); castanha de caju, óleo de dendê e frutas tropicais
(Nordeste); óleo de palma e palmito (Pará); guaraná (Amazônia); arroz, soja e frutas cítricas
(Rio Grande do Sul) e arroz em Santa Catarina.
No mercado interno, dentre os principais produtos comercializados,
destacam-se as frutas regionais, as hortaliças e os legumes vendidos in natura. A distribuição
e a comercialização dos produtos orgânicos no mercado interno, até o início da década de 90,
era feita, basicamente, por meio da entrega de cestas em domicílio, das feiras de produtos
orgânicos e através de pequenos varejos (lojas de produtos naturais e restaurantes). Nos
últimos anos, diante da crescente demanda por produtos saudáveis, grandes redes de
supermercado passaram, também, a comercializar em suas gôndolas produtos orgânicos.
TABELA 1 – Número de propriedades orgânicas, área, volume de produção e vendas no
Brasil, 2001.
Vendas
No de propriedades
Área (ha)
Produção (t)
Estados da federação
orgânicas
(milhões de R$)
Rio Grande do Sul
4.370
13.000
40
Paraná
3.077
10.030
35.000
50
Maranhão
2.120
10.021
Santa Catarina
2.000
12.000
São Paulo
1.000
30.000
70
Ceará
543
21.040
10.000
Acre
500
50
Pará
400
4.012
Bahia
247
7.240
Rio de Janeiro
203
7.087
2.000
5
Minas Gerais
149
3.433
Mato Grosso do Sul
115.599
Mato Grosso
123
34.965
Distrito Federal
50
200
400
2
Espírito Santo
24
899
800
3
Outros
50
6.000
TOTAL
14.866
275.576
300.000*
200*
Fonte: Extraído de DAROLT, (2002).
*Estimativas.
Enfim, como se observa, a agricultura orgânica no Brasil tem se revelado
um “nicho” de mercado promissor, cujos resultados obtidos, até o momento, demonstram um
potencial de crescimento ainda maior para os próximos anos, embora alguns fatores precisem
ser equacionados. Em primeiro lugar, segundo Darolt (2002), é necessário criar, no país, uma
legislação eficiente que garanta aos consumidores a procedência dos produtos orgânicos. Em
segundo lugar, é necessário viabilizar processos de certificação participativa reduzindo, assim,
os altos custos de certificação atualmente cobrados dos produtores. Essa medida permitiria
que outros produtores aderissem à prática da agricultura orgânica. Outros problemas como
falta de apoio governamental e de pesquisas, também, precisam ser equacionados.
5
2.2 No Paraná
A história da agricultura orgânica no estado do Paraná é bastante recente. A
organização de um pequeno grupo de agricultores orgânicos no município de Agudos do Sul,
região Sul do Estado, na primeira metade da década de 80, marcou o início da prática da
agricultura orgânica no Paraná (DAROLT, 2002). Outras iniciativas durante os anos 90
vieram, posteriormente, promover o desenvolvimento da agricultura orgânica no Estado.
A fundação do Instituto Verde Vida de Desenvolvimento Rural (IVV) em
1991, seguindo os princípios da agricultura biodinâmica desenvolvidos pelo Instituto
Biodinâmico de Desenvolvimento Rural (IBD) de Botucatu-SP, foi uma das primeiras
iniciativas para promover a agricultura orgânica no estado do Paraná.
Outra tentativa de promover o desenvolvimento da agricultura orgânica no
Estado foi com a criação da Associação de Agricultura Orgânica do Paraná (AOPA), em
setembro de 1995. Inicialmente, a atuação da AOPA restringia-se, basicamente, à região
metropolitana de Curitiba. Contudo, nos últimos três anos, houve uma expansão significativa
do número de associados em todo o Estado. A Tabela 2 mostra a evolução do número de
atividades ligadas à produção orgânica na AOPA.
TABELA 2 – Evolução do número de atividades ligadas à produção orgânica na Associação
de Agricultura Orgânica do Paraná, 1996 a 2001.
Atividades
Número de Atividades
Desenvolvidas
1996
1997
1998
1999
2000
2001
Agricultores Orgânicos
Grupos de Agricultores
Municípios
Feiras
Lojas
Fonte: DAROLT (2002).
180
9
9
1
0
219
13
13
2
4
265
18
16
2
12
301
21
19
2
21
320
23
20
3
21
350
25
21
3
10
No início de suas atividades em 1996, a AOPA contava com 180 produtores
orgânicos associados, organizados em nove grupos em nove municípios da região
metropolitana de Curitiba, em que a produção orgânica era, basicamente, comercializada por
meio de uma feira realizada todos os sábados no centro de Curitiba. No ano de 2001, a AOPA
já contava com 350 produtores orgânicos associados, localizados em 21 municípios do Estado
e a distribuição e comercialização da produção orgânica, antes feita por meio de apenas uma
feira, passou a contar com três feiras e 10 lojas em 2001.
A produção orgânica paranaense está centrada basicamente em três
produtos: soja, olerícolas e açúcar mascavo (DAROLT, 2002). Dentre os principais produtos
orgânicos paranaenses exportados destacam-se a soja, o açúcar mascavo, o café e a erva mate
enquanto, as olerícolas, frutas, arroz, milho, trigo, feijão, mandioca, etc. são destinados ao
mercado interno.
