UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE EDUCAÇÃO PROGRAMA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO ROSANE SANTOS GUEUDEVILLE O PAPEL DA CLASSE HOSPITALAR NA ATENÇÃO TERAPÊUTICA DE ALUNOS-PACIENTES COM DOENÇA CRÔNICA PROGRESSIVA: O CASO DA MUCOPOLISSACARIDOSE Salvador 2013 ROSANE SANTOS GUEUDEVILLE O PAPEL DA CLASSE HOSPITALAR NA ATENÇÃO TERAPÊUTICA DE ALUNOS-PACIENTES COM DOENÇA CRÔNICA PROGRESSIVA: O CASO DA MUCOPOLISSACARIDOSE Dissertação apresentada Pesquisa Pós e ao Graduação Programa em de Educação, Faculdade de Educação, Universidade Federal da Bahia, como requisito para obtenção do grau de Mestre em Educação Orientadora: Profa. Dra. Alessandra Santana Soares e Barros Salvador 2013 SIBI/UFBA/Faculdade de Educação – Biblioteca Anísio Teixeira Gueudeville, Rosane Santos. O papel da classe hospitalar na atenção terapêutica de alunos-pacientes com doença crônica progressiva: o caso da mucopolissacaridose / Rosane Santos Gueudeville. – 2013. 117 f. Orientadora: Profa. Dra. Alessandra Santana Soares e Barros. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal da Bahia. Faculdade de Educação, Salvador, 2013. 1. Crianças doentes – Educação. 2. Escolas em hospitais. 3. Doenças crônicas. 4. Mucopolissacaridose. 5. Educação especial. I. Barros, Alessandra Santana Soares e. II. Universidade Federal da Bahia. Faculdade de Educação. III. Título. CDD 371.9 – 22.ed. ROSANE SANTOS GUEUDEVILLE O PAPEL DA CLASSE HOSPITALAR NA ATENÇÃO TERAPÊUTICA DE ALUNOS-PACIENTES COM DOENÇA CRÔNICA PROGRESSIVA: O CASO DA MUCOPOLISSACARIDOSE Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Educação, Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia. Banca Examinadora Alessandra Santana Soares e Barros – Orientadora __________________ Doutora em Ciências Sociais – Antropologia. Universidade Federal da Bahia. Marcelo Eduardo Pfeiffer Castellanos _____________________________ Doutor em Saúde Coletiva Universidade Estadual de Campinas. Universidade Federal da Bahia. Thereza Cristina Bastos Costa de Oliveira___________________________ Doutora em Educação Universidade Federal do Recôncavo da Bahia Dedico este trabalho a todos aqueles que assim como eu acreditam que é possível fazer uma Pedagogia diferente. AGRADECIMENTOS Nosso maior desejo na vida é encontrar alguém que nos ajude a fazer o melhor que pudermos. Ralph Waldo Emerson Assim, agradeço a Deus por me dar força, coragem, resistência e dedicação para chegar ao final desta jornada e, principalmente, por colocar pessoas tão especiais ao meu lado nesta trajetória. São elas: Minha mãe Rose, que muitas vezes abdicou dos seus desejos para que eu pudesse realizar os meus, compartilhando comigo todos os choros, risos e ansiedade, sempre com palavras de conforto fazendo-me entender que tudo é possível quando lutamos, te amo mãe! A minha avó Maria, sempre tão sábia e receptiva, sendo acima de tudo, um exemplo. Mostrando-nos quanto devemos ser fortes para alcançar nossos objetivos. A minha família, pelo carinho e compreensão. Ao meu noivo Anderson por ter sido bastante paciente, compreensivo, amoroso e parceiro nesta caminhada. A minha orientadora Alessandra Barros, sempre atenciosa e receptiva dando-me diretrizes fundamentais para tornar possível a construção desta pesquisa. A minhas companheiras da Classe Hospitalar: Adriana, Cristina, Denise, Celeste, Aline, Ariane, Thaiana eTaís. Aos meus queridos alunos-pacientes que muito me ensinavam nas manhãs de segunda-feira. Ao professor Marcelo Castellanos e a Professora Thereza Bastos pelos ensinamentos e preciosas contribuições. Aos acompanhantes e profissionais de saúde que com todo carinho acolheram a pesquisa. A Jaqueline, pelo apoio em todos os momentos. A toda equipe do grupo de Genética, em especial a Dra. Angelina, que validam o trabalho da Classe Hospitalar. A Jacirema e a todas minhas companheiras de trabalho da Coordenadoria Regional de Educação (CRE-Subúrbio I), pelo carinho com que acolheram as minhas angustias e ausências durante as etapas de construção da Dissertação. A professora Iracy Alves pelos ensinamentos durante minha formação e trajetória profissional. Ao s colegas que ingressaram no semestre de 2011.1 no Programa de Pós-Graduação em Educação. A Sonia, Auxiliadora, Sonia e Regina, todas da Biblioteca Anísio Teixeira da Faculdade de Educação da UFBA. A CAPES, pela concessão da bolsa de estudos. Muito obrigada por fazerem parte desta história! A criança não nos fala de diagnóstico, testes laboratoriais e efeitos da prescrição, ela fala dos familiares (do pai, da mãe, das avós, dos tios, dos irmãos, da madrinha...), dos amigos, dos brinquedos e das brincadeiras (praça, bicicleta, cachorro, jogos), da escola infantil ou das salas de aula, dos colegas, da casa (comida, televisão, telefone, visitas, roupas...), da rua e dos passeios... Quando a criança fala dos bons enfermeiros, ela fala dos que conversam e brincam com ela. Quando a criança fala dos bons médicos, ela fala da sua paciência e atenção. As crianças pedem para brincar, ir à escola e ter amigos, mas quem escuta esse pedido? Pedem para brincar, ir à escola e ter amigos porque pedem atenção à dimensão vivencial de sua experiência de adoecer e ser hospitalizada e não só às dimensões biológicas ou psicológicas de seu adoecimento e hospitalização. A dimensão biológica pode ser atendida por meio da tecnologia médica e de enfermagem tradicional, como também a dimensão psicológica pode ser ouvida por meio do psicodiagnóstico, mas a dimensão vivencial não pode ser diagnosticada, só pode ser sentida junto com a criança, quando nos medimos por ela, quando nos permitimos escutar seus processos afetivos e cognitivos, observamos suas interações e suas produções, mediamos suas construções e interpomos convites a que produza conosco. Ricardo Burg Ceccim, 2010 GUEUDEVILLE, Rosane Santos. O papel da classe hospitalar na atenção terapêutica de alunos-pacientes com doença crônica progressiva: o caso da mucopolissacaridose. 2013. 117f. Dissertação (Mestrado em Educação), Faculdade de Educação, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2013. RESUMO A percepção da doença supõe um olhar qualitativo e os objetivos estabelecidos devem a longo ou em curto prazo ter em vista o restabelecimento do paciente e o seu retorno à sociedade, de modo a poder desempenhar as atividades que antes faziam parte da sua rotina. É neste contexto que vêm emergindo as Classes Hospitalares. Tal modalidade de atendimento anseia por minorar o sofrimento emocional e social, decorrente das hospitalizações, e assegurar a continuidade da escolarização de crianças e/ou adolescentes hospitalizados. Assim sendo, indivíduos cronicamente enfermos necessitam, em alguma medida, de uma atenção específica, seja pela necessidade de uso de aparatos médicos que visem minimizar os sintomas decorrentes da patologia, seja pela oferta de atendimento pedagógico durante o tratamento e/ou hospitalização. Desse modo, a presente pesquisa teve como objetivo analisar o papel da Classe Hospitalar na atenção terapêutica de alunos-pacientes com mucopolissacaridose (MPS). Tratou-se de um estudo qualitativo que utilizou o estudo de caso, como estratégia de pesquisa, para a melhor compreensão do fenômeno. Participaram da investigação 14 (quatorze) sujeitos, sendo 4 (quatro) alunos-pacientes com MPS, 5 (cinco) acompanhantes e 5 (cinco) profissionais de saúde. Como instrumento de coleta de dados, elegemos como procedimento o roteiro de entrevista semi-estruturada e individual. As entrevistas foram transcritas em sua integridade e submetidas a uma análise do conteúdo, após a exaustiva leitura das entrevistas definimos duas categorias temáticas: a doença crônica mediando à vida e uma escola dentro do hospital. Os resultados apontaram que os participantes percebem que a prática pedagógica das professoras da Classe Hospitalar ajuda manutenção dos vínculos escolares, na adesão ao tratamento, minimiza o estresse decorrente da Terapia de Reposição Enzimática, favorece à auto-estima, superação das limitações físicas, diminui a estigmatização da doença ajudando na socialização e inclusão escolar e social. Palavras-chave: Doença crônica. Classe Hospitalar. Atenção Terapêutica. Mucopolissacaridose. GUEUDEVILLE, Rosane Santos. The role of the hospital class in therapeutic care of student-patients with progressive and chronic illnesses: the mucopolysaccharidosis case. 2013. 117f. Dissertation (Master’s Degree in Education), Faculdade de Educação, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2013. ABSTRACT Illness perception requires a qualitative view, and the established goals, in a short or a long term, must not lose sight of the patients’ reinstatement and their return to the society, in a way to perform activities which once were part of their routine. This is the context in which the Hospital Classes are emerging from. This modality of service aims to lessen social and emotional suffering, resulting from hospitalization, and ensure that the education of hospitalized children and/or teenagers will have place to continue. Therefore, individuals in chronic conditions need specific attention, which means either the use of medical equipment working to decrease resulting symptoms from a disease, or the offering of pedagogic assistance during the treatment and/or hospitalization. Thus, the present study aimed to analyze the role of Hospital Classes in therapeutic care of student-patients with mucopolysaccharidosis (MPS). It was a qualitative research that made use of the case study as a research strategy in order to better understand the phenomenon. Fourteen (14) people participated in the process; four (4) MPS student-patients, five (5) carers and five (5) health professionals. As an instrument of data collection, the semi-structured and individual interview script was chosen for the procedure. An unabridged transcription was made from the interviews, which were later subjected to a content analysis. After a thorough reading of the interviews we nailed down two categories of themes: the chronic illness condition interfering in life, and a school within the hospital. The results indicated that the participants are able to perceive that the pedagogic method of a Hospital Class teacher upkeeps bonds with the school, as well as helps with the treatment acceptance, lessen the stress resulting from the Enzyme replacement therapy, fosters self-esteem and recovery from physical limitations, and also decreases prejudice and lack of information concerning the illness, helping in social and school re-integration. Keywords: Chronic Mucopolysaccharidosis. illness. Hospital Class. Therapeutic care. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 Gráfico 1 Figura 2 Figura 3 Figura 4 Figura 5 Figura 6 Figura 7 Figura 8 Figura 9 Figura 10 Figura 11 Esquema explicativo da investigação......................................... Tipos de deficiências no Brasil................................................... Pacientes com MPS por regiões brasileiras............................... Classificação das mucopolissacaridoses................................. Dimensões do processo de pesquisa........................................ Espaço da Classe Hospitalar do HUPES................................... Alunos-pacientes realizando atividades pedagógicas............... Caminhos trilhados para a compreensão do fenômeno............ Desenho livre de um acompanhante......................................... Desenho livre de um acompanhante........................................ Desenho livre de um profissional de saúde............................... Desenho livre de um aluno-paciente......................................... 09 16 27 29 35 39 40 46 54 64 71 76 LISTA DE TABELAS Tabela 1 Tabela 2 Tabela 3 Perfil dos profissionais de saúde................................................. Perfil dos acompanhantes........................................................... Perfil dos alunos-pacientes......................................................... 48 49 50 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO.................................................................................................... 1 1.2 ESQUEMA EXPLICATIVO DA INVESTIGAÇÃO................................................ 8 2 ESPAÇO DIFERENCIADO DE PROMOÇÃO EDUCACIONAL: A CLASSE HOSPITALAR...................................................................................................... CRIANÇAS/ADOLESCENTES: VIVENDO COM UMA DOENÇA CRÔNICA... 10 3 4 DA DEFICIÊNCIA PARA A COMPREENSÃO DA DOENÇA: FOCO NAS MUCOPOLISSACARIDOSES............................................................................ 17 26 4.1 Mucopolissacaridose tipo I................................................................................ 31 4.2 Mucopolissacaridose tipo II............................................................................... 32 4.3 Mucopolissacaridose tipo VI............................................................................. 32 5 CAMINHOS TRILHADOS PARA A COMPREENSÃO DO FENÔMENO.......... 35 5.1 CARACTERIZAÇÃO DO ESTUDO..................................................................... 35 5.2 CONTEXTO DA PESQUISA............................................................................... 38 5.3 SUJEITOS DA PESQUISA................................................................................. 41 5.4 TÉCNICAS EMPREGADAS E PROCEDIMENTOS DE COLETA..................... 42 5.5 ANÁLISE.DE DADOS........................................................................................ 44 5.6 ASPECTOS ÉTICOS.......................................................................................... 46 6 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS E DISCUSSÃO.................................. 47 6.1 PERFIL DOS PARTICIPANTES DA PESQUISA................................................ 47 6.1.1 Profissionais de saúde......................................................................................... 47 6.1.2 Acompanhantes................................................................................................... 48 6.1.3 Alunos-pacientes................................................................................................. 49 6.2 TRANSFORMANDO DADOS BRUTOS EM DESCOBERTAS CIENTÍFICAS... 51 6.1 A DOENÇA CRÔNICA MEDIANDO A VIDA....................................................... 53 6.2 UMA ESCOLA DENTRO DO HOSPITAL........................................................... 65 6.2.1 Conhecimento sobre a Classe Hospitalar............................................................ 66 6.2.2 A relação entre os profissionais de saúde e educação....................................... 70 6.2.3 A participação do aluno-paciente nas atividades da Classe Hospitalar............. 72 6.2.4 A Classe Hospitalar e adesão ao tratamento: permitindo a experiência de um dia diferente!..................................................................................................... 77 6.2.5 A Classe Hospitalar e a escola regular ............................................................... 80 6.2.6 O papel da classe hospitalar e suas contribuições durante a TER..................... 83 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................ 89 REFERÊNCIAS.................................................................................................. 92 ANEXOS............................................................................................................ 106 APÊNDICES ..................................................................................................... 107 7. 