REVISTA INSEPE | Belo Horizonte | Volume 1 - Número 1 | 1o semestre de 2016 | p. 7 - 16 | http://insepe.org.br/revistainsepe | ISSN 2448-3451 A EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR COMO COMPONENTE CURRICULAR ATRAVÉS DO PLANEJAMENTO: Análise da obra “Educação Física - Como planejar as aulas na educação básica” Joyce Carvalho de Resende1 Ingrid Ludimila Bastos Lôbo2 RESUMO: O planejamento curricular da Educação Física Escolar e a seleção dos conteúdos a serem ensinados nos diferentes níveis da educação básica, estão diretamente ligados à organização dos conteúdos da Cultura Corporal de Movimento. O presente artigo analisou o livro “Educação Física - como planejar as aulas na educação básica”, com objetivo de elaborar uma resenha acadêmica e buscar a resposta para a problemática do planejamento curricular da disciplina. A obra traz um conjunto de livros temáticos voltados para o ensino da disciplina nas séries da educação básica que, divididos por temas, propõem o ensino dos diferentes conteúdos da Cultura Corporal de Movimento, servindo como uma referência ao planejamento das aulas pelos docentes. A definição, por série, dos conteúdos aumenta a credibilidade de uma disciplina no sistema educacional e a educação física necessita dessa estruturação para se firmar, de fato, como componente curricular, uma vez que por direito já possui essa característica, prevista na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. O livro analisado trouxe relevantes propostas para um planejamento eficaz e apresentou sugestões da inserção desses conteúdos ao longo das séries da educação básica. Palavras-chave: Planejamento. Educação Física Escolar. Cultura Corporal de Movimento. Processo ensino-aprendizagem. INTRODUÇÃO Para a Educação Física ser considerada de fato como componente curricular (direito adquirido através do artigo 26, § 3º da Lei 9.394/96, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB), é fundamental que ocorra uma reflexão acerca do planejamento e organização dos conteúdos dessa disciplina. Oliveira (2004) menciona que é necessária uma estruturação que propicie um sentido e um processo de sistematização dos conteúdos da Educação Física visando subsidiar as intervenções pedagógicas. O tema é amplamente abordado pelo livro “Educação Física - Como planejar as aulas na Educação Básica” organizado por Scarpato (2007). Para a análise dessa obra optou-se pelo gênero textual de resenha crítica. O primeiro capítulo não foi discutido, pois trata das finalidades educacionais na Educação Física, sendo que este conteúdo já está inserido nos demais capítulos e mais detalhadamente do aspecto legal da disciplina, previsto na LDB (1996). O nono capítulo também não foi analisado, pois trata da temática da inclusão dos alunos nas aulas de Educação Física e esta abordagem é apresentada no planejamento de cada aula dos capítulos discutidos. Para a Scarpato (2007) é por meio do planejamento que o professor organiza sua ação didática e estabelece os objetivos que deseja alcançar para os alunos daquele determinado ano, e, através desse planejamento aprende a superar as dificuldades encontradas e revisar o processo ensino-aprendizagem. Antes de elaborar o planejamento das aulas é necessário, portanto, estabelecer os objetivos que deseja com a prática, os quais devem promover o desenvolvimento integral do aluno. O objetivo central da obra analisada é reunir os conhecimentos das experiências de aprendizagem bem-sucedidas realizadas pelos autores e apresentá-las para os professores em exercício. Além disso, busca-se também levar a uma reflexão do acadêmico de Educação Física sobre os conteúdos da área e as várias maneiras de aplicabilidade desses, criando e os incorporando em suas práticas. Oliveira (2004) salienta um aspecto fundamental para qualquer organização curricular: PÁGINA 7 REVISTA INSEPE | Belo Horizonte | Volume 1 - Número 1 | 1o semestre de 2016 | p. 