A Tabela 3 mostra a evolução da produção orgânica dos principais produtos
orgânicos paranaense. A produção orgânica no Paraná está distribuída, segundo Darolt
(2002), nas seguintes regiões: a produção de olerícolas é mais expressiva nas regiões
próximas aos grandes centros urbanos (região metropolitana de Curitiba, microrregião de
União da Vitória e Ponta Grossa e na região Norte do Estado, com destaque para Maringá,
Londrina e Umuarama); a soja é cultivada, basicamente, na região Oeste e Sudoeste do
Paraná; o açúcar mascavo está sendo produzido na região norte, principalmente no município
6
de Jaboti; o cultivo dos demais produtos vem sendo realizado em várias regiões do estado em
uma escala de produção menor.
Atualmente, o Paraná é um dos maiores produtores orgânicos do Brasil.
Segundo a EMATER-PR e o Departamento de Economia Rural da Secretaria de Agricultura
do Estado (Deral) (EMATER-PR, 2003), houve um crescimento de 35% na produção
orgânica, passando de 35,5 mil toneladas em 2000/2001 para 47,9 mil toneladas em
2001/2002. O número de agricultores orgânicos, também, aumentou, passou de 3.077 para
3.478, representando um acréscimo de 13%.
TABELA 3 – Evolução da produção orgânica no estado do Paraná, safra 1999/00 e 2000/01.
Safra 1999/00
Safra 2000/01
Produtos
o
o
Produção (t)
N de produtores Produção (t)
N de produtores
Soja
595
10.000
654
11.536
Hortaliças
750
3.000
951
2.978
Açúcar mascavo
550
4.500
560
7.322
Café
5
541
60
261
Frutas
88
739
217
5.500
Plantas Medicinais
131
295
145
330
10
80
108
396
Erva Mate
Milho
100
2980
256
3.748
Trigo
10
60
15
412
Feijão
60
290
98
317
Arroz
10
37
11
2.389
Mandioca
1
86
2
350
TOTAL
2.310
22.608
3.077
35.539
Fonte: DAROLT (2002).
No Paraná, foram cultivados na safra 2001/2002 cerca de 12,9 mil hectares
com agricultura orgânica. Esta área é 20,5% superior à plantada em 2000/2001, que foi de
10,7 mil hectares (EMATER-PR, 2003). As figuras 1 e 2 mostram, respectivamente, a
evolução do número de produtores e o volume da produção orgânica no Estado no período de
1996 a 2002.
Na safra 2001/2002, a soja orgânica foi a cultura que ocupou maior área, 7,6
mil hectares, sendo 70% desta área localizada nas regiões Oeste e Sudeste (Pato Branco,
Francisco Beltrão, Capanema, Cascavel e Toledo). A soja orgânica foi, também, a atividade
desenvolvida pelo maior número de agricultores, aproximadamente 854 na safra 2001/2002.
7
4000
3478
3500
3077
Número de produtores
3000
2310
2500
2000
1500
1200
800
1000
450
500
0
1 9 9 6/9 7
1 9 9 7/9 8
1998/99
1999/00
2000/01
2001/02
S afras
FIGURA 1- Evolução do número de produtores orgânicos no estado do Paraná, 1996/2002.
Fonte: Adaptado de DAROLT (2002) e EMATER-PR (2003).
60000
47900
50000
Toneladas (t)
40000
35539
30000
20000
10000
22608
20010
15500
4365
0
1996/97
1997/98
1998/99
1999/00
2000/01
2001/02
Safras
FIGURA 2 – Evolução do volume de produção orgânica no estado do Paraná, 1996/2002.
Fonte: Adaptado de DAROLT (2002) e EMATER-PR (2003).
8
3. Metodologia
Diante da expansão da produção orgânica na região de Londrina objetivouse, neste estudo, analisar o desempenho técnico e econômico dos métodos orgânicos na
produção da soja orgânica na região.
O processo de seleção das propriedades orgânica e convencional analisadas
ocorreu de forma intencional. Para efeito de análise comparativa, foram selecionadas quatro
propriedades que apresentavam o sistema de produção soja orgânica, sendo que uma dessas
propriedades (propriedade 4), também, apresentava o sistema de produção soja convencional.
Assim, foi possível comparar, a partir da construção de indicadores, o desempenho técnico e
econômico da produção da soja, nos diferentes sistemas de produção.
As propriedades orgânicas selecionadas estão, ainda, em processo de
conversão do sistema convencional para o sistema orgânico, sendo acompanhadas pelo
Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR), por meio do Projeto Redes de Referências para
Agricultura Familiar Orgânica, IAPAR/CNPq. Este projeto visa apoiar a pesquisa adaptativa e
a extensão rural para modernizar a agricultura familiar paranaense.
As propriedades estudadas estão localizadas no município de Jataizinho,
norte do Estado do Paraná. São propriedades orgânicas familiares associadas à Associação
dos Produtores Orgânicos da Região de Londrina (APOL)3. A produção orgânica dessas
propriedades é certificada pelo Instituto Biodinâmico de Desenvolvimento Rural (IBD).
Os dados utilizados na construção dos indicadores referem-se à safra
agrícola 2001/2002 e foram levantados por pesquisadores da área de sócio-economia do
Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR), por meio do referido projeto. Foram obtidos os
dados referentes aos coeficientes técnicos de produção da cultura da soja referentes às
propriedades selecionadas para os diferentes sistemas de produção, assim como, as exigências
físicas de insumos e sua respectiva valoração econômica. A partir desses dados, foi possível
construir a matriz tecnológica de cada agricultor analisado. A metodologia empregada para a
construção das matrizes tecnológicas foi a de Orçamento Unitário (NORONHA, 1987), em
que se obtiveram os resultados econômicos: custos, receitas e rentabilidade.