1 1. INTRODUÇÃO A doença é uma experiência de inovação positiva do vivo e não mais apenas um fato diminutivo ou multiplicativo. O conteúdo do estado patológico não se deixa deduzir, salvo diferença do formato, do conteúdo da saúde: a doença não é uma variação da dimensão da saúde; ela é uma nova dimensão da vida. (CANGUILHEM, 1975 apud SIVADON; ZOILA, 1998, p.19) A percepção da doença supõe um olhar qualitativo e os objetivos estabelecidos devem a longo ou em curto prazo ter em vista o restabelecimento do paciente e o seu retorno à sociedade, de modo a poder desempenhar as atividades que antes faziam parte da sua rotina. Caso a doença traga consigo a incapacidade do paciente, este deve ter, ao seu dispor, recursos que facilitem e promovam modificações em prol da superação das limitações que a enfermidade possa acarretar. Neste contexto, surge a humanização no hospital, fazendo com que as instituições revejam suas práticas e suscitem transformações que perpassem, não somente todo o hospital, mas principalmente reflitam em toda a sociedade. Para Godoi (2004, p. 102), “[...] o hospital é uma atividade essencialmente humana, portanto, o centro da atenção no hospital precisa ser o homem, o paciente”. Dessa forma, o paciente deve ser compreendido de maneira integral e em todas as suas dimensões, não apenas fisiológica, mas, sobretudo, emocional, psicológica e social, pois: Quando o paciente é a razão da existência, ele não deveria perder o nome ou a dignidade durante uma internação hospitalar. Tampouco deveria ter a sua doença como sendo mais importante que ele mesmo, deixando de ser ‘o paciente do aneurisma’ ou ‘a paciente da curetagem’. O órgão doente não deve prevalecer sobre o paciente, colocando-o como um ser secundário ao ser tratado. (GODOI, 2004, p. 102) No processo de humanização, há especificidades, e estas são modificadas para atender a diferentes sujeitos. Ao pensarmos no atendimento dedicado às crianças e adolescentes, por exemplo, Morsch e Aragão (2006) 2 mostram-nos que: “[...] por algum tempo pensou-se que a humanização em hospitais dedicados a esses pacientes seria a possibilidade de os pais acompanharem seus filhos durante a internação [...]”. Acreditava-se, portanto que fatores, tais como o risco de infecções, a falta de conhecimento desses pais diante da patologia, a crença de que esses familiares não dedicariam cuidados adequados, justificados também por uma ineficiente estrutura hospitalar, tornariam inviável a proximidade de pais e mães de seus filhos hospitalizados. A esse respeito, Barros (2008, p. 34) afirma que “[...] nos termos da política de humanização do Ministério da Saúde, os pacientes pediátricos são alvos de atenção preferenciais”, uma vez que são mais susceptíveis aos problemas resultantes da baixa qualidade dos serviços prestados. Assim, pensar a humanização direcionada por um único olhar é deixar de lado direitos conquistados e que, portanto, devem ser, não somente respeitados, mas, sobretudo, realizados. Matos e Mugiatti (2006, p. 21) ressaltam, ainda, que: [...] atentando para tal situação e, no intuito de contribuir para a solução e prevenir tais problemas é que os hospitais vêm envidando esforços no sentido de que sejam realizados trabalhos multi/inter/transdisciplinares, no propósito de oferecer aos seus usuários amplo e qualificado atendimento de forma mais humanizada. A partir desta compreensão, o indivíduo passa a ser sujeito do tratamento e não apenas um objeto de intervenção clínica. Desta forma, o paciente pode se reconhecer enquanto ser social, demonstrando suas insatisfações e desejos, e ultrapassando algumas imposições e limitações que a hospitalização possa lhe causar. Não se pode esquecer que a doença já traz uma nova situação e exige adaptações e outras formas de convivência, as quais nem sempre são esperadas pelo doente e/ou por aqueles que fazem parte da sua história (pais, irmãos, amigos, familiares e escola). Logo, o afastamento desta criança e/ou adolescente do seu cotidiano, principalmente, do contexto educacional, poderá gerar efeitos negativos e, caso tal ausência seja em decorrência de uma 3 hospitalização prolongada, Morita e colaboradores (2003, p. 87) nos afirmam que: [...] os sentimentos aflorados com uma doença são intensificados deparando-se com uma situação nova e estressante. A pessoa sente-se fragilizada, pois é através do corpo que se evidencia a fragilidade humana, sentindo a perda de seu capital energético e equilíbrio biológico, psicológico e social. Assim, é neste contexto que vêm emergindo as Classes Hospitalares. Tal modalidade de atendimento anseia por minorar o sofrimento emocional e social, decorrente das hospitalizações, e assegurar a continuidade da escolarização de crianças e/ou adolescentes hospitalizados. Mas, é importante referir à grande complexidade que permeia a escolarização destas pessoas, uma vez que, a doença, a terapêutica e os efeitos colaterais dos medicamentos, podem interferir na frequência às aulas. (CASTRO; PICCININI, 2002). Este absenteísmo poderá levar à desmotivação e a dificuldades na adaptação escolar (BARROS, 1999). Além disso, estas crianças/adolescentes poderão sofrer discriminação por parte dos colegas, ter uma redução em suas possibilidades de convivência social e experimentar interferências prejudiciais a sua autoestima. Para Suris, Michaud e Viner (2004, p. 940, tradução nossa) Doença recorrente e as demandas de regimes de tratamento podem ter um impacto significativo sobre a frequência escolar e educativa [...]. A questão do absentismo é de particular relevância: severas condições crônicas frequentemente induzem frequentes internações hospitalares [...]. No entanto, para evitar a discriminação, tanto quanto possível, todos os esforços devem ser feitos para integrar os adolescentes com uma condição crônica, incluindo aqueles com deficiências físicas, em um ambiente escolar normal. Deste modo, a inclusão social e escolar desse alunado deverá acontecer como forma de permitir a sua adequada socialização, especialmente no 4 processo de ensino-aprendizagem. Assim, poderemos torná-los sujeitos na condução das ações que permeiam a diversidade educacional. A caminhada metodológica na construção do tema de pesquisa pode ser dividida em duas etapas: antes e depois do exame de qualificação. Iniciamos nos propondo a estudar como professores, crianças/adolescentes com MPS e seus familiares compreendem o lugar da escola na vida de alunos acometidos por uma doença crônica. Neste contexto, nossa preocupação parecia centrarse na problemática da inclusão escolar de alunos-pacientes com uma doença altamente incapacitante. Assim as questões de investigação não estavam centradas na compreensão acerca da Classe Hospitalar. Ao longo das escutas dos sujeitos envolvidos e, principalmente no encontro com a banca de qualificação, o que nos proporcionou outro olhar acerca do objeto de investigação, outra proposta nos foi lançada. Dessa forma, vários ajustes e modificações ocorreram tanto na reconstrução do próprio objeto, na abordagem da pesquisa de campo, quanto na adoção da perspectiva metodológica. Portanto, o referido trabalho se preocupou em compreender o papel da Classe Hospitalar na atenção terapêutica de alunos-pacientes acometidos por uma doença rara, crônica e progressiva, assim como as expectativas e o próprio conhecimento ou desconhecimento desta modalidade de atendimento escolar, enquanto um direito legal. Ainda no que se refere ao processo investigativo, vale ressaltar que, embora a formação em Fisioterapia me permitisse, por um lado, compreender certos aspectos característicos da “linguagem” dos profissionais e estudiosos das Ciências da Saúde, por outro, admito que, muito tive que aprender para melhor compreender a singularidade da Mucopolissacaridose (MPS), sempre buscando dialogar com a matriz provinda de outra área, qual seja a Educação. Assim, em decorrência da ausência de trabalhos específicos que analisem os aspectos escolares de crianças/adolescentes com MPS, estaremos constantemente recorrendo a diferentes pesquisas que apresentaram a problemática da escolarização e inclusão escolar de pessoas com outras doenças crônicas (PIMENTEL, 2007; CASTELLANOS, 2005; 5 HOLANDA, 2005; PICCININI et. al, 2003; DAMIÃO, ANGELO, 2001; GONÇALVES, VALLE, 1999) como assim também se pretende fazer nesta pesquisa. Enquanto professora da Classe Hospitalar do Hospital Universitário Professor Edgard Santos (HUPES/UFBA), tive a oportunidade de conhecer as crianças/adolescentes com mucopolissacaridose (MPS), uma doença genética, crônica e progressiva que integra o grupo das doenças de depósito lisossômico. Nesta doença, a ausência de enzimas lisossômicas especificas, afeta a degradação dos glicosaminoglicanos (GAG) e faz com que haja um acúmulo de GAG em vários órgão e tecidos dos pacientes afetados pela MPS. Dessa forma, diversos sinais e sintomas, indicam a presença de um quadro clínico multissistêmico com comprometimento de ossos e articulações, vias respiratórias, sistema cardiovascular, e em alguns casos, evidencia-se alterações das funções cognitivas. (GIUGLIANI, et. al., 2010) As crianças e adolescentes com MPS encontravam-se em tratamento através de um estudo piloto denominado Terapia de Reposição Enzimática (TRE). Esta terapêutica acontecia em regime de hospital-dia1, ou seja, pelo menos uma vez na semana, essas crianças/adolescentes iam ao hospital para serem submetidos a uma infusão venosa, da enzima especifica ausente no paciente, a referida terapia objetiva a não progressão das alterações físicas e funcionais decorrentes da doença. No caso do HUPES, durante a realização da TRE, foi ofertado a essas crianças/adolescentes o atendimento pedagógico-educacional no leito. Tal atendimento ocorreu através da modalidade educacional, destinada a crianças e adolescentes hospitalizados, denominada Classes Hospitalares (BRASIL, 2001). Após o contato com esse alunado, percebemos que, apesar da aparente limitação física, muitos deles não apresentam um déficit cognitivo severo que, 1 Segundo a Portaria nº 44, de 10 de janeiro de 2001, elaborada pelo Ministério da Saúde, pode-se definir como regime de Hospital Dia a assistência intermediária entre a internação e o atendimento ambulatorial, para realização de procedimentos clínicos, cirúrgicos, diagnósticos e terapêuticos, que requeiram a permanência do paciente na Unidade por um período máximo de 12 horas. (BRASIL, 2001, p. 2) 6 de algum modo, pudesse justificar a não realização das atividades propostas ou a sua exclusão da escola regular. Contudo, deve-se compreender que esses sujeitos se encontravam constantemente em processo de hospitalizações recorrentes, e não se pode ignorar o impacto que a internação pode provocar na vida dessas crianças/adolescentes como também na de seus familiares. (AJURIAGUERRA, 1979 apud JUNQUEIRA, 2003) Além disso, no dia a dia do atendimento pedagógico no leito, nos questionávamos, sobre qual(is) o papel(is) a Classe Hospitalar teria na atenção terapêutica dessas crianças/adolescentes. O desenvolvimento de atividades lúdicas, o investimento no ensino e aprendizagem de conteúdos escolares e outras proposições didáticas e pedagógicas poderiam contribuir para um melhor enfrentamento da TRE? Neste sentido é que nos prestamos à realização deste estudo, razão pela qual definimos no processo de investigação deste trabalho como objetivo precípuo analisar o papel da Classe Hospitalar na atenção terapêutica de alunos-pacientes com mucopolissacaridose. Elegemos como objetivos específicos, descrever a percepção que alunos-pacientes com mucopolissacaridose, seu(s) acompanhante(s) e profissionais de saúde têm acerca das contribuições da Classe Hospitalar; perceber se o atendimento pedagógico-educacional, ofertado por professores da Classe Hospitalar, pode contribuir para que os alunos-pacientes com mucopolissacaridose melhor tolerem a Terapia de Reposição Enzimática; identificar como os alunos-pacientes e seus acompanhantes lidam com o processo de adoecimento; compreender se a Classe Hospitalar tem sido um elemento facilitador do processo de socialização entre aluno- paciente/professor, aluno-paciente/aluno-paciente, aluno-paciente/profissionais de saúde, professor/acompanhante; identificar se a Classe Hospitalar tem contribuído para diminuir a distância entre as crianças/adolescentes com MPS e a escola regular. Ressaltamos que, os pacientes com MPS, apresentam como principal característica, deformidades físicas que um corpo não pode esconder e, por esta razão, a sua diferença se torna ainda mais evidente. Assim, ao contrário de outras doenças crônicas, que são mais percebidas nos momentos de crise 7 como, por exemplo, asma, anemia falciforme e diabetes, na MPS, o olhar do outro pode “condenar” a capacidade de um sujeito que se desvia da norma de um corpo “perfeito”, mesmo que a sintomatologia da doença esteja controlada. Portanto, é importante lembrar que pessoas com MPS possuem traços fenotípicos característicos que contribuem para a elaboração do estigma (GOFFMAN, 2012) a elas imposto. No caso de pessoas com MPS, é a visibilidade expressiva da sua diferença que favorece a sua estigmatização. Outro fator que precisa ser destacado é o fato da MPS ser uma doença multissistêmica e progressiva, ou seja, além de poder atingir diferentes tecidos e órgãos, ela tende a piorar, com o passar do tempo, o que pode tornar as características ainda mais evidentes. Ainda que os estudos sobre a TRE venham se aprimorando e trazendo muitos recursos que impedem o avanço da doença, o tratamento não garante a cura e muito menos a regressão das características já instaladas (GIUGLIANI et al., 2010) Dessa forma, debruçar-se sobre esta temática se justifica pela escassez de investigações científicas acerca do atendimento educacional de crianças com MPS. Além disso, acreditamos que a Classe Hospitalar tem se tornado um espaço de bastante relevância no contexto do hospital, pois garante o direito de acesso, manutenção e continuidade da escolarização de pessoas em condição de adoecimento e/ou hospitalização. Neste sentido, o professor da Classe Hospitalar é o profissional apto para mediar o elo entre o hospital e os outros espaços sociais, que fazem parte vida da criança/adolescente hospitalizado. O ambiente escolar, existente no hospital, tem sido objeto de promoção do desenvolvimento sócio-educativo de crianças/adolescentes enfermos. Por esta razão, os resultados encontrados poderão permitir uma melhor compreensão desta doença rara e, por sua vez, contribuir para melhor compreendermos a política de Educação Especial, no tocante, a relevância do atendimento pedagógico e educacional que a Classe Hospitalar oferece aos alunos-pacientes com MPS. Pretende-se também que os achados deste estudo, possam promover o estreitamento de parcerias com a Secretaria Municipal de Saúde, em especial, à execução dos programas de Educação em Saúde e, facilitem o trabalho dos 8 profissionais de educação, no diálogo com as famílias e os profissionais de saúde, com relação à MPS. Os capítulos que se seguem a esta Introdução, estão encadeados de modo a permitir aos leitores a compreensão das bases teórico-conceituais da Classe Hospitalar; o entendimento da problemática que fundamentou a pergunta de pesquisa, bem como a compreensão das etapas empíricas do fazer investigativo, e por fim, o compartilhamento ou não das nossas análises e conclusões. 1.1 ESQUEMA EXPLICATIVO DA INVESTIGAÇÃO As principais categorias que contribuíram para um maior entendimento do fenômeno foco desta investigação podem ser visualizadas na figura 1. O uso de tais categorias, para Minayo (2010, p. 78), “[...] retém historicamente, as relações sociais fundamentais, servindo como guias teóricos e balizas para o conhecimento de um objeto nos seus aspectos gerais”. No esquema explicativo, a Classe Hospitalar, apresentou-se tanto na organização das categorias teóricas, quanto na relação com os sujeitos da pesquisa. Optamos por demarcá-la, por se tratar do campo empírico desta investigação. Além disso, convém destacarmos que, a referida categoria, tornou-se discussão primordial no presente estudo de caso, para a compreensão do papel atribuído pelo dos alunos-pacientes, acompanhantes e profissionais de saúde à Classe Hospitalar. Ressaltamos que, em relação ao esquema explicativo da investigação,2 as linhas configuram as categorias e cores teóricas e as possíveis relações entre os elementos apresentados. 2 Este esquema tem como referência o estudo de Garcia (2008) 9 Categorias Teóricas Classe Hospitalar Estudo de caso Objetivo geral Alunos pacientes Doença crônica e progressiva Mucopolissacaridose Analisar o papel da classe hospitalar na atenção à terapêutica de alunos pacientes com mucopolissacaridose Classe hospitalar Acompanhantes Deficiências Educação Especial Figura 1 – Esquema explicativo da investigação. Profissionais de saúde 10 2. ESPAÇO DIFERENCIADO DE PROMOÇÃO EDUCACIONAL: A CLASSE HOSPITALAR [...] neste ângulo de possibilidades educativas é que se situa a área de educação diferenciada – o hospital – onde se situam crianças/adolescente em tempo de escolarização [...]