7 - 16 | http://insepe.org.br/revistainsepe | ISSN 2448-3451 Os professores têm muita dificuldade em organizar a sistematização dos conteúdos. Quando trabalhar e com o que trabalhar em cada uma das séries? As demais disciplinas possuem conteúdos sistematizados que indicam claramente o que trabalhar ao longo dos anos escolares, mas a Educação Física não o possui e isso acaba por gerar dúvidas e trabalhos desarticulados e sem sequência lógica (OLIVEIRA, 2004, p. 26). Diante desse desafio, fica o questionamento: Como organizar os conteúdos da Educação Física Escolar? O objetivo do presente artigo foi analisar a problemática do planejamento curricular da disciplina, buscando a resposta na análise crítica da obra “Educação Física - Como planejar as aulas na Educação Básica”, que aborda a temática do planejamento das aulas dessa disciplina. APRESENTAÇÃO DA OBRA No segundo capítulo da obra de Scarpato (2007) é abordada a importância do Planejamento de Ensino na Prática Docente, onde a autora esclarece que o planejamento é elaborado não apenas para especificar o que será ensinado, mas também para analisar os aspectos: para quem será ensinado, o porquê, para que, como, com que, e onde ocorrerá esse processo. De acordo com a autora, o professor é o especialista em sua área de conhecimento e, por isso, deve ser o autor de seu planejamento de ensino. No entanto, muitos professores estão descrentes da necessidade desse planejamento, que acaba se tornando uma ação mecânica e burocrática dentro da escola, fazendo com que essa ação tão importante no processo ensino-aprendizagem perca o significado. Scarpato (2007) menciona os níveis do Planejamento da Educação Escolar, conforme quadro 1 “Planejamento da Educação Escolar” apresentado a seguir. Assim, a partir do quadro acima, a autora afirma que “todos os níveis do planejamento da Educação Escolar estão correlacionados e o professor precisa incorporá-los na sua ação pedagógica”. A autora sugere ainda que o planejamento seja realizado em etapas, formando uma ação contínua. Para definir a etapa para que ensinar, são conceituados os objetivos de ensino, que refletem o que se deseja com o processo ensino-aprendizagem, em curto ou longo prazo. Já a etapa o que vou ensinar, é composta pelos conteúdos de ensino, que são selecionados conforme a realidade dos alunos. Além disso, é preciso envolver a vivência desses conteúdos nas dimensões conceituais, procedimentais e atitudinais. A etapa como vou ensinar é expressa pelos procedimentos de ensino, que devem ser diferenciados, pois os alunos aprendem de maneiras diferentes. A etapa com que vou ensinar versa sobre os recursos didáticos, materiais utilizados para estimular a aprendizagem. Scarpato (2007) ainda destaca que, no planejamento deve existir a avaliação da aprendizagem, que possibilita a apresentação dos resultados alcançados ao longo das demais etapas. Na etapa avaliação, realizada de forma contínua durante todo o processo, o professor obtém um feedback de sua ação didática. Ratificando a visão da autora, Baffi (2002) afirma que a ação de planejar é uma atividade inserida na educação e que tem como características evitar o improviso, prever o futuro, estabelecer uma sequência apropriada para a execução da ação educativa e estabelecer uma avaliação da própria ação. Scarpato (2007) esclareceu de forma detalhada o que o próprio Ministério da Educação preconizou, quando estabeleceu: É preciso planejar e avaliar bem aquilo que estamos ensinando e o que as crianças estão aprendendo desde o início da escolarização. É preciso não perder tempo, não deixar para os anos seguintes o que devemos assegurar desde a entrada da criança, aos seis anos, na escola (BRASIL, 2009, p.16). PÁGINA 8 REVISTA INSEPE | Belo Horizonte | Volume 1 - Número 1 | 1o semestre de 2016 | p. 7 - 16 | http://insepe.org.br/revistainsepe | ISSN 2448-3451 Ainda é exposto na obra que a relação entre os diferentes níveis