Para efeito de análise comparativa, em ambos os sistemas de produção
agrícola, a metodologia empregada para a composição dos custos de produção foi a de Custos
Operacionais do Instituto de Economia Agrícola (IEA) da Secretaria de Agricultura e
Abastecimento do Estado de São Paulo (MATSUNAGA et al., 1976).
Segundo Matsunaga et al. (1976), a estrutura de custo operacional difere do
conceito clássico de custos fixos e variáveis, pois não inclui parte dos custos fixos, como os
custos administrativos (remuneração paga ao agricultor pelo exercício administrativo da
propriedade) e, também, os custos alternativos ou de oportunidade (remuneração da terra, do
capital fixo em instalações e do capital circulante). A exclusão dos custos administrativos e
dos custos de oportunidade do cálculo do custo operacional está relacionada ao elevado grau
de subjetividade que envolve a estimativa desses custos. Para efeito de simplificação da
análise, também, não foram incluídos os custos relacionados aos gastos com impostos e taxas
pagos pelos agricultores.
A estrutura de custos operacionais é composta, portanto, pelos custos
variáveis e por uma parcela dos custos fixos, representada pela depreciação de máquinas e
benfeitorias, e pelos custos estimados com a remuneração da mão-de-obra familiar. Os itens
que compõem o custo variável de produção são representados pelos dispêndios em dinheiro
3
Na região de Londrina, em 1997, um grupo de produtores de café e soja adeptos da agricultura orgânica, reuniu-se com o
objetivo de criar uma associação de produtores orgânicos na região. Dois anos depois, em 1999, foi fundada, legalmente, a
Associação dos Produtores Orgânicos da região de Londrina (APOL) com o objetivo de promover a organização dos
produtores orgânicos, tanto na compra de insumos, quanto no processo de produção e comercialização dos produtos
orgânicos. A APOL visa oferecer à população alimentos de qualidade sem agredir o meio ambiente.
9
com mão-de-obra contratada e com insumos (sementes, adubos, etc.), e pelas despesas com
operações de máquinas, equipamentos e transportes, além de outras despesas indiretas. Os
itens do custo variável de produção correspondem ao Custo Operacional Efetivo (COE).
Acrescentando-se ao COE a parcela dos custos fixos de produção e obtém-se o Custo
Operacional Total (COT) (CARMO e MAGALHÃES, 1999).
O Custo Operacional Efetivo, ao representar o total das despesas
efetivamente pagas por meio do desembolso de recursos pelos produtores, constitui-se num
importante indicador pois, segundo a teoria econômica, os produtores só continuarão
produzindo no curto prazo se o preço recebido pelos seus produtos for superior ao custo
variável médio, no caso o COE. Por outro lado, se as receitas obtidas na produção forem
superiores ao COT, as chances de o produtor continuar produzindo no longo prazo são
maiores (CARMO e MAGALHÃES, 1999).
A partir das matrizes tecnológicas levantadas, foram construídos indicadores
de ordem técnica e econômica, os quais serviram de parâmetros para a análise comparativa da
produção da soja entre os diferentes sistemas de produção convencional versus orgânico nas
propriedades estudadas. O Quadro 1 apresenta os indicadores de viabilidade técnica e de
viabilidade econômica e a forma como foram calculados.
Entre os indicadores de viabilidade técnica o mais utilizado é o rendimento
por área de atividade (produtividade por hectare). Porém, outros indicadores de eficiência
técnica, como é o caso dos indicadores de quantidade de insumos usados (mão-de-obra,
máquinas e material empregado), também, podem ser avaliados, conforme detalhado na
Tabela 1.
Os indicadores de viabilidade econômica (conforme detalhado na Tabela 2)
permitem discutir, a partir dos componentes de custo de produção (COE, COT, CME, CMT e
RCO), de receitas (RB e RB/sc) e de rentabilidade (RE, RT, BCE, BCO, LE e LT) a
viabilidade econômica da produção da soja nos diferentes sistemas de produção.
A partir da metodologia empregada, foi possível, também, discutir a
viabilidade econômica da atividade selecionada (soja) em nível efetivo e total. Em nível
efetivo, considerou-se, apenas, os desembolsos monetários efetivamente realizados pelos
produtores (COE, CME, RE, BCE e LE). Já em nível total considerou-se, além dos custos
variáveis, parcela dos custos fixos representada pela depreciação e pela remuneração da mãode-obra familiar (COT, CMT, RT, BCT e LT).
Deve-se, no entanto, ressaltar as dificuldade e limitações existentes em tal
análise comparativa, uma vez que esses sistemas de produção apresentam, em sua essência,
objetivos bem diferentes. Enquanto a agricultura orgânica prima pela “maximização
produtiva”, ou seja, pelo estabelecimento, no longo prazo, de um sistema produtivo
equilibrado, por meio da nutrição do solo, a agricultura convencional, ao contrário, busca na
nutrição da planta uma “maximização lucrativa”, isto é, o retorno imediato do investimento,
não se preocupando com os efeitos causados ao meio ambiente dadas as técnicas empregadas.