. Daí a necessidade emergencial de transferência do local comum de aprendizagem – a escola – para o hospital. (MATOS E MUGIATTI 2006, p. 29-30), A manutenção do vínculo escolar para crianças e adolescentes hospitalizados é um direito assegurado por lei. Logo, o acesso à educação para todos tem “suscitado o reconhecimento e a necessidade de uma educação em diferentes contextos, extrapolando os muros escolares”. (ZAIAS; DE PAULA, 2010, p. 223). Nesse sentido, as legislações (BRASIL, 1995, 1996, 2001, 2002) que subsidiam a educação em ambiente hospitalar, reforçam a compreensão de que o desenvolvimento de crianças e adolescentes deve continuar, mesmo que estes estejam hospitalizados. Para Holanda e Collet (2011, p. 382): O hospital não pode ser compreendido pela criança ou pelo adolescente enfermo como um ambiente apenas de dor e sofrimento. Nele sempre é preciso encontrar um espaço que possa ser aproveitado para o desenvolvimento de atividades lúdicas, pedagógicas e recreacionais. Assim, a Classe Hospitalar é uma modalidade da Educação Especial que visa permitir, às crianças e adolescentes em períodos de internação, a continuidade da aprendizagem. Logo, o atendimento pedagógico-educacional prestado a crianças/adolescentes em condição de adoecimento reconhece que, embora doente, o seu processo de desenvolvimento não pára e deve, portanto, ser constantemente incentivado. Matos e Mugiatti (2006, p. 29-30), ainda nos acrescentam que: [...] neste ângulo de possibilidades educativas é que se situa a área de educação diferenciada – o hospital – onde se situam crianças/adolescente em tempo de escolarização [...]. Daí a 11 necessidade emergencial de transferência do local comum de aprendizagem – a escola – para o hospital. Neste sentido, esse novo campo da educação se apresenta como um instrumento capaz de perceber a necessidade de inserção da criança e do adolescente hospitalizado no ambiente escolar, e de permitir o seu acesso à realidade anterior à doença. Quando submetidos ao tratamento, esses enfermos enfrentam os múltiplos e negativos aspectos, que vão desde a perda de cabelo, amputações, acessos, trações, dentre outras limitações que os afetam, não apenas fisicamente, mas geram, principalmente, alterações emocionais, devidas à doença, por terem de se afastar dos pais, amigos e escola, passando a (con)viver em um espaço onde a dor e o sofrimento muitas vezes se sobrepõem a outros sentimentos. Diante desse quadro: [...] a ação pedagógica é um auxílio de grande valor [...] no estabelecimento do seu contato com o ambiente hospitalar, à medida que pode tornar mais íntegra à interação entre ambas as partes (profissionais e pacientes), via transmissão-aquisição de conhecimentos novos e necessários ao entendimento dessa situação. (DORIN, 1991 apud MENEZES, 2004, p. 31) Contudo, quando a criança e/ou adolescente tem uma doença crônica e/ou progressiva, associada a longos períodos de internação, como a exemplo do câncer, da anemia falciforme, da diabetes, da HIV/AIDS, das mucopolissacaridoses, dentre outras, em geral, esses pacientes tendem a ser “superprotegidos”. Assim, aos olhos de outros espectadores, tornam-se um ser frágil, incapacitado e que deve ser cercado de todos os cuidados. Porém, esse excesso de cuidados e dependência pode gerar argumentos e atitudes, ainda vigentes, que levam ao afastamento da criança e do adolescente do ambiente escolar. Segundo Gonçalves e Valle (1999, p. 247): [...] quando um de seus filhos está doente e há tantas preocupações relacionadas aos problemas relativos à saúde física da criança, os pais geralmente se esquecem dos aspectos escolares ou os relegam a segundo plano. Entretanto, é fundamental fazer com que essas crianças e/ou adolescentes e seus responsáveis percebam que, mesmo durante o tratamento, é possível dar continuidade aos estudos. Dessa forma, cabe ao 12 professor responsável pelo processo de ensino-aprendizagem em contexto hospitalar, mediar e facilitar a participação desses alunos nas atividades escolares e fazer com que haja interação e socialização. Sob essa perspectiva, Matos e Mugiatti (2006, p. 27) apresentam a seguinte abordagem: A escola de fato, é o meio de socialização por excelência, onde o escolar desenvolve treinamento em habilidades sociais, em ambiente natural e alegre – a sua ruptura pode ocasionar graves problemas de natureza psicopatológica. Com o objetivo de não permitir a instalação desses problemas, no processo de desenvolvimento de alunos em atendimento especial, foi fundada em Paris, em 1935, pelo educador Henri Sellier, uma pioneira escola hospitalar. Esta iniciativa expandiu-se na Alemanha, em toda a França, na Europa e nos Estados Unidos, sendo que nesse tipo de escola se prestava atendimento a crianças com tuberculose, e que não tinham condições de frequentar uma instituição regular. (VASCONCELOS, 2003 apud VASCONCELOS, 2006) No Brasil, segundo Fonseca (1999b), a implantação da primeira escola acontece somente a partir da década de 1950, localizada no Hospital Bom Jesus, no Rio de Janeiro, com o propósito de atender crianças com paralisia infantil, que permaneciam internadas durante anos. Percebe-se que, há algum tempo, já havia a preocupação de fornecer recursos pedagógicos que visassem o enfrentamento da enfermidade por crianças e/ou adolescentes. A expansão dessa modalidade de ensino no Brasil foi fundamentada pela elaboração de alguns documentos que, de fato, reconhecem e legalizam a validade desse atendimento pedagógico em hospitais. Dentre eles, podemos citar: o Estatuto da Criança e do Adolescente (BRASIL, 1990), a Lei dos Direitos das Crianças e dos Adolescentes Hospitalizados (BRASIL, 1995), elaborada pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e pelo Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA), que, em sua Resolução n° 41/95, ressalta alguns aspectos, dentre os quais citamos: 13 - Direito de proteção à vida e à saúde, com absoluta prioridade e sem qualquer forma de discriminação. - Direito a ser hospitalizado quando for necessário ao seu tratamento, sem distinção de classe social, condição econômica, raça ou crença religiosa. - Direito de não sentir dor, quando existem meios para evitá-la. - Direito do conhecimento adequado de sua enfermidade, dos cuidados terapêuticos e diagnósticos a serem utilizados, do prognóstico, respeitando sua fase cognitiva, além de receber amparo psicológico, quando se fizer necessário. - Direito a desfrutar de alguma recreação, programas de educação para saúde, acompanhamento curricular escolar, durante sua permanência hospitalar. (CONANDA, 1995, grifo nosso) O último aspecto salientado mostra a devida importância do exercício pedagógico, que deve ser destinado às crianças e adolescentes em fase de hospitalização. Para tanto, em 2002, o Ministério da Educação (MEC), através de sua Secretaria de Educação Especial, elaborou o documento Classe Hospitalar e atendimento pedagógico domiciliar: estratégias e orientações, assegurando o acesso à educação básica. Em Santa Catarina, a Secretaria de Educação elaborou, por meio da Portaria nº. 30, SER, de 05/03/2001, documento que “Dispõe sobre a implantação de atendimento educacional na Classe Hospitalar para crianças e adolescentes matriculados na Pré-Escola e no Ensino Fundamental, internados em hospitais”. (FONSECA, 1999a; FONTES, 2005) Portanto, considera-se que a educação é, por lei, um direito de toda e qualquer criança e deve ser praticada mesmo que não seja em ambiente escolar. Assim afirma a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9394/96, no Capítulo V – Da Educação Especial, artigo 58, e § 2º: “O atendimento será feito em classes, escolas ou serviços especializados, sempre que, em função das condições específicas dos alunos, não for possível a sua integração nas classes comuns de ensino regular”. Define-se, então, a classe hospitalar, segundo as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica, como um: Serviço destinado a prover mediante atendimento especializado, a educação escolar a alunos impossibilitados de freqüentar as aulas em razão de tratamento de saúde que implique internação hospitalar ou atendimento ambulatorial. (BRASIL, 2001, p. 51) 14 Além disso, apresentamos alguns resultados de pesquisas que evidenciam a necessidade de se promover um atendimento pedagógico no espaço hospitalar. Podemos citar a investigação, realizada por Silva e colaboradores (2008), no que respeita ao desenvolvimento de um estudo que demonstrou a importância da educação no leito oferecida a crianças internadas. Nessa pesquisa, foram ouvidos diversos agentes: a equipe pedagógica, as crianças e seus acompanhantes, utilizando-se como recurso a aplicação de questionários. Os resultados revelam que 75% dos professores (n=4) acreditam que a classe hospitalar está alcançando os objetivos propostos, 100% das crianças (n=12) gostam desse tipo de ensino, e, para 100% dos acompanhantes (n=12), é aconselhável a criança estudar, mesmo internada, havendo a percepção da influência da classe hospitalar na recuperação da criança. Observamos, portanto, na pesquisa de Silva e colaboradores (2008), que a Classe Hospitalar de fato vem contribuindo positivamente para a superação da internação da criança hospitalizada, tanto na visão docente, quanto na visão da própria criança e no entendimento dos seus responsáveis. Contudo, é preciso destacar que, embora prevista na legislação brasileira, ainda existem poucos professores especializados nessa modalidade de atendimento educacional, bem como os hospitais, de um modo geral, têm feito muito pouco para possibilitar às crianças e/ou adolescentes hospitalizados a continuidade em seus estudos. De certa forma, isso tem impossibilitado a instalação dessa modalidade educacional, que vem aos poucos mostrando ser de suma importância para o restabelecimento de crianças e/ou adolescentes que se encontram internados em enfermarias hospitalares. Os direitos das pessoas com deficiência estão definidos por documentos legais, e estes apontam que todos devem ser igualmente beneficiados dos bens e serviços socialmente ofertados (CARVALHO, 2004), especialmente saúde, educação, lazer e transportes, dentre outros. Porém, tais direitos não vêm se efetivando na prática, muito embora estejam consubstanciados em diferentes documentos, a exemplo da Constituição Federal e da Declaração Universal dos Direitos Humanos. (CARVALHO, 2004; SEN, 2010) Assim, o contraste entre o discurso de direitos 15 e igualdades e a realidade vivida tem provocado a busca de respostas frente à grande disparidade entre a realidade ideal e a real. (RIOS, 2010; SEN, 2010) A realidade imposta às pessoas com deficiência tem sido questionada por diversos pesquisadores (BARROS, 2008; CARVALHO, 2004; DINIZ, 2007; SASSAKI, 2006; MANTOAN, 2003; MAZZOTTA, 2002; MITTLER, 2003; STAINBACK; STAINBACK, 2004), pois, segundo eles, a compreensão a respeito das pessoas com deficiência precisa ser ampliada, para que elas não sejam socialmente excluídas. Na Convenção da Guatemala, ocorrida em 1999, considerou-se a deficiência como “[...] uma restrição física, mental ou sensorial, de natureza permanente ou transitória, que limita a capacidade de exercer uma ou mais atividades essenciais da vida diária, causada ou agravada pelo ambiente econômico e social”. Contudo, a deficiência ainda vem sendo apresentada a partir de diferentes enfoques, que permitem interpretações variáveis e apresentam lacunas que diferentes áreas do conhecimento tentam preencher, em especial a Saúde e a Educação. Para Jannuzzi (2006), diversos termos vêm sendo utilizados em referência a pessoas com deficiência e tal terminologia perde a sua relevância, pois, em grande parte, os termos empregados correspondem às acepções de falta, exclusão e/ou imperfeição. Criam-se, desta forma, diferentes estereótipos e estigmas (GOFFMAN, 2012) A compreensão destes sujeitos, por este ângulo, apenas favorece a sobreposição de suas limitações, quando comparadas as suas potencialidades. Assim, “ao longo da história, as pessoas ‘deficientes’ vêm sendo consideradas pelo senso comum, como seres incapazes e defeituosos”. (ARAÚJO et al., 2009, p. 26) De acordo com os dados do Censo Demográfico Brasileiro (IBGE, 2010), há atualmente no Brasil quase 191 milhões de habitantes. Deste total, 45.623.910 (23,9%), possuem alguma deficiência (Gráfico 1). 16 Gráfico 1 – Tipos de deficiência no Brasil Fonte: Adaptado de KASPER et al. (2008, p. ). Em decorrência de todos os esforços, a essas pessoas estão sendo oferecidas maiores possibilidades de conviver com as suas próprias diferenças e limitações. Logo, a Classe Hospitalar, enquanto uma política pública, significa, para Barros, Gueudeville e Vieira (2011, p. 336): [...] parte do reconhecimento que a enfermidade afasta esses jovens da rotina de uma escola, os priva da convivência em comunidade e os submete a riscos de transtornos ao desenvolvimento. Por isso, procura compensar essas perdas proporcionando espaços e momentos de ensino-aprendizagem. Importante lembrarmos que não basta consideramos apenas o fato da existência da deficiência, já que não podemos desconsiderar a possibilidade destas pessoas estarem convivendo com uma doença crônica que poderá leválos a internações frequentes para o tratamento dessa enfermidade. Em outras palavras, indivíduos cronicamente enfermos necessitam, em alguma medida, de uma atenção específica, seja pela necessidade de uso de aparatos médicos que visem minimizar os sintomas decorrentes da patologia, seja pela oferta de atendimento pedagógico durante o tratamento e/ou hospitalização. 17 3. CRIANÇAS/ADOLESCENTES VIVENDO COM UMA DOENÇA CRÔNICA A pessoa é reduzida a sua condição individual, e se perde de vista a importância do modo de vida como forma de articulação com o mundo e com a sociedade, assim como a forma em que processos sociais e institucionais de natureza diversa comprometem a saúde pelo tipo de práticas institucionalizadas de diversas formas no cotidiano das pessoas [...]. (REY, 2001. p. 26) A doença crônica é definida como uma condição mórbida, cuja duração se estende por longo período de tempo, e não raro, por toda a vida. Tais doenças são assistidas pelos serviços de saúde, com intenções paliativas, ou seja, com a finalidade de diminuir o sofrimento, bem como com intenções de prevenção secundária, com o objetivo de evitar a instalação de danos consequentes. Apesar de algumas doenças crônicas, que acometem crianças e adolescentes, serem consideradas relativamente raras, estudo realizado por Garralda (1994) apontou que tais doenças, quando somadas, podem afetar cerca de 15% a 18% da população infantil, sendo que, dentre estas, quase 5% exigem internações recorrentes. Tal consideração corrobora o encontrado por Piccinini et al., (2003), quando investigou a doença crônica na infância, e observou que crianças com doenças crônicas tiveram um maior número de hospitalizações, quando comparadas a crianças sem doença crônica. É possível que tais resultados tenham se dado em decorrência do processo de adoecimento crônico apresentar períodos de estabilidade e exacerbação da sintomatologia, sendo, portanto, o segundo aspecto mais frequente Ainda que se fale em tratamento, a maioria das doenças crônicas são incuráveis, e, “[...] ao contrário dos adultos que enfrentam um número relativamente pequeno de doenças crônicas já bem estudadas, na infância é grande a variedade de doenças, as quais, por sua vez, são basicamente raras”. (SILVA, 2001, p. 31) De modo análogo, Canesqui (2007) evidencia que tais 18 condições de saúde podem apresentar sintomatologias recorrentes ou pontuais que, em alguma medida, interferem em diferentes aspectos da vida do adoecido e de todos os que também participam do processo de convivência com uma doença crônica. Castellanos (2007, p.61) nos acrescenta que, O caráter ‘crônico’ de determinados estados de saúde pode envolver não somente doenças específicas e muito bem definidas, mas também diversos agravos à saúde e conjuntos de alterações corporais e mentais que não necessariamente possuem um fundo orgânico. Esses estados crônicos estão, via de regra, associados a uma multiplicidade de fatores causais e de impactos à saúde que abrangem, ao mesmo tempo, aspectos biológicos, psicológicos e sociais. Assim, a doença crônica tem sido objeto de interesse, principalmente da Psicologia, da Medicina, da Saúde Coletiva e da Enfermagem. As pesquisas desenvolvidas buscam avaliar os impactos da enfermidade crônica na vida da pessoa acometida e de sua família. Em se tratando de adultos, os estudos destacam os prejuízos comprometimento adolescentes, da são financeiros, atividade os laboral particularmente e desgastes conjugais produtiva. Em importantes os e o crianças e prejuízos