do planejamento e a compreensão de cada etapa, é de suma importância ao longo do processo de ensino. Essa clareza de definições é muito válida e favorece a compreensão do valor dessa elaboração dos conteúdos para os alunos e para o próprio professor. A autora (SCARPATO, 2007) reforça o aspecto técnico do planejamento, sendo este sem dúvida, necessário, porém ainda insuficiente para transformação da sociedade. Sua importância vai além da racionalização da ação de ensino, conforme Luckesi¹ (1998) apud Sayão e Muniz (2004) o significado social e político da ação que se está planejando deve ser considerado, buscando também envolver os valores associados a uma concepção de sociedade. Sobre o planejamento da Educação Física Escolar, a obra Coletivo de Autores (1994) apresenta a definição de currículo escolar vinculada ao projeto político-pedagógico, onde a função social da disciplina Educação Física é destacada. Para o educador, a definição dos conteúdos orienta a sua prática no nível da sala de aula: a relação que estabelece com os seus alunos, o conteúdo que seleciona para ensinar e como o trata científica e metodologicamente, bem como os valores e lógica de desenvolve nos alunos. (COLETIVO DE AUTORES, 1994, p. 26). É notório o valor do planejamento da Educação Física Escolar para o sucesso do processo de ensino-aprendizagem, destaca-se ainda a necessidade de apresentar os níveis do planejamento escolar e a forma como o professor se insere e participa de cada um deles. A DANÇA NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR No terceiro capítulo da obra resenhada, Lomakine (2007) aborda a dança no contexto da escola e destaca que o ensino da dança é assegurado pelos Parâmetros Curriculares Nacionais e faz parte do conteúdo da disciplina Educação Física, sendo importante, inclusive, para compreensão do corpo como construção cultural. A esse respeito, Marques (1997) concorda com a autora ao mencionar que a escola deve construir conhecimento através da dança, pois ela é forma de conhecimento e contribui para a educação do ser social. Lomakine (2007) afirma que muitas vezes a dança é vista apenas como elemento decorativo em eventos da escola ou como divertimento. Para trabalhar o conteúdo, o professor não precisa ser bailarino ou ter feito aulas de dança, e sim atuar como um facilitador das atividades, convidando o aluno a participar do processo. Essa forma de expressão artística não necessita de qualquer instrumento ou ferramenta para ser expressa e possibilita ao indivíduo a comunicação pelo corpo. Nesse sentido, Marques (1997) também destaca que muitos pais e alunos consideram a dança “coisa de mulher” e muitos professores nomeiam as atividades com dança de forma diferente, reforçando esse paradigma, tais como: expressão corporal, educação pelo/do movimento, arte e criação, dentre outros. No ensino da dança, a autora destaca que o aluno interage consigo próprio e melhora sua autoestima, autoconfiança e autoimagem, vivenciando um modo de expressão além das linguagens verbal e escrita. Além disso, o planejamento da dança na escola deve abranger quatro grupos principais: o fazer dança, o conhecer dança, o interpretar dança e o apreciar dança. O grupo fazer dança envolve elementos básicos, habilidades motoras específicas de técnicas da dança e consciência corporal, sendo voltado para a vivência de práticas motoras que envolvem a percepção, a atenção, a concentração e a acuidade visual e auditiva. Já o grupo conhecer dança leva ao conhecimento da história da dança e de seus estilos, além das danças folclóricas e populares, de forma que o aluno compreenda as dimensões sociais e culturais da dança. Os grupos interpretar e apreciar a dança estimulam o aluno a criar e a opinar sobre a dança e envolvem a composição coreográfica por meio da improvisação e estímulos sonoros, literários e visuais. O aluno aprende a perceber as relações estabelecidas entre corpo, dança, cultura