Ao mesmo tempo, é necessário levar em consideração a discrepância
relativa ao estágio de desenvolvimento de cada tipo de agricultura. Enquanto o sistema
químico-convencional está amadurecido e é apoiado pela política agrícola oficial, o sistema
orgânico está, ainda em estágio de desenvolvimento técnico e não conta com tal apoio em
nível significativo. Portanto, ao se obter resultados favoráveis para a agricultura orgânica
esses, na realidade, são ainda maiores do que aquilo que representam (CARMO, COMITRE e
DULLEY, 1988; CARMO e MAGALHÃES, 1999).
10
Quadro 1 – Indicadores de viabilidade técnica e de viabilidade econômica.
Indicadores de Viabilidade Técnica
Rendimento
Nº de Dias-homem
(REND) Quantidade produzida / Produtividade expressa em Kg/ha
=
Unidade de área
(DH) =
Um dia-homem equivale a uma jornada de
trabalho de oito horas
Nº de Dias/máquina e
equipamentos
(DM) =
-
Um dia-máquina e/ou equip. equivale a uma
jornada de trabalho com máquina de oito horas
Quantidade de Sementes
(QS) =
-
Quantidade de
Fertilizantes
(QF) =
-
Quantidade de fertilizantes utilizada por
hectare
Quantidade de Sementes utilizada por hectare
Indicadores de Viabilidade Econômica
Custo Operacional
Efetivo
(COE) =
-
Corresponde ao total gasto com custos
variáveis (sementes, adubos, etc.)
Custo Operacional Total
(COT) =
-
Custo Médio Efetivo
(CME) =
COE/Quantidade
produzida por ha
Corresponde ao total gasto com custos
variáveis e com parte dos custos fixos
(depreciação de máquinas e benfeitorias e
remuneração da mão-de-obra familiar)
Corresponde ao custo efetivo por saca/60Kg
Custo Médio Total
(CMT) =
COT/Quantidade
produzida por ha
Composição do COE (%)
-
Valor gasto com cada
insumo/COE
Representa o percentual do COE gasto com
cada insumo utilizado.
Composição do COT (%)
-
Valor gasto com cada
insumo/COT
Representa o percentual do COT gasto com
cada insumo utilizado.
Corresponde ao custo total por saca/60Kg
Renda Bruta
(BR) =
Quantidade produzida Valor bruto da produção por hectare
x preço de venda
Renda Efetiva ou
Margem Efetiva
(RE) =
RB - COE
Renda obtida após a dedução dos custos
variáveis.
Renda Total ou Margem
Total
(RT) =
RB - COT
Renda obtida após a dedução do custo
operacional total.
Relação benefício-Custo
Operacional Efetivo
(BCE) =
RE/COE
Relação benefício-Custo
Operacional Total
(BCT) =
RE/COT
Corresponde ao retorno obtido para cada
unidade monetária efetivamente gasta na
produção.
Corresponde ao retorno obtido para cada
unidade monetária aplicada na produção.
Índice de "Lucro" Efetivo
(LE) =
RE por saca/preço
recebido por saca
Representa a porcentagem do preço de venda
que constitui o lucro efetivo do produtor.
Índice de "Lucro" Total
(LT) =
RT por saca/preço
recebido por saca
Representa a porcentagem do preço de venda
que constitui o lucro do produtor.
Relação entre Custos
Operacionais
(RCO) =
COE/COTx100
Índice de Integração de
Insumos
(INS) =
Custos com insumos
internos/custo total
com insumos
Representa o peso dos custos variáveis em
relação aos custos totais (custos variáveis +
parte dos custos fixos).
Representa a relação entre os insumos internos
e o total de insumos consumidos.
Fonte: Adaptado de CARMO e MAGALHÃES (1999).
11
4 – Análise e discussão dos resultados
A partir das matrizes tecnológicas dos agricultores analisados foram
construídos indicadores, divididos em Indicadores de Eficiência (viabilidade) técnica e de
Eficiência (viabilidade) Econômica, permitindo assim, uma visualização comparativa entre os
diferentes sistemas de produção. As Tabelas 4 e 5 apresentam respectivamente os indicadores
de eficiência técnica e de eficiência econômica da produção da soja, por hectare no sistema de
produção orgânico e convencional.
Na Tabela 4, encontram-se agrupados os seguintes indicadores de ordem
técnica: produtividade/ha; composição da exigência física de mão-de-obra utilizada (DH);
composição da exigência física de máquinas e equipamentos utilizados nas operações (DM) e
a exigência física de insumos.
Por um lado, diferenças significativas podem ser apontadas ao se analisar
comparativamente os indicadores de eficiência técnica entre os sistemas orgânicos e o sistema
convencional de produção da soja. Por outro lado, observam-se várias semelhanças na análise
dos indicadores de eficiência técnica entre os sistemas orgânicos.
Na análise da produtividade, o sistema convencional mostrou-se mais
eficiente, com 45,45sc por hectare, enquanto nos sistemas de cultivo orgânicos ela variou de
32,67sc. (prop. 4) a 39,25sc por hectare (prop. 2). A menor produtividade nos sistemas
orgânicos pode ter ocorrido, principalmente, por dois fatores. O primeiro, diz respeito à
variedade de semente utilizada e o período do plantio que foram diferentes em cada sistema
de produção4. O segundo refere-se ao estágio de desenvolvimento de cada sistema. Enquanto
o sistema convencional está amadurecido, o sistema orgânico está, ainda, em estágio inicial de
desenvolvimento técnico, sendo necessário o aprofundamento de pesquisas para o
desenvolvimento de tecnologias, principalmente para o controle do mato e de pragas como a
lagarta da soja em determinados períodos do ciclo produtivo da planta. A dificuldade em
controlar o mato pode ter contribuído para o menor rendimento produtivo da soja sob manejo
orgânico.