ao desenvolvimento da autoestima, da socialização e da escolarização, além de trazerem “[...] consequências, diretas e indiretas, da transformação do perfil de morbi-mortalidade característico das populações de diversos países no mundo, ao longo dos últimos séculos”. (CASTELLANOS, 2007, p. 45) Na sociedade contemporânea, diferentes estudos estão voltados para uma melhor compreensão das doenças crônicas, sobretudo em decorrência das altas incidências de doenças crônicas, provocadas em certa medida pelo estilo de vida dos indivíduos, a saber: diabetes, hipertensão, obesidade, cardiopatias, dentre outras. Entretanto, quando a cronicidade da doença atinge a população infantil se ampliam as investidas científicas que tentam compreender a melhor maneira de minorar o sofrimento causado a essa população. Outra preocupação diz respeito da terminologia aplicada, ou seja, existe uma discussão acerca dos termos “doença crônica” e “condição crônica”, que 19 vale aqui ser apresentada, embora tal discussão não seja foco deste estudo, mas apresenta relevância trazê-la com brevidade, especialmente, por conta das especificidades dos sujeitos de pesquisa foco desta investigação. Perrin e colaboradores (1993) realizaram um estudo acerca das questões envolvidas na definição e classificação de condições crônicas de saúde, e os autores defendem a utilização do termo “condição crônica”, em detrimento dos correlatos psicológicos e sociais que sujeitos afetados por uma condição crônica podem apresentar, eles acreditam que, [...] algumas conotações do termo adoecimento (“illness”) ou doença (“disease”) tornam o uso do termo ‘condições’ preferível. A palavra ‘adoecimento’ frequentemente implica em sintomas físicos tais como fadiga, febre, perda de energia, dor ou mal-estar. Muitas condições, tais como espinha bífida ou paralisia cerebral, não são adoecimentos neste sentido, sendo que crianças com estas condições frequentemente não se consideram ‘doentes’. O termo doença é algumas vezes associado com problemas de saúde de origem infecciosa ou com desconforto e dor. Outros termos, como por exemplo, ‘perturbação’ (“disorder”), ‘incapacidade’ (“disability”), ‘dano’ (“impairment”) e ‘necessidades especiais’ (“handcap”), implicam na idéia de ‘deficiência’ (“deficit”) ou de ‘inaptidão’ (“incapacity”), além do que são interpretadas de diversas maneiras. Ao contrário, o termo ‘condição’ possui uma conotação mais neutra e é menos restritivo ou mais abrangente do que seus alternativos. (Perrin et al., 1993, 789, tradução nossa) Na investigação cientifica realizada por Garcia (1994) sobre as enfermidades crônicas na infância, a autora aponta a necessidade do uso da terminologia “condição crônica”, pois ela considera que o uso termo doença/enfermidade apenas considera o aspecto biológico do sujeito e se refere a doenças com longa duração e sem perspectiva de cura. Logo, outros problemas para se referir as doenças crônicas que acometem, sobretudo as crianças. Reconhecemos as controvérsias entre estudiosos da temática, acerca da legitimidade das diferentes nomenclaturas, contudo estaremos assumindo o termo doenças crônicas para nos fazer entender. 20 Assim, as hospitalizações recorrentes provocam na criança/adolescente um afastamento social e, diante da necessidade de se manterem no ambiente hospitalar, se não para a cura, pelo menos para atenuar seu sofrimento, há repercussões de diversas ordens em sua vida cotidiana. Para Mendonça e Ferreira (2005, p. 57): [...] dependendo da cronicidade da patologia, medidas restritivas podem ser recomendadas e estabelecidas pelo médico [...]. Algumas dessas ações implicam em significativas mudanças na rotina do paciente, que podem incluir dietas alimentares, uso de medicação, monitoração laboratorial, reorganização da vida escolar e da renda familiar, restrição de atividades, controle ambiental, disponibilidade de pessoas, tempo e serviços voltados à realização do tratamento. Logo, para a criança/adolescente e seu familiar, alterar o ritmo de vida em decorrência da descoberta da enfermidade, tem sido tarefa bastante difícil, “[...] ainda mais quando a doença tem um prognóstico fechado e baixa expectativa de vida [...]”. (DAMIÃO; ANGELO, 2001, p. 66) Estudos relacionados ao impacto da doença crônica na vida da criança e de sua família têm permitido uma melhor compreensão acerca desta etapa, que envolve os mais diversos aspectos, desde o emocional ao social. Para Damião e Ângelo (2001), alguns sentimentos afloram neste momento, sendo a incredulidade, o desespero, a revolta e a culpa os mais comuns, pois é difícil para a família aceitar a doença, que pode representar a ausência de controle da situação atual, além da incerteza acerca do futuro da criança. Na tentativa de compreenderem a experiência da família em convivência com a doença crônica da criança, os referidos autores concluíram que, para se adaptar à presença da enfermidade, a família busca conhecimentos sobre a doença, habilidades para lidar com as especificidades do tratamento e a adequação de seus recursos emocionais e financeiros. Dados similares foram encontrados no estudo realizado por Ribeiro e Rocha (2007), acerca da trajetória de famílias de crianças com síndrome nefrótica, apontando que, além de alterações relacionadas aos aspectos 21 comportamentais dos membros da família, há as relacionadas a mudanças de cidade, trabalho e modo de ver a vida. Assim, a presença de uma doença crônica, que venha a acometer algum membro da família, requer alteração no círculo familiar, com a imposição de limitações que, caso contrário, poderiam provocar o comprometimento da qualidade de vida da criança/adolescente. Isto pode dificultar, em alguma medida, a sua produtividade e interferir no seu processo de interação social. Tais fatos ocorrem muitas vezes, em decorrência das exigências do tratamento, a exemplo de idas ao laboratório, como medida de acompanhamento do estado de saúde, a realização de procedimentos invasivos, e muitas vezes dolorosos, que requerem internações hospitalares. (ARAÚJO et al., 2009; OLIVEIRA, 2005; VIEIRA; LIMA, 2002) Na medida em que as doenças crônicas são diagnosticadas precocemente, aumentam-se as chances de um melhor enfrentamento, tanto por parte das crianças quanto de sua família. Entretanto, algumas doenças são mal diagnosticadas e, quando descobertas de maneira súbita, exigem, dos envolvidos, alterações que algumas vezes fogem ao seu controle, repercutindo de maneira negativa em sua vida. Dessa forma, alguns estudos têm investigado o impacto do tempo de diagnóstico da patologia na adaptação do doente. Paiva e Silva et al. (1993) perceberam, em pesquisa realizada sobre a anemia falciforme, que 55 (69%), de um total de 80 sujeitos da população em estudo, tiveram o diagnóstico de anemia falciforme há pelo menos 5 anos. Sendo, portanto, apresentado à realidade destes pacientes um diagnóstico tardio. Em outras palavras, muitos deles viveram uma parte da sua vida de maneira “normal”, por desconhecerem a existência da doença, e tiveram que abdicar, em certa medida de forma abrupta, de determinadas ações, pois poderiam promover a exacerbação dos sintomas e levar à progressão da doença. Como já observado, doenças crônicas podem levar a frequentes hospitalizações, cuja repercussão tem sido o interesse de investidas científicas de muitos estudiosos (GONÇALVES; VALLE, 1999, HOLANDA; COLLET, 2011; HOLANDA, 2008; NOBREGA et al., 2010; NONOSE, 2009). Algumas dessas repercussões são apontadas, de forma mais frequente, nas pesquisas 22 realizadas, como resultantes do afastamento da escola e da interferência na autoimagem. Tais repercussões foram aqui mencionadas, não por se considerá-las as mais importantes, mas sim pelo foco específico desta seção, embora se reconheça que existam outras repercussões igualmente relevantes. Entretanto, antes de adentrar as questões acima levantadas, faz-se necessário apresentar algumas das doenças crônicas mais comuns na infância, e que serviram de fundamentação à compreensão da doença foco desta pesquisa. Estudo realizado por Araújo, Mouro e colaboradores (2009), acerca do conhecimento da família sobre a condição crônica na infância, revelou que os diagnósticos mais comuns foram: hepatite autoimune, feocromocitoma, 3 síndrome nefrótica, leucemia, hipertensão portal, neurofibromatose4 e talassemia. Logo, em investigação realizada por Nóbrega et al., (2010), a respeito do significado da condição crônica para a criança em idade escolar, outras patologias foram foco de estudo, como a anemia falciforme, a dermatopolimiosite, a hipertensão porta, a púrpura de Henoch-Shonlein,5 a Púrpura e a Trombocitopênica Idiopática.6 Acrescenta-se também a pesquisa de Vieira e Lima (2002), com crianças e adolescentes com doenças crônicas, e as mudanças em sua vida. A população em estudo apresentou as seguintes patologias: hipertensão porta e varizes esofágicas; insuficiência tricúspide e hipertensão pulmonar; leucemia mielóide aguda; síndrome nefrótica; retocolite ulcerativa aguda e insuficiência mitral, aórtica e tricúspide. Outras patologias não citadas nos estudos também serviram como base para o entendimento das consequências biopsicossociais da mucopolissacaridose e têm permitido uma melhor compreensão acerca da condição crônica na infância, quais sejam: câncer (GONÇALVES; VALLE, 3 Tumor raro, originário das células cromafins, cuja manifestação clínica mais comum é elevação da pressão arterial. (PEREIRA et al., 2004) 4 É uma doença hereditária que se caracteriza pelo aparecimento de tumores benignos múltiplos do sistema nervoso. Sua evolução é progressiva e imprevisível. 5 É a vasculite sistêmica mais comum na infância, eventualmente acompanhada de artrite e/ou artralgia, dor abdominal, hemorragia gastrintestinal e/ou nefrite. (ALFREDO et al., 2007) 6 Trata-se de uma desordem autoimune que afeta tanto crianças quanto adultos. Na criança, tem instalação tipicamente aguda e curso autolimitado. (BORGES et al., 2006) 23 1999; LUCON, 2010), fibrose cística (MELO; MOREIRA, 2010; CASTELLANOS, 2007), paralisia cerebral (ARAÚJO, 2009) e síndrome de Down (PIMENTEL, 2009). Torna-se importante mencionar que, dentre as patologias crônicas citadas, com exceção da anemia falciforme, da fibrose cística, das neurofibromatoses, da síndrome de Down e da talassemia, não há um envolvimento genético em seu aparecimento, ou seja, as doenças crônicas e genéticas ainda têm ocupado pouco espaço nas discussões sobre saúde, doença e escolarização na infância. Na presença de uma doença crônica, em geral, tanto a criança quantos seus pais anseiam por uma “recuperação” da saúde, pois acreditam que um corpo doente apresenta limitações que o impedem de realizar outras atividades, tornando-se prioridade, portanto, a integridade física e a “normalidade” do estado de saúde. No estudo de Gonçalves e Valle (1999), os resultados apontaram que a criança percebe sua condição física como um fator limitante para a escolarização e que prejudica seu desempenho escolar, assim como as exigências impostas pelo tratamento. Esses achados corroboram com os encontrados por Mendonça e Ferreira (2005), em que se evidenciou a não frequência de crianças de até seis anos a programas de educação infantil, motivada, pelo relato das cuidadoras, por crises de asma. Tais descobertas evidenciam a primazia das questões da saúde em detrimento da escolarização. Para Santos (2000, p. 90), as “reações negativas dos pares podem mesmo contribuir para desmotivação, desinvestimento e retraimento face à escola, com possíveis sequelas na aprendizagem [...]”. A relação estabelecida por pessoas com patologias crônicas, em especial com o processo de escolarização, é apresentada por alguns autores. Estes justificam que: O desempenho social significativamente inferior também em relação à escola está provavelmente associado às faltas necessárias em função da doença, que prejudicam o desempenho acadêmico e social. (SALOMÃO JUNIOR, 2008, p. 190, grifo nosso) As preocupações com as questões orgânicas e com as hospitalizações assumem tal importância que os pais, muitas 24 vezes, não encontram alternativas que permitam que a criança e/ou adolescente frequente as aulas, resultando no abandono da escola. (VIEIRA; LIMA, 2002, p. 557, grifo nosso) Com vistas a contornar os problemas oriundos do afastamento da escola, sofridos por parte das crianças hospitalizadas, as políticas educacionais inclusivas têm fomentado a criação, no ambiente das enfermarias, de espaços adaptados ao aprendizado escolar, ao que se tem chamado, então, de Classes Hospitalares. Assim, quando submetidos às hospitalizações, crianças e adolescentes, doentes crônicos, podem se beneficiar dos investimentos educativos ali ofertados. Entretanto, para Holanda e Collet (2011, p. 385): As patologias que acometem esses jovens, muitas vezes, representam implicações físicas significativas. É importante, nesse sentido, refletir sobre o caráter da complexidade que permeia o processo de escolarização desses pacientes. Pelos discursos, percebemos limitações físicas reais, advindas da doença, tais como: dificuldade em manipular objetos; comprometimento dos membros superiores impedindo a escrita; dificuldades na fala e na deambulação; astenia. Além disso, percebe-se que as experiências de desvantagem na doença crônica não se limitam aos momentos de hospitalização, pois o retorno dessas crianças/adolescentes à escola ainda permanece a descoberto, no que tange à atenção especializada. Esta atenção poderia advir, de forma benéfica, do desdobramento daqueles serviços de escolarização hospitalar, sem contar que “[...] quando liberada para frequentar a escola regular, após a alta hospitalar, a criança com doença crônica vai se deparar com os déficits que retratam o descaso do sistema educacional brasileiro”. (HOLANDA; COLLET, 2011, p. 386) Em que pese o fato da relação dessas variáveis terem sido discutidas pela Psicologia, há que se demarcar esta lacuna no rol dos interesses da pesquisa educacional. Isto é posto, principalmente, caso se considere a amplitude do campo de pesquisa em educação especial, que deve incluir, no âmbito dos alunos com necessidades especiais que investiga, não somente aqueles classicamente caracterizados como pessoas com deficiência, mas 25 igualmente aqueles com enfermidades crônicas (quer originem ou não deficiências). Assim, a escolarização deve fazer parte do cotidiano de todas as crianças, sejam elas entendidas, ou vistas, como alunos “normais” ou como necessitando de um atendimento educacional específico, possibilitando-se, assim, uma formação integral a todos os sujeitos envolvidos. Por isso, é fundamental fazer com que essas crianças/adolescentes e seus responsáveis percebam que, mesmo em tratamento, é possível dar continuidade aos seus estudos. Neste caso, cabe ao professor responsável pelo processo de ensino-aprendizagem mediar e facilitar a participação desses alunos nas atividades escolares e fazer com que haja sua inclusão e socialização, pois “[...] a prática da inclusão deve ser direcionada a todos, independentemente do seu talento, deficiência, origem socioeconômica e cultural”. (STAINBACK; STAINBACK, 2004, p. 21) Portanto, compreender as crianças com mucopolissacaridose, a partir desta perspectiva, conduz a um caminho que nos leva a perceber que, apesar de suas disfunções orgânicas e o consequente comprometimento de diversos sistemas do corpo humano, elas continuam possuindo os requisitos que são muitas vezes conferidos apenas às pessoas consideradas dentro do padrão geral de normalidade. Logo, devemos encará-las como parte integrante dos processos sociais, especialmente os educativos. Neste sentido, devem ocorrer estratégias metodológicas específicas, que sejam instrumentos facilitadores da promoção efetiva da inclusão de alunos com deficiência/doença crônica no contexto educativo. Na medida em que a Classe Hospitalar, por meio do atendimento pedagógico-educacional ofertado às crianças/adolescentes com MPS, reconhece e valoriza as limitações desses sujeitos, certamente tais limitações não serão impedimentos à realização do processo de ensino-aprendizagem. 