e sociedade. Para Lomakine (2007) a dança é importante para o desenvolvimento integral do aluno. Assim, observa-se o anseio de conscientizar os professores, motivando-os para o ensino desse conteúdo, através da apresentação das contribuições da dança para o desenvolvimento de diferentes habilidades motoras. É interessante mencionar que, Coletivo de Autores (1994) ao abordar o ensino da dança na Educação Física, destaca as habilidades expressivas desse conteúdo para a promoção de uma disponibilidade corporal, onde não haverá ênfase nas técnicas formais. Isso irá permitir a expressão sem que ela perca o sentido e as técnicas serão utilizadas como instrumentos necessários, mas o que deve prevalecer é o resultado delas na consciência do aluno. A autora evidenciou de forma prática como os conteúdos da dança podem ser inseridos no planejamento da Educação Física, apesar de não ter elaborado uma proposta sistemática de planejamento. Os temas foram sugeridos de forma ampla, sem a descrição detalhada da divisão dos conteúdos. PÁGINA 9 REVISTA INSEPE | Belo Horizonte | Volume 1 - Número 1 | 1o semestre de 2016 | p. 7 - 16 | http://insepe.org.br/revistainsepe | ISSN 2448-3451 OS ESPORTES NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR Na obra resenhada, os capítulos quarto, de Ramirez (2007), e quinto, de Ferronato (2007), abordam o esporte nas aulas de Educação Física. Ramirez (2007) considera que o esporte na escola possui um significado diferente, deve servir ao desenvolvimento cognitivo, afetivo e motor e deve levar à construção do conhecimento, sendo o aluno sujeito, e não objeto, da prática pedagógica. Os esportes na escola, diferente da prática realizada na rua, adquirem uma função sociocultural e vão além da ação motora para uma ação reflexiva. Coletivo de Autores (1994) menciona o esporte como “prática social que institucionaliza temas lúdicos da cultura corporal”. Nessa obra, os autores destacam que os esportes devem ser abordados de maneira a envolver valores que vão além dos elementos técnicos e táticos. As vivências dos aspectos coletivos devem sobrepor os individuais, evitando que a competição se ocupe somente da vitória. Ferronato (2007) afirma que os esportes com bola devem ser trabalhados de acordo com o nível de desenvolvimento do aluno. Mas, apesar da individualidade ser importante, o planejamento é elaborado para uma turma heterogênea, sendo por isso utilizados modelos que consideram a média do desenvolvimento cognitivo e motor da maioria das crianças, em determinada faixa etária e níveis de ensino. Os pontos em comum nas diferentes modalidades podem transferir características de uma para outra, o que enriquece a prática pedagógica. Para isso, Ramirez (2007) classificou os esportes em grupos que se assemelham: atletismo, esportes coletivos, esportes aquáticos, esportes com bastões e raquetes, esportes sobre rodas, lutas e ginásticas. Essas divisões são importantes no processo pedagógico e auxiliam o professor a elaborar um planejamento mais variado e com melhor resultado. Conforme Paes (2001) apud Ramirez (2007), o processo de ensino dos esportes deve ser planejado acompanhando o nível de desenvolvimento do aluno. O indivíduo constrói um esquema simbólico e o soma ao corporal, depois trabalha com o esquema conceitual e com a realidade concreta e por último abre espaço para o esquema abstrato, atingindo assim um desenvolvimento adequado. A autora propôs uma sistematização, que foi agrupada no quadro 2 “Organização do esporte na escola”. Na sistematização do ensino dos esportes propostas por Ramirez (2007), o planejamento deve observar aspectos gerais de cada fase. A autora sugere ainda que a competição presente nos esportes seja tratada de forma pedagógica, para apoiar o desenvolvimento. O acesso às informações esportivas (ações motoras, técnicas e táticas) deve possibilitar ao aluno construir seus próprios significantes esportivos. Ferronato (2007) afirma que os esportes coletivos com bola (principalmente o handebol, basquetebol, voleibol e futebol) não precisam ser trabalhados individualmente, mas por meio de atividades que desenvolvam os aspectos afins. A proposta de ensino deve envolver as etapas de aquisição, estabilização e aperfeiçoamento das ações motoras. Nelas, o esporte é um instrumento de formação, sociabilização, recreação, reabilitação e profissionalização. A proposta da autora está sintetizada no quadro 3 “Ensino dos esportes coletivos com bola na escola”. PÁGINA 10 REVISTA INSEPE | Belo Horizonte | Volume 1 - Número 1 | 1o semestre de 2016 | p. 7 - 16 | http://insepe.org.br/revistainsepe | ISSN 2448-3451 Assim, observa-se que a sistematização do ensino dos esportes coletivos com bola proposta por Ferronato (2007) difere, em alguns aspectos, de Ramirez (2007). Além de proporem a divisão do Ensino Fundamental de forma diferente, ainda apresenta um roteiro para a avaliação em cada fase. As visões das autoras convergem nos aspectos relacionados às formações básica e esportiva dos alunos, de maneira gradual e relacionada ao nível de desenvolvimento, evitando a especialização precoce. Ambas as autoras demonstram como o conteúdo “esporte” pode ser trabalhado na disciplina Educação Física. Como pode ser verificado, os capítulos apresentam um roteiro detalhado para um planejamento de sucesso, pois estimulam o trabalho dos esportes de maneira unificada, onde as semelhanças entre as modalidades são aproveitadas no processo ensinoaprendizagem e possibilitam o ensino concomitante de vários conteúdos. Apesar dos inúmeros benefícios do conteúdo esportes, Betti (1992) apud Betti (1999) aponta que esse conteúdo é predominante nas aulas de Educação Física, além de se restringir aos esportes com bola, o que pode representar um prejuízo e limitação no desenvolvimento de outros conteúdos. OS JOGOS E AS BRINCADEIRAS NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR No sexto capítulo Neto (2007) aborda a brincadeira e o jogo na Educação Física Escolar e inicia diferenciando os dois, visto que ambos possuem um caráter lúdico. Segundo Vossen (2004) apud Neto (2007) a brincadeira se assemelha à paidia (estado de liberdade quase total, caótica) e o jogo ao ludus (estado de liberdade limitada por regras de conduta). O jogo é mais complexo que a brincadeira e tem como características a voluntariedade, limites, regras, emoções e diferenciação do cotidiano. O jogo pode ser competitivo, cooperativo, vertiginoso, aleatório e representativo. Já a brincadeira pode ser consensual e não consensual (brincadeiras de mau gosto). Vygotsky (1989) apud Perfeito e Pimenta (2012) valoriza ainda o aspecto da cultura popular e sugere que o jogo e a brincadeira são conteúdos importantes para o conhecimento de vida e de manifestação da cultura. Para elaborar um planejamento que promova o aprendizado por meio de tais conteúdos, Neto (2007) afirma que é necessário definir os objetivos, os conteúdos, as estratégias e os critérios de avaliação da aprendizagem, reduzindo a incoerência entre as intenções e ações do professor. Quanto aos objetivos, o autor menciona que devem propiciar que o aluno seja capaz de intervir em sua realidade e adaptar-se a ela ou transformá-la. O mais importante é que os alunos compreendam o que são e não somente que brinquem e joguem. Quanto aos conteúdos, o autor menciona os quatro blocos temáticos em que são apresentados, que foram organizados no quadro 4 “Blocos Temáticos dos conteúdos”. PÁGINA 11 REVISTA INSEPE | Belo Horizonte | Volume 1 - Número 1 | 1o semestre de 2016 | p. 7 - 16 | http://insepe.org.br/revistainsepe | ISSN 2448-3451 Em relação às estratégias, o autor menciona que as aulas devem envolver o aluno nas atividades e discussões propostas. Tais estratégias se fundamentam em um ensino reflexivo, que valoriza a história de vida do professor e aluno. E propõe oito estratégias para o