Os sistemas de cultivo das propriedades analisadas apoiaram-se na força de
tração motomecanizada. Foram necessários, aproximadamente, um dia-máquina por hectare
de soja para o conjunto de operações mecanizadas em ambos os sistemas de produção. Porém,
os sistemas orgânicos demandaram de 2,6 a 5,5 vezes mais dias-homem para cultivar a
mesma área.
Enquanto no sistema orgânico foram necessários 3,97 dh (prop. 1) a 8,20 dh
(prop. 2) para cultivar um hectare de soja, no sistema convencional demandou-se apenas 1,51
dh. Essa diferença significativa pode ser explicada pelo fato de que no sistema orgânico não é
permitida a utilização de herbicidas químicos, sendo o controle de invasoras feito por meio de
capina manual.
A análise da Tabela 4 permite, também, observar a discrepância existente,
em termos de exigências físicas de insumos, em cada sistema da produção. Em ambos os
sistemas os insumos utilizados foram predominantemente externos. Porém, enquanto nos
sistemas orgânicos utilizaram-se insumos orgânicos (Bokashi, rocha fosfática etc.), no sistema
convencional utilizou-se insumos químicos.
Em termos técnicos, constatou-se que os sistemas orgânicos analisados
demandaram maiores quantidades de dias-homem (dh) e de dias-máquina (dm) para cultivar
um hectare de soja o que resultou em maiores dispêndios de recursos com operações
enquanto, o sistema convencional demandou mais recursos com insumos.
4
A soja orgânica ao ser destinada para o consumo humano deve apresentar algumas características como grãos maiores e hilo
branco. As variedades de soja que apresentam essas características apresentam muitas vezes um potencial produtivo menor
que as variedades convencionais.
12
TABELA 4 – Indicadores de eficiência técnica da cultura da soja, por hectare, em sistema de
produção orgânicos, comparado com o sistema convencional, safra 2001/02.
In d ica d or es
U n id a d e
P rod u tivid a d e
sc.6 0 K g /h a
M ã o-d e-obra
A ssa la ria d a p er m a n en te
C om u m
dh
T ra torista
dh
A ssa la ria d a tem p or á ria
C om u m
dh
T ra torista
dh
F a m ilia r
C om u m
dh
T ra torista
dh
T ota l
dh
M á q u in a s
T ra tor
dm
T ota l
dm
E q u ip a m en tos d e tra çã o m eca n iz a d a
D istribu id or d e ca lcá rio (L elis)
dm
A ra d o
dm
G ra d e n ivela d ora e/ou a ra d ora
dm
S em ea d eira /a d u ba d eira
dm
C u ltiva d or
dm
T riton
dm
E sca r ifica d or
dm
P u lveriz a d or m ecâ n ico
dm
C a r reta
dm
T ota l
dm
M a teria l
In ter n os
S em en te d e a veia
Kg
E x ter n os
S em en te d e a veia
Kg
S em en te d a soja
Kg
B ok a sh i
Kg
F osforita
Kg
In ocu la n te
p c./8 0 g
C oM o
Kg
K u m u lu s
l
S u p er m a g ro
l
E M 4 (p u ro)
l
E M 4 (a tiva d o)
l
C a ld a d e ba ctéria
l
B a cu lovíru s
p c./2 0 g
M icron u trien tes
p c.
H er bicid a trop
l
Ó leo m in era l a ssist
l
H er bicid a select
l
G ra p 1 8 0 C E
l
D eroz a l
l
E u p a rem
l
A d u bo q u ím ico (0 0 2 0 2 0 )
Kg
In seticid a ta m a ron
l
H er bicid a g ra m ox on e
l
P rop . 0 1
3 3 ,8 7
E x ig ên cia física d e fa tor es
P rop r ied a d es A n a lisa d a s
P rop . 0 2 P rop . 0 3 P rop . 0 4 P rop . 0 4 con v.
3 9 ,2 5
3 3 ,0 0
3 2 ,6 7
4 5 ,4 5
-
-
-
0 ,9 1
0 ,7 2
3 ,0 0
-
7 ,0 0
-
4 ,0 0
-
7 ,0 0
-
0 ,5 0
-
0 ,1 9
0 ,7 8
3 ,9 7
0 ,2 1
0 ,9 9
8 ,2 0
0 ,1 9
0 ,7 7
4 ,9 6
0 ,2 9
8 ,2 0
0 ,2 9
1 ,5 1
0 ,7 8
0 ,7 8
0 ,9 9
0 ,9 9
0 ,7 7
0 ,7 7
0 ,9 1
0 ,9 1
0 ,7 2
0 ,7 2
0 ,0 3
0 ,2 0
0 ,2 0
0 ,0 8
0 ,1 6
0 ,0 3
0 ,0 8
0 ,7 8
0 ,0 3
0 ,2 0
0 ,3 0
0 ,0 8
0 ,1 6
0 ,1 2
0 ,1 0
0 ,9 9
0 ,0 3
0 ,3 2
0 ,0 8
0 ,2 0
0 ,0 6
0 ,0 8
0 ,7 7
0 ,0 3
0 ,2 2
0 ,1 6
0 ,0 8
0 ,1 7
0 ,1 5
0 ,1 0
0 ,9 1
0 ,1 6
0 ,1 1
0 ,3 0
0 ,1 5
0 ,7 2
7 5 ,0 0
7 5 ,0 0
-
-
-
9 0 ,7 3
1 ,0 0
6 ,0 0
1 ,0 0
-
9 2 ,5 0
2 0 0 ,0 0
1 ,0 0
3 ,0 0
7 ,4 0
1 ,0 0
1 ,0 0
-
6 6 ,1 1
8 3 ,0 0
1 ,0 0
1 ,0 0
0 ,3 0
2 0 ,0 0
1 ,0 0
-
1 1 6 ,0 0
7 6 ,5 0
7 7 ,2 2
2 7 0 ,0 0
1 ,0 0
0 .0 5
2 ,3 2
2 ,0 0
0 ,3 9
1 ,0 0
-
1 1 2 ,0 0
8 2 ,5 0
1 ,0 0
1 ,0 0
2 ,5 0
1 ,0 0
0 ,4 0
0 ,1 4
0 ,0 8
0 ,0 7
2 2 7 ,0 0
1 ,2 0
1 ,2 3
Fonte: Elaborado pelos autores, a partir de dados do Projeto Redes de Referências para
Agricultura Familiar Orgânica, IAPAR/CNPq (2002).