26 4.DA DEFICIÊNCIA PARA A COMPREENSÃO DA DOENÇA: FOCO NAS MUCOPOLISSACARIDOSES [...] quando um estigma é imediatamente perceptível, permanece a questão de se saber até que ponto ele interfere com o fluxo da interação. (GOFFMAN, 2012, p. 59) Doenças com curso crônico e progressivo acabam por gerar relações estabelecidas entre quem percebe a diferença e quem as tem. Assim, alguns estigmas fazem com que as pessoas por elas acometidas se sintam limitadas e incapazes, sendo as barreiras sociais e atitudinais os maiores entraves a uma vida plena. As mucopolissacaridoses (MPS) enquadram-se nesta classificação, e ainda trazem consigo outros referenciais que precisam aqui ser considerados, quais sejam: é uma doença genética rara, o que a torna uma patologia que requer atenção especial, pois, além de não ter cura, apresenta um arsenal de morbidades e um alto índice de mortalidade, assim como muitas das doenças crônicas, já mencionadas, que atingem a população infantil. Além disso, é uma doença multissistêmica. Dito de outra forma, a principal característica da MPS é que ela é uma doença que “aparece para os outros”, e piora com o tempo. Ao contrário de algumas doenças genéticas, já bem estudadas, a MPS ainda requer estudos que melhor favoreçam a sua compreensão. Entretanto, da mesma forma que a Síndrome de Down, por exemplo, a MPS também apresenta traços fenótipos característicos, muitas vezes, levando à construção de percepções que quase sempre tendem a depreciar o potencial que estas crianças/adolescentes podem apresentar (PIMENTEL, 2009; BISSOTO, 2005). Tais percepções tendem a reduzir a pessoa a sua “falha” genética ou a sua “desvantagem”. Para Mangabeira (2004 p. 16), “[...] o caráter constitucional genético não se modifica, mas o caráter ambiental, lógico que sim”. As MPS constituem doenças genéticas raras, crônicas e progressivas, de herança autossômica recessiva, por Erros Inatos do Metabolismo (EIM) 27 (CARAKUSHANSKY, 1979; PINTO, 2005; SANTOS et al, 2008; COSTA-MOTA et al., 2009; ALBUQUERQUE, 2010), que levam à deficiência de enzimas atuantes nos lisossomos das células, compondo o grupo de Doenças de Depósito Lisossômico. Das doenças causadas por EIM, as lisossômicas são responsáveis por cerca de 30% a 40% dos EIM diagnosticados. (BORGES et al., 2008) As enzimas estão envolvidas na degradação de glicosaminoglicanos (GAG), denominados anteriormente de mucopolissacarídeos. Assim, como o lisossomo não possui uma enzima específica que participará do processo gradativo, os GAG ficam acumulados nos lisossomos de diferentes partes dos tecidos: ósseos, cardíacos e nervosos e ocasionam alterações morfológicas e funcionais. E é este acúmulo que configura o quadro clínico progressivo e multissistêmico da doença. Em geral, esses pacientes são fenotipicamente normais, ao nascerem, mas progressivamente vão adquirindo as características da doença. (MONTENEGRO; FRANCO, 1999; MUGAYAR, 2000; GIUGLIANI et al., 2010; BICALHO et al., 2011; MAIHANA et al., 2010; BOY; SCHWARTZ, 2011) Os dados relativos à incidência das MPS no Brasil são imprecisos. Contudo, estudo realizado por Vieira T. (2007), sobre a história natural da MPS, com 97 famílias, apontou a região Sudeste com a maior inclusão da população em estudo (Figura 2) Figura 2 – Pacientes com MPS, por região brasileira Fonte: VIEIRA (2007,). 28 Quando descrita pela primeira vez, em 1917, a MPS ficou conhecida pelo termo gargulismo, em comparação com as gárgulas que, quase sempre, representam figuras grotescas. As manifestações mais frequentes da MPS incluem fácies características, opacificação córnea, macroglossia, perda auditiva, problemas respiratórios, hérnia umbilical e inguinal, limitação da mobilidade articular e, em alguns casos, déficit cognitivo. (PINTO, 2005; BARBOSA; BORGES; BRANDÃO, 2007; TURRA; SCHWARTZ, 2009; ALBUQUERQUE, 2010; GIUGLIANI et al., 2010; MAIHANA et al., 2010; BICALHO et al., 2011; GOMES et al., 2011) As características faciais grosseiras dos indivíduos afetados acabam por se tornar o fato que mais chama a atenção, nessas crianças/adolescentes acometidos por MPS. Estes acabam se configurando em sujeitos que se encontram fora dos padrões estéticos ditados socialmente, pois, “[...] geralmente, a sociedade idealiza modelos, buscando cada vez mais homogeneidade, o que vai criando ou contribuindo para o aumento da discrepância entre o que é pretendido ou desejável”. (ARAÚJO D., 2009, p. 41) Tal aspecto merece destaque, pois a “visibilidade” que a doença acarreta, no que respeita às alterações físicas, compõe uma das principais preocupações das crianças acometidas por tais doenças crônicas. Os resultados encontrados no estudo de Vieira e Lima (2002), a respeito das mudanças provocadas em crianças/adolescentes com doenças crônicas, evidenciaram que, em decorrência de certas restrições em suas atividades e à sua aparência física, esses sujeitos podem nutrir sentimentos de inferioridade. Além disso, a valorização de um corpo perfeito faz com que os referidos sujeitos não se sintam à vontade, com comentários acerca da aparência física e problemas de saúde, pois desejam ser vistos como pessoas “normais”, e não sob o estigma de doentes. Pesquisas mais específicas demonstraram as bases fisiológicas e biológicas da MPS e forneceram um melhor entendimento a respeito da doença. Ocorridos apenas nas décadas de 1950 e 1960, houve a descoberta de que a característica essencial da patologia não se restringe a alterações puramente físicas. (AZEVEDO, 2007) 29 Assim, as manifestações clínicas, bioquímicas e sintomatológicas, apresentadas durante toda a instalação da patologia, dependem de qual enzima está ausente. Isso irá determinar os diferentes tipos de classificação: MPS I, MPS II, MPS III, MPS IV, MPS VI, MPS VII, MPS VII (Tabela 1). Entretanto, não há tratamento curativo para nenhum dos tipos de MPS, havendo apenas tratamento dos sintomas e de suporte. Figura 3 – Classificação das mucopolissacaridoses Fonte: BOY; SCHWARTZ (2011) O tratamento da MPS, foi sendo modificado na medida em que a patologia foi melhor compreendida, Giugliani e colaboradores, identificaram no estudo empreendido sobre a TRE que, [...] antes do advento de terapias dirigidas para a restauração da atividade da enzima deficiente, o tratamento das MPS I, II e VI tinha como principal foco a prevenção e o cuidado das complicações, aspecto ainda bastante importante no manejo desses pacientes. Na década de 80 foi proposto o tratamento das MPS com transplante de medula óssea/transplante de células tronco hematopoiéticas que ainda hoje é recomendado para pacientes com a forma grave de MPS I diagnosticados antes dos dois anos de idade, pela possibilidade desta terapia prevenir ou retardar o dano cognitivo. Na década de 90 começou o desenvolvimento da Terapia de Reposição Enzimática (TRE), que se tornou uma realidade aprovada para 30 uso clínico em 2003 para MPS I, em 2005 para MPS VI e em 2006 para MPS II. (2010, p. 272-3) Assim, a Terapia de Reposição Enzimática (TRE) passou a ser realizada, ainda de forma experimental, em pacientes com mucopolissacaridose, visando promover uma melhor qualidade de vida as crianças, adolescentes e jovens acometidos pela patologia, já que o comprometimento neurológico e/ou as limitações físicas impostas pelo adoecimento crônico, não serão regredidos, ou seja, a medicação irá possibilitar a não progressão da doença, assim como dos aspectos físicos que geram a estigmatização. (ALBUQUERQUE, 2010). Há na Bahia 36 (trinta e seis) crianças com diagnóstico de MPS. Tal estudo se constitui em uma pesquisa específica da área. Essas crianças e adolescentes são internados, uma vez por semana, para a realização da TRE. Trata-se da “administração periódica, por via venosa, da enzima específica deficiente no paciente”. (GIUGLIANI et al., 2010, p. 273) A realização do procedimento, requer cuidados na preparação, manejo e administração da medicação: Recomenda-se que a infusão seja inicialmente realizada no ambiente hospitalar e, de preferência, em ambiente lúdico e agradável para o paciente [...]. Utilizando técnicas adequadas de assepsia, a medicação deve ser preparada como indicado: a) Determinar o número de frascos a serem diluídos, com base no peso do paciente e na dose padrão recomendada da enzima de reposição, ajustando de tal forma que sejam utilizados frascos completos; b) Retirar os frascos da geladeira para que alcancem a temperatura ambiente. Esses frascos não devem ser aquecidos; c) Observar o aspecto, uma vez que a solução é transparente ou discretamente amarelada, e clara ou levemente opalescente. Se a solução apresentar características alteradas, recomenda-se não utilizar estes frascos; d) Determinar o volume final total a ser infundido, que depende do peso do paciente e da medicação a ser preparada [...]e) Aspirar lentamente o volume de enzima calculado dos frascos, cuidando para não agitar a solução, pois a agitação pode desnaturar o produto e torná-lo biologicamente inativo; f) Retirar da bolsa de soro fisiológico correspondente (100 mL ou 250 mL) um volume igual àquele calculado e retirado dos frascos de enzima, de tal forma que ao acrescentar o volume de enzima, seja reconstituído um volume final total igual a 100 mL ou 250 mL; o acréscimo da solução de enzima na bolsa de soro fisiológico deve ser lento e a bolsa com a solução final deverá ser levemente movimentada para permitir a distribuição 31 homogênea da medicação. Esta solução deverá ser usada imediatamente. Se o uso imediato não for possível, a solução deverá ser armazenada sob refrigeração (2o C a 8o C) por um período máximo de 36 horas desde o preparo até o final da administração da mesma. (GIUGLIANI et al., 2010, p. 274) A descrição do processo que envolve a TRE nos permite compreender o cuidado do preparo que envolve a terapêutica. Contudo, interessa aqui destacar o quão doloroso e traumatizante é para os alunos-pacientes envolvidos, pois as crianças/adolescentes ficam durante todo esse período acamadas e sob o monitoramento contínuo de médicos e enfermeiros, que estão a todo tempo fazendo as observações cabíveis ao desenvolvimento do estudo piloto. A descrição dos tipos de mucopolissacaridose visa permitir ao leitor uma melhor compreensão dos aspectos biológicos que envolvem a manifestação da doença. 4.1. Mucopolissacaridose tipo I Denominada como Síndrome de Hurler, é subdividida em três formas (síndromes de Scheie, Hurler-Scheie e Hurler), que diferem entre si, de acordo com o nível de comprometimento do organismo e a severidade, sendo compreendidas como graus leve, intermediário e grave, respectivamente. Dentre elas, a MPS I é considerada a mais grave, pela deficiência de α –Liduronidase, levando a sintomas que podem ser identificados, nos primeiros meses de vida, como traços faciais grotescos, baixa expectativa de vida, dificuldades respiratórias, baixa estatura, limitação progressiva das articulações, mãos em garra, opacificação córnea, perda auditiva, macroglosia e retardo mental etc. (CARAKUSHANSKY, 1979; AZEVEDO, 2007; VIEIRA T., 2007) 32 4.2. Mucopolissacaridose tipo II A Síndrome de Hunter ou MPS II, diferentemente dos outros tipos de MPS, apresenta condição recessiva ligada ao cromossomo X, com ausência da enzima Iduronato-sulfatase, e evidencia as mesmas alterações da MPS I. Porém, a progressão da doença é mais lenta, normalmente seus sintomas são identificados mais tarde, podendo evoluir com retardo e degeneração mental, algumas vezes levando a distúrbios do comportamento, como agitação, hiperatividade e dificuldade de concentração. (PINTO, 2005) 4.3 Mucopolissacaridose tipo VI A síndrome funcionamento de Maroteaux-Lamy, ou anormal da enzima MPS Tipo VI, envolve o N-acetilgalactomissina 4-sulfatase (Arilsulfatase B), levando a baixa estatura, doença articular, perda auditiva, infecções respiratórias frequentes, alterações cardiovasculares, hipoacusia, alterações respiratórias, dentre outras. Vale lembrar que todas as MPS apresentam curso crônico e progressivo, e, na grande maioria das vezes, seu comprometimento é multissistêmico. (COSTA-MOTA, 2010; GIUGLIANI et al., 2010) Para Santos, A. et al. (2008, p. 131), “[...] a MPS VI parece ser um dos tipos mais raros e apresenta a estimativa de 1:1.298.469 dos nascidos vivos. (COSTA-MOTA et al., 2009, p. 1). Contudo, no Brasil a situação é diferente, pois este é um dos tipos mais frequentemente diagnosticados” e, ao contrário de outros tipos de MPS, o retardo mental acaba por não compor o quadro das manifestações clínicas da MPS VI. Esse tipo de MPS é mais frequente em um município do sertão da Bahia, denominado de Monte Santo. O município de Monte Santo compreende uma área de 3.298 km2, estando a uma distância de 352 km de Salvador, capital da Bahia, e possui aproximadamente 56.602 habitantes (BENDER et al., 2010), conhecido como o palco da Guerra de Canudos, que dizimou grande parte da população daquela região. Estudos realizados pela Universidade Federal da Bahia, mais 33 especificamente, grupos de genética médica, têm apontado o casamento consanguíneo como sendo uma possível causa da presença da doença na mencionada região. Outra questão geradora e objeto do atual estudo é a existência de casos notificados, na cidade de Salvador, da referida patologia. Tal fato pode se justificar, em decorrência do deslocamento de pessoas para os grandes centros urbanos, em busca de melhores condições de vida. Esta razão pode ser o motivo da presença de crianças/adolescentes com MPS na cidade de Salvador. É patente a preocupação quanto às manifestações clínicas decorrentes desta patologia. Porém, se questiona como a escola, professores, alunos e demais sujeitos elaboram significados e acolhem esses sujeitos que, além das limitações motoras, por vezes podem apresentar déficits sensoriais e cognitivos, carregando, ainda, a marca estampada das diferenças no rosto típico da MPS. Vale ainda lembrar que, em decorrência do tempo de internação para o tratamento, que visa não à cura da doença, mas impedir o avanço da patologia e que novas complicações sejam instaladas, estas crianças/adolescentes precisam comparecer ao hospital pelo menos uma vez por semana. Logo, a ausência destes do ambiente escolar, quando contabilizadas durante o ano letivo, são de extrema significância, pois a aquisição de conhecimentos básicos, de leitura, escrita e operações matemáticas, tende a ser prejudicada. Há um espectro que diferencia crianças e adolescentes que vivem com doenças crônicas muito graves daquelas que tem mucopolissacaridose. As primeiras (anemia falciforme, asma, fibrose cística...), não possuem nenhuma marca que as diferenciem visualmente. Já as segundas apresentam além de uma grave síndrome, deficiências associadas (visual, auditiva, motora e intelectual). Tais fatos talvez nos ajudem a compreender porque essas crianças e adolescentes portadores dessas deficiências, associadas a uma doença crônica progressiva, devem ser protegidos pela Política de Educação Especial. 34 Para isso, necessário se faz a adequação e a ampliação do atendimento a todos aqueles que apresentam uma condição crônica. Depois do exposto, torna-se necessário ressaltar que poucos estudos são encontrados na literatura sobre as mucopolissacaridoses, principalmente envolvendo aqueles focados na escolarização de crianças com esta patologia. Por esta razão, a doença ainda é pouco conhecida, o que dificulta uma intervenção a nível educacional. 