ensino do jogo e da brincadeira: formação de grupos operacionais e co-educação, atividades paralelas, registro de conceitos, critérios para avaliação nas próprias estratégias, planejamento participativo, relações com temas e projetos da escola, elaboração de conceitos a partir da realidade, autodisciplina e coordenação consensual de condutas. Em relação aos critérios para avaliação, o autor afirma que é necessário compreender a participação dos discentes e o envolvimento e aproveitamento em todas as vivências (aspectos conceituais, procedimentais e atitudinais). Dessa forma, a elaboração de um planejamento que considera esses princípios, possibilita que o professor desenvolva o jogo e a brincadeira em suas aulas na educação infantil, ensino fundamental e ensino médio. Na educação infantil, onde os alunos possuem pensamentos pré-operacionais, a ênfase deve ser nas atitudes, mas os procedimentos também são relevantes e os movimentos devem ser adequados ao nível de desenvolvimento dos alunos. No ensino fundamental, fase em que os alunos têm pensamentos operacionais, a ênfase deve ser nos procedimentos, já que há mudança nos movimentos que os alunos realizam, mas as três dimensões são importantes. E no ensino médio, os pensamentos operam com lógica hipotética e dedutiva, os alunos acabam restringindo o jogo e a brincadeira em suas vidas. A ênfase deve ser dada aos conceitos e os alunos devem ser levados a ter uma visão crítica e participarem do planejamento, percebendo o significado das vivências. O autor (NETO, 2007) propõe o relacionamento da brincadeira e do jogo com os temas dos demais blocos de conteúdos e com outros temas transversais, agregando valor ao conteúdo. Apesar de sugerir um planejamento coerente, onde são especificados os objetivos, conteúdos, estratégias e critérios de avaliação da aprendizagem, foram apresentados poucos exemplos práticos dos conteúdos. Verifica-se que os jogo e a brincadeira possibilitam contribuições importantes na formação dos alunos e sugere-se que sejam ensinados a partir dos quatro blocos temáticos voltados para o corpo humano, que versam sobre os elementos culturais, movimentos, aspectos pessoais e interpessoais e demandas ambientais. Coletivo de Autores (1994) destacam que o jogo proporciona o desenvolvimento da criança no “exercício do pensamento, que pode desvincular-se das situações reais e levá-la a agir independentemente do que ela vê”. Em consonância Perfeito e Pimenta (2012) destacam a relevância do tema na Educação Física Escolar ao afirmarem que um planejamento coerente dos jogos e brincadeiras contribui para o desenvolvimento global, estimulando a integração dos aspectos sociais, afetivos e motores dos alunos. Não resta dúvida da contribuição do autor para a sistematização desse conteúdo, que, apesar de lúdico, deve ser levado a sério. AS LUTAS NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR O sétimo capítulo Freitas (2007) apresenta uma proposta do ensino das lutas, que demonstra a importância do conteúdo para a motricidade. O autor também reforça que a luta não deve ser vista somente como um combate contra um adversário, mas PÁGINA 12 REVISTA INSEPE | Belo Horizonte | Volume 1 - Número 1 | 1o semestre de 2016 | p. 7 - 16 | http://insepe.org.br/revistainsepe | ISSN 2448-3451 principalmente como uma vitória de si mesmo e de obstáculos diversos, onde a ênfase maior se dá nos valores. No ensino desse conteúdo, os alunos devem ser levados a compreender o ato de lutar, saber vivenciar as lutas no contexto escolar (lutas x violência) e refletir sobre a influência da mídia nas lutas. Também devem ser destacados seus aspectos positivos e negativos e a percepção das lutas como instrumento de defesa pessoal e não de brigas. O conteúdo deve ser ensinado em todos os níveis escolares de maneira lúdica e envolver os movimentos básicos, sem a necessidade de ensinar uma luta específica. Para isso, ressalta-se que o