O maior dispêndio de recursos com operações nos sistemas orgânicos
quando comparado com o sistema convencional, pode ser explicado a partir da observação
13
das técnicas utilizadas em cada sistema. No sistema convencional, a utilização de herbicidas
químicos permitiu o plantio direto da soja sem o revolvimento do solo e, posteriormente, o
controle do mato sem a necessidade de capinas manuais. No atual estágio de desenvolvimento
da agricultura orgânica um dos obstáculos a ser superado pelos produtores refere-se às
dificuldades no controle do mato. Como se observou neste sistema de produção, as técnicas
utilizadas (preparo do solo, capina manual, etc.) demandam mais recursos do que no sistema
convencional, embora reduzam a necessidade de insumos.
Na Tabela 5, encontram-se agrupados os seguintes indicadores de ordem
econômica: indicadores de receita, indicadores de custo de produção e indicadores de
rentabilidade. A partir dessa tabela é possível, também, visualizar esses indicadores em nível
efetivo e total.
A análise dos indicadores de eficiência econômica (Tabela 4), ao incluir,
também, as variações relativas a preços, acaba por alterar a análise comparativa das
exigências físicas de fatores e da produtividade de cada sistema. O preço diferenciado obtido
pela soja orgânica ao ser comercializada em mercados diferenciados permitiu que os
produtores orgânicos obtivessem uma receita bruta superior à obtida no sistema convencional.
No sistema orgânico o preço médio recebido pela saca da soja foi de R$ 33,60, enquanto no
sistema convencional o preço recebido foi de R$ 22,00, o que representa um diferencial de
preço da ordem de 53%.
Como a produção da soja em ambos os sistemas baseou-se,
predominantemente, na utilização de mão-de-obra temporária e no uso de insumos externos,
não houve diferenças significativas na relação entre o custo operacional efetivo (representado
pelos custos variáveis de produção) e o custo operacional total. A relação COE/COT para
cada propriedade foi respectivamente de 83,15% (prop. 1), 91,26% (prop. 2), 75,31% (prop.
4), 92,12% (prop. 4 produção orgânica) e 91,17% (prop. 4 produção convencional).
Os custos de produção (COE e COT) por área, se mostraram menores nos
sistemas orgânicos quando comparados ao sistema convencional (exceto para produção
orgânica da propriedade 45). O mesmo comportamento pode ser observado quando
analisamos o custo por unidade de produto (CME e CMT). Nos sistemas orgânicos o custo
médio efetivo variou de R$ 9,47 (prop. 1) a R$ 18,62 (prop. 4, produção orgânica), enquanto
no sistema convencional foi de R$ 11,86. Isso explica o menor desembolso de recursos com
insumos nos sistemas orgânicos.
A Figura 3 apresenta a composição do COE (%) na produção por hectare de
soja para cada propriedade estudada. Como já se constatou na análise dos indicadores de
eficiência técnica, no sistema convencional os insumos químicos são os principais
componentes dos custos de produção, representando 71,37% do custo operacional efetivo
(total de recursos desembolsados pelo produtor). Já no sistema orgânico, a utilização de
técnicas e insumos orgânicos alternativos demanda menores quantidades de recursos com
insumos, correspondendo, em média, a 44,81% do custo operacional efetivo.
As técnicas utilizadas nos sistemas orgânicos, como já visto, mostraram-se
mais dispendiosas em relação à utilização de mão-de-obra. Enquanto, nas propriedades
orgânicas os gastos com mão-de-obra contratada corresponderam, em média, a 12,72% do
custo operacional efetivo, no sistema convencional foi apenas de 3,60%.
5
A produção orgânica da propriedade 4 apresentou um custo de produção superior ao das demais propriedades analisadas
porque o agricultor aplicou na área uma grande quantidade de fosforita. Por se tratar de uma substância de baixa solubilidade
pode-se considerar essa aplicação como um investimento, neste estudo considerou-se como custo de produção.
14
TABELA 5 – Indicadores de eficiência econômica da cultura da soja, por hectare, em sistema
de produção orgânicos, comparado com o sistema convencional, safra 2001/02.
Prop. 01
Resultados Econômicos
Propriedades Analisadas
Prop. 02 Prop. 03 Prop. 04
1138,03
33,60
1318,80
33,60
1148,40
34,80
1097,71
33,60
999,90
22,00
320,69
385,69
455,03
498,63
342,79
455,15
608,30
660,30
539,21
591,41
9,47
11,39
11,59
12,70
10,39
13,79
18,62
20,21
11,86
13,01
9,35
19,47
1,74
30,09
39,35
100,00
15,38
17,59
1,75
22,27
43,01
100,00
11,67
18,16
1,85
27,92
40,40
100,00
14,50
12,09
1,59
15,68
56,14
100,00
3,60
10,80
1,99
12,24
71,37
100,00
10,29
16,19
1,45
25,02
35,31
11,75
100,00
83,15
7,34
16,45
16,05
1,60
20,32
41,25
4,33
100,00
91,26
4,86
10,90
13,68
1,40
21,03
30,43
22,58
100,00
75,31
0,00
13,80
11,14
1,46
14,45
51,71
7,44
100,00
92,12
0,00
3,80
9,84
1,82
11,16
65,07
8,30
100,00
91,17
0,00
817,34
752,34
863,77
820,17
805,61
693,25
489,41
437,41
460,69
408,49
24,13
22,21
22,01
20,90
24,41
21,01
14,98
13,39
10,14
8,99
205,88
189,51
2,55
1,95
0,72
0,66
105,34
100,02
1,90
1,64
0,65
0,62
162,42
139,77
2,35
1,52
0,70
0,60
59,68
53,34
0,80
0,66
0,45
0,40
301,10
266,99
0,85
0,69
0,46
0,41
Indicadores
A - Receita
Por Área (RB/Ha)
Por unidade de produto (RB/sc.60Kg)
B - Custo Operacional
Por Área
Efetivo (COE/ha)
Total (COT/ha)
Por unidade de produto
Custo médio efetivo (CME/sc.60Kg)
Custo médio total (CMT/sc.60Kg)
Composição do COE (%)
Mão-de-obra assalariada
Operações com máquinas
Operações com equipamentos
Empreitas (colheita e transporte)
Insumos externos
Total
Composição do COT (%)
Mão-de-obra total
Total com máquinas automotrizes
Total com equipamentos
Empreitas (colheita e transporte)
Total com insumos
Depreciação de maq. e equip.
Total
Relação COE/COT (%)
Índice de integração de insumos (%)
C - Rentabilidade
Por Área
Efetiva (RE/ha)
Total (RT/ha)
Por unidade de produto
Efetiva (RE/sc.60Kg)
Total (RT/sc.60Kg)
Por mão-de-obra empregada
Efetiva (RE/DH)
Total (RT/DH)
Relação benefício/custo efetivo (BCE)
Relação benefício/custo total (BCT)
Índice de "lucro" efetivo (LE)
Índice de "lucro" total (LT)
Prop. 04 Conv.
Fonte: Elaborado pelos autores, a partir de dados do Projeto Redes de Referências para
Agricultura Familiar Orgânica, IAPAR/CNPq (2002).
Em relação aos insumos – material consumido – praticamente todos os
insumos provieram de fora das propriedades, o que determinou um índice de integração de
insumos (INS) nulo (exceto para as propriedades 1 e 2, em que o INS foi, respectivamente, de
7,34% e 4,86%). A análise desse indicador permitiu concluir que as propriedades analisadas
ainda não estão adotando, de forma precisa, todos os princípios da agricultura orgânica, ou
15
Composição do COE (%)
seja, um dos princípios do sistema de produção orgânico diz respeito à redução da
dependência de insumos externos dos produtores por meio da utilização de práticas orgânicas,
como a integração agricultura/pecuária, uso de compostagem, etc.. A adoção dessas práticas
permite otimizar os recursos disponíveis na propriedade.
75,00
70,00
65,00
60,00
55,00
50,00
45,00
40,00
35,00
30,00
25,00
20,00
15,00
10,00
5,00
0,00
1
2
3
4 org.
4 conv.
Pro p ried ad es A n alis ad as
M .O as s alariád a
Op eraçõ es c/ máq u in a
Emp reitas
In s u mo s extern o s
Op eraçõ es c/ eq u ip amen to s
FIGURA 3 – Composição do custo operacional efetivo (%) na produção por hectare de soja,
em cada propriedade analisada, safra 2001/02.
Fonte: Elaborado pelos autores, a partir de dados do Projeto Redes de Referências para a
Agricultura Familiar Orgânica, IAPAR/CNPq (2002).
Os indicadores de rentabilidade apresentam um quadro mais favorável para
os sistemas orgânicos. A rentabilidade efetiva por hectare (RE/ha), tanto nos sistemas
orgânicos quanto no sistema convencional, cobriu os gastos efetivamente computados na
produção, ou seja, o que foi realmente dispendido em dinheiro. A rentabilidade total por área
(RT/ha), correspondente ao retorno econômico após a remuneração dos gastos efetivos mais
as despesas teóricas de depreciação e mão-de-obra familiar, mostrou o mesmo
comportamento da rentabilidade efetiva. A Figura 4 apresenta a rentabilidade efetiva e total
por hectare obtida em cada propriedade analisada.
A rentabilidade efetiva e a rentabilidade total por unidade de produto foram
superiores nos sistemas orgânicos. A rentabilidade total por saca de 60Kg nas propriedades
orgânicas analisadas variou de R$ 13,39 (prop. 4, produção orgânica) a R$ 22,21 (prop. 1),
enquanto no sistema convencional foi de R$ 8,99 (prop. 4, produção convencional).
Na rentabilidade efetiva por unidade de trabalho empregada, notou-se
melhor desempenho para o cultivo da soja convencional (R$ 301,10), por causa da menor
quantidade de mão-de-obra empregada (1,51 dh). No sistema orgânico, a rentabilidade
efetiva, por unidade de trabalho empregada, variou de R$ 59,68 (prop. 4, produção orgânica)
a R$ 205,88 (prop. 1).
16
900,00
Rentabilidade (R$/ha)
800,00
700,00
600,00
500,00
400,00
300,00
200,00
100,00
0,00
1
2
3
4 org.
4 conv.
Propriedades A nalis adas
Rentabilidade efetiva
Rentabilidade total
FIGURA 4 – Rentabilidade da produção da cultura da soja por hectare, em cada propriedade
analisada, nos diferentes sistemas de produção, safra 2001/02.
Fonte: Elaborado pelos autores, a partir de dados do Projeto Redes de Referências para a
Agricultura Familiar Orgânica, IAPAR/CNPq (2002).
A relação benefício/custo efetivo (BCE) da produção da soja orgânica
indicou grande eficiência econômica no curto prazo. O retorno de 2,55 unidades monetárias
para cada unidade investida (prop. 1), 1,90 (prop. 2), 2,35 (prop. 3) e 0,80 (prop. 4) permitiu,
além de cobrir os custos de produção, garantir o próximo plantio, enquanto na produção
convencional a BCE foi de R$ 0,85 para cada R$ 1,00 investido. A relação benefício/custo
total (BCT) foi positiva tanto para o sistema orgânico quanto para o sistema convencional (em
menores proporções para a produção orgânica e convencional da propriedade 4) indicando
eficiência econômica quando se considera a reprodução desses sistemas no longo prazo.
Os índices de “lucro” efetivo e total representam o percentual do preço de
venda do produto (soja) que constitui o lucro do produtor. O índice de “lucro” efetivo (LE)
para cada propriedade analisada foi, respectivamente, de 0,72 (prop. 1), 0,65 (prop. 2), 0,70
(prop. 3), 0,45 (prop. 4 produção orgânica) e 0,46 (porp. 4 produção convencional). Já o
índice de “lucro” total (LT), isto é, “lucro líquido total” foi de respectivamente 66% da receita
bruta obtida na propriedade 1, 62% na propriedade 2, 60% na propriedade 3, 40% na
propriedade 4 (produção orgânica) e 41% na produção convencional.
A eficiência de mercado pode ser melhor medida através da participação da
renda obtida pelo agricultor no preço de venda do produto, ou seja, quanto maior a parcela do
preço que fica como renda maior é a eficiência do agricultor neste mercado. Nesse sentido,
análise dos resultados econômicos (Tabela 6), permite concluir que o principal item que
viabiliza economicamente os sistemas orgânicos é o preço de venda dos produtos em
mercados diferenciados, indicando, nas condições atuais, a supremacia da eficiência de
mercado em relação à eficiência técnica (produtiva).
17
5 - Considerações finais
Muito embora as propriedades analisadas estejam em processo de
conversão, pelos resultados apresentados, conclui-se que os métodos orgânicos de produção
são técnica e economicamente viáveis na produção da soja em estabelecimentos agrícolas
familiares na região de Londrina, norte do estado do Paraná.
Não há dúvidas quanto à viabilidade técnica dos métodos orgânicos de
produção, pois ao incorporarem práticas orgânicas, como rotação de culturas, plantio de
adubos verdes, etc., minimizam a necessidade de insumos. Os sistemas orgânicos mostraramse mais dispendiosos com operações. A dificuldade em controlar o mato é um dos pontos a
ser equacionado. Uma possível solução para a redução dos custos com operações seria o
aprimoramento de técnicas que permitam a realização de plantio direto, também, em sistemas
orgânicos.
Os indicadores técnicos demonstraram que a produtividade dos sistemas
orgânicos foi menor de que a obtida no sistema convencional. Por outro lado, os custos de
produção nos sistemas orgânicos, de um modo geral, também, mostraram-se menores.
O diferencial de eficiência produtiva (produtividade/ha) explica-se,
principalmente, pela dificuldade encontrada pelos produtores orgânicos em controlar o mato e
pragas, como a lagarta da soja, em determinados períodos do ciclo produtivo da cultura sem
utilizar insumos químicos. A diferença de variedade de sementes utilizada em cada sistema de
produção, assim como os diferentes períodos de plantio, podem ter contribuído para o menor
rendimento produtivo da soja sob manejo orgânico em relação à soja produzida
convencionalmente.
Os indicadores econômicos apontam o preço obtido na venda dos produtos
orgânicos como o principal componente que viabiliza economicamente a produção orgânica
com um diferencial da ordem de 53%. Para o agricultor orgânico nas condições atuais, a
agricultura orgânica revela-se como uma alternativa viável, porém, muito mais pela sua
eficiência de mercado do que pela sua eficiência produtiva.
Se a agricultura orgânica, hoje, tem condições de viabilidade econômica, é
bastante provável que, ao ser assistida pelos órgãos oficiais, consiga se desenvolver
plenamente, contribuindo, não só para o aumento da produção de alimentos mas, também,
para a maior preservação do meio ambiente.
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