35 5. OS CAMINHOS TRILHADOS PARA A COMPREENSÃO DO FENÔMENO É preciso que o pesquisador revele muito claramente os critérios em que se baseou para fazer suas escolhas, seja dos sujeitos, seja da unidade de análise e principalmente como selecionou os dados apresentados e os descartados. (ANDRÉ, 2008, p. 36) 5.1 CARACTERIZAÇÃO DO ESTUDO A fim de investigarmos o papel da Classe Hospitalar na atenção terapêutica de alunos-pacientes com mucopolissacaridose, necessário se fez traçarmos caminhos que nos levassem à compreensão do fenômeno escolhido para esta investigação científica. O estudo adotou como referência, na investigação social, as dimensões propostas por Bauer, Gaskell e Allum (2008, p. 19), pois, para estes autores, “[...] estas dimensões descrevem o processo de pesquisa”, quais sejam: (a) delineamento da pesquisa de acordo com seus princípios estratégicos; (b) escolha do método de coleta de dados; (c) tratamento analítico dos dados. Na Figura 4 é possível identificar as opções metodológicas realizadas pela pesquisadora. TIPO DE ABORDAGEM • QUALITATIVA DELINEAMENTO DA PESQUISA • ESTUDO DE CASO MÉTODO DE COLETA DE DADOS • ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMIESTRUTURADO ANÁLISE DE DADOS • ANÁLISE DE CONTEÚDO • DESENHO LIVRE Figura 4 – Dimensões do processo de pesquisa Fonte: Adaptado de Bauer, Gaskell e Allum (2008) Para a elaboração desta pesquisa foram selecionados, como subsídios teóricos, publicações de autores com os novos paradigmas da pesquisa qualitativa e que vêm ao encontro da proposta do atual estudo (MINAYO, 2010; 36 TRIVIÑOS, 2009; ANDRÉ, 2008; FRANCO, 2008; BARDIN, 2007; ALVESMAZZOTTO, 2006; CHIZZOTTI, 2003; DUARTE, 2002; YIN, 2001; LAVILLE; DIONNE, 1999), uma vez que esta investigação permeia diferentes áreas do conhecimento humano e da pesquisa científica, em especial a educação e a saúde. Para Chizzotti (2003), falar em qualitativo significa compartilhar com pessoas fatos e contextos que fazem parte do objeto de estudo, para que se possa ter, como resultantes, significados possíveis e ocultos, que só podem ser percebidos através de uma atenção sensível. Assim, a opção pela abordagem qualitativa deu-se por acreditarmos que a sua principal finalidade não é apenas expor as opiniões das pessoas, mas, sobretudo, explorar os aspectos de tais opiniões e as diferentes percepções de um referido assunto, no nosso caso, a Classe Hospitalar. Para Minayo (2010, p. 57): [...] o método qualitativo é o que se aplica ao estudo da história, das relações, das representações, das crenças, das percepções e das opiniões, produtos das interpretações que os humanos fazem a respeito de como vivem, constroem seus artefatos e a si mesmos, sentem e pesam. [...] além de permitir desvelar processos sociais ainda pouco conhecidos referentes a grupo particulares, propicia a construção de novas abordagens, revisão e criação de novos conceitos e categorias durante a investigação. O conhecimento adquirido sobre o tema em questão fez com que o pesquisador estabelecesse conceitos teóricos e os categorizasse através da utilização de técnicas e análises específicas e contextualizadas, por meio do uso de um importante recurso que Minayo denomina de objetivação,7 na abordagem qualitativa (Minayo, 2010). Assim, considerando o caráter único da experiência de promover atendimento pedagógico-educacional aos alunos-pacientes com mucopolissacaridose, foi indispensável que a pesquisa qualitativa fosse empregada, objetivando acessar a riqueza da complexidade desta experiência. 7 “[...] o processo de investigação que reconhece a complexidade do objeto das ciências sociais, teoriza, revê criticamente o conhecimento acumulado sobre o tema em pauta, estabelece conceitos e categorias, usa técnicas adequadas e realiza análises ao mesmo tempo específicas e contextualizadas”. (MINAYO, 2010, p. 62) 37 A partir da referida abordagem, foi possível investigar os significados atribuídos ao papel da Classe Hospitalar e vivenciar a experiência de sofrimento de crianças e adolescentes, em situação de hospitalização e com uma doença rara, genética, crônica e progressiva. A atual investigação utilizou o estudo de caso, como estratégia de pesquisa, para a melhor compreensão do fenômeno. Para Minayo (2010, p. 164): [...] a preferência por estudos de caso deve ser dada quando é possível fazer observação direta sobre os fenômenos. Os estudos de caso utilizam estratégias de investigação qualitativa para mapear, descrever e analisar o contexto, as relações e as percepções a respeito da situação, fenômeno ou episódio em questão. E é útil para gerar conhecimento sobre características significativas de eventos vivenciados, tais como intervenções e processo de mudança. Portanto, a descrição e a análise da Classe Hospitalar, enquanto contexto de investigação exigiram uma forma particular de compreensão, que só foi possível através do estudo de caso, pois, uma de suas vantagens, é focalizar um contexto em particular e fornecer informações valiosas, para medidas de natureza prática e decisões políticas. (ANDRÉ, 2008) Ressaltamos que “os estudos de caso são valorizados pela sua capacidade heurística, isto é, por jogarem luz sobre o fenômeno estudado, de modo que o leitor possa descobrir novos sentidos, expandir suas experiências ou confirmar o que já sabia [...]”. (ANDRÉ, 2008, p. 34) Assim, espera-se que este estudo amplie o conhecimento acerca da temática da Classe Hospitalar, que ainda é um campo nascente de saberes e práticas. 38 5. 2 CONTEXTO DA PESQUISA Na observação de campo deve ser dada atenção especial ao contexto [...] para propiciar experiência vicária ao leitor, para 'dar a sensação de ter estado lá' a situação física precisa ser muito bem descrita. A observação deve incluir plantas, mapas, desenhos, fotos [...]. (ANDRÉ 2008, p. 52) O atual estudo teve, como campo empírico inicial, a Enfermaria Pediátrica de uma das unidades do Complexo do Hospital Universitário Professor Edgard Santos. Tal Complexo é constituído por três unidades, quais sejam: o Centro Pediátrico Professor Hosannah de Oliveira (CPPHO); o Ambulatório Professor Magalhães Neto (AMN) e o Hospital Universitário Professor Edgard Santos (HUPES), onde se situa a referida Enfermaria. O mencionado Complexo presta assistência a um amplo público, pelo Sistema Único de Saúde (SUS), e funciona como espaço de ensino, pesquisa e extensão. O HUPES possui 90 leitos pediátricos, distribuídos entre sua Emergência, Centro Pediátrico Professor Hosanah de Oliveira, Enfermaria da UDAP e enfermarias de especialidades clínicas e cirúrgicas. No que diz respeito ao atendimento pediátrico, muitos são os diagnósticos que levam à hospitalização, em especial aqueles decorrentes de uma doença crônica e/ou progressiva, como anemia falciforme, asma, mucopolissacaridose, diabetes, anorexia nervosa, pneumonias, osteogênese imperfeita, dentre outros. Os resultados da pesquisa realizada por Carvalho (2012) apontaram que 2.150 crianças e adolescentes, na faixa etária compreendida entre 0-18 anos, foram internadas no HUPES, no ano de 2009, e, 1.982, no ano de 2010. No tocante aos diagnósticos, no ano de 2009, Carvalho (2012) identificou que sete patologias mais frequentes levaram a internação dos pacientes, em 97 dessas internações foram por hipertrofia das amígdalas com hipertrofia das adenóides; 94 por diarréia e gastroenterite; 81 por pneumonia não especificada; 76 por influenza com pneumonia; 75 por bronquiolite aguda; 70 internações se ocorreram em decorrência da osteogênese imperfeita. No ano de 2010, as 07 (sete) enfermidades que mais geraram internações foram: 185 por outras pneumonias; 175 por diarréia e gastroenterite; 100 por hipertrofia das amígdalas com hipertrofia das 39 adenóides; 66 por internações por pneumonia não especificada; 51 por infecção bacteriana não especificada; 51 por osteogênese imperfeita e 45 por bronquite aguda não especificada. No caso, dos alunos-pacientes com mucopolissacaridose, estes realizavam a Terapia de Reposição Enzimática (TRE) na Enfermaria 1A, do referido hospital, sendo o atendimento pedagógico feito no leito, durante a TRE. Contudo, a preparação da terapia requereria o preparo de uma prémedicação, com antipiréticos e/ou anti-histamínicos, que deveriam ser administrados cerca de uma hora antes do início da infusão. Isso, em alguma medida, permitiu que o atendimento fosse iniciado no espaço da Classe Hospitalar (Figura 5), pois eles não estariam “ligados” à bomba de infusão (nome utilizado para se referir ao aparelho utilizado na TRE). Figura 5 – Espaço da Classe Hospitalar do HUPES Fonte: Arquivo pessoal. A partir de 2010, a Classe Hospitalar oficialmente criada por meio da Portaria 189/2009, passou a desempenhar suas atividades em um espaço cedido pela instituição, na enfermaria pediátrica 1A do HUPES, sendo as crianças, ali internadas, sujeitos do processo de escolarização ofertado. O uso deste espaço para a realização de atividades pedagógicas com os alunos-pacientes de MPS oportunizou a busca de maiores desafios, já que a restrição ao leito muitas vezes não permitia a exploração de atividades artesanais e/ou o uso de jogos eletrônicos, como o Wii Sportes. (Figura 6) 40 Figura 6 – Alunos-pacientes realizando atividade pedagógica Fonte: Arquivo pessoal. É importante ressaltar que a Classe Hospitalar do HUPES funcionou, até o final do ano de 2008, com a cessão de professores da Prefeitura Municipal de Salvador. Desde o início de 2009, entretanto, atendendo a reordenamentos de gestão daquele hospital universitário, alguns serviços, até então prestados através de convênios, foram incorporados por unidades da própria Universidade Federal da Bahia, neste caso pela Faculdade de Educação, através de seu Grupo de Estudos sobre Inclusão e Necessidades Educacionais Especiais (GEINE). Assim, o espaço da Classe Hospitalar se inseriu no contexto do hospital, tendo sua equipe docente formada por pedagogas, mestrandas e doutorandas da Pós-Graduação em Educação da FACED/UFBA, bem como por bolsistas de diversas agências de fomento à pesquisa. Neste espaço, estas pesquisadoras vinham exercitando a necessária imersão no campo empírico de suas investigações, além de atuarem como professoras-tutoras das atividades desenvolvidas na classe, junto aos alunospacientes, e na orientação pedagógica imediata das estagiárias graduandas. A Classe Hospitalar do HUPES atende crianças e adolescentes internados na 41 Enfermaria Pediátrica e na Unidade Metabólica, prestando atendimento pedagógico-educacional, no turno matutino e vespertino. Em decorrência de algumas mudanças estruturais, a Terapia de Reposição Enzimática passou a não mais acontecer na Enfermaria Pediátrica, e sim no Núcleo de Ensaios Clínicos da Bahia (NECBA), também localizado no HUPES e tinha como principal objetivo otimizar a realização de ensaios clínicos, por meio da adaptação de uma enfermaria e de um espaço para o atendimento leito-dia, assim como a adequação da farmácia para armazenamento, manipulação e distribuição de medicamentos, com a aquisição de novos equipamentos. Em razão da realização de uma pesquisa, que está experimentando a Terapia de Reposição Enzimática, os alunos-pacientes com MPS se encontravam internados em regime de leito-dia, no NECBA do referido Hospital, com seus acompanhantes e os profissionais de saúde. Após a aprovação do Comitê de Ética, a coleta de dados foi realizada neste espaço, abrangendo todos os sujeitos da pesquisa. 5.3 SUJEITOS DA PESQUISA A definição dos critérios de seleção dos sujeitos da investigação empírica é fundamental, pois pode interferir na qualidade das informações que servirão como subsídio para a realização da análise e a compreensão do problema delineado. (DUARTE, 2002) Assim, optamos por centralizar nosso olhar no fenômeno, a partir da percepção dos diferentes sujeitos, como forma de ampliar a visão acerca do objeto estudado. Identificamos três grupos de interesse para esta etapa do estudo: profissionais de saúde, que atuam diretamente com os pacientes de MPS; acompanhantes e os próprios alunos-pacientes. Para cada um dos grupos foi elaborado um roteiro de entrevista semi-estruturada (Apêndices 2, 3 e 4). Participaram da pesquisa 14 (quatorze) sujeitos, sendo 4 (quatro) alunos-pacientes com MPS, 5 (cinco) acompanhantes e 5 (cinco) profissionais 42 de saúde. Ressaltamos que, na escolha dos alunos-pacientes, utilizamos o seguinte critério de inclusão: os sujeitos deveriam ter sido submetidos à TRE e terem recebido atendimento pedagógico de professoras da Classe Hospitalar. Foram excluídos aqueles alunos-pacientes que apresentaram alteração cognitiva severa e não receberam atendimento pedagógico, pois a presença de déficit cognitivo impediu a comunicação e/ou interação com o professor (n = 2). Também foram excluídos os alunos-pacientes que, em decorrência do deslocamento de outra cidade e o uso de histamínicos, estavam sempre dormindo e usando a máscara de Venturi, por problemas respiratórios (n = 1). No que se refere aos profissionais de saúde, foram incluídos aqueles que atuavam diretamente no acompanhamento e monitoramento da Terapia de Reposição Enzimática. Acredita-se que a escuta desses sujeitos é de suma importância. Por um lado, a família, por considerarmos o importante papel que desempenha no apoio e inserção dos seus filhos no contexto social e escolar, e, por outro, as próprias crianças/adolescentes, pois “[...] fazem parte da pesquisa científica há muito tempo, principalmente na condição de objeto a ser observado, medido, descrito, analisado e interpretado”. (CAMPOS, 2008, p. 35) Assim, pretendemos neste estudo dar voz aos alunos-pacientes, moldando a pesquisa às possibilidades de captar essa voz. (CAMPOS, 2008), e, dessa forma, podermos melhor compreender as contribuições da Classe Hospitalar no contexto quase sempre clínico do Hospital. 5.4 TÉCNICAS EMPREGADAS E PROCEDIMENTOS DE COLETA A fim de coletar dados que permitissem descrever e analisar o fenômeno em questão, elegemos como procedimento o roteiro de entrevista semiestruturada e individual (Apêndices 1, 2 e 3). Para Triviños (2009, p. 146): [...] a entrevista semi-estruturada, em geral, é aquela que parte de certos questionamentos básicos, apoiados em teorias e hipóteses, que interessam à pesquisa, e que, em seguida, oferecem amplo campo de interrogativas, fruto de novas hipóteses que vão surgindo à medida em que se recebem as 43 respostas do informante. Desta maneira, o informante, seguindo espontaneamente a linha de seu pensamento e de suas experiências dentro do foco principal colocado pelo investigador, começa a participar da elaboração do conteúdo da pesquisa. Logo, optamos por este método de coleta de dados, porque esta técnica pode permitir ao pesquisador um mergulho em profundidade; facilitar o encontro dos indícios e significados atribuídos à realidade, em cada participante, além de “[...] descrever e compreender a lógica que preside as relações que se estabelecem no interior daquele grupo [...]”. (DUARTE, 2004, p. 215) Os objetivos da pesquisa e a forma de publicação foram descritos cautelosamente a todos os participantes. As entrevistas com os profissionais de saúde ocorreram em seus locais de trabalho e as dos alunos-pacientes e seus acompanhantes no próprio leito, aquelas foram gravadas e transcritas, logo depois de encerradas, pela própria pesquisadora, já que segundo Szymanski, Almeida e Prandini (2011, p. 77): [...] o processo de transcrição de entrevistas é também um momento de análise, quando realizada pelo próprio pesquisador. Ao transcrever, revive-se a cena da entrevista, e aspectos da interação são lembrados. Cada reencontro com a fala do entrevistado é um novo momento de reviver e refletir. Além disso, as entrevistas transcritas passaram pela conferência de fidedignidade (cotejar a gravação e o texto transcrito, conferindo possíveis discrepâncias), e como este conteúdo não se destinava à análise do discurso, as falas foram editadas. No entanto, vale lembrar que toda e qualquer correção foi feita com o devido cuidado, para não descaracterizar o sentido intencional dado pelos entrevistados. A fim de garantir o anonimato aos sujeitos participantes, foram atribuídos os seguintes códigos: Aluno-paciente (Ap1; Ap2...); Acompanhantes (Ac1; Ac2...); Profissionais de saúde (Ps1, Ps2...). A escolha da ordem de aparecimento das identificações não foi aleatória, ou seja, as indicações numéricas revelam a ordem de realização das entrevistas. 44 Para a realização da pesquisa, os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (Apêndice 4), em duas vias, sendo uma delas entregue a cada um dos sujeitos e a outra arquivada. Ressaltamos que, para os alunos-pacientes menores de idade, solicitamos a assinatura de seus respectivos responsáveis. 5.5 ANÁLISES DOS DADOS Embora reconheçamos a existência de diferentes possibilidades teóricas e práticas de análise qualitativa do material coletado, como, por exemplo, a análise do discurso (ORLANDI, 2005) e a análise hermenêutico-dialética (HABERMAS, 2003; MINAYO, 2010), fizemos, nesta investigação, a opção pela análise de conteúdo (BARDIN, 2007). Contudo, vale ressaltar que tal escolha se fundamenta na busca de um instrumental que corresponda às dimensões e à dinâmica, que se constituíram ao longo do delineamento desta pesquisa, ou seja, penetrar nos significados que os atores sociais compartilharam na vivência de sua realidade, para analisar, compreender e interpretar um material qualitativo (MINAYO, 2010). Assim, a análise dos dados ocorreu em três etapas, tendo como referência o método descrito por Bardin (2007, p. 89): a primeira delas trata da pré-análise, etapa de organização propriamente dita do material, com o objetivo de “[...] tornar operacional e sistematizar as ideias iniciais [...]”