professor deve considerar a faixa etária e o nível de desenvolvimento dos alunos. Embora as atividades com movimentos básicos sejam válidas, a proposta do autor é restrita. Ensinar tais movimentos sem conhecer as características e diferenças entre as lutas seria como trabalhar movimentos fundamentais como correr, saltar, lançar, chutar, sem ensinar as modalidades esportivas. Conforme Campos (2011), as aulas também devem ter como objetivo ensinar os movimentos específicos das manifestações presentes em nossa cultura, tais como: capoeira, judô, Boxe, Judô, Esgrima, Jiu Jitsu, Karatê, Taekwondo, Aikidô, Sumô e outras. Assim, para Freitas (2007), o ensino das lutas deve envolver as dimensões conceituais, procedimentais e atitudinais, da seguinte forma: em conceitos podem ser trabalhadas a origem das lutas, diferenças culturais, de equilíbrio e desequilíbrio, aplicação de força, consciência corporal e noções de tempo e espaço. Em procedimentos, os alunos podem vivenciar os movimentos básicos das lutas com ou sem materiais. Um exemplo da atitude seria o respeito e preservação da integridade do outro, valorização das regras, disputa com lealdade e ações contra a violência. Nesse capítulo, foi destacado também que, o essencial é inserir as lutas no ambiente escolar buscando os aspectos educativo e formativo, e trabalhando o aluno de maneira integral. O autor trabalhou o conteúdo das lutas de maneira restrita e, devido ao conhecimento que possui na área, poderia ter contribuído de maneira mais profunda para a elaboração do planejamento sobre o tema. Apesar das lutas serem conhecidas pelos aspectos técnicos e táticos, é salutar valorizar os aspectos filosóficos para desmitificar o senso comum de que as lutas são associadas à violência, quando sua filosofia busca exatamente o contrário: combatêla com base nos princípios de respeito mútuo e equilíbrio entre corpo e mente, para elevar o caráter e promover harmonia no convívio em sociedade. Conforme Mendes (2009) o ensino das lutas na Educação Física Escolar contribuem para o desenvolvimento integral do aluno, nos níveis de conhecimento sócio-afetivo e nos aspectos motor e cognitivo. É interessante apresentar que, o Coletivo de Autores (1994) não propõe as lutas como conteúdo da Cultura Corporal de Movimento, fazendo menção somente à Capoeira. Ensinar apenas a Capoeira no conteúdo das lutas seria como ensinar somente o futebol no conteúdo dos esportes. A GINÁSTICA GERAL NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR Zotovici (2007) aborda a Ginástica Geral como prática pedagógica na Educação Física Escolar no oitavo capítulo da obra resenhada. A autora afirma que a ginástica deve ser desenvolvida na Educação Física Escolar, pois abrande um grande repertório de atividades que irão enriquecer o repertório motor do aluno, a partir de estímulos lúdicos e prazerosos. Os movimentos realizados na ginástica levam o aluno à consciência de si mesmo e desperta a liberdade de expressão. Stadnik, Cunha e Pereira (2006) esclarecem a definição de ginástica geral como “uma modalidade bastante abrangente, fundamentada nas atividades ginásticas, valendo-se de variadas manifestações, como danças, expressões folclóricas e jogos, expressos por meio de atividades livres e criativas”. A ginástica geral utiliza conteúdos da cultura corporal e deve valorizar o indivíduo e suas experiências, promovendo cooperação e benefício do grupo. Para desenvolver o planejamento, é salutar que o professor faça um diagnóstico das potencialidades e dificuldades dos alunos. Zotovici (2007) propõe o ensino da ginástica geral nos diferentes níveis de ensino, conforme quadro 5 “Ginástica Geral na Educação Física Escolar”. PÁGINA 13 REVISTA INSEPE | Belo Horizonte | Volume 1 - Número 1 | 1o semestre de 2016 | p. 7 - 16 | http://insepe.org.br/revistainsepe | ISSN 2448-3451 Zotovici (2007) sugere algumas atividades que podem ser realizadas nos diferentes níveis de