Baixar

Propaganda
Lei
X
Graça
Silvio Dutra
DEZ/2015
A474
Alves, Silvio Dutra
Lei x Graça./ Silvio Dutra Alves. – Rio de
Janeiro, 2015.
402p.; 14,8x21cm
1. Teologia. 2. Alianças. 3. Condenação
4. Testamentos. 5. Justificação. 6. Libertação
I. Título.
CDD 230
2
Sumário
Introdução.....................................................
É Irrevogável e Indissolúvel Porque é
Eterna...........................................................
Deixar que a Graça nos Conduza................
Não é por Persuasão, mas por Graça..........
A Graça Está Destinada a Vencer................
Senhor Justiça Nossa...................................
A Firmeza da Nossa Aliança com Cristo.......
O Que é Estar Debaixo da Graça e Não da
Lei.................................................................
A Graça não Condena..................................
Graça Sobre Graça.......................................
A Troca da Antiga Aliança pela Nova...........
Jesus Não Veio Condenar Mas Salvar.........
A Justiça do Evangelho Não é Juízo............
O Real Significado da Graça.........................
Uma Nova Aliança Diferente da Antiga.........
Uma Aliança Firmada em Graça...................
A Bênção da Graça Perdoadora...................
A Graça Está Sujeita a Decadências............
Alianças e Dispensações Para um Único
Propósito.......................................................
A Graça Nunca Desconsidera o Viver
Pecaminoso..................................................
A Graça se Manifesta na Nossa Fraqueza...
A Justiça do Evangelho Testemunhada pela
Lei e pelos Profetas......................................
A Justiça Manifestada sem Lei.....................
A Luz da Lei e a do Evangelho.....................
É Pela Graça mas Não é Fácil Conforme
Possa Parecer ..............................................
3
6
10
12
14
16
22
27
34
38
42
44
56
59
62
65
67
73
81
83
94
101
106
111
122
124
Impossível para a Lei mas Não para a
Graça que Opera pela Fé.............................
Uma Graça que Cresce................................
Todo Mérito é da Graça................................
O Recebimento é Gratuito Mas é
Condicional...................................................
Graça............................................................
Justa Cooperação da Graça com a Vontade
Consciente....................................................
A Dispensação do Espírito Santo.................
A Graça Opera Pela Obediência..................
A Graça Supera a Aflição.............................
Cobre como as Águas do Dilúvio.................
A Graça não Condena..................................
O Modo de Concessão da Graça..................
A Aliança da Graça – 2 Samuel 7.................
Características do Evangelho Verdadeiro.....
Como Saber Qual é o Evangelho
Verdadeiro?...................................................
O Evangelho Não Condena..........................
Por Que Jesus Não Veio Condenar?............
O Que é Estar Debaixo da Graça e Não da
Lei.................................................................
Aceitos por Causa da Justificação................
Quem Condenará a Quem Deus Justifica?..
Resgatados da Ira e da Maldição.................
Cristo, Nossa Redenção, Justiça e
Santificação...................................................
O Que é a Antiga Aliança..............................
4
126
131
132
138
140
143
145
149
151
154
156
160
162
171
174
179
182
185
189
191
194
196
243
O Que é a Nova Aliança...............................
A Graça Exige Perseverança........................
Pregar o Evangelho a Toda Criatura............
Uma Nova Esperança para Adúlteros e
Ladrões.........................................................
O Que é a Caducidade da Letra...................
O Jugo da Lei de Moisés e o de Jesus.........
Fazer a Vontade de Deus é Mais do que
Cumprir a Lei Moral.......................................
Como o Crente Está Morto Para a Lei?.......
O Espírito Santo é uma Promessa da Nova
Aliança..........................................................
A Antiga Aliança Era Figura da Nova............
A Finalidade da Lei.......................................
Jesus Livrou o Crente do Jugo da Lei...........
Breve Comentário de Gálatas 4....................
Breve Comentário de Gálatas 5....................
5
246
261
273
283
295
299
307
312
317
328
332
338
342
370
Introdução
Há cerca de vinte anos, em uma visão noturna,
vi escrito em letras douradas gigantes as
palavras do nosso título, como se estivessem em
chamas, escritas exatamente na forma como as
estamos apresentando.
Junto com a visão fui instruído em espírito com
as seguintes palavras: “você escreverá um livro
sobre este assunto”.
Ao que repliquei: “Senhor tu conheces a
dificuldade que tenho para entender de modo
adequado qual é a relação que existe entre a lei
e a graça.
Ao que simplesmente respondeu: “eu te darei
entendimento”.
Era uma madrugada fria de inverno, e por cerca
de três horas despertei do meu sono, e ainda
naquela mesma noite comecei a escrever, com
a Bíblia aberta à minha frente, as coisas que me
vinham à mente na referida ocasião.
Animado pela visão comecei a estudar o assunto
com maior afinco e recordo que cheguei a
preparar um esboço de livro com cerca de cento
e cinquenta página, todavia, sentia que algo de
substancial faltava à minha exposição, de
maneira que não tendo desistido de prosseguir
6
interessado no tema, abandonei a ideia de
escrever o livro.
Posteriormente, em nova revelação, cerca de
dez anos depois da primeira, foi-me ordenado
em sonho que “fosse aos puritanos e a Martyn
LLoyd Jones”, sem que nada mais fosse
acrescentado.
Até a ocasião, por incrível que possa parecer,
pois já havia sido ordenado ao pastorado, nunca
tinha ouvido falar sobre os mesmos.
Creio que esta instrução tinha a ver com a
primeira visão, para que eu fosse conduzido a
um melhor entendimento do significado do
Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo, e como
é que a Lei de Deus se relaciona a ele.
Desde
então,
comecei
a
escrever
abundantemente sobre o assunto em diversos
artigos, sem no entanto condensá-los em um
livro – tarefa à qual estou me entregando neste
fim do ano de 2015.
Em vez de apresentar o assunto de forma
didática e acadêmica, optei por uma forma mais
direta e simples, sem me ater a qualquer arranjo
prévio quanto à divisão do assunto em capítulos.
Na verdade, se o fizesse, ficaria muito limitado
no desenvolvimento do tema, pois quantos
capítulos seriam suficientes para abranger de
modo profundo um assunto que é em sua
7
natureza infinito e eterno, a saber, o da lei e a
graça de Deus?
Com a apresentação livre dos diversos artigos,
cremos que poderemos observar melhor o
assunto em seus diversos ângulos, de modo a
obtermos uma maior compreensão de tudo o
que é de vital importância para o nosso
conhecimento.
Estamos fazendo uma consideração prática do
tema porque ele tem muito a ver com a nossa
vida prática.
Não se trata de algo para apenas satisfazer a
nossa curiosidade ou desejo de ampliar nossos
conhecimentos, mas temos diante de nós algo
que se relaciona à vida ou à morte; à bênção ou à
maldição eternas.
Como poderíamos então tratá-lo de modo
descuidado ou não objetivo?
Tenho testemunhado que muitos que andavam
na graça, vieram a decair da mesma, e não
acharam qualquer auxílio na Lei para serem
reerguidos.
Como pode ser então isto?
Não é a Lei proveniente do mesmo Deus de toda
a graça?
8
Esta e muitas outras questões serão respondidas
ao longo das páginas deste livro, que espero, seja
de grande ajuda para reerguer os caídos e
manter em firmeza os que continuam de pé na
presença do Senhor.
9
É Irrevogável e Indissolúvel Porque é
Eterna
Deus fez uma aliança eterna com os cristãos, e
prometeu isto desde os dias dos profetas, e o
prometeu especialmente a Davi.
Sendo eterna não pode ser anulada.
Sendo aliança em seu caráter matrimonial onde
Ele é o esposo, e a igreja a noiva, o que se requer
então dos aliançados é que eles sejam fiéis.
Deus sempre será fiel porque não pode se negar
a si mesmo.
Todavia, os cristãos, por causa do resquício de
corrupções que remanescem na natureza
terrena, são exortados a serem fiéis em tudo
durante a sua peregrinação terrena, porque, tal
casamento, do Criador com a criatura, requer
isto.
Deus continuará amando seus filhos adúlteros,
mas os sujeitará à disciplina da aliança.
Ele não os repudiará porque tem prometido
manter o compromisso por toda a eternidade.
Diante de tal caráter imutável da promessa que
Ele fez, não resta aos aliançados senão a
alternativa de serem também fiéis, de modo que
10
se viva de modo agradável Àquele com os quais
se aliançaram numa união de amor indissolúvel
e eterno.
Ao falar do caráter eterno da Nova Aliança que
faria com os crentes por meio da fé em Jesus
Cristo, Deus disse que esta consistiria na fiéis
misericórdias que havia prometido a Davi.
“Inclinai os ouvidos e vinde a mim; ouvi, e a
vossa alma viverá; porque convosco farei uma
aliança perpétua, que consiste nas fiéis
misericórdias prometidas a Davi.” (Isaías 55:3)
Esta promessa de Isaías 55.3 foi confirmada em
Atos 13.34.
Davi fizera menção ao caráter eterno desta
aliança em suas últimas palavras antes de
morrer:
“Não está assim com Deus a minha casa? Pois
estabeleceu comigo uma aliança eterna, em
tudo bem definida e segura. Não me fará ele
prosperar toda a minha salvação e toda a minha
esperança?” (II Samuel 23.5)
11
Deixar que a Graça nos Conduza
“Por isso, pondo de parte os princípios
elementares da doutrina de Cristo, deixemonos levar para o que é perfeito,” (Hebreus 6.1)
Este “deixemo-nos levar para o que é perfeito”
se refere à vocação de Deus para todos os
cristãos de crescerem na graça e no
conhecimento de Jesus Cristo, até a estatura de
varão perfeito.
Não que eles chegarão ao estado de perfeição
moral absoluta sem qualquer pecado enquanto
estiverem neste mundo, mas que devem chegar
à perfeição espiritual, à plenitude do
desenvolvimento das suas faculdades, para
poderem discernir tanto o bem quanto o mal, o
que é possível somente para aqueles que
chegarem à plenitude do seu amadurecimento
espiritual, de maneira a estarem aptos a darem
um correto e adequado testemunho da verdade,
no poder do Espírito (Pv 4.18; I Cor 2.6; II Cor
13.11; Ef 4.13; Fp 3.15; Col 1.28; 2.6; 4.12; II Tim
3.16,17; Hb 5.12-14; Tg 1.4).
Esta perfeição é atingida se aperfeiçoando a
santidade no crescimento da graça e do
conhecimento de Jesus Cristo (II Cor 7.1; Ef 4.12;
Hb 13.21; I Pe 5.10).
Do mesmo modo que há uma perfeição a ser
esperada no porvir que é total e absoluta, sem
12
qualquer pecado, há também uma perfeição que
é para ser buscada e atingida enquanto ainda
estamos neste mundo e que se refere ao nosso
amadurecimento espiritual pelo crescimento
progressivo em santificação até atingir tal
medida de perfeição que foi proposta por Deus
aos cristãos, e conforme foi exigida ao próprio
Abraão: “Anda na minha presença e sê
perfeito.” (Gên 17.1).
O cristão deve ser confirmado por Deus, depois
de ter sido aperfeiçoado na fé, no amor e na
esperança, pela renovação de sua mente e
caráter, através do processo da santificação.
Somente assim, poderá se achar fortificado e
fundamentado (I Pe 5.10).
Assim, o “deixemo-nos levar” do texto significa
permitir e cooperar voluntariamente com
trabalho da graça na nossa vida, especialmente
pela paciência nas tribulações e aflições.
Sabendo que tudo coopera juntamente para o
seu bem o cristão perseverante na fé e na
santificação há de experimentar graus cada vez
maiores desta perfeição relativa ao seu
amadurecimento espiritual, conforme lhes
serão concedidos por Deus.
13
Não é por Persuasão, mas por Graça
Uma pessoa não é salva por Cristo por meio de
argumentos humanos persuasivos.
Ainda que alguém pudesse compreender
nocionalmente todos os mistérios espirituais
concernentes à justificação pela fé, à
regeneração e santificação do Espírito Santo, ele
não poderia ser salvo e santificado a menos que
estas realidades espirituais lhe fossem
comunicadas de modo experimental pela graça
divina.
Sem uma experiência real de conversão, sem
que o próprio Espírito Santo opere em nós esta
salvação, continuaremos os mesmos de sempre,
só que com a diferença de possuir agora
conhecimentos religiosos.
Por isso a fé não é apenas o assentimento da
nossa mente às verdades reveladas, ou seja, a
nossa aceitação de que a Palavra de Deus seja a
verdade.
Além deste assentimento é necessário a
confiança em Cristo que nos leva a nos entregar
inteiramente a Ele e ao Seu trabalho e cuidado.
Isto consiste em se apropriar do conhecimento
da verdade ao qual demos o nosso assentimento
que se torna real e prático na nossa confiança no
14
Senhor e na disposição de cumprir os Seus
mandamentos e vontade.
Deus honrará este tipo de fé que é mais do que
mero conhecimento e assentimento relativo à
verdade.
E responderá com a concessão da Sua graça e
poder para operar a nossa transformação
(conversão, santificação etc).
15
A Graça Está Destinada a Vencer
Satanás arremete contra nós, procurando nos
destruir, quando estamos enfraquecidos e
doloridos.
Tal como Simeão e Levi deram sobre os
siquemitas, quando estavam abatidos em dores,
pela circuncisão (Gên 34.25).
Todavia, Cristo nos fortalece na nossa fraqueza,
e habita com o quebrantado de coração (Is 61.1).
Não desprezemos o trabalho de humilhação de
nossas almas, pelo qual o Senhor administra a
nós a Sua graça em maior medida.
Sempre é deixado algo para que os cristãos
lutem, de modo que entendamos que
necessitamos de Cristo, para que possamos
exalar o Seu bom perfume.
Mas ainda que possa parecer um paradoxo, são
estes corações quebrados como canas, e estes
pavios fumegantes que fazem as orações mais
preciosas diante de Deus, por causa da
dependência dos gemidos inexprimíveis do
Espírito, através deles.
Quão preciosas são para o Senhor as orações
que fazemos com um coração quebrantado!
16
Assim, ao falarmos de pavio fumegante
devemos ter em conta que isto tem o propósito
de nos lembrar que a menor fagulha da graça é
preciosa.
Há uma bênção especial nesta pequena faísca.
Jesus não veio salvar justos e sãos, mas
pecadores e enfermos.
Deus se agrada de que nos alegremos com os
humildes começos.
Ele se agrada em usar grãos de mostarda e
formar grandes arbustos a partir destas
pequenas sementes.
Ele preferiu a pequena cidade de Belém Efrata, e
não Jerusalém, para nos trazer o Salvador.
Ele não começou a Igreja com pessoas notáveis,
poderosas, nobres, importantes e nem mesmo
com um grande número de seguidores.
O Seu método é primeiro provar fidelidade no
pouco, para depois conduzir ao muito.
O Seu ministério é restaurador e nos deu um
exemplo disto na reconstrução dos muros e
portas de Jerusalém com Neemias.
E muito mais do que muros e portas, Ele está
interessado em restaurar vidas. E fará isto
principalmente com paciência e amor.
17
Os pastores devem então, ser pessoas simples e
humildes, seguindo o exemplo do Senhor deles,
e exporem a verdade de maneira clara, e nunca
de forma obscura.
A verdade não teme algo tanto quanto o
encobrimento, e não deseja algo tanto que seja
exposta clara e abertamente à visão de todos.
Daí Jesus ter dito que tudo o que ensinou
reservadamente aos discípulos deveria ser
proclamado de cima dos telhados.
Paulo era profundo, no entanto se tornou como
ama acariciando seus filhos (I Tes 2.7), e se fez
fraco com os fracos (I Cor 9.22).
Cristo desceu do céu e se esvaziou de Sua
majestade, para se oferecer a nós, como oferta
suave de amor. E não desceremos de nossas
elevadas vaidades para fazermos o bem a
qualquer alma necessitada de salvação?
Devemos nos guardar daquele espírito que em
vez de exibir paciência, longanimidade,
mansidão e misericórdia aos homens,
demonstra fúria, exaltação e ira obstinada,
ainda que em nome de fazer prevalecer a
verdade.
Devemos lembrar que não podemos fazer
prevalecer a verdade agindo contra a verdade.
18
Devemos nos lembrar sempre que o fruto da
justiça é semeado em meio à paz, sobretudo, a
paz interior dos nossos corações, enquanto
ministramos.
No exercício da disciplina na Igreja devemos nos
acautelar para não tentar matar uma mosca na
testa de alguém com um martelo. O poder que é
dado à Igreja é para edificação e não para
destruição.
O amor cobre uma multidão de transgressões.
Não foi exatamente isto que Deus fez conosco ao
perdoar todos os nossos pecados, quando nos
salvou em Cristo?
O Espírito Santo está contente em habitar em
almas fumegantes e ofensivas. Que nós
pudéssemos reter algo desta mesma disposição
misericordiosa!
A graça não reside em almas perfeitas neste
mundo. Lembremos sempre disto.
Como nenhum cristão se encontra em estado de
perfeição absoluta deste outro lado do céu,
então nós temos que nos exercitar sempre em
espírito de misericórdia, de perdão e mansidão.
Por isso, nunca devemos nos julgar, de acordo
com os nossos sentimentos presentes, porque
nas tentações nós veremos muita fumaça
desprendendo de pensamentos incorretos.
19
Nós devemos nos precaver do falso raciocínio,
porque nosso fogo não é como o dos demais, ou
então por parecer que não há qualquer fogo em
nós.
As portas de Jerusalém estavam queimadas,
mas Deus providenciou para que fossem
restauradas através de Neemias, de forma que
erraram todos aqueles que pensavam que
Jerusalém permaneceria sem portas para
sempre.
Devemos lembrar que estamos na Aliança da
Graça, em que nem toda medida é como fogo
pleno, pois há muita faísca, que deve ser
também vista como chama.
Todos os cristãos têm a mesma fé preciosa (II Pe
1.1) por meio da qual obtiveram a perfeita justiça
de Cristo.
Uma mão fraca pode pegar uma joia preciosa.
Algumas uvas mostrarão que a planta é uma
videira e não um espinheiro.
Uma coisa é ser deficiente na graça e outra coisa
não ter qualquer graça.
Deus sabe que nós não temos nada de nós
mesmos, então na aliança da graça Ele não
requer nada além do que Ele dá, e que sempre
nos dá o que Ele requer.
20
Se não pudermos trazer um cordeiro, então
permitirá que tragamos duas pombas e uma rola
(Lev 12.8).
O evangelho é uma moderação misericordiosa,
em que a obediência de Cristo é estimada como
sendo a nossa (Rom 5.19).
21
Senhor Justiça Nossa
No capítulo 23 de Jeremias o Senhor repreende
a infidelidade e a corrupção dos sacerdotes e
anciãos de Israel (pastores do povo naquela
dispensação) e os profetas que falavam em Seu
nome sem terem sido levantados por Ele, os
quais haviam feito o Seu povo se desviar da Sua
presença.
O protesto de Deus se fundamenta no fato deles
nunca terem ensinado a Sua Palavra, conforme
fora revelada e escrita para eles, senão, aquilo
que eles afirmavam ser a Sua Palavra, quando na
verdade, era a própria palavra deles, ensinada
para atender aos seus propósitos cobiçosos,
interesseiros, carnais e egoístas.
Isto pode ser visto claramente nas palavras de
repreensão dirigidas contra eles como as da
seguinte passagem:
“28 O profeta que tem um sonho conte o sonho;
e aquele que tem a minha palavra, fale fielmente
a minha palavra. Que tem a palha com o trigo?
diz o Senhor.
29 Não é a minha palavra como fogo, diz o
Senhor, e como um martelo que esmiúça a
pedra?
22
30 Portanto, eis que eu sou contra os profetas,
diz o Senhor, que furtam as minhas palavras,
cada um ao seu próximo.
31 Eis que eu sou contra os profetas, diz o
Senhor, que usam de sua própria linguagem, e
dizem: Ele disse.” (Jer 23.28-31).
O efeito que era produzido no povo, de andarem
contrariamente com o Senhor, era uma prova
evidente de que a vida e o ensino destes pastores
e profetas não eram segundo a verdadeira
Palavra de Deus, porque o efeito dela é sempre o
de produzir temor e santidade no Seu povo,
como o próprio Senhor se expressou em relação
a isto da seguinte maneira:
“21 Não mandei esses profetas, contudo eles
foram correndo; não lhes falei a eles, todavia
eles profetizaram.
22 Mas se tivessem assistido ao meu conselho,
então teriam feito o meu povo ouvir as minhas
palavras, e o teriam desviado do seu mau
caminho, e da maldade das suas ações.” (v.
21,22).
O que eles ensinavam e profetizavam não
provinha do céu senão dos seus próprios
corações enganosos e corrompidos:
“25 Tenho ouvido o que dizem esses profetas
que profetizam mentiras em meu nome,
dizendo: Sonhei, sonhei.
23
26 Até quando se achará isso no coração dos
profetas que profetizam mentiras, e que
profetizam do engano do seu próprio coração?
27 Os quais cuidam fazer com que o meu povo se
esqueça do meu nome pelos seus sonhos que
cada um conta ao seu próximo, assim como seus
pais se esqueceram do meu nome por causa de
Baal.”
Isto é um grande alerta para os ministros do
evangelho, para que não incorram no mesmo
erro deles, deixando de pregar a genuína
Palavra do Senhor, no poder do Espírito.
Quando se desvia deste rumo os resultados
sempre serão funestos.
Há muitos sonhadores que desejam conduzir a
Igreja de Cristo pelas visões do seu próprio
coração, afirmando que são revelações
recebidas da parte de Deus.
Se estas visões não estiverem de acordo com a
Palavra revelada na Bíblia, em gênero, número e
grau, em vez de serem proclamadas, devem ser
esquecidas e abominadas, porque não será
apenas o povo que será prejudicado por elas,
mas o próprio Deus terá a Sua ira despertada
contra tais pastores ou profetas, como se vê
neste capítulo de Jeremias.
Como o quadro que havia prevalecido em Israel
por séculos, sempre foi este de o povo não
24
receber a devida instrução por parte da grande
maioria de seus pastores e profetas, então o
Senhor mesmo seria o Pastor do Seu povo, e o
faria através de pastores que estariam debaixo
da justiça de um Rei justo que procederia da
descendência de Davi, nosso Senhor Jesus
Cristo, e estando assim justificados por Ele,
tanto eles, seus pastores, quanto o rebanho de
Deus sobre o qual seriam constituídos, seriam
conhecidos pelo nome de O SENHOR JUSTIÇA
NOSSA.
Este Rei justo viria então a se manifestar em dias
futuros para buscar as ovelhas perdidas da casa
de Israel que haviam sido dispersadas por todos
os maus pastores e profetas que haviam
presidido sobre elas.
“3 E eu mesmo recolherei o resto das minhas
ovelhas de todas as terras para onde as tiver
afugentado, e as farei voltar aos seus apriscos; e
frutificarão, e se multiplicarão.
4 E levantarei sobre elas pastores que as
apascentem, e nunca mais temerão, nem se
assombrarão, e nem uma delas faltará, diz o
Senhor.
5 Eis que vêm dias, diz o Senhor, em que
levantarei a Davi um Renovo justo; e, sendo rei,
reinará e procederá sabiamente, executando o
juízo e a justiça na terra.
25
6 Nos seus dias Judá será salvo, e Israel habitará
seguro; e este é o nome de que será chamado: O
SENHOR JUSTIÇA NOSSA.” (v.3 a 6).
Esta promessa está vinculada à da Nova Aliança,
constante do capítulo 31.
26
A Firmeza da Nossa Aliança com Cristo
No sétimo capítulo de Romanos nós vemos o
caráter firme e seguro da nossa aliança com
Jesus, e pela qual somos libertados da
condenação de uma aliança segundo a lei.
Deus como o Grande Legislador e Juiz de todo o
universo, criou o homem e fez com que ele fosse
responsável perante Ele segundo a norma da lei
moral que ele inscreveu em sua consciência,
instalando ali um tribunal que age no próprio
homem condenando-o naquilo que é reprovável
e aprovando-o naquilo que é louvável.
Mas, segundo a Lei Régia há a exigência da
perfeita obediência, conforme foi revelado a
Adão, e que a penalidade para qualquer ato de
desobediência é a morte, e todo homem
responde à referida Lei até hoje.
Posteriormente, nos dias de Abraão, Deus
acrescentou novos mandamentos para serem
guardados pelas pessoas da descendência do
patriarca, com as quais formaria um povo para
Si, para se revelar ao mundo através do mesmo,
e principalmente para que por este povo nos
fosse dado o Messias.
O caráter da obediência completa exigida de
toda a humanidade da Lei Régia foi ainda mais
detalhado com os mandamentos que foram
27
dados através de Moisés. E desde então, até que
viesse o Messias, o modo de agradar a Deus,
passava obrigatoriamente pelo cumprimento
dos mandamentos da Lei.
A pena de morte espiritual e eterna para os
desobedientes foi mantida porque se afirma na
Lei de Moisés que é maldito todo aquele que não
permanece em todas as coisas da Lei, para
cumpri-las.
Isto descreve a condição de miséria espiritual e
de condenação que paira sobre toda a
humanidade, porque todos são pecadores, e não
têm em si mesmos a condição e o poder para
obedecerem perfeitamente a todos os
mandamentos da Lei.
Como poderia então Deus se prover de filhos
semelhantes a Cristo?
Se todos estão obrigados à Lei, como poderão ter
vida, estando mortos; como poderão ser livres,
estando condenados?
Só havia um modo de Deus nos libertar da
condenação da Lei e nos dar vida eterna,
permanecendo Justo, por não remover ou
contrariar a Lei. Isto Ele fez nos considerando
como mortos para a Lei, por ter feito com que a
morte de Jesus na cruz fosse a nossa própria
morte.
28
Ele visitaria o Seu próprio Filho Unigênito com o
castigo que era destinado a nós pecadores. Ele
executaria a sentença de morte exigida pela Lei
nEle, fazendo com que fosse feito pecado e
maldição no nosso lugar.
Assim, a Lei não seria removida, mas nós
seríamos resgatados por meio de Cristo de
debaixo da sua condenação e maldição.
É basicamente isto que Paulo expõe no sétimo
capítulo de Romanos; de modo que toda a
argumentação que ele fizera quanto à condição
de não se fazer o bem que queremos, e fazer o
mal que não queremos, pelo pecado que opera
na nossa carne, é sobretudo uma condição que
explica sobretudo a condição em que se
encontram aqueles que permanecem debaixo
da Lei e não da graça do evangelho, a saber as
pessoas que não foram regeneradas pelo
Espírito Santo.
Elas podem dizer isto, por não terem
encontrado a solução que Paulo havia
encontrado: "miserável homem que sou". Isto
porque não têm a Cristo que é o único que pode
nos livrar do corpo desta morte.
Este livramento que se obtém somente por
Cristo e em Cristo, não é decorrente do fato de
que agora os próprios crentes são perfeitos
segundo a Lei, porque sempre haverá resquícios
de pecado e de desobediência em sua natureza
29
terrena que ainda carregam neste mundo, mas
sim, e exclusivamente pelo fato de que foram
resgatados da condenação da Lei por terem
morrido para a Lei em Cristo.
Uma Lei não tem autoridade sobre quem já está
morto. Assim, os crentes já não são julgados ou
condenados por Deus com base na Lei, porque
não estão mais debaixo da Lei, quanto ao que se
refere ao seu poder de condenação daqueles
que pecam contra os seus mandamentos. Eles
são julgados agora pela lei da liberdade,
respondendo, livres que são, não mais a um Juiz,
mas a um Pai de amor, que os corrige e dirige
como filhos amados, por causa de Jesus Cristo.
Haverá ainda um grande conflito entre o
Espírito e a carne, entre a velha e a nova
natureza, em todos os crentes, mas juntamente
com Paulo eles podem dizer em uníssono:
"Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor."
Não serão mais condenados por não serem tão
bem sucedidos nesta guerra contra as suas
almas, quanto gostariam de ser. Contudo,
sabem que são amigos de Deus, que amam a
Deus, que odeiam o diabo e o pecado, e que por
fim serão transformados à perfeita imagem de
Jesus, ainda que isto ocorra somente na glória.
Todavia, esta grande verdade central do
evangelho não deve servir de motivo para que
abusemos da liberdade que foi conquistada para
nós por um preço elevadíssimo de sangue, e não
30
de um sangue qualquer, senão o puro e
imaculado sangue do Cordeiro de Deus que tira
o pecado do mundo. Preço este que foi pago para
que livres do pecado, pudéssemos viver em
novidade de vida santificada perante Deus.
Afinal, foi para isto que fomos chamados e
justificados.
Para vivermos esta vida santa sem a qual não
podemos manter nossa comunhão com Deus,
necessitamos de poder do alto.
Veja que quando os apóstolos viram todos os
sinais que Jesus havia realizado, Sua
ressurreição e ascensão, a uma mente carnal
pareceria que isto seria o suficiente para que
eles saíssem pelo mundo afora dando
testemunho das coisas que haviam visto e
ouvido.
Todavia, nosso Senhor lhes falou da
necessidade de permanecerem em oração, e
aguardando em Jerusalém o batismo do Espírito
Santo, para que fossem revestidos de poder, pois
quem dá e sustenta o testemunho de Cristo em
nós é o poder do Espírito Santo.
Por este motivo vemos o apóstolo Paulo
dirigindo a Timóteo as seguintes palavras, para
o cumprimento adequado do seu ministério:
“Tu, pois, filho meu, fortifica-te na graça que
está em Cristo Jesus.” (2 Tim 2.1)
31
E a todos os cristãos:
“Quanto ao mais, sede fortalecidos no Senhor e
na força do seu poder.” (Ef 6.10)
Vemos assim a nossa necessidade vital de
estarmos permanentemente fortalecidos na
graça de Jesus, mediante o poder do Espírito
Santo que em nós opera.
Muitos pensam erroneamente que quando se
fala em batismo do Espírito Santo, revestimento
de poder do Espírito, ou enchimento do Espírito,
que isto signifique simplesmente receber um
poder sobrenatural que operará em nossas
vidas independentemente das condições
morais e espirituais em que nos encontremos.
Todavia, se examinarmos com mais cuidado
não somente o texto bíblico, mas a nossa própria
experiência prática em relação a este assunto,
verificaremos que é muito mais do que isto o
significado do poder da graça e do Espírito Santo
atuando em nossas vidas.
Antes de tudo, devemos lembrar que este poder
nos é dado para sermos cheios do fruto do
Espírito Santo, que tem a ver com as nossas
atitudes, com o nosso comportamento, com a
transformação progressiva do nosso caráter e
coração.
É um poder para nos habilitar a sermos
obedientes aos mandamentos de Deus, para
32
aprendermos a ser mansos e humildes de
coração, a sustentarmos um bom testemunho
de comportamento em nossa vida cristã, de
modo a nos tornarmos exemplo para ser
seguido por outros.
Trata-se de ser cônjuges exemplares, filhos
exemplares,
servos
exemplares,
líderes
exemplares, cidadãos exemplares, enfim,
sermos achados em todas as áreas de relações
humanas como homens e mulheres de Deus,
que trazem estampada em suas vidas a imagem
de Jesus Cristo, conforme veremos no estudo do
oitavo capítulo de Romanos, no qual se afirma
que fomos predestinados por Deus para tal
propósito.
Nada disto poderá existir sem que haja uma
transformação do nosso coração. E por isso
necessitamos crucialmente deste poder do alto,
porque como o próprio Senhor Jesus afirmou,
sem Ele nada podemos fazer, notadamente no
que tange às coisas que são celestiais,
espirituais, e divinas.
Em cumprimento à promessa que nos fez em
relação à Nova Aliança (Jeremias 31.31-35) Deus
já nos deu um coração de carne em substituição
ao coração insensível de pedra às coisas
concernentes ao reino dos céus que tínhamos
antes da nossa conversão a Cristo.
33
O Que é Estar Debaixo da Graça e Não da
Lei
Não encontramos nas Escrituras a expressão
pacto de obras, ou aliança de obras.
Todavia, ambas as formas, especialmente a
primeira é muito empregada para definir a
condição de Deus como o Grande Juiz e
Legislador que exige perfeição absoluta para
que possamos estar eternamente em Sua
presença.
A falta desta condição implica em morte
espiritual e eterna.
Em sua infinita sabedoria, bondade e
misericórdia, o Senhor tem conhecido pela sua
onisciência, que nenhum descendente de Adão
está habilitado para atender a tal demanda desta
Lei Eterna que emana da própria natureza
perfeitamente santa e justa de Deus.
Assim, entendemos que Ele não tem proposto a
pecadores uma opção de salvação por este modo
de se cumprir perfeitamente a Sua vontade e
mandamentos.
Isto sempre será feito por pura graça,
misericórdia, e simplesmente mediante a fé,
como foi proposto ao próprio Adão quando o
Senhor foi procurá-lo com a promessa da
redenção
quando
ele
se
escondeu
34
envergonhado da sua nudez atrás das árvores do
jardim.
Não pode entretanto, ser removida esta lei que
exige perfeição absoluta, e por isso Jesus não
morreu apenas como nosso substituto para
quitar a culpa do nosso pecado, como também
para nos revestir dessa perfeição requerida pela
justiça divina, que há de ser absoluta na glória, e
mediante o trabalho da santificação da graça
pelo Espírito Santo e aplicação da Palavra de
Deus aos nossos corações, conforme o penhor
do trabalho da nossa transformação e
purificação já iniciado aqui na Terra a partir da
nossa conversão.
O grande mandamento de Deus foi revelado por
Jesus como sendo o amor de uns pelos outros
com o mesmo amor com o qual ele nos amou; ou
seja, o dever imposto é o de amar com o amor de
Deus.
Então quando Tiago alude a isto, ele se reporta
em sua epístola à questão da acepção de pessoas
que estava ocorrendo na igreja em favor dos
mais abastados e contra os pobres e
necessitados do rebanho.
Isto era um pecado claro e contundente
contrário ao que Ele chama de Lei Régia, ou seja
a Lei do Rei, esta Lei que está amarrada à própria
natureza e essência de Deus, que é amor.
35
“Se vós, contudo, observais a lei régia segundo a
Escritura: Amarás o teu próximo como a ti
mesmo, fazeis bem;” (Tiago 2.8)
Não convinha que aqueles que foram resgatados
da morte espiritual e eterna, inclusive e
principalmente
por se
transgredir
tal
mandamento do amor, que é o principal de
todos, continuassem transgredindo o mesmo.
“Falai de tal maneira e de tal maneira procedei
como aqueles que hão de ser julgados pela lei da
liberdade.” (Tiago 2.12)
A esta lei da liberdade da condenação em Cristo,
aludiu também o apóstolo Paulo em Rom 8.2:
“Porque a lei do Espírito da vida, em Cristo Jesus,
te livrou da lei do pecado e da morte.”
Então, se não fosse por Cristo, todo o nosso
esforço em cumprir perfeitamente a Lei – ao
qual devemos nos dedicar com sinceridade e
amor – seria totalmente perdido caso viéssemos
a transgredir um único ponto da lei que está
indissoluvelmente ligada à natureza de Deus,
porque é Legislador e Juiz conforme demanda a
sua justiça que haja perfeita conformação à sua
santidade e amor.
“Pois qualquer que guarda toda a lei, mas
tropeça em um só ponto, se torna culpado de
todos.” (Tiago 2.10) – Este é o caráter da lei para
aqueles que não estão debaixo da cobertura do
sangue de Jesus. Daqui vemos quão ineficaz é a
36
tentativa de se justificar por meio das obras da
lei.
Assim, devemos clamar e dar graças a Deus por
nos ter dado Jesus Cristo, juntamente com o
apóstolo quanto à nossa condição natural de
sermos achados mortos em delitos e pecados
que pode ser somente revertida por estarmos no
Senhor:
Rom 7:24 Desventurado homem que sou! Quem
me livrará do corpo desta morte?
Rom 7:25 Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso
Senhor. De maneira que eu, de mim mesmo,
com a mente, sou escravo da lei de Deus, mas,
segundo a carne, da lei do pecado.
37
A Graça não Condena
Deus não está condenando a qualquer pessoa
na presente dispensação da graça, conforme
afirmação de Jesus de que não veio condenar,
mas salvar.
A natureza de Deus é longânima, perdoadora,
misericordiosa, amorosa, e por isso uma
das características do amor destacada em I Cor
13.5 é que ele não é facilmente provocado, ou
seja, ele não se exaspera.
Deus se ira contra o pecado, mas não tem
qualquer prazer na morte dos ímpios, ou seja, de
todos aqueles que não Lhe amam e aos Seus
mandamentos.
A ira pode ser definida como uma oposição
séria e violenta de espírito contra qualquer mal,
real ou suposto, ou devido a qualquer falta ou
ofensa, porque isto está contra a natureza do
amor.
Nós somos chamados por Cristo a desejar o bem
e a orar para o bem de todos, até mesmo de
nossos inimigos, e até daqueles que zombam de
nós e nos perseguem (Mat 5:44); e a regra dada
pelo apóstolo é: “Abençoai aos que vos
perseguem, abençoai, e não amaldiçoeis.” (Rom
12.14), quer dizer, nós devemos desejar o bem e
38
orar para o bem de todos, e em nenhum caso
desejar o mal.
Porque como imitadores de Deus, na busca da
sua imagem e semelhança, é justamente o que
devemos fazer, porque isto é parte da essência
divina.
Dizemos que é um dever porque o evangelho
veio trazer a restauração em nós, da imagem e
semelhança, não com Adão, antes da queda no
pecado, mas a do próprio Cristo, conforme se
afirma amplamente na Bíblia.
O que temos em Cristo, quanto ao trato com as
imperfeições que há na humanidade? Graça,
amor,
bondade,
misericórdia,
perdão,
reconciliação, e justiça (a sua justiça que nos
justifica).
Os próprios juízos divinos na presente
dispensação, têm em vista contribuir para a
continuidade da referida restauração, e são
corretivos e decorrentes da rejeição obstinada
da graça que nos está sendo oferecida.
As obras más ou boas de todas as pessoas serão
somente passadas em revista no grande dia do
Juízo Final.
Por isso toda vingança é proibida por Deus, já
que Ele afirma que toda a vingança lhe pertence.
39
A regra é: “Não te vingarás nem guardarás ira
contra os filhos do teu povo; mas amarás o teu
próximo como a ti mesmo: Eu sou o Senhor.”
(Lev 19.18); e o apóstolo diz: “Não vos vingueis a
vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira;
porque está escrito: A mim me pertence a
vingança; eu retribuirei, diz o Senhor.” (Rom
12.19), de forma que toda a ira que contém um
desejo de vingança, é contrária ao cristianismo
e proibida por Deus.
Disto Cristo falou em Mat 5.22: “Eu, porém vos
digo que todo aquele que (sem motivo) se irar
contra seu irmão estará sujeito a julgamento;”.
Se uma pessoa se permitir ficar muito tempo
irada com uma outra, logo esta ira se
transformará em ódio.
Assim, nós achamos que na verdade acontece
com aqueles que retêm um rancor nos seus
corações contra outros, durante semana depois
de semana, e mês depois de mês, e ano depois de
ano.
Eles virão no fim, a odiar verdadeiramente as
pessoas contra as quais se deixaram irar assim
deste modo.
Este é um pecado mais terrível à vista de Deus.
Então, não é de se admirar que esta seja a
principal estratégia do diabo para nos afastar de
Deus, e para nos manter sob julgamentos em
40
nossas almas, e ainda a ficarmos à mercê de
sermos oprimidos por ele.
Assim, toda vigilância e sabedoria é ainda pouco
para ter um coração manso, sofredor, paciente,
perdoador.
Mais do que isto, necessitamos do derramar
abundante do amor de Deus nos nossos
corações que é operado sobrenaturalmente
pelo Espírito Santo.
41
Graça Sobre Graça
“12 E o Senhor vos aumente, e faça crescer em
amor uns para com os outros, e para com todos,
como também o fazemos para convosco;
13 Para confirmar os vossos corações, para que
sejais irrepreensíveis em santidade diante de
nosso Deus e Pai, na vinda de nosso Senhor Jesus
Cristo com todos os seus santos.” (I Tes 3.12,13).
As graças operadas pelo Espírito Santo são a
fonte da nossa santidade, no aumento delas em
nós pelo trabalho da santificação.
Nada se perde deste trabalho progressivo do
Espírito nos cristãos, porque uma graça não é
substituída por outra, senão acrescentada,
conforme dizer do apóstolo Pedro:
“5 E vós também, pondo nisto mesmo toda a
diligência, acrescentai à vossa fé a virtude, e à
virtude a ciência,
6 E à ciência a temperança, e à temperança a
paciência, e à paciência a piedade,
7 E à piedade o amor fraternal, e ao amor
fraternal a caridade.” (II Pe 1.5-7).
O que foi conquistado será mantido por
vigilância e oração, e será aumentado pelo
recebimento de outras graças (virtudes e poder)
42
que também serão aperfeiçoadas em seu
crescimento.
O que não aprendeu ainda a ser misericordioso
será com certeza aperfeiçoado em misericórdia.
O de mau temperamento será aperfeiçoado em
mansidão.
O modo do Espírito Santo implantar estas
virtudes é pela formação de hábitos.
Assim como aprendemos determinadas
habilidades e comportamentos pelo hábito de
repeti-las.
A santificação é pois em seu progresso um
hábito que é incorporado em nós, em relação a
todos os nossos deveres espirituais, à medida
que eles nos vão sendo ensinados e implantados
em nós pelo Espírito Santo, consoante a
aplicação da doutrina da Palavra de Deus.
43
A Troca da Antiga Aliança pela Nova
“Quando ele diz Nova, torna antiquada a
primeira. Ora, aquilo que se torna antiquado e
envelhecido está prestes a desaparecer.”
(Hebreus 8:13)
Toda vez que abrirmos as páginas do Velho
Testamento, devemos sempre colocar como
pano de fundo o Evangelho de Cristo, para que
não tomemos ao pé da letra, como mandamento
divino ordenado aos discípulos de Jesus, muitos
dos preceitos da antiga dispensação, que durou
de Moisés a João Batista (Mt 11.13; Lc 11.16), os
quais não podem e não devem ser aplicados na
nova dispensação em que estamos vivendo há
cerca de dois milênios.
A Lei Antiga, determinada por Deus para vigorar
em Israel, por cerca de 1440 anos prescrevia:




morte por apedrejamento em razão de
determinadas transgressões daquela Lei
dada por meio de Moisés.
como maldito de Deus deveria se
anunciar a si mesmo publicamente o
leproso.
proibidos estavam vários alimentos
classificados como impuros.
sacrifícios de animais oferecidos para
cobrir o pecado.
44

e muitos outros preceitos
cerimoniais, além dos morais.
civis
e
Deus, pela Lei, revelava que era o Juiz do Seu
povo e ensinava ao mesmo tempo o quanto é
oposto ao pecado.
Todavia, em sendo Juiz, é também pai bondoso,
amoroso, misericordioso, perdoador e salvador.
Como revelou isto, já que os preceitos da Lei
antiga poderiam ofuscar tais atributos relativos
à Sua completa longanimidade, amor e
bondade?
Ele o fez trazendo uma nova lei por meio de
Cristo, para substituir a antiga.
Jer 31:31 Eis aí vêm dias, diz o SENHOR, em que
firmarei nova aliança com a casa de Israel e com
a casa de Judá.
Jer 31:32 Não conforme a aliança que fiz com
seus pais, no dia em que os tomei pela mão, para
os tirar da terra do Egito; porquanto eles
anularam a minha aliança, não obstante eu os
haver desposado, diz o SENHOR.
Jer 31:33 Porque esta é a aliança que firmarei
com a casa de Israel, depois daqueles dias, diz o
SENHOR: Na mente, lhes imprimirei as minhas
leis, também no coração lhas inscreverei; eu
serei o seu Deus, e eles serão o meu povo.
45
Jer 31:34 Não ensinará jamais cada um ao seu
próximo, nem cada um ao seu irmão, dizendo:
Conhece ao SENHOR, porque todos me
conhecerão, desde o menor até ao maior deles,
diz o SENHOR. Pois perdoarei as suas
iniquidades e dos seus pecados jamais me
lembrarei.
Heb 8:7 Porque, se aquela primeira aliança
tivesse sido sem defeito, de maneira alguma
estaria sendo buscado lugar para uma segunda.
Heb 8:13 Quando ele diz Nova, torna antiquada a
primeira. Ora, aquilo que se torna antiquado e
envelhecido está prestes a desaparecer.
Heb 9:15 Por isso mesmo, ele é o Mediador da
nova aliança, a fim de que, intervindo a morte
para remissão das transgressões que havia sob a
primeira aliança, recebam a promessa da eterna
herança aqueles que têm sido chamados.
Heb 10:9 então, acrescentou: Eis aqui estou para
fazer, ó Deus, a tua vontade. Remove o primeiro
para estabelecer o segundo.
Heb 10:10 Nessa vontade é que temos sido
santificados, mediante a oferta do corpo de
Jesus Cristo, uma vez por todas.
A Lei da nova aliança, do novo testamento, do
evangelho, da graça, pela qual se revogou a
primeira, é chamada pelo apóstolo de lei régia
(Tg 2.8), porque prescreve o amor ao próximo,
46
sem qualquer tipo de condenação legal,
conforme ocorria na primeira, apesar de
também prescrever o amor ao próximo.
Assim, a lei do amor de Cristo não vigora pelo
cumprimento de ordenanças cerimoniais e
civis, como a primeira, mas simplesmente por
fé, graça, misericórdia e arrependimento.
A punição dos malfeitores é designada para as
autoridades civis de cada nação, conforme
determinação da parte de Deus.
Não é uma característica ou atribuição do
evangelho, pelo qual se oferta a libertação do
espírito do jugo e condenação do pecado.
A lei do evangelho é amar a Deus acima de tudo
e ao próximo como a si mesmo.
O amor nunca busca o mal, ou que seja do
próprio
interesse,
não
se
conduz
inconvenientemente, não é preconceituoso,
enfim, o amor faz somente o bem ao seu
semelhante.
Mat 22:35 E um deles, intérprete da Lei,
experimentando-o, lhe perguntou:
Mat 22:36 Mestre, qual é o grande mandamento
na Lei?
47
Mat 22:37 Respondeu-lhe Jesus: Amarás o
Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda
a tua alma e de todo o teu entendimento.
Mat 22:38 Este
mandamento.
é
o
grande
e
primeiro
Mat 22:39 O segundo, semelhante a este, é:
Amarás o teu próximo como a ti mesmo.
Mat 22:40 Destes dois mandamentos dependem
toda a Lei e os Profetas.
Rom 13:10 O amor não pratica o mal contra o
próximo; de sorte que o cumprimento da lei é o
amor.
Poderia haver uma lei melhor do que essa?
No episódio da mulher adúltera que Jesus livrou
da condenação por apedrejamento, podemos
constatar o quanto Ele realmente mudou a
antiga lei por uma nova, porque pela antiga, ela
deveria morrer apedrejada.
É por isso que é ordenado por Cristo aos cristãos,
na Bíblia, que façam o convite da salvação pelo
evangelho a todas as pessoas e em todos os
lugares da terra.
Mar 16:15 E disse-lhes: Ide por todo o mundo e
pregai o evangelho a toda criatura.
48
Este convite consiste basicamente no
oferecimento gratuito que Ele está fazendo da
Sua própria justiça divina, amor e misericórdia,
para perdoar todos os nossos pecados e
justificar a todos os que nEle crerem, de modo
que sejam livrados da condenação, e para o
recebimento da vida eterna.
Todavia, em havendo recusa em se ouvir a
mensagem do evangelho, o próprio Cristo
ordena que não haja insistência.
Luc 10:16 Quem vos der ouvidos ouve-me a mim;
e quem vos rejeitar a mim me rejeita; quem,
porém, me rejeitar rejeita aquele que me
enviou.
Mar 6:11 Se nalgum lugar não vos receberem
nem vos ouvirem, ao sairdes dali, sacudi o pó
dos pés, em testemunho contra eles.
O evangelho é o tempo da paciência, da
misericórdia, da longanimidade de Deus para
com todos os pecadores.
A ninguém Deus está condenando, enquanto
durar esta dispensação. Ao contrário, está
salvando.
João 12:47 Se alguém ouvir as minhas palavras e
não as guardar, eu não o julgo; porque eu não
vim para julgar o mundo, e sim para salvá-lo.
49
João 12:48 Quem me rejeita e não recebe as
minhas palavras tem quem o julgue; a própria
palavra que tenho proferido, essa o julgará no
último dia.
O evangelho é a lei divina, se assim podemos nos
referir a ele, na presente dispensação da graça,
e esta lei de justiça oferecida para a nossa
justificação e perdão, a ninguém condena.
É a rejeição do evangelho, segundo nosso
Senhor Jesus Cristo, que será o motivo da
condenação no último dia, como Ele o afirma
em João 12.48.
João 3:16 Porque Deus amou ao mundo de tal
maneira que deu o seu Filho unigênito, para que
todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida
eterna.
João 3:17 Porquanto Deus enviou o seu Filho ao
mundo, não para que julgasse o mundo, mas
para que o mundo fosse salvo por ele.
João 3:18 Quem nele crê não é julgado; o que não
crê já está julgado, porquanto não crê no nome
do unigênito Filho de Deus.
Mar 16:15 E disse-lhes: Ide por todo o mundo e
pregai o evangelho a toda criatura.
Mar 16:16 Quem crer e for batizado será salvo;
quem, porém, não crer será condenado.
50
Esta nova dispensação do evangelho substituiu
a chamada antiga dispensação da lei de Moisés,
porque Jesus se ofereceu a si mesmo como
sacrifício, em nosso lugar, para satisfazer a
exigência da justiça divina.
Não é do teor e essência do evangelho condenar
as pessoas pelos seus maus atos e até mesmo
pensamentos, porque até os próprios cristãos
que fazem a oferta do evangelho também são
pecadores, que foram remidos pela graça,
mediante a fé em Jesus.
Aos que têm abraçado a fé no evangelho, Cristo
lhes impõe a disciplina da nova aliança, pela
admoestação mútua à prática do amor e das
boas obras.
Outra característica do convite do evangelho é
que não se deve fazer distinção de qualquer
pessoa, que não deve haver preconceito de raça,
religião, condição social, ou de qualquer outra
natureza.
Desta forma, aqueles que têm sentimentos
preconceituosos, não estão de modo algum
anunciando o verdadeiro evangelho de Cristo,
tal como ele se encontra registrado nas páginas
da Bíblia.
Rom 3:21 Mas agora, sem lei, se manifestou a
justiça de Deus testemunhada pela lei e pelos
profetas;
51
Rom 3:22 justiça de Deus mediante a fé em Jesus
Cristo, para todos e sobre todos os que creem;
porque não há distinção,
Rom 3:23 pois todos pecaram e carecem da
glória de Deus,
Porque isto seria uma contradição, uma vez que
não se pode conciliar preconceito com o fato de
Jesus não fazer acepção, distinção de qualquer
pessoa, e de igual modo, devem agir aqueles que
falam em Seu nome.
Por outro lado, deixar de anunciar o evangelho,
em desobediência ao mandamento de Deus,
para o bem eterno dos ouvintes que o
receberem, por livrar o espírito da condenação
eterna a ser proferida no dia do Juízo Final, seria
então uma grande prova de falta de amor e de
misericórdia para com nossos semelhantes,
esconder deles esta mensagem, ou então
adulterá-la.
Por isso é também ordenado nas Escrituras que
se deve ter cautela com o ensino de falsos
pastores, profetas e mestres que falam em nome
de Cristo, e que se dizem cristãos, e
mensageiros genuínos do evangelho, quando na
verdade não são, e o fazem por motivo
interesseiro e por torpe ganância.
Mat 7:16 Acautelai-vos dos falsos profetas, que
se vos apresentam disfarçados em ovelhas, mas
por dentro são lobos roubadores.
52
2Pe 2:1 Assim como, no meio do povo,
surgiram falsos profetas, assim também haverá
entre vós falsos mestres, os quais introduzirão,
dissimuladamente, heresias destruidoras, até
ao ponto de renegarem o Soberano Senhor.
2Pe 2:2 E muitos seguirão as suas práticas
libertinas, e, por causa deles, será infamado o
caminho da verdade;
Mat 10:16 Eis que eu vos envio como ovelhas
para o meio de lobos; sede, portanto, prudentes
como as serpentes e símplices como as pombas.
Mat 10:17 E acautelai-vos dos homens; porque
vos entregarão aos tribunais e vos açoitarão nas
suas sinagogas;
Mat 10:25 Basta ao discípulo ser como o seu
mestre, e ao servo, como o seu senhor. Se
chamaram Belzebu ao dono da casa, quanto
mais aos seus domésticos?
A prudência da serpente é recomendada pelo
Senhor aos que se empenham na obra da
pregação do evangelho, ao lado da simplicidade
das pombas.
As serpentes evitam confrontos desnecessários,
mas atacam quando são atacadas. Por isso o
cristão deve reter apenas a prudência da
serpente, e associá-la à inofensividade das
pombas, que nunca atacam quando são
atacadas.
53
Por fim, ao concluir esta breve explanação, deve
ser dito que a ninguém deve ser imposto o
evangelho como uma forma de obrigação a ser
cumprida, e nem mesmo nas congregações de
Cristo, porque Deus quer ser amado e adorado
em espírito e de modo voluntário.
Ninguém deve ser condenado ou acusado por
conta da religião ou costumes que tenha
adotado, evidentemente, é claro, desde que não
infrinjam as normas legais e os costumes de
cada sociedade à qual se pertença, mas isto não
é um encargo dos cristãos enquanto cristãos,
mas das autoridades constituídas.
Os mensageiros do evangelho devem ser
promotores da paz, e por isso é dito por Cristo
que bem-aventurados são os pacificadores.
Para este propósito, da promoção da paz e do
bem estar dos seus semelhantes, devem orar
em favor de todos os homens.
1Tm 2:2 Antes de tudo, pois, exorto que se use a
prática de súplicas, orações, intercessões, ações
de graças, em favor de todos os homens,
1Tm 2:2 em favor dos reis e de todos os que se
acham investidos de autoridade, para que
vivamos vida tranquila e mansa, com toda
piedade e respeito.
1Tm 2:3 Isto é bom e aceitável diante de
Deus, nosso Salvador,
54
1Tm 2:4 o qual deseja que todos os homens
sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento
da verdade.
Devem também os cristãos serem modelos de
bom comportamento e de conduta, como pais,
filhos, empregados, empregadores, ou o que for.
Devem estar sujeitos às autoridades, porque
conforme afirmado na Bíblia, não há autoridade
genuína que não tenha sido instituída por Deus.
Rom 13:1
Todo homem esteja sujeito às
autoridades superiores; porque não há
autoridade que não proceda de Deus; e as
autoridades que existem foram por ele
instituídas.
O evangelho não é pregado por mero dever de
consciência ou por obediência ao mandamento
divino, mas sobretudo porque os discípulos de
Jesus são movidos em amor a fazê-lo, pelo
mesmo Espírito Santo que neles habita, e que
também atuava em nosso Senhor Jesus Cristo.
“como Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o
Espírito Santo e com poder, o qual andou por
toda parte, fazendo o bem e curando a todos os
oprimidos do diabo, porque Deus era com ele;”
(Atos 10:38)
55
Jesus Não Veio Condenar Mas Salvar
Marcos 2:17
Tendo Jesus ouvido isto,
respondeu-lhes: Os sãos não precisam de
médico, e sim os doentes; não vim chamar
justos, e sim pecadores.
João 12:47 Se alguém ouvir as minhas palavras e
não as guardar, eu não o julgo; porque eu não
vim para julgar o mundo, e sim para salvá-lo.
Dê a devida atenção a estas palavras de nosso
Senhor Jesus Cristo.
Até que Ele volte, a porta da salvação estará
aberta para todo aquele que se arrepender dos
seus pecados e buscar viver para Ele.
Amados leitores, nosso Senhor mesmo definiu a
Sua principal missão em ter vindo a este mundo
há cerca de 2.000 anos atrás, como sendo a de
salvar e não a de condenar pecadores.
Então, enquanto perdurar esse tempo de
graça até que Ele volte, Deus está abrindo uma
grande oportunidade para todas as pessoas que
queiram ser livradas da manifestação da ira
vindoura, em forma de juízo de uma
condenação eterna, que há de vir sobre todos os
que viveram neste mundo, sem terem se
convertido a Cristo.
56
Por isso, queremos ser muito claros, sinceros e
diretos em todas as mensagens transmitidas aos
amados leitores, mantendo o foco do evangelho
que aponta somente para Jesus Cristo para que
sejamos salvos de tal condenação em razão do
pecado.
É bom lembrar que um único pecado praticado
ao longo de toda a vida já sujeita o seu praticante
à condenação eterna.
Portanto, não há um único justo, de si mesmo,
pela sua própria justiça, diante de Deus.
Por isso Jesus morreu em nosso lugar na cruz,
carregando sobre si toda a culpa dos nossos
pecados.
Em suma, tudo o que se refere à necessidade de
um viver reto, do dever de se guardar os
mandamentos de Deus, e tudo o mais que se
refira à santificação de nossas vidas, somente
pode ser praticado e vivido caso sejamos
convertidos a Cristo, e estando em comunhão
com Ele, por meio do Espírito Santo.
Assim, se a Lei santa de Deus lhe condena
justamente por causa do pecado, lembre que
pela fé em Jesus, nos está sendo oferecida
gratuitamente a libertação de tal condenação,
ao mesmo tempo que somos por Ele capacitados
a viver de modo aprovado pela justiça divina,
pelo poder da graça de Jesus, mediante o
trabalho do Espírito Santo em nossos corações.
57
Não há qualquer condenação no evangelho,
porque Jesus, pelo evangelho que nos trouxe, ou
seja, por esta maravilhosa notícia, que é o
significado desta palavra no original grego do
Novo Testamento, tem se oferecido para ser a
nossa justiça, de modo que Deus possa se
agradar de nós e se reconciliar conosco.
A rejeição do evangelho. Desta oferta de justiça
da pessoa de Jesus, tão graciosa, é que traz
condenação.
58
A Justiça do Evangelho Não é Juízo
O propósito de Deus,
jamais pode ser frustrado.
Então o que faria para tornar justo
o pecador culpado?
Que se opondo ao seu Criador
e não querendo se sujeitar à sua vontade,
segue o seu caminho de vaidade?
Que resistindo a se entregar a Jesus
resiste também ao recebimento da Sua graça?
E sem a graça, sabemos, somente há ruína,
perdição, ódio, desobediência e morte.
Ah! Que situação difícil para ser resolvida!
Difícil para nós, mas não para Deus,
a quem tudo é fácil e possível.
Difícil e penoso seria sim,
o único modo pelo qual
59
o pecador poderia ser justificado.
Deus visitaria o seu pecado,
com juízos, no Seu Filho Amado.
Colocaria sobre Ele nossas transgressões,
resistências e descaminhos,
e com o grande golpe do seu juízo
castigaria o próprio Cristo,
fazendo com que a justiça exigida
fosse por fim atendida.
Jesus tem desde então justiça,
e não juízo para oferecer,
pelo Evangelho.
Quem quiser ser justo,
para receber a graça
salvadora e transformadora,
basta vir a Cristo,
com a mão do coração estendida,
60
e Ele a concederá com agrado
para apagar nosso pecado.
Por isso Ele diz que não veio
a este mundo para condená-lo,
mas sim, para salvá-lo.
Oh! Senhor amado!
Muito obrigado por sua justiça!
Felizes são os que têm fome e sede
desta sua maravilhosa justiça,
pela qual, nós perdidos pecadores,
somos saciados,
justificados e abençoados!
61
O Real Significado da Graça
Há
um grande paradoxo no entendimento
carnal relativo à graça divina, uma vez que se
costuma considerar como sendo graça
exatamente o oposto daquilo que a graça que
nos foi dada em Cristo é na verdade; pois os dons
naturais e comuns de Deus para toda a
humanidade são buscados por pessoas
religiosas como se fossem o grande propósito da
vida cristã.
Geralmente visa-se tão somente ao que é
externo, e não propriamente o que seja
espiritual, celestial e divino, para ser aplicado à
transformação do próprio caráter e vida,
segundo o propósito de Deus na concessão da
Sua graça que nos foi dada em Cristo.
Todavia, a Bíblia não nos deixa cegos quanto a
este importantíssimo assunto, conquanto
podemos observar na grande maioria das
passagens bíblicas referentes à graça, qual é o
propósito de Deus quanto à sua concessão.
Antes de tudo a graça não é dogma, mas o poder
de Deus para o atingimento do objetivo da fé, a
saber, a nossa salvação. E é no conhecimento da
mesma graça que devemos crescer com vistas
ao nosso aperfeiçoamento espiritual.
62
O maior dom que temos recebido da graça de
Deus é a vida do próprio Cristo e a habitação do
Espírito Santo em nós. As demais graças são
consequência desta referida e gravitam em
torno da mesma.
Quando estamos na graça, esta produz um bom
estado na alma que pode ser discernido em
espírito tanto por nós, quanto por aqueles que
estiverem na mesma condição.
A graça divina é o maior poder operante neste
mundo, pois somente ela é mais forte do que o
poder do pecado.
O nosso acesso a esta graça, na qual estamos
firmes, e sem correr o risco de sermos
rejeitados por Deus, custou um alto preço a
nosso Senhor Jesus Cristo – o preço do seu
sofrimento e derramamento do seu sangue
numa terrível morte de cruz.
É impróprio, por conseguinte, o pensamento
associado à palavra graça, de ser algo fácil ou
barato.
A salvação é de fato gratuita, mas custou o preço
de morte para Cristo, carregando os nossos
pecados, e para nós, ela exige o pagamento do
preço da nossa consagração a Deus, uma vez
tendo sido convertidos mediante a simples fé no
Senhor.
63
Fomos comprados por preço para vivermos para
Deus.
Com o advento de Jesus Cristo foi inaugurada
uma nova dispensação para substituir a antiga
que vigorou desde os dias de Moisés. Daí ser
chamada de dispensação da graça, enquanto a
antiga era chamada de dispensação da Lei.
Deus está sendo longânimo nesta dispensação
em relação a todos os pecadores, concedendolhes assim a oportunidade de se arrependerem
e crerem em Cristo, de modo a serem livrados
da condenação eterna. Esta é uma das
características
essenciais
da
citada
dispensação.
64
Uma Nova Aliança Diferente da Antiga
Devemos ter o devido cuidado ao estudarmos a
Bíblia, especialmente o Antigo Testamento, nas
partes relativas ao Antigo Pacto, porque ali
encontramos muitas figuras de realidades que
se cumpriram em Cristo, e muitos preceitos que
foram revogados e alterados por Cristo com a
instituição da Nova Aliança, que revogou a
Antiga, de modo que não pratiquemos na
dispensação da graça aquelas coisas e atitudes
que eram determinadas e aceitas por Deus no
Antigo Pacto, mas que de modo algum podem
ser aceitas nesta nova dispensação, em que
novas diretrizes foram dadas para substituírem
muitas das diretrizes antigas, como por exemplo
a lei do olho por olho, dente por dente; o ofício
sacerdotal com a apresentação de animais em
sacrifício; as guerras santas ordenadas por Deus
para extermínio de povos idólatras etc.
A Nova Aliança não é ministério de morte, mas
de vida. Isto é, os ministros de Deus estão
encarregados de levar a vida de Cristo aos
homens, e não a condenação e a morte.
Isto fica agora exclusivamente nas mãos de
Deus, e a Igreja de Cristo não é mais a espada de
Deus, como Israel foi no mundo antigo para
exercer juízos de Deus sobre o mundo de ímpios.
Deus é o Juiz exclusivo do que se refere a tirar ou
não a vida de qualquer pessoa, de modo que não
deseja nenhuma cooperação da Igreja neste
65
sentido, ao contrário, foi vedado à Igreja na
presente dispensação toda e qualquer forma de
juízo, e daí Cristo ter determinado que o crente
a ninguém deve julgar neste sentido, porque o
juízo sobre vida ou morte está agora
exclusivamente nas mãos de Deus.
À Igreja cabe pregar o evangelho, e aqueles nos
quais Cristo será cheiro de morte para a morte e
não aroma de vida para a vida, é assunto que se
encontra fora da alçada da Igreja, e que está
totalmente nas mãos do Grande e único Juiz
O dever do qual a Igreja está incumbida é o de
levar a mensagem de salvação e se empenhar
muito para a salvação de alguns, porque Jesus,
na dispensação da graça, se empenha não em
condenar os pecadores, mas salvá-los.
66
Uma Aliança Firmada em Graça
Em Isaías 55 vemos que o evangelho é para os
que têm fome e sede de justiça.
A mesa do banquete está pronta e tudo o que de
nós se exige é apetite. É tudo de graça.
Por isso o convite da salvação é dirigido a todos
os que têm sede para que venham às águas da
salvação, e que poderão adquirir (comprar) o
vinho espiritual da alegria, e o leite racional que
nos alimenta que é a graça de Cristo, que
acompanha o evangelho, para sermos
alimentados por ela, sem dinheiro e sem preço
(Is 55.1).
Diz-se que todo esforço e gasto de dinheiro para
obter a salvação é vão, porque a salvação
verdadeira que Deus está operando pelo Filho, é
completamente gratuita.
A boa comida espiritual, e o tutano divino são
achados somente na mesa de Cristo, e não nas
mãos dos que fazem da religião ocasião de
comércio (Is 55.2).
A mensagem do evangelho deve ser ouvida
atentamente, pela voz dos ungidos do Senhor,
através dos quais Cristo fala, para que pessoas se
convertam a Ele, para entrarem na aliança
67
eterna, que Ele havia prometido como sendo
firmes beneficências a Davi (v. 3).
Estas firmes beneficências a Davi são citadas
também em passagens do Novo Testamento,
como em At 13.34.
“Inclinai os vossos ouvidos, e vinde a mim; ouvi,
e a vossa alma viverá; porque convosco farei
uma aliança perpétua, dando-vos as fiéis
misericórdias prometidas a Davi.” (Is 55.3).
É maravilhoso saber que as últimas palavras que
Davi falou pelo Espírito, apontaram para esta
aliança segura e eterna.
Deus fez uma aliança conosco em Jesus Cristo, e
nós aprendemos das Suas palavras pela boca de
Davi que é uma aliança perpétua.
Perpétua em si mesma e na forma do seu
caráter,
manutenção,
continuação
e
confirmação. Deus diz também pela boca de
Davi que é bem ordenada e segura (v. 5).
Esta aliança está bem ordenada por Deus em
todas as coisas que dizem respeito a ela.
Esta ordenação perfeita trabalhará em meio às
imperfeições dos cristãos e os aperfeiçoará
progressivamente, para a glória de Deus, de
modo que se a obra não for completada na terra,
ele o será no céu.
68
Para isso a aliança possui um Mediador e um
Consolador para promover a santidade e o
conforto dos cristãos.
Está
ordenado
também
QUE
TODA
TRANSGRESSÃO NA ALIANÇA NÃO LANÇARÁ
FORA A QUALQUER DOS ALIANÇADOS.
Por isso Jesus afirma que na lançará fora de
modo nenhum, a qualquer que vier a Ele.
Assim, a segurança da salvação não é colocada
nas mãos dos cristãos, mas nas mãos do
Mediador.
É dito que a aliança é segura porque está assim
bem ordenada por Deus.
Ela foi planejada de tal modo a poder conduzir
pecadores ao céu.
Ela está tão bem estruturada que qualquer um
deles pode ter a certeza de que estará sendo
aperfeiçoado na terra e a conclusão desta obra
de aperfeiçoamento será concluída no céu.
E uma das razões para que o aperfeiçoamento
não seja concluído na terra, é para que se saiba
que a aliança é de fato para pecadores, e não
para quem se considera perfeitamente justo,
embora todos os aliançados sejam chamados
agora a se empenharem na prática da justiça.
69
As misericórdias prometidas aos aliançados é
segura, e operarão de acordo com as condições
estabelecidas em relação à necessidade de
arrependimento e fé.
A aplicação particular destas misericórdias para
santificar os cristãos é segura.
É segura porque é suficiente.
Nada mais do que isto nos salvará, porque a base
da salvação repousa na fidelidade de Deus em
cumprir a promessa que Ele fez à casa de Davi, a
todo aquele que for encontrado nela, por causa
da sua fé no descendente, no Filho de Davi que é
Cristo.
É somente disto que a nossa salvação depende.
Muitos podem pensar que quando se conclama,
na profecia de Isaías, ao ímpio a deixar o seu
caminho e o homem maligno os seus
pensamentos para se voltar para o Senhor, para
achar misericórdia e perdão, porque se diz que
Deus é rico em perdoar, que isto não se aplique
às pessoas perversas.
No entanto, é um convite a todas as pessoas
porque não há quem não peque, e Cristo veio
salvar e justificar ímpios (Rom 4.5), de forma
que aquele que se julgar justo e bom a seus
próprios olhos jamais poderá ser salvo por
Cristo, porque Ele salva aqueles que se
reconhecem pecadores.
70
Para esclarecer este ponto, para que ninguém
fizesse uma avaliação errada relativa à sua real
condição diante de Deus, Ele declarou que os
seus pensamentos não são os nossos
pensamentos, nem os nossos caminhos os seus
caminhos (Is 55.8).
Se nos compararmos com outras pessoas é
possível que nos achemos bons e justos.
Mas se contemplarmos os que estão no céu,
especialmente ao próprio Deus em sua perfeita
santidade e glória, nós veremos quão
imperfeitos somos.
Clamaremos tal como Isaías fizera no capítulo
sexto, quando viu a santidade e glória com que
os serafins louvavam ao Senhor no Seu trono de
glória.
Por isso se ordena que olhemos para Cristo para
que sejamos salvos, porque somente quando
contemplamos a majestade da sua santidade, é
que podemos enxergar qual é o nosso real
quadro de miséria e de necessidade que temos
de sermos salvos por Ele.
Então esta salvação não será achada em nós
mesmos. Porque ela nos vem inteiramente
destes caminhos e pensamentos elevados de
Deus que procedem do céu e não da terra.
É do alto que a graça e o Espírito são
derramados, e por isso somos conclamados a
71
olhar para o alto, para Cristo, para o tesouro do
céu e não para o que é terreno, quando o assunto
se refere à nossa salvação.
Esta salvação vem do alto, mas a Palavra que
salva foi revelada por Cristo na terra, e está não
apenas na Bíblia, mas junto da nossa boca e
coração, para que façamos a confissão da fé no
Seu nome e senhorio, para que sejamos salvos.
Deus pôs esta autoridade para nos salvar na Sua
Palavra. A palavra do evangelho é a semente que
contém a vida eterna.
De maneira que todo o que crê na Palavra da
verdade será salvo, porque esta Palavra gerará
em seu coração a fé pela qual Deus o salvará. Por
isso Ele afirma o que se lê em Is 55.10,11.
Estes que crerem no evangelho e forem salvos
sairiam dando testemunho por todas as partes
com a alegria e a paz com que seriam guiados
pelo Espírito Santo, e por onde passarem
anunciando as boas novas, a maldição será
transformada em bênção porque se diz que em
vez de espinheiros e sarças, cresceriam a faia e
a murta que são plantas ornamentais. E isto
seria para o Senhor um nome e um sinal eterno
que nunca se apagará (v. 12, 13).
72
A Bênção da Graça Perdoadora
Se
nada mais fosse dito além das coisas
referidas nos capítulos anteriores ao 30º do livro
de Deuteronômio, e o livro fosse fechado com as
palavras do capítulo precedente (29º), não
haveria nenhuma esperança para Israel
prosseguir como povo da aliança feita com
Abraão, Isaque e Jacó, e mesmo da aliança feita
com eles no Sinai, porque a maldição da Lei os
baniria para sempre da presença de Deus
quando invalidassem a aliança com os seus
pecados.
Entretanto, o capítulo 30º de Deuteronômio é
iniciado com a promessa de Deus de usar de
misericórdia para com eles, quando na terra do
seu cativeiro eles se voltassem arrependidos de
seus pecados para Ele.
A Lei colocou diante deles a escolha da bênção
ou
da
maldição,
conforme
o
seu
comportamento diante do Senhor e dos Seus
mandamentos.
Haveria bênçãos no caso de obediência, e
maldições no caso de desobediência.
Servir ou não a Deus não seria uma opção que
não afetaria as suas vidas.
73
Ao contrário, seria uma questão de vida ou de
morte.
A Aliança que eles fizeram com o Senhor não
gerou um compromisso de serem meramente
religiosos, mas um compromisso que afetaria
profundamente o rumo das suas vidas; quer
para o bem, quer para o mal.
O bem por escolherem ouvir o Senhor e
guardarem os Seus mandamentos, e o mal, em
caso contrário.
Mas eles são lembrados que não estavam diante
de um Deus inflexível e implacável, pois Ele
sabia perfeitamente que o homem é carnal e
dado a se desviar dos Seus caminhos, e não
andará neles caso não seja assistido pela Sua
graça e misericórdia, e também pelo temor que
Lhe é devido.
Assim como Ele disse que não destruiria mais a
terra com as águas do dilúvio, por saber que o
homem é carnal; de igual modo Ele fez
promessas de misericórdia para que Israel
pudesse retornar para Ele depois que eles Lhe
tivessem voltado as costas para servirem a
outros deuses.
Ele aceitaria a esposa infiel de volta, desde que
esta deixasse os seus amantes e voltasse para o
Seu marido.
74
O Senhor sabia em todo o tempo que estava
entrando em aliança com uma esposa que lhe
seria infiel em várias ocasiões, mas nem por isso
deixou de desposá-la (a nação de Israel) porque
a amava.
De igual modo, os cristãos da Igreja de Cristo,
apesar de suas infidelidades para com o Senhor,
não podem romper o laço matrimonial que têm
com Ele porque são laços indissolúveis em razão
da perfeita fidelidade do Senhor, que
permanece fiel ao que nos tem prometido,
apesar da nossa infidelidade.
Afinal, foram libertados da escravidão ao
pecado, por Cristo, para viverem em obediência
completa a Deus, mas como carregam a
fraqueza da carne neste mundo, há esta ação da
misericórdia restauradora do Senhor operando
em suas vidas para serem curados de suas
apostasias e pecados.
Por esta promessa de misericórdia e
restauração da Antiga Aliança, vemos que o
caráter de Deus é realmente perdoador e
compassivo.
Nenhum pecador, por pior que seja, poderá se
desculpar em juízo de não ter alcançado a
salvação, porque a misericórdia do Senhor é
infinita.
75
Ele tem prometido que usa de misericórdia com
qualquer um, independentemente de seus
méritos.
Isto significa que ninguém poderá impugnar a
decisão de Deus de usar de misericórdia para
com o pior dos pecadores, porque Ele
determinou em Sua Soberania usar de
misericórdia com quem Ele quisesse, isto é,
conforme a Sua própria vontade, e nada mais.
Ninguém poderá se desculpar pelo fato de se ter
desviado e não ter buscado reconciliação com o
Senhor e com a Sua Igreja, porque ninguém está
excluído de alcançar misericórdia quando se
arrepende e se volta para Deus.
O verso 10 fala de conversão e do modo desta
conversão:
“quando obedeceres à voz do Senhor teu Deus,
guardando os seus mandamentos e os seus
estatutos, escritos neste livro da lei; quando te
converteres ao Senhor teu Deus de todo o teu
coração
e
de
toda
a
tua
alma.”
Os versos 11 a 14 falam da possibilidade e alcance
próximo desta conversão, uma vez que a
vontade revelada de Deus é conhecida na Sua
Palavra, e o que crê na Palavra do Senhor e se
dispõe
a
obedecê-la,
será
salvo.
Estas palavras de Moisés citadas nos versos 11 a
14 são usadas pelo apóstolo Paulo em Rom 10.68 para se referir ao evangelho de Cristo, que
76
salva mediante a mesma conversão em se dizer
não ao pecado e se voltar para Deus e para a Sua
Palavra:
“Porque este mandamento, que eu hoje te
ordeno, não te é difícil demais, nem tampouco
está longe de ti. Não está no céu para dizeres:
Quem subirá por nós ao céu, e no-lo trará, e nolo fará ouvir, para que o cumpramos? Nem está
além do mar, para dizeres: Quem passará por
nós além do mar, e no-lo trará, e no-lo fará ouvir,
para que o cumpramos? Mas a palavra está mui
perto de ti, na tua boca, e no teu coração, para a
cumprires.” (Rom 10.11 a 14).
O que tanto Moisés quanto Paulo querem se
referir é que a Palavra de Deus para a salvação já
foi revelada por Ele de uma vez para sempre e
está registrada na Bíblia.
Não precisamos de nenhuma nova revelação, de
nenhum novo profeta, de nenhuma nova visão
ou sonho para sabermos qual é a vontade de
Deus relativamente a nós para que possamos ser
salvos.
A Sua vontade já está revelada na Bíblia.
O Espírito Santo abrirá o entendimento
daqueles que Se aproximarem de Deus com
todo o coração e alma, para que possam não
somente entender a Sua Palavra, como também
a serem transformados por meio dela em novas
criaturas.
77
Há uma ilustração interessante neste capítulo,
quanto ao fato de que os povos inimigos que o
próprio Deus trouxe para oprimir e desterrar os
israelitas, por causa da sua desobediência,
seriam repreendidos pelo Senhor assim que Seu
povo buscasse se converter dos seus maus
caminhos.
O mesmo se dá com cristãos desobedientes que
são entregues a Satanás para destruição da
carne.
Caso eles se arrependam dos seus pecados e
voltem para Deus numa verdadeira conversão
que implique na obediência à Sua Palavra, eles
não são apenas restaurados à comunhão, como
os espíritos malignos que os oprimiam são
repreendidos e afastados pelo Senhor.
Muitas das aflições que sofremos têm o
propósito
de
nos
conduzirem
ao
arrependimento e à conversão ao Senhor e à Sua
Palavra.
Ninguém deve contar com a aprovação e a
bênção do Senhor quando vive na prática
deliberada do pecado, mas pode e deve esperar
a Sua bênção quando se arrepende e se converte
dos seus maus caminhos.
Isto é prometido pelo Senhor abundantemente
em várias passagens das Escrituras, como por
exemplo em Jer 31.18-20 e II Crôn 7.13,14.
78
Verdadeiros penitentes podem ter grande
encorajamento quanto às compaixões e
misericórdias do Senhor, que nunca falham.
Moisés fecha este capítulo 30º com uma
convocação aos israelitas para que se
apegassem verdadeiramente ao Senhor, porque
nisto estava a felicidade e a vida deles.
Não haveria nenhuma bênção vivendo longe do
Senhor.
Não haveria nenhuma vida aparte da comunhão
com Ele.
Seria marcante entre eles a diferença que
haveria entre os que servissem e amassem a
Deus e aqueles que não o servissem e amassem,
porque o próprio Deus os distinguiria com o
derramar da sua bênção e vida para os
primeiros, e das suas maldições e castigos para
os últimos.
A adoração verdadeira ao Senhor traria vida, e a
adoração aos falsos deuses lhes traria morte.
É isto o que sempre ocorreu no mundo.
Os que se voltam para Deus encontram a vida, e
os que resistem a Ele à Sua vontade
permanecem debaixo da Sua ira e mortos em
seus pecados.
A Palavra de Deus é um atalaia que adverte aos
homens em toda a parte sobre a sua condição
diante de Deus.
79
Ela é uma Palavra de vida para os que nela creem
e se arrependem de seus pecados, por darem
crédito à Palavra do Senhor que é a verdade.
E os que a ignoram ou que resistem a ela não lhe
dando a devida atenção permanecerão
condenados em seus pecados.
Por isso Jesus diz quanto à Palavra do evangelho:
“Quem me rejeita, e não recebe as minhas
palavras, já tem quem o julgue; a palavra que
tenho pregado, essa o julgará no último dia.” (Jo
12.48).
O sentido do Novo Testamento é o mesmo,
porque o evangelho coloca todo homem diante
da vida ou da morte, da maldição ou da bênção.
“Quem crer e for batizado será salvo; mas quem
não crer será condenado.” (Mc 16.16).
80
A Graça Está Sujeita a Decadências
“Apo 2:25 - tão-somente conservai o que tendes,
até que eu venha.”
“Apo 3:11 - Venho sem demora. Conserva o que
tens, para que ninguém tome a tua coroa.”
“Gál 5:4 - De Cristo vos desligastes, vós que
procurais justificar-vos na lei; da graça
decaístes.”
Estas passagens bíblicas, entre outras de igual
teor, apontam para o fato de que a graça está
sujeita a decadências.
Se não nos exercitarmos espiritualmente todos
os dias, e se nos tornamos negligentes no uso
dos meios destinados a fortalecer a graça
(oração, vigilância, meditação e prática da
Palavra, comunhão dos santos etc), podemos ter
como certo de que seremos achados
enfraquecidos na fé, sofremos perdas em nossa
santificação e comunhão com Deus.
Daí a advertência apostólica:
“Aquele, pois, que pensa estar em pé veja que
não caia.” (I Cor 10.12)
Ele diz: o “que pensa”, porque é possível
pensarmos que estamos fortificados na graça do
81
Senhor, quando na verdade podemos estar
enfraquecidos.
Todavia, caso estejamos fortificados nesta graça
em que estamos firmes por causa da obra de
Jesus em nosso favor, é importante prestarmos
a devida consideração à referida advertência,
porque é possível a qualquer santo que venha a
ficar enfraquecido na graça, por falta de
diligência espiritual, e cair da comunhão com o
Senhor, ainda que não para uma queda final,
que signifique a perda da sua salvação.
A coroa que podemos perder citada por nosso
Senhor em Apo 3.11 refere-se ao galardão futuro,
e para que tal não suceda devemos guardá-la por
não permitir que o fascínio do mundo, as
tentações de Satanás, um viver segundo a carne,
a furtem de nós.
Decadências na graça são comuns na vida da
maioria dos crentes, em uns são mais graves e
constantes do que em outros, todavia, importa
que sempre nos levantemos no caminho
estreito em que nos encontramos pela fé, toda
vez que nele cairmos, de modo que retomemos
a nossa caminhada e nos fortifiquemos na graça
que está em Jesus Cristo, de modo a
permanecermos e perseverarmos na nossa
jornada neste caminho estreito que nos conduz
a uma mais íntima comunhão e conhecimento
do Senhor, e por fim ao céu.
82
Alianças e Dispensações Para um Único
Propósito
Deus interage com a humanidade através de
dispensações e alianças ou pactos, previamente
prefixados por Ele em Sua onisciência e
soberania, para conduzir-nos até a conclusão da
história da nossa redenção, quando todas as
coisas serão restauradas em Jesus Cristo com a
criação de um novo céu e de uma nova terra.
Se nos detivermos examinando com paciência
estas dispensações e alianças a partir da
perspectiva do próprio Deus ao planejá-las
tendo o grande fim em vista de glorificar em
Cristo uma humanidade que havia caído no
pecado, podemos entender que não se trataram
de dispensações e alianças independentes e
para fins particulares, senão, partes integrantes
visando ao mesmo fim.
Então, quando a primeira aliança foi feita com
Adão, baseada na obediência perfeita do
homem e toda a sua descendência para a vida,
ou da desobediência para a morte, o grande alvo
era o de encerrar a todos sob o pecado (Gál 3.22),
de forma a possibilitar que a promessa da
salvação pudesse ser fosse concedida a todos os
que nEle cressem.
Assim, estas dispensações e alianças existem
cronologicamente para nós, mas para Deus,
83
especialmente a chamada Nova Aliança em
Jesus Cristo, têm um alcance atemporal, pois
elas abrangem ou estão relacionadas a todas as
gerações da humanidade.
Este foi o caso da aliança feita com Noé, de haver
continuidade da multiplicação e manutenção da
raça humana e de todos os demais seres
viventes sobre a face da terra, e de não haver
mais destruição por águas de dilúvio (Gên 9.917).
Esta promessa de não haver destruição da raçã
humana por Deus e de todas as condições
necessárias para a sua manutenção é a garantia
do cumprimento da promessa da aliança da
redenção (Nova Aliança), feita a Abraão, a qual
se manifestaria a partir do seu descendente
(Cristo – Gál 3.16), e cujo benefício alcançaria até
mesmo Adão e os seus descendentes que
tivessem vivido antes de Abraão, e que tivessem
sido justificados por meio da sua fé em Deus.
Somente cerca de 430 anos depois da promessa
da Nova Aliança feita a Abraão, Deus
estabeleceu uma aliança exclusiva com os
israelitas nos dias de Moisés, a qual chamamos
de Antiga Aliança ou Velho Testamento.
Apesar desta Antiga Aliança, ou Aliança da Lei,
ter sido feita com a nação de Israel, ela estava
inserida no contexto do plano da redenção da
humanidade, conforme citamos anteriormente.
84
Todavia, seria de breve duração, na chamada
Dispensação da Lei, que durou cerca de 1440
anos. Este foi o período de vigência que Deus
estabeleceu para ela.
Assim, a Nova Aliança que tem vigorado na
chamada Dispensação da Graça, desde que
Jesus morreu e ressuscitou, é denominada
Nova, não no sentido de ser a mais recente, ou
uma aliança que não teria qualquer tipo de
vinculação com as anteriores, mas, sim, que ela
é a aliança através da qual se cumpre o propósito
redentor de Deus, desde que Ele havia coberto o
primeiro casal com as peles de animais
sacrificados, e de lhes ter feito a promessa de
um descendente (Cristo) que esmagaria a
cabeça da Serpente, Satanás, o diabo.
Os que estão aliançados com Cristo estão
também aliançados com a Sua vitória. É nEle,
segundo a promessa de aliança que Deus fizera
desde Abraão, que eles são perdoados, lavados
de seus pecados e regenerados e santificados
pelo Espírito Santo, para estarem reconciliados
com Deus como seus filhos amados.
Por isso temos em muitas passagens bíblicas no
próprio Velho Testamento, ou seja, nos dias da
Antiga Aliança, várias promessas relativas à
Nova Aliança, especialmente nos profetas,
como por exemplo em:
Jeremias 31.31-34:
85
“Jer 31:31 Eis aí vêm dias, diz o SENHOR, em que
firmarei nova aliança com a casa de Israel e com
a casa de Judá.
Jer 31:32 Não conforme a aliança que fiz com
seus pais, no dia em que os tomei pela mão, para
os tirar da terra do Egito; porquanto eles
anularam a minha aliança, não obstante eu os
haver desposado, diz o SENHOR.
Jer 31:33 Porque esta é a aliança que firmarei
com a casa de Israel, depois daqueles dias, diz o
SENHOR: Na mente, lhes imprimirei as minhas
leis, também no coração lhas inscreverei; eu
serei o seu Deus, e eles serão o meu povo.
Jer 31:34 Não ensinará jamais cada um ao seu
próximo, nem cada um ao seu irmão, dizendo:
Conhece ao SENHOR, porque todos me
conhecerão, desde o menor até ao maior deles,
diz o SENHOR. Pois perdoarei as suas
iniquidades e dos seus pecados jamais me
lembrarei.”
Ezequiel 36.26,27:
“Eze 36:26 Dar-vos-ei coração novo e porei
dentro de vós espírito novo; tirarei de vós o
coração de pedra e vos darei coração de carne.
Eze 36:27 Porei dentro de vós o meu Espírito e
farei que andeis nos meus estatutos, guardeis os
meus juízos e os observeis.”
86
O capítulo 31 de Jeremias é introduzido pela
citação “Naquele tempo”, ou seja, nos dias da
Nova Aliança, da dispensação da graça.
O Senhor diz que na referida época, Ele seria o
Deus de todas as famílias de Israel e elas seriam
o Seu povo (Jer 31.1), isto, sabemos agora, por
causa da promessa de que todo cristão seria um
verdadeiro israelita, conhecido e conhecedor de
Deus, integrante de Sua família, porque de outro
modo, seria impossível o cumprimento de tal
promessa em que todas as famílias de Israel
pudessem ser consideradas integrantes do
verdadeiro povo de Deus.
Deus faria isto por causa do Seu grande amor
que é eterno, e da Sua benignidade que atrairia
aqueles que salvaria pela Sua misericórdia a Si
mesmo, e hoje sabemos que Ele o faz, nos
atraindo a Jesus Cristo para sermos salvos por
Ele (Jer 31.3).
Haveria nestes dias futuros de bênçãos quem
gritasse como sentinelas no monte de Efraim,
que se subisse ao monte Sião, à presença do
Senhor, porque haveria cânticos de alegria, e
haveria exultação por causa de Israel, que seria
posta como a principal das nações, e o que se
proclamaria seria o seguinte: “Salva, Senhor, o
teu povo, o resto de Israel.”. Este resto de Israel,
é o remanescente fiel deste povo que será salvo
por Cristo.
87
O Senhor havia falado antes somente em
destruir, mas agora Ele está falando de uma
edificação que ocorreria no futuro.
Já não falaria mais em destruição, mas em
edificação, por isso Jesus disse que não veio
condenar o mundo, ou julgá-lo, mas salvá-lo, ou
seja, na presente dispensação da graça, Ele está
sendo inteiramente longânimo para com todos
os pecadores, na expectativa de que se
arrependam e vivam.
Ele estará convocando, através da Igreja, as
pessoas de todos os recantos da terra, para que
se arrependam e creiam nEle para que vivam,
em vez de destruí-las por causa dos seus
pecados.
Então, em face de tal graça e misericórdia, os de
Israel, que haviam sido espalhados pelas
nações, por causa dos juízos de Deus, tornariam
a ser reunidos por Ele em sua própria terra,
assim como o pastor ajunta o seu rebanho para
guardá-lo.
O pecado e o diabo que eram mais fortes do que
Israel e que continuamente o levavam a pecar e
a se desviar de Deus, seriam vencidos por Jesus,
que é mais forte do que ambos, de modo que
uma vez sendo amarrados por Ele esses
valentes, Israel poderia ser libertado (Jer 31.11).
Então o Senhor passou a proclamar as bênçãos
que viriam não somente sobre os judeus, que
88
haviam sido deportados para Babilônia, como
também para os israelitas que haviam sido
levados em cativeiro pelos assírios, ou seja, para
os descendentes deles, especialmente sob o
governo de Jesus, quando fossem reunidos a Ele.
Haveria um clamor em Ramá, por causa da
matança de meninos de dois anos para baixo em
Belém e seus arredores, por ordem do Rei
Herodes, que tentaria impedir o cumprimento
da promessa de Deus, de dar a Seu povo o Rei
que o salvaria dos seus pecados (Jer 31.15, Mt
2.16-18).
Todavia, o propósito eterno de Deus não poderia
ser frustrado, e Herodes nada poderia fazer para
impedir a chegada a este mundo do Rei dos reis,
e Senhor dos senhores, por causa de quem o
povo de Deus canta com júbilo e fica radiante
com os benefícios do Senhor, em todas as Suas
provisões, e também por quem suas vidas se
tornam como jardins regados, de modo que
nunca mais desfalecerão.
Além disso, por causa da Nova Aliança em
Cristo, haverá cântico de júbilo nos altos de Sião,
que simbolizam a condição elevada da alma na
presença de Deus nas regiões celestiais (Jer 31.12
a).
Jovens e velhos dançariam alegremente quando
o Senhor edificasse o Seu povo, e o pranto deles
seria transformado em alegria, porque seriam
89
consolados pelo Espírito Santo, e o Senhor lhes
daria alegria no lugar da tristeza (v. 13).
Todo o choro pelas tribulações e aflições,
especialmente as produzidas pelo Inimigo,
deveria ser reprimido, bem como todas as
lágrimas dos olhos, porque o Senhor
recompensaria o trabalho dos Seu povo, e o
livraria da opressão do Inimigo (v. 16).
Os que haviam sido castigados deveriam
abandonar as suas queixas, e pedirem ao Senhor
para serem restaurados, porque estava
preparando uma nova dispensação (a da graça)
onde prevaleceria mais a Sua misericórdia do
que os Seus juízos, e os que se achavam
desviados poderiam regressar a Ele com
confiança, porque saciaria toda alma cansada e
fartaria toda alma desfalecida (v. 25).
Tudo isto fora dado em sonho a Jeremias (v. 26),
para que o Senhor o confirmasse logo depois ao
profeta com a promessa relativa à Nova Aliança,
na qual se cumpririam todas estas bênçãos que
ele vira em sonho.
Deus disse que no passado havia falado em
arrancar e derrubar, transtornar, destruir, e
afligir, relativamente às casas de Israel e de
Judá, como vemos nas Suas ameaças em quase
todo o Velho Testamento, mas disse que nos
dias que ainda viriam (dispensação da graça),
90
Ele agora vigiaria para edificar e para plantar (v.
28).
Por isso o apóstolo Paulo diz que a Igreja é a
lavoura de Deus, referindo-se a ela como uma
plantação, e também como o edifício de Deus,
porque o Senhor prometeu plantar e edificar, e
não arrancar e destruir o Seu povo nos dias da
Nova Aliança.
Nós vemos também o apóstolo se dirigindo à
Igreja carnal de Corinto, dizendo que os
repreenderia pelos seus pecados, mas que não
os destruiria porque o ministério que havia
recebido do Senhor era para edificação e não
para destruição (II Cor 13.10).
Deus revogaria também o princípio da
iniquidade dos pais ser visitada nos filhos até a
terceira e quarta geração, conforme previsto na
Antiga Aliança, porque na Nova, cada um
responderia pelos seus próprios pecados
perante Ele (Jer 31.29, 30).
Depois de ter feito esta introdução de promessas
de bênçãos, revelou ao profeta como elas se
cumpririam, a saber: com a entrada em vigor da
Nova Aliança no lugar da Antiga, conforme já
comentamos anteriormente (v. 31 a 34).
Para ratificar a imutabilidade deste Seu
propósito que se cumpriria em Cristo, o Senhor
afirmou que se tal promessa pudesse ser
revogada, então Israel deixaria também de ser
91
uma nação diante dEle para sempre, porque não
há outro modo de existir um povo para Deus,
senão na união dos Seus filhos com Jesus Cristo,
sendo salvos por Ele, pela justificação da Nova
Aliança, com a qual o próprio Abraão havia sido
justificado, antes mesmo da Lei, para que se
soubesse, que é por tal justificação em Cristo
que se tem vida eterna, e não pela Lei de Moisés
(v. 35, 36).
Deus não rejeitaria Israel apesar de tudo quanto
haviam feito, porque usaria de misericórdia e
salvaria o remanescente da referida nação, e
não deixaria de fazer isto de modo algum, e por
isso afirmou que o faria somente caso alguém
pudesse medir os céus e os fundamentos da
terra (v. 37).
Assim, os judeus deveriam ter confiança,
enquanto estivessem no cativeiro, que o Senhor
visava ao bem do Seu povo, e não à Sua
destruição, e que deveriam voltar com alegria e
com confiança para a sua própria terra, depois
que fossem libertados por Ele do cativeiro em
Babilônia, porque o Seu propósito para Israel é o
de que seja colocado como cabeça das nações na
terra para sempre, sem que possa ser jamais
derrubado, e isto terá cumprimento por ocasião
da volta de Jesus (v. 38 a 40).
Todos os que creem em Cristo fazem parte do
verdadeiro Israel de Deus. É a todos eles que são
feitas estas promessas. Eles governarão as
92
nações da Terra juntamente com Cristo no
período do milênio.
93
A Graça Nunca Desconsidera o Viver
Pecaminoso
A profecia de Isaías é considerada evangélica
porque fala do Messias se manifestaria ao
mundo para salvar os pecadores.
O evangelho é uma boa nova relativa à salvação,
mas não encobre o pecado do homem, e não
deixa de apontar para o juízo eterno de Deus
sobre o pecado, e a necessidade de fé e
arrependimento para o perdão dos pecados e a
consequente reconciliação com Deus.
Não é sem razão que o livro de Isaías seja muito
citado no Novo Testamento, porque, como
dissemos, o seu caráter é totalmente
evangélico, porque foi para esta missão de falar
do evangelho que Isaías foi chamado por Deus.
Então o enfoque na profecia de Isaías está na
obra operada pela graça e pelo poder de Deus, e
não pelo mero esforço pessoal do homem.
A graça evangélica que seria manifestada está
sempre associada à fé e ao arrependimento, e a
um caminhar condigno com a santidade de
Deus.
Os fariseus não podiam entender esta
mensagem, porque estavam endurecidos, mas
94
os apóstolos a entenderam perfeitamente
porque a viram encarnada na pessoa de Cristo.
Então é por isso que não vemos nenhuma das
epistolas escritas pelos apóstolos desobrigando
os crentes de um viver santo e piedoso, sob a
alegação de não estarem mais debaixo da Lei e
sim da graça do evangelho; porque sabiam que a
graça é do remanescente fiel, é dos eleitos, é
daqueles que amam a vontade de Deus, é
daqueles que detestam o pecado e que amam a
santidade.
Foi pra salvar estes que viriam a se arrepender o
pecado que Cristo se manifestou. Ele morreu
por todos os pecadores, mas apenas aqueles que
creem e se arrependem podem ser beneficiados
pela Sua morte e desfrutar das bênçãos
prometidas por Deus para o Seu povo.
No capítulo 29 de Isaías, Jerusalém é chamada
pelo codinome de Ariel. E o capítulo é
introduzido pela expressão interjetiva “Ah!”
como um suspiro, porque é relativa à cidade
onde Davi acampou, isto é, onde ele estabeleceu
a sua casa, porque Jerusalém era chamada de a
cidade de Davi.
Mas eles não andaram nos caminhos de Davi.
Não imitaram a sua devoção e piedade.
Então é proferido o que o Senhor lhe faria:
95
“Então porei Ariel em aperto, e haverá pranto e
lamentação; e ela será para mim como Ariel.” (v.
2).
São proferidas as assolações que lhes
sobreviriam da parte de Babilônia, que a sitiaria
e a abateria (v.3,4), e eles se sentiriam como
mortos que descem ao pó.
Muitos inimigos prevaleceriam contra Judá,
porque os babilônios viriam coligados a outros
povos contra Judá, como por exemplo os
moabitas e amonitas (v. 5).
Como todos os juízos do Senhor, isto viria
repentinamente, como o ladrão, tal como nos
dias de Noé, em Sodoma e Gomorra, e como
também será no tempo do fim, conforme Jesus
afirmou.
Deus está esperando bons frutos de árvores
más.
Antes, é dito na profecia que estas árvores más
serão cortadas.
Deus deixa entregues a si mesmos aqueles que
amam as trevas e não a luz. Aqueles que amam a
mentira e não dão ouvidos à verdade. Ele deixa
os que resistem continuamente à Sua vontade,
entregues ao próprio endurecimento deles. Ele
não lhes concede graça para que achem
arrependimento. E nem toca a trombeta de
alerta para eles para que despertem do sono de
96
morte em que se encontram, como vemos
afirmado nos versos 10 a 12 de Isaías 29:
“10 Porque o Senhor derramou sobre vós um
espírito de profundo sono, e fechou os vossos
olhos, os profetas; e vendou as vossas cabeças,
os videntes.
11 Pelo que toda visão vos é como as palavras
dum livro selado que se dá ao que sabe ler,
dizendo: Ora lê isto; e ele responde: Não posso,
porque está selado.
12 Ou dá-se o livro ao que não sabe ler, dizendo:
Ora lê isto; e ele responde: Não sei ler.”
Eles eram religiosos só de aparência. Eram
falsos piedosos em suas obras externas, mas não
tinham o poder da piedade operando pela graça
em seus corações. Então a devoção deles não era
em espírito e em verdade, mas uma adoração
falsa. Como se costuma dizer: da boca para fora,
mas não de fato e de verdade. Então se afirma o
que lemos no verso 13:
“Por isso o Senhor disse: Pois que este povo se
aproxima de mim, e com a sua boca e com os
seus lábios me honra, mas tem afastado para
longe de mim o seu coração, e o seu temor para
comigo consiste em mandamentos de homens,
aprendidos de cor;”.
Com isso o Senhor prometeu que faria uma obra
maravilhosa com aquele povo hipócrita, com
97
aqueles judeus que eram apenas no nome, mas
não no coração, que consistiria em maravilhas e
sinais externos, mas em fazer com que a
sabedoria dos seus sábios perecesse diante da
glória sobre-excelente do evangelho.
O entendimento dos entendidos a seus próprios
olhos nos assuntos da religião ficaria
obscurecido pela grande luz do evangelho,
porque pelo Espírito Santo derramado no
coração dos crentes, eles discerniriam que a
doutrina dos líderes de Israel não passava de
fumaça e de mandamentos de homens (v. 14).
Deus é onisciente e tudo sabe e conhece,
inclusive as intenções dos corações. Mas os que
não têm o Seu temor não conseguem ver esta
verdade, e vivem enganando e sendo
enganados, pensando que o Senhor não leva tal
procedimento em consideração (v. 15). Não
sabem que há um “Ai!” proferido contra eles,
porque serão afligidos no dia do juízo.
Eles não conseguem enxergar que Deus é o
oleiro e não o barro. Ao contrário, agem como se
fossem oleiros, pensando que podem manipular
o Senhor em suas obras e ações, e por isso
rejeitam o Seu governo e disciplina em suas
vidas (v. 16).
Assim, enquanto os sábios e entendidos, que
pensavam enxergar e conhecer completamente
a Deus e a Sua vontade, permaneceriam cegos e
98
endurecidos pelo Senhor, Ele daria vista
espiritual aos que se reconheciam cegos, isto é,
ignorantes da Sua pessoa e vontade, e daria que
aqueles que nunca ouviram ou não podiam
entender a Sua Palavra, pudessem ouvi-la e
compreendê-la (v. 17, 18).
Deus não se revelaria aos sábios e entendidos a
seus próprios olhos, mas aos pequeninos, a
saber, aos mansos (submissos), aos pobres de
espírito, e por isso se afirma que são estes os que
são bem-aventurados porque são aqueles a
quem Deus se dará a conhecer, como também a
Sua vontade.
Deste modo, estes pequeninos que se
converteriam ao evangelho não se alegrariam e
não gloriariam em si mesmos e no seu
conhecimento, mas unicamente no Senhor (v.
19).
Enquanto isto, os opressores, os arrogantes,
seriam reduzidos a nada, e todos os
escarnecedores da verdade e todos os que se dão
à iniquidade, seriam desarraigados, porque não
serão eles que herdarão a terra, senão somente
aqueles que se deixam instruir por Deus, porque
são mansos e pobres de espírito (v. 20).
Estes que são desarraigados têm alguns dos seus
pecados descritos no verso 21:
99
“os que fazem por culpado o homem numa
causa, os que armam laços ao que repreende na
porta, e os que por um nada desviam o justo.”
Os versos 22 a 24 descrevem de modo muito
claro a grande verdade evangélica que somente
quem é espiritual pode discernir as coisas
espirituais, e tudo discernir sem ser por
ninguém discernido.
Então Deus fala pelo profeta nestes versículos
que esta mensagem ficará selada para o
entendimento dos israelitas, e assim eles não
poderiam ficar envergonhados da glória vazia da
devoção deles, pensando que fosse algo muito
elevado, quando na verdade era uma adoração
de lábios de corações afastados do Senhor. Mas
isto, como se diz no verso 23 só poderia ser
discernido quando o Senhor fizesse a obra das
Suas mãos no meio de Israel através de Jesus
Cristo, então santificariam o Santo de Jacó e
temeriam ao Deus de Israel, porque veriam que
o Seu reino não consiste em palavras, mas em
demonstração do Espírito Santo e de poder, o
que seria manifestado pelo evangelho.
Tão abundante seria o derramar da graça, que
os errados de espírito viriam a ter
entendimento, e os murmuradores deixariam a
murmuração para aprenderem a instrução do
Senhor (v. 24).
100
A Graça se Manifesta na Nossa Fraqueza
“12 Irmãos, rogo-vos que sejais como eu, porque
também eu sou como vós; nenhum mal me
fizestes.
13 E vós sabeis que primeiro vos anunciei o
evangelho estando em fraqueza da carne;
14 E não rejeitastes, nem desprezastes isso que
era uma tentação na minha carne, antes me
recebestes como um anjo de Deus, como Jesus
Cristo mesmo.
15 Qual é, logo, a vossa bem-aventurança?
Porque vos dou testemunho de que, se possível
fora, arrancaríeis os vossos olhos, e mos daríeis.
16 Fiz-me acaso vosso inimigo, dizendo a
verdade?” (Gál 4.12-16).
Paulo
roga humildemente aos crentes da
Galácia como um pai que insta com seu filho
perdido a voltar ao mesmo bom caminho em
que andava antes da sua perdição.
Ele havia desabafado no verso 11 dizendo que
estava perplexo com o que eles haviam feito, e
receava então que estivesse trabalhando em vão
em relação a eles.
101
Mas como que lembrando imediatamente da
condição deles de terem sido feitos filhos de
Deus, tal como ele havia sido feito também, ele
desce ao nível deles, não no que se refere ao
pecado, mas da miséria deles, e por um
momento também se sente miserável com eles,
ante a impotência de poder fazer por si mesmo
algo em relação a eles, de modo que todo o seu
trabalho e cuidado não se tornasse infrutífero.
Assim lhes fez recordar quão grande era o afeto
que eles tinham por ele quando lhes pregou o
evangelho pela primeira vez, e como lhe haviam
tratado tão bem, mesmo diante da sua fraqueza
na ocasião, provavelmente em razão de alguma
possível enfermidade, pois lhes disse que
estavam dispostos até mesmo, se possível fora, a
arrancarem os seus próprios olhos para lhos
darem.
Ou isto foi o resultado de ferimentos produzidos
pelo apedrejamento que ele havia sofrido dos
judaizantes naquela região. O livro de Atos conta
detalhes do que ocorreu ao apóstolo quando
pregava o evangelho nas cidades da Galácia
(Perge, Derbe, Listra, Antioquia da Psídia e
Icônio).
Aquela fraqueza quanto à sua incapacidade e
impotência pessoais, serviram aos propósitos de
Deus, porque o poder de Cristo, e a Sua graça, se
aperfeiçoam na nossa fraqueza. De modo que
quando somos fracos então é que somos fortes,
102
porque trocamos a nossa incapacidade pelo
poder do Espírito Santo, que nos assiste nas
nossas fraquezas.
Deste modo, Paulo introduz esta seção da
epístola chamando a todos os crentes gálatas de
irmãos.
Ele quer demonstrar que apesar de apóstolo de
Cristo ele não se envergonha de chamá-los de
irmãos, desde o maior até o menor deles, assim
como o nosso Salvador também não se
envergonha de nos chamar de irmãos, apesar de
ser o nosso Senhor.
No amor cristão as diferenças se dissolvem.
Assim como Cristo se rebaixou deixando a
glória dos céus, por amor, também devemos nos
humilhar para que possamos ser úteis àqueles
que se encontram em necessidade espiritual,
que é comum a todos nós.
Não devemos lhes falar do alto da nossa
autoridade e importância (que na verdade nem
é nossa, caso a tenhamos, mas de Cristo),
porque esmagaríamos a cana quebrada e
apagaríamos o pavio fumegante, e certamente
não é este o ministério do Senhor Jesus neste
mundo, porque tem se compadecido das nossas
misérias espirituais.
Quando o próprio Paulo havia pregado o
evangelho em fraqueza, os gálatas superaram
103
por causa do seu amor a ele, a tentação que foi
para eles vê-lo naquela fraqueza.
Eles não o desconsideraram e nem o
desprezaram como possivelmente estavam
fazendo agora, por causa dos argumentos dos
judaizantes, porque procuravam por todos os
meios desqualificar e rebaixar o apóstolo diante
dos seus olhos, afirmando que se fosse
verdadeiro ministro de Cristo não estaria sujeito
a tantas tribulações, fraquezas e perseguições.
Os falsos apóstolos se gloriavam das suas
honrarias, das suas posses e conquistas
terrenas, alegando que eram bênçãos de Deus
por observarem a Lei de Moisés.
Agora os gálatas não haviam conseguido vencer
a tentação de considerar Paulo alguém que não
era bem sucedido segundo os padrões do
mundo.
Ele rogou que eles voltassem a ser como foram
no princípio. Que não julgassem segundo a
aparência, e que não interpretassem as
tribulações como prova de um possível desfavor
de Deus.
A grande preocupação do apóstolo não era com
a questão de receber a honra que lhe era devida,
mas com a própria condição espiritual dos
crentes gálatas que estavam se desviando da
simplicidade que é devida a Cristo, e sem a qual
104
não é possível termos comunhão uns com os
outros.
Paulo fecha esta seção da epístola afirmando
que o que estava dizendo quanto à reprovação
do que eles estavam fazendo agora, que ela não
era movida por nenhum ressentimento pessoal,
ou por inimizade, ao contrário, eram palavras de
um autêntico amigo, porque eram a pura
expressão da verdade. O amor folga com a
verdade.
O amor não recorre à mentira. Que então os
gálatas aprendessem a julgar segundo a reta
justiça conforme convém a todo filho de Deus.
Um verdadeiro amigo prevenirá o seu irmão que
estiver errando, e se o irmão errado tiver algum
senso ele agradecerá ao seu amigo.
O apóstolo queria que os gálatas soubessem por
que ele lhes tinha falado a verdade, para o
próprio bem deles, e que não pensassem que ele
os repugnava. Ele lhes falou a verdade porque os
amava.
105
A Justiça do Evangelho Testemunhada
pela Lei e pelos Profetas
Nos livros proféticos do Velho Testamento nós
podemos constatar em inúmeros detalhes
várias predições relativas ao ministério terreno
de Jesus Cristo como também a glória do seu
reino que se manifestará no final dos tempos.
É com tão grande exatidão que estas predições
se cumpriram nEle e em tudo o que tem
ocorrido no mundo desde então, especialmente
pela obra do Espírito Santo através dos Seus
santos na Terra, as quais não poderiam ser
cumpridas em nenhum outro, que podemos ter
a firme convicção da completa inteireza da fé
que professamos na Palavra revelada de Deus na
Bíblia.
Quão profundo e maravilhoso é que o Deus que
é totalmente santo, justo e perfeito, criador de
todas as coisas que existem no céu e na Terra, se
manifestasse a pecadores como nós, e nos
revelasse o Caminho para a salvação de nossas
almas que se encontravam perdidas.
Quando examinamos por exemplo, o capítulo 32
de Isaías, nós vemos nos versos 1 a 5; e 15 a 18
condições que prevaleceriam nos dias do
evangelho.
106
O reinado do Messias seria de justiça, e os
príncipes que estariam juntamente com ele,
governariam com justiça (v. 1).
Somente um varão (Cristo) serviria de abrigo
contra o vento e refúgio contra a tempestade, e
seria como ribeiros de águas em lugares secos,
e a sombra numa terra sedenta; ou seja, Ele seria
o amparo e o socorro do Seus povo nas
tempestades de aflições que têm que enfrentar
neste mundo; bem como o Provedor de todas as
suas necessidades, especialmente a de saciar a
sua sede espiritual de justiça (v.2).
Aqueles que andassem por fé e não por vista, ou
seja, com os olhos espirituais abertos, jamais
teriam sua visão ofuscada; assim como aqueles
que têm seus ouvidos espirituais abertos, para
ouvirem o que o Espírito Santo diz à Igreja,
sempre ouviriam a voz de Deus, dando-lhes
conhecimento da Sua vontade (v. 3).
É dito que o coração dos imprudentes, ou seja
dos precipitados, dos temerosos, entenderia o
conhecimento na dispensação do evangelho,
indicando isto que a graça capacitaria e guiaria
na instrução de uma vida piedosa segundo o
conhecimento de Deus e da verdade, que seria
alcançado pela conversão e pelo trabalho
progressivo da santificação, pessoas que têm
dificuldade para aprenderem a prudência e a
sabedoria de Deus (v. 4).
107
É dito também no verso 4 que a língua dos gagos
estaria pronta para falar distintamente. Isto
significa que pessoas não eloquentes, ou com
dificuldades para se expressarem verbalmente
seriam capacitadas pelo Espírito Santo na
dispensação do evangelho a pregarem e a darem
testemunho de Cristo com ousadia e
desprendimento.
O discernimento do Espírito Santo permitiria ao
crente conhecer que não há qualquer nobreza
espiritual na tolice, e também conhecer as
aparentes generosidades que procedem de
corações avarentos (v. 5).
As reformas que o rei Ezequias estava realizando
em Judá não tinham o poder de estabelecer um
governo no coração dos seus súditos. Mas o Rei
justo prometido neste capítulo 30 de Isaías,
Jesus, o Messias, somente Ele, tem o poder de
gerar uma obediência que seja de dentro para
fora, e não apenas exterior, porque tem o poder
de estabelecer o Seu governo no coração dos
Seus servos, e além disso, realizar a
transformação de suas vidas e caráter.
Nos versos 15 a 18 nós temos o registro do modo
como seria estabelecido este governo no
coração, e as suas consequências abençoadas.
É dito no verso 15 que tal sucederia a partir do
momento que o Espírito fosse derramado lá do
alto sobre o povo de Deus. Sabemos que isto
108
começou a acontecer desde o dia de Pentecostes
em Jerusalém, com os primeiros discípulos,
logo após a morte e ressurreição de Jesus.
A consequência disto é que o deserto se tornaria
em campo fértil (v. 15b). Os campos desolados e
infrutíferos dos corações desertos seriam
tornados férteis e frutíferos para Deus pela água
viva do Espírito Santo, na regeneração e na
santificação dos salvos.
Estes desertos infrutíferos (pessoas) que nada
entendiam e vivam do juízo e da justiça de Deus,
teriam esta justiça habitando neles, porque o
Espírito passaria a habitar em seus corações (v.
16).
Estes que foram justificados por Deus, por causa
da obra de Reforma do coração, realizada pelo
Rei prometido teriam paz com Deus, porque
seriam reconciliados com Ele por meio da
justiça de Cristo que receberam pela graça,
mediante a fé. E somente isto seria o suficiente
para lhes garantir o sossego e a segurança
eterna, pelo livramento da condenação e da ira
de Deus, que repousaria sobre eles (v. 17).
A estes que foram assim justificados foi feita a
promessa de Deus de que habitariam em
moradas de paz, em moradas bem seguras e em
lugares quietos de descanso, porque os que são
da fé têm entrado no descanso de Deus, que não
é propriamente um lugar, mas a condição de
109
alma e espírito que estão em plena comunhão
com Ele, e assim não podem ter qualquer temor
(v.18).
Estas boas promessas dos dias do evangelho
estão entremeadas com as repreensões e juízos
dos versos 6, 10 a 14 e 19, nos quais são
repreendidos os tolos e especialmente as
mulheres
de
Israel
que
viviam
em
deslumbramento em vez de uma vida de
humildade, piedade e santidade.
Elas, assim como todo o povo de Judá não
deveriam se gloriar na prosperidade material
que haviam alcançado sob o reinado de Ezequias
e nem na glória do palácio real, porque toda
aquela prosperidade viria a ser removida da
terra, que seria deixada deserta, bem como o
palácio real.
Esta profecia demonstra que toda glória terrena
é passageira e aparente, e não é nela em que
deve estar o nosso coração, senão somente no
Senhor, que é o Rei de reis, cujo reino é eterno e
inabalável.
110
A Justiça Manifestada sem Lei
“Mas agora, sem lei, se manifestou a justiça de
Deus testemunhada pela lei e pelos profetas;
justiça de Deus mediante a fé em Jesus Cristo,
para todos e sobre todos os que creem; porque
não há distinção, pois todos pecaram e carecem
da glória de Deus, sendo justificados
gratuitamente, por sua graça, mediante a
redenção que há em Cristo Jesus, a quem Deus
propôs, no seu sangue, como propiciação,
mediante a fé, para manifestar a sua justiça, por
ter Deus, na sua tolerância, deixado impunes os
pecados anteriormente cometidos; tendo em
vista a manifestação da sua justiça no tempo
presente, para ele mesmo ser justo e o
justificador daquele que tem fé em Jesus.” (Rom
3.21 a 26)
A
justiça
prometida
por
Deus
para
a
justificação de pecadores, e que passou a se
manifestar na dispensação da graça, à qual
Paulo chama de tempo presente, com a vinda de
nosso Senhor Jesus Cristo a este mundo para
morrer na cruz, foi profetizada nas Escrituras do
Velho Testamento, porque Paulo diz que ela foi
testemunhada pela Lei e pelos profetas, modo
comum de se designar as Escrituras no passado.
Abraão e muitos outros no passado, haviam sido
justificados por esta justiça, mas o seu
significado, modo de aplicação e tudo o mais
111
que a ela se refere, seria revelado e manifestado
somente no evangelho e na pessoa de Jesus
Cristo.
Esta justiça de Deus prometida seria
manifestada sem lei, conforme dizer do
apóstolo, isto é, ela não seria decorrente das
obras da lei, mas no ato de justiça que seria
cumprido por Cristo morrendo no lugar do
pecador, carregando sobre Si todos os pecados
deles, para que pudessem ser perdoados e
justificados por Deus.
Isto seria feito também por um ato de pura graça
para qualquer um que creia, sem qualquer
distinção de pessoas.
Então erram com o alvo da vontade de Deus
quanto à salvação, todos aqueles que procuram
ser justificados por meio da observância da
obras da Lei, uma vez que a justiça prometida
está sendo oferecida gratuitamente para a nossa
salvação, não por praticarmos as obras da Lei,
mas por causa da fé em Cristo. As boas obras
seguirão a salvação, mas jamais serão a sua
causa.
Deus deliberou que seria misericordioso na
dispensação da graça, para com as nossas
transgressões e não lembraria dos nossos
pecados (Hb 8.12, 10.17), porque poderia nos
perdoar completamente uma vez que castigaria
112
o Seu próprio Filho unigênito no lugar daqueles
que viriam a crer nEle.
Estes que creem, e somente eles, podem
receber o dom precioso da justiça divina,
porque não serão apenas perdoados, mas
completamente santificados.
Não seria justo perdoar um malfeitor para que
ele continuasse na prática da injustiça.
Por isso, os que são justificados por Deus,
recebem esta maravilhosa bênção, porque
passarão a ser justos, se inteirando da causa da
justiça e servindo à justiça, pela implantação
neles de uma nova natureza espiritual, celestial,
santa e divina, que crescerá até a maturidade de
varão perfeito.
Por isso os crentes necessitam de Cristo, porque
não podem viver e praticar isto sem o poder e a
vida de Cristo operando neles.
Cristo é a justiça do crente, para que se torne
justiça de Deus, porque Jesus se fez, ao morrer
na cruz, maldição e pecado por nós.
Ele se fez a Si mesmo, maldito, para que
pudéssemos ser feitos santos (Gal 3.13).
Ele se fez pecado, para que fôssemos feitos
santos e justos. (2 Cor 5.21)
113
Ele se tornou assim a nossa propiciação, porque
a justiça perfeita de Deus deveria ser satisfeita
quanto ao nosso pecado, porque a justiça
demanda a morte espiritual e eterna do
pecador, ou seja, ficar separado para sempre de
Deus e sujeito à uma condenação de tormentos
eternos.
Então, somente o sacrifício de Jesus poderia
satisfazer à justiça divina, porque nenhum outro
possuía tão profundo e infinito valor e dignidade
para morrer no lugar de muitos.
Como o crente é reconciliado com Deus, tendo
paz com Ele, por causa da redenção que há no
sangue do sacrifício do Senhor por nós, então se
afirma nas Escrituras que a justiça e a paz se
reconciliaram, porque é somente por meio da
justiça de Deus que nos é oferecida
gratuitamente em Cristo, que podemos ter paz
com Ele para sempre.
Vejamos então, alguns textos do Velho
Testamento que profetizaram acerca de tal
justiça divina destinada a transformar
pecadores em santos e justos diante de Deus.
Slm 85:10 Encontraram-se a graça e a verdade, a
justiça e a paz se beijaram.
Rom 5.1 Justificados, pois, mediante a fé, temos
paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus
Cristo;
114
(Veja como a justiça que recebemos pela fé em
Jesus, traz como resultado a nossa paz
(reconciliação) com Deus. É somente por este
meio que acaba a guerra espiritual que havia
entre nós e Deus, e o Juízo de condenação de
Deus que paira sobre nós, enquanto não temos
esta Justiça que promove a paz. O ato da
justificação é a atribuição, a imputação da
justiça de Jesus ao que crê.)
Isa 32:17 O efeito da justiça será paz, e o fruto da
justiça, repouso e segurança, para sempre.
(A justiça aqui referida, em tais efeitos, não
poderia ser outra, senão a justiça do próprio
Cristo, por meio da qual temos paz, descanso
espiritual e segurança, eternos)
Isa 46:13 Faço chegar a minha justiça, e não está
longe; a minha salvação não tardará; mas
estabelecerei em Sião o livramento e em Israel,
a minha glória.
(Este texto e o seguinte, revelam que a justiça
que está sendo oferecida por Deus aos
pecadores pelo evangelho, é a manifestação que
haveria de uma Pessoa, e quem é tal pessoa,
senão somente nosso Senhor Jesus Cristo.)
Isa 51:5 Perto está a minha justiça, aparece a
minha salvação, e os meus braços dominarão os
povos; as terras do mar me aguardam e no meu
braço esperam.
115
Isa 51:6 Levantai os olhos para os céus e olhai
para a terra embaixo, porque os céus
desaparecerão como a fumaça, e a terra
envelhecerá como um vestido, e os seus
moradores morrerão como mosquitos, mas a
minha salvação durará para sempre, e a minha
justiça não será anulada.
Isa 51:8 Porque a traça os roerá como a um
vestido, e o bicho os comerá como à lã; mas a
minha justiça durará para sempre, e a minha
salvação, para todas as gerações.
Isa 56:1 Assim diz o SENHOR: Mantende o juízo
e fazei justiça, porque a minha salvação está
prestes a vir, e a minha justiça, prestes a
manifestar-se.
Jer 23:6 Nos seus dias, Judá será salvo, e Israel
habitará seguro; será este o seu nome, com que
será chamado: SENHOR, Justiça Nossa.
Jer 33:16 Naqueles dias, Judá será salvo e
Jerusalém habitará seguramente; ela será
chamada SENHOR, Justiça Nossa.
Deut 32:36 Porque o SENHOR fará justiça ao seu
povo e se compadecerá dos seus servos, quando
vir que o seu poder se foi, e já não há nem
escravo nem livre.
Slm 17:15 Eu, porém, na justiça contemplarei a
tua face; quando acordar, eu me satisfarei com a
tua semelhança.
116
Slm 22:31 Hão de vir anunciar a justiça dele; ao
povo que há de nascer, contarão que foi ele
quem o fez.
Slm 24:5 Este obterá do SENHOR a bênção e a
justiça do Deus da sua salvação.
(Por isso Jesus diz no Sermão do Monte que são
bem-aventurados os que têm fome e sede desta
justiça, porque ela é benção e não juízo, vida
eterna, e não morte espiritual e eterna)
Slm 40:9 Proclamei as boas-novas de justiça na
grande congregação; jamais cerrei os lábios, tu
o sabes, SENHOR.
Slm 40:10 Não ocultei no coração a tua justiça;
proclamei a tua fidelidade e a tua salvação; não
escondi da grande congregação a tua graça e a
tua verdade.
(Salmo profético, onde se declara a
proclamação do evangelho por nosso Senhor
Jesus Cristo, oferecendo a Sua justiça para a
salvação daqueles que nEle cressem)
Slm 94:15 Mas o juízo se converterá em justiça,
e segui-la-ão todos os de coração reto.
(Maravilhosa e profunda verdade. O juízo, a
condenação de Deus, que pairava sobre nós, foi
transformado em justiça, que é graça e perdão
misericordioso, para com os nossos pecados,
117
porque Jesus pagou o preço devido em Sua
agonia e morte).
Slm 97:8 Sião ouve e se alegra, as filhas de Judá
se regozijam, por causa da tua justiça, ó
SENHOR.
(Veja que se a justiça do evangelho fosse juízo
condenatório, não se falaria desta grande
alegria por causa da justiça do Senhor que nos
está sendo oferecida por Ele por amor e
gratuitamente. O que se exige de nós, é somente
arrependimento (mudança de mente) e fé.
Slm 98:2 O SENHOR fez notória a sua salvação;
manifestou a sua justiça perante os olhos das
nações.
(A justiça de Deus que é vista pelas nações é o
próprio Cristo, em sua obra de redenção em
favor dos pecadores, para que sejam justificados
e tornados justos)
Slm 118:19 Abri-me as portas da justiça; entrarei
por elas e renderei graças ao SENHOR.
Slm 119:40 Eis que tenho suspirado pelos teus
preceitos; vivifica-me por tua justiça.
Slm 119:123 Desfalecem-me os olhos à espera da
tua salvação e da promessa da tua justiça.
Slm 132:9 Vistam-se de justiça
sacerdotes, e exultem os teus fiéis.
118
os
teus
Isa 1:27 Sião será redimida pelo direito, e os que
se arrependem, pela justiça.
(Profecia que confirma tudo o que foi dito
anteriormente sobre a justiça de Cristo, como
sendo o manto que cobre os nossos pecados.
Esta justiça é maravilhosa e eterna. Não pode ser
perdida, conforme o primeiro homem criado
perdeu a sua justiça, e juntamente com ele,
todos nós, seus descendentes).
Isa 4:4 quando o Senhor lavar a imundícia das
filhas de Sião e limpar Jerusalém da culpa do
sangue do meio dela, com o Espírito de justiça e
com o Espírito purificador.
Isa 61:11 Porque, como a terra produz os seus
renovos, e como o jardim faz brotar o que nele se
semeia, assim o SENHOR Deus fará brotar a
justiça e o louvor perante todas as nações.
(Está ou não está, o evangelho de Cristo
prevalecendo em todo o mundo, há séculos?
É o cumprimento desta profecia e de todas as
que se referem à justiça de Cristo, para a nossa
salvação. Aleluia!)
Isa 62:1 Por amor de Sião, me não calarei e, por
amor de Jerusalém, não me aquietarei, até que
saia a sua justiça como um resplendor, e a sua
salvação, como uma tocha acesa.
119
(Veja que a salvação é diretamente relacionada
à justiça de Cristo, nesta profecia. Guarde bem
isto: é salvação, e não juízo! O juízo é decorrente
da rejeição da Justiça que nos é oferecida pelo
evangelho para a nossa justificação.)
Mal 4:2 Mas para vós outros que temeis o meu
nome nascerá o sol da justiça, trazendo salvação
nas suas asas; saireis e saltareis como bezerros
soltos da estrebaria.
(Jesus é o Sol da justiça, que pelo qual vivem os
que são iluminados pela sua luz, e tornados
fervorosos em amar e servir a Deus, por causa
do calor do Seu amor por nós).
Hab 2:4 Eis o soberbo! Sua alma não é reta nele;
mas o justo viverá pela sua fé.
(O justo é antes de tudo aquele que foi
justificado pela fé, e o efeito desta justiça de
Cristo que o justifica, é a vida eterna com Deus)
Isa 53:11 Ele verá o fruto do penoso trabalho de
sua alma e ficará satisfeito; o meu Servo, o Justo,
com o seu conhecimento, justificará a muitos,
porque as iniquidades deles levará sobre si.
(Profecia de Isaías proferida no contexto de todo
o capítulo 53, referente ao ministério e obra de
redenção do Messias em favor dos ímpios. O
Justo com “J” maiúsculo é Jesus, que tem justiça
abundante e suficiente para cobrir os pecados
de todos aqueles que dEle se aproximam com
120
um coração arrependido e com fé, de que é
poderoso para lhes dar a vida espiritual,
celestial e divina, pelo novo nascimento
operado pelo Espírito Santo).
121
A Luz da Lei e a do Evangelho
A Lei de Deus é uma luz que ilumina e nos
revela a condição tenebrosa do nosso coração
pecaminoso, para que reconheçamos e
confessemos nossos pecados a Deus.
Todavia, a Lei não é a graça de Deus, a qual não
somente nos revela a misericórdia e o perdão
que estão disponíveis para nós, pecadores, como
também é o poder que pode remover os nossos
pecados.
Assim, a luz do evangelho é de um tipo diferente
da luz da Lei; porque a luz da Lei traz temor,
tristeza e quebrantamento; e a do evangelho
revivifica, conforta e refrigera o coração.
Daí a promessa feita desde os dias do Velho
Testamento, quanto ao efeito do evangelho de
Cristo:
“Isa 61.1 O Espírito do SENHOR Deus está sobre
mim, porque o SENHOR me ungiu para pregar
boas-novas aos quebrantados, enviou-me a
curar os quebrantados de coração, a proclamar
libertação aos cativos e a pôr em liberdade os
algemados;
Isa 61:2 a apregoar o ano aceitável do SENHOR e
o dia da vingança do nosso Deus; a consolar
todos os que choram
122
Isa 61:3 e a pôr sobre os que em Sião estão de luto
uma coroa em vez de cinzas, óleo de alegria, em
vez de pranto, veste de louvor, em vez de espírito
angustiado; a fim de que se chamem carvalhos
de justiça, plantados pelo SENHOR para a sua
glória.”
123
É Pela Graça mas Não é Fácil Conforme
Possa Parecer
Do diálogo de nosso Senhor Jesus Cristo com
Nicodemos pode ser extraído um grande alerta
e ensinamento para os líderes do movimento de
crescimento de igrejas.
Nicodemos havia procurado o Senhor, ainda
que à noite por temor do julgamento que os
judeus inimigos de Jesus poderiam fazer
daquela sua visita.
Entretanto ele reconheceu e declarou que sabia
que Deus era com o Senhor Jesus por causa dos
sinais que Ele fazia, e também o chamou de
Mestre, por ter entendido que a sua mensagem
era de fato espiritual e celestial.
Para Rick Warren e para a maioria de seus
pupilos, isto teria sido o suficiente para dizerem
com grande entusiasmo a Nicodemos: “seja
bem-vindo à família de Deus”.
Todavia, não foi este o parecer de Jesus.
Ele disse diretamente a Nicodemos que ele não
poderia entrar no Reino de Deus caso não
nascesse de novo da água e do Espírito.
Disse-lhe ainda que não estava no poder do
próprio Nicodemos a entrada no Reino, porque
124
isto dependeria primeiro que Ele, Jesus, fosse
levantado na cruz, para salvar os pecadores, e
que isto havia sido feito em figura no Velho
Testamento, quando Moisés levantou a
serpente de bronze no deserto para que os
israelitas não morressem das mordidas das
serpentes abrasadoras que lhes haviam atacado.
Disse também que quem opera este novo
nascimento é o Espírito Santo, que o faz
conforme lhe apraz, assim como o vento sopra
aonde quer, ou seja, a salvação não depende de
quem corre ou de quem quer, mas de Deus usar
de misericórdia para com aquele que ele irá
salvar.
Assim, não basta que alguém levante a mão e
diga que aceita a Jesus como Salvador, ou que
faça uma rápida oração de entrega, porque se
não houver o arrependimento que é produzido
pela graça de Deus, quando o Espírito Santo nos
convence de que somos pecadores, abrindo os
nossos olhos espirituais para entender o
significado da nossa condição de real miséria
diante da justiça e santidade de Deus, é que
corremos desesperadamente para os braços de
Jesus para achar o perdão dos nossos pecados, a
justificação, e a decorrente regeneração e
santificação do Espírito Santo, para que sejamos
de fato salvos.
125
Impossível para a Lei mas Não para a
Graça que Opera pela Fé
"Todos aqueles, pois, que são das obras da lei
estão debaixo da maldição; porque está escrito:
Maldito todo aquele que não permanecer em
todas as coisas que estão escritas no livro da lei,
para fazê-las.
É
evidente que pela lei ninguém será
justificado diante de Deus, porque o justo viverá
da fé." (Gál 3.10,11)
A fé verdadeiramente honra a Deus, porque é a
firme confiança em tudo o que a boca de Deus
tem proferido. E porque a fé honra a Deus, Deus
imputa a fé para justiça de todo aquele que Nele
crê, tal como testificam as Escrituras acerca de
Abraão.
A Lei revela que a transgressão de qualquer
mandamento de Deus torna o homem culpado
de uma condenação eterna.
Quem, na condição de pecador por natureza
poderia cumprir tal exigência moral de Deus?
A Sua justiça o exige, porque se demanda
conformação perfeita à Sua santidade para que
alguém possa ir para o céu, sem culpa alguma.
126
Mas o pecado ofendeu a justiça de Deus. Foi por
causa desta ofensa que o pecador perdeu o céu.
E não temos aqui uma mera questão jurídica
forense, mas a impossibilidade de se
harmonizar o que é perfeito com o que é
imperfeito.
Então o caminho de volta ao céu deve passar
obrigatoriamente pela plena satisfação da
justiça de Deus, para que possamos ser
santificados até o ponto em que esta
santificação será completada até a perfeição no
céu.
O homem necessita então de justiça para ser
salvo.
Mas o alto nível desta justiça não pode ser
encontrado nele ou ser produzido por ele.
Daí ter o próprio Cristo se tornado a nossa
justiça.
É pela Sua justiça imputada a nós que podemos
nos aproximar do Deus que é inteiramente justo
e santo, pela esperança daquela perfeição que
haveremos de ter na glória celestial.
Consequentemente a Lei afirma que todo
aquele que não cumpre os Seus mandamentos
permanece debaixo de maldição, porque os
mandamentos da Lei refletem o caráter da
perfeita justiça de Deus.
127
Há somente uma maneira de ser resgatado
desta maldição, uma vez que a própria maldição
não pode ser removida, em razão da exigência
da justiça de Deus que amaldiçoa todos os
transgressores da Sua vontade, a menos que
eles tenham sido justificados em Cristo Jesus,
pela justiça que lhes é imputada por Deus
somente pela graça e mediante a fé.
Deste modo, Paulo explica que nós somente
podemos ser justificados pela fé que se firma no
Evangelho, na boa nova de grande alegria de que
Deus se faz favorável para com os pecadores que
se arrependam de seus pecados e que se unem
pela fé a Cristo, para serem justificados e
santificados.
Por isso aqueles que pensam que poderão ser
justificados pelo mero esforço deles em
praticarem as obras da lei, à parte da fé em
Cristo, estarão permanentemente debaixo da
maldição da Lei, porque a Lei não foi dada por
Deus para o propósito de justificar, e não
poderia ser dada para tal objetivo, porque o
homem é pecador e já se encontra condenado,
independentemente do que possa fazer de bom.
As santas exigências da Lei comprovam o
quanto o homem está distanciado da perfeita
justiça e santidade de Deus.
Então a Lei não poderá justificá-lo, porque para
isto seria necessário que o homem fosse
128
perfeito no cumprimento de tudo o que a Lei
exige desde o seu nascimento, quer em
palavras, em pensamentos e ações, e tanto nos
deveres relativos a Deus quanto ao seu próximo.
Ninguém além de Jesus Cristo conseguiu
cumprir perfeitamente toda a Lei, e somente ele
poderia reivindicar a justificação da Lei caso
necessitasse dela, mas isto nunca seria preciso
no seu caso, porque Ele não tinha do que ser
justificado, porque era sem pecado.
Quando alguém confia em seu coração, que
seus pecados são perdoados por causa do
sacrifício de Cristo, e por causa da Sua justiça,
Deus cobrirá os seus muitos pecados com o
sangue do Seu Filho, e lhe aceitará por causa
desta sua confiança nos méritos de Cristo como
suficiente para expiar a sua culpa e dar-lhe a
salvação.
É como se Deus dissesse: “Eu perdoarei os seus
pecados porque você crê que o meu Filho é
poderoso para livrá-lo da condenação futura,
porque Ele próprio se fez maldição no seu lugar
na cruz para que você não estivesse mais
debaixo da maldição da Lei.
Por causa desta sua confiança nEle, Eu lhe darei
o Espírito Santo que prometi derramar como
aceitação plena do sacrifício que o meu Filho fez
por você na cruz, de maneira que o Espírito
Santo possa transformar o Seu coração e operar
129
em você um caráter verdadeiramente santo,
assim como Eu sou santo.
130
Uma Graça que Cresce
Foi bem na terra do solo do nosso coração
que Jesus plantou na nossa conversão
a semente da graça, a semente da vida eterna.
A nós cabe arar, regar e adubar
com orações e com a Palavra
para que seja fértil a nossa terra.
Porque a semente deve germinar,
crescer, florir e frutificar
conforme Deus espera.
131
Todo Mérito é da Graça
Temos de fato um viver abençoado quando
obedecemos a Deus, dedicando-nos à prática
das boas obras.
Mas, é preciso não confundir que a graça, que se
manifesta num viver obediente, nunca é
decorrente dos nossos méritos pessoais, mas
sempre dos méritos de Jesus.
De fato, se não há disposição para obedecer à
verdade, já não há qualquer graça para operar.
Quem busca acha. Ao que bate se lhe abre a
porta. Ao que pede se lhe é dado.
A nós cabe agradecer e dar não apenas o nosso
esforço, mas a nossa própria vida para o serviço
de Deus, para que Ele a use como for do Seu
inteiro agrado.
A consagração pessoal é necessária para que o
Espírito Santo possa realizar a sua obra em
nossas vidas, afinal Ele mesmo é uma das
preciosas e grandes promessas da Nova Aliança,
para todo o que crê (Gál 3.24).
Não podemos esquecer que a própria lei
prescrevia a fé, o amor, a justiça e a
misericórdia.
132
A lei não é contrária à graça e à fé. Mas, a lei de
si mesma, nada pode fazer além de afirmar o
amor, pois não pode gerá-lo; de afirmar a vida
eterna com Deus, mas não pode também gerála; de apontar a necessidade da salvação para o
pecador, mas, não pode produzi-la. Somente a
graça pode operar tudo isto, pela fé, e tudo o
mais que se relacione à vontade de Deus.
Apesar de ser santa, justa, boa e espiritual, a lei
não pode, no entanto, nos salvar (Rom 7.12,14).
A graça não é contrária à lei e nem a descumpre,
antes é o potencial necessário para o
cumprimento da lei.
“Anulamos, pois, a lei pela fé? De modo
nenhum; antes estabelecemos a lei.” (Rom 3.31)
“16 Porquanto procede da fé o ser herdeiro, para
que seja segundo a graça, a fim de que a
promessa seja firme a toda a descendência, não
somente à que é da lei, mas também à que é da
fé que teve Abraão, o qual é pai de todos nós.”
(Rom 4.16)
Ora, se o cumprimento da lei só é possível pela
graça, quão improcedente é a quase aversão que
muitos sentem só de ouvir falar a palavra graça.
O problema é que esta não é uma forma correta
de se abordar a questão.
133
A vida cristã não consiste nem em se defender a
graça, nem em se defender os mandamentos,
mas sim em viver a vida de Jesus pela graça, para
que se possa cumprir seus mandamentos, os
quais confirmam muito doa que existem na
própria Lei.
“23 Tu, que te glorias na lei, desonras a Deus
pela transgressão da lei?
24 Assim pois, por vossa causa, o nome de Deus
é blasfemado entre os gentios, como está
escrito.
25 Porque a circuncisão é, na verdade,
proveitosa, se guardares a lei; mas se tu és
transgressor da lei, a tua circuncisão tem-se
tornado em incircuncisão.
26 Se, pois, a incircuncisão guardar os preceitos
da lei, porventura a incircuncisão não será
reputada como circuncisão?
27 E a incircuncisão que por natureza o é, se
cumpre a lei, julgará a ti, que com a letra e a
circuncisão és transgressor da lei.
28 Porque não é judeu o que o é exteriormente,
nem é circuncisão a que o é exteriormente na
carne.
29 Mas é judeu aquele que o é interiormente, e
circuncisão é a do coração, no espírito, e não na
134
letra; cujo louvor não provém dos homens, mas
de Deus. (Rom 2.23-29)
Este gloriar dos judeus na Lei, referido por
Paulo, não significa de modo algum a rejeição do
apóstolo da Lei, mas a confiança deles de serem
salvos pela Lei à custa da rejeição da graça de
nosso Senhor Jesus Cristo.
Os dez mandamentos revelados por Deus ao
povo de Israel nos dias de Moisés, confirmam a
sua proveniência divina, e nos falam da
perfeição em santidade do Senhor, uma vez que
não se resumem a ordenanças morais, tal como
se vê na lei dos homens.
Antes de citar os deveres morais na segunda
parte dos mandamentos, com o dever de se
honrar os pais, e a proibição de mentir, furtar,
matar, adulterar e cobiçar, Deus fixou antes, na
primeira parte, a necessidade de se lhe prestar
honra, reverência e culto, pois sem isto, não é
possível que o homem cumpra perfeitamente as
suas obrigações morais para com Deus e para
com o seu próximo.
Daí ser ordenado antes de tudo que se adore tão
somente a Deus; que o Seu nome seja
santificado e honrado e que se separe
obrigatoriamente um dia semanal para a
dedicação exclusiva à adoração e ao serviço do
Senhor.
135
Temos assim, uma pista, já na perfeição da Lei
dada a Moisés, quanto ao modo correto da
santificação:
Primeiro amar a Deus, separar-se para Ele,
cultuar-lhe em devoção sincera, e assim sendo
feito bom o coração pela Sua graça divina, a vida
moral reta será uma mera consequência de tal
adoração em espírito e em verdade.
E é exatamente tal ordem que encontramos no
Novo Testamento, quanto ao modo da
santificação, e do serviço a Deus e ao próximo.
“Porque em Cristo Jesus nem a circuncisão nem
a incircuncisão vale coisa alguma; mas sim a fé
que opera pelo amor.” (Gál 5.6)
“Pois nem a circuncisão nem a incircuncisão é
coisa alguma, mas sim o ser uma nova criatura.”
(Gál 6.15)
Em outras palavras: nem o judeu, nem o gentio,
nem o legalista, nem o adepto da graça, têm no
que se gloriar, caso não sejam novas criaturas
em Cristo, e não vivam no amor que é pela fé.
Quem amará com o mesmo amor de Deus,
conforme a lei exige, caso não seja capacitado
pela graça para tal?
Tudo o mais que a lei exige, a qual é espiritual e
santa, dada e revelada pelo próprio Deus, por
136
acaso, não só poderá ser cumprido se formos
capacitados antes pela graça de Jesus?
Quem é suficiente para isto?
Por isso Paulo dizia que a sua suficiência vinha
de Deus, e que tudo o que fazia segundo a Sua
vontade era conforme capacitação da Sua graça,
e que tudo podia, somente porque a graça de
Jesus o fortalecia.
137
O Recebimento
Condicional
Deus
está
é
Gratuito
oferecendo
Mas
é
gratuitamente
a
salvação em Jesus Cristo com tudo o mais que
está nela incluído com suas grandes promessas
de bênçãos eternas.
Todavia, existe a condição exigida do nosso
arrependimento e fé.
Não um mero arrependimento de se lamentar a
nossa condição de transgressores da vontade
divina, conforme expressada em seus
mandamentos, mas o arrependimento que
significa a busca de uma vida transformada pelo
poder do Espírito Santo, em um novo
nascimento
espiritual
instantâneo
(regeneração-conversão)
e
renovação
progressiva do nosso caráter (santificação).
Quanto à fé, que é outra condição exigida para a
recepção do dom gratuito de Deus em Jesus
Cristo, não é mera crença ou assentimento
intelectual em relação à Palavra de Deus, mas a
total e exclusiva confiança em Cristo, como
nosso Salvador e Senhor, e busca de uma efetiva
comunhão diária com ele, através da oração e da
prática dos seus mandamentos.
Portanto, a noção que é tão comum de que a
graça de Deus significa a sua disposição em
138
conduzir à vida celestial pessoas em qualquer
estado, e sem nada lhes exigir como condição
para tal propósito, não é bíblica, porque não é
ensinada em nenhum dos 66 livros que
compõem a Bíblia.
Onde não houver o desejo, a intenção, a
determinação de se viver segundo a vontade de
Deus, e de ser transformado pelo seu poder, não
se achará também qualquer graça da sua parte
operando para a salvação.
139
Graça
Há
um grande paradoxo no entendimento
carnal relativo à graça divina, uma vez que se
costuma considerar como sendo graça
exatamente o oposto daquilo que a graça que
nos foi dada em Cristo é na verdade; pois os dons
naturais e comuns de Deus para toda a
humanidade são buscados por pessoas
religiosas como se fossem o grande propósito da
vida cristã.
Geralmente visa-se tão somente ao que é
externo, e não propriamente o que seja
espiritual, celestial e divino, para ser aplicado à
transformação do próprio caráter e vida,
segundo o propósito de Deus na concessão da
Sua graça que nos foi dada em Cristo.
Todavia, a Bíblia não nos deixa cegos quanto a
este importantíssimo assunto, conquanto
podemos observar na grande maioria das
passagens bíblicas referentes à graça, qual é o
propósito de Deus quanto à sua concessão.
Antes de tudo a graça não é dogma, mas o poder
de Deus para o atingimento do objetivo da fé, a
saber, a nossa salvação. E é no conhecimento da
mesma graça que devemos crescer com vistas
ao nosso aperfeiçoamento espiritual.
O maior dom que temos recebido da graça de
Deus é a vida do próprio Cristo e a habitação do
140
Espírito Santo em nós. As demais graças são
consequência desta referida e gravitam em
torno da mesma.
Quando estamos na graça, esta produz um bom
estado na alma que pode ser discernido em
espírito tanto por nós, quanto por aqueles que
estiverem na mesma condição.
A graça divina é o maior poder operante neste
mundo, pois somente ela é mais forte do que o
poder do pecado.
O nosso acesso a esta graça, na qual estamos
firmes, e sem correr o risco de sermos
rejeitados por Deus, custou um alto preço a
nosso Senhor Jesus Cristo – o preço do seu
sofrimento e derramamento do seu sangue
numa terrível morte de cruz.
É impróprio, por conseguinte, o pensamento
associado à palavra graça, de ser algo fácil ou
barato.
A salvação é de fato gratuita, mas custou o preço
de morte para Cristo, carregando os nossos
pecados, e para nós, ela exige o pagamento do
preço da nossa consagração a Deus, uma vez
tendo sido convertidos mediante a simples fé no
Senhor.
Fomos comprados por preço para vivermos para
Deus.
141
Com o advento de Jesus Cristo foi inaugurada
uma nova dispensação para substituir a antiga
que vigorou desde os dias de Moisés. Daí ser
chamada de dispensação da graça, enquanto a
antiga era chamada de dispensação da Lei.
Deus está sendo longânimo nesta dispensação
em relação a todos os pecadores, concedendolhes assim a oportunidade de se arrependerem
e crerem em Cristo, de modo a serem livrados
da condenação eterna. Esta é uma das
características essenciais da citada dispensação.
142
Justa Cooperação da Graça com a
Vontade Consciente
Uma das grandes provas indiretas de que há
uma justa cooperação da graça divina com a
vontade consciente humana está em que
crentes consagrados e santificados podem ter
imaginações, sonhos e comportamentos
pecaminosos quando sob o efeito de algum
bloqueador (drogas alucinógenas etc) dos
mecanismos psicológicos de restrição e
contenção dos pensamentos e comportamentos
impróprios que atuam pelo temor de punição,
de reprovação social, de perdas consequentes
(especialmente das bênçãos de Deus), e de tudo
o mais que possa se opor à consciência do que é
considerado correto e aceitável.
Esta é a razão de se ordenar aos crentes que
sempre sejam cheios do Espírito Santo, ou seja,
que estejam sempre debaixo da Sua influência e
poder de modo a que tenham graça suficiente
para cumprirem o que se lhes ordena na Palavra
de Deus em vidas santificadas.
A falta de tal provisão de graça em justa
cooperação com o exercício de nossa vontade
consciente em obtê-la pelos meios ordenados
na Palavra (oração, meditação, comunhão,
perdão etc) é o motivo de que até mesmo
crentes confirmados possam ter sonhos e
pesadelos em que se encontram em
143
imaginações pecaminosas, uma vez que
durante o sono não há um controle consciente
sobre a mente, e esta divaga e age livremente
sem o controle do sistema nervoso simpático,
ficando totalmente à mercê do parassimpático –
ou inconsciente.
De tudo isto se depreende a nossa total
dependência da graça de Deus para vivermos de
modo que lhe seja agradável, e também, que
vigiemos e nos esforcemos em plena diligência
para moldarmos a nossa consciência em
conformidade com os padrões morais e
espirituais de Sua bendita Palavra.
Em suma, teremos tanto mais graças da parte de
Deus quanto mais nos empenhemos em cultiválas pelo exercício consciente constante da
oração, da meditação na Palavra, do serviço
cristão, da comunhão com nossos irmãos na fé e
de tudo o mais que nos é ordenado por Deus
para um viver abençoado.
144
A Dispensação do Espírito Santo
Esta nova dispensação do Espírito (da graça) é
imutável.
Ele tem sido designado como um Consolador
eterno que estará para sempre com os cristãos.
O próprio Senhor Jesus
declarou isto
expressamente na primeira promessa que Ele
fez de enviar o Consolador:
"E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro
Consolador, para que fique convosco para
sempre;" (João 14.16).
É nesta promessa que consiste a permanência
do Espírito para sempre com a Igreja.
Jesus fez esta promessa para afiançar a fé e a
consolação da Igreja em todas as épocas, nas
oposições que os cristãos terão que enfrentar
na sua luta contra a carne, Satanás e o mundo.
Como Jesus havia sido o Consolador visível dos
discípulos durante o tempo do Seu ministério
terreno, e estaria partindo agora para o céu para
a restauração de todas as coisas, eles poderiam
temer que este outro Consolador que foi
prometido
poderia também permanecer
somente um período com eles, de maneira que
ficariam sujeitos a uma nova perda e tristeza.
145
Então nosso Senhor Jesus Cristo lhes garantiu
que este outro Consolador continuaria para
sempre com eles até o fim das suas vidas,
trabalho e ministério, como também estaria
atuando com a igreja até a consumação dos
séculos.
Isto porque Ele estava sendo prometido agora
numa aliança eterna e inalterável. E Ele não
deixará jamais a Igreja de modo que a aliança
eterna de Deus não possa ser abolida.
"Quanto a mim, esta é a minha aliança com eles,
diz o Senhor: o meu Espírito, que está sobre ti, e
as minhas palavras, que pus na tua boca, não se
desviarão da tua boca nem da boca da tua
descendência, nem da boca da descendência da
tua descendência, diz o Senhor, desde agora e
para todo o sempre." (Isa 59.21).
Entretanto, a par desta grande verdade, sempre
há um número considerável de cristãos que
vivem a maior parte das suas vidas em
dificuldades e desconsolação, não tendo
qualquer experiência da presença do Espírito
Santo como um Consolador.
Mas
esta
objeção não tem força para
enfraquecer a nossa fé quanto à realização
desta promessa por maiores que sejam as
desconsolações que possam suceder à Igreja de
todas as épocas, porque nada pode anular a
promessa do derramamento do Consolador.
146
O cumprimento da promessa de Cristo não
depende
da
nossa
experiência,
porque a consolação do Espírito não é para
incrédulos.
A menos que nós entendamos a natureza das
consolações espirituais corretamente, e as
avaliemos de modo satisfatório, nós não
poderemos
desfrutá-las,
ou
então não
estaremos delas conscientes, ainda que estejam
operando em nosso favor.
Muitos quando se encontram debaixo das suas
dificuldades supõem que não haja qualquer
conforto a não ser o que seja decorrente da
remoção destas dificuldades.
Eles não conhecem o conforto e alivio das
tristezas sem que seja removida a sua causa.
Tais pessoas nunca podem receber a consolação
do Espírito Santo ou qualquer experiência
espiritual de refrigério.
É sendo fervorosos na oração pela presença do
Espírito conosco, e buscando todos os nossos
confortos dEle, considerando estas consolações
acima de quaisquer prazeres terrenos,
aguardando pela manifestação da Sua graça,
que se recebe a consolação do Espírito.
Todo cristão pode se exercitar nisto, em busca
da consolação
do Espírito porque Ele foi
prometido por Cristo para também operar este
147
ofício em favor dos cristãos, e somente
deles, porque Jesus também afirmou quando
fez a promessa do Consolador que o mundo não
poderia tê-lo como um Consolador, senão
somente aqueles que O amam e guardam a Sua
Palavra (João 14.16,17, 26; 15.26; 17.7,8).
O mundo pode ser o alvo de outras operações
do Espírito para a convicção de pecados e
conversão,
e
é
disto
que
decorrerá
posteriormente as consolações do Espírito.
148
A Graça Opera Pela Obediência
Por natureza não temos nenhum poder em nós
mesmos para viver a vida do céu, fazendo o que
é espiritualmente bom, ou qualquer outro dever
relativo à santidade evangélica.
É em Cristo que somos tornados fortes, mas esta
força não é propriamente nossa, mas dEle.
Nós recebemos esta força divina na nossa
conversão, a qual é a essência da santidade que
há na nova natureza, recebida do céu e do
Espírito Santo.
Mas esta força não pode se manifestar se o velho
homem (nossa natureza terrena pecaminosa)
estiver fortalecido, por deixarmos que opere
livremente em nós a força do pecado.
Jesus obteve uma perfeita liberdade do pecado
para os que n’Ele creem.
Contudo, se não forem constantes em todos os
deveres de obediência, nenhum deles será fácil
de ser cumprido porque a graça requer
diligência para que possamos ser fortalecidos
por Deus.
É pela repetição sistemática em obediências
sucessivas que seremos conduzidos à formação
149
deste hábito que é essencial à santificação da
vida.
Porque onde não houver a busca de obediência
voluntária e por amor, à vontade de Deus,
expressada na Sua Palavra revelada na Bíblia,
não haverá também qualquer graça operando,
tanto para nos conduzir e capacitar à obediência
requerida, quanto para transformar as nossas
vidas, e nos dar um viver abençoado e vitorioso.
150
A Graça Supera a Aflição
“Agora, por um pouco de tempo, sendo
necessário, sois afligidos através de várias
tentações”. (1Pedro 1.6)
Especialmente para os cristãos sinceros, este
um tempo de aflições como nenhum outro,
porque nunca se viu, em toda a história da
humanidade, iniquidades tão multiplicadas
como as presentes, tanto em intensidade
quanto em variedade de formas.
Todavia, os cristão de agora não são menos
assistidos pela graça de Jesus, do que os dos dias
do apóstolo Pedro, aos quais, mesmo sendo
afligidos por várias provações, receberam do
apóstolo o seguinte testemunho:
“Vós que sois guardados pelo poder de Deus
através da fé para a salvação”. (I Pe 1.5)
“a prova de sua fé, muito mais preciosa do que o
ouro que perece”. (I Pe 1.7)
Assim, ao mesmo tempo, que estavam “em
aflição”, estavam de posse de uma fé viva.
A aflição não lhes destruiu a fé, e nem a paz.
151
Eles se “regozijavam na esperança da glória de
Deus”, porque estavam cheios de alegria no
Espírito Santo.
No meio de sua aflição, ainda igualmente
desfrutavam do ardor do amor de Deus, que fora
derramado em seus corações.
Embora fossem afligidos, ainda eram santos;
conservavam o mesmo poder sobre o pecado.
Eram ainda “guardados” do pecado “pelo poder
de Deus”; eram “filhos obedientes, não
conformados com seus primitivos desejos”,
mas, “como Aquele que os chamou é santo”,
assim eles eram “santos em todo o seu
procedimento”.
Assim é que, em conjunto, sua aflição é bem
consistente com a fé, com a esperança, com o
amor de Deus e do homem, com a paz de Deus,
com a alegria no Espírito Santo, com a santidade
interior e exterior.
A aflição de modo nenhum enfraquece e muito
menos destrói qualquer parte da obra de Deus
no coração.
Ela de modo nenhum entra em conflito com a
“santificação do Espírito”, que é a raiz de toda a
verdadeira obediência, nem com a felicidade,
que deve necessariamente resultar da graça e
da paz que reinam no coração.
152
Então, ainda que sejam multiplicadas as
iniquidades e aflições, a graça é muito mais
multiplicada por Deus no coração do cristão,
para superá-las no amor de Jesus.
153
Cobre como as Águas do Dilúvio
Lemos
em Judas 24: “Ora, aquele que é
poderoso para vos guardar de tropeços e para
vos apresentar com exultação, imaculados
diante da sua glória,”.
Deus é poderoso para guardar o cristão de
tropeços e conduzi-lo em segurança à Sua glória
eterna.
É isto que o texto de Judas afirma.
O fato de a graça ter superabundado onde
abundou o pecado é a verdade por meio da qual
somos salvos.
Porque mesmo depois de convertidos, ainda
estamos sujeitos ao pecado, e se não houvesse
uma graça superabundante para cobrir os
nossos pecados, nenhum de nós poderia ser
salvo.
Isto é como as águas do dilúvio nos dias de Noé
que cobriram todos os montes.
A graça cobre nossas montanhas de pecados,
que pode não ser aos nossos olhos, mas aos
olhos de Deus são verdadeiras montanhas,
porque Ele considera pecado o que fazemos e o
que deixamos de fazer, seja grande ou pequeno,
e mais do que isso leva em conta a intenção do
154
nosso
coração,
imaginação etc.
nossos
pensamentos,
O cristão, por mais consagrado que seja, aos
olhos de Deus está cheio de pecados.
Mas, de onde lhe vem a santidade em que vive, a
paz que sente no seu coração, a alegria em sua
alma, senão da graça de Jesus, que o purifica de
tudo o que desagrada a Deus.
155
A Graça não Condena
Deus não está condenando a qualquer pessoa
na presente dispensação da graça, conforme
afirmação de Jesus de que não veio condenar,
mas salvar.
A natureza de Deus é longânima, perdoadora,
misericordiosa, amorosa, e por isso uma
das características do amor destacada em I Cor
13.5 é que ele não é facilmente provocado, ou
seja, ele não se exaspera.
Deus se ira contra o pecado, mas não tem
qualquer prazer na morte dos ímpios, ou seja, de
todos aqueles que não Lhe amam e aos Seus
mandamentos.
A ira pode ser definida como uma oposição
séria e violenta de espírito contra qualquer mal,
real ou suposto, ou devido a qualquer falta ou
ofensa, porque isto está contra a natureza do
amor.
Nós somos chamados por Cristo a desejar o bem
e a orar para o bem de todos, até mesmo de
nossos inimigos, e até daqueles que zombam de
nós e nos perseguem (Mat 5:44); e a regra dada
pelo apóstolo é: “Abençoai aos que vos
perseguem, abençoai, e não amaldiçoeis.” (Rom
12.14), quer dizer, nós devemos desejar o bem e
156
orar para o bem de todos, e em nenhum caso
desejar o mal.
Porque como imitadores de Deus, na busca da
sua imagem e semelhança, é justamente o que
devemos fazer, porque isto é parte da essência
divina.
Dizemos que é um dever porque o evangelho
veio trazer a restauração em nós, da imagem e
semelhança, não com Adão, antes da queda no
pecado, mas a do próprio Cristo, conforme se
afirma amplamente na Bíblia.
O que temos em Cristo, quanto ao trato com as
imperfeições que há na humanidade? Graça,
amor,
bondade,
misericórdia,
perdão,
reconciliação, e justiça (a sua justiça que nos
justifica).
Os próprios juízos divinos na presente
dispensação, têm em vista contribuir para a
continuidade da referida restauração, e são
corretivos e decorrentes da rejeição obstinada
da graça que nos está sendo oferecida.
As obras más ou boas de todas as pessoas serão
somente passadas em revista no grande dia do
Juízo Final.
Por isso toda vingança é proibida por Deus, já
que Ele afirma que toda a vingança lhe pertence.
157
A regra é: “Não te vingarás nem guardarás ira
contra os filhos do teu povo; mas amarás o teu
próximo como a ti mesmo: Eu sou o Senhor.”
(Lev 19.18); e o apóstolo diz: “Não vos vingueis a
vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira;
porque está escrito: A mim me pertence a
vingança; eu retribuirei, diz o Senhor.” (Rom
12.19), de forma que toda a ira que contém um
desejo de vingança, é contrária ao cristianismo
e proibida por Deus.
Disto Cristo falou em Mat 5.22: “Eu, porém vos
digo que todo aquele que (sem motivo) se irar
contra seu irmão estará sujeito a julgamento;”.
Se uma pessoa se permitir ficar muito tempo
irada com uma outra, logo esta ira se
transformará em ódio.
Assim, nós achamos que na verdade acontece
com aqueles que retêm um rancor nos seus
corações contra outros, durante semana depois
de semana, e mês depois de mês, e ano depois de
ano.
Eles virão no fim, a odiar verdadeiramente as
pessoas contra as quais se deixaram irar assim
deste modo.
Este é um pecado mais terrível à vista de Deus.
Então, não é de se admirar que esta seja a
principal estratégia do diabo para nos afastar de
Deus, e para nos manter sob julgamentos em
158
nossas almas, e ainda a ficarmos à mercê de
sermos oprimidos por ele.
Assim, toda vigilância e sabedoria é ainda pouco
para ter um coração manso, sofredor, paciente,
perdoador.
Mais do que isto, necessitamos do derramar
abundante do amor de Deus nos nossos
corações que é operado sobrenaturalmente
pelo Espírito Santo.
159
O Modo de Concessão da Graça
Nenhum crente pode de si mesmo exercer o
princípio, ou poder, de uma vida espiritual, em
qualquer instância, interna ou externa, em
relação a Deus ou aos homens, de modo que isto
deve ser um ato de santidade procedente do
Espírito Santo.
O crente não pode fazê-lo de si mesmo, em
virtude de qualquer poder habitualmente
inerente a ele. Não é comunicada a nós neste
mundo qualquer capacidade espiritual que seja
independente da ação direta do Espírito Santo;
porque é ele o gerador de todos os atos santos de
nossas mentes, vontades e afetos, na execução
dos deveres espirituais.
Acrescente-se que necessitamos de graças
renovadas pelo Espírito, todos os dias, ou seja,
não recebemos uma provisão de poder para ser
estocada. A graça é concedida pelo Espírito à
medida que se faz necessária e no tempo
apropriado da sua necessidade.
É aplicado em nossa vida espiritual, quanto à
concessão da graça, o mesmo princípio que
regula a providência divina em nossas
necessidades naturais.
Como
ramos
da
Videira
Verdadeira
necessitamos
receber
a
seiva
(graça)
160
vivificadora diretamente da raiz, que é Cristo.
Assim, recebemos a graça, e não somos nós, de
maneira alguma, quem a produz e distribui.
Daí dizer o apóstolo:
“E é por intermédio de Cristo que temos tal
confiança em Deus; não que, por nós mesmos,
sejamos capazes de pensar alguma coisa, como
se partisse de nós; pelo contrário, a nossa
suficiência vem de Deus,” (2 Cor 3.4,5).
De si mesmo, o crente nada pode realizar porque
toda
santidade
ou
qualquer
coisa
espiritualmente boa é sempre efeito da graça e
é operado em nós pelo Espírito Santo que é o
autor de todas as operações divinas.
161
A Aliança da Graça – 2 Samuel 7
Nós vemos no capítulo sétimo de 2 Samuel,
que depois de longas e sucessivas guerras com
as nações inimigas de Israel, e estando
subjugados os povos inimigos dos israelitas,
principalmente os filisteus, Davi estava enfim
desfrutando em sua vida de um período da paz
que ele tanto amava (Sl 120.7).
Em sua meditação sobre a pessoa de Deus ele se
sentiu constrangido por estar residindo no
palácio suntuoso que Hirão, rei de Tiro,
construiu para ele, enquanto a arca ainda
permanecia na tenda que ele havia preparado
para ela em Jerusalém.
Davi estava descansado de seus inimigos em sua
casa, mas não achou descanso em sua alma
porque lhe pesava esta preocupação em edificar
um templo para o Senhor, e ele compartilha o
peso de sua preocupação com o profeta Natã, e
este lhe encorajou a fazer tudo quanto estava no
seu coração, porque o Senhor era com ele (v.
2,3).
Porém na noite daquele mesmo dia, Deus se
manifestou a Natã dizendo-lhe que Davi não lhe
edificaria nenhum templo (I Crôn 17.4), apesar
de reconhecer que havia feito bem em ter-se
preocupado em honrar o seu Deus, ao pensar
em construir um templo para Ele (I Rs 8.18).
162
Natã havia portanto, incentivado Davi a
construir o templo, lhe falando como um amigo,
mas não da parte de Deus.
Estava enganado neste particular quanto à
vontade do Senhor para Davi, que teve que serlhe revelada por Deus, pois Davi havia sido
separado para estender e consolidar as
fronteiras de Israel, mas não para gastar a maior
parte do tempo do seu reinado na construção de
um templo, que já estava assentado nos
desígnios de Deus como sendo algo para ser
levado a efeito por seu filho Salomão, e é por isso
que ele foi citado na mesma palavra que o
Senhor havia dado a Nata, para ser dita a Davi.
Além disso, Deus não havia dado nenhuma
autorização ou fizera qualquer pedido, desde a
saída de Israel do Egito, até então, para que fosse
construído um templo, e não cabia a Davi ou a
qualquer outro, tomar uma iniciativa em
relação a algo que o Senhor não havia ordenado.
Se Davi não estava confortado em saber que a
arca permanecia habitando em tendas, Deus
não estava nem um pouco desconfortável,
porque qual é a habitação, por mais suntuosa
que seja, que os homens possam edificar para o
Senhor, que possa ser digna e estar à altura da
Sua Majestade?
Se o próprio céu é obra das mãos dEle, tudo o
que o homem possa edificar neste mundo com
163
ouro, prata, pedras e madeiras preciosas e
nobres, será mais do que nada para Aquele que
não habita em moradas fabricadas por homens,
pois nem o céu dos céus pode contê-lo (II Crôn
2.6).
Mas Deus mandou dizer a Davi que o templo que
ele intentava erigir seria edificado pelo seu filho
(v. 13), e esta profecia se aplica tanto a Salomão,
quanto a Cristo, que é o descendente de Davi que
está edificando a Igreja, para ser templo para a
habitação de Deus no Espírito.
Deus não pode habitar naquilo que o homem
edifica, mas criou o próprio homem para ser
lugar da Sua habitação.
É dito que aquele que edificaria o templo seria
filho de Deus (isto se aplica a Salomão e a Jesus),
e a parte da profecia que afirma que se ele viesse
a transgredir, seria castigado por Ele, mas não
retiraria dele a Sua misericórdia como fizera
com Saul (v. 14,15) se aplica óbvia e
exclusivamente a Salomão.
Isto fala da segurança da promessa feita de que
o trono de Davi seria firmado, ainda que
Salomão, seu filho, viesse a falhar, bem como os
seus
descendentes,
porque
o
cetro
permaneceria na casa de Davi, e seria firmado
para sempre em Cristo, que é da sua casa.
A casa de Saul foi rejeitada por Deus e não foi
confirmada.
164
Mas a Davi, o Senhor estava prometendo que a
sua casa permaneceria no trono para sempre (v.
16).
Aqui está pois referido o caráter da aliança da
graça, que é feita para aqueles que participarão
do reino de Cristo pela fé nEle.
Esta promessa de que serão firmados no reino,
ainda que venham a transgredir, é garantida
pelo próprio Deus conforme revelou a Davi
através do profeta Natã.
Esta é uma aliança para sempre que o Senhor
jamais revogará, porque prometeu não remover
a Sua misericórdia daqueles que fazem parte da
casa de Davi.
Não da casa terrena, pois esta promessa não
alcançou Absalão e a outros que eram da sua
casa, mas a casa espiritual, daqueles que
tivessem a mesma fé dele e que fossem eleitos
por Deus para a salvação.
Isto não é maravilhoso?
Temos isto confirmado nas palavras dos
profetas, dos apóstolos, e do próprio Cristo,
como por exemplo em Is 55.3; Jer 33.21,22; Ez
34.23,24; Zac 12.7,8; At 13.34; 15.16; Apo 3.7.
Com a ida de Israel para o cativeiro, o
tabernáculo (a casa) de Davi ficou caída (Amós
9.11), porque foi interrompida a sucessão de reis
165
em Judá, da sua descendência, mas quando
Cristo estiver reinando, o tabernáculo de Davi
estará plenamente restaurado, e a promessa
que Deus lhe fez estará vigorando para sempre
em toda a sua plenitude.
Diante da grandiosidade da promessa que Deus
lhe fizera quanto à casa que edificaria para ele,
Davi se retirou da presença de Natã e foi adorar
e agradecer ao Senhor diante da tenda onde se
encontrava a arca (v. 18 a 29).
É importante destacar que Deus disse que
edificaria tal casa a Davi para o bem de seu povo
Israel (v. 8 a 11), e é com o mesmo propósito que
Cristo foi exaltado com um nome que é sobre
todo o nome, a saber, para dar descanso para o
Seu povo.
“1 Ora, estando o rei Davi em sua casa e tendolhe dado o Senhor descanso de todos os seus
inimigos em redor,
2 disse ele ao profeta Natã: Eis que eu moro
numa casa de cedro, enquanto que a arca de
Deus dentro de uma tenda.
3 Respondeu Natã ao rei: Vai e faze tudo quanto
está no teu coração, porque o Senhor é contigo.
4 Mas naquela mesma noite a palavra do Senhor
veio a Natã, dizendo:
166
5 Vai, e dize a meu servo Davi: Assim diz o
Senhor: Edificar-me-ás tu uma casa para eu nela
habitar?
6 Porque em casa nenhuma habitei, desde o dia
em que fiz subir do Egito os filhos de Israel até o
dia de hoje, mas tenho andado em tenda e em
tabernáculo.
7 E em todo lugar em que tenho andado com
todos os filhos de Israel, falei porventura,
alguma palavra a qualquer das suas tribos a que
mandei apascentar o meu povo de Israel,
dizendo: por que não me edificais uma casa de
cedro?
8 Agora, pois, assim dirás ao meu servo Davi:
Assim diz o Senhor dos exércitos: Eu te tomei da
malhada, de detrás das ovelhas, para que fosses
príncipe sobre o meu povo, sobre Israel;
9 e fui contigo, por onde quer que foste, e destruí
a todos os teus inimigos diante de ti; e te farei
um grande nome, como o nome dos grandes
que há na terra.
10 Também designarei lugar para o meu povo,
para Israel, e o plantarei ali, para que ele habite
no seu lugar, e não mais seja perturbado, e
nunca mais os filhos da iniquidade o aflijam,
como dantes,
11 e como desde o dia em que ordenei que
houvesse juízes sobre o meu povo Israel. A ti,
167
porém, darei descanso de todos os teus
inimigos. Também o Senhor te declara que ele
te fará casa.
12 Quando teus dias forem completos, e vieres a
dormir com teus pais, então farei levantar
depois de ti um dentre a tua descendência, que
sair das tuas entranhas, e estabelecerei o seu
reino.
13 Este edificará uma casa ao meu nome, e eu
estabelecerei para sempre o trono do seu reino.
14 Eu lhe serei pai, e ele me será filho. E, se vier
a transgredir, castigá-lo-ei com vara de homens,
e com açoites de filhos de homens;
15 mas não retirarei dele a minha benignidade
como a retirei de Saul, a quem tirei de diante de
ti.
16 A tua casa, porém, e o teu reino serão
firmados para sempre diante de ti; teu trono
será estabelecido para sempre.
17 Conforme todas estas palavras, e conforme
toda esta visão, assim falou Natã a Davi.
18 Então entrou o rei Davi, e sentou-se perante o
Senhor, e disse: Quem sou eu, Senhor Jeová, e
que é a minha casa, para me teres trazido até
aqui?
168
19 E isso ainda foi pouco aos teus olhos, Senhor
Jeová, senão que também falaste da casa do teu
servo para tempos distantes; e me tens
mostrado gerações futuras, ó Senhor Jeová?
20 Que mais te poderá dizer Davi. pois tu
conheces bem o teu servo, ó Senhor Jeová.
21 Por causa da tua palavra, e segundo o teu
coração, fizeste toda esta grandeza, revelando-a
ao teu servo.
22 Portanto és grandioso, ó Senhor Jeová,
porque ninguém há semelhante a ti, e não há
Deus senão tu só, segundo tudo o que temos
ouvido com os nossos ouvidos.
23 Que outra nação na terra é semelhante a teu
povo Israel, a quem tu, ó Deus, foste resgatar
para te ser povo, para te fazeres um nome, e para
fazeres a seu favor estas grandes e terríveis
coisas para a tua terra, diante do teu povo, que tu
resgataste para ti do Egito, desterrando nações e
seus deuses?
24 Assim estabeleceste o teu povo Israel por teu
povo para sempre, e tu, Senhor, te fizeste o seu
Deus.
25 Agora, pois, ó Senhor Jeová, confirma para
sempre a palavra que falaste acerca do teu servo
e acerca da sua casa, e faze como tens falado,
169
26 para que seja engrandecido o teu nome para
sempre, e se diga: O Senhor dos exércitos é Deus
sobre Israel; e a casa do teu servo será
estabelecida diante de ti.
27 Pois tu, Senhor dos exércitos, Deus de Israel,
fizeste uma revelação ao teu servo, dizendo:
Edificar-te-ei uma casa. Por isso o teu servo se
animou a fazer-te esta oração.
28 Agora, pois, Senhor Jeová, tu és Deus, e as
tuas palavras são verdade, e tens prometido a
teu servo este bem.
29 Sê, pois, agora servido de abençoar a casa do
teu servo, para que subsista para sempre diante
de ti; pois tu, ó Senhor Jeová, o disseste; e com a
tua bênção a casa do teu servo será, abençoada
para sempre.” (II Sm 7.1-29).
170
Características do Evangelho Verdadeiro
Evangelho,
semanticamente, reportando ao
significado da palavra no original grego do Novo
Testamento significa literalmente "anúncio de
boas notícias". São boas em sua natureza e efeito
para a humanidade.
Somente na Bíblia podemos achar os critérios
de determinação do evangelho verdadeiro.
São tantas características a serem consideradas,
que é muito comum, focar apenas numa ou em
poucas, ou até mesmo distorcidas, e assim, não
se chega a uma compreensão correta do
verdadeiro significado do evangelho, em sua
essência real e nos seus efeitos positivos para
aqueles que o abraçam.
A principal característica que deve ser
destacada é a do caráter de completa libertação
e salvação que está sendo oferecida
gratuitamente por Deus a todo aqueles que
creem em Cristo, porque o próprio Jesus é a
única Justiça que nos justifica e nos torna
perdoados e aceitáveis a Deus, de forma que
possamos ser reconciliados com Ele.
Uma segunda característica importante é que
esta justificação que conduz à vida eterna, é
operada
instantaneamente,
num
dado
171
momento da vida, e tem validade para sempre,
por toda a eternidade.
Daqui
em
diante
citaremos
características sem enumerá-las.
outras
Destaca-se também no evangelho, que é de fato
boa notícia, a melhor das notícias, porque não
traz em si qualquer juízo condenatório, porque
esta justiça que é oferecida pela graça, e obtida
mediante a fé, não é para condenar, mas para
libertar da escravidão ao pecado.
Isto, por sua vez, nos conduz a um outro ponto
importante, que é o de que todo aquele que é
justificado pelo evangelho, é também
instantaneamente transformado, ao que o Novo
Testamento chama de novo nascimento do
Espírito Santo, ou regeneração.
Há de fato uma mudança radical nos objetivos
de vida de todo aquele que se converte, porque
passa a habitar nele um novo princípio vivo
operante de santificação, motivado pela
presença do Espírito Santo, em comunhão com
o espírito do convertido que se achava morto
(separado de Deus, não participante da Sua vida
divina, sem o conhecimento pessoal de Cristo,
sem comunhão com o divino).
Este novo princípio de santidade implantado na
natureza terrena do que crê, passa a exercer
domínio e repulsa ao princípio vivo do pecado
que ainda opera na carne.
172
Daí sucede uma luta entre a natureza terrena
carnal, e a nova natureza espiritual recebida do
Espírito Santo.
O alvo deste combate é o de crucificar o ego
carnal e fazer prevalecer a mente de Cristo no
cristão.
Então, há uma ação real, espiritual, celestial e
divina operando em nosso caminhar neste
mundo quando abraçamos o verdadeiro
evangelho de Cristo, porque somente Ele é o
poder de Deus para a salvação de todos os que
nele creem.
Sem esta realidade espiritual operando no viver
não podemos dizer que somos autênticos
cristãos (discípulos de Jesus, filhos e servos do
Deus vivo), porque tudo o que se ensina na Bíblia
a tal respeito cumpre-se somente nos que
tiveram um verdadeiro encontro pessoal com
Cristo.
173
Como Saber
Verdadeiro?
Qual
é
o
Evangelho
Se alguém digitar no buscador do Google ou de
qualquer outro site de busca da Internet,
simplesmente a palavra “evangelho”, irá
deparar com várias propostas de evangelhos
que diferem entre si.
Quando se digita a expressão “evangelho
verdadeiro”, o filtro apresenta uma seleção
mais apropriada de material relativa ao
evangelho genuinamente verdadeiro. E isto
aumenta e muito, quanto se digita a expressão
“Retorno ao Evangelho Verdadeiro”.
Alguém indagaria:
“Mas há este risco de se comprar gato por
lebre?”
“De se entrar por uma porta onde esteja escrito
evangelho, e abraçar uma ilusão?”
É evidente que sim. Como em qualquer outro
aspecto da vida, onde sempre haverá o falso e o
verdadeiro.
Todavia, no caso do evangelho, é muito fácil se
identificar qual seja o verdadeiro, e nisto somos
ajudados pela própria semântica da palavra
“evangelho”, que no original grego do Novo
174
Testamento, significa “anúncio de boas novas,
de boas notícias, de coisas boas”.
Ora, se aquilo que chamam de evangelho não é
de fato a melhor das notícias para a
humanidade, em relação à condição caída no
pecado em que se encontra, tendo um espírito
morto, sujeito à condenação eterna, então não
temos diante de nós nenhum verdadeiro
evangelho, porque segundo a promessa que nos
foi feita por Deus, da justificação, da salvação e
da vida eterna, e que se cumpre em Cristo, tem
que possuir tal característica de ser uma boa
nova de grande alegria, de um grande
livramento, de uma grande salvação.
O evangelho não traz em si qualquer juízo ou
condenação.
É a sua rejeição que produz tal efeito, porque na
verdade toda pessoa já se encontra sob juízo de
condenação, se não tem a Cristo, conforme Ele
próprio ensinou em João 3.18:
“Quem nele crê não é julgado; o que não crê já
está julgado, porquanto não crê no nome do
unigênito Filho de Deus.”
Façamos então umas poucas reflexões:

seria evangelho me dizerem que eu
necessito retornar a este mundo depois
de morto, para me purificar dos meus
175
erros? E isto em sucessivas vezes sem
conta?

seria uma boa notícia, dizer que devo ir
para um lugar intermediário entre a terra
e o terceiro céu, para purgar os meus
pecados, antes que possa ser admitido na
presença de Deus?

seria uma boa nova, anunciar que devo
me esforçar ao máximo fazendo boas
obras, para que de algum modo, possa ser
considerado digno de ser salvo por Deus e
ir para o céu depois da minha morte?
Por aí afora, multiplicam-se as indagações, que
sempre me conduzirão à conclusão de que de
fato não se trata de nenhum evangelho, ou seja,
de nenhuma grande e boa notícia para mim.
Mas, se alguém me diz, como fez nosso Senhor
Jesus Cristo, seus apóstolos, os chamados pais
da Igreja que se seguiram aos apóstolos, ou
alguém que segue ainda hoje nas mesmas
pegadas, que eu simplesmente devo crer em
Cristo, e aceitar pela graça o dom imerecido da
salvação olhando para Ele e confiando
simplesmente nEle, arrependido de meus
pecados, e que isto, por si só, é o suficiente para
me garantir o acesso ao céu, aí então tenho
diante de mim realmente uma grande e boa
notícia, na qual vale a pena, e muito mesmo, darlhe o devido crédito.
176
Em face dos muitos falsos evangelhos que havia
em seus próprios dias, logo no início da Igreja,
disse o apóstolo Paulo aos gálatas:
“Gál 1:6 Admira-me que estejais passando tão
depressa daquele que vos chamou na graça de
Cristo para outro evangelho,
Gál 1:7 o qual não é outro, senão que há alguns
que vos perturbam e querem perverter o
evangelho de Cristo.
Gál 1:8 Mas, ainda que nós ou mesmo um anjo
vindo do céu vos pregue evangelho que vá além
do que vos temos pregado, seja anátema
(amaldiçoado).
Gál 1:9 Assim, como já dissemos, e agora repito,
se alguém vos prega evangelho que vá além
daquele que recebestes, seja anátema.”
E também em Tito 3.4-7:
Tito 3:4 Quando, porém, se manifestou a
benignidade de Deus, nosso Salvador, e o seu
amor para com todos,
Tito 3:5 não por obras de justiça praticadas por
nós, mas segundo sua misericórdia, ele nos
salvou mediante o lavar regenerador e
renovador do Espírito Santo,
Tito 3:6 que ele derramou sobre nós ricamente,
por meio de Jesus Cristo, nosso Salvador,
177
Tito 3:7 a fim de que, justificados por graça, nos
tornemos seus herdeiros, segundo a esperança
da vida eterna.
E ainda em Efésios 2.8,9:
Efs 2:8 Porque pela graça sois salvos, mediante a
fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus;
Efs 2:9 não de obras, para que ninguém se glorie.
Se havia falso evangelho naquele tempo,
imagina então a possibilidade de haver muito
mais em nossos dias.
Não é para pouco propósito que nosso Senhor e
os apóstolos nos alertam na Bíblia a termos
muito cuidado com os falsos profetas, pastores e
mestres que se multiplicariam próximo do
tempo do fim. Porque isto tem a ver com o
destino eterno de nossas almas. Pela fé no
evangelho verdadeiro – céu. Por dar crédito a
qualquer outro evangelho – inferno.
Realmente, não dá para brincar ou vacilar com
tais coisas.
178
O Evangelho Não Condena
O que condena é a sua rejeição.
“Mas agora, sem lei, se manifestou a justiça de
Deus...” (Rom 3.21a)
“E é evidente que, pela lei, ninguém é justificado
diante de Deus, porque o justo viverá pela fé.
Ora, a lei não procede de fé,...” (Gal 3.11,12a)
Quando João Batista disse que a Lei veio por
Moisés, mas que a graça e a verdade vieram por
Jesus Cristo”, o que ele estava dizendo, em
outras palavras, era que no período da
dispensação da Lei, que vigorou de Moisés ao
próprio João Batista, não houve nenhum
evangelho em ação, apesar de ter sido
anunciado
pelos
profetas
do
Antigo
Testamento.
No
período
do
Velho
Testamento,
correspondente à aliança da lei, imperava a
condenação e a morte pelos juízos de Deus,
inclusive contra o próprio povo da aliança, a
saber, Israel.
Daí Paulo ter chamado aquela antiga aliança de
ministério da morte e da condenação.
Porque não havia evangelho naquele período.
179
Mas quando Jesus se manifestou e quando
morreu no lugar dos pecadores na cruz, entrou
em vigor uma nova aliança, agora não apenas
com Israel, mas com pessoas de todas as nações
da terra.
A graça e a verdade começaram a ser
abundantemente reveladas e manifestadas nas
vidas dos que creem no evangelho, a saber, que
já não há morte e condenação para os que creem
em Jesus Cristo.
Assim, no evangelho propriamente dito, não há
qualquer condenação, morte ou juízo, senão
libertação, vida, salvação, que são o fruto da
verdade e da graça que operam e habitam
naqueles que nele creem. Graça, justiça e
verdade que nos foram trazidas com a
manifestação de nosso Senhor Jesus Cristo.
O ministério da Lei condenava, porque fora
instituído por Deus para este propósito.
Todavia, o do evangelho liberta e salva, porque
manifesta a honra, a glória, a majestade, o
poder, a graça e todos os méritos que pertencem
à pessoa de nosso Senhor Jesus Cristo.
Daí dizer o apóstolo que já não há nenhuma
condenação para quem está em Cristo Jesus.
Não confundamos portanto, toda a Bíblia, como
se fosse o evangelho.
180
Porque em suas páginas há também registros de
revelações e situações exclusivamente relativos
à antiga dispensação da Lei.
O evangelho é encontrado, principalmente, nas
páginas do Novo Testamento, porque foram
produzidas e inspiradas por Deus, no período
que marcou o encerramento da aliança do
Velho Testamento, inaugurado com o advento
de Jesus Cristo.
Daí, Lei x Graça, ser uma boa indicação destes
dois períodos distintos, das duas grandes
alianças instituídas por Deus, sendo que a antiga
foi removida, por ter sido substituída pela nova
que é feita no sangue de Cristo.
Não devemos no entanto confundir juízo com
condenação.
Deus julga os seus próprios filhos, mas não
como um juiz togado, senão como um pai
amoroso que não os poupará da repreensão e
disciplina sempre que for necessário.
Ele açoita a todo filho a quem quer bem.
Todavia, a nenhum deles condenará a uma
sentença de morte e danação eternas.
Nosso Senhor Jesus Cristo dirige as seguintes
palavras à Igreja de Laodiceia:
“Eu repreendo e disciplino a quantos amo. Sê,
pois, zeloso e arrepende-te.” (Apo 3.19)
181
Por Que Jesus Não Veio Condenar?
O principal motivo de não existir tantos juízos
de Deus sendo despejados sobre a impiedade
das pessoas e das nações, como estes existiam
no período do Antigo Testamento, é que foi
inaugurada uma nova dispensação, a da graça,
desde que Jesus se ofereceu em sacrifício na
cruz.
Não há qualquer condenação no evangelho,
antes salvação, livramento, vida eterna, porque
é esta missão de Cristo, continuada na Sua
Igreja, nestes vinte séculos de vigor da Nova
Aliança feita no Seu sangue com todas as
pessoas que têm fé no Seu nome.
O próprio Cristo afirmou que não veio condenar
o mundo, mas salvar.
Foi com base nesta verdade que o apóstolo Paulo
afirmou o seguinte, dentre outras muitas
passagens equivalentes:
“Mas agora, sem lei, se manifestou a justiça de
Deus...” (Rom 3.21a)
“E é evidente que, pela lei, ninguém é justificado
diante de Deus, porque o justo viverá pela fé.
Ora, a lei não procede de fé,...” (Gal 3.11,12a)
182
Quando João Batista disse que a Lei veio por
Moisés, mas que a graça e a verdade vieram por
Jesus Cristo”, o que ele estava dizendo, em
outras palavras, era que no período da
dispensação da Lei, que vigorou de Moisés ao
próprio João Batista, não houve nenhum
evangelho em ação, apesar de ter sido
anunciado
pelos
profetas
do
Antigo
Testamento.
No
período
do
Velho
Testamento,
correspondente à aliança da lei, imperava a
condenação e a morte pelos juízos de Deus,
inclusive contra o próprio povo da aliança, a
saber, Israel.
Daí Paulo ter chamado aquela antiga aliança de
ministério da morte e da condenação.
Porque não havia evangelho naquele período.
Mas quando Jesus se manifestou e quando
morreu no lugar dos pecadores na cruz, entrou
em vigor uma nova aliança, agora não apenas
com Israel, mas com pessoas de todas as nações
da terra.
Não devemos portanto, entender que toda a
Bíblia seja o evangelho.
Porque ela contém também registros de
revelações e situações exclusivamente relativos
à antiga dispensação da Lei.
183
O evangelho é encontrado, principalmente, nas
páginas do Novo Testamento, porque foram
produzidas e inspiradas por Deus, no período
que marcou o encerramento da aliança do
Velho Testamento, inaugurado com o advento
de Jesus Cristo.
Daí, Lei x Graça, ser uma boa indicação destes
dois períodos distintos, das duas grandes
alianças instituídas por Deus, sendo que a antiga
foi removida, por ter sido substituída pela nova
que é feita no sangue de Cristo.
Não devemos no entanto confundir juízo com
condenação.
Deus julga os seus próprios filhos, mas não
como um juiz togado, senão como um pai
amoroso que não os poupará da repreensão e
disciplina sempre que for necessário.
Ele açoita a todo filho a quem quer bem.
Todavia, a nenhum deles condenará a uma
sentença de morte e danação eternas.
Nosso Senhor Jesus Cristo dirige as seguintes
palavras à Igreja de Laodiceia:
“Eu repreendo e disciplino a quantos amo. Sê,
pois, zeloso e arrepende-te.” (Apo 3.19)
184
O Que é Estar Debaixo da Graça e Não da
Lei
Não encontramos nas Escrituras a expressão
pacto de obras, ou aliança de obras.
Todavia ambas as formas, especialmente a
primeira é muito empregada para definir a
condição de Deus como o Grande Juiz e
Legislador que exige perfeição absoluta para
que possamos estar eternamente em Sua
presença.
A falta desta condição implica em morte
espiritual e eterna.
Em sua infinita sabedoria, bondade e
misericórdia, o Senhor tem conhecido pela sua
onisciência, que nenhum descendente de Adão
está habilitado para atender a tal demanda desta
Lei Eterna que emana da própria natureza
perfeitamente santa e justa de Deus.
Assim, entendemos que Ele não tem proposto a
pecadores uma opção de salvação por este modo
de se cumprir perfeitamente a Sua vontade e
mandamentos.
Isto sempre será feito por pura graça,
misericórdia, e simplesmente mediante a fé,
como foi proposto ao próprio Adão quando o
Senhor foi procurá-lo com a promessa da
185
redenção
quando
ele
se
escondeu
envergonhado da sua nudez atrás das árvores do
jardim.
Não pode entretanto, ser removida esta lei que
exige perfeição absoluta, e por isso Jesus não
morreu apenas como nosso substituto para
quitar a culpa do nosso pecado, como também
para nos revestir dessa perfeição requerida pela
justiça divina, que há de ser absoluta na glória, e
mediante o trabalho da santificação da graça
pelo Espírito Santo e aplicação da Palavra de
Deus aos nossos corações, conforme o penhor
do trabalho da nossa transformação e
purificação já iniciado aqui na Terra a partir da
nossa conversão.
O grande mandamento de Deus foi revelado por
Jesus como sendo o amor de uns pelos outros
com o mesmo amor com o qual ele nos amou.
Ou seja, o dever imposto é o de amar com o amor
de Deus.
Então quando Tiago alude a isto, ele se reporta
em sua epístola à questão da acepção de pessoas
que estava ocorrendo na igreja em favor dos
mais abastados e contra os pobres e
necessitados do rebanho.
Isto era um pecado claro e contundente
contrário ao que Ele chama de Lei Régia, ou seja
a Lei do Rei, esta Lei que está amarrada à própria
natureza e essência de Deus, que é amor.
186
“Se vós, contudo, observais a lei régia segundo a
Escritura: Amarás o teu próximo como a ti
mesmo, fazeis bem;” (Tiago 2.8)
Não convinha que aqueles que foram resgatados
da morte espiritual e eterna, inclusive e
principalmente
por se
transgredir
tal
mandamento do amor, que é o principal de
todos, continuassem transgredindo o mesmo.
“Falai de tal maneira e de tal maneira procedei
como aqueles que hão de ser julgados pela lei da
liberdade.” (Tiago 2.12)
A esta lei da liberdade da condenação em Cristo,
aludiu também o apóstolo Paulo em Rom 8.2:
“Porque a lei do Espírito da vida, em Cristo Jesus,
te livrou da lei do pecado e da morte.”
Então, se não fosse por Cristo, todo o nosso
esforço em cumprir perfeitamente a Lei – ao
qual devemos nos dedicar com sinceridade e
amor – seria totalmente perdido caso viéssemos
a transgredir um único ponto da lei que está
indissoluvelmente ligada à natureza de Deus,
porque é Legislador e Juiz conforme demanda a
sua justiça que haja perfeita conformação à sua
santidade e amor.
“Pois qualquer que guarda toda a lei, mas
tropeça em um só ponto, se torna culpado de
todos.” (Tiago 2.10) – Este é o caráter da lei para
aqueles que não estão debaixo da cobertura do
187
sangue de Jesus. Daqui vemos quão ineficaz é a
tentativa de se justificar por meio das obras da
lei.
Assim, devemos clamar e dar graças a Deus por
nos ter dado Jesus Cristo, juntamente com o
apóstolo quanto à nossa condição natural de
sermos achados mortos em delitos e pecados
que pode ser somente revertida por estarmos no
Senhor:
Rom 7:24 Desventurado homem que sou! Quem
me livrará do corpo desta morte?
Rom 7:25 Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso
Senhor. De maneira que eu, de mim mesmo,
com a mente, sou escravo da lei de Deus, mas,
segundo a carne, da lei do pecado.
188
Aceitos por Causa da Justificação
A
Bíblia ensina claramente que a carne é
inimizade contra Deus.
Que aquele que ama o mundo é inimigo de Deus.
Éramos seus inimigos porque não éramos justos
aos seus olhos de perfeita justiça e santidade.
Mesmo nos cristãos, que vivem na carne, há
guerras, lutas, divisões, contendas, porque a
falta
de
santificação
impede
um
relacionamento pacífico, harmonioso, em
unidade em amor.
Mas, mesmo nestes, por causa de Jesus Cristo, a
guerra relativa à sua inteira aceitação por Deus
acabou, porque são completamente justos aos
seus olhos pela salvação que obtiveram em
Cristo e que lhes deu acesso à glória da perfeição
que terão no céu.
Podem portanto viver e agir como inimigos de
Deus, amando o mundo e dispondo suas
energias para a carne, e certamente serão por
Ele disciplinados, mas são agora filhos amados,
por causa da justificação gratuita que
receberam pela misericórdia de Deus em Cristo
Jesus.
189
Foi por conhecer isto e por viver isto, que Paulo
se dirigia aos cristãos carnais coríntios,
chamando-os de filhos amados, mesmo quando
muitos deles estavam sendo disciplinados com
enfermidades e até a morte física, que procedia
de Deus, em razão da sua carnalidade ostensiva,
e que renitentemente, muitos deles se
recusavam a abandonar.
O nosso coração está corrompido e é ele a fonte
do pecado. Pecadinhos ou pecadões cheiram
mal nas narinas perfeitamente santas de Deus.
Todos somos condenáveis sob a Sua perfeita e
inflexível justiça. Somos livrados desta condição
somente por causa de Jesus Cristo.
190
Quem Condenará a Quem Deus Justifica?
Deus afirma na Bíblia que tem prazer em salvar
e que Seu braço nunca se recolherá para que
não possa remir. E nunca lhe faltará poder para
livrar do mal.
Então a consequência de falta de atendimento à
convocação à reconciliação, o resultado é
principalmente morte espiritual, que é a
condição de espírito resultante da falta de
comunhão com Deus.
Os que buscam o Senhor Jesus sempre
receberão dEle palavras boas para instrução e
para edificação e consolação porque não fala por
Si mesmo, mas pelo Pai. E demonstrou isto
fartamente em Seu ministério terreno.
O Pai Lhe sustentou na angústia, especialmente
nos momentos que acompanharam a Sua
morte, de modo que não recuou, ao contrário,
ofereceu-se voluntariamente para ser ferido em
suas costas com as chibatadas que recebeu dos
soldados romanos, e para que sua barba fosse
arrancada e não se envergonhou e não deixou
de contemplar corajosamente os rostos
daqueles que lhe cuspiam na face.
O Pai lhe amparou naquela hora difícil e por isso
não se sentiu confundido, e pôde assim fazer o
seu rosto como uma rocha inabalável, porque
191
sabia que não seria envergonhado, antes
glorificado e engrandecido pela Sua aflição e
morte.
Não foram os homens os seu juízes naquela
hora, porque a Sua morte foi injusta da parte dos
homens, mas justa aos olhos de Deus, não
propriamente por ter cometido alguma
transgressão, ou por ter algum pecado, mas
porque carregou os nossos pecados sobre Si, e
era a ofensa dos nossos pecados que estava
sendo visitada pelo juízo de Deus naquela hora
de terrível angústia e dor, que o Senhor
suportou por nós e em nosso lugar.
Foi o Pai que fez com que Ele fosse feito pecado
por nós, para que pudéssemos ser feitos justiça
para Deus.
Quem quiser contestar esta justiça divina deve
apresentar-se ao próprio Cristo para que juntos
sejam julgados por Deus.
Afinal foi justo o que o Pai fez por nós pelo Filho?
O Filho afirma que Ele foi justificado pelo Pai em
tudo o que fez. Quem é então o homem para
contender com Deus e para contestar tal obra,
se apresentado como adversário de Cristo?
Se é o Pai que justifica o Filho, então aqueles que
foram alvo da obra do Filho em Suas vidas,
convertendo-se a Ele, são também justificados
por Deus.
192
Assim quem intentará acusação contra eles?
Quem os condenará?
Os que ousarem fazer isto perecerão e
envelhecerão como um vestido e serão
consumidos pela traça do pecado, que destrói
oculta, silenciosa e progressivamente.
Então, aqueles que temem a Deus devem ouvir a
voz do Messias.
Os que andam em trevas e que não têm luz
devem simplesmente confiar no nome de Jesus
e se firmarem, não em suas próprias
convicções, mas no seu Deus.
Agora, aqueles que não atenderem tal
convocação e continuarem se cingindo com o
fogo do inferno, permanecerão andando em tais
labaredas de tormento e serão atormentados
para sempre pelo Senhor na morte espiritual
eterna.
Porque o evangelho, é aroma de vida para a vida
nos que se salvam, e cheiro de morte para a
morte nos que se perdem.
193
Resgatados da Ira e da Maldição
Lemos em Ef 2.14: “Porque ele é a nossa paz”.
Jesus mesmo é a nossa paz.
Enquanto Ele viver,
relacionamento de paz.
Ele
manterá
este
Deus ficou satisfeito com o sacrifício de Cristo
pelos nossos pecados.
Sua ira em relação aos justificados se foi, eles
têm paz e
nada pode
mudar este
relacionamento.
Lemos em Hb 8.12: “Pois, para com as suas
iniquidades usarei de misericórdia, e dos seus
pecados jamais me lembrarei.”.
Por quanto tempo isto durará? Para sempre. Por
que? Porque Cristo satisfez a ira de Deus.
Dizer a qualquer cristão verdadeiro que ele
pode perder sua salvação é dizer uma de duas
coisas ou ambas: o trabalho de Cristo na cruz
não foi suficiente ou o presente sumo
sacerdócio de Cristo também não é suficiente.
Todavia não há nada de maior suficiência em
todo o universo, porque é por meio de Cristo que
tudo o que existe permanece sustentado pela
palavra do Seu poder, que jamais passará.
194
A salvação não vem de nós, ela é um dom
gratuito e imerecido que recebemos por causa
de Cristo. É por meio dEle, e dEle somente que
tivemos acesso a essa graça maravilhosa e
profunda que nos salva (Rom 5.17).
195
Cristo, Nossa Redenção, Justiça e
Santificação
(I Cor 1.30)
Nenhum homem está perfeito fora de Cristo.
Veja que é dito em I Cor 1.30 que Ele se tornou da
parte de Deus para nós a nossa sabedoria,
justiça, santificação e redenção.
O apóstolo Paulo, bem instruído pelo Senhor
acerca da verdade do Evangelho não colocou a
nossa santificação aparte de Cristo.
Isto indica que é algo sobrenatural que teremos
na nossa efetiva associação com Ele, crescendo
em graça, de glória em glória, segundo a força
operante do Seu poder até a estatura de varão
perfeito.
Ainda que o pecado não tivesse entrado no
mundo,
necessitaríamos
estar
ligados
espiritualmente ao Senhor, participando de Sua
natureza divina, para que pudéssemos atingir o
alvo do propósito de Deus na nossa criação.
Afinal, há eficácia no poder do Senhor em
restaurar e tornar novas todas as coisas nas
vidas daqueles que confessam os seus pecados e
que fixam o propósito de Lhe serem agradáveis
em tudo.
196
Mais do que isso, nosso Senhor conquistou para
os que estão ligados a Ele, pela fé, uma salvação
segura e eterna.
Há uma figura maravilhosa no Velho
Testamento, dada pelo próprio Deus com o
propósito didático de nos ensinar esta verdade,
antes que ela se cumprisse em Cristo, a saber, a
firmeza, segurança e eternidade que há em
nosso Senhor Jesus Cristo e no Seu sangue, que
Ele derramou por nós na cruz.
Então vejamos:
Somente ao sumo-sacerdote de Israel, dentre
tantos sacerdotes, era permitida a entrada no
Santo dos Santos do tabernáculo terreno, uma
única vez por ano, e não sem o sangue do
sacrifício que deveria ser aspergido sobre a
tampa da arca da aliança, para que os pecados do
povo de Deus pudessem ser perdoados por mais
um ano.
Isto indicava que a expiação do pecado seria
realizada por uma única pessoa, e somente por
ela (nosso Senhor Jesus Cristo), que é sumosacerdote para sempre segundo a ordem de
Melquisedeque, não de um tabernáculo
terreno, mas do celestial.
Somente Ele poderia entrar no Santo dos Santos
do céu, para fazer expiação pelo pecado de todo
o povo de Deus, de uma vez para sempre, pela
197
oferta não de sangue de animais, mas do Seu
próprio sangue que havia derramado na cruz.
Ele entrou além do véu que separa o Lugar
Santo, do Santo dos Santos celestial, no qual
Deus Pai se encontra juntamente com os
querubins, e por isso, estes também estavam
representados em figura no tabernáculo
terreno.
Ali, fixou a esperança da nossa salvação como
uma âncora segura e firme, que penetrou além
do véu, ou seja, a nossa salvação está ancorada
pelo próprio Senhor, no Santo dos Santos
celestial, como se afirma em Hb 6.17-20.
Então, o plano de Deus na nossa salvação está
firmado na imutabilidade do seu propósito,
segundo a Sua promessa feita a Abraão, para que
tenhamos forte alento e certeza da segurança
eterna que temos em Cristo, conforme se lê
também em Hb 6.17-20.
Assim, quando a Bíblia fala em reconciliação
por meio de Cristo, está se referindo não a algo
passageiro ou que possa ser destruído, mas a
algo firme, eterno e seguro.
Estaremos
assim,
ainda
inseguros
ou
desinteressados em tal reconciliação, que é um
assunto de morte ou de vida?
O que escolheremos: a morte espiritual eterna
ou a vida eterna que está em Cristo Jesus?
198
Se queremos a vida, sejamos então humildes de
espírito e façamos uma confissão sincera dos
nossos pecados ao Senhor, com a firme
esperança de que seremos ouvidos, lavados e
curados.
Afinal, fomos criados para sermos à imagem e
semelhança do Senhor, e isto não pode existir
sem que participemos da vida do próprio Deus,
e cresçamos no homem interior (espírito)
quanto ao Seu caráter e atributos comunicáveis
(amor, santidade, misericórdia, etc).
“29 Porque os que dantes conheceu, também os
predestinou para serem conformes à imagem
de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito
entre muitos irmãos;” (Rom 8.29)
Esta imagem e semelhança não pode existir sem
estarmos ligados à Videira Verdadeira.
Ainda que não tivéssemos nenhum pecado, só
estaríamos atendendo à demanda da justiça
divina, se estivéssemos ligados a Jesus, posto
que fomos criados para pertencermos a Ele.
Pertencer não como quem possui um objeto.
Mas pertencer por ser participante da Sua
própria vida. A cabeça (Cristo) e o corpo (a
igreja).
Se Deus perdoasse apenas o nosso pecado e caso
não recebêssemos o Espírito Santo para
habitar em nós, ficando assim, desligados da
199
vida de Deus, não se poderia afirmar que apesar
de ter sido perdoados, que também estaríamos
justificados.
O perdão do pecado, a vitória sobre o pecado são
necessários, mas não são a causa de recebermos
a vida eterna prometida, porque esta é o próprio
Cristo vivendo em nós.
Assim, de nada aproveita ao homem confessar
os seus pecados sem se render ao senhorio de
Jesus Cristo.
“o qual foi entregue por causa das nossas
transgressões, e ressuscitou por causa da nossa
justificação.” (Rom 4.25)
A nossa justificação dependeu da ressurreição
de Jesus. Ora, ainda que ele morresse
resolvendo o problema do pecado, não
poderíamos ser justificados caso Ele não tivesse
ressuscitado, pois dependemos dEle mesmo
para tal, estando ligados à Sua vida.
O perdão foi e é necessário por causa do pecado.
A obra de expiação do pecado realizada por
Cristo na cruz do calvário tem a ver com a morte
do pecador, de modo a poder ser reconciliado
com Deus, mas a ressurreição de nosso Senhor
foi fundamental para que pudéssemos
participar da Sua própria vida ressurrecta,
obtendo assim, a vida eterna.
200
“10 Porque se nós, quando éramos inimigos,
fomos reconciliados com Deus pela morte de
seu Filho, muito mais, estando já reconciliados,
seremos salvos pela sua vida.
11 E não somente isso, mas também nos
gloriamos em Deus por nosso Senhor Jesus
Cristo, pelo qual agora temos recebido a
reconciliação.” (Rom 5.10,11)
O apóstolo Paulo mediante revelação e
inspiração do Espírito, entendeu que somos
salvos pela própria vida de Jesus, e é por meio
dEle mesmo, por estarmos nEle, que somos
reconciliados com Deus.
Podemos portanto afirmar que é em Cristo que
estamos justificados.
Não é incorreto afirmar também que fomos
justificados pelo sangue derramado na cruz,
porque a expiação do nosso pecado é a porta de
entrada para a justificação.
Há ainda outros que afirmam, em razão da
imputação da justiça de Jesus ao crente, que a
justificação é um ato declarativo da parte de
Deus pelo qual nos considera justos, o que
também é correto.
Seja qual for a conceituação que se dê à
justificação, esta deve estar respaldada na
Bíblia, portanto fica excluído qualquer conceito
que a concilie às nossas obras, ao cumprimento
201
da lei, enfim tudo que se relacione ao nosso
próprio trabalho e mérito, pois como temos
visto e continuaremos a aprender, a justificação
é um ato exclusivo de Deus, que nos é concedido
pela graça, e que recepcionamos simplesmente
pela fé.
A justificação pela fé abre a porta para um viver
na justiça do evangelho, de maneira que
recebemos a justiça imputada, atribuída da
justificação, para vivermos na justiça que é
implantada pelo Espírito Santo.
Em razão da desobediência de Adão todos
ficaram sujeitos ao pecado.
Não somos pecadores porque pecamos, mas
pecamos porque somos pecadores.
O pecado é uma lei que opera nos nossos
membros e que nos leva para longe de Deus.
Nossa natureza decaída foge da presença do
Senhor e não deseja submeter-se ao seu
senhorio.
Nenhum pecador teria amado a Deus se não
fosse primeiro amado por ele.
Ninguém buscaria entregar-lhe o coração se
não fosse atraído por Ele.
A justificação não pode significar que nos
tornamos perfeitamente justos desde que
202
tivemos um encontro pessoal com Cristo, pois
que ainda permanecemos sujeitos à ação do
pecado e nem se pode dizer de nós, enquanto
neste mundo, que chegaremos à plenitude da
perfeição das virtudes de Deus.
Isto ocorrerá somente no porvir.
Mas não se declara na Palavra que seremos
justificados no porvir.
A Bíblia afirma que já fomos justificados.
Então, a palavra justificação só pode se referir à
nossa condição de termos sido reconciliados
com Deus, por estarmos ligados a Cristo.
Qual seria a forma de se perder a justificação, se
possível, a não ser pelo nosso afastamento do
Senhor?
Se a nossa aproximação e aceitação dEle
significou para nós sermos justificados, o nosso
afastamento
dEle
implicaria
consequentemente a perda da justificação.
Por isso necessitamos de santificação: para
podermos permanecer ligados ao Senhor,
porque Ele mesmo é a garantia da nossa
justificação.
Mas, não permanecemos nEle, e somos
santificados,
simplesmente
para
não
perdermos a nossa justificação e
por
203
conseguinte a nossa salvação, mas, para
prosseguirmos
em
nosso
crescimento
espiritual, na nossa transformação pessoal à Sua
imagem e semelhança, conforme é o supremo e
eterno propósito de Deus.
É por isso que o Senhor afirma que não lança
fora a nenhum que vem a Ele, e que a vontade do
Pai é que não perca a nenhum dos que lhes
foram dados por Ele.
Isto significa sobretudo que enquanto
permanecermos nEle, nada poderá nos separar
do Seu amor, porque a obra de expiação que
fizera em nosso favor, para o perdão do nosso
pecado, foi completa, perfeita e segura; assim,
como a nossa justificação por estarmos nEle
possui também tais características, porque é
impossível que Ele possa ser vencido, e Sua vida
é eterna e inabalável.
Porém, é importante sabermos que se a
expiação da cruz é eterna, e nos concedido a
bênção de termos todas as nossas transgressões
cometidas antes da nossa conversão a Cristo,
perdoadas e esquecidas por Deus, o viver
vitorioso, pelo perdão de nossas transgressões
posteriores à conversão, depende de sucessivos
arrependimentos e confissões destes pecados
presentes.
A obra de convencimento do Espírito Santo em
relação ao pecado, procura também atrair-nos
204
para Deus, convencendo-nos de que há
disponibilidade e provisão de perdão e amor
para nós, ainda que pecadores.
Mas a obra do Espírito vai muito além. Ele não só
opera a morte da nossa velha natureza, como
também regenera-nos com uma nova vida, e
reveste-nos de poder especial através de dons e
capacitações espirituais para a realização do
nosso ministério.
A palavra regeneração, na Bíblia, vem do grego,
Genetós (nascido, gerado) Ánoten (de novo,
outra vez, de cima, do alto).
Este é o significado original e verdadeiro da
palavra, quanto à interpretação do texto bíblico.
A conotação atual que lhe é atribuída, de
reparar, consertar, não traduz a obra do Espírito
em nós.
Nada há da herança recebida de Adão que possa
ser melhorado.
O que herdamos dele foi sentenciado à morte na
cruz do calvário.
A nova vida que temos em nós é a do próprio
Cristo.
Por isso somos convocados a nos despojarmos
do velho homem e a nos revestirmos da vida de
205
Cristo, que é designada biblicamente como a
vida do novo homem.
“Mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo; e não
tenhais
cuidado
da
carne
em
suas
concupiscências.” (Rm 13.14)
“9 De modo que os que são da fé são abençoados
com o crente Abraão.
10 Pois todos quantos são das obras da lei estão
debaixo da maldição; porque escrito está:
Maldito todo aquele que não permanece em
todas as coisas que estão escritas no livro da lei,
para fazê-las.
11 É evidente que pela lei ninguém é justificado
diante de Deus, porque: O justo viverá da fé;”
(Gál 3.9-11)
“27 Porque todos quantos fostes batizados em
Cristo vos revestistes de Cristo.” (Gál 3.27)
“20 Mas vós não aprendestes assim a Cristo.
21 se é que o ouvistes, e nele fostes instruídos,
conforme é a verdade em Jesus,
22 a despojar-vos, quanto ao procedimento
anterior, do velho homem, que se corrompe
pelas concupiscências do engano;
23 a vos renovar no espírito da vossa mente;
206
24 e a vos revestir do novo homem, que segundo
Deus foi criado em verdadeira justiça e
santidade.” “Ef 4.20-24”
“9 não mintais uns aos outros, pois que já vos
despistes do homem velho com os seus feitos,
10 e vos vestistes do novo, que se renova para o
pleno conhecimento, segundo a imagem
daquele que o criou;” (Col 3.9,10)
Paulo coloca a questão da obra da regeneração e
santificação, nos seguintes termos: Fomos
despojados do velho homem e revestidos de
Jesus na conversão, mas este despojamento e
revestimento devem prosseguir no processo de
santificação.
A vida de Jesus é o vinho novo que deve ser
colocado em odres novos. Não odres velhos ou
que serão reparados e melhorados.
Se houvesse necessidade de remendo
(conserto) nessa vida nova, este seria feito com
tecido novo, pois em Jesus, recebemos uma
vestimenta de vida inteiramente nova.
A velha natureza é inteiramente incompatível
com a nova natureza que recebemos de Deus na
conversão.
Por isso, o Senhor não trabalha com aquilo que
é relativo à nossa antiga natureza decaída no
pecado, procurando consertá-la.
207
Não.
Ele trabalha somente com o que é novo, e a obra
de aperfeiçoamento que realiza em nós referese exclusivamente a esta nova vida.
O enchimento do Espírito Santo, das Suas
virtudes, é qual o vinho novo que é colocado no
odre.
Deus quer nos encher mais e mais do seu
Espírito (Ef 5.18).
Acheguemo-nos a ele como odres novos que
somos para que ele nos encha da Sua vida divina.
“16 Ninguém põe remendo de pano novo em
vestido velho; porque semelhante remendo tira
parte do vestido, e faz-se maior a rotura.
17 Nem se deita vinho novo em odres velhos; do
contrário se rebentam, derrama-se o vinho, e os
odres se perdem; mas deita-se vinho novo em
odres novos, e assim ambos se conservam.” (Mt
9.16,17)
“Expurgai o fermento velho, para que sejais
massa nova, assim como sois sem fermento.
Porque Cristo, nossa páscoa, já foi sacrificado.”
(I Cor 5.7)
“Pelo que, se alguém está em Cristo, nova
criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que
tudo se fez novo.”(II Cor 5.17)
208
Em Cristo temos sido aperfeiçoados.
Podemos ser ainda imperfeitos, mas seremos
perfeitos
como
Ele
é
perfeito,
se
permanecermos firmes na fé e nEle mesmo.
Somos chamados de justos, ainda que
imperfeitos, porque estamos nAquele que é
perfeito.
No porvir seremos também perfeitamente
justos, não por nosso próprio poder e
autoridade,
mas
por
participarmos
completamente dAquele que é a própria
perfeição: o Senhor.
O problema do pecado precisa ser tratado antes,
para que o propósito eterno de Deus, em amor,
de ter muitos filhos semelhantes a Cristo, possa
ser cumprido.
Para este propósito, Deus foi se revelando
gradualmente.
A revelação pessoal vem antes da escrita.
Primeiro Ele se revelou, depois inspirou
homens a registrar o que considerou essencial
para a nossa instrução espiritual, de modo que
possamos entender quem Ele é, e qual é a Sua
vontade em relação a nós.
A Bíblia foi sendo produzida desse modo.
209
Adão, Noé, Abraão, Jacó, José. Somente muitos
séculos depois, Moisés foi encarregado de
registrar no que viria a ser o livro de Gênesis, a
história da revelação referente ao período da
vida desses homens.
A Antiga Aliança, a conquista de Canaã, os
juizes, o reinado em Israel, os profetas, os
cativeiros, tudo isso foi registrado nos livros do
Antigo Testamento.
Mas, Deus revelou também nos dias do Velho
Testamento as coisas que haveriam de
acontecer no futuro, tanto as relativas à obra de
Jesus, do Espírito Santo, como também ao
arrebatamento, à glorificação dos salvos e ao
Juízo Final.
Se os escribas e fariseus conhecessem as
Escrituras como convém, e se conhecessem o
poder de Deus, provavelmente teriam topado
com a vontade do Senhor, e não teriam se
confrontado com Jesus, conforme encontramos
registrado nos quatro evangelhos.
Se erravam porque não conheciam as Escrituras
e o poder de Deus, certamente não teriam
errado o alvo do propósito da vida, caso
conhecessem a sã doutrina por revelação do
Espírito Santo, mas para isto seria necessário
que se convertessem a Cristo.
Vemos assim a importância dessas duas coisas
essenciais: a) conhecimento correto da
210
revelação bíblica; b) comunhão com Deus no
Espírito.
Como não tinham uma coisa nem outra, não
puderam reconhecer a manifestação da justiça
de Deus, na pessoa de Jesus, conforme
prometido aos profetas.
“Mas no Senhor será justificada e se gloriará
toda a descendência de Israel.” (Is 45.25)
“5 Eis que vêm dias, diz o Senhor, em que
levantarei a Davi um Renovo justo; e, sendo rei,
reinará e procederá sabiamente, executando o
juízo e a justiça na terra.
6 Nos seus dias Judá será salvo, e Israel habitará
seguro; e este é o nome de que será chamado: O
SENHOR JUSTIÇA NOSSA.” (Jer 23.5,6)
“21 Mas agora, sem lei, tem-se manifestado a
justiça de Deus, que é atestada pela lei e pelos
profetas;
22 isto é, a justiça de Deus pela fé em Jesus Cristo
para todos os que creem; pois não há distinção.
23 Porque todos pecaram e destituídos estão da
glória de Deus;
24 sendo justificados gratuitamente pela sua
graça, mediante a redenção que há em Cristo
Jesus,” (Rom 3.21-24)
211
“3 Porquanto, não conhecendo a justiça de
Deus, e procurando estabelecer a sua própria,
não se sujeitaram à justiça de Deus.
4 Pois Cristo é o fim da lei para justificar a todo
aquele que crê.” (Rom 10.3,4)
O fim da lei, isto é, a finalidade da Antiga
Aliança, das Escrituras do Antigo Testamento,
foi a de apontar para a redenção, justificação e
santificação em Jesus Cristo.
Mas os judeus, em sua grande maioria não
compreenderam isto, e assim, rejeitaram ao
Senhor.
“30 Mas vós sois dele, em Cristo Jesus, o qual
para nós foi feito por Deus sabedoria, e justiça, e
santificação, e redenção;” (I Cor 1.30)
O apóstolo Paulo afirmou que a justiça que dá
vida não pode ser procedente das obras da lei,
mas da nossa fé em Cristo.
“16 sabendo, contudo, que o homem não é
justificado por obras da lei, mas sim, pela fé em
Cristo Jesus, temos também crido em Cristo
Jesus para sermos justificados pela fé em Cristo,
e não por obras da lei; pois por obras da lei
nenhuma carne será justificada.” (Gál 2.16)
“11 É evidente que pela lei ninguém é justificado
diante de Deus, porque: O justo viverá da fé;
212
21 É a lei, então, contra as promessas de Deus?
De modo nenhum; porque, se fosse dada uma lei
que pudesse vivificar, a justiça, na verdade, teria
sido pela lei.
22 Mas a Escritura encerrou tudo debaixo do
pecado, para que a promessa pela fé em Jesus
Cristo fosse dada aos que creem.” (Gál 3.11,21,22)
“9 e seja achado nele, não tendo como minha
justiça a que vem da lei, mas a que vem pela fé
em Cristo, a saber, a justiça que vem de Deus
pela fé;” (Fp 3.9)
Cremos que quando o apóstolo Tiago afirmou
que uma pessoa não é justificada somente por fé
mas também por obras, queria referir-se à
necessidade de se viver obedientemente a Deus,
assim como vivera Abraão, pois, sem qualquer
sombra de dúvida esta é a única forma de se
evidenciar e se comprovar o fato de ter sido
justificado por meio da fé.
A este respeito também nos falou o apóstolo
Pedro no primeiro capítulo de sua segunda
epístola, onde exorta os crentes a crescerem na
prática da justiça, de maneira a confirmarem a
sua eleição e a terem amplamente garantida a
sua entrada no reino de Deus (II Pe 1.5-11).
Em textos que se referem à justificação,
encontramos os verbos gregos “elogáu” e
“logízomai”, que têm o significado de “atribuir”
e “imputar”.
213
Referem-se no sentido original a uma operação
de registro contábil.
Isto significa que na contabilidade de Deus a
nossa dívida foi cancelada, e em seu lugar
lançado um crédito de vida eterna, graças à obra
e pessoa de Jesus Cristo.
“3 Pois, que diz a Escritura? Creu Abraão a Deus,
e isso lhe foi imputado como justiça.
4 Ora, ao que trabalha não se lhe conta a
recompensa como dádiva, mas sim como dívida;
5 porém ao que não trabalha, mas crê naquele
que justifica o ímpio, a sua fé lhe é atribuída
como justiça;
6 assim também Davi declara bem-aventurado o
homem a quem Deus atribui a justiça sem as
obras, dizendo:
7 Bem-aventurados aqueles cujas iniquidades
são perdoadas, e cujos pecados são cobertos.
8 Bem-aventurado o homem a quem o Senhor
não imputará o pecado.
9 Vem, pois, esta bem-aventurança sobre a
circuncisão somente, ou também sobre a
incircuncisão? Porque dizemos: A Abraão foi
imputada a fé como justiça.
214
10 Como, pois, lhe foi imputada? Estando na
circuncisão, ou na incircuncisão? Não na
circuncisão, mas sim na incircuncisão.
11 E recebeu o sinal da circuncisão, selo da
justiça da fé que teve quando ainda não era
circuncidado, para que fosse pai de todos os que
creem, estando eles na incircuncisão, a fim de
que a justiça lhes seja imputada, (Rom 4.3-11)
A justiça de Deus não somente perdoa até
mesmo os piores malfeitores, como também
remove a sua culpa, e os transforma em pessoas
justas e santas, pela simples expressão de
arrependimento e fé.
O melhor de tudo: é por tal justiça divina que
alcançamos a vida eterna. De modo que aqueles
que têm a justiça de Deus, têm também a vida
eterna, porque por ela (justiça) são justificados e
tornados justos.
Aqueles que não têm tal justiça divina jamais
terão a vida.
Romanos 9.30-32; 10.3-9
Por isso se nos ordena que busquemos não
apenas o reino de Deus, mas também a sua
justiça, porque sem esta justiça, não teremos a
vida eterna.
215
Deste modo, o dom da justiça divina em Jesus
Cristo é relacionado na Bíblia, à própria
salvação:
Is 46.13; 51.5,6,8; 56.1; Dn 9.24; Mal 4.2
Podemos ver então o quão crucial é que sejamos
justificados por Deus para que sejamos salvos,
de modo a alcançar a vida eterna.
Quando se afirma em Habacuque 2.4 que o justo
viverá pela sua fé, é importante observar que
está sendo afirmado que somente os justos
terão vida eterna. Então o homem necessita da
justiça perfeita de Deus para ter vida, e tal justiça
lhe é concedida por meio da fé, como se afirma
no texto de Hc 2.4.
Quando a palavra “justiça” é usada na Bíblia com
o sentido de “juízo”, ela é vertida do original
grego “krisis”.
Mas quando é usada para se referir à salvação, a
palavra da qual é vertida no grego é
“dikaiossine”, que é encontrada nos seguintes
textos, dentre outros:
Lucas 7.29; João 16.8, 10; Atos 13.10; 24.25;
Romanos 1.17; 3.5, 21, 22, 25, 26; 4.3, 5, 6, 9, 11, 13,
22; 6.13, 16, 18, 19, 20; 8.10; 9.31; 10.3-6, 10; 14.17; I
Coríntios 1.30; II Coríntios 3.9; 5.21; 6.7, 14;
Gálatas 2.21; 3.6, 21; 5.5; Efésios 4.24. 5.9; 6.14;
Filipenses 1.11; 3.9; I Timóteo 6.11; II Timóteo 2.22;
3.16; 4.8; Hebreus 5.13; 7.2; 11.7, 33; 12.11; Tiago
216
1.20; 2.23; 3.18; I Pedro 2.24; 3.14; II Pedro 1.1; 2.5,
21; 3.13; I João 2.29; 3.7, 10; Apocalipse 15.4; 19.8;
22.11.
Destes textos, veja por exemplo, o que se afirma
em Rom 8.10:
”Ora, se Cristo está em vós, o corpo, na verdade,
está morto por causa do pecado, mas o espírito
vive por causa da justiça.” (Rom 8.10)
Veja que se fala de uma vida do espírito por
causa da justiça.
Em Fp 3.9:
“e seja achado nele, não tendo como minha
justiça a que vem da lei, mas a que vem pela fé
em Cristo, a saber, a justiça que vem de Deus
pela fé;” (Fp 3.9)
Em Rom 3.21-26:
“21 Mas agora, sem lei, tem-se manifestado a
justiça de Deus, que é atestada pela lei e pelos
profetas;
22 isto é, a justiça de Deus pela fé em Jesus Cristo
para todos os que creem; pois não há distinção.
23 Porque todos pecaram e destituídos estão da
glória de Deus;
217
24 sendo justificados gratuitamente pela sua
graça, mediante a redenção que há em Cristo
Jesus,
25 ao qual Deus propôs como propiciação, pela
fé, no seu sangue, para demonstração da sua
justiça por ter ele na sua paciência, deixado de
lado os delitos outrora cometidos;
26 para demonstração da sua justiça neste
tempo presente, para que ele seja justo e
também justificador daquele que tem fé em
Jesus.” (Rom 3.21-26)
Veja de que forma direta o apóstolo relaciona a
justiça com a salvação, com a justificação
instantânea da conversão inicial pela qual foram
esquecidos todos os pecados cometidos antes de
se receber tal dom da justiça que é por meio da
fé, prometido por Deus desde os profetas e até
mesmo pela Lei de Moisés.
E em Rom 5.17,18,21:
“17 Porque, se pela ofensa de um só, a morte veio
a reinar por esse, muito mais os que recebem a
abundância da graça, e do dom da justiça,
reinarão em vida por um só, Jesus Cristo.
18 Portanto, assim como por uma só ofensa veio
o juízo sobre todos os homens para condenação,
assim também por um só ato de justiça veio a
graça sobre todos os homens para justificação e
vida...
218
21 para que, assim como o pecado veio a reinar
na morte, assim também viesse a reinar a graça
pela justiça para a vida eterna, por Jesus Cristo
nosso Senhor.” (Rom 5.17,18,21)
No verso 17 está escrito: “reinarão em vida os
que recebem do dom da justiça”.
No verso 18 se diz em outras palavras que: “é a
justiça que dá vida, e o único ato de justiça pelo
qual veio a graça para justificação e vida, foi a
expiação do pecado realizada por Jesus Cristo na
cruz.
No verso 21 se afirma expressamente que a
graça reina por causa da justiça, para que
tenhamos vida eterna por meio de nosso Senhor
Jesus Cristo.
A justiça verdadeira demanda que sejamos e
hajamos em conformidade com o que Deus é, e
segundo a Sua vontade.
Então, ser justo significa atender a tal exigência
da justiça divina que sejamos sobretudo
conformados à Sua santidade.
Assim, não basta ser justo apenas em relação
aos homens por cumprir os mandamentos de
não adulterar, matar, mentir, furtar, cobiçar,
porque importa ser também justo para com
Deus, por sermos santificados por Ele, para
aquela vida perfeita que teremos no céu.
219
Todavia, não se pode ser e fazer tudo isso, sem
Cristo, e daí se dizer que Ele se tornou da parte
de Deus para nós a nossa justiça (I Cor 1.30) e que
a finalidade da lei de Deus é o próprio Cristo para
a justiça dos crentes.
Como Cristo se torna a justiça do crente?
Primeiro, através da justiça atribuída quando se
arrependem e se convertem a Deus tornando-se
a partir de então seus filhos, pelo que a bíblia
chama de justificação.
Em segundo lugar através da justiça implantada
pela operação do Espírito Santo através da
regeneração e da santificação.
Por que necessitamos da justiça atribuída, além
da implantada?
Porque é somente por ela que poderíamos ser
perdoados de nossos pecados e culpa, e sermos
reconciliados com Deus.
Por que necessitamos da justiça implantada?
Porque é por meio dela que somos
transformados à imagem de Deus aprendendo a
ser misericordiosos, longânimos, perdoadores,
amorosos, justos, bondosos, etc, tal como é o
próprio Deus. E é nesse aumento cada vez maior
da nossa semelhança com Jesus que nos
tornamos cada vez mais justos, porque vimos
que a justiça significa ser igual a Deus, e isto é
220
operado em
santificação.
nós
pela
regeneração
e
Somente Deus é a origem e a fonte da justiça
eterna e verdadeira, sem a qual ninguém pode
viver em comunhão com Ele.
A justiça demanda atos justos.
Por exemplo: o peso e a medida devem
corresponder
exatamente
ao
padrão
convencionado, ou seja, um quilo deve ser um
quilo, e não mais ou menos do que isto.
O que é justo não deve enganar ou prejudicar a
quem quer que seja.
O que é bom não deve ser considerado ruim, e o
que é ruim considerado bom.
O culpado não deve ser inocentado, e nem o
inocente ser condenado.
O que age corretamente não deve ser castigado,
assim como não se deve poupar o malfeitor do
devido castigo.
Por isso Jesus teve que ser castigado no nosso
lugar para sermos redimidos, para que a justiça
divina não fosse ofendida.
Deus pode perdoar os nossos pecados porque
eles foram totalmente castigados em Jesus.
221
Assim, por sermos pecadores, toda a justiça de
Deus para nós é de caráter evangélico, na qual
deve ser sempre lembrada a substituição que foi
feita por Jesus, colocando-se em nosso lugar
para receber em sua morte na cruz, a
condenação relativa à nossa culpa, e em razão
do exercício do perdão, amor e misericórdia,
para que tais atributos sejam achados em nós tal
como eles se encontram em Deus.
Se o caráter da nossa justiça é evangélico, isto é,
baseado na expiação e perdão de Jesus, pela
nossa fé no evangelho, então, enquanto neste
mundo, não somos justos para Deus pelo fato de
nunca falharmos ou errarmos, mas pelo fato de
nos arrependermos de nossos pecados.
O arrependimento sincero fará com que
achemos o favor e o perdão de Deus para nos
purificar de toda injustiça, como se afirma no
primeiro capítulo de I João, porque o
arrependimento verdadeiro consiste numa real
mudança de atitude e de comportamento,
deixando-se o que é mau, e praticando o que é
bom e reto segundo a vontade de Deus,
conforme nos é concedido pelo poder da Sua
graça.
Assim, a justiça evangélica que os crentes têm
em Jesus excede em muito a justiça que há no
mero cumprimento da Lei escrita, porque
atinge também e leva em consideração as
222
nossas atitudes, reações e intenções, ainda que
não venham a se transformar em atos.
A justiça que Deus exige de nós, Ele mesmo nôla concede, através de Jesus Cristo e do trabalho
do Espírito Santo em nossos corações. E Deus
tem grande prazer neste trabalho de nos tornar
cada vez mais justos, pelo aumento da nossa fé
em graus cada vez maiores.
É muito importante sabermos isto para não
incorrermos no mesmo erro dos escribas e
fariseus, que condenavam os inocentes, ou seja,
aqueles cujos pecados viriam a ser perdoados
por Deus, tornando-os assim isentos de culpa
diante dEle, porque os fariseus não sabiam o
modo pelo qual Deus justifica pecadores, a
saber, pela graça, mediante a fé.
Os fariseus desconheciam a verdade que todos
os pecadores estão destituídos de qualquer
justiça própria diante de Deus que possa
justificá-los.
Assim, a justiça é um dom gratuito de Deus que
se recebe e que se vive somente pela fé nEle, e
na Sua Palavra.
Deste modo, de si mesmos, os homens não têm
nenhuma recompensa para receberem da parte
de Deus.
Bem-aventurados são apenas aqueles que são
perseguidos não por causa da justiça própria
223
deles, mas por pregarem e viverem a justiça do
reino de Deus, a saber, a justiça evangélica que
se recebe gratuitamente, mediante a fé. Estes e
somente estes serão recompensados por Deus.
A justiça de Deus revela que os propósitos
divinos não podem ser frustrados, por causa do
pecado, por isso não é justo que não se perdoe
um pecador que tenha se arrependido.
Não somos nós que possuímos a justiça. É ela
quem nos possui e somos seus servos (Rm 6.18;
II Cor 3.9).
Assim, somos convocados a julgar segundo a
reta justiça que se baseia não nos nossos
padrões de certo e de errado, mas nos padrões
de Deus revelados na Sua Palavra.
A justiça é necessária para que tenhamos vida
eterna e a manifestação de tal vida no nosso dia
a dia, como se vê em textos como: Dt 16.20; Jer
23.6; 33.15; Dn 9.24; Mt 5.6; Rom 1.17; 5.17,18; 6.16;
8.10 e Gál 3.21.
Concluímos então, que se ser justo é ser santo,
assim como Deus é santo, ou seja, sermos como
Deus é, então é pela justificação que se tem
acesso à santidade de Deus, e pela santificação,
que se obtém maiores graus da justiça de Deus,
e por conseguinte, da manifestação da Sua vida
em nós, porque é pela Sua justiça eterna
implantada em nós pela santificação, que
podemos ter maiores graus da vida eterna. Por
224
isso a Bíblia trata a santificação como sendo um
assunto de vida, e a falta de tal santificação como
um assunto de morte.
Portanto, quanto mais justos formos, mais
teremos da vida de Cristo em nós.
Não justos pela nossa justiça própria, mas justos
pelo crescimento na justiça que é pela graça,
mediante a fé, e que não é deste mundo, mas
que nos vem do céu, especialmente pelo
exercício da vigilância, da oração, da
santificação.
Bem-aventurados são aqueles que têm fome e
sede de tal justiça divina, porque serão fartos da
vida eterna de Deus.
Erram aqueles que dizem que Deus não é
somente amor, mas também justo e justiça, para
afirmarem que Ele castigará o pecado, porque
quando é justo e justiça Deus não age com juízos,
como Juiz, sobre os pecadores, ao contrário, Ele
lhes redime e lhes dá a vida eterna por meio da
justiça de nosso Senhor Jesus Cristo.
Quando Adão pecou a justiça do homem foi
perdida para sempre, de modo que necessita da
justiça de um outro, para que possa ter vida, a
saber, a de Cristo, que jamais se perde ou acaba,
porque é justiça eterna e perfeita.
Vimos que é a justiça que dá vida, de modo que
não se pode viver sem ser justo. O ímpio
225
perecerá eternamente, mas o justo, por causa da
fé, viverá eternamente. (Rom 3.21-31)
Se a justificação foi imputada, atribuída, quando
cremos, então de fato ela foi recebida
simplesmente pela graça mediante a fé.
Não dependeu de qualquer ato ou esforço da
nossa parte, além do arrependimento e da fé.
Daí Paulo afirmar que não a recebemos como
salário em razão do nosso trabalho ou alguma
boa obra que tenhamos realizado para Deus
(Rom 4.5,6).
Muito da doutrina da chamada “graça” barata
ou irresponsável decorre da incorreta
interpretação de textos como os que acabamos
de ler, que discorrem sobre justificação e não
sobre santificação.
“Está vendo irmão! Não precisamos de boas
obras, não precisamos nos esforçar para
agradar a Deus! É tudo pela fé! É tudo pela graça!
Nada de mandamento! Chega de lei! Sou livre
para viver e fazer o que bem entender!”. Diria
alguém.
De fato foi para a liberdade que Cristo nos
libertou. Somos de fato livres. Mas que
liberdade é esta? Para pecar?
Não é antes de tudo, liberdade para vivermos
segundo o propósito de Deus?
226
De fato é tudo pela graça e pela fé. Mas isto
exclui a nossa diligência, perseverança, esforço,
boas obras?
Não estamos de fato debaixo da lei, no sentido de
não estarmos debaixo da Antiga Aliança, e não
mais sob a maldição da Lei que considera
malditos e sujeitos à ira de Deus todo aquele que
não permanece perfeitamente na prática de
todos os seus mandamentos, mas disto estão
excluídos os crentes por causa de Jesus Cristo,
sem que no entanto não estejam sem lei para
Deus, pois estão debaixo da lei de Cristo (I Cor
9.21).
É preciso discernir quais textos bíblicos falam
de justificação e quais se referem ao processo da
santificação, pois a justificação não é um
processo mas uma condição a que acessamos
quando nos convertemos a Cristo e o recebemos
como nosso Salvador. E esta condição, como
vimos antes, é a de termos sido enxertados em
Sua própria vida.
Por exemplo, o texto abaixo, na mesma epístola
aos Romanos, fala de santificação e não de
justificação:
“18 e libertos do pecado, fostes feitos servos da
justiça.
19 Falo como homem, por causa da fraqueza da
vossa carne. Pois assim como apresentastes os
vossos membros como servos da impureza e da
227
iniquidade para iniquidade, assim apresentai
agora os vossos membros como servos da
justiça para santificação.” (Rom 6.18,19)
A liberdade do crente é sobretudo da escravidão
do pecado. Note que Paulo diz que ele foi
libertado de um cativeiro para ser escravo de
um outro, a saber, da justiça.
O crente foi libertado do pecado para ser servo
de Jesus.
Esta é a verdadeira liberdade do homem: poder
viver para o propósito para o qual fora criado, a
saber, ser do Senhor.
No Senhor Jesus estamos justificados.
Por isso somos exortados a permanecer nEle
para que Ele permaneça em nós. Não importa
qual seja a nossa estatura espiritual. Quanto
ainda deveremos crescer na graça e no
conhecimento dEle.
Já estamos, enquanto nEle, perfeitamente
justificados, desde o dia da nossa conversão.
Ainda que imperfeitos, mas prosseguindo para
o alvo da soberana vocação, cooperando com a
obra do Espírito Santo, na nossa transformação
pessoal, já não estamos mais debaixo da
condenação da lei ou da acusação do diabo
porquanto fomos justificados.
228
Assim, o efeito da justificação será além desta
justiça de Cristo que nos é atribuída pela fé, a
capacitação recebida a partir da mesma de
crescer na prática da justiça evangélica, no que
poderíamos chamar de justiça divina não
imputada, mas implantada progressivamente
em nossa vida, pela auto-negação do ego, da
mortificação do pecado, do carregar diário da
cruz, e o seguir a Jesus pela prática das boas
obras.
“1 Portanto, agora nenhuma condenação há
para os que estão em Cristo Jesus.” (Rom 8.1)
“33 Quem intentará acusação contra os
escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica;
34 Quem os condenará? Cristo Jesus é quem
morreu, ou antes quem ressurgiu dentre os
mortos, o qual está à direita de Deus, e também
intercede por nós;” (Rom 8.33,34)
Em Jesus estamos perfeitamente perdoados. O
Seu sangue foi derramado na cruz para fazer
propiciação pelos nossos pecados do passado, e
dos que eventualmente praticarmos no
presente e no futuro.
Todavia, se temos o perdão pleno total dos
pecados praticados antes da conversão, ou seja,
antes de sermos justificados, no entanto, depois
de convertidos necessitamos de confissão e
também arrependimento para o perdão dos
nossos pecados presentes, sem que isto
229
implique o risco de perda de salvação de
genuínos crentes, por causa de uma possível
falha ou negligência deste dever, e tal garantia é
obtida por causa do caráter eterno da
justificação, conforme veremos afirmado em
vários textos bíblicos, inclusive no Velho
Testamento, especialmente no profeta Isaías.
Isto foi prometido por Deus desde os dias do
Antigo Testamento, através do ministério dos
profetas.
“31 Eis que os dias vêm, diz o Senhor, em que
farei um pacto novo com a casa de Israel e com
a casa de Judá,
32 não conforme o pacto que fiz com seus pais,
no dia em que os tomei pela mão, para os tirar da
terra do Egito, esse meu pacto que eles
invalidaram, apesar de eu os haver desposado,
diz o Senhor.
33 Mas este é o pacto que farei com a casa de
Israel depois daqueles dias, diz o Senhor: Porei a
minha lei no seu interior, e a escreverei no seu
coração; e eu serei o seu Deus e eles serão o meu
povo.
34 E não ensinarão mais cada um a seu próximo,
nem cada um a seu irmão, dizendo: Conhecei ao
Senhor; porque todos me conhecerão, desde o
menor deles até o maior, diz o Senhor; pois lhes
perdoarei a sua iniquidade, e não me lembrarei
mais dos seus pecados.”(Jer 31.31-34)
230
Somente o crente está morto em Cristo para o
pecado e, portanto, para a condenação da lei. Daí
dizer-se também que não está sob a lei e sim sob
a graça.
“4 Ora, ao que trabalha não se lhe conta a
recompensa como dádiva, mas sim como dívida;
5 porém ao que não trabalha, mas crê naquele
que justifica o ímpio, a sua fé lhe é contada como
justiça;” (Rom 4.4,5)
“14 Pois o pecado não terá domínio sobre vós,
porquanto não estais debaixo da lei, mas
debaixo da graça.
15 Pois quê? Havemos de pecar porque não
estamos debaixo da lei, mas debaixo da graça?
De modo nenhum.” (Rom 6.14,15)
“4 Assim também vós, meus irmãos, fostes
mortos quanto à lei mediante o corpo de Cristo,
para pertencerdes a outro, àquele que ressurgiu
dentre os mortos a fim de que demos fruto para
Deus.
5 Pois, quando estávamos na carne, as paixões
dos pecados, suscitadas pela lei, operavam em
nossos membros para darem fruto para a morte.
6 Mas agora fomos libertos da lei, havendo
morrido para aquilo em que estávamos retidos,
para servirmos em novidade de espírito, e não
na velhice da letra.” (Rom 7.4,6)
231
“19 Pois eu pela lei morri para a lei, a fim de viver
para Deus.” (Gál 2.19)
“13 Cristo nos resgatou da maldição da lei,
fazendo-se maldição por nós; porque está
escrito: Maldito todo aquele que for pendurado
no madeiro;” (Gál 3.13)
No capítulo sexto de Romanos, Paulo discorre
sobre a expiação, justificação e santificação.
Como afirmou em I Cor 1.30 que Cristo mesmo
é a nossa justificação e santificação, esforçou-se
por explicar qual é a obra da graça e concluiu
que é completamente errada a ideia de que viver
na graça significa que a graça é tão abundante
que podemos pecar sem qualquer preocupação,
já que Cristo morreu por nós, e por ser segura a
nossa salvação, pois Deus fez a promessa de
perdoar e esquecer os nossos pecados e
iniquidades.
“1 Que diremos, pois? Permaneceremos no
pecado, para que abunde a graça?
2 De modo nenhum. Nós, que já morremos para
o pecado, como viveremos ainda nele?
3 Ou, porventura, ignorais que todos quantos
fomos batizados em Cristo Jesus fomos
batizados na sua morte?
4 Fomos, pois, sepultados com ele pelo batismo
na morte, para que, como Cristo foi ressuscitado
232
dentre os mortos pela glória do Pai, assim
andemos nós também em novidade de vida.
5 Porque, se temos sido unidos a ele na
semelhança da sua morte, certamente também
o seremos na semelhança da sua ressurreição;
6 sabendo isto, que o nosso homem velho foi
crucificado com ele, para que o corpo do pecado
fosse desfeito, a fim de não servirmos mais ao
pecado.
7 Pois quem está morto está justificado do
pecado.
8 Ora, se já morremos com Cristo, cremos que
também com ele viveremos,” (Rom 6.1-8)
“Assim também vós considerai-vos como
mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em
Cristo Jesus.
12 Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo
mortal,
para
obedecerdes
às
suas
concupiscências;
13 nem tampouco apresenteis os vossos
membros ao pecado como instrumentos de
iniquidade; mas apresentai-vos a Deus, como
redivivos dentre os mortos, e os vossos
membros a Deus, como instrumentos de justiça.
233
14 Pois o pecado não terá domínio sobre vós,
porquanto não estais debaixo da lei, mas
debaixo da graça.
15 Pois quê? Havemos de pecar porque não
estamos debaixo da lei, mas debaixo da graça?
De modo nenhum.
16 Não sabeis que daquele a quem vos
apresentais como servos para lhe obedecer, sois
servos desse mesmo a quem obedeceis, seja do
pecado para a morte, ou da obediência para a
justiça? (Rom 6.11-16)
O pecado não tem domínio sobre nós quando
vivemos essa verdade. Quando nos oferecemos
ao Senhor para viver na prática da justiça.
Nenhum crente deveria permanecer sob o
domínio do pecado, pois já morreu para o
pecado, na sua identificação com a morte de
Cristo.
Como deixaremos o governo da nossa vida à
mercê de um senhor que já foi destronado?
Em Jesus mudamos de senhorio.
Temos agora um novo Senhor, e é a Ele que
devemos servir.
Não ao pecado.
234
A lei já não pode mais nos condenar enquanto
permanecermos ligados pela fé ao Senhor, pois,
nEle, também estamos mortos para a lei.
A vida de Jesus em nós, pela nossa comunhão
real com Ele, é a nossa vitória sobre o pecado.
Podemos e devemos andar nessa nova vida, isto
é, em novidade de vida.
Não devemos ficar caindo e levantando.
Há poder suficiente na graça, para manter-nos
de pé na presença do Senhor.
Por isso o pecado já não tem domínio sobre nós.
Nunca devemos esquecer que fomos uma vez
justificados para sermos santificados, isto é,
para podermos viver de modo digno e agradável
a Deus.
Mas, uma vez reconciliados com Deus, por meio
da justificação, necessitamos dar ouvidos à
Palavra do Senhor, porque é por meio dela que
Ele nos santifica (Jo 17.17).
A Sua Palavra é a verdade.
É por meio da prática da Palavra que somos
santificados, a ponto e a santificação se tornar
para nós um hábito rotineiro de vida.
235
No entanto, é bom não esquecer nunca que é
Deus mesmo quem aplica a sua Palavra ao nosso
coração, pela ação do Espírito, conforme
prometeu relativamente à Nova Aliança que
faria através de Jesus Cristo, como vimos em Jer
31.33.
É importante destacar que o texto de Jer 31.33 se
refere à impressão e inscrição de leis na mente
e no coração, na Nova Aliança.
Incorrem em erro os antinomistas, ao
afirmarem que o crente está dispensado do
cumprimento de qualquer lei.
Alguns, afirmam que a referência à lei está
dirigida ao próprio Espírito Santo. Esta é uma
interpretação adotada por muitos, mas devemos
considerar que Jesus falou claramente que
deveríamos guardar os seus mandamentos, e
não é razoável entendermos que estaria
ordenando que guardássemos o Espírito Santo.
É Ele quem nos guarda. Não possuímos a
verdade, é ela que nos possui.
Paulo afirma em Efésios que a Palavra de Deus é
a espada do Espírito.
Isto nos ajuda muito a interpretar a citada
promessa, pois é de fato o Espírito Santo que
imprime a Palavra de Deus em nossas mentes e
corações.
236
Assim, não é o Espírito que é a lei, mas quem nos
habilita a viver segundo o que é exigido pela lei
de Deus.
Ainda que a santificação exija a nossa contínua
apresentação ao Senhor, pela oração, para que
Ele nos santifique, pela ação do Espírito Santo,
mediante nossa meditação na Palavra, nunca
devemos esquecer a verdade contida em I Cor
1.30, onde se declara que Jesus mesmo é a nossa
sabedoria, redenção, justificação e santificação.
É nEle que estamos santificados.
É o próprio Cristo quem nos purifica, isto é, que
nos dá um coração puro, e que nos separa do
pecado que há no mundo, para que sejamos
úteis nas mãos de Deus na obra de salvação dos
pecadores (estamos no mundo mas não somos
do mundo).
Quando a Sua vida se manifesta em nós,
sabemos em nosso espírito que fomos tomados
da plenitude da Sua santidade.
É Aquele que é Santo que nos torna santos.
“16 Eles não são do mundo, assim como eu não
sou do mundo.
17 Santifica-os na verdade, a tua palavra é a
verdade.” (Jo 17.16,17)
Veja que é Deus quem nos santifica pela Palavra.
237
“7 Portanto santificai-vos, e sede santos, pois eu
sou o Senhor vosso Deus.
8 Guardai os meus estatutos, e cumpri-os. Eu
sou o Senhor, que vos santifico.” (Lev 20.7,8)
Não podemos portanto, atribuir ao nosso
próprio esforço, o resultado e o mérito da
santificação.
Não teremos qualquer santidade de vida caso
não preservemos a nossa comunhão com o
Senhor.
É Ele quem nos santifica.
Todavia somos chamados a tomar posse do
Reino Deus, mediante esforço.
Não lutando com armas carnais para vencer o
pecado, o mundo e o diabo, mas permanecendo
na santificação do Espírito pela prática da
Palavra e da comunhão com Cristo, e com os
santos.
Se é pela santificação que experimentamos e
participamos da vida de Deus, então ela é
absolutamente essencial à salvação.
“22 Mas agora, libertos do pecado, e feitos
servos de Deus, tendes o vosso fruto para
santificação, e por fim a vida eterna” (Rom 6.22)
238
“3 Porque esta é a vontade de Deus, a saber, a
vossa santificação: que vos abstenhais da
prostituição,
4 que cada um de vós saiba possuir o seu corpo
em santidade e honra,”(I Tes 4.3,4)
“14 Segui a paz com todos, e a santificação, sem
a qual ninguém verá o Senhor,
15 tendo cuidado de que ninguém se prive da
graça de Deus, e de que nenhuma raiz de
amargura, brotando, vos perturbe, e por ela
muitos se contaminem;
16 e ninguém seja devasso, ou profano como
Esaú, que por uma simples refeição vendeu o
seu direito de primogenitura.”(Hb 12.14-16)
“11 Quem é injusto, faça injustiça ainda: e quem
está sujo, suje-se ainda; e quem é justo, faça
justiça ainda; e quem é santo, santifique-se
ainda.” (Apo 22.11)
Temos aprendido que Jesus mesmo se tornou da
parte de Deus para nós a nossa sabedoria,
redenção, justiça e santificação.
Ele disse que aquele que se alimentar dEle
mesmo, por Ele viverá. Que o Seu sangue é
verdadeira bebida e que a Sua carne é
verdadeira comida. Isto é uma referência à Sua
própria vida.
239
O Antigo Testamento afirma que a vida da carne
é o sangue (Lev 17.11,14). Isto era uma referência
que apontava que a nossa vida depende da vida
do Senhor..
Ora, a Nova Aliança foi feita no sangue de Jesus.
Isto quer significar: na Sua própria vida.
É por meio da vida dEle que temos vida.
“56 Quem come a minha carne e bebe o meu
sangue permanece em mim e eu nele.
57 Assim como o Pai, que vive, me enviou, e eu
vivo pelo Pai, assim, quem de mim se alimenta,
também viverá por mim.” (Jo 6.56,57).
“5 Eu sou a videira; vós sois as varas. Quem
permanece em mim e eu nele, esse dá muito
fruto; porque sem mim nada podeis fazer.” (Jo
15.5)
Na ilustração da videira verdadeira o Senhor
está se referindo à vida e à frutificação. E afirma
que sem Ele nada podemos fazer a esse respeito.
Então, o que o crente necessita para viver na
verdadeira vitória (Rom 8.37), é viver em Cristo.
Alimentar-se de Jesus, da Sua própria vida.
Ele é o pão vivo que desceu do céu e que nos faz
viver a qualidade da vida abundante, da vida
espiritual, celestial e eterna.
240
“47 Em verdade, em verdade vos digo: Aquele
que crê tem a vida eterna.
48 Eu sou o pão da vida.
49 Vossos pais comeram o maná no deserto e
morreram.
50 Este é o pão que desce do céu, para que o que
dele comer não morra.
51 Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se
alguém comer deste pão, viverá para sempre; e
o pão que eu darei pela vida do mundo é a minha
carne.
52 Disputavam, pois, os judeus entre si, dizendo:
Como pode este dar-nos a sua carne a comer?
53 Disse-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos
digo: Se não comerdes a carne do Filho do
homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis
vida em vós mesmos.
54 Quem come a minha carne e bebe o meu
sangue tem a vida eterna; e eu o ressuscitarei no
último dia.
55 Porque a minha carne verdadeiramente é
comida, e o meu sangue verdadeiramente é
bebida.
56 Quem come a minha carne e bebe o meu
sangue permanece em mim e eu nele.
241
57 Assim como o Pai, que vive, me enviou, e eu
vivo pelo Pai, assim, quem de mim se alimenta,
também viverá por mim.
58 Este é o pão que desceu do céu; não é como o
caso de vossos pais, que comeram o maná e
morreram; quem comer este pão viverá para
sempre.” (Jo 6.47-58)
242
O Que é a Antiga Aliança
A
Antiga Aliança ou Antigo Testamento
recebe também as seguintes designações na
Bíblia: Primeira Aliança (Hb 8.7); Lei de Moisés
(I Cor 9.9); Lei do Senhor (II Cr 31.3,4): Lei de
Deus (Ed 7.21); Lei (Rom 3.19); Aliança da Letra (II
Cor 3.6); Ministério da Morte (II Cor 3.7), e
Ministério da Condenação (II Cor 3.9).
Foi celebrada por Deus com a nação de Israel
quando esta foi libertada do cativeiro egípcio
(cerca de 1440 aC).
A Antiga Aliança abrangia todos os israelitas em
todas as gerações de Israel, de Moisés até a
morte de Jesus, e por isso, possuía também um
caráter essencialmente coletivo quanto às
aplicações das suas promessas de bênçãos (Lev
26.3-13; Dt 7.12-26; 11.8-32; 28.1-14), e de
maldições (Lev 26.14-42; Dt 11.26-28; 27.26; 28.1568).
Apesar do caráter essencialmente coletivo
daquela aliança, a mesma não excluía a
responsabilidade individual de cada israelita
perante Deus (Dt 24.16; Ez 18.20).
Mas, à responsabilidade pessoal, sobrepunhase a coletiva, com vistas principalmente, à
manutenção da unidade de Israel como nação
separada para o serviço de Deus, e para
243
preservá-la da idolatria e costumes pagãos das
demais nações.
Daí o mandamento que proibia o casamento de
israelitas com gentios.
Não porque os demais povos fossem
desprezados por Deus, conforme os israelitas
passaram a interpretar o mandamento, mas
simplesmente para preservar Israel dos
costumes das nações até que Jesus viesse e
inaugurasse a Nova Aliança.
Ao dar a lei a Israel através da mediação de
Moisés, firmando com a nação a chamada
Antiga Aliança ou Testamento, Deus não tinha
em vista forjar o legalismo no seu povo, mas
forjar a justiça, o amor e a santidade, através da
obediência à Sua santa vontade, expressada nos
diversos mandamentos da lei.
A palavra LEI, recebe no texto da Bíblia,
diferentes conotações. Por vezes, é usada com o
significado do Pacto ajustado por Deus com os
israelitas a partir de Moisés, ou seja, a Aliança
Antiga propriamente dita.
Em outras passagens, refere-se aos cinco
primeiros livros da Bíblia, ou Pentateuco,
também conhecidos como livros da lei de
Moisés.
Quando aparece a expressão a Lei e os Profetas,
normalmente é uma referência ao conjunto das
244
Escrituras do Velho Testamento (At 13.15), ou ao
Pacto Antigo propriamente dito (Lc 16.16).
E, finalmente, em outras porções bíblicas, a
palavra
Lei,
designa
o
conjunto
de
regulamentos
e
mandamentos
civis,
cerimoniais e morais, constantes sobretudo do
Pentateuco.
Por exemplo, quando Jesus disse que não veio
revogar a lei e os profetas (Mt 5.17), estava se
referindo às Escrituras do Velho Testamento; e
quando afirmou que a lei e os profetas haviam
vigorado até João Batista (Mt 11.13; Lc 16.16), ao
Pacto, à Aliança Antiga, que estava sendo
substituída pela Nova.
245
O Que é a Nova Aliança
Ao instituir a Nova Aliança no seu sangue,
Jesus revogou a Antiga Aliança e marcou o
encerramento do período da dispensação da lei,
mas não revogou, isto é, não cancelou, as
Escrituras do Velho Testamento (Mt 5.17).
Essa questão não pode ser compreendida à luz
de um enfoque legalista, pois nos remeteria
consequentemente a considerar que a Antiga
Aliança ainda estaria em vigor por não terem
sido revogadas as Escrituras que lhe são
correspondentes.
Entretanto, o Velho Testamento, incluindo os
preceitos relativos à Aliança, é um testemunho
da vontade de Deus e da própria revelação
referente a Jesus Cristo.
Se as Escrituras dão testemunho do Senhor,
como Ele as revogaria?
Se o fizesse estaria negando a Si mesmo e à obra
que recebeu do Pai para realizar.
Abraão, Moisés e os profetas, falaram de Jesus.
Os utensílios e ofícios do tabernáculo e do
templo ensinam-nos acerca dEle, em figura.
246
A forma como o pecado entrou no mundo e a
provisão que Deus fez para salvar o pecador ali
também estão revelados.
A própria remoção do pacto antigo está revelada
nas Escrituras do Velho Testamento, atestando
que de fato o problema do pecado só poderia ser
resolvido pela inauguração da Nova Aliança (Jer
31.31-34).
Vemos assim, a confirmação da validade das
Escrituras porque por elas se testifica que o
Pacto Antigo foi substituído pelo Novo, e que
Jesus é o Seu Mediador, conforme nelas
também se testifica (Is 42.6,7; 49.8,9).
A Nova Aliança não foi um plano emergencial
concebido por Deus, por terem os israelitas
violado a Antiga Aliança.
Em absoluto. Ela já estava no Seu coração desde
antes da criação do mundo. E fora prometida a
Abraão antes mesmo da celebração da Antiga
(Gên 17.1-5), tendo sido a promessa
posteriormente confirmada pelo ministério dos
profetas.
“6 Eu o Senhor te chamei em justiça; tomei-te
pela mão, e te guardei; e te dei por mediador da
aliança com o povo, e luz para os gentios;
7 para abrir os olhos dos cegos, para tirar da
prisão os presos, e do cárcere os que jazem em
trevas.” (Is 42.6,7)
247
“6 Sim, diz ele: Pouco é que sejas o meu servo,
para restaurares as tribos de Jacó, e tornares a
trazer os preservados de Israel; também te porei
para luz das nações, para seres a minha salvação
até a extremidade da terra.
7 Assim diz o Senhor, o Redentor de Israel, e o
seu Santo, ao que é desprezado dos homens, ao
que é aborrecido das nações, ao servo dos
tiranos: Os reis o verão e se levantarão, como
também os príncipes, e eles te adorarão, por
amor do Senhor, que é fiel, e do Santo de Israel,
que te escolheu.
8 Assim diz o Senhor: No tempo aceitável te
ouvi, e no dia da salvação te ajudei; e te
guardarei, e te darei por pacto do povo, para
restaurares a terra, e lhe dares em herança as
herdades assoladas;
9 para dizeres aos presos: Saí; e aos que estão em
trevas: Aparecei; eles pastarão nos caminhos, e
em todos os altos desnudados haverá o seu
pasto.”(Is 49.6-9)
Paulo
compreendeu
melhor
e
mais
rapidamente do que qualquer outro o caráter da
Nova Aliança, que estava sendo oferecida a
todos os gentios, e que os desobrigava do
cumprimento minucioso das condições de
culto, ritos e todos os mandamentos civis e
cerimoniais da Lei de Moisés.
248
Um gentio não precisaria viver como um judeu,
como no caso da Antiga Aliança, para que
pudesse ser aceito como integrante do povo de
Deus.
Jesus e nenhum dos apóstolos ensinaram contra
a lei, pois fora outorgada pelo próprio Deus a
Moisés para vigorar como termos da Antiga
Aliança, que firmara com a nação de Israel, e
para servir também de testemunho a todo o
mundo gentílico, acerca do Seu caráter e da Sua
vontade.
Desta forma, nem Paulo ou qualquer outro dos
apóstolos ensinou contra a lei.
Eles sabiam que a justiça que é pela fé, e
operante segundo a graça,
passou a se
manifestar com o advento de Jesus. Mas
também sabiam que Deus havia salvado e
justificado pela graça, mediante a fé, a muitos
nos dias do Antigo Testamento.
Não foi este o caso de Abraão? A ponto de ser
designado como pai dos que creem.
Mas, a Antiga Aliança foi revogada, e suas
ordenanças civis e cerimoniais já não são
obrigatórias aos israelitas, com quem foi
celebrada, e muito menos aos gentios, quanto
ao seu cumprimento, bem como não é
aplicável, à igreja, de forma específica, o seu
sistema de bênçãos e maldições, ritos etc, desde
a inauguração da Nova Aliança, que a revogou.
249
“Pois todos os profetas e a lei profetizaram até
João.” (Mt 11.13)
“A lei e os profetas vigoraram até João; desde
então é anunciado o evangelho do reino de
Deus, e todo homem se esforça por entrar nele.”
(Lc 16.16)
“e rasgou-se ao meio o véu do santuário.” (Lc
23.45)
“9 Porque, se o ministério da condenação tinha
glória, muito mais excede em glória o ministério
da justiça.
10 Pois na verdade, o que foi feito glorioso, não o
é em comparação com a glória inexcedível.
11 Porque, se aquilo que se desvanecia era
glorioso, muito mais glorioso é o que
permanece.” (II Cor 3.9-11)
“13 Mas agora, em Cristo Jesus, vós, que antes
estáveis longe, já pelo sangue de Cristo
chegastes perto.
14 Porque ele é a nossa paz, o qual de ambos os
povos fez um; e, derrubando a parede de
separação que estava no meio, na sua carne
desfez a inimizade,
15 isto é, a lei dos mandamentos contidos em
ordenanças, para criar, em si mesmo, dos dois
250
um novo homem, assim fazendo a paz”, Ef 2.1315)
“18 Pois, com efeito, o mandamento anterior é
ab-rogado por causa da sua fraqueza e
inutilidade
19 (pois a lei nenhuma coisa aperfeiçoou), e
desta sorte é introduzida uma melhor
esperança, pela qual nos aproximamos de
Deus.” (Hb 7.18,19)
“6 Mas agora alcançou ele ministério tanto mais
excelente, quanto é mediador de um melhor
pacto, o qual está firmado sobre melhores
promessas.
7 Pois, se aquele primeiro fora sem defeito,
nunca se teria buscado lugar para o segundo.
8 Porque repreendendo-os, diz: Eis que virão
dias, diz o Senhor, em que estabelecerei com a
casa de Israel e com a casa de Judá um novo
pacto.” (Hb 8.6-8)
“Dizendo: Novo pacto, ele tornou antiquado o
primeiro. E o que se torna antiquado e
envelhece, perto está de desaparecer.” (Hb 8.13)
“8 Tendo dito acima: Sacrifício e ofertas e
holocaustos e oblações pelo pecado não
quiseste, nem neles te deleitaste (os quais se
oferecem segundo a lei);
251
9 agora disse: Eis-me aqui para fazer a tua
vontade. Ele tira o primeiro, para estabelecer o
segundo.” (Hb 10.8,9)
Nova Aliança é designada na Bíblia como sendo
As Fiéis Misericórdias Prometidas a Davi, como
se lê em Is 55.3 e Atos 13.34.
“E, que Deus o ressuscitou dentre os mortos
para que jamais voltasse à corrupção, desta
maneira o disse: E cumprirei a vosso favor as
santas e fiéis promessas feitas a Davi.” (Atos
13.34)
“Inclinai os ouvidos e vinde a mim; ouvi, e a
vossa alma viverá; porque convosco farei uma
aliança perpétua, que consiste nas fiéis
misericórdias prometidas a Davi.” (Is 55.3)
É dito no texto de Isaías (VT) que seria feita uma
aliança eterna, que estaria baseada nas
misericórdias fiéis que Deus havia prometido a
Davi.
Trata-se de uma aliança de misericórdias, e
misericórdias que não falharão, porque não
foram
prometidas
pelo
homem,
mas
prometidas por Deus a Davi.
Esta aliança eterna, que é a Nova Aliança, que
vigoraria na dispensação da graça em que temos
vivido, foi prometida em várias passagens do
Velho Testamento.
252
Davi veio a se referir a ela tanto na hora da sua
morte, conforme relato de II Samuel 7.12-17,
quanto no Salmo 89, nos quais afirma a
segurança e estabilidade desta aliança
prometida, bem como o seu caráter de
livramento da condenação eterna para os
aliançados, ainda que estes viessem a
transgredir eventualmente os mandamentos de
Deus, porque o Senhor afirmou que corrigiria os
aliançados, mas que não deixaria jamais de estar
aliançado com eles.
O fiador, o mediador, seria o Renovo justo que
brotaria do tronco de Jessé, a saber, o Senhor
Jesus, quem é Aquele que garante a eternidade
da aliança.
Vejamos então, alguns textos da Bíblia que se
referem à citada aliança de misericórdias, e de
misericórdias fiéis que durarão para sempre, e
pelas quais nossos pecados e transgressões são
perdoados e esquecidos por Deus para sempre:
“12 Quando teus dias se cumprirem e
descansares com teus pais, então, farei levantar
depois de ti o teu descendente, que procederá
de ti, e estabelecerei o seu reino.
13 Este edificará uma casa ao meu nome, e eu
estabelecerei para sempre o trono do seu reino.
14 Eu lhe serei por pai, e ele me será por filho; se
vier a transgredir, castigá-lo-ei com varas de
homens e com açoites de filhos de homens.
253
15 Mas a minha misericórdia se não apartará
dele, como a retirei de Saul, a quem tirei de
diante de ti.
16 Porém a tua casa e o teu reino serão firmados
para sempre diante de ti; teu trono será
estabelecido para sempre.
17 Segundo todas estas palavras e conforme
toda esta visão, assim falou Natã a Davi.” (II
Samuel 7.12-17)
Esta passagem das Escrituras registra quando a
promessa foi feita por Deus a Davi através do
profeta Natã.
“20 Encontrei Davi, meu servo; com o meu
santo óleo o ungi.
21 A minha mão será firme com ele, o meu
braço o fortalecerá.
22 O inimigo jamais o surpreenderá, nem o há
de afligir o filho da perversidade.
23 Esmagarei diante dele os seus adversários e
ferirei os que o odeiam.
24 A minha fidelidade e a minha bondade o hão
de acompanhar, e em meu nome crescerá o seu
poder.
25 Porei a sua mão sobre o mar e a sua direita,
sobre os rios.
254
26 Ele me invocará, dizendo: Tu és meu pai, meu
Deus e a rocha da minha salvação.
27 Fá-lo-ei, por isso, meu primogênito, o mais
elevado entre os reis da terra.
28 Conservar-lhe-ei para sempre a minha graça
e, firme com ele, a minha aliança.
29 Farei durar para sempre a sua descendência;
e, o seu trono, como os dias do céu.
30 Se os seus filhos desprezarem a minha lei e
não andarem nos meus juízos,
31
se violarem os meus preceitos e não
guardarem os meus mandamentos,
32
então, punirei com vara as suas
transgressões e com açoites, a sua iniquidade.
33 Mas jamais retirarei dele a minha bondade,
nem desmentirei a minha fidelidade.
34
Não violarei a minha aliança, nem
modificarei o que os meus lábios proferiram.
35 Uma vez jurei por minha santidade (e serei
eu falso a Davi?):
36 A sua posteridade durará para sempre, e o
seu trono, como o sol perante mim.
255
37 Ele será estabelecido para sempre como a lua
e fiel como a testemunha no espaço.” (Salmo
89.20- 37)
Nesta passagem do Salmo 89, Deus fala
profeticamente acerca da aliança que faria com
os crentes através de Jesus Cristo.
Note a promessa que é feita especialmente nos
versos 28 a 35.
“1 São estas as últimas palavras de Davi: Palavra
de Davi, filho de Jessé, palavra do homem que foi
exaltado, do ungido do Deus de Jacó, do mavioso
salmista de Israel.
2
O Espírito do SENHOR fala por meu
intermédio, e a sua palavra está na minha
língua.
3 Disse o Deus de Israel, a Rocha de Israel a mim
me falou: Aquele que domina com justiça sobre
os homens, que domina no temor de Deus,
4 é como a luz da manhã, quando sai o sol, como
manhã sem nuvens, cujo esplendor, depois da
chuva, faz brotar da terra a erva.
5 Não está assim com Deus a minha casa? Pois
estabeleceu comigo uma aliança eterna, em
tudo bem definida e segura. Não me fará ele
prosperar toda a minha salvação e toda a minha
esperança?” (II Samuel 23.1-5)
256
Estas foram as últimas palavras proferidas por
Davi, antes de morrer, e ele foi levado pelo
Espírito a falar do caráter da Nova Aliança, que
seria feita com Jesus Cristo, que descenderia
segundo a carne, da sua casa, da qual se diz no
verso 5 que é eterna, e em tudo bem definida e
segura,
ou
seja,
ela
foi
planejada
meticulosamente por Deus para dar a
segurança da eternidade aos aliançados, a
saber, aos crentes que perseveram em Jesus
Cristo.
“32 E nós vos anunciamos o evangelho da
promessa, feita aos pais,
33 a qual Deus nos tem cumprido, a nós, filhos
deles, levantando a Jesus, como também está
escrito no salmo segundo: Tu és meu Filho, hoje
te gerei.
34 E, que Deus o ressuscitou dentre os mortos
para que jamais voltasse à corrupção, desta
maneira o disse: E cumprirei a vosso favor as
santas e fiéis promessas feitas a Davi.” (Atos
13.34)
Este é um dos testemunhos confirmatórios do
Novo Testamento de que as promessas feitas a
Davi, se referiam à aliança que é feita entre Jesus
Cristo e os eleitos, e Paulo afirma
expressamente no verso 32, que tal promessa foi
a promessa do evangelho que Deus fizera aos
257
patriarcas
de
Israel,
especificamente a Davi.
e
neste
caso,
Há muitas outras referências na Bíblia a esta
aliança, e também especialmente ao modo
como Deus a prometeu através de Davi, dAquele
que viria a descender dele no futuro, e com o
qual o trono de Davi é estabelecido eternamente
com todos aqueles que também viverão
eternamente, por estarem aliançados ao Rei
Justo que reinará com justiça pelos séculos dos
séculos.
Veja por exemplo, para finalizar, a repetição da
promessa através do profeta Jeremias, cerca de
quatrocentos anos depois de Davi.
“14 Eis que vêm dias, diz o SENHOR, em que
cumprirei a boa palavra que proferi à casa de
Israel e à casa de Judá.
15 Naqueles dias e naquele tempo, farei brotar a
Davi um Renovo de justiça; ele executará juízo e
justiça na terra.
16 Naqueles dias, Judá será salvo e Jerusalém
habitará seguramente; ela será chamada
SENHOR, Justiça Nossa.
17 Porque assim diz o SENHOR: Nunca faltará a
Davi homem que se assente no trono da casa de
Israel;
258
18 nem aos sacerdotes levitas faltará homem
diante de mim, para que ofereça holocausto,
queime oferta de manjares e faça sacrifício
todos os dias.
19 Veio a palavra do SENHOR a Jeremias,
dizendo:
20 Assim diz o SENHOR: Se puderdes invalidar
a minha aliança com o dia e a minha aliança com
a noite, de tal modo que não haja nem dia nem
noite a seu tempo,
21 poder-se-á também invalidar a minha aliança
com Davi, meu servo, para que não tenha filho
que reine no seu trono; como também com os
levitas sacerdotes, meus ministros.
22 Como não se pode contar o exército dos céus,
nem medir-se a areia do mar, assim tornarei
incontável a descendência de Davi, meu servo, e
os levitas que ministram diante de mim.” (Jer
33.14-22)
Estas palavras foram proferidas por Jeremias no
Espírito, depois de lhe ter sido revelado qual o
efeito prático de tal aliança que seria firmada
conforme a promessa que Deus havia feito a
Davi:
“31 Eis aí vêm dias, diz o SENHOR, em que
firmarei nova aliança com a casa de Israel e com
a casa de Judá.
259
32 Não conforme a aliança que fiz com seus pais,
no dia em que os tomei pela mão, para os tirar da
terra do Egito; porquanto eles anularam a minha
aliança, não obstante eu os haver desposado, diz
o SENHOR.
33 Porque esta é a aliança que firmarei com a
casa de Israel, depois daqueles dias, diz o
SENHOR: Na mente, lhes imprimirei as minhas
leis, também no coração lhas inscreverei; eu
serei o seu Deus, e eles serão o meu povo.
34 Não ensinará jamais cada um ao seu próximo,
nem cada um ao seu irmão, dizendo: Conhece
ao SENHOR, porque todos me conhecerão,
desde o menor até ao maior deles, diz o
SENHOR. Pois perdoarei as suas iniquidades e
dos seus pecados jamais me lembrarei.” (Jer
31.31-34)
Esta promessa é repetida em várias passagens
do Novo Testamento, como por exemplo em
Hebreus 8.6-13; 10.15-18.
260
A Graça Exige Perseverança
Não devemos desconsiderar o alerta de nosso
Senhor Jesus Cristo quanto à necessidade de
perseverarmos até o fim com vistas à salvação
das nossas almas.
Esta perseverança consiste sobretudo em
permanecermos na fé em santidade de vida, em
todo o tempo e em qualquer circunstância.
Enquanto estiver ligado a Jesus pela fé, em
comunhão com Ele, um crente não pode ser
considerado um filho maldito, como no dizer de
Pedro referindo-se aos falsos mestres, que
haviam abandonado a fé (II Pe 2.14).
Há provisão suficiente no sangue derramado na
cruz, para perdoar pecados.
Bem faz todo crente que os confessa e abandona
em prol de manter a sua comunhão com Deus e
seus irmãos em Cristo.
Não importa o tamanho da ofensa.
A misericórdia de Deus é maior do que o nosso
pecado.
Pedro negou Jesus, mas foi restaurado pelo
arrependimento.
261
Perigosa coisa é no entanto, o amor ao mundo,
o fascínio pelas riquezas, a rejeição de uma
consciência boa pelo endurecimento produzido
pelo pecado, o abandono da comunhão dos
santos, a negligência do serviço de Deus, a
negação da fé diante das tribulações, pois por
tais coisas, pode vir o crente a apostatar da fé.
“19 A todo o que ouve a palavra do reino e não a
entende, vem o Maligno e arrebata o que lhe foi
semeado no coração; este é o que foi semeado à
beira do caminho.
20 E o que foi semeado nos lugares pedregosos,
este é o que ouve a palavra, e logo a recebe com
alegria;
21 mas não tem raiz em si mesmo, antes é de
pouca duração; e sobrevindo a angústia e a
perseguição por causa da palavra, logo se
escandaliza.
22 E o que foi semeado entre os espinhos, este é
o que ouve a palavra; mas os cuidados deste
mundo e a sedução das riquezas sufocam a
palavra, e ela fica infrutífera.” (Mt 13.19-22)
“conservando a fé, e uma boa consciência, a
qual alguns havendo rejeitado, naufragando no
tocante à fé;” (I Tim 1.19)
“1 Mas o Espírito expressamente diz que em
tempos posteriores alguns apostatarão da fé,
262
dando ouvidos a espíritos enganadores, e a
doutrinas de demônios,
2 pela hipocrisia de homens que falam mentiras
e têm a sua própria consciência cauterizada,” (I
Tim 4.1,2)
“4 Porque é impossível que os que uma vez
foram iluminados, e provaram o dom celestial, e
se fizeram participantes do Espírito Santo,
5 e provaram a boa palavra de Deus, e os poderes
do mundo vindouro,
6 e depois caíram, sejam outra vez renovados
para arrependimento; visto que, quanto a eles,
estão crucificando de novo o Filho de Deus, e o
expondo ao vitupério.
7 Pois a terra que embebe a chuva, que cai
muitas vezes sobre ela, e produz erva proveitosa
para aqueles por quem é lavrada, recebe a
bênção da parte de Deus;
8 mas se produz espinhos e abrolhos, é rejeitada,
e perto está da maldição; o seu fim é ser
queimada.” (Hb 6.4-8)
“26 Porque se voluntariamente continuarmos
no pecado, depois de termos recebido o pleno
conhecimento da verdade, já não resta mais
sacrifício pelos pecados,
263
27 mas uma expectação terrível de juízo, e um
ardor de fogo que há de devorar os adversários.
28 Havendo alguém rejeitado a lei de Moisés,
morre sem misericórdia, pela palavra de duas
ou três testemunhas;
29 de quanto maior castigo cuidais vós será
julgado merecedor aquele que pisar o Filho de
Deus, e tiver por profano o sangue do pacto, com
que foi santificado, e ultrajar ao Espírito da
graça?
30 Pois conhecemos aquele que disse: Minha é
a vingança, eu retribuirei. E outra vez: O Senhor
julgará o seu povo.
31 Horrenda coisa é cair nas mãos do Deus vivo.”
(Hb 10.26-31)
Somos advertidos pelo autor de Hebreus quanto
ao perigo da apostasia nesta dispensação da
graça, sob o argumento de que se a violação da
Antiga Aliança, que foi temporária, trazia
severos juízos de Deus sobre os transgressores;
de quanto maior juízo não estarão sujeitos os
que profanarem o precioso sangue de Jesus, que
foi derramado na cruz para instituir esta Nova
Aliança, em que se cumpre o propósito eterno
de Deus.
O mesmo autor refere-se à terra (homem) que
recebe chuvas abundantes (graça), mas em vez
264
de produzir bons frutos, produz espinhos e
abrolhos.
Como não tem nenhuma serventia para o
agricultor, por fim será queimada.
Certamente não está falando de pessoas que
esfriaram temporariamente na fé, que se
desviaram por certo período, mas que não
negaram ao Senhor nos seus corações, posto
que estes poderão ser restaurados.
Mas, é muito conveniente que não se brinque
com a graça e a liberdade que temos no Senhor,
desviando-nos da verdade, por se correr o risco
de se apostatar da fé definitivamente, sem que
haja cura, como apontado nas situações
comentadas nos textos que acabamos de ler.
Qual é o proveito que temos em tentar achar
argumentos para afirmar que o ensino da
parábola das dez virgens e a dos talentos, não se
aplica a crentes?
Tendo em vista que a conclusão aponta para a
perdição de alguns dentre os servos de Deus,
que haviam recebido azeite para suas lâmpadas,
para aguardarem o Noivo, mas permitiram, que
este acabasse, antes que Ele voltasse; e outros,
que haviam recebido talentos para investir no
reino de Deus e no entanto não os aplicaram.
Qual é o proveito de se afirmar a impossibilidade
da apostasia de crentes autênticos, em face de se
265
julgar que não se perde a salvação, se isto nos
conduzir a um viver negligente em relação à
vontade de Deus? Vale a pena o risco?
Qual é o prejuízo que se tem em considerar
seriamente as muitas advertências bíblicas não
apenas relativas à apostasia, mas que apontam
para a necessidade de se viver de modo santo e
perseverante para se agradar a Deus?
Nenhum. Não é verdade?
Ao contrário, com isto nunca se chegará a se
indagar se permanecemos justificados ou não,
pois a comunhão do Espírito com o nosso
espírito, continuará testificando que somos
filhos de Deus (Rom 8.16).
Guardemo-nos, entretanto, da tentação de
julgarmos quem tem apostatado ou não da fé,
salvo se isto nos for revelado pelo Espírito, em
plena convicção, como se dera com Paulo no
caso de Himeneu e Alexandre.
Ora, perigosa coisa é julgar a consciência alheia,
tendo em vista que não podemos avaliar qual é o
trabalho que a graça está realizando em cada um
dos seus filhos.
O oleiro trabalha em cada um dos seus vasos.
A nós não foi dada a capacidade de medir a
extensão deste trabalho.
266
Por isso somos convocados a olhar por nós
mesmos e para nós mesmos, quanto a sabermos
se estamos ou não firmes na fé.
Uma vez tratado o problema do argueiro do
nosso olho, poderemos nos voltar para tratar do
cisco dos olhos dos nossos irmãos.
A graça não nos foi outorgada para podermos
pecar à vontade e depois irmos para o céu, mas
exatamente para destruir o pecado na vida do
crente, de modo que possa se apresentar santo e
inculpável diante de Deus.
É lastimável vermos o barateamento de tão
grande e valiosa bênção.
De constatarmos o tráfico de promessas de paz,
prosperidade e segurança, onde ainda
prevalece o pecado, por parte de profetas que
Deus não enviou.
A pregação que desfigura o caráter santo e justo
de Deus, apresentado-o como alguém
“bonzinho”, que não se importa muito com os
nossos pecados e má conduta, está na verdade,
ensinando as pessoas a brincarem com fogo, e
não com um fogo qualquer, mas um fogo
consumidor. (Hb 10.26-31; Rom 12.28,29)
“7 Não vos enganeis; Deus não se deixa
escarnecer; pois tudo o que o homem semear,
isso também ceifará.
267
8 Porque quem semeia na sua carne, da carne
ceifará a corrupção; mas quem semeia no
Espírito, do Espírito ceifará a vida eterna.” (Gál
6.7,8)
“25 Vede que não rejeiteis ao que fala; porque, se
não escaparam aqueles quando rejeitaram o que
sobre a terra os advertia, muito menos
escaparemos nós, se nos desviarmos daquele
que nos adverte lá dos céus;
26 a voz do qual abalou então a terra; mas agora
tem ele prometido, dizendo: Ainda uma vez hei
de abalar não só a terra, mas também o céu.
27 Ora, esta palavra-Ainda uma vez-significa a
remoção das coisas abaláveis, como coisas
criadas, para que permaneçam as coisas
inabaláveis.
28 Pelo que, recebendo nós um reino que não
pode ser abalado, retenhamos a graça, pela qual
sirvamos a Deus agradavelmente, com
reverência e temor;
29 pois o nosso Deus é um fogo consumidor.”
(Hb 12.25-29)
Neste particular, mais se exige de nós na
presente dispensação da graça, do que dos
israelitas nos dias do Antigo Testamento, pois a
vida e conduta do crente deve em muito exceder
à dos escribas e fariseus.
268
Para permanecer em Jesus é necessário praticar
a justiça do evangelho. E para tanto é necessário
um viver sincero, um coração puro, uma fé não
fingida, enfim, uma vida que tem sido de fato
dirigida e transformada pelo Espírito.
Os escribas e fariseus, sempre estiveram muito
longe deste alvo.
Por isso a justiça do crente que é aprovado por
Deus, excede em muito a dos escribas e fariseus.
Jesus foi ungido para anunciar boas novas de
salvação e a curar os quebrantados de coração
(Is 61.1).
Tem portanto graça para conceder aos
humildes de espírito, aos que choram, aos que
têm fome e sede de justiça, aos que querem um
coração puro e serem promotores da paz.
Estes são purificados e fortalecidos pela graça.
Estes são verdadeiramente bem-aventurados;
pois têm construído a casa de suas vidas sobre a
rocha.
O crente que tem sido instruído pelo Espírito
sabe que foi salvo pela graça e mediante a fé,
mas sabe também que precisa meditar na
Palavra do Senhor dia e noite, para amar e
praticar a sua lei, de forma que seja bem
sucedido em tudo o que fizer.
269
Como a nossa conduta deve ser regida pela
Bíblia, é de suma importância não apenas lê-la,
mas interpretá-la de modo correto, para ser
aplicada à vida.
Este é um dos principais objetivos deste livro, a
saber, auxiliar-nos a entender melhor as
Escrituras.
Assim poderemos apresentar-nos a Deus,
aprovados, como obreiros que manejam bem a
palavra da verdade (II Tim 2.15), como espada,
no combate ao inimigo de nossas almas (Ef 6.17).
Deus requer de nós a manutenção inalterada da
revelação escrita, especialmente a referente ao
evangelho (Gál 1.6-9; Apo 22.18,19), exatamente
na forma pela qual nô-la entregou pela mão de
homens inspirados pelo Espírito Santo (II Pe
1.21), e que foram por Ele escolhidos para tal
propósito, antes mesmo de terem chegado à
existência (Jer 1.5; Gál 1.15,16).
Isto não se refere apenas à preservação do texto
bíblico, como também à integridade do nosso
ensino, que deve ser em conformidade com a
exata e total revelação escrita, e não de acordo
com os modismos da hora.
Jesus disse aos judeus que eles erravam por não
conhecerem as Escrituras e o poder de Deus.
É importante frisar que a maioria deles sabia o
Velho Testamento de cór.
270
No entanto, não tinham intimidade com o
Senhor, e assim, não podiam contar com a
assistência do Espírito Santo para discernirem o
propósito e o significado da revelação escrita (I
Cor 2.10-16), pois fora produzida por revelação e
inspiração do Espírito Santo.
Daí a necessidade da instrução e direção do
próprio Espírito Santo para se entender e viver a
Palavra de Deus.
O apóstolo Paulo referiu-se às Escrituras como
sendo o bom depósito da fé (II Tim 1.4) e
recomendou aos seus cooperadores na
pregação do evangelho, que mantivessem o
padrão das sãs palavras (II Tim 1.13).
A própria Bíblia testifica de si mesma, acerca da
sua autoridade divina (II Tim 3.16,17), sendo
designada por Palavra da verdade (Jo 17.17; Ef
1.13; Col 1.5; II Tim 2.15; Tg 1.18).
Jesus disse que “a Escritura não pode falhar” (Jo
10.35).
Os apóstolos dedicaram-se ao ministério da
palavra (At 6.4).
Mas qual palavra?
Não a sua propriamente, mas a do evangelho,
revelado por Deus desde os profetas do Velho
Testamento (Rom 1.1,2), e consumado na
271
manifestação do próprio Jesus, a encarnação da
verdade.
Jesus ordenou que vivêssemos e pregássemos o
Evangelho.
Fez conosco uma Nova Aliança
Testamento) no Seu sangue (Lc 22.20).
(Novo
Cabe-nos por conseguinte, distinguir na Bíblia o
que pertence à Boa Nova da Salvação, para
atendermos ao “Ide” do Senhor, fazendo
discípulos de todas as nações, batizando-os em
nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo;
ensinando-lhes a guardar todas as cousas que
Jesus nos tem ordenado, sabendo que Ele está
conosco, todos os dias até à consumação do
século (Mt 28.19,20).
272
Pregar o Evangelho a Toda Criatura
“E disse-lhes: Ide por todo o mundo e pregai o
evangelho a toda criatura.” (Mc 16.15)
Esta foi a principal ordem dada por Jesus à
Igreja.
Pregar o evangelho, ou seja, anunciar as boas
novas da salvação a todas as pessoas do mundo,
em todas as épocas, até que Ele venha.
A ordem dada foi bem clara e explícita, pois a
palavra evangelho, oriunda do grego, significa
literalmente mensagem, anúncio de coisas
boas.
Assim, a simples pregação da Lei e das penas da
Lei divina, e as ameaças e terrores da Lei para
aqueles que não obedecem a Deus, não é ainda a
pregação do Evangelho, porque isto, ou seja a
condenação do pecador não é nenhuma boa
notícia.
Ainda que a Lei do Velho Testamento tenha sido
dada à nação de Israel no período da Antiga
Aliança, dela se aprende por princípio, que Deus
de fato julga e penaliza o pecado, aonde quer que
ele se encontre, e assim podemos concluir que
haverá de fato um grande juízo final, no qual
todos os homens terão que prestar contas ao
Senhor.
273
Todavia, mesmo sabendo que não pregamos o
evangelho, quando pregamos o juízo, e a Lei
divina, isto se faz necessário para o trabalho de
convencimento do pecado pelo Espírito, para
que seja produzido o devido arrependimento
para a recepção do evangelho com a sua oferta
de salvação por meio da fé em Jesus Cristo.
O evangelho é o único bisturi espiritual que
pode extirpar o câncer do pecado.
Não se deve portanto, por uma alegada
compaixão, esconder das pessoas que todos são
cancerosos espirituais aos olhos de Deus, que
por fim lhes conduzirá à morte espiritual
eterna, caso não sejam operados pelo bisturi do
evangelho e tratados com a quimioterapia do
céu.
Ainda que numa comparação grosseira,
imaginemos alguém querendo encobrir uma
enfermidade física, por temor de que seja um
câncer. E nisto poderá ser ajudado por outras
pessoas que pensem estarem lhe fazendo um
bem escondendo o diagnóstico da citada
doença.
Esta pessoa brevemente virá a falecer.
Agora, caso encarasse de frente a sua realidade
e se submetesse ao devido tratamento, é bem
certo que teria grandes chances de vencer a
morte.
274
O mesmo se dá com o tratamento do evangelho.
Se o homem, tentar ser compassivo para
consigo mesmo, tentando ignorar o câncer do
pecado, não poderá ser tratado pela cura que
está disponível para ele somente no evangelho
de nosso Senhor Jesus Cristo.
É preciso reconhecer a nossa doença espiritual
do pecado para que possamos procurar o grande
médico das almas para sermos curados por Ele.
É por isso que, quando em Lc 2.10, o anjo
anunciou aos pastores: "eis aqui vos trago boa
nova de grande alegria, que o será para todo o
povo; é que hoje vos nasceu na cidade de Davi, o
Salvador, que é Cristo o Senhor.", ficam em
destaque pelo menos duas grandes verdades:
1ª - A vinda de Jesus, o Senhor, ao mundo como
Salvador é uma boa nova de grande alegria.
Boa nova, boa notícia, é, voltamos a repetir, o
significado literal da palavra evangelho no
grego.
Uma boa notícia é algo que traz alegria, como
destacado pelo anjo em sua anunciação; e no
caso, não se trata de uma alegria qualquer que
está associada ao evangelho (boa nova),
mas uma "grande alegria".
O fato de aqueles que não creem no evangelho,
serem condenados eternamente no inferno,
275
não é a boa nova do evangelho, que é de grande
alegria, mas a triste verdade de que qualquer
pessoa, sem Cristo, está morta em seus pecados
por causa do pecado original de Adão.
A grande alegria do evangelho é exatamente
esta boa notícia de que em Cristo há salvação
desta condição de morte espiritual por causa do
pecado de Adão.
Assim, a condenação eterna faz parte da
verdade da Palavra de Deus quanto ao homem
no seu estado pecaminoso, mas não do
evangelho, no seu caráter de boa nova relativa
ao livramento da referida condição.
2ª - A segunda grande verdade na anunciação do
anjo, é que esta boa nova é para todo o povo, isto
é, não que todos serão salvos, mas que a
salvação em Cristo está sendo oferecida por
Deus a todas as pessoas.
O evangelho é para ser anunciado a todos e não
para alguns.
Todo aquele que se arrepender dos seus
pecados e crer em Cristo será salvo por dar
crédito a esta boa nova e recepcioná-la em seu
coração como verdade, pedindo a Cristo
simplesmente pela fé nEle, que o perdoe dos
seus pecados e o salve da condenação eterna.
A condenação eterna é portanto consequente
da rejeição desta boa nova, que é a única forma
276
do pecador se livrar da perdição eterna e se
tornar filho de Deus.
O evangelho deve ser pregado com o foco na
missão
de
Cristo, consoante com este
evangelho, que é a de salvar e não de condenar
o mundo.
O pecado, as consequências do pecado devem
também ser pregados não como parte do
evangelho, mas como alerta quanto ao que
sucederá àqueles que rejeitarem a salvação que
está disponível a todos em Cristo Jesus.
Cristo veio ao mundo para salvar os perdidos, e
ele salva de fato a todo e qualquer pecador que
se arrepende e crê nEle.
Graças a Deus pelo seu plano de salvação, pois
sem que eu nada fizesse herdei de Adão o dom
do pecado e da morte, mas também sem nada
fazer, recebi pela graça, mediante a fé, como coherdeiro com Cristo, o dom da santidade, da
vida, da justiça.
Realmente é maravilhosa a graça de Jesus que o
levou a experimentar o sofrimento, a injúria, a
morte, por amor de mim pecador.
Não foi por nenhum pecado nEle mesmo que Ele
sofreu e morreu, mas por ter escolhido
livremente se identificar com os pecadores,
experimentando a morte no lugar deles, a
morte que eles mereciam, a morte que era
277
deles, para que pudessem ter a dívida dos seus
pecados perdoada, e pudessem participar da
Sua própria vida divina.
Assim, há pecado no desobediente Adão, mas
há justiça no obediente Cristo.
Em Adão há condenação e morte, mas em Cristo
há salvação e vida.
Há morte no mundo, por causa de Adão, mas
também há opção de vida em Cristo Jesus.
Há juízo para condenação no mundo, por causa
de Adão, mas também há graça e livramento da
condenação, em Cristo.
Há muito mais suficiência de graça, por ser
eterna e rica porque procede de Deus, do que há
pecado, porque procede do homem e está
limitado ao tempo, e está destinado a ser
inteiramente destruído por Deus.
Por isso se diz que onde abundou o pecado,
superabundou a graça.
Se recebemos o pecado como um dom de Adão,
temos recebido também como um dom de
Cristo a Sua justiça, para que não sejamos mais
servos do pecado, mas servos da justiça.
Cristo libertou de fato o crente da escravidão do
pecado pela sua fé nEle.
278
Crer nEle para a salvação é crer que a temos por
causa da Sua morte e ressurreição no nosso
lugar.
Ele morreu por nós para que pudéssemos
morrer para o pecado e para a condenação da lei.
Ele ressuscitou dos mortos para que possamos
também ressuscitar dentre os mortos.
Pela fé somos unidos a Ele tanto no que se refere
à Sua morte, quanto à Sua ressurreição e vida.
Fomos livrados do pecado para que pudéssemos
ser feitos servos de Deus, da justiça de Deus.
Romanos 6.17,20 ensina claramente que o
crente já não é mais escravo do pecado,
consoante o ensino de Jesus sobre esta verdade
em João 8.34-36.
Em razão da libertação da escravidão do pecado
para sempre; o crente foi feito também
simultaneamente, servo da justiça para sempre,
conforme se afirma em Romanos 6.18.
É por isso que agora, tendo sido feito
um servo da justiça, que o crente se preocupa
permanentemente sobre o modo de vida que
agrada a Deus.
Eles sentem as dores e as consequências da
quebra da comunhão com Deus quando pecam,
279
porque já não são mais escravos do pecado, e
sim da justiça.
É por isso que são convocados a servirem
agora o seu novo senhor chamado justiça
(Romanos 6.19).
O pecado não tem realmente mais domínio
absoluto sobre a vida do crente porque ele foi
libertado da escravidão ao pecado por Cristo.
O crente não precisa necessariamente ficar
sujeito aos comandos do pecado que opera na
sua carne ordenando-lhe que desobedeça aos
mandamentos de Deus, que se rebele, que
minta, furte, cobice, adultere, odeie, não ore,
não ame, que se deprima, que fique ressentido,
ansioso etc, porque o pecado já não é mais o seu
senhor, como era antes de ter sido libertado
dele por Cristo.
Pois que morreu também para o pecado quando
morreu juntamente com Cristo.
Pela Sua graça é impelido agora a praticar a
justiça do Reino de Deus.
A justiça de Cristo que lhe ordena que ore,
confie, espere, obedeça, suporte, seja sincero,
verdadeiro, honesto, fiel, que ame, seja manso,
tenha domínio próprio, descanse em Deus, não
fique turbado, ansioso, magoado, ressentido,
antes que perdoe, assim como Deus o perdoou
em Cristo.
280
O crente foi livrado de um cativeiro, para outro
cativeiro. Do cativeiro do pecado, para o
cativeiro da justiça.
Ser servo da justiça é ser verdadeiramente
livre. Porque é nesta condição que pode agora, e
poderá perfeitamente no porvir, fazer toda a
vontade de Deus.
Fazer esta vontade é ter o poder para fazer
aquilo que é bom e aprovado.
É nisto que consiste a verdadeira liberdade.
A de ser e fazer aquilo que foi planejado por
Deus para que sejamos e façamos.
Isto é: ser homem, ser filho
verdadeira acepção da palavra.
de
Deus, na
Cristo conquistou esta liberdade para os filhos
de Adão caídos e cativos no pecado,
pela identificação deles, pela fé, com a Sua
morte, ressurreição e vida.
Libertados agora
do pecado,
são
verdadeiramente livres para poderem fazer a
vontade de Deus.
Daí se dizer em Romanos 6.14 que: "o pecado não
terá domínio sobre vós; pois não estais debaixo
da lei, e, sim, da graça.".
281
Vemos assim quão imperioso e necessário é que
cumpramos a ordem de nosso Senhor de
pregarmos o evangelho a todos em todo o
mundo, porque não há nada mais importante do
que isso, que seja digno do interesse e aceitação
por todos os homens de boa vontade.
282
Uma Nova Esperança para Adúlteros e
Ladrões
Qual
profeta,
no
período
do
Antigo
Testamento, poderia ter proferido as seguintes
palavras que nosso Senhor Jesus Cristo disse
aos religiosos fariseus nos dias do seu
ministério terreno:
“Declarou-lhes Jesus: Em verdade vos digo que
publicanos e meretrizes vos precedem no reino
de Deus.” (Mt 21.31)
Nenhum, e nem mesmo Ele nos dias em que
ainda vigorava pela Sua própria determinação e
vontade a Antiga Aliança, nos dias do Velho
Testamento, porque a própria Lei divina
prescrevia a morte dos adúlteros por
apedrejamento, e vigorava, também, segundo
determinação da Lei de Deus para o seu povo de
Israel, o princípio do olho por olho e dente por
dente.
Então era assim
que funcionava naquele
período antigo, antes que nosso Senhor Jesus
Cristo viesse e inaugurasse uma Nova Aliança,
com a Sua morte na cruz.
O povo que estivesse aliançado com Deus, como
era o caso exclusivo da nação de Israel, estaria
debaixo dos horrores da Lei, e das suas terríveis
sentenças contra os pecados cometidos pelos
283
israelitas; embora fossem justas, santas e boas
todas as ordenanças da Lei, e as penas que ela
prescrevia.
Hoje são os crentes que compõem o povo de
Deus, por estarem aliançados com Ele, na Nova
Aliança instituída no sangue de Jesus.
É afirmado nas Escrituras que nesta Nova
Aliança já não há mais nenhuma condenação
para os aliançados, tal como havia na Antiga.
Os transgressores do pacto não são mortos
como se dava no antigo, antes, têm os seus
pecados perdoados porque
Jesus pagou
completamente toda a dívida de pecados dos
aliançados.
Se na Antiga Aliança, quando o pecado de
adultério era descoberto, isto implicava na
morte do adúltero, na Nova, é uma grande
oportunidade para o arrependimento e se
purificar de tal pecado, quando este vem ao
conhecimento da sociedade, quer da Igreja,
quer fora dela, porque é algo muito profundo e
significativo para Deus, perdoar pecados neste
novo pacto com Ele por meio de Jesus.
Ele se mostra favorável quando sai desde o
profundo do coração do adúltero, através dos
seus lábios, uma confissão sincera como a que
fizera o publicano: “Sê misericordioso para
comigo Deus, porque sou um mísero pecador!”.
284
Daí o apóstolo Paulo ter afirmado o que disse em
II Cor 3.6-9:
“6 o qual nos habilitou para sermos ministros de
uma nova aliança, não da letra, mas do espírito;
porque a letra mata, mas o espírito vivifica.
7 E, se o ministério da morte, gravado com letras
em pedras, se revestiu de glória, a ponto de os
filhos de Israel não poderem fitar a face de
Moisés, por causa da glória do seu rosto, ainda
que evanescente,
8 como não será de maior glória o ministério do
Espírito!
9 Porque, se o ministério da condenação foi
glória, em muito maior proporção será glorioso
o ministério da justiça.”
Veja quão maravilhoso é constatar que Deus
planejou e decidiu dar uma oportunidade a
todos os que se arrependerem de seus pecados,
na Nova Aliança que fez através do sangue
derramado por Jesus na cruz.
Ele não somente tem adiado o juízo final sobre
os pecados para um certo Dia ainda futuro,
como também tem efetivamente esquecido as
faltas e transgressões cometidas no período da
dispensação da graça, de todos aqueles que as
confessam e abandonam.
285
Isto sucede somente por causa de Jesus Cristo e
das novas condições para se tratar com os que
estão aliançados com Deus, nas bases de uma
Nova Aliança.
Por isso também se afirma nas Escrituras que
nada poderá separar o aliançado do amor de
Deus, que está em Cristo Jesus.
Se não havia na Antiga Aliança uma só promessa
de perdão total de pecados, para os aliançados
daquele pacto antigo, a principal e melhor
promessa da Nova, é justamente este perdão
total de pecados.
Deus sempre salvou e salvará somente por graça
e mediante a fé, tanto antes da Antiga Aliança,
como em sua vigência, e principalmente na
presente dispensação da graça, do Espírito, da
vida e da justiça, como se afirma no texto de II
Cor 3.6-9.
É preciso aprender a interpretar fatos,
especialmente aqueles que podem produzir
escândalos, segundo a perspectiva de Deus, pois
aquilo que para nosso entendimento natural
pode ser considerado como trágico ou final,
pode ser para o Senhor a oportunidade de
conversão, de melhora ou de um novo começo.
Assim, feliz é todo aquele que se envergonha
quando é surpreendido na prática de alguma
falta grave, como por exemplo, de furto, ou
286
adultério, e que se arrependendo, volta-se para
Deus à busca de perdão.
Nós encontramos esta perspectiva divina em
encarar o pecado, no modo como nosso Senhor
Jesus Cristo atuou em relação ao perdão da
mulher adúltera citada no oitavo capítulo do
evangelho de João.
Aquela mulher certamente se arrependeu, e
por isso nosso Senhor agiu de tal forma para
com ela.
É daí que podemos entender porque disse aos
fariseus porque publicanos e meretrizes
precederiam os mesmos quanto a entrarem no
reino dos céus.
São suas palavras em Mt 21.31,32:
“31 ... Declarou-lhes Jesus: Em verdade vos digo
que publicanos e meretrizes vos precedem no
reino de Deus.
32 Porque João veio a vós outros no caminho da
justiça, e não acreditastes nele; ao passo que
publicanos e meretrizes creram. Vós, porém,
mesmo vendo isto, não vos arrependestes,
afinal, para acreditardes nele.”
Lembro que certa vez, numa cerimônia de
casamento, eu citei que os adúlteros que
porventura se encontrassem no recinto da
cerimônia, poderiam dar graças e glórias a Deus
287
por nosso Senhor Jesus Cristo, porque, por meio
da fé nEle poderiam viver em fidelidade às suas
esposas, conforme é da vontade do Senhor, caso
se arrependessem e confiassem em Jesus
Cristo.
Feliz foi todo aquele que atendeu a tal convite.
Mesmo aqueles que não se arrependeram na
ocasião, e que foram surpreendidos em
flagrante adultério posteriormente, fariam
bem, em vez de permanecerem na prática do
pecado, ou então ficarem gemendo debaixo das
acusações da sua própria carne, e do diabo,
deveriam voltar-se para Deus, confiando
inteiramente na Sua misericórdia, que foi
profundamente
demonstrada
por
Jesus
morrendo na cruz em nosso lugar, para que
pudéssemos ser perdoados e lavados de
qualquer tipo de pecado.
Para que possamos nos reconciliar com aqueles
com os quais devemos nos reconciliar para um
relacionamento feliz e harmonioso, é
necessário, antes, estarmos reconciliados com
Deus.
Quando o apóstolo Paulo afirmou em II Cor 5.17
que em Cristo, convertidos a Ele, e estando nEle,
somos novas criaturas, ele se referiu logo
adiante nos versos 18 a 21, que a causa desta nova
natureza e condição foi a reconciliação com
Deus, como lemos em II Cor 5.18-21:
288
“18 Ora, tudo provém de Deus, que nos
reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo
e nos deu o ministério da reconciliação,
19
a saber, que Deus estava em Cristo
reconciliando consigo o mundo, não imputando
aos homens as suas transgressões, e nos confiou
a palavra da reconciliação.
20 De sorte que somos embaixadores em nome
de Cristo, como se Deus exortasse por nosso
intermédio. Em nome de Cristo, pois, rogamos
que vos reconcilieis com Deus.
21 Aquele que não conheceu pecado, ele o fez
pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos
justiça de Deus.”
Assim, se o marido necessita se reconciliar à
sua esposa, ou vice-versa, estes, devem, antes,
serem restaurados na sua reconciliação com o
próprio Deus, produzindo frutos dignos de
arrependimento, que os conduza a caminharem
na luz de Jesus, que é a única forma de terem
comunhão, e os seus corações efetivamente
reconciliados em amor e respeito mútuos.
Tentar fazer isto, fora de Cristo, será o mesmo
que colocar remendos num tecido velho e
desgastado.
É preciso fazer tudo novo em Cristo, numa
restauração que não consista em colocar-se
289
remendos, mas fazer com que todas as coisas
sejam renovadas pelo Senhor.
Lembremos que Deus não imputa o pecado
onde houver sincero arrependimento por meio
da confiança no trabalho da graça de Cristo para
transformar todas as disposições do nosso
coração em disposições santas e justas.
Para o propósito da reconciliação do pecador
ofensor com o ofendido, santo e justo Deus,
Jesus se tornou o Mediador, e o nosso Advogado,
por ter se oferecido como sacrifício por nós,
colocando sobre Ele o pecado de todos nós, para
que pela fé nEle e no seu sacrifício em nosso
lugar, fôssemos feitos justiça de Deus.
Foi o próprio Senhor Jesus Cristo que apareceu
ao apóstolo Paulo no caminho de Damasco, e
que lhe revelou a eficácia do Seu poder
transformador e habilitador para que Paulo
pudesse se tornar a partir de então, amigo de
Deus, e o Senhor, seu amigo. E além disso lhe
chamou para ser ministro da mesma
reconciliação que ele havia experimentado.
Por isso afirma que tinha muita ousadia em
anunciar a mensagem de reconciliação do
evangelho porque fora comissionado para ser
embaixador de Cristo na terra, de modo que era
o próprio Deus que exortava através dele a todos
em todos os lugares para que atendessem ao
290
convite da reconciliação feito pelo Espírito
Santo, através de Paulo, aos seus corações.
É importante observar que o apóstolo rogou aos
próprios crentes de
Corinto
que
se
reconciliassem com Deus.
Já não haviam sido reconciliados por meio da fé
em Jesus?
Sim.
Mas se faz necessário que esta posição de
reconciliação seja mantida por um viver em
retidão, arrependimento e fé.
Daí a exortação do apóstolo feita aos próprios
crentes.
Assim, se alguém tem pecado contra Deus e
contra o seu próximo, é necessário que lhe
estendamos o mesmo convite de reconciliação
feito por Paulo.
Afinal, há eficácia no poder do Senhor em
restaurar e tornar novas todas as coisas nas
vidas daqueles que confessam os seus pecados e
que fixam o propósito de Lhe serem agradáveis
em tudo.
Mais do que isso, nosso Senhor conquistou para
os que estão ligados a Ele, pela fé, uma salvação
segura e eterna, que não pode ser perdida.
291
Há uma figura maravilhosa no Velho
Testamento, dada pelo próprio Deus com o
propósito didático de nos ensinar esta verdade,
antes que ela se cumprisse em Cristo, a saber, a
firmeza, segurança e eternidade que há em
nosso Senhor Jesus Cristo e no Seu sangue, que
Ele derramou por nós na cruz.
Então vejamos:
Somente ao sumo-sacerdote de Israel, dentre
tantos sacerdotes, era permitida a entrada no
Santo dos Santos do tabernáculo terreno, uma
única vez por ano, e não sem o sangue do
sacrifício que deveria ser aspergido sobre a
tampa da arca da aliança, para que os pecados do
povo de Deus pudessem ser perdoados por mais
um ano.
Isto indicava que somente nosso Senhor Jesus
Cristo, que é sumo-sacerdote para sempre
segundo a ordem de Melquisedeque, não de um
tabernáculo terreno, mas do celestial, poderia
entrar no Santo dos Santos do céu, para fazer
expiação pelo pecado de todo o povo de Deus, de
uma vez para sempre, pela oferta não de sangue
de animais, mas do Seu próprio sangue que
havia derramado na cruz.
Ele entrou além do véu que separa
Santo, do Santo dos Santos celestial,
Deus Pai se encontra juntamente
querubins, e por isso, estes também
292
o Lugar
no qual
com os
estavam
representados
terreno.
em
figura
no
tabernáculo
Ali, fixou a esperança da nossa salvação como
uma âncora segura e firme, que penetrou além
do véu, ou seja, a nossa salvação está ancorada
pelo próprio Senhor, no Santo dos Santos
celestial, como se afirma em Hb 6.17-20.
Então, o plano de Deus na nossa salvação está
firmado na imutabilidade do seu propósito,
segundo a Sua promessa feita a Abraão, para que
tenhamos forte alento e certeza da segurança
eterna que temos em Cristo, conforme se lê
também em Hb 6.17-20.
Assim, quando a Bíblia fala em reconciliação
por meio de Cristo, está se referindo não a algo
passageiro ou que possa ser destruído, mas a
algo firme, eterno e seguro.
Estaremos
assim,
ainda
inseguros
ou
desinteressados em tal reconciliação, que é um
assunto de morte ou de vida?
O que escolheremos: a morte espiritual eterna
ou a vida eterna que está em Cristo Jesus?
Se quisermos a vida, devemos então ser
humildes de espírito e fazer uma confissão
sincera dos nossos pecados ao Senhor, com a
firme esperança de que seremos ouvidos,
lavados e curados.
293
Ele provou até que ponto está disposto a nos
perdoar ao ter morrido em nosso lugar na cruz
do Calvário.
294
O Que é a Caducidade da Letra
É por ignorância que muitos crentes incorrem
em erro ao afirmarem que toda a Palavra de
Deus, conforme registrada na Bíblia, é uma letra
caduca, e se valendo da afirmação do apóstolo
Paulo na qual diz o seguinte:
“Agora, porém, libertados da lei, estamos
mortos para aquilo a que estávamos sujeitos, de
modo que servimos em novidade de espírito e
não na caducidade da letra.” (Rom 7.6)
O que caducou é o que ficou antigo e
ultrapassado, e a palavra “letra” deste texto é
vertida do original grego grama, do qual vem a
nossa palavra gramática, sendo que grama é
sempre usado no Novo Testamento com o
significado de carta, registro, escrito, letras, e
Paulo usava esta palavra com frequência para se
referir à Lei cerimonial e civil do Velho
Testamento, que constava de várias ordenanças
que se cumpriram em Cristo, como por exemplo
as leis referentes a coisas limpas e imundas, ao
sacrifício de animais, dos dízimos e das ofertas
levíticas etc.
Deste modo, não se trata a uma referência aos
mandamentos de Cristo do Novo Testamento,
nem sequer aos mandamentos morais da Lei de
Moisés, ou a tudo o que se pode aprender das
295
Escrituras, inclusive da própria Lei cerimonial e
civil.
Ao chamar um viver pelos mandamentos
externos civis e cerimoniais da Lei de Moisés, de
letra que havia caducado, Paulo não pretendia
de modo algum, falar contra a Palavra de Deus,
mas afirmar a liberdade que os crentes têm na
Nova Aliança do cumprimento das prescrições
civis e cerimoniais da Lei, como por exemplo a
circuncisão do prepúcio e de tantas outras
prescrições que foram dadas por Deus a Moisés
para serem cumpridas pelos israelitas no
período do Velho Testamento.
Por isso, no próprio texto de Rom 7.6 no qual
afirma a caducidade da letra, o apóstolo Paulo
afirma também a libertação dos crentes das
prescrições civis e cerimoniais da Lei de
Moisés, por terem morrido com Cristo para tais
exigências da Lei, de modo a poderem viver em
novidade de espírito, ou seja, na Nova Aliança do
Espírito Santo, na qual a Lei de Deus é escrita
pelo Espírito em suas mentes e corações.
Nós podemos verificar nos textos citados a
seguir que realmente o apóstolo Paulo fazia uso
da palavra grega grama, que traduzimos por
letra, para se referir à Antiga Aliança da Lei de
Moisés, e não ao conjunto das Escrituras
reveladas por Deus na Bíblia.
296
Assim, ao lermos tais textos, podemos verificar
que ao falar em caducidade da letra Paulo não
estava dizendo que as Escrituras caducaram,
mas que já não vivem os crentes na Nova
Aliança, debaixo do jugo da Lei de Moisés,
quanto aos muitos mandamentos específicos
aos quais os judeus estavam obrigados no
período do Antigo Testamento.
Romanos 2:27 “E, se aquele que é incircunciso
por natureza cumpre a lei, certamente, ele te
julgará a ti, que, não obstante a letra e a
circuncisão, és transgressor da lei.”
Romanos 2:29 “Porém judeu é aquele que o é
interiormente, e circuncisão, a que é do
coração, no espírito, não segundo a letra, e cujo
louvor não procede dos homens, mas de Deus.”
2 Coríntios 3:6 “o qual nos habilitou para
sermos ministros de uma nova aliança, não da
letra, mas do espírito; porque a letra mata, mas
o espírito vivifica.”
Aqui se diz que a letra mata porque a Antiga
Aliança ou mesmo toda a Lei de Moisés não
podia gerar vida eterna conforme a Nova
Aliança em Cristo Jesus, na qual os crentes são
vivificados em espírito pelo Espírito Santo.
2 Coríntios 3:7 “E, se o ministério da morte,
gravado com letras em pedras, se revestiu de
glória, a ponto de os filhos de Israel não
297
poderem fitar a face de Moisés, por causa da
glória do seu rosto, ainda que evanescente,”
Mais uma vez o apóstolo se refere à Antiga
Aliança como sendo ministério da morte,
porque por ela não se podia alcançar a vida
eterna, senão pelo único caminho estabelecido
por Deus para tal, a saber, pela graça, mediante
a fé.
2 Timóteo 3:15 “e que, desde a infância, sabes as
sagradas letras, que podem tornar-te sábio para
a salvação pela fé em Cristo Jesus.”
Aqui, Paulo chama o conjunto das Escrituras do
Velho Testamento, de sagradas letras, ou seja,
ele sabia que toda a escritura do Velho
Testamento havia sido inspirada por Deus, e não
se trata de um texto comum, mas sagrado, e por
isso Paulo reconhecia que a Lei é santa, e o
mandamento, santo, e justo, e bom, de modo
que, tal como ele, não devemos considerar a
Palavra de Deus revelada na Bíblia, como algo
ultrapassado e que nos mata, em vez de gerar
vida.
Lembremos que as palavras de nosso Senhor
Jesus Cristo reveladas na Bíblia são espírito e
vida, e não mera letra.
298
O Jugo da Lei de Moisés e o de Jesus
O
jugo da Lei cerimonial e civil de Moisés (não
a moral) era pesado, mas o jugo de Jesus é leve e
suave.
O motivo do jugo da lei de Moisés ser pesado
residia no fato de que era imposto, como por
exemplo a obrigação de ofertas específicas e do
dízimo, e o de Jesus é leve e suave, porque o seu
caráter é voluntário, porque como se diz em II
Cor 9.7: “Cada um contribua segundo tiver
proposto no coração, não com tristeza ou por
necessidade; porque Deus ama a quem dá com
alegria.”.
Isto porque na Lei da Nova aliança inaugurada
com a morte de Jesus, nenhum crente é
obrigado a dizimar e a ofertar, tal como na Lei de
Moisés.
Mas se diz que Deus o amará se ofertar com
alegria (veja, ofertar, e não dizimar), segundo o
que tiver proposto voluntariamente em seu
coração, e com alegria.
A Lei dos dízimos e das ofertas fazia parte da Lei
cerimonial e civil de Moisés, que era aplicada
aos israelitas no período do Antigo Testamento,
como se vê em Malaquias 4.4:
299
“Lembrai-vos da Lei de Moisés, meu servo, a
qual lhe prescrevi em Horebe para todo o Israel,
a saber, estatutos e juízos.”
Veja que se afirma que os estatutos e juízos da
Lei de Moisés, dos quais faziam parte os dízimos
e ofertas obrigatórias, especialmente a de
animais para serem sacrificados como
cobertura do pecado, eram prescritos para toda
a nação de Israel, ou seja, aos descendentes de
Jacó, cujo nome o Senhor havia mudado para
Israel.
É por isso que os israelitas foram repreendidos
por Malaquias nos dias do Velho Testamento,
com as seguintes palavras:
“8 Roubará o homem a Deus? Todavia, vós me
roubais e dizeis: Em que te roubamos? Nos
dízimos e nas ofertas.
9 Com maldição sois amaldiçoados, porque a
mim me roubais, vós, a nação toda.
10 Trazei todos os dízimos à casa do Tesouro,
para que haja mantimento na minha casa; e
provai-me nisto, diz o SENHOR dos Exércitos, se
eu não vos abrir as janelas do céu e não
derramar sobre vós bênção sem medida.” (Mal
3.8-10)
Veja que se diz que era a toda a nação de Israel
que estava roubando ao Senhor (v. 9), e que os
dízimos deveriam ser levados à casa do Tesouro,
300
ou seja, ao Templo de Jerusalém, para ser
administrado pelos levitas.
Os dízimos eram o único imposto ou taxa nos
dias do Velho Testamento, para servir (como
serve a coleta de Imposto de Renda e do INSS em
nosso país), para atender às necessidades
sociais da nação de Israel, especialmente dos
levitas e dos pobres, das viúvas e dos órfãos.
O propósito do dízimo não era o de empobrecer
ainda mais os pobres, mas o de assisti-los.
Por isso se diz nas páginas do Novo Testamento
que o dízimo era um encargo dado aos levitas,
para ser recolhido nos dias do Velho
Testamento, ou seja, quando vigoravam os
mandamentos civis e cerimoniais da Lei de
Moisés para a nação de Israel.
“Ora, os que dentre os filhos de Levi recebem o
sacerdócio têm mandamento de recolher, de
acordo com a lei, os dízimos do povo, ou seja, dos
seus irmãos, embora tenham estes descendido
de Abraão;” (Hb 7.5)
Veja que se diz que os levitas, tribo à qual
pertenciam os sacerdotes do Velho Testamento,
tinham o mandamento de recolher os dízimos
de seus irmãos israelitas.
Agora, o que se diz de nosso Senhor Jesus Cristo,
como sendo o Sumo Sacerdote da Nova Aliança,
ou seja, do Novo Testamento:
301
“11 Se, portanto, a perfeição houvera sido
mediante o sacerdócio levítico (pois nele
baseado o povo recebeu a lei), que necessidade
haveria ainda de que se levantasse outro
sacerdote, segundo a ordem de Melquisedeque,
e que não fosse contado segundo a ordem de
Arão?”
12
Pois, quando se muda o sacerdócio,
necessariamente há também mudança de lei.”
(Hb 7.11,12)
Veja que no contexto do ensino do recolhimento
dos dízimos pelos levitas, o autor de Hebreus
afirma que nosso Senhor mudou a Lei civil e
cerimonial de Moisés para o Seu povo da Nova
Aliança, ou seja, não apenas os crentes de Israel,
mas os de todas as nações.
Esta lei de Cristo, no assunto dos dízimos e
ofertas, está baseada em II Cor 9.7, conforme já
citamos anteriormente.
Nenhum líder da Igreja do Senhor está portanto,
autorizado pela Bíblia, a impor o recolhimento
obrigatório de dízimos e ofertas aos crentes.
Muito menos o de fixar um valor fixo de
contribuição igual para todos os membros.
Se por consentimento mútuo, para atender a
alguma necessidade específica ou determinada
pelo Senhor, houver uma disposição de repartir
os custos por todos os membros da
302
congregação, de forma voluntária e com alegria,
isto será abençoado por Deus.
Todavia, a norma bíblica segue sendo a de se
contribuir voluntariamente segundo o que tiver
proposto em seu coração, ou seja, cada um,
contribua com o que quiser, sem olhar para
aquilo que os demais estejam ou não
contribuindo.
Veja o que o apóstolo disse a Ananias e Safira:
“3 Então, disse Pedro: Ananias, por que encheu
Satanás teu coração, para que mentisses ao
Espírito Santo, reservando parte do valor do
campo?
4 Conservando-o, porventura, não seria teu? E,
vendido, não estaria em teu poder? Como, pois,
assentaste no coração este desígnio? Não
mentiste aos homens, mas a Deus.” (At 5.3,4)
O problema com Ananias e sua mulher Safira
não foi o de não terem atendido a qualquer
ordem
no
sentido
de
ofertarem
obrigatoriamente, mas de terem tentado
enganar a Igreja dizendo que estavam ofertando
todo o valor obtido com a venda de um campo
que lhes pertencia, quando isto não era verdade.
Pedro disse que caso não tivessem ofertado, e
não mentido, nada lhes teria sucedido.
303
Fechando este assunto, vejamos os seguintes
textos bíblicos, para uma melhor compreensão
do que está sendo afirmado.
“Levai as cargas uns dos outros e, assim,
cumprireis a lei de Cristo.” (Gál 6.2). A lei de
Cristo é enfocada aqui como o novo
mandamento dado por Ele de nos amarmos uns
aos outros como Ele nos amou. Portanto,
sempre
ofertaremos
para
assistir
às
necessidades daqueles aos quais amamos.
“Agora, pois, por que tentais a Deus, pondo
sobre a cerviz dos discípulos um jugo que nem
nossos pais nem nós pudemos suportar?’” (At
15.10)
O apóstolo Pedro se referiu à prescrição do
cumprimento dos mandamentos civis e
cerimoniais da lei de Moisés aos crentes
gentios, como sendo um jugo insuportável,
como era de fato, e o qual não era cumprido
perfeitamente nem por eles próprios em seus
dias, nem por seus antepassados, tão
numerosas e pesadas que eram tais prescrições
obrigatórias da Lei de Moisés.
“Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo e
leve.” (Mt 11.30)
É por isso que há um grande contraste entre o
jugo e o fardo de Jesus, e o da Lei de Moisés.
304
Nosso Senhor nos libertou do jugo da Lei
cerimonial e civil de Moisés, e faremos bem em
permanecer nesta liberdade, para que sejamos
pessoas verdadeiramente alegres.
“1 Para a liberdade foi que Cristo nos libertou.
Permanecei, pois, firmes e não vos submetais,
de novo, a jugo de escravidão.
2 Eu, Paulo, vos digo que, se vos deixardes
circuncidar, Cristo de nada vos aproveitará.
3 De novo, testifico a todo homem que se deixa
circuncidar que está obrigado a guardar toda a
lei.
4 De Cristo vos desligastes, vós que procurais
justificar-vos na lei; da graça decaístes.” (Gál 5.14)
Veja que o apóstolo Paulo chama no verso
primeiro, a Lei de Moisés de jugo de escravidão
do qual os crentes foram libertados por Cristo, e
ao qual não deveriam mais se submeter,
permanecendo firmes na convicção da
liberdade que têm por estarem debaixo do jugo
da graça, e não do jugo da Lei, como vemos nos
textos a seguir:
“Assim, meus irmãos, também vós morrestes
relativamente à lei, por meio do corpo de Cristo,
para pertencerdes a outro, a saber, aquele que
ressuscitou dentre os mortos, a fim de que
frutifiquemos para Deus.” (Rom 7.4)
305
“Agora, porém, libertados da lei, estamos
mortos para aquilo a que estávamos sujeitos, de
modo que servimos em novidade de espírito e
não na caducidade da letra.” (Rom 7.6)
“Porque o pecado não terá domínio sobre vós;
pois não estais debaixo da lei, e sim da graça.”
(Rom 6.14)
Os que pregam os preceitos da Lei de Moisés na
Igreja de Cristo, trazem os crentes debaixo de
um jugo pesado de servidão, que não é da
vontade de nosso Senhor que seus servos
carreguem, porque diz que o Seu jugo é suave e
o Seu fardo é leve, como são de fato, porque nos
libertou da obrigatoriedade de cumprir todos os
mandamentos da Lei de Moisés, exceto os
mandamentos morais.
306
Fazer a Vontade de Deus é Mais do que
Cumprir a Lei Moral
De fato, agradar a Deus pelo cumprimento da
Sua vontade, consiste muito mais do que se
guardar os mandamentos morais da Lei dada a
Moisés.
É óbvio que o cumprimento da Lei cerimonial e
civil do Velho Testamento, inclusive a moral,
pode ser cumprido pelo homem natural, mas
somente o homem espiritual pode andar no
Espírito Santo, sendo dirigido por Ele em todo o
seu viver.
Por isso se testifica que a Antiga Aliança
consistia em mandamentos carnais, porque
podiam ser guardados pelo homem natural, e
que a Nova Aliança está assentada na vida
indissolúvel de Cristo nos crentes, capacitando
os crentes a viverem e a andarem no Espírito.
“14 visto ser manifesto que nosso Senhor
procedeu de Judá, tribo da qual Moisés nada
falou acerca de sacerdotes.
15 E ainda muito mais manifesto é isto, se à
semelhança de Melquisedeque se levanta outro
sacerdote,
307
16 que não foi feito conforme a lei de um
mandamento carnal, mas segundo o poder
duma vida indissolúvel.
17 Porque dele assim se testifica: Tu és sacerdote
para
sempre,
segundo
a
ordem
de
Melquisedeque.
18 Pois, com efeito, o mandamento anterior é
ab-rogado por causa da sua fraqueza e
inutilidade
19 (pois a lei nenhuma coisa aperfeiçoou), e
desta sorte é introduzida uma melhor
esperança, pela qual nos aproximamos de
Deus.” (Hb 7.14-19)
Assim, o que foi dado por Deus a Israel, para
confirmar a Antiga Aliança através de Moisés,
foi a Lei escrita em tábuas de pedra.
Foi ordenado aos levitas que ensinassem a Lei a
seus irmãos israelitas, para que a guardando,
fizessem a vontade de Deus naquele antigo
pacto.
Todavia, na Nova Aliança, o que foi dado por
Deus aos crentes foi a vida do próprio Cristo,
pelo derramar do Espírito Santo em seus
corações, e é o próprio Espírito que gera a nova
vida nos que se tornam crentes, e é quem
imprime a Lei de Deus em suas mentes e
corações, ou seja, que faz com que não apenas
conheçam, mas que cumpram a vontade de
308
Deus, como se afirma no texto de Jeremias 31.3134.
Jesus tem assim manifestado o Seu poder de
Mestre na Nova Aliança, não apenas ensinando
a Sua Lei (vontade) aos crentes, como também é
um Mestre capacitado a levá-los a cumprir o que
lhes ensina.
Vemos que também neste sentido, os crentes
não se encontram debaixo da Lei, e sim da
Graça.
Eles são gerados filhos de Deus pelo poder que
Jesus lhes dá, e isto não pode ser realizado por
meio da observância de mandamentos, mesmo
os morais da Lei de Moisés.
Por isso se afirma que o fim, ou seja, a finalidade
da Lei é Cristo, para a justiça de todo aquele que
nEle crê.
A mera sã moralidade, ainda que necessária e
boa, não pode de si mesma produzir esta nova
vida do céu.
Por isso há uma convocação na Bíblia a que se
busque imitar a fé dos bons líderes que
demonstraram possuir a vida abundante do céu
por causa da fé, pois que se testifica que o justo
viverá da fé.
309
“7 Lembrai-vos dos vossos guias, os quais vos
falaram a palavra de Deus, e, atentando para o
êxito da sua carreira, imitai-lhes a fé.
8 Jesus Cristo é o mesmo, ontem, e hoje, e
eternamente.
9 Não vos deixeis levar por doutrinas várias e
estranhas; porque bom é que o coração se
fortifique com a graça, e não com alimentos, que
não trouxeram proveito algum aos que com eles
se preocuparam.”(Hb 13.7-9)
A doutrina da Antiga Aliança, baseada na Lei,
sendo pregada como meio de salvação, é uma
doutrina estranha à do evangelho, porque não
põe em realce a graça operante de Jesus para
gerar vida nos que prestam culto a Deus, senão
apresentar várias prescrições cerimoniais que
eram figuras das realidades que se cumprem
em Cristo, como a distinção entre alimentos
limpos e imundos.
Assim, a Antiga Aliança estava fadada a
desaparecer no conselho eterno de Deus,
porque não fora instituída para gerar vida nos
aliançados, tal como o faz a Nova Aliança em
Cristo, e que por isso, é eterna.
A implicação prática desta verdade, deste
ensino é que, os que desejam ser salvos por
Cristo, devem colocar a Sua confiança
completamente nEle próprio, que é o autor e o
consumador da fé que produz a salvação.
310
É Ele quem batiza com o Espírito Santo e que
distribui dons espirituais aos homens.
Por isso, o principal mandamento de Cristo é
que creiamos nEle.
Porque, sem ter fé nEle, nada da vida de Deus
pode ser obtido por nós.
Intensifiquemos então as nossas orações
confiando não no poder da própria oração, mas
no próprio Cristo, e no Espírito Santo que
intercede por nós com gemidos inexprimíveis.
Que toda a nossa confiança esteja depositada no
Capitão da nossa salvação, e nem sequer nos
meios de graça que usamos para adorá-lO e
servi-lO, quanto mais em nossas próprias
habilidades e capacitações pessoais.
Importa que toda honra e glória seja do Senhor,
como se afirma no Salmo 115.
“Não a nós, Senhor, não a nós, mas ao teu nome
dá glória, por amor da tua benignidade e da tua
verdade.” (Sl 115.1)
311
Como o Crente Está Morto Para a Lei?
Para redimir o homem do pecado, isto é, para
livrá-lo do seu poder que conduz à morte, Jesus
não removeu a lei, nem a maldição da lei, mas o
próprio pecador de debaixo da lei e da sua
consequente maldição condenatória, de sorte
que os que não têm Jesus, ou que procuram: a)
justificar-se pelas obras da lei, permanecendo
sob a maldição da lei - serão por ela condenados
(Gál 3.10); ou b) vivem sem a lei de Deus - sem lei
também serão condenados (Rom 2.12). Esta
última condição pode no entanto ser revertida,
desde que creiam e sejam salvos.
Dessa forma, o judeu não tem qualquer
vantagem sobre o gentio, na presente
dispensação, quando se trata de justificação
(Rom 3.9).
A lei condena o pecador à morte eterna
(separação de Deus), por estar o mesmo debaixo
da sua maldição.
A graça faz com que o crente seja considerado já
morto para a sentença de morte da Lei para os
seus transgressores, por causa da identificação
do crente com a morte de Jesus, que é
considerada por Deus como sendo a sua própria
morte, e desta forma ele
é resgatado
consequentemente da condenação e da
maldição da Lei de Moisés.
312
Isto é possível porque não está aliançado nos
termos da Antiga Aliança, mas da Nova Aliança,
na qual Deus prometeu o perdão completo e
total de pecados.
“Assim também vós, meus irmãos, fostes
mortos quanto à lei mediante o corpo de Cristo,
para pertencerdes a outro, àquele que ressurgiu
dentre os mortos a fim de que demos fruto para
Deus.” (Rom 7.4)
“19 Pois eu pela lei morri para a lei, a fim de viver
para Deus.
20 Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não
mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que
agora vivo na carne, vivo-a na fé no filho de
Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo
por mim.” (Gál 2.19,20)
“13 Cristo nos resgatou da maldição da lei,
fazendo-se maldição por nós; porque está
escrito: Maldito todo aquele que for pendurado
no madeiro;
14 para que aos gentios viesse a bênção de
Abraão em Jesus Cristo, a fim de que nós
recebêssemos pela fé a promessa do Espírito.”
(Gál 3.13,14).
Em Rom 7.4 lemos que morremos para a lei, por
meio do corpo de Cristo.
313
Já comentamos anteriormente, que a nossa fé
em Jesus nos tornou participantes da Sua
própria morte e vida.
Como Ele não tinha pecado algum, não seria
justo que morresse na cruz, porque a
consequência do pecado é a morte, mas Ele,
como já dissemos, não tinha pecado.
Assim, o Pai lançou sobre Ele o pecado de todos
os homens, quando se encontrava na cruz, de
modo que todos os que haviam crido em Deus
no passado (como o caso de Abraão, Moisés etc),
bem como os que viveram com Jesus nos dias do
Seu ministério terreno, e também nós, os que
temos crido, depois da Sua morte e
ressurreição, pudessem ser contados na Sua
própria morte e vida, estando assim,
consequentemente, mortos para a lei e para o
pecado.
Na cruz foram desfeitos os laços que tínhamos
com Adão, e ao termos levantado juntamente
com o Senhor, em nova vida, através da Sua
ressurreição, que nos permitiu participarmos
da Sua vida, passamos a pertencer-lhe, por
estarmos nEle.
Como Jesus subiu aos céus, não está mais sob
qualquer lei terrena, pois Ele viveu sob a lei e
morreu sob a lei, mas não ressuscitou sob a lei,
pois o que morreu, está morto para a lei.
314
Esta condição final é a mesma em que se
encontra o crente, por ser participante da morte
e ressurreição de Cristo.
Um crente fiel deve obedecer às leis de seu país,
desde que estas não sejam contrárias às
próprias leis de Deus, pois a justiça demanda
que se dê a César o que é de César.
Deve também obedecer e respeitar as
convenções sociais para que não se torne
motivo de escândalo para o mundo.
Mais que tudo, deve viver debaixo da lei de
Cristo, que é a lei do amor.
No entanto, caso venha a transgredir qualquer
lei da sociedade em que vive, o que espera-se
que não ocorra, e caso isto demande qualquer
tipo de punição, nem por isso perderá a sua
salvação, caso se arrependa, confesse o pecado
e restaure a sua comunhão com Deus, pois,
estando em Cristo, não pode mais ser
condenado pelo Juiz dos mortos e dos vivos,
porque nEle, está morto para o pecado e para a
lei.
É por isso que podemos levar a mensagem do
evangelho aos que se encontram na prisão,
propondo-lhes a salvação pela fé no Salvador.
Ainda que aprisionados em seus corpos físicos,
e condenados pela sociedade em que vivem,
podem ser perfeitamente justificados e
315
santificados em seus espíritos, alcançando a
verdadeira liberdade, que os livrará da
condenação vindoura.
O ladrão que se converteu na cruz é um bom
exemplo disto.
316
O Espírito Santo é uma Promessa da Nova
Aliança
O derramar do Espírito Santo sobre as nações
teve início no dia de Pentecostes, quando os
apóstolos e alguns discípulos estavam reunidos
em Jerusalém (At 2.1-4;16-18).
Leia Is 32.15; 44.3; Joel 2.28,29.
Se o próprio Jesus viveu sob o poder do Espírito,
o que Deus não esperará daqueles que têm se
aliançado com Ele através da fé no Seu Filho ?
Jesus esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma
de servo, fazendo-se semelhante aos homens, e
sendo achado na forma de homem, humilhouse a si mesmo, sendo obediente até à morte de
cruz (Fp 2.7,8). Isto significa que viveu de fato
como homem, para poder morrer no lugar da
humanidade. Em razão do plano de salvação,
não poderia ter vivido neste mundo na
plenitude da Sua glória divina, e no uso pleno do
seu próprio poder, pois importava que vivesse e
morresse como homem, em favor do homem. A
Bíblia é bastante clara, desde as profecias do
Antigo Testamento de que Jesus não faria nada
de si mesmo em seu ministério terreno, mas
viveria em total obediência ao Pai, na
dependência do Espírito Santo. Por isso, Jesus
assumiu o título “Filho do homem”.
317
Leia Is 42.1; 61.1-3; Mt 12.28; Lc 4.1, 14; At 10.38.
A Nova Aliança consiste então, sobretudo, num
viver no poder e instrução do Espírito. É Ele que
cumpre o objetivo de Deus em nossas vidas.
A vida que temos em Cristo Jesus é quem nos
livra da lei do pecado e da morte. Esta vida é
produzida em nós pelo Espírito. Por isso, o
apóstolo Paulo se refere à “ lei do Espírito da
vida em Cristo Jesus” como a dizer, se o pecado
e a morte são uma lei, só há uma lei superior que
pode vencê-la, no caso o Espírito Santo, pois
somente Ele pode gerar a vida de Jesus em nós,
através do novo nascimento, que se segue à
morte do velho homem, também por Ele
operada, e
cuja obra prossegue na
santificação através da mortificação das obras
da carne para a manifestação do Seu fruto, que é
amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade,
bondade, fidelidade, mansidão e domínio
próprio.
Contra o fruto do Espírito Santo na nossa vida,
não há lei (Gál 5.23), pois é por meio de um andar
no Espírito que vivemos de modo agradável a
Deus.
Por isso, o maior e melhor dom prometido é o
próprio Espírito Santo.
Devemos estar sempre lembrados e bem
conscientes que é a própria pessoa do Espírito
Santo o maior e melhor dom que Deus
318
prometeu aos crentes. O outro Consolador que
o próprio Jesus prometeu que enviaria à Sua
Igreja para que sempre estivesse com ela.
Por isso todo ministério bem esclarecido deve
pregar a Cristo, e Cristo crucificado, sem
esquecer que Jesus foi exaltado nos céus para
que recebêssemos o Espírito Santo prometido.
Afinal é Ele quem nos batiza com o Espírito
Santo.
Portanto, buscar e submeter-se ao Espírito
Santo é a maior maneira de se honrar a Cristo,
porque foi para este propósito que Ele morreu
por nós, de modo que justificados do pecado
pudéssemos receber a habitação e operação do
Espírito em nossas vidas.
Aquele que não tem o Espírito Santo não
pertence a Cristo, e portanto não é filho de Deus
(Rom 8.9).
Deus nos tornou seus filhos e herdeiros pelo
cumprimento da promessa de nos dar o Espírito
Santo. Promessa esta que foi feita pela primeira
vez a Abraão: “
“Ora, a Escritura, prevendo que Deus havia de
justificar pela fé os gentios, anunciou
previamente a boa nova a Abraão, dizendo: Em ti
serão abençoadas todas as nações.” (Gál 3.8).
319
“para que aos gentios viesse a bênção de Abraão
em Jesus Cristo, a fim de que nós recebêssemos
pela fé a promessa do Espírito.” (Gál 3.14).
A bênção prometida a Abraão em Jesus Cristo é
a promessa do derramamento do Espírito Santo
em todas as nações, porque é por este meio que
Deus se provê de filhos em todas as gerações.
Como a promessa do Espírito foi feita a Abraão,
de que Ele seria derramado em todas as nações
da terra, naqueles que estão no descendente de
Abraão que é Cristo, daí ser dito que Abraão é o
pai dos crentes:
“Porquanto procede da fé o ser herdeiro, para
que seja segundo a graça, a fim de que a
promessa seja firme a toda a descendência, não
somente à que é da lei, mas também à que é da
fé que teve Abraão, o qual é pai de todos nós.”
(Rom 4.16).
É dito que Abraão é o pai da Igreja não somente
por causa da fé justificadora que habitou nele e
que tem habitado em todos os crentes, mas
também para que imitemos o seu exemplo de
vida obediente a Deus.
Ele foi um peregrino neste mundo, e assim deve
ser a Igreja. Mas sendo peregrinos para o
cumprimento da missão que recebemos da
parte de Deus, de pregarmos o evangelho em
todo o mundo.
320
Esta missão teve os seus alicerces fundados
na mais remota antiguidade, antes mesmo que
a Lei fosse dada a Moisés, porque foi a Abraão,
aquele que é chamado de pai dos crentes, que
Deus revelou e fez a promessa da Nova Aliança
em Jesus Cristo, pelo derramar do Espírito Santo
em todas as nações.
Sabendo que este pacto foi firmado há tanto
tempo atrás, demonstrando o firme interesse
de Deus em abençoar pessoas pelo derramar
do Espírito, isto não nos incentiva a consagrar
nossas vidas inteiramente ao serviço do
evangelho?
Pois é assim fazendo que muitos receberão o
Espírito Santo e serão batizados no Espírito com
poder, para que possam trazer também muitos
outros a experimentarem a Sua santa Presença,
de maneira que habite para sempre em seus
corações, manifestando os Seus dons espirituais
e fruto, para a exclusiva glória de Deus.
O autor de Hebreus exorta os crentes à plena
diligência para que sejam imitadores daqueles
que pela fé e pela paciência herdam as
promessas (Hb 6.11,12), porque nos importa
entrar no reino dos céus por meio de muitas
tribulações, tal como nosso Pai Abraão foi
afligido em suas peregrinações para nos servir
de exemplo.
321
Contudo, em nossas aflições devemos lembrar
que é mais do que certa a recompensa porque
quando Deus fez a promessa a Abraão de fazê-lo
o pai de numerosas nações e de abençoar todas
as nações da terra no seu descendente, que é
Cristo, para que tivéssemos plena certeza da Sua
fidelidade em cumprir o que estava
prometendo, Ele também jurou por Si mesmo,
de maneira que tivéssemos a garantia por meio
de duas coisas imutáveis, a primeira a própria
promessa de um Deus fiel, e a segunda, o
juramento que confirmou a promessa.
“13 Porque, quando Deus fez a promessa a
Abraão, visto que não tinha outro maior por
quem jurar, jurou por si mesmo,
14 dizendo: Certamente te abençoarei, e
grandemente te multiplicarei.”(Hb 6.13,14).
“17 assim que, querendo Deus mostrar mais
abundantemente aos herdeiros da promessa a
imutabilidade do seu conselho, se interpôs com
juramento;
18 para que por duas coisas imutáveis, nas quais
é impossível que Deus minta, tenhamos
poderosa consolação, nós, os que nos
refugiamos em lançar mão da esperança
proposta;” (Hb 6.17,18).
Deus caminhou com Abraão consolando-o em
suas peregrinações, e o Espírito Santo foi dado
à Igreja para consolá-la na sua jornada neste
322
mundo, enquanto cumpre a Sua missão, que lhe
foi designada pelo Senhor, tal como Abraão
cumpriu a sua no passado, de maneira que a
partir dele pudesse formar um povo que
guardasse os mandamentos de Deus, povo este,
através do qual o Messias viria a se revelar ao
mundo, para que se cumprisse a promessa de
que Abraão viesse a ser o pai de numerosas
nações por meio do seu descendente, que é
Cristo (Gál 3.16).
A dispensação do Espírito é a melhor
dispensação e o período mais luminoso da
história do mundo.
Devemos ter o cuidado de não cometer o mesmo
pecado dos escribas e fariseus que não
reconheceram o ministério do Messias e O
rejeitaram, porque é possível estar totalmente
alheio ao fato de que há um ministério do
Espírito Santo acontecendo desde o Pentecostes
ocorrido em Jerusalém, neste período que
chamamos de dispensação da graça, que
podemos também chamar de dispensação do
Espírito Santo.
É de suma importância portanto, que nos
inteiremos de tudo o que se refira à Pessoa e
obra do Espírito, tanto na história da Igreja como
também e principalmente em nossos próprios
dias, de maneira que nos empenhemos e
sejamos achados como Seus cooperadores no
trabalho que Ele está realizando no mundo.
323
Foi o espírito de indiferença manifestado entre
cristãos professos ao trabalho e ministério do
Espírito Santo nesta Sua dispensação, que
entristeceu e moveu a alma reta de John Owen;
este grande e instruído homem de Deus que foi
usado por Ele para escrever um grandioso
discurso sobre a Pessoa e as operações do
Espírito Santo, trabalho este que deu à Igreja
um
grande
e
novo
senso
da
sua
responsabilidade como também o privilégio
dela com respeito a este assunto importante, de
maneira que isto veio a contribuir para o
advento de vários avivamentos do Espírito em
dias posteriores aos de Owen.
Os pastores John Fletcher, Horatius Bonar, e
outros, afirmaram que limitar e desconsiderar o
ministério do Espírito Santo é o maior pecado da
Igreja neste últimos dias, como foi o dos judeus
menosprezando o ministério terreno de Jesus
Cristo.
Descrevendo os efeitos do derramar da chuva
abundante do Espírito na experiência pessoal de
verdadeiros crentes, Spurgeon disse o seguinte:
“é muito comum para a vida da graça que a alma
receba depois de alguns anos uma segunda
visitação muito notável do Espírito Santo que
pode ser comparada à chuva posterior (serôdia).
A chuva posterior era enviada para engordar a
espiga e torná-la cheia e madura, pronta para
ser colhida. Meu desejo é que todos vocês, meus
amados, que foram molhados pela chuva
324
anterior, possam também ser molhados com a
chuva posterior que fará com que sejam mais do
que cristãos comuns.”.
John Fletcher, enquanto falava da profecia de
Joel, disse: “Uma promessa importante à qual
nosso Deus deu cumprimento no dia de
Pentecostes, quando Ele enviou uma chuva
gloriosa no seu pequeno vinhedo, como um
penhor dos rios poderosos de justiça que
cobrirão a terra como as águas cobrem o mar.”
Assim, que nenhum crente que esteja
empenhado em orar pelo derramar de um
grande
avivamento,
desconsidere
a
importância de se empenhar na busca do poder
do Espírito, pedindo a Deus que remova o véu e
ilumine a visão de tal forma que possam
descobrir não somente a sua própria
necessidade, mas para que possam ter visões
infinitamente mais amplas da abundância
indizível contida na promessa que satisfaz
aquela necessidade.
Para este propósito devem lembrar que Deus
tem unido inseparavelmente os ministérios da
pregação, da oração e do louvor. Especialmente
os dois primeiros. Por isso os apóstolos tomaram
a firme resolução de se dedicarem com
exclusividade aos ministérios da pregação e da
oração.
325
A Igreja Primitiva pregava a Palavra em todos os
lugares, mas a Palavra sempre foi precedida e
acompanhada pelo ministério de oração e
intercessão.
É importante que nos lembremos que a
ministração do Espírito Santo está muito ligada
ao ministério da Palavra.
Por isso há frequentemente uma grande falta da
presença do Espírito e de poder, nos cultos onde
há uma falta da Palavra pregada.
Este poder espiritual não
quantidade de citações bíblicas.
depende
da
A grande coisa é obter a nossa mensagem de
Deus e procurar saber tudo o que é dito pelo
Espírito sobre a palavra selecionada, de maneira
a obter um conhecimento completo sobre
aquilo que pregaremos, de modo que tenhamos
a mente do Espírito, e não propriamente a nossa,
sendo expressada na pregação.
Devemos pedir ao Espírito que nos revele o que
devemos dizer em relação à palavra que nos foi
dada, e que nos conceda uma língua de fogo para
proclamá-la.
Estejamos convictos que o ministério do
Espírito é de grande glória, muito maior do que
a que havia na antiga dispensação, porque o
nome de Jesus será sempre glorificado pelo
Espírito Santo.
326
Assim, onde houver um verdadeiro trabalho do
Espírito nesta Sua dispensação, sempre haverá
também a manifestação da glória de Deus.
327
A Antiga Aliança Era Figura da Nova
As figuras do Antigo Testamento (sacrifícios
de animais, móveis e utensílios sagrados do
tabernáculo e do templo etc) tiveram cabal
cumprimento em Jesus.
O ofício profético de Moisés e a sua obra de
libertador e legislador de Israel é tipo da obra de
Jesus.
O sacerdócio de Arão é tipo do de Jesus.
O reinado de Davi é tipo do Seu reinado eterno.
Muito do Velho Testamento é figura da Sua
pessoa e obra.
Podemos dizer que temos, a rigor, no velho, a
promessa, e no novo, o cumprimento, a
realização. Daí ter o Senhor afirmado que não
veio revogar a lei e os profetas, mas cumprir.
O fato de ser figura, não significa que a
ministração sacerdotal do Antigo Testamento
não tenha importância para a igreja.
Ao contrário. Já que por tais figuras podemos
aprender acerca de muitos detalhes do que se
cumpriu em Jesus e sua obra em nosso favor.
328
Por exemplo, quando estudamos os tipos de
sacrifícios em Levítico (expiação – oferta pelo
pecado; consagração – holocausto; comunhão –
oferta pacífica), podemos entender melhor a
abrangência do sacrifício de Jesus.
O autor de Hebreus afirmou que a lei tem a
sombra dos bens vindouros.
No caso, o uso da palavra lei se refere ao Antigo
Pacto propriamente dito, que foi estabelecido
com a nação de Israel, para ser a figura da Nova
Aliança, isto é, do pacto que Deus faria com as
pessoas de todas as nações, por meio de Jesus.
Como figura, o primeiro seria removido, para
dar lugar ao segundo e último, cuja validade é
eterna.
“4 Ora, se ele estivesse na terra, nem seria
sacerdote, havendo já os que oferecem dons
segundo a lei,
5 os quais servem àquilo que é figura e sombra
das coisas celestiais, como Moisés foi
divinamente avisado, quando estava para
construir o tabernáculo; porque lhe foi dito:
Olha, faze conforme o modelo que no monte se
te mostrou.” (Hb 8.4,5)
“23 Era necessário, portanto, que as figuras das
coisas que estão no céu fossem purificadas com
tais sacrifícios, mas as próprias coisas celestiais
com sacrifícios melhores do que estes.
329
24 Pois Cristo não entrou num santuário feito
por mãos, figura do verdadeiro, mas no próprio
céu, para agora comparecer por nós perante a
face de Deus;” (Hb 9.23,24)
“Porque a lei, tendo a sombra dos bens futuros,
e não a imagem exata das coisas, não pode
nunca,
pelos
mesmos
sacrifícios
que
continuamente se oferecem de ano em ano,
aperfeiçoar os que se chegam a Deus.” (Hb10.1)
Mas, nem tudo no Velho Testamento é figura.
Muitos dos mandamentos morais da Antiga
Aliança permanecem em vigor (honrar os pais,
amar ao próximo como a si mesmo, não proferir
o nome de Deus em vão, não cultuar outros
deuses, não invocar mortos etc).
Outros sofreram ajustes por Jesus (quanto ao
adultério (Mt 5.27-32), aos juramentos (Mt 5.3337), ao homicídio (Mt 5.21-26), à vingança (Mt
5.38-42) etc.
Nosso amor ao Senhor se expressa, conforme
Ele próprio definiu, como obediência aos Seus
mandamentos (Jo 14.21-24).
Dentre estes, contam-se também os registrados
no Velho Testamento (note-se bem: os que
possam ser aplicáveis à igreja), uma vez que o
Deus do Velho é o mesmo Deus do Novo
Testamento.
330
A Finalidade da Lei
Israel, como nação, não chegou a entender que
Jesus é a nossa justiça, pois buscava a justiça que
era segundo as obras da lei, e não segundo a fé.
Não chegou a entender a finalidade da lei, de lhe
conduzir a Cristo. E tropeçou portanto, na pedra
de tropeço.
A lei fora dada para convencer o homem da
impossibilidade de se obter a justificação a não
ser pela graça de Deus.
Isto estava tipificado principalmente nos
sacrifícios de animais que faziam parte do culto
da Antiga Aliança.
Apontavam para uma vítima vicária, sem
defeito, que pudesse levar sobre si os nossos
pecados.
E o que fez Israel?
Tomou a figura como sendo a realidade para a
qual ela apontava: o sacrifício de Jesus na cruz
em favor dos pecadores.
A lei não é graça.
Ela não realiza a salvação de Deus.
Antes, condena o pecador.
331
Por isso Paulo chamou a Antiga Aliança de
ministério da condenação (II Cor 3.9).
Pela lei vem o pleno conhecimento do pecado,
ela acaba por se tornar a força do pecado (I Cor
15.56), pois o coloca em realce (Rom 3.19,20; 5.20;
7.5; Gál 3.19), ajudando a Deus no Seu propósito
de
convencer-nos
da
necessidade
de
confiarmos inteiramente na Sua graça para que
Jesus possa realizar a sua obra de salvação em
nosso favor.
Como a lei, de si mesma, não pode gerar a vida
eterna, e também exigia que certas tipos de
transgressões fossem punidos com a morte
física, Paulo a chamou de ministério da morte (I
Cor 3.7).
Por isso, ninguém pode ser justificado por meio
da lei (II Cor 3.6-9; Rom 3.19,20; 4.1-11; Hb 8.6,7;
10.4,11; At 13.38,39; Gál 2.16; 3.1-5,10-12,21), pois a
lei é espiritual e santa, e o homem é carnal.
Apesar de não estarem em vigor as disposições
relativas e exclusivas ao Antigo Pacto, nem por
isso é do propósito de Deus que seja alterado um
só jota
ou til das Escrituras do Antigo
Testamento, até que tudo se cumpra, pois serve
para a instrução da igreja, de modo que aprenda
acerca dos Seus atributos e caráter.
“6 Ora, estas coisas nos foram feitas para
exemplo, a fim de que não cobicemos as coisas
más, como eles cobiçaram.
332
7 Não vos torneis, pois, idólatras, como alguns
deles, conforme está escrito: O povo assentouse a comer e a beber, e levantou-se para folgar.
8 Nem nos prostituamos, como alguns deles
fizeram; e caíram num só dia vinte e três mil.
9 E não tentemos o Senhor, como alguns deles o
tentaram, e pereceram pelas serpentes.
10 E não murmureis, como alguns deles
murmuraram, e pereceram pelo destruidor.
11 Ora, tudo isto lhes acontecia como exemplo, e
foi escrito para aviso nosso, para quem já são
chegados os fins dos séculos.” (I Cor 10.6-11)
Havia, nos dias de Moisés e Josué, muitas
dificuldades no deserto, e a murmuração era
uma grande tentação para a carne.
A escassez de água e comida levou muitos
israelitas a murmurarem.
A fé deles na providência de Deus estava sendo
sempre colocada à prova.
O Senhor nunca lhes faltou com a sua
fidelidade: deu-lhes o maná, água da rocha,
tornou as águas amargas de Mara em água
potável, mas mesmo assim eles murmuraram,
e muitos deles foram destruídos.
333
Em dias de grandes dificuldades como os nossos
a murmuração tem se apresentado como o
pecado da hora.
Murmuramos contra as autoridades, contra o
pastor da igreja, os diáconos, os irmãos em
Cristo, contra o vizinho, contra o cônjuge,
contra os filhos.
Murmuramos também pela falta de coisas que
julgamos essenciais. E esta é uma grande
tentação, pois vivemos numa época de muitos
serviços e produtos. Temos todo um aparato
tecnológico a nosso dispor, mas não temos os
recursos suficientes para obter tudo o que nos é
oferecido pela propaganda.
Então, qual é o resultado esperado para quem
vive na carne? Murmuração.
A murmuração gera amargura, e esta gera a
ansiedade, e a ansiedade anula a fé, e sem fé é
impossível agradar a Deus, pois é por meio dela
que temos ativada a nossa comunhão com
Cristo. E fora de Cristo estamos mortos
espiritualmente.
Paulo afirma que os que foram destruídos nos
dias do Velho Testamento, quando vigorava a
Antiga Aliança, o foram para nossa advertência,
quanto ao fato de que a murmuração mata, pois
põe fim à nossa comunhão com Deus.
334
A melhor coisa a fazer, se alguém se encontra
neste laço, e não estava consciente disto, é
confessar ao Senhor uma a uma as suas queixas,
e pedir-lhe perdão, recorrendo à Sua
misericórdia.
É certo que com isso, a paz retornará, e a
pressão da adversidade cessará sobre a sua
alma.
É curioso que não há na lei de Moisés um só
mandamento que proíba a murmuração, e isto é
muito importante para que consideremos até
que ponto é um modo sábio de vida o legalismo,
uma vez que o Senhor julga toda a vida, ele
contempla a condição do nosso coração.
Viver insatisfeito, sem dar graças por tudo, ou
seja: com gratidão em nossos corações, ofende a
pessoa de Deus, pois Ele tem sido um Pai zeloso,
que cuida das nossas necessidades.
Por isso não teve Israel como inocente, e não
deixou de visitar o seu pecado, e mandou Moisés
registrar os incidentes que O levou a puni-los
para nossa advertência, como que a nos dizer
que também não nos deixará impunes nesta
questão.
“18 Em tudo dai graças; porque esta é a vontade
de Deus em Cristo Jesus para convosco.” (I Tes
5.18)
335
Um outro pecado citado por Paulo no texto de I
Cor 10.6-11, e que dispensa maiores
comentários, é o pecado da imoralidade, que
trouxe a morte sobre vinte e três mil israelitas
num só dia.
Por aí dá para ver o quanto a imoralidade
desagrada ao Senhor.
Especialmente os que vivem no mundo
Ocidental devem ter muito cuidado em relação
a isto porque nossa cultura tem incentivado
crescentemente, a prática da imoralidade.
“15 Não sabeis vós que os vossos corpos são
membros de Cristo? Tomarei pois os membros
de Cristo, e os farei membros de uma meretriz?
De modo nenhum.
16 Ou não sabeis que o que se une à meretriz, fazse um corpo com ela? Porque, como foi dito, os
dois serão uma só carne.
17 Mas, o que se une ao Senhor é um só espírito
com ele.
18 Fugi da prostituição. Qualquer outro pecado
que o homem comete, é fora do corpo; mas o que
se prostitui peca contra o seu próprio corpo.
19 Ou não sabeis que o vosso corpo é santuário
do Espírito Santo, que habita em vós, o qual
possuís da parte de Deus, e que não sois de vós
mesmos?
336
20 Porque fostes comprados por preço;
glorificai pois a Deus no vosso corpo.” (I Cor
6.18-20)
337
Jesus Livrou o Crente do Jugo da Lei
As prescrições civis e cerimoniais da Antiga
Aliança foram chamadas de jugo pesado e de
escravidão, tanto pelo apóstolo Pedro (At 15.810), quanto pelo apóstolo Paulo (Gál 5.1-4).
Não no sentido de que fossem uma coisa ruim,
pecaminosa, pois no dizer de ambos, a lei é santa
boa e perfeita, mas algo demasiadamente
trabalhoso para ser cumprido (distinção entre
coisas limpas e imundas – animais, alimentos;
lavagens cerimoniais; diversos tipos de
sacrifícios de animais e outros tipos de ofertas;
circuncisão; festas religiosas; etc), que havia
vigorado até que Cristo viesse.
Desde a morte e ressurreição de Jesus, nem os
gentios, nem os próprios judeus, estão mais
obrigados a carregar tal jugo.
Ao se referir à separação do cristianismo do
judaísmo, por se tratarem de alianças
amplamente distintas, Paulo disse aos gálatas
que foi “para a liberdade que Cristo nos
libertou” (Gál 5.1).
Antes de tudo, libertou tanto os crentes quanto
as igrejas, na Nova Aliança, de um sistema
religioso repleto de rituais e cerimônias, como
era o caso da Antiga Aliança.
338
Havia necessidade de uma determinação legal
de cobrança de dízimos e ofertas, especialmente
para a administração dos serviços do templo, e
pagamento e sustento de levitas e sacerdotes.
No entanto, isto, sabidamente, em nada
contribuiria para a santificação dos levitas e
sacerdotes, em razão da fraqueza da natureza
humana (carne), e foi principalmente por este
motivo que havia tanta corrupção no ofício dos
levitas e dos sacerdotes.
Nenhum sistema religioso, por mais exigente
que seja, não pode, de modo nenhum, promover
a santidade de coração dos que se congregam de
tal forma institucional.
É preciso uma aliança não meramente
administrativa, mas sobretudo do trabalho do
Espírito Santo nos corações, conduzindo os fiéis
a uma verdadeira santidade e comunhão com
Deus.
Foi por isso que a opção dos gálatas pelo
judaísmo, com sua pregação da necessidade da
circuncisão para a salvação, bem como a
negação da necessidade da fé em Cristo, para
obtenção da justificação pelas obras da lei (Gál
2.16; 3.1-5), levou Paulo a chamá-los de
insensatos, pois estavam aceitando que o
evangelho fosse pervertido (Gál 1.6,7).
Ainda hoje, quando alguém oculta o caráter da
obra que Jesus realizou em favor do pecador, e a
339
necessidade da novidade de vida em que devem
andar todos quantos foram regenerados (que
nasceram de novo), faz por merecer a mesma
imprecação proferida aos que induziam os
gálatas ao erro: “seja anátema”. (Gál 1.9)
O argumento dos judaizantes, provavelmente,
se firmava no fato de ter o próprio Jesus vivido
sob
a
lei
de
Moisés,
cumprindo-a
integralmente, e que com isso, estaria dando
um exemplo para ser seguido pela igreja.
Mas, quanto a isto, devem ser considerados pelo
menos os dois aspectos a seguir:
1º - Jesus deveria cumprir a lei com vistas à nossa
justificação (Mt 5.17), porquanto era necessário
que em tudo fosse obediente ao Pai, inclusive no
tocante ao cumprimento da lei, para que a sua
própria justiça pudesse ser imputada aos que
nEle cressem (Rom 5.19), por ter morrido sob a
lei no nosso lugar.
2º - A Nova Aliança só seria inaugurada após a
morte de Jesus, posto ter sido estabelecida com
base no seu sangue, que seria derramado na
cruz, e até aquele momento, Jesus, como
qualquer outro judeu, estava obrigado ao
cumprimento de toda a lei (Lc 22.20; Hb 9.11-18).
“Semelhantemente, depois da ceia, tomou o
cálice, dizendo: Este cálice é a nova aliança em
meu sangue, que é derramado por vós. (Lc 22.20)
340
Quando o apóstolo João disse que a lei foi dada
por intermédio de Moisés, mas que a graça e a
verdade vieram por meio de Jesus (Jo 1.17),
estava se referindo à Antiga e à Nova Aliança.
É fora de qualquer dúvida que aludia a coisas
distintas entre si.
E ainda que tal distinção, não configure o que é
fundamental
em termos
de contraste,
podemos citar que a Nova Aliança não possui
uma prescrição variada de rituais e de
regulamentos cerimoniais, como a Antiga
Aliança possuía, e conforme está registrado nas
páginas do Velho Testamento.
A Nova Aliança apresenta apenas dois
cerimoniais (ceia e batismo), e nem alude
sequer quanto à forma de se realizar a
ministração de ambos.
Não poderíamos fechar esta seção do presente
livro sem fazer menção aos capítulos 4 e 5 de
Gálatas, nos quais Paulo faz uma comparação
entre a Antiga e Nova Aliança, notadamente
neste aspecto de que a Antiga representava
servidão ao jugo da Lei, e a Nova, liberdade em
Cristo.
341
Breve Comentário de Gálatas 4
Os falsos apóstolos que haviam fascinado os
gálatas transitavam como mestres da Lei,
pessoas entendidas nos assuntos relativos ao
Deus que havia se revelado a Israel, e agindo
falsamente em nome dos apóstolos que estavam
em Jerusalém, sem estarem autorizados por
eles, ou mesmo que isto fosse do seu
conhecimento,
afirmavam
que
estavam
defendendo em nome deles a Lei de Moisés que
Paulo estava desprezando.
Veja a sutiliza dos argumentos do diabo. Paulo
não estava falando contra a Lei, mas apenas
dizendo que ela havia sido dada para propósitos
completamente diferentes do relativo à
justificação
dos
pecadores,
ainda
que
contribuísse até mesmo para este propósito
conduzindo os pecadores a Cristo, por
convencê-los acerca do pecado e da santidade
que é devida a Deus.
Mas
como
Paulo
havia
demonstrado
claramente que a Lei era apenas um servo de
um propósito muito maior, a saber, conduzir os
pecadores a Cristo, então os falsos mestres
estavam se jactando de um conhecimento sem
entendimento,
porque
não
conseguiam
discernir o plano de salvação de Deus e mesmo
qual foi o Seu propósito quando estabeleceu a
Antiga Aliança.
342
Eles haviam tropeçado na Rocha de escândalo
(Rom 9.33; I Pe 2.8) porque a confiança deles
estava na sua mera religiosidade e não
propriamente em Deus e na Sua vontade, tanto
que eles haviam rejeitado a Cristo, e a promessa
que foi feita a Abraão, por causa do seu orgulho
nacional que os levava a crer que eram
superiores a todos os homens e que o mero
ritualismo da lei que eles seguiam e que haviam
adulterado de várias maneiras era o padrão a ser
seguido para se agradar a Deus.
Quanta ilusão e engano havia da parte deles!
Eram na verdade guias cegos, nuvens sem água,
mestres sequer da Lei que eles fartamente
transgrediam, mas mesmo assim, eles se
consideravam a luz e a esperança dos gentios, e
não nosso Senhor Jesus Cristo.
As palavras que Paulo usou em Romanos 2 e 3,
para se referir a estes judeus bem definem os
sentimentos e pensamentos deles a que nos
referimos.
“Mas é judeu o que o é no interior, e circuncisão
a que é do coração, no espírito, não na letra; cujo
louvor não provém dos homens, mas de Deus.”
(Rom 2.29).
“29 É porventura Deus somente dos judeus? E
não o é também dos gentios? Também dos
gentios, certamente,
343
30 Visto que Deus é um só, que justifica pela fé a
circuncisão, e por meio da fé a incircuncisão.
31 Anulamos, pois, a lei pela fé? De maneira
nenhuma, antes estabelecemos a lei.” (Rom
3.29-31).
À luz destes ensinos nós podemos ver quão
iludidos estavam os judaizantes por se
considerarem os depositários de uma revelação
melhor (a da Lei), que a do Evangelho de nosso
Senhor Jesus Cristo.
Porque dá-se exatamente o oposto, conforme
Paulo
estava
demonstrando
na
sua
argumentação junto aos gálatas.
O Israel de Deus era menino debaixo da Antiga
Aliança, mas debaixo da Nova o Israel de Deus,
que é o Seu povo remido, chegou à maturidade
espiritual, porque lhes foi revelado claramente
todo o conselho de Deus relativo à salvação dos
pecadores. E a Sua graça tem sido derramada
abundantemente nesta nova dispensação.
Além disso estava determinado por Deus que a
Antigo Aliança seria transitória, como de fato
foi, e a Nova é eterna (II Cor 3).
Mas o orgulho nacional do judeu não lhe
permitia enxergar isto.
Como poderia um pagão, ainda que se
convertesse a Cristo, pensar que poderia ser
344
superior aos judeus, que eram descendentes de
Abraão?
Como poderiam saber mais acerca de Deus se
foi ao povo de Israel que Deus revelou a Sua
Palavra?
Deste modo, os falsos apóstolos judeus estavam
impressionando
os
gálatas
com
estes
argumentos.
E foram tão convincentes nisto que eles se
voltaram da graça para a Lei de Moisés, para
tentar fazer inultimente dela o meio da sua
salvação.
Por isso Paulo disse aos gálatas que eles não
deveriam esquecer que Jesus também era judeu
e que havia nascido sob a Lei, e que se fez
homem, sendo gerado no ventre de uma
mulher, exatamente para o propósito de
cumprir perfeitamente a Lei que nós não
podemos guardar de tal forma perfeita, para que
pudesse remir aqueles que cressem no Seu
nome.
O ato de remissão é um ato de compra de
liberdade, de resgate de uma propriedade que
estava hipotecada.
Somente Jesus obteve méritos suficientes
diante de Deus e era rico o suficiente para poder
pagar tão alto preço que nenhuma riqueza deste
mundo ou do universo poderia pagar, e nem
345
todos os anjos que se encontram sem pecado no
céu.
Somente Ele poderia morrer por todos os
homens, porque o Salvador deles não somente
deveria expiar a culpa deles, como também ser
o Cabeça destes remidos sustentando-os em
santificação pela própria força do Seu poder.
Quem dentre os homens e os anjos seria
suficiente para isto?
O Salvador dos eleitos deveria ter riquezas e
poder suficientes para tornar a todos eles
herdeiros de Deus, e para poder também batizálos com o Espírito Santo prometido.
Ora, sabemos que o Espírito Santo é a terceira
pessoa da trindade, assim, Ele é também divino,
e qual dos anjos é superior ao Espírito de
maneira que pudesse ter a presunção de tê-lo
debaixo da missão de honrá-los e de falar
somente aquilo que recebesse deles, assim
como faz em relação a Cristo?
Nós vemos então que ninguém mais poderia ter
morrido no lugar dos pecadores senão nosso
Senhor Jesus Cristo, porque até mesmo na
trindade estão claramente definidas as funções
tanto do Pai, quanto do Filho, quanto do Espírito.
Então temos diante de nós um plano de salvação
perfeitamente ordenado e planejado, e os
judeus estavam desconsiderando inteiramente
346
este plano de Deus, para afirmarem aquilo que
julgavam ser tal plano pela exclusiva
imaginação deles.
Não admira que sejam chamados de guias cegos
pelo Senhor.
Por conseguinte Jesus nos resgatou até mesmo
da Antiga Aliança, porque caso Ele não viesse
para revogá-la, os judeus permaneceriam ainda
debaixo dela, e os gentios de todas as nações,
permaneceriam também nas densas trevas da
ignorância, e sem Deus no mundo.
E todos os que são resgatados pela fé, não o são
para uma relação de servidão à Lei como a
maioria dos judeus na Antiga Aliança, porque
não conheciam de fato ao Senhor apesar de
fazer parte do povo da Aliança, mas para uma
relação filial, porque em Cristo todos os crentes
são filhos de Deus, o que se comprova pelo fato
do Espírito Santo, que move os seus corações e
lábios a chamar a Deus de Pai, e tendo a
convicção firme e espiritual que é de fato o Pai
deles, porque testifica juntamente com os seus
espíritos que todos os que foram remidos em
Cristo são verdadeiros filhos de Deus.
Santo Agostinho disse que todo homem tem
certeza da sua fé, se ele tiver fé.
E assim se dá com os crentes, eles têm certeza
da sua filiação, se são de fato nascidos de novo
347
pelo Espírito sendo filhos de Deus de fato e de
direito, conforme os méritos de Cristo.
De modo que dizemos que são filhos não por
merecimento, mas por direito, porque Jesus
comprou tal direito na cruz não com os mérito
dos crentes, mas com os Seus próprios méritos.
Paulo chama a Lei cerimonial e civil do Antigo
Testamento, e a própria Antiga Aliança de
rudimentos fracos que os gálatas queriam
servir.
Eles eram pagãos antes de terem vindo a Cristo,
isto é, não tinham nenhum conhecimento sobre
a vontade revelada de Deus nas Escrituras, e não
eram contados em suas nações com o povo de
Israel, que era a única nação com a qual Deus
estava aliançado no Velho Testamento.
Não que Ele esteja agora propriamente
aliançado com todas as nações da terra, mas na
dispensação da Lei nenhuma outra nação se
encontrava debaixo do regime teocrático, senão
Israel, de modo, que naquele tempo todas as
demais nações eram consideradas pagãs.
Cada uma destas nações serviam aos seus falsos
deuses, até que Cristo veio, e muitos destes
pagãos se converteram ao Deus vivo e
verdadeiro, como foi o caso dos gálatas, de
maneira que deixaram os falsos deuses deles
para servirem unicamente ao Senhor que eles
348
passaram a conhecer pessoalmente pela
revelação do Espírito Santo em seus corações.
Mas ainda que alguns deles ou a maioria deles,
apesar desta experiência pessoal com Deus, não
O conhecessem da maneira pela qual convém
ser conhecido através de um amadurecimento
espiritual em santificação que nos habilita a
conhecer melhor qual é o Seu caráter e a Sua
vontade, no entanto todos os filhos de Deus, sem
uma única exceção, são perfeitamente
conhecidos por Ele (II Tim 2.19).
Por isso, no ato de se voltarem para os
rudimentos fracos da Antiga Aliança, tendo
uma vez sido revogados por Cristo, eles eram
mais indesculpáveis do que os próprios judeus,
porque, afinal, não haviam sido educados nos
costumes deles.
Eles serviam a ídolos, e conheceram a santidade
do Senhor pelo Espírito e pela palavra do
Evangelho, e agora estavam deixando uma
adoração espiritual, na liberdade do Espírito,
por uma adoração cerimonial que se baseava
em guardar dias, meses, épocas e anos sagrados.
É provável que estivessem guardando as festas
dos tabernáculos, o sábado sagrado com todas
as suas prescrições cerimoniais previstas na Lei
de Moisés, e todas as demais festas e
celebrações judaicas, pensando que a salvação
de suas almas dependia disso.
349
Há movimentos denominados de congressos de
santidade em nossos dias que estão afirmando a
necessidade
do
cumprimento
destas
prescrições cerimoniais da Lei de Moisés para
que os crentes possam ser santificados.
Eles incorrem no mesmo erro dos judaizantes
fascinando o povo de Deus tanto quanto os
judaizantes haviam fascinado os gálatas, com
práticas errôneas de adoração na presente
dispensação, porque tudo isto é uma afronta à
graça de Cristo, e ao seu trabalho de Redentor
que nos livrou para sempre do jugo da Lei, para
que nos regozijássemos na liberdade que
conquistou para nós com tão alto preço.
Os judaizantes erravam por afirmar a guarda da
Lei cerimonial para a justificação e estes
modernizantes erram por afirmarem o uso da
Lei para a santificação.
Afinal qual é a eficácia destes usos para purificar
o coração?
Qual é o poder do ritual para aumentar a nossa
fé, amor, misericórdia e diligência?
Substituiremos a adoração verdadeira que é
adoração dO que é invisível, pelo uso de coisas
que são visíveis?
A verdadeira fé necessita de apoio do que é
visível, uma vez que ela é a firme convicção do
que não se vê?
350
Não é pela fraqueza da carne, e por uma falta de
andar verdadeiro na Palavra e no Espírito que
todas estas coisas são praticadas?
Afinal, não afirma nosso Senhor
verdadeira adoração é em Espírito?
que
a
A repreensão do apóstolo aos gálatas também se
aplica a estes, e eles fariam bem em atentar para
ela e se arrependerem, abandonando de vez os
rudimentos fracos que foram abolidos por
Cristo na cruz.
Todo este cerimonial aponta para a Lei e dá
honra à Lei. Aponta para a Antiga Aliança e
despreza a Nova. Exalta a Moisés e rebaixa a
Cristo. E todo crente instruído pela Palavra e
pelo Espírito abominará tais práticas e não
poderá adorar a Deus na liberdade do Espírito.
Deus é espírito e deve ser adorado somente em
espírito. Deus é verdade e deve ser adorado
somente em verdade. E a graça e a verdade
foram trazidas por Cristo, de modo que não se
sirva mais a Deus nas bases de um antigo pacto
que Ele revogou.
Lembremos que Deus nunca prometeu salvar
qualquer pessoa pela observância religiosa de
cerimônias e rituais.
Aqueles que confiam em tais coisas servem um
deus, que é a própria invenção deles, e não o
verdadeiro Deus.
351
O verdadeiro Deus tem isto para dizer:
Nenhuma religião me agrada por meio da qual o
Pai não é glorificado pelo Filho.
Portanto, o que eles fazem, nesta nova
dispensação não é obediência à Lei de Moisés,
porque esta exigência já passou, mas idolatria,
porque não é culto direcionado àquilo que Deus
tem determinado para a Nova Aliança, mas
simples prazer carnal em realizar cerimônias e
rituais não para obediência e aprazimento de
Deus, senão dos próprios desejos carnais deles.
Mas o pecado dos gálatas era ainda maior do que
o destes dos chamados grupos de busca de
santidade baseada nos cerimoniais e rituais da
Lei, porque estes como dissemos buscam
adorar a Deus e se santificarem por este meio, e
os gálatas procuravam prioritariamente usar
disto para serem justificados, isto é, para
obterem a salvação que a maioria deles já havia
conquistado pela graça, mediante a fé em Cristo
Jesus.
E que nem mesmo a desobediência deles
poderia desfazer, mostrando assim que a
salvação em Cristo não é um rudimento fraco,
como o de estar aliançado nos termos da Antiga
Aliança, porque todo crente é nascido do
Espírito, é filho de Deus por adoção, e está firme
e seguro na graça que o salvou, porque a sua
justificação não depende dele próprio senão
dAquele que o salvou, e que carrega nos Seus
352
próprios ombros todas as ovelhas que estavam
perdidas.
Por isso Paulo rogou humildemente aos gálatas,
como um pai que insta com seu filho perdido, a
voltarem ao mesmo bom caminho em que
andavam antes da sua perdição.
Ele havia desabafado no verso 11 dizendo que
estava perplexo com o que eles haviam feito, e
receava então que não tivesse trabalhando em
vão em relação a eles.
Mas como que logo lembrando imediatamente
da condição deles de terem sido feitos filhos de
Deus, tal como ele havia sido feito também, ele
desce ao nível deles, não no que se refere ao
pecado, mas da miséria deles, e por um
momento também se sente miserável com eles,
ante a impotência de poder fazer por si mesmo
algo em relação a eles, de modo que todo o seu
trabalho e cuidado por eles não se tornasse
infrutífero.
Assim, ele lhes fez recordar quão grande era o
afeto que eles tinham por ele quando lhes
pregou o evangelho pela primeira vez, e como
eles lhe haviam tratado tão bem, mesmo diante
da sua fraqueza na ocasião, provavelmente em
razão de alguma possível enfermidade, pois ele
lhes diz que eles estavam dispostos até mesmo,
se possível fora, a arrancarem os seus próprios
olhos para darem ao apóstolo, podendo isto ser
353
uma referência a alguma enfermidade que
Paulo tivera nos olhos quando anunciou o
evangelho pela primeira vez na Galácia.
Ou isto foi o resultado de ferimentos produzidos
pelo apedrejamento que ele havia sofrido dos
judaizantes naquela região.
O livro de Atos conta detalhes do que ocorreu ao
apóstolo quando pregava o evangelho nas
cidades da Galácia (Perge, Derbe, Listra,
Antioquia da Psídia e Icônio).
Em todo o caso, não importa qual era o tipo de
fraqueza, e sabemos que não era nada relativo a
pecados, porque se o fora o apóstolo não teria
poder para ministrar a eles, e pecado não é
fraqueza mas rebelião.
Aquela fraqueza quanto à sua incapacidade e
impotência pessoais, serviram aos propósitos de
Deus, porque o poder de Cristo, a Sua graça, se
aperfeiçoam na nossa fraqueza. De modo que
quando somos fracos então é que somos fortes,
porque trocamos a nossa incapacidade pelo
poder do Espírito Santo, que nos assiste nas
nossas fraquezas.
Deste modo, Paulo chamou os gálatas de irmãos.
Ele quis demonstrar que apesar de apóstolo de
Cristo ele não se envergonha de chamá-los de
irmãos, desde o maior até o menor deles,
porque efetivamente o eram, assim como o
nosso Salvador também não se envergonha de
354
nos chamar de irmãos, apesar de ser o nosso
Senhor.
No amor cristão as diferenças se dissolvem. Na
comunhão da lareira de Deus o pai é igual aos
filhos, e se tornam todos servos de Deus e
irmãos uns dos outros, porque esta será a
condição definitiva que todos os filhos de Deus
terão no céu.
Assim como Cristo se rebaixou deixando a
glória dos céus, por amor dos eleitos, também
devemos nos humilhar para que possamos ser
úteis àqueles que se encontram em miséria
espiritual.
Não devemos lhes falar do alto da nossa
autoridade
e
importância,
porque
esmagaríamos a cana quebrada e apagaríamos o
pavio fumegante, e certamente não é este o
ministério do Senhor Jesus neste mundo,
porque tem se compadecido das nossas
misérias.
Quando o próprio Paulo havia pregado o
evangelho a eles pela primeira vez, os gálatas
superaram por causa do seu amor a ele, a
tentação que foi para eles vê-lo naquela
fraqueza.
Eles não o desconsideraram e nem o
desprezaram como possivelmente estavam
fazendo agora, por causa dos argumentos dos
judaizantes, porque procuravam por todos os
355
meios desqualificar e rebaixar o apóstolo diante
dos seus olhos, afirmando que se fosse
verdadeiro ministro de Cristo não estaria sujeito
a tantas tribulações, fraquezas e perseguições,
conforme costumava ocorrer com Paulo.
Estes falsos apóstolos se gloriavam das suas
honrarias, das suas posses e conquistas
terrenas, alegando que eram bênçãos de Deus
por observarem a Lei de Moisés.
E agora os gálatas não haviam conseguido
vencer a tentação de considerar Paulo alguém
que não era bem sucedido segundo os padrões
do mundo.
Assim, devem ter se escandalizado não
meramente em Paulo, mas principalmente no
próprio Cristo, considerando-Lhe incapaz de
muar as circunstâncias de Paulo para melhor. E
isto não passava de um juízo carnal.
Por isso Paulo rogou que eles voltassem a ser
como foram no princípio. Que não julgassem
segundo a aparência, e que não interpretassem
as tribulações como prova de um possível
desfavor de Deus.
Um verdadeiro amigo prevenirá o seu irmão que
estiver errando, e se o irmão errado tiver algum
senso ele agradecerá ao seu amigo.
Na verdade o mundo odeia quem fala a verdade,
e este é considerado um inimigo.
356
Mas entre amigos não deve ser assim, muito
menos entre cristãos.
O apóstolo queria que os gálatas soubessem por
que ele lhes tinha falado a verdade, para o
próprio bem deles, e que não pensassem que ele
os repugnava.
Ele lhes falou a verdade porque os amava.
“17 Eles têm zelo por vós, não como convém;
mas querem excluir-vos, para que vós tenhais
zelo por eles.
18 É bom ser zeloso, mas sempre do bem, e não
somente quando estou presente convosco.
19 Meus filhinhos, por quem de novo sinto as
dores de parto, até que Cristo seja formado em
vós;
20 Eu bem quisera agora estar presente
convosco, e mudar a minha voz; porque estou
perplexo a vosso respeito.” (Gál 4.17-20).
O apóstolo alerta aos gálatas sobre as reais
intenções do judaizantes.
Eles protestavam que tudo o que estavam
fazendo era por causa do zelo deles em relação
aos gálatas.
Mas Paulo lhes disse qual era a real motivação
por detrás daquele suposto zelo: eles odiavam a
357
doutrina de Paulo e queriam jogá-la fora da vida
dos gálatas. Eles queriam afastar os corações
deles do coração de Paulo. Eles queriam em
última instância afastá-los de Cristo.
Eles agiam movidos por inveja porque lhes
incomodava o modo como o evangelho
avançava rapidamente no mundo, ganhando
muito mais adeptos do que o judaísmo, que nos
dias de Jesus havia se transformado numa
religião pervertida baseada em mandamentos
de homens, enfatuados em sua compreensão
carnal.
Enquanto a mensagem dos judaizantes estava
completamente afastada da revelação das
Escrituras, o cristianismo nos dias de Paulo
seguia fielmente esta revelação, e o evangelho
estava plenamente em conformidade com tudo
o que os profetas do Velho Testamento haviam
falado da parte de Deus a respeito dele.
Então que zelo era aquele que os judaizantes
afirmavam ter pelos gálatas?
Aquilo que parecia um grande zelo era na
verdade ausência de sinceridade e amor à
verdade. E é costume dos sedutores insinuarem
muito afeto pelas pessoas, somente com a
intenção de ganhá-las para as causas deles.
Eles as adulam, e envolvem-nas com apelos
emocionais e sentimentais, e procuram agradálas dando-lhes aquilo para o qual a natureza
358
delas está inclinada, sem levar em conta se estas
coisas estão em conformidade com a vontade
revelada de Deus.
O diabo não se importa nem um pouco em
concordar com todos os nossos desejos e em
estimular a realização de todos os nossos
sonhos.
Neste sentido ele é o maior amigo dos
pecadores, só que o que ele faz é agravar ainda
mais a miséria espiritual deles, e a culpa pelos
seus pecados.
Ele usa sempre a mesma estratégia do Éden,
pois promete mundos e fundos, tal como fez
descaradamente até com o próprio Jesus na
tentação do deserto.
Foi a mesma velha Serpente que prometeu
onisciência divina a Adão e a Eva, e que
procurou se mostrar mais amigo deles do que o
próprio Deus, dizendo-lhes que eram livres e
deveriam fazer um bom uso da liberdade deles
fazendo tudo o que desejassem, inclusive comer
do fruto da árvore do conhecimento do bem e do
mal.
Ele não disciplina, não cura feridas com
remédios amargos, antes sempre sinaliza o que
é doce e agradável, promete riquezas, fama e
honrarias, e não são poucos os que caem nos
seus laços vitimados pelas suas próprias cobiças
pecaminosas.
359
Então o trabalho do diabo é basicamente este de
estimular a própria natureza decaída do homem
a pecar e a se desviar da verdade, não
importando que a Palavra de Deus seja
transgredida e que os autênticos ministros que
Deus tem levantado para nos servir sejam
feridos por nossas ingratidões e rebeliões.
Foi assim que o diabo agiu no céu quando da sua
queda e ele tem procurado ardorosamente
discípulos na terra entre os homens que estejam
dispostos a seguir os seus passos.
O que os gálatas haviam feito então foi um ato de
rebelião contra a verdade revelada, para
seguirem após o diabo, virando as costas para o
Senhor que lhes havia salvado.
Deste modo, todo zelo verdadeiro deve ser
sempre zelo pelo bem (Gál 4.18), e um zelo
sincero e bem disciplinado que exista não
somente na presença dos homens, mas em
todas as ocasiões da nossa vida, porque não é
zelo para agradar a homens, mas para agradar a
Deus. Assim como um bom empregado é aquele
que tudo faz bem sem que o patrão esteja
presente.
O sentimento de Paulo em relação aos gálatas
era o de que ele necessitaria gerar de novo neles
a vida de Cristo.
Isto não seria necessário quanto à regeneração,
porque eles eram nascidos de novo pelo
360
Espírito, e por isso Paulo os chama de “meus
filhinhos”. Mas que eles necessitavam ser
renovados na Palavra da verdade, na vida e no
andar no Espírito, certamente isto era
necessário em face do procedimento deles.
Isto era algo que havia deixado o apóstolo
inteiramente perplexo. Eles haviam se afastado
da verdade em muito pouco tempo.
Todo pastor deveria ser como Paulo no esforço
de formar Cristo no coração dos seus ouvintes.
Assim todo pastor é um pai espiritual que forma
Cristo nos corações dos seus ouvintes.
Os Gálatas haviam perdido a forma de Cristo,
mas Paulo estava dizendo que estava disposto a
reformar Cristo neles, isto é, a formá-lo de novo
em seus corações.
Paulo expressa que gostaria de fazer isto
estando presente entre eles, e mudando o seu
tom de voz, porque em face do arrependimento
que visse neles à medida que lhes expusesse
estas coisas, ele mudaria também o tom de suas
palavras repreensivas.
Ele preferiria fazê-lo realmente com outro tom
de voz porque é muito doloroso para todo pai ter
que corrigir duramente os seus filhos, à altura
da gravidade dos erros que eles cometeram,
mas todo pai amoroso sempre abaixará o tom da
sua voz quando perceber um sincero
361
arrependimento no filho que se submeteu à sua
repreensão.
“21 Dizei-me, os que quereis estar debaixo da lei,
não ouvis vós a lei?
22 Porque está escrito que Abraão teve dois
filhos, um da escrava, e outro da livre.
23 Todavia, o que era da escrava nasceu segundo
a carne, mas, o que era da livre, por promessa.
24 O que se entende por alegoria; porque estas
são as duas alianças; uma, do monte Sinai,
gerando filhos para a servidão, que é Agar.
25 Ora, esta Agar é Sinai, um monte da Arábia,
que corresponde à Jerusalém que agora existe,
pois é escrava com seus filhos.
26 Mas a Jerusalém que é de cima é livre; a qual
é mãe de todos nós.
27 Porque está escrito: Alegra-te, estéril, que
não dás à luz; Esforça-te e clama, tu que não
estás de parto; Porque os filhos da solitária são
mais do que os da que tem marido.
28 Mas nós, irmãos, somos filhos da promessa
como Isaque.
29 Mas, como então aquele que era gerado
segundo a carne perseguia o que o era segundo
o Espírito, assim é também agora.
362
30 Mas que diz a Escritura? Lança fora a escrava
e seu filho, porque de modo algum o filho da
escrava herdará com o filho da livre.
31 De maneira que, irmãos, somos filhos, não da
escrava, mas da livre.” (Gál 4.21-31).
Paulo demonstra nesta seção da epístola que o
que estava ocorrendo com os gálatas era o
mesmo que havia ocorrido entre Ismael e
Isaque, filhos de Abraão,
porque Ismael
zombava de Isaque porque era filho da mulher
livre (Sara), e ele, filho de uma escrava (Agar).
De igual modo, os dois povos que haviam se
formado como descendência de Abraão, o
terreno (Israel na Palestina) e o celestial (os
crentes) estariam na mesma condição relativa a
Isaque e Ismael, pois os que nasceram como
povo no Sinai, onde a Lei foi promulgada e Deus
fez aliança com este Israel terreno através de
Moisés, viria a perseguir o povo nascido pela
aliança firmada no sangue de Jesus derramado
no monte Sião, e cuja pátria não é a Jerusalém
terrena, mas a Jerusalém celestial.
Então não era nada surpreendente que aqueles
judeus estivessem perseguindo a Igreja de
Cristo para sujeitá-la à escravidão da Lei.
Os gálatas deviam estar bem inteirados disto de
maneira que entendessem qual era a verdadeira
natureza do assédio que estavam sofrendo da
parte dos judeus.
363
Deus havia profetizado que colocaria Israel em
ciúmes com os gentios, porque em face do
endurecimento deles ele estenderia a salvação
aos gentios, e eles não concordariam, do ponto
de vista religioso deles, que pagãos pudessem
ser aceitos por Deus, ainda que se convertendo
a Ele, fora dos termos da Aliança que havia sido
feita no monte Sinai.
“19 Mas digo: Porventura Israel não o soube?
Primeiramente diz Moisés: Eu vos porei em
ciúmes com aqueles que não são povo, Com
gente insensata vos provocarei à ira.
20 E Isaías ousadamente diz: Fui achado pelos
que não me buscavam, Fui manifestado aos que
por mim não perguntavam.
21 Mas para Israel diz: Todo o dia estendi as
minhas mãos a um povo rebelde e
contradizente.” (Rom 10.19-21).
Assim, como no dizer de Paulo, Agar e Sara
representam alegoricamente duas alianças,
duas dispensações diferentes.
Uma que gera filhos para servidão (Agar) porque
não são nascidos segundo a promessa de Deus,
tal como fora Isaque.
E a Jerusalém terrena gerou filhos para servidão
na Antiga Aliança, isto é, debaixo da Lei, porque
não havia naquela aliança nenhuma promessa
364
de Deus relativa à vida eterna, tal como há na
Nova.
Deus salvou naquela dispensação também pela
graça, mediante a fé, mas não por alguma
promessa que houvesse naquela dispensação
para os que faziam parte da Antiga Aliança.
As promessas que encontramos nos profetas do
Velho Testamento neste sentido se referem à
Nova Aliança que ainda seria inaugurada com a
morte de Jesus.
Elas apontavam para o futuro, e assim Agar, que
é a Antiga Aliança não poderia jamais gerar um
Isaque, senão um Ismael, porque o filho da
promessa foi prometido a Sara, a esposa daquele
que tinha as promessas a saber, Abraão.
A igreja é a noiva de Cristo, e é nEle que se
cumprem as promessas de Deus relativas à vida
eterna celestial.
É em Cristo, que é o Isaque da Igreja, que se
cumpre a promessa de Deus de gerar filhos
espirituais contados na Sua descendência. Deste
modo, os que não descendem de Cristo, não
podem ser contados como filhos de Deus, como
verdadeiros judeus. Assim, quanto à geração de
filhos pela promessa divina, Isaque foi também
um tipo de Cristo na Antiga Aliança.
365
Aqueles que são nascidos por promessa são
filhos da mulher livre (Sara que representa a
Jerusalém celestial).
Estes e somente estes podem contar com a
liberdade porque nasceram por promessa, tal
como Isaque, da mulher estéril e que Deus
tornou abundantemente fecunda para trazer
muitos filhos espirituais à luz.
A Jerusalém celestial ainda não foi manifestada,
e pode-se dizer dela que é uma mulher estéril,
por ora, tal como Sara, mas no momento
aprazado pelo Senhor ela estará cheia de filhos,
filhos que viverão eternamente, porque o que
Deus tem prometido, cumprir-se-á a seu tempo.
Os judeus, que ainda hoje permanecem com
seus filhos, resistindo à Aliança da Graça, por
estarem apegados à justiça da Lei, permanecem
em estado de escravidão e não conhecerão a
liberdade dos filhos de Deus caso não se
convertam voltando-se para Cristo.
Enquanto isto, os gentios que não conheciam a
revelação de Deus estão se convertendo pelo
mundo afora porque são filhos da promessa, e
vivem na liberdade do Evangelho, e não sob o
jugo da Antiga Aliança.
Devemos considerar que aqueles que são das
obras da Lei, ainda em nossos dias, perseguem
aqueles que vivem na graça de Cristo.
366
Os próprios crentes legalistas são assassinos da
graça, e apesar de livres, agem como se fossem
escravos porque querem viver debaixo da Lei,
não sabendo que em Cristo não estão mais
debaixo da Lei e por isso não devem viver
debaixo dela, colocando-se debaixo de um jugo
do qual foram livrados pela promessa que Deus
fez acerca dos seus filhos gerados na Nova
Aliança.
Deste modo ninguém se surpreenda caso
encontre grande resistência da parte destes
legalistas, toda vez que pregar e ensinar a
doutrina da graça.
Eles têm pavor da liberdade da graça porque
suas consciências são fracas e eles temem servir
a Deus na liberdade do Espírito.
Eles encontram na Lei um certo senso de
segurança. Eles temem perder o mérito e louvor
pessoal pelo esforço próprio, pensando que
guardam todos os mandamentos, e não lhes
agrada transferir toda a glória e louvor à graça
de Cristo.
Eles se sentem melhores e superiores a muitos
comparando-se com eles, e não poderiam fazer
isto vivendo na graça, senão somente na Lei.
Eles fazem um uso inadequado da Lei, fora dos
propósitos que Deus designou para ela, e
perseguirão movidos ou não pelo diabo, todos
aqueles que estiverem desfrutando da graça,
367
sob a falsa alegação de uma injusta acusação de
que exageram demais os méritos de Cristo, e a
depravação da natureza terrena.
Eles não gostam de ouvir a verdade que a graça
faz de que são pecadores necessitados da
misericórdia divina.
Não lhes agrada ouvir que sem Jesus nada
poderão fazer, porque eles se iludem que tudo o
que se refere à vontade de Deus são eles
próprios que fazem, e é o dever deles fazê-lo, só
que são como Ismael e não como Isaque. São
como Agar e não como Sara.
A Jerusalém deles é terrena e não celestial. E em
vez de olharem o monte Calvário em Sião,
agrada-lhes mais voltar suas atenções ao Sinai,
uma vez que lhes agrada mais o pensamento de
um mediador como Moisés, que deixa muito
para ser feito por eles, do que um Mediador
como Cristo, que nada deixou para ser feito por
eles nos assuntos relativos à sua redenção,
justificação, regeneração e até mesmo
santificação.
Dizemos até mesmo santificação porque até
nossas boas obras dependem da graça do
Senhor, porque é Deus quem realiza em nós
tanto o querer quanto o efetuar, de modo que
podemos dizer como Paulo que trabalhamos
muito para o Senhor, todavia não nós mas a Sua
graça.
368
Na verdade, nada podemos fazer de nós mesmos
para Deus, porque somos completamente
insuficientes para sequer vencer os poderes
espirituais que se levantam contra nós quando
nos dispomos a fazer a Sua santa vontade, e
muito menos para reproduzirmos a vida
abundante de Jesus Cristo.
369
Breve Comentário de Gálatas 5
“1 Estai, pois, firmes na liberdade com que
Cristo nos libertou, e não torneis a colocar-vos
debaixo do jugo da servidão.
2 Eis que eu, Paulo, vos digo que, se vos
deixardes circuncidar, Cristo de nada vos
aproveitará.
3 E de novo protesto a todo o homem, que se
deixa circuncidar, que está obrigado a guardar
toda a lei.
4 Separados estais de Cristo, vós os que vos
justificais pela lei; da graça tendes caído.
5 Porque nós pelo Espírito da fé aguardamos a
esperança da justiça.
6 Porque em Jesus Cristo nem a circuncisão
nem a incircuncisão tem valor algum; mas sim a
fé que opera pelo amor.
7 Corríeis bem; quem vos impediu, para que não
obedeçais à verdade?
8 Esta persuasão não vem daquele que vos
chamou.
9 Um pouco de fermento leveda toda a massa.
370
10 Confio de vós, no Senhor, que nenhuma outra
coisa sentireis; mas aquele que vos inquieta, seja
ele quem for, sofrerá a condenação.
11 Eu, porém, irmãos, se prego ainda a
circuncisão, por que sou, pois, perseguido?
Logo o escândalo da cruz está aniquilado.” (Gál
5.1-11).
Tendo argumentado no capítulo anterior
quanto à liberdade que os crentes têm em Cristo
por serem filhos da promessa, da Jerusalém
celestial, por terem sido libertados em Cristo da
condenação e da maldição da Lei, é dever deles
viverem para Cristo, não como escravos, mas
como livres que são.
O crente é livre até mesmo da escravidão do seu
próprio ego, da sua própria vontade, porque é
livre para poder escolher e viver segundo a
vontade de Deus pelo poder do Espírito.
Portanto, uma vez que os gálatas retornassem à
obediência à verdade do Evangelho deveriam
ter o devido cuidado de não retornarem a cair na
mesma sedução que lhes havia vencido e
removido da liberdade em que se encontravam,
para serem sujeitados ao jugo de servidão que
lhes foi imposto pelos judaizantes.
A perseguição do filho da escrava ao filho da
livre não é sem propósito, pois os que são
escravos querem também escravizar outros a
eles próprios.
371
Há poderes terríveis operando no mundo
espiritual, e eles disputam pelo governo total de
nossas vontades e espíritos.
A carne sempre tentará trazer o crente de novo
à sujeição total que exercia sobre ele, quando
andava no mundo sem Cristo.
O mundo também faz o mesmo tentando cativar
totalmente a vontade e os afetos do crente nos
tesouros terrenos, sejam eles lícitos ou não.
Satanás, o diabo, dispensa comentários quanto a
isto, quer agindo diretamente, quer usando os
seus ministros que se transfiguram em
ministros de justiça, para enganar os crentes.
A liberdade com que Cristo nos libertou é muito
ampla, mas Paulo tem em mente aqui nesta
seção de Gálatas, a liberdade relativa ao jugo da
Lei que havia sido colocado pelos judaizantes
sobre os crentes gálatas.
Aprouve a Deus salvar e libertar os pecadores
através da fé, conforme revelou ao profeta
Habacuque (2.4). Então a mensagem de salvação
e libertação do evangelho é a pregação da fé e
não das obras da Lei.
Nós não devemos evangelizar alguém que esteja
a ponto de passar desta vida para outra, em seu
leito de enfermidade, dizendo-lhe que se deseja
ir para o céu deve circuncidar o seu prepúcio, ou
então que deve guardar todos os dez
372
mandamentos da Lei de Moisés, ou qualquer
outra coisa diferente de que deve confiar apenas
em Cristo como seu Salvador, arrependendo-se
dos seus pecados, e crer no seu coração que Ele
é o Senhor.
Se as forças lhe permitirem deve confessá-lo
com a sua boca invocando o Seu nome, porque
Deus prometeu salvar todo aquele que
invocasse o nome do Seu Filho para que seja
salvo.
É importante frisar que Paulo não estava
combatendo a circuncisão como se ela fosse um
mal, pois poderia ser mantida por costume por
todo crente judeu que assim o desejasse, mas
que este não pensasse nem de longe que há
alguma eficácia espiritual no ato da circuncisão
seja para que propósito for, muito menos para a
justificação.
Todo crente que não obedecesse isto, e
colocasse a sua confiança que o modo de
agradar a Deus seria pela simples circuncisão do
prepúcio ou por qualquer outro expediente
carnal, segundo Paulo, estava com isto dando
uma prova do seu afastamento da comunhão
com Cristo por esta grande ofensa feita a todo o
grande trabalho de expiação e redenção que Ele
fez em nosso favor, para que tributássemos a Ele
e somente a Ele toda a glória por todos os atos
que foram operados em nós, relativos à
salvação, e uma declaração formal expressa de
373
que não desejamos depender dEle para
progredirmos em nosso amadurecimento
espiritual.
Estes muitos evangelhos que não ensinam que
Cristo é o tudo da nossa salvação, e que é
olhando sempre para Ele com os olhos
espirituais
da
fé,
que
progredimos
espiritualmente, sempre produzirão este efeito
de nos separar da comunhão com o Senhor,
ainda que afirmemos que é em Seu nome que
nos submetemos às práticas que são estranhas
ao evangelho.
Uma vez estando separado da comunhão com o
Senhor, por se entristecer e apagar a atuação do
Espírito Santo, com este pecado de ingratidão e
de desconsideração para com Ele e com tudo o
que fez por nós, a consequência imediata é a de
se decair da graça, ou seja, ficar privado do
crescimento na graça, e das consolações da
graça pelo Espírito.
A propósito, faremos bem em considerar que a
graça não é uma filosofia, mas um poder, na
verdade, o maior poder operante neste mundo,
porque é por ela que se destrói o pecado, e que
se transforma progressivamente pecadores em
santos, pelo processo da santificação.
Como o objetivo dos gálatas era o de serem
justificados pela circuncisão, Paulo lhes
lembrou que isto era muito pouco ou quase
374
nada, porque segundo a justiça da lei, para a
justificação,
é
necessário
cumprir
perfeitamente todos os demais mandamentos e
isto continuamente por toda a vida. E temos
demonstrado anteriormente que isto é uma
tarefa impossível, porque o homem é pecador.
Nós não estamos tratando agora de um assunto
sem importância. É uma questão que envolve
liberdade perpétua ou escravidão perpétua.
Porque a libertação da ira de Deus pelo ofício
amoroso de Cristo não é um benefício
transitório, mas uma bênção permanente,
assim como o jugo da Lei, para os que
permanecem debaixo da maldição da Lei, por
não terem sido libertados por Jesus, não é um
temporário mas uma aflição perpétua.
Contudo os gálatas haviam sido encantados e
estavam cegos quanto a esta verdade que lhes
havia sido ensinada, mas na qual eles não
haviam ficado firmes. Eles não permaneceram
firmes na graça, e decaíram da graça. Porque
não há outro modo de permanecer na graça a
não ser o de ficar firme nela, sem se deixar
remover na mente ou no espírito, dando crédito
a doutrinas que afirmam o oposto da nossa
segurança em Jesus.
Este
descaimento,
como
afirmamos
anteriormente é consequente da desonra que se
dá ao poder do Senhor e à Sua graça, quando se
375
pensa que há outro modo de se agradar a Deus a
não ser pela fé.
A falta de fé naquilo que Deus tem afirmado é
incredulidade, e isto é um pecado terrível.
Deixar de crer naquilo que a boca de Deus tem
proferido para se dar crédito ao homem ou ao
diabo, é falta de fé, e é por isso que Paulo afirma
que é pelo Espírito da fé que aguardamos a
esperança da justiça, isto é, esta fé é operada
pelo Espírito, de modo que temos plena
esperança da justiça (Gál 5.5) que temos
recebido em Cristo Jesus, e vale destacar que a
noção bíblica de esperança não é incerteza
quanto ao futuro, mas segurança de que
receberemos tudo o que Deus nos tem
prometido. E Paulo afirma que não é ser judeu
ou gentio que tem qualquer valor, mas ter esta
fé que opera pelo amor (Gál 5.6).
O amor é sobretudo a união do crente com
Cristo que é a fonte do amor. Isto significa então
que não é possível ter fé à parte da comunhão
com Cristo.
E se os gálatas estavam se desligando de Cristo
para se ligarem aos judaizantes e ao ensino
pervertido deles, que fé eles poderiam ter?
Como uma fé que não atuava pelo amor poderia
aumentar?
Tal como a igreja de Éfeso citada em Apocalipse,
os gálatas haviam abandonado o seu primeiro
376
amor, e como a igreja de Laodiceia tinham
deixado Cristo do lado de fora dos seus corações
batendo à porta para que se arrependessem.
O Senhor estava fazendo exatamente isto,
através da epístola que Paulo escreveu aos
Gálatas.
Jesus mesmo o inspirou a isto para buscar as
Suas ovelhas que haviam fugido do aprisco. O
lobo tinha-lhes atacado e não poucas estavam
muito feridas.
A perplexidade de Paulo em relação aos gálatas
estava fundada no fato de que eles vinham
correndo bem a carreira cristã, eles estavam
progredindo na fé, e de repente, por terem
permitido serem removidos da sua própria
firmeza por darem ouvido aos judaizantes,
ficaram paralisados e impedidos de continuar a
carreira que vinham efetuando.
Nós já citamos no início deste comentário que
qualquer igreja está sujeita a isto, e os crentes
devem vigiar constantemente contra este
perigo, especialmente os ministros do
evangelho, de modo que todo o trabalho que
tiverem realizado não seja perdido num instante
por um vento de falsa doutrina.
Lembremos que a nossa luta não é contra a
carne e o sangue, mas contra Satanás que
semeia o joio do erro enquanto dormimos, isto
377
é, quando descuidamos na nossa vigilância e
diligência.
Paulo esclareceu aos gálatas que quem lhes
havia persuadido àquela insensatez que eles
haviam cometido não fora o Senhor que os
chamou, mas o diabo através dos seus
instrumentos, com o fim de separá-los da
comunhão com Cristo.
O diabo sabe quão difícil é a reconciliação de um
crente desviado com o seu Senhor.
Por isso Satanás tudo fará para trazer dores aos
crentes, por saber que não os terá mais consigo
no inferno depois que eles saírem deste mundo
Portanto eles deveriam ter muito cuidado com o
fermento do erro, porque não é necessário
muito fermento para levedar toda a massa de
crentes, desviando-os da verdade.
Toda heresia deve ser resistida e rejeitada logo
na sua origem.
Todo pastor fiel logo expulsará o lobo e o
manterá distante do rebanho tão logo perceba
que ele está se aproximando.
Paulo não disse que os gálatas, que haviam
decaído da graça por terem se circuncidado
pensando obter a justificação que já haviam
alcançado em Cristo, de uma vez para sempre
no dia da conversão, que eles seriam
378
condenados, mas ele fez esta afirmação em
relação aos falsos apóstolos que lhes haviam
fascinado, porque seguramente eles não
conheciam pessoalmente a Cristo, e não haviam
sido libertados por Ele da condenação eterna.
Há muitas considerações que podem ser feitas
sobre o decair da graça, mas nós devemos ter
em conta que não é possível alguém cair de uma
posição na qual nunca estivera dantes.
Então o versículo não se aplicaria a incrédulos,
por nunca terem estado debaixo da graça, senão
da maldição da Lei.
Entretanto, podemos considerar, que se
deixarmos de lado a mera interpretação de
palavras, e levarmos em conta qual era a ideia a
que Paulo queria se referir, então nós podemos
admitir que haja também uma inclusão no
versículo daqueles que ainda não conhecendo a
Cristo estavam tentando ser justificados pelo
simples
ato
da
circuncisão,
e
não
exclusivamente pela fé.
Assim a palavra do apóstolo seria também uma
advertência para estes gálatas incrédulos que
haviam se associado à igreja, pois uma vez que a
justificação por obras da Lei é impossível, eles
estavam afastados da graça, e neste caso não
poderiam ter qualquer benefício de Cristo, por
não estarem ligados a Ele pela fé.
379
Assim, permanece verdadeiro que tanto num
caso quanto noutro Cristo de fato de nada
aproveitará, conforme o dizer de Paulo, a
crentes justificados que se desviam da fé e
àqueles que pensando estarem agradando a
Deus, no entanto não chegaram sequer a ser
justificados porque estão confiando em práticas
religiosas para alcançarem a justificação que é
obtida somente pela graça, e mediante a fé.
Os profetas haviam predito que a morte do
Messias faria com que Ele se tornasse numa
Rocha de escândalo para os judeus, porque no
entendimento e expectativa carnais deles,
jamais admitiriam uma tal coisa, pois sempre
esperaram um Messias poderoso segundo o
mundo e que lhes desse poder temporal sobre
as demais nações do mundo.
O Messias que eles esperavam era militar e
político. E que grande decepção Jesus não se
tornou para eles em seu ministério terreno, e
eles se ofenderam e se escandalizaram nEle,
quando lhes afirmou que era o Messias
prometido.
Eles não somente O rejeitaram como também O
crucificaram por causa disto.
Por muitos anos, mesmo depois da morte de
Jesus eles perseguiram todos os Seus
seguidores.
380
Todo aquele que pregava o evangelho era
motivo de escândalo para os judeus e suscitava
a perseguição deles.
O verso 11 deve ser entendido da seguinte forma,
porque o que ali se afirma é como se Paulo o
dissesse deste modo, em outras palavras:
“Porém, irmãos, se é verdade que eu continuo a
anunciar que a circuncisão é necessária, por
que é que sou perseguido? Se eu anunciasse
isso, então a minha pregação a respeito da cruz
de Cristo não causaria dificuldade para
ninguém.”.
Isto implica que é possível que os oponentes de
Paulo podem ter até mesmo usado o seu nome
para enganar os gálatas, dizendo-lhes
falsamente que Paulo dizia que a circuncisão era
necessária para a salvação. E isto explicaria a
defesa que ele fez ironicamente desautorizando
o que haviam falado a seu respeito.
“12 Eu quereria que fossem cortados aqueles
que vos andam inquietando.
13 Porque vós, irmãos, fostes chamados à
liberdade. Não useis então da liberdade para dar
ocasião à carne, mas servi-vos uns aos outros
pelo amor.
14 Porque toda a lei se cumpre numa só palavra,
nesta: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo.
381
15 Se vós, porém, vos mordeis e devorais uns aos
outros, vede não vos consumais também uns
aos outros.
16 Digo, porém: Andai em Espírito, e não
cumprireis a concupiscência da carne.
17 Porque a carne cobiça contra o Espírito, e o
Espírito contra a carne; e estes opõem-se um ao
outro, para que não façais o que quereis.
18 Mas, se sois guiados pelo Espírito, não estais
debaixo da lei.
19 Porque as obras da carne são manifestas, as
quais são: adultério, prostituição, impureza,
lascívia,
20 Idolatria, feitiçaria, inimizades, porfias,
emulações, iras, pelejas, dissensões, heresias,
21 Invejas, homicídios, bebedices, glutonarias, e
coisas semelhantes a estas, acerca das quais vos
declaro, como já antes vos disse, que os que
cometem tais coisas não herdarão o reino de
Deus.
22 Mas o fruto do Espírito é: amor, gozo, paz,
longanimidade, benignidade, bondade, fé,
mansidão, temperança.
23 Contra estas coisas não há lei.
382
24 E os que são de Cristo crucificaram a carne
com as suas paixões e concupiscências.
25 Se vivemos em Espírito, andemos também
em Espírito.
26 Não sejamos cobiçosos de vanglórias,
irritando-nos uns aos outros, invejando-nos uns
aos outros.” (Gál 5.12-26).
Ao se referir aos judaizantes no verso 12 dizendo:
“Eu quereria que fossem cortados aqueles que
vos andam inquietando.”, parece que o apóstolo
tinha em mente a circuncisão que eles tanto
prezavam e pregavam como o fim mesmo da
vida com Deus, e assim ele diz, já que eles
gostam tanto de cortar os prepúcios, que eles
então se mutilem totalmente.
Parece que Paulo estava falando de modo
irônico para deixar nos gálatas uma impressão
bastante forte quanto à religião que eles
estavam querendo seguir: baseada na carne e
não no Espírito. Ele vai falar logo a seguir da luta
da carne contra o Espírito e do Espírito contra a
carne.
Na ilustração do capítulo anterior ele havia
demonstrado que é um princípio inalterável
esta luta entre o que é carnal e o que é espiritual
no exemplo que ele havia fixado em Ismael e
Isaque, em Agar e Sara, entre a Jerusalém
terrena e a Jerusalém celestial, entre o escravo e
383
o livre, entre o nascido por promessa e o não
nascido por promessa.
Todas estas comparações tinham em vista
conduzir ao entendimento de que o crente
estará sempre empenhado numa luta contra a
carne (natureza terrena), não propriamente ele,
senão o Espírito que nele habita (nova natureza
obtida pela fé em Cristo).
Aquelas ilustrações do capítulo anterior tinham
em vista ensinar que o que é nascido da carne,
não herdará o céu e tudo o que é espiritual,
celestial e divino, juntamente com o que é
nascido do Espírito.
Porque o que é nascido da carne é carne, e o que
é nascido do Espírito é espírito.
O homem não herdará o céu, a menos que tenha
sido transformado em espiritual, e isto é uma
obra exclusiva do Espírito Santo que é dado
somente àqueles que creem em Cristo.
Foi somente a estes que Deus fez a promessa de
conceder o Espírito, porque disse a Abraão que
daria esta bênção somente aos que estivessem
unidos ao seu descendente, que é Cristo,
verdade à qual Paulo já havia se referido no
terceiro capítulo.
Ao chegar a este nível de argumentos na
epístola, Paulo vai deixar de lado o assunto da
circuncisão para se concentrar na fonte que
384
havia dado causa ao problema dos gálatas. Ele
vai colocar o dedo na ferida para extirpar a
infecção que havia contaminado toda a igreja.
Ele fez o diagnóstico espiritual e afirmou a eles
que haviam caído não por uma mera troca de
doutrina. Não foi meramente a circuncisão que
lhes havia afastado da comunhão com Cristo.
Algo tinha acontecido com eles antes de terem
sido fascinados pelos judaizantes, e foi isto que
permitiu a facilidade de semear sua heresia
entre eles.
Eles haviam feito um mau uso da liberdade que
alcançaram em Cristo. Eles não usaram a
liberdade da graça para crescerem no amor
servindo uns aos outros.
Antes, eles usaram esta liberdade para dar
ocasião às suas cobiças carnais.
Eles pensaram que ser livrado por Cristo
significava liberdade para fazerem o que fosse
do agrado deles, isto é, para fazerem a vontade
do ego. Eles perderam de vista o jugo e o fardo de
Jesus, que é a obediência devida a Ele. Eles
perderam de vista a cruz que deve ser carregada
diariamente, e o dever da autonegação.
Contudo quem é suficiente para estas coisas?
Então eles perderam também de vista a
necessidade de se estar debaixo da influência do
Espírito Santo, praticando a Palavra de Deus
(andar no Espírito) para que então, estas coisas
385
ordenadas pelo Senhor possam ser cumpridas e
vividas.
A liberdade cristã não é liberdade para a carne,
mas liberdade para a nova criatura. A carne deve
ser mortificada, e por isso foi crucificada
juntamente com Cristo quando Ele morreu na
cruz do Calvário.
A nova criatura, esta sim, é livre, ela é celestial e
não terrena.
Ela é responsável e perfeitamente santa.
É a semente da vida eterna que foi semeada no
coração do crente.
É a nova vida do céu que foi implantada nele, e
que está destinada a crescer e a vencer a antiga
natureza, assim como a Nova Aliança revogou e
substituiu a Antiga.
Ela é o odre novo no qual o Senhor está
colocando o seu vinho celestial da verdadeira
alegria.
É por viver e andar no Espírito, no crescimento
progressivo da nova natureza, que os crentes
são habilitados e capacitados a viverem em
unidade sendo um só corpo em Cristo, unidos
pelo vinculo do amor. E assim se cumpre o
propósito de Deus em relação a eles.
386
Porém, quando se deixam governar pela carne,
e negligenciam os deveres que lhes são
ordenados na Palavra, quando deixam de ser
diligentes
no
hábito
da
santificação,
esquecendo de purificar seus corações pela
Palavra, pelo poder do Espírito, e de
permanecerem continuamente nisto por todos
os dias das suas vidas, então o que se verá são
todas as manifestações que são designadas por
obras da carne (dissensões, iras etc) e não o
fruto do Espírito, que é amor, paz etc.
Os que andam na carne jamais cumprirão a Lei,
e se iludirão se pensarem que a estão
cumprindo.
Os que andam no Espírito têm cumprido a Lei, e
por isso não estão debaixo da Lei (v. 18), porque
não há lei que possa ser contrária ao fruto do
Espírito Santo (v. 23).
Como toda Lei se cumpre no amor (v. 14) que é
fruto do Espírito, então nenhum crente deve
negligenciar o dever de amar a Deus e ao
próximo, para que não seja achado em falta
quanto ao cumprimento da Lei. Porque se diz
que aquele que ama tem cumprido a Lei.
Quão distantes estavam
compreenderem isto!
os
gálatas
de
Quão distantes estão os crentes da nossa própria
época, envolvidos com questões religiosas,
congressos, debates, estratégias e tantas outras
387
coisas que tratam de tudo e de todos, exceto do
dever de amar por um andar no Espírito.
É muito fácil errar esse alvo, e é aí que Satanás
encontra facilidade para semear o joio.
Não basta somente defender a sã doutrina, é
necessário praticá-la por um viver no amor de
Deus.
Aqueles que deixam este primeiro amor, que
perdem de vista que o propósito de Deus é a
unidade espiritual dos seus filhos, e isto
determina o dever de todos eles de serem
espirituais por um mortificar da carne e por um
andar no Espírito, que se traduz em andar
efetivamente debaixo da sua instrução e
direção, sendo obediente à vontade de Deus
revelada na Palavra, podem estar certos que em
vez de aprovação estão sujeitos à repreensão e
correção de Cristo, por maiores que sejam as
suas obras, e por maiores que sejam os seus
esforços para agradarem a Deus no tocante a
tudo o que façam até mesmo para cumprirem
os mandamentos da Lei, porque o farão de modo
carnal e legalista, longe de uma verdadeira
obediência de coração, que é eminentemente
espiritual e celestial e não carnal e terrena.
É por isso que Paulo diz no verso 24 que: “os que
são de Cristo crucificaram a carne com as suas
paixões e concupiscências”.
388
Ora se Deus sentenciou à morte a carne com
suas paixões e cobiças na cruz, como podem os
crentes viverem debaixo desta influência, em
vez de se despojarem de tudo isto, uma vez que a
vontade de Deus é que este corpo de morte de
pecado não seja apenas morto, mas também
lançado fora?
A nós é dado o dever de fazermos este trabalho
de despojamento pelo Espírito Santo, em vez de
hospedarmos o velho homem que já foi morto
desde o dia que nos convertemos a Cristo e
passamos a pertencer a Ele.
Deste modo quanto mais uma igreja se torna
carnal mais ela estará sujeita à influência das
falsas doutrinas.
Elas serão recepcionadas com muito maior
facilidade, porque é somente sendo espirituais
que podemos discernir não somente estas
coisas, porque o homem espiritual discerne
todas as coisas, principalmente as coisas que são
do Espírito, porque elas se discernem
espiritualmente.
Portanto é nosso dever nos interessarmos por
esta luta do Espírito contra a carne, para
apoiarmos a parte que deve ser apoiada, e
destruir a que deve ser despojada.
Paulo fala disto como sendo o dever não
somente dos gálatas, mas de todos os crentes.
389
Nós devemos então estar profundamente
interessados em aprender sobre o significado
de tudo o que se refere à nossa santificação, não
somente no que ela significa, isto é, qual é a
natureza da verdadeira santificação, como
também em aprendermos o que devemos fazer
para nos santificarmos todos os dias das nossas
vidas.
Se é por um andar no Espírito que se vence a
cobiça da carne, então devemos nos empenhar
firmemente em não apenas aprender o
significado disto, como também o modo correto
de praticá-lo.
A vida cristã não é uma vida contemplativa, não
é uma mera devoção mística, porque é possível
ser isto e estar completamente distante da
verdade revelada.
Antes é uma vida que deve ser aprendida, antes
de ser vivida.
É uma prática, é um hábito, é um constante
crescimento na graça e no conhecimento de
Jesus (II Pe 3.18).
Paulo argumenta fortemente com os gálatas
dizendo que se é pelos pecados, que são as obras
da carne, que os praticantes deles serão
deixados do lado de fora do céu, como podem os
crentes, que ganharam o céu por Jesus Cristo,
permanecerem na prática destas mesmas obras
pecaminosas?
390
É dever de todos eles purificarem seus corações
pela Palavra, mediante o poder do Espírito.
Lembremos sempre que é dito que é o Espírito
que vence a carne, porque é Ele que luta contra
a carne, uma vez que somente Ele pode vencêla.
Que nenhum crente se lance à obra de
santificação sem depender do Espírito.
É andando nEle que somos libertados
santificados. De modo que se afirma na Palavra
que onde está o Espírito do Senhor aí há
liberdade, e que a santificação é do Espírito.
Como a salvação é pela graça, mediante a fé,
então uma pessoa pode ser salva (justificada e
regenerada) com muito pouco evangelho, mas
nenhum crente poderá prevalecer contra a
carne sem muito evangelho.
Todas as graças contidas no evangelho são
necessárias ao seu amadurecimento espiritual,
e assim todo crente fará bem em se esforçar
para não somente se inteirar delas, como
também em praticá-las no Espírito.
Como ser constante e perseverante na oração e
na meditação da Palavra sem isto?
Como ser grato por tudo sem isto?
391
Como viver contente no Senhor em toda e
qualquer circunstância sem isto?
Dizemos que não é fácil
progressivo destas coisas.
o
aprendizado
É tarefa para toda a vida.
Elas devem ser sempre recordadas para que
possam ser vividas porque somos limitados e
dados a esquecer facilmente tudo o que
aprendemos, a não ser que isto se torne um
hábito pela prática constante.
Daí ninguém deve ficar constrangido, mesmo
em programas formais de ensino, em repetir os
ensinos que já foram ministrados pelo próprio
ou por outrem, porque nunca é demais
aprender e recordar continuamente a Palavra
de Deus.
Porque em vez de ser algo cansativo, neste caso
é algo necessário, porque contribui para a
fixação da doutrina de maneira que nunca
sejamos desviados dela.
Nós vemos assim que não é pequena a tarefa de
nos aplicarmos ao conhecimento da verdade.
Que nenhum ministro de Cristo se deixe vencer
pela tentação de abreviar o seu dever de se
inteirar devidamente de tudo o que se refere à
verdade revelada, para que assim tenha poder
não somente para instruir o povo do Senhor,
392
como para combater os contradizentes e os que
se opõem à sã doutrina.
Lembremos que o cristianismo não é somente
deixar de fazer o mal, como também fazer o bem.
Nosso cristianismo não somente nos obriga a
mortificar o pecado, como também a viver em
retidão, não somente se opondo às obras da
carne, como também e principalmente
produzindo o fruto do Espírito.
Então, se isto estiver acontecendo nós
pertencemos realmente a Cristo, porque este é
o trabalho da sua graça operante em nós.
É muito fácil sabermos se estamos andando na
carne ou no Espírito, isto é, se temos sido
crentes carnais ou espirituais, porque os que
andam na carne se inclinam para as coisas da
carne, e os que andam no Espírito se inclinam
para o fruto do Espírito, de maneira que uma vez
detectada a nossa inclinação para a carne
devemos nos arrepender e em oração sincera e
humilde pedir a Deus que nos perdoe e que nos
conduza a andar verdadeiramente no Espírito,
sabendo que isto exigirá de nós todo empenho e
diligência em cumprir os deveres que nos são
ordenados na Palavra de Deus.
Consideradas todas estas coisas, lembremos ao
desfrutar da liberdade que temos em Cristo, que
Satanás gosta de mudar esta liberdade em
licenciosidade.
393
O apóstolo Judas se referiu a homens que
tinham convertido a graça do Senhor em
lascívia (Jd 4).
A carne pode argumentar falsamente a nós que
já que não estamos debaixo da lei e sim da graça,
então devemos aproveitar para viver no pecado
por sabermos que os nossos pecados foram
perdoados em Cristo, e que na condição de
crentes fomos livrados da condenação eterna.
Quanto perigo há para quem procede desta
maneira.
Estas pessoas se esquecem que é exatamente
por causa do pecado que o mundo de ímpios
será destruído e condenado por Deus, e como
Ele poderia ficar indiferente a esta atitude,
mesmo que seja naqueles que se tornaram Seus
filhos pela fé em Cristo?
Certamente Ele os corrigirá e lhes fará sofrer o
dano a que Paulo se refere em I Cor 3.15,
certamente quando comparecerem diante do
tribunal de Cristo para que cada um receba
segundo o que tiver feito por meio do corpo, ou
bem, ou mal (Rom 14.10; II Cor 5.10).
No seu Comentário da Epístola aos Gálatas
Lutero afirmou muitas coisas interessante a
respeito desta seção da epístola, e dentre as
quais destacamos as seguintes:
394
Paulo colocou primeiro o fundamento doutrinal
para que então pudesse construir sobre ele com
ouro, prata e pedras preciosas de boas obras.
Agora, não há nenhum outro fundamento
diferente de Jesus Cristo. Neste fundamento o
apóstolo ergueu a estrutura das boas obras que
ele define aqui com as palavras “amarás o teu
próximo como a ti mesmo”.
Acrescentando tal preceito de amor o apóstolo
envergonhou os falsos apóstolos, como se ele
estivesse dizendo aos gálatas: “eu descrevi para
vocês o que é a vida espiritual, e agora eu
também ensinarei o que são verdadeiramente
as boas obras.
Eu estou fazendo isto para que você possa
entender que as cerimônias tolas das quais os
falsos apóstolos praticam são muito inferiores
às obras do amor cristão”.
Os falsos mestre somente podem construir com
madeira, feno e restolho porque eles pervertem
a pura doutrina.
Seria estranho que os falsos apóstolos que
nunca foram tais campeões sérios na prática das
boas obras, que eles pudessem requerê-las.
A única exigência deles era que deveriam ser
observadas a circuncisão, dias, meses, anos e
tempos. Eles não poderiam pensar em qualquer
outra boa obra.
395
A isto que é dito por Lutero podemos
acrescentar que isto continua ocorrendo em
nossos dias, especialmente entre as religiões
que abundam em rituais, porque eles usam isto
como escudo para disfarçar a incapacidade
deles de viverem em unidade harmoniosa em
amor, porque como poderiam ter isto se é um
produto do Espírito Santo naqueles que são
verdadeiramente nascidos de novo e que andam
em retidão de vida?
Então estarão empenhados em muitas obras
chamadas de
caridade,
enquanto
não
conseguem viver e praticar entre eles próprios
o verdadeiro amor cristão, que procede de um
coração puro, de uma boa consciência e de uma
fé não fingida, isto é autêntica, e recebida como
um dom de Deus, quando nos convertemos a
Cristo.
Mas Lutero também nos ajuda a compreender
bem isto a que estamos nos referindo:
O apóstolo exorta todos os cristãos a praticarem
boas obras depois que eles abraçaram a pura
doutrina da fé, porque embora eles tenham sido
justificados, eles têm ainda a velha carne para
lhes impedir de fazer o bem.
Então se torna necessário que os pastores
sinceros cultivem a doutrina das boas obras tão
diligentemente quanto a doutrina da fé, porque
Satanás é um inimigo mortal de ambos.
396
Não obstante a fé tem que vir primeiro porque
sem fé é impossível saber o que é uma ação
agradável a Deus.
Paulo sabe explicar a lei de Deus.
Ele condensa todas as leis de Moisés em uma
breve oração.
A razão se ofende com a brevidade com que
Paulo trata a Lei.
Então a razão deve olhar a doutrina da fé e suas
obras verdadeiramente boas.
Servir um ao outro em amor, isto é, instruir o
errado, confortar o aflito, elevar o caído, ajudar
o próximo de todos os modos possíveis, lutar e
ser paciente com as fraquezas dele, suportar
sofrimentos, ingratidão na Igreja e no mundo, e
por outro lado obedecer o governo, honrar os
pais, ser paciente em casa com uma esposa
resmungona e uma família incontrolável, estas
coisas não são consideradas como boas obras.
O fato é que elas são obras excelentes que o
mundo não pode calcular possivelmente o
verdadeiro valor delas.
Meu próximo são aquelas pessoas que
necessitam da minha ajuda, como Cristo
explicou no décimo capítulo de Lucas.
397
Até mesmo se uma pessoa me fez alguma
injustiça, ou me feriu de qualquer forma, ele
ainda é um ser humano com carne e sangue.
Contanto que uma pessoa permaneça um ser
humano, ela deve ser objeto do nosso amor.
Quando a fé em Cristo é subvertida a paz e
unidade se acabam na igreja.
Opiniões diversas e dissensões sobre doutrina e
um membro morde e devora o outro, isto é, eles
condenam um ao outro até que eles são
consumidos... Quando a unidade do Espírito for
perdida não pode haver nenhum acordo em
doutrina ou vida. Erros novos aparecerão sem
medida e sem fim.
Não é uma questão fácil ensinar fé sem obras, e
ainda requerer obras.
A menos que os ministros de Cristo sejam sábios
controlando os mistérios de Deus eles podem
confundir fé e boas obras facilmente.
Ambos, a doutrina da fé e a doutrina das boas
obras devem ser ensinadas diligentemente, e
ainda de um tal modo que ambas as doutrinas
fiquem dentro da esfera que Deus delimitou
para elas.
Se nós ensinarmos somente em palavras, como
fazem nossos oponentes, nós perderemos a fé.
398
Se nós somente ensinamos sem praticar as boas
obras as pessoas de fé virão a pensar que as boas
obras são supérfluas.
A luxúria da carne nunca está completamente
extinta em nós.
Se levanta novamente e novamente e luta com o
Espírito.
Nenhuma carne, nem no verdadeiro crente,
está tão completamente debaixo da influência
do Espírito que não morderá ou devorará, ou
pelo menos negligenciará o mandamento do
amor.
À provocação mais leve enfurece e exige
vingança, e odeia o próximo como um inimigo,
ou pelo menos não o ama tanto quanto deveria
ser amado.
Então o apóstolo estabelece esta regra de amor
para os crentes.
Sirva um ao outro em amor.
Suporte as fraquezas de seu irmão.
Perdoe um ao outro.
Sem tal posicionamento e contenção da carne,
enquanto nos doamos e perdoamos, não pode
haver nenhuma unidade porque ofender e
retribuir ofensas são inevitavelmente humanos.
399
Sempre que você estiver bravo com seu irmão
por qualquer causa, reprima suas emoções
violentas pelo Espírito.
Seja paciente com a fraqueza dele e o ame.
Ele não deixa de ser seu próximo ou irmão
porque ele o ofendeu.
Pelo contrário, ele agora mais do que nunca
requer sua atenção amorosa, mais do que
dantes.
Quanto à concupiscência, ou luxúria, ou cobiça
da carne citada por Paulo no verso 16, Lutero
citou inclusive a sua experiência pessoal para
descrever como lidou com isto:
“Quando eu era um monge eu pensei que
sempre estaria perdido quando eu sentia uma
emoção má, luxúria carnal, ira, ódio, ou inveja.
Eu tentei aquietar minha consciência de muitas
formas, mas não funcionou, porque a luxúria
sempre voltava e não me dava nenhum
descanso. Eu dizia a mim mesmo. Você permitiu
este e aquele pecado, inveja, impaciência, e
outros semelhantes. Seguir esta ordem sacra foi
em vão, e todas suas boas obras são boas para
nada. Se naquele momento eu tivesse entendido
esta passagem, que a carne luta contra o Espírito
e o Espírito contra a carne, eu poderia ter me
poupado do tormento por muitos dias do meu
ego. Eu teria dito a mim: Martinho, você nunca
400
estará sem pecado, porque você tem a carne.
Não desespere, mas resista à carne.
Eu me lembro como Staupitz dizia a mim: “eu
prometi a Deus mil vezes que eu me tornaria um
homem melhor, mas eu nunca mantive minha
promessa. De agora em diante eu não vou fazer
mais nenhum voto. A experiência me ensinou
que eu não posso mantê-los. A menos que Deus
seja misericordioso a mim por causa de Cristo e
me conceda que seja santificado, eu não poderei
me levantar diante dEle." O seu desespero foi
agradável a Deus. Nenhum crente deve confiar
na sua própria justiça, e deve neste particular,
imitar o exemplo de Davi (Sl 143.2; 130.3).
Todo mundo deve estar consciente da sua
fraqueza e vigiar contra isto. Vigie e lute em
espírito contra a sua fraqueza. Até mesmo se
você não puder superar isto completamente,
pelo menos você deveria lutar contra isto.
De acordo com esta descrição um santo não é
ninguém que é feito de madeira e nunca sente
qualquer luxúria ou desejos da carne. Um
verdadeiro santo confessa a retidão dele e ora
para que os pecados dele possam ser perdoados.
A Igreja inteira ora para o perdão de pecados e
confessa que acredita no perdão de pecados.
Quando a carne começa a picar o único remédio
é pegar a espada do Espírito, a Palavra de
salvação, e lutar contra a carne. Se você deixou a
401
Palavra longe do alcance da vista, você está
desamparado contra a carne. Eu sei isto por ser
um fato. Eu fui assaltado por muitas paixões
violentas, mas assim que eu agarrava alguma
passagem da Bíblia, minhas tentações me
deixaram. Sem a Palavra eu não poderia ter me
ajudado contra a carne.”
Quem dera que esta sinceridade e humildade
de Lutero, em seu testemunho pessoal com o
fim de nos ajudar a entender a sã doutrina, a
verdade, estivessem em todos os ministros fiéis
de Cristo.
Como o rebanho seria ajudado se em vez de
tentarem aparecer como super heróis da fé
diante deles, confessassem as suas fraquezas
que são comuns a todos os homens, de maneira
que eles se sentissem incentivados a
progredirem em santificação.
402
Download