. Nesta fase, o pesquisador toma decisões, optando pelos documentos que serão utilizados, assim como define a elaboração dos indicadores que irão fundamentar a interpretação final. A realização desta etapa levou em conta as orientações propostas por Bardin (2007), ou seja, realizamos inicialmente a leitura flutuante, que permitiu ao pesquisador o contato com os documentos e forneceu informações acerca do problema em questão. Esses documentos compuseram o corpus da pesquisa. Após a definição do corpus constitutivo deste estudo, pelos textos transcritos das entrevistas semi-estruturadas, necessário se fez seguirmos as 45 regras descritas por Bardin (2007), quais foram: as regras da exaustividade e da homogeneidade. A leitura das entrevistas foi realizada de maneira minuciosa, e o texto foi analisado, linha por linha, sendo sublinhado, na tentativa de encontrar, nas respostas dadas pelos sujeitos, os significados atribuídos ao problema de pesquisa. Para a realização desta análise, optamos pela unidade de registro do tipo tema. Assim, após a preparação do corpus empírico, realizamos a segunda etapa, denominada por Bardin (2007) de exploração do material. Nesta fase, foram delimitadas, a partir de cada pergunta operacional, as respectivas codificações (Apêndice 5). Posteriormente, realizamos comparações e agrupamentos das unidades de significado atribuídas pelos sujeitos de pesquisa, através de suas similaridades e diferenças, de tal modo que estas compuseram os temas desta pesquisa (Apêndice 6). A terceira e última etapa, tratamento dos resultados obtidos e interpretação, ocorreu após a exaustiva leitura das entrevistas e dos seus respectivos temas, e, tendo como referência os temas, definimos as categorias. Vale ressaltar que o critério utilizado para a categorização desta pesquisa foi o semântico, constituído por categorias temáticas. (Apêndice 7). 46 A figura 7 demonstra os caminhos trilhados para a compreensão do fenômeno. EXPLORAÇÃO DO MATERIAL (codificações; temas) TRATAMENTO DOS RESULTADOS OBTIDOS E INTERPRETAÇÃO (categorização) TRANFORMAÇÃO DOS DADOS BRUTOS EM DESCOBERTAS CIENTÍFICAS PRÉ-ANÁLISE (leitura flutuante; definição do corpus) Figura 7– Caminhos trilhados para a compreensão do fenômeno Fonte: pesquisa realizada 5.6 ASPECTOS ÉTICOS O atual estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Professor Edgard Santos (CEP/HUPES) (Anexo 1). Os participantes da pesquisa assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), sendo-lhes assegurada a privacidade e o anonimato, bem como a utilização correta das informações, segundo as prerrogativas da Resolução 196/96, do Conselho Nacional de Pesquisas envolvendo seres humanos, do Ministério da Saúde, de acordo com a realização do trabalho. 47 6. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS E DISCUSSÃO [...] pesquiso para constatar, constatando, intervenho, intervindo educo e me educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar ou anunciar a novidade. (FREIRE, 1996, p. 29) A apresentação dos resultados, seguida de sua discussão, foi dividida em duas etapas: a primeira delas diz respeito ao perfil sociodemográfico dos participantes do estudo, com a descrição das principais características que envolvem os sujeitos entrevistados. A segunda abordará as percepções que os alunos-pacientes e seus acompanhantes revelaram acerca da experiência da condição de adoecimento crônico, seguida da compreensão que estes mesmos sujeitos e os profissionais de saúde atribuíram à Classe Hospitalar, na atenção terapêutica da MPS, tendo como referencial os dados resultantes da entrevista semi-estruturada. 6.1 PERFIL DOS PARTICIPANTES DA PESQUISA 6.1.1 Profissionais de saúde Foram entrevistados cinco profissionais da saúde, sendo quatro do sexo feminino e um do sexo masculino. Com relação à função que exercem no hospital: um (20%) médico, dois (40%) enfermeiros e dois (40%) auxiliares de enfermagem. A idade média dos participantes foi de 40,4 anos, variando de 34 a 42 anos. Quanto ao grau de escolaridade 40% (n = 2) tinham o ensino superior completo, 40% (n = 2) o ensino médio e 20% (n = 1) pós-doutorado (Tabela 1). Todos os entrevistados eram profissionais efetivos do quadro de funcionários do HUPES e trabalhavam diretamente com os alunos-pacientes de MPS, sendo sua participação, durante a entrevista, muito colaborativa. 48 Participantes Idade Sexo Escolaridade Profissão Ps 1 34 Masculino Ensino Superior Enfermeiro Ps 2 48 Feminino Ensino Médio Aux. de Enfermagem Ps 3 41 Feminino Ensino Superior Enfermeira Ps 4 37 Feminino Ensino Médio Aux. de Enfermagem Ps 5 42 Feminino Pós- doutorado Médica Tabela 1 – Perfil dos profissionais de saúde Fonte: Pesquisa de campo. 6.1.2 Acompanhantes No que diz respeito à caracterização das cinco acompanhantes entrevistadas destaca-se que, todas eram do sexo feminino. Isto de alguma forma demonstra que o cuidado e o acompanhamento dos pacientes em situação de internamento ainda ficam, na grande maioria das vezes, a cargo da figura materna. Quanto ao grau de parentesco três (60%) eram mães e duas (40%) não eram parentes. A idade média das acompanhantes foi de 43,6 anos, com idades entre 39 e 44 anos. Quanto à escolaridade, duas (40%) possuíam o ensino fundamental, duas (40%) o ensino médio e uma (20%) especialização. As profissões identificadas foram: dona de casa (n = 1), cuidadoras (n = 2), professora (n = 1) e auxiliar administrativo (n = 1). Com relação ao estado civil, três (60%) eram solteiras e duas (40%) casadas (Tabela 2) Comumente, como descrito anteriormente, as figuras femininas, em geral as mães, estão mais presentes no acompanhamento da TRE. Contudo, já presenciamos casos em que pais, irmãos e tias desempenharam tal função. 49 Participantes Idade Sexo Escolaridade Grau de parentesco Profissão Estado Civil Ac 1 42 Feminino Ensino Fundamental Mãe Dona de casa Solteira Ac 2 49 Feminino Ensino Médio Não há Cuidadora Solteira Ac 3 39 Feminino Especialista Mãe Professora Casada Ac 4 44 Feminino Ensino Fundamental Não há Cuidadora Solteira Ac 5 44 Feminino Ensino Médio Mãe Aux. Administrativo Casada Tabela 2 – Perfil dos acompanhantes Fonte: Pesquisa de campo. 6.1.3 Perfil dos alunos-pacientes Participaram desta pesquisa quatro alunos-pacientes, sendo um (25%) do sexo feminino e três (75%) do sexo masculino, a idade média foi de 16 anos, variando de 10 a 22 anos. Em se tratando da cidade de origem, 3 (três) eram de Salvador e 1 (um) de Alagoinhas. Quanto ao diagnóstico clínico, 50% (n = 2) tinham MPS tipo I e 50% (n = 2) tipo II. Vale lembrar que muitas vezes os alunos-pacientes com MPS apresentam outras doenças e/ou deficiências decorrentes da progressão da patologia, a exemplo de Ap 1, que apresenta surdez moderada. Todos os alunos-pacientes já tinham estado em algum momento de suas vidas em escolas regulares, 75% (n = 3), mantiveram os vínculos escolares e 25% (n = 1) não deram continuidade aos estudos. Quanto ao tipo de instituição de ensino, 75% estudam ou estudaram em escolas públicas. (Tabela 3) Com relação à escolaridade, observamos o indicativo de distorção idade-série. Vale ressaltar que pela legislação sobre a oferta de ensino no País, o ingresso da criança no 1° ano do ensino fundamental deve ocorrer aos 6 anos e a conclusão desta etapa aos 14 anos. Logo, espera-se que, na faixa etária dos 15 aos 17 anos, o jovem esteja matriculado no ensino médio. Contudo, pudemos observar que 50% (n = 2) dos alunos-pacientes não estão matriculados no ano/série apropriado. Dados do Instituto Nacional de 50 Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) revelaram que, no Brasil, de 2008 a 2010, o percentual de alunos fora da série adequada à idade registrou uma leve alta. Em 2008, no ensino fundamental, a taxa foi de 22,1%, passando para 23,3% em 2009 e 23,6% em 2010. A investigação desses mesmos dados, na região Nordeste, nos mostra que a situação é ainda mais complicada, pois observamos que, no ano de 2008, a taxa de distorção idadesérie foi de 28%, elevou-se para 33,3%, em 2009, e 36,4%, no ano de 2010. Essa problemática pode ser comum em muitos espaços em que esteja presente a Classe Hospitalar. Além disso, Barros (1999, p. 86) sinalizou que “[...] a seriação escolar e/ou o aproveitamento acadêmico apresentado pelos [...] pacientes sofre alguma variação também [...] pode-se ter dois pacientes, ambos na 5ª série, e encontrar-se um deles bastante defasado em relação ao outro”. Em estudo realizado por Holanda e Collet (2011), acerca das dificuldades da escolarização da criança com doença crônica, os resultados apontaram que, das dez crianças investigadas, seis se encontraram defasadas quanto a sua escolaridade, ou seja, estavam em séries inadequadas a sua faixa etária. Sabemos que muitas são as causas que podem elevar tais taxas, dentre elas a reprovação e o abandono, mas não podemos deixar de considerar que crianças e adolescentes com doenças crônicas aumentam as chances de afastamento da escola, em decorrência das internações recorrentes. Participantes Idade Sexo Escolaridade Escola Particular Ap 1 Ap 2 Ap 3 Ap 4 6º ano 10 Masculino 16 Feminino 8º ano Masculino 8º ano Masculino Estudou até o 1º ano do Ensino médio 16 22 Tabela 3 – Perfil dos alunos-pacientes Fonte: Pesquisa de campo Município Diagnóstico Clínico Salvador MPS I X Salvador MPS I X Salvador MPS II Pública X X Alagoinhas MPS II 51 6.2 TRANSFORMANDO DADOS BRUTOS EM DESCOBERTAS CIENTÍFICAS Feitas as considerações com relação aos perfis dos participantes da pesquisa, apresentaremos, a seguir, a análise dos dados obtidos em roteiros de entrevistas semi-estruturadas. Tais análises permitiram a compreensão do papel atribuído pelos alunos-pacientes, acompanhantes e profissionais de saúde à Classe Hospitalar, no que diz respeito a suas possíveis contribuições na atenção terapêutica da mucopolissacaridose. Além disso, pudemos perceber o quanto é difícil para a criança, o adolescente e o jovem se perceberem com um corpo diferente e sob os olhares de uma sociedade que ainda clama pela “perfeição”. Assim, em decorrência de tal fato, se sentem na “[...] obrigação da recuperação, da reabilitação e do retorno ao convívio social com os corpos considerados ‘normais’”. (TEIXEIRA, 2011, p. 18) Os dados coletados foram organizados de forma a permitir um encadeamento das ideias apresentadas pelos sujeitos da pesquisa, ou seja, em uma primeira parte, buscamos apresentar para o leitor as concepções acerca da mucopolissacaridose, desde o impacto causado com a sua descoberta, as estratégias de enfrentamento, o conhecimento acerca da doença e da terapêutica, por parte dos acompanhantes e dos alunos-pacientes. A segunda parte teve como foco a classe hospitalar e suas possíveis contribuições ao processo de enfrentamento da doença crônica. Optamos por iniciar a apresentação dos resultados a partir da fala de uma aluna-paciente, pois este depoimento retratou a(s) dificuldade(s) que muitas crianças e adolescentes com mucopolissacaridose encontram, quando sua aparência física causa estranheza àqueles que não sabem lidar com as diferenças. [...] a gente não sofre mais por causa da medicação não, a gente não sofre porque tem que vim para cá não. A gente sofre pela nossa aparência, que as pessoas abusam [...] quando a gente passa fica olhando pra gente [...] agora eu não me abato não, porque eu não ligo. Mas, as pessoas parecem que... sei lá, ao invés de procurarem se olhar, passa e fica olhando pra gente, encarando mesmo e eu encaro também. Eu não ligo, antigamente até que eu ligava agora eu 52 não ligo não. Porque tem que gostar de mim do jeito que eu sou, goste de mim quem quiser eu não vou mudar por causa de ninguém. (Ap 2) Ainda que decorridos mais de vinte anos que a Constituição Federal (BRASIL, 1988) elegeu como fundamentos da República, a cidadania e a dignidade da pessoa humana (art. 1º, incisos II e III), e como um dos seus objetivos fundamentais, a promoção do bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação, art. 3º, inciso IV, nossa sociedade ainda faz da doença/ou deficiência um estigma. Em outras palavras, exerce “[...] um motivo sutil de avaliação negativa da pessoa. Fala-se então de ‘deficiente’ como se em sua essência o homem fosse um ser deficiente ao invés de ter uma deficiência”. (LE BRETON, 2006, p. 73) Tal compreensão ainda configura a assertiva de que a deficiência é um problema social, ou, dito de outra forma, a imposição de preconceitos às pessoas com deficiência, ora de maneira sutil e perversa, ora de forma explícita e revelada, ainda demarcando a segregação de pessoas em cujos corpos transparecem as marcas que fogem da “normalidade”. Para Vieira e Lima (2002, p. 558), “[...] devido a algumas restrições em suas atividades e à sua aparência física, eles podem nutrir sentimentos de inferioridade [...]”. De modo análogo, Teixeira (2011, p. 83, grifo do autor) nos afirma que: A condição patológica vitimou, ao longo da história, os corpos com algum tipo de deficiência, estabeleceu assim um status quo de corpo fora dos padrões normalizadores, ou seja, o corpo agora considerado doente fere o processo de normalização social [...] Tal percepção é ressaltada por Canguilhem (2000), pois podemos identificar, ao longo de seu livro O normal e o patológico, que não agradam, à criança e ao adolescente, comentários acerca de sua aparência física, assim como sobre os seus problemas de saúde, pois eles anseiam em ser vistos como pessoas “normais”, não com o estigma de doentes. Logo, não podemos deixar de considerar que “[...] o estar doente é negativo e compreende ser 53 nocivo, indesejável e socialmente desvalorizado”. (HOLANDA; COLLET, 2011, p. 386) Além disso, crianças e adolescentes que são acometidos por doenças crônicas podem se sentir diferentes, em decorrência da terapêutica exigida, visitas regulares ao médico, uso de medicamentos, limitações físicas e, sobretudo, pela sua aparência física. Apesar disso, o que mais desejam é serem vistos como pessoas normais. (VIEIRA; LIMA, 2002) Logo, é preciso relativizar entendimentos que podem vir a tipificar e rotular as crianças e os adolescentes, em especial aqueles em adoecimento crônico, para não corrermos o risco de anular a possibilidade de tê-los como importantes e legítimos sujeitos, garantindo seus direitos. Nesse sentido, a partir das leituras e análises das entrevistas duas categorias temáticas emergiram dos discursos dos sujeitos da pesquisa, compreendendo diversas categorias, como a categoria 1: A DOENÇA CRÔNICA MEDIANDO A VIDA e a categoria 2: UMA ESCOLA DENTRO DO HOSPITAL. 6.2.1Categoria 1: A DOENÇA CRÔNICA MEDIANDO A VIDA Ressaltamos que, diante dos discursos apresentados pelos sujeitos entrevistados, essa categoria foi a princípio intitulada como: A VIDA MEDIADA POR UMA DOENÇA CRÔNICA. Contudo, percebemos ao longo das análises dos dados, que as crianças e adolescentes com MPS, assim como seus familiares, foram surpreendidos por uma doença genética, ao longo de toda a vida e, no início dela, a doença passou a constituir-se como algo intrínseco do processo de viver. Assim, esses sujeitos vivenciam a experiência de estarem permanentemente doentes e dependentes de cuidados médicos por toda a vida. Iniciaremos a apresentação das falas dos sujeitos, a partir do relato da experiência da hospitalização de um aluno-paciente com MPS. 54 Ap 1: A primeira vez que eu vim para cá. P: Foi difícil? Por quê? Ap 1: Bem...porque eu não sabia o que eu estava fazendo aqui e chegou um bocado de gente e começou a me furar. Ap 1: Quando eu vi pela primeira vez aquela agulhona que bota a... P: O soro? Ap1: O soro, meu coração disparou eu pensei que iam me furar. Figura 8 – Desenho livre de um acompanhante. Autor: Ac 5. Nesta categoria, tanto as acompanhantes (mães e cuidadoras), quanto os alunos-pacientes foram questionados acerca da experiência da descoberta e presença da doença crônica em suas vidas. Logo, cada um desses sujeitos (acompanhantes e alunos-pacientes) pôde esboçar a sua história, os processos que levaram ao diagnóstico e as adaptações necessárias ao enfrentamento da mucopolissacaridose, assim como o conhecimento sobre esta doença, rara e pouco conhecida, até mesmo entre os profissionais de saúde. É notório que o adoecimento pode gerar crises e momentos de desestruturação, seja para o paciente ou sua família, por esta razão, algumas falas retratam como as acompanhantes se sentiram quando souberam que a doença passaria a mediar à vida de seu filho/sua filha. 55 Eu fiquei muito triste porque eu já tinha tido um filho com a mesma doença. (Ac 1) Impotente. (Ac 3) Ah! Foi muito difícil. Por um lado porque quando eu recebi a notícia a médica me disse que ela poderia parar de falar e andar a qualquer momento, mas por ela ter MPS leve eu não via minha filha dessa maneira. Por outro, ela (médica) disse que a língua dela poderia crescer e ela parar de falar e nessa mesma época eu conheci dois meninos que estavam nessa mesma situação. Então foi desesperador para mim [...]