ensino, utilizando elementos ginásticos e materiais pedagógicos para despertar a consciência corporal dos alunos e fazer com que conheçam os próprios limites e os do grupo. A autora menciona ainda atividades de criação ou composição coreográfica e pirâmide humana, para desenvolver a criatividade, a linguagem corporal e a iniciativa para resolução de problemas. A ginástica geral ocorre de maneira natural, lembra a autora, e o professor não precisa se preocupar com a perfeição técnica, pois ela é uma facilitadora do processo de aprendizagem para ampliar o repertório motor e valorizar a cultura corporal dos alunos. Os elementos culturais regionais devem ser inseridos nas aulas. Stadnik, Cunha e Pereira (2006) aprofundam o tema afirmando que a ginástica geral se utiliza do lazer como um caminho formativo para o desenvolvimento dos alunos. Kunz (2002) concorda com Zotovici (2007) ao mencionar que o ensino da ginástica deve permitir a liberdade de ação e a descoberta de formas de movimento, o conhecimento e a interpretação do contexto em que se as atividades são realizadas e a participação das decisões e soluções de problemas apresentados. Destaca Coletivo de Autores (1994) que a ginástica apresenta valiosas experiências corporais que enriquecem a cultura corporal dos alunos e pode ser desenvolvida com ou sem uso de aparelhos. Nesse conteúdo, há uma oferta de ações onde as novas formas de exercício, ao serem confrontadas com as tradicionais, oferecem uma prática corporal que possibilita que os alunos deem sentido próprio às suas ações ginásticas. A presença da ginástica se faz legítima na medida em que permite ao aluno a interpretação subjetiva das atividades ginásticas através de um espaço amplo de liberdade para vivenciar as próprias ações corporais. (COLETIVO DE AUTORES, 1994, p. 77). Observa-se que a autora destacou a importância da ginástica como elemento artístico e cultural, mencionando de forma sintética as modalidades, sem priorizar, em especial, alguma das modalidades da ginástica. CONSIDERAÇÕES FINAIS A linha de investigação analisada no presente artigo foi o “Planejamento da Educação Física Escolar” segundo o livro “Educação Física - como planejar as aulas na Educação Básica”. Os autores, percebendo a necessidade de organização dos conteúdos dessa disciplina, reuniram seus conhecimentos nessa obra para oferecerem possibilidades de aplicação de tais conteúdos. Percebese a intenção de provocar uma conscientização sobre o tema e consequente mudança de comportamento, e não uma divulgação de “receitas” de planejamento. O livro apresenta uma proposta bem abrangente acerca dos conteúdos da Cultura Corporal de Movimento que devem ser ensinados na educação física escolar. Os autores ressaltaram os aspectos que devem ser considerados em cada conteúdo e os itens mais importantes para cada nível da educação. Considera-se que livro apresenta uma organização adequada dos conteúdos da Educação Física Escolar, colaborando para o avanço da legitimação da disciplina no sistema educacional. O livro não deixou dúvida de que esse desejo somente será alcançado através do empenho contínuo dos profissionais da área. E para aqueles que desejam elaborar um planejamento visando um ensino de qualidade, encontram nele um bom material à disposição. PÁGINA 14 REVISTA INSEPE | Belo Horizonte | Volume 1 - Número 1 | 1o semestre de 2016 | p. 7 - 16 | http://insepe.org.br/revistainsepe | ISSN 2448-3451 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BAFFI, Maria Adélia Teixeira. O planejamento em educação: revisando conceitos para mudar concepções e práticas. In: BELLO, José Luiz de Paiva. (Org.). Pedagogia em Foco, Petropólis, 2002. BETTI, Irene Conceição Rangel. Esporte na escola: Mas é só isso, professor? Motriz, v.1, n.1, p. 25 -31, junho 1999. BRASIL. Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial. Educação Inclusiva. 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