. (Ac 5) A concepção de uma criança “perfeita” é o sonho de toda mãe e a espera pelo nascimento do filho(a), que apresente em seu fenótipo características que se assemelhem às de seus pais, é algo idealizado por toda a família. Por isso, a chegada de uma criança com doença/deficiência pode alterar o equilíbrio e afetar todos os membros da família (NÓBREGA et al., 2010; VIEIRA; DUPAS; FERREIRA, 2009; MENDES; BOUSSO, 2009; LEONI, 2005; OLIVEIRA; ANGELO, 2000). Alguns sentimentos afloram e podem “[...] por sua ocorrência oscilar entre polaridades muito fortes: amor e ódio, alegria e sofrimento; uma vez que as reações concomitantes oscilam entre aceitação e rejeição, euforia e depressão [...]”. (AMARAL, 1995, p. 73) Quando a cronicidade de uma doença afeta uma criança, os familiares tendem a se sentir ainda mais responsáveis por amenizar os efeitos da enfermidade, assim, a família precisa aprender a (con)viver e a enfrentar os momentos de crises impostos pela nova situação. (CASTRO; PICCININI, 2002) Contudo, cuidar de um filho(a) com doença crônica é uma tarefa difícil e por vezes bastante dolorosa. Em muitos momentos, há a necessidade de apoio emocional, afetivo e religioso (RORIZ, 2009; PAULA; NASCIMENTO; ROCHA, 2008; LIMA; GUALDA, 2001), em especial na ocasião em que descobrem que a criança precisará de cuidados médicos por toda a vida. Não podemos esquecer que o “choque da descoberta é muito forte, a família apesar de estar buscando saber o porquê da criança não estar bem, nunca espera que o diagnóstico seja uma doença séria e incurável [...]”. (DAMIÃO; ANGELO, 2001, p. 68) A fala transcrita a seguir é elucidativa desse posicionamento: 56 [...] se eu não tivesse uma religião algo que eu acreditasse que Deus existe, eu acho que eu teria morrido ali naquele momento. (Ac 5) Na pesquisa realizada por Paula, Nascimento e Rocha (2009), com quatro famílias de crianças com insuficiência renal crônica, os resultados indicaram que a espiritualidade e a religião estiveram presentes na experiência das famílias afetadas pela doença crônica de uma criança, e que ambas atenuam o sofrimento. Esse achado corrobora o estudo feito por Roriz (2009), em sua tese sobre epilepsia, estigma e inclusão escolar/social, já que a autora identificou que a religiosidade foi o suporte para enfrentar, tanto o período da doença, quanto os estigmas atribuídos a ela, sendo que alguns pais sentem a necessidade de buscar uma explicação para o acontecido, como se fosse um castigo a eles destinado. (PAULA; NASCIMENTO; ROCHA, 2009) Em se tratando da MPS, algumas questões são de suma importância para a compreensão do fenômeno acima referido, ou seja, após uma espera de nove meses, tem-se uma criança “normal”, que não apresenta nenhuma característica física marcante que determine no seu nascimento a presença de uma doença/deficiência, ao contrário de algumas patologias que podem ser constatadas, mesmo sem um diagnóstico clínico imediato, como a Síndrome de Down. Contudo, passados os primeiros meses da vida, a criança passa a desenvolver características específicas. (MOTTA, 2011; PEREIRA, 2008) Tal situação é retratada na fala de uma mãe, ao relatar como descobriu que sua filha tinha MPS. Ela tinha 5 a 6 anos quando fechou o diagnóstico. Eu procurei o médico, porque já percebia que ela tinha o abdômen distendido, mas uma prima minha em São Paulo que viu que o braço dela estava encurtando e ai ela me aconselhou a procurar novamente o pediatra para falar desses dois casos, que era o abdome e o braço encurtado foi a partir daí que a gente começou a luta ela com 2 anos e meio para verificar se tinha alguma doença, o que é que era que ela tinha.(Ac 5) No estudo realizado por Vieira e Lima (2002), os dados demonstraram que até que obtenham o diagnóstico definitivo da doença crônica, a criança e o 57 adolescente já vivenciaram várias hospitalizações, com muitos exames, a ida de um hospital a outro, em várias cidades e Estados diferentes, ou seja, uma verdadeira peregrinação, em busca de melhores centros que expliquem ou resolvam o seu problema. Assim, os alunos-pacientes retrataram as situações vividas na busca do diagnóstico da sua doença. Na época de mainha quando eu estava doente ela sempre ficava preocupada sem saber o que eu tinha e ela sempre me levava para o médico para saber [...] ai sempre procurou todo médico ficou me levando para todo o médico daqui de Salvador para descobrir o que eu tinha [...] ai procurou o Hospital das Clínicas para saber o que eu tinha ai depois disso eu comecei a fazer o tratamento aqui no Hospital das Clínicas. (Ap 3) No começo meu pai que me trouxe para alguns hospitais aqui de Salvador foi ai que a gente descobriu que aqui no Hospital das Clinicas tinha [...] na genética. E foi acompanhando a gente e descobriu que eu tinha MPS [...] só descobriu que eu tinha MPS com 12 anos e a partir dos 13 que eu participei da experiência do medicamento. Em 2006 que eu vim para cá para Salvador e comecei a tomar o medicamento. (Ap 4) Para Souza e Lima (2007), a doença para a criança/adolescente constitui-se, muitas vezes, num caminho, longo, difícil e imprevisível. Em decorrência de tal fato, sua vida acaba sendo mediada pela necessidade de exames, internações constantes e viagens, pois muitos alunos-pacientes com MPS residem em outros municípios. Tais situações são ainda mais comuns, na mucopolissacaridose, pois se trata de uma doença multissistêmica, deste modo os pacientes acometidos dessa patologia precisam do apoio de uma equipe multidisciplinar, para que tenham um acompanhamento adequado das possíveis manifestações clínicas, assim como um diagnóstico precoce das complicações impostas pela doença. No entanto, por se tratar de uma doença incomum, o desconhecimento por parte dos médicos e de profissionais de saúde, em geral, pode acarretar em um diagnóstico tardio e, muitas vezes, errôneo da doença. Uma pesquisa, realizada pela Aliança Nacional Brasil de Mucopolissacaridose8 (ABRAMPS), 8 Disponível em: <http://www.aliancabrasilmps.org.br>. Acesso em: 21 nov. 2012. 58 comprovou que, do universo de pais pesquisados, quase 50% passaram por mais de seis médicos até conseguirem diagnosticar a doença, sendo que a metade desse percentual visitou mais de 10 especialistas, antes de descobrir de que enfermidade se tratava. No estudo realizado por Oliveira e Gomes (2004) os resultados revelaram que a definição do diagnóstico dependeu muito do tipo de doença. Nos pacientes portadores de fibrose cística, por exemplo, o diagnóstico foi feito a partir do momento em que consultaram a equipe especializada, logo após o nascimento, nos primeiros meses ou anos de vida. A partir da identificação da enfermidade, eles foram acolhidos por um programa assistencial, de referência nacional, sendo acompanhados regularmente. Em decorrência de tal situação, após a confirmação do diagnóstico, tanto o familiar quanto o paciente acabam por buscar mais conhecimentos sobre sua patologia. A pesquisa realizada por Mello e Moreira (2010) indicou, que crianças e adolescentes que possuem suas vidas mediadas pelo adoecimento crônico, e constantes hospitalizações, adquirem conhecimentos acerca de sua situação e são capazes de expressar sua compreensão sobre o assunto. Esses dados corroboram o encontrado neste estudo, e podem ser evidenciados através das falas de alguns sujeitos, quando estes foram questionados sobre o seu conhecimento acerca da MPS. Hoje eu sei. Eu sei que é uma enzima que não trabalha corretamente não distribui informações corretas para o corpo e com isso há acúmulo de sacarídeos em todas as articulações, Como [...] a gente tem articulações por todo o corpo, olho, língua, braço, pernas e com o aumento do fígado e do baço também isso traz toda disfunção e afeta o crescimento, não deixa a criança ter o crescimento normal. Então isso é pior do que um câncer praticamente né? As mais graves elas morrem cedo justamente por ser tão acelerado o processo da falta de enzima e isso é muito doloroso para um pai que espera seu filho nove meses e quando tem notícia de uma deformidade, uma síndrome isso arrasa qualquer um. (Ac 5) [...] eu pesquisei muito e me informo muito e leio tudo que encontro sobre o tema MPS. (Ac 3) A consciência da doença, de sua gravidade e da sua sintomatologia é um indicativo importante para promover uma participação ativa sobre as 59 transformações que a vivência com a enfermidade crônica poderá ocasionar na vida desses pacientes. (MELLO; MOREIRA, 2010; ARAÚJO et al., 2009; OLIVEIRA; GOMES, 2004, CREPALDI, 1998) Em investigação feita por Moreira e Macedo (2009), estes evidenciaram que as famílias demonstram a necessidade de dominar as explicações técnicas sobre a doença, pois tal ação permite o enfrentamento de barreiras, socialmente construídas a partir do estigma da deficiência e da doença, e pode esclarecer equívocos e desfazer preconceitos. Esses achados corroboram a pesquisa realizada por Crepaldi (1998) sobre as representações sociais de 38 famílias de crianças acometidas por doenças crônicas, pois os resultados mostraram que o aparecimento do sintoma é condição fundamental para que o estado de doença seja admitido, sendo a primeira preocupação da família “denominar” a doença, conhecer o diagnóstico e as suas causas. Nesse estudo, não só os acompanhantes, mas também os alunospacientes souberam esboçar algum conhecimento acerca da doença. Tais dados são similares aos encontrados por Mello e Moreira (2010), pois as pesquisadoras identificaram que tanto crianças quanto adolescentes se apresentaram como conhecedores de suas condições clínicas, realizando explicações sobre o tratamento os procedimentos pelos quais passam durante as internações. Ao perguntarmos ao aluno-paciente se ele sabia o que vinha fazer no hospital, encontramos os seguintes relatos: Pesquisadora (P): Você vem fazer o quê aqui no Hospital? Ap 1: Tomar medicação. P: Para quê? Ap 1: É... pra continuar vivo. Ap 1: Para tentar curar a doença. P: Qual é a doença? Ap 1: Mucopolissacaridose. P: Você sabe o que é? Ap 1: A minha doença. P: Se eu te pedisse para me falar sobre ela você saberia? Ap 1: Não (balançando a cabeça) Ap 2: Eu venho tomar medicação. P: Você sabe para quê? Ap 2: Sei. P: Para quê? Me conte. 60 Ap 2: Pra ajudar no meu crescimento, ajudar não piorar, o remédio ajuda a doença não regredir né? P: Não progredir. Ap 2: É. Ai ele ajuda. P: Se eu te pedir para você me explicar o que é MPS. Você saberia me dizer? Ap 2:Mais ou menos. Ap 2: É uma doença rara que assim...que...minha mãe e meu pai pelo menos no tipo I diz que minha mãe e meu pai tem um gene defeituoso que ai fez um negocio lá ai juntou o gene e “caiu para cima de mim” (risos). Mas, se eu... minha mãe disse assim... que se só um gene visse para mim talvez eu não tivesse essa doença. P: Por que foram os dois? Ap 2: É foram os dois, mas também Deus quis assim né? A partir do olhar dos alunos-pacientes do atual estudo, assim como na pesquisa realizada por Lemos, Lima e Mello (2004), os depoimentos revelaram que o hospital pode apresentar uma característica dual, ou seja, em alguns momentos ele pode trazer sofrimentos, angústias e incertezas, mas em outros representa um espaço de cura, tratamento e realização de exames, na tentativa de salvar suas vidas. Isso foi explicitamente demarcado na fala de Ap1, quando o mesmo relatou que a realização da TRE tinha como principal finalidade a manutenção de sua vida. Vale destacar também a apropriação com que Ap1 faz de sua doença, trazendo, em sua fala, o pronome possessivo “a minha doença”. Tal fato evidenciou que a criança compreende a doença como sendo parte dela. Contudo, assim como na investigação realizada por Gabarra (2005), o Ap1 nomeou a sua doença, no entanto, não soube explicá-la. Em seu estudo, Gabarra (2005, p.97) evidenciou que o “[...] fato de algumas doenças crônicas terem causas indefinidas, desconhecidas ou múltiplas possibilidades de etiologias, dificulta a compreensão das crianças sobre o que gerou a sua doença”. Crepaldi (1998, p. 160) identificou em seu estudo que: A nomeação da doença era considerada importante, pois os familiares acreditavam que conhecendo-a poderiam proteger a criança de exames invasivos, poderiam responder aos parentes e amigos sobre a criança, pois a doença é um evento que o sujeito partilha com seu grupo social. Outro fator 61 importante a se considerar é que a ausência de nome, do diagnóstico, costuma provocar suspeita, deste mesmo grupo, sobre uma possível gravidade da doença, acarretando no afastamento das pessoas por medo de um suposto contágio. Assim, enfrentar uma realidade muito dura, advinda de um diagnóstico desfavorável, mostrou-se até mesmo menos penoso do que enfrentar o desconhecimento da doença e a incerteza sobre o seu desfecho. Logo, em alguns momentos, busca-se por uma explicação espiritual, no sentido de trazer um maior conforto e melhor aceitar o adoecimento. No momento que em Ap2 nos fala que “Deus quis assim”, fica evidente que a compreensão sobre a causa de sua doença é atribuída à vontade divina. De modo análogo, Gabarra (2005) encontrou em sua pesquisa sobre crianças hospitalizadas com doenças crônicas que, para crianças com câncer, talvez essa forma de entender fosse reconfortante, já que pacientes nesta circunstância podem minimizar a própria culpa, ao atribuírem outros valores ao modo de compreenderem a etiologia da sua doença. Contudo, o desconhecimento acerca da patologia foi identificado em alguns participantes, quando estes foram questionados sobre a compreensão da MPS, assim como se ele (o acompanhante) acreditava que a criança/adolescente compreendia a doença que tinha. Tal situação pode ser evidenciada, a partir dos seguintes relatos: Eu senti assim, uma doença que eu nunca conheci na minha vida, nunca tinha ouvido falar e, por exemplo, foi a primeira vez que eu tive contato com ele porque a mãe dele não passou nada para mim aí fui descobrindo aos poucos. (Ac 2) Mais ou menos eu não sei explicar assim direito fico na dúvida, assim muitas coisas eu não sei explicar. (Ac 1) [...] eu só saberia que ele tem um problema que afeta o crescimento dele e o desenvolvimento, só isso. (Ac 4) Não ele não entende não. (Ac 1) Ac 3: Entende, mas não aceita. P: Ele já demonstrou isso? Ac 3: Sim. P: Como você acha que ele demonstra? Ac 3: Ele não aceita a medicação, ele não aceita vim para o hospital para o tratamento, ele fica com raiva quando a gente 62 traz porque na verdade ele acha que a gente ta judiando dele né? Eu tento explicar que é para o bem dele, mas ele não aceita. Eu também não aceito não. Na verdade né eu não queria ter um filho doente de maneira alguma. A aceitação da existência da doença, a busca para entendê-la e o convívio com as limitações físicas, torna-se desafiador. Mas vale ressaltar que, ao conhecerem a doença da criança/adolescente, todos aqueles que fazem parte do seu círculo de apoio (família, cuidadoras e amigos) estarão instrumentalizados para o suprimento das demandas advindas da condição crônica. Por esta razão, informações superficiais ou estritamente técnicas limitam as possibilidades de manter a doença crônica sob controle. Araújo et al. (2009) reforçam os resultados desta pesquisa, ao identificarem, na sua investigação sobre o conhecimento da família acerca da condição crônica na infância, que, em muitos casos, a família apenas reproduz as informações advindas dos profissionais, sem, no entanto, compreendê-las, assim ficando inviabilizadas as condições necessárias ao cuidado. Contudo, não pudemos deixar de relatar que, no atual estudo, os alunospacientes foram capazes de nomear seus sintomas e identificar o órgão prioritariamente afetado por sua condição. Assim, como a aluna-paciente esboçou certa maturidade, ao perceber os obstáculos financeiros e toda a mobilização da rede social, constituída pela família e pelos amigos que a cercam. Tais dados foram similares aos encontrados por Nóbrega et al.(2010), sendo evidenciados no seguinte depoimento: Ap 2: No começo eu não vim para cá para esse hospital das Clínicas não. Minha mãe teve que lutar para conseguir o remédio agente não sabia que eles tinham o remédio ai minha mãe procurou saber ai sabia que tinha o remédio nos Estados Unidos e tava fazendo pesquisa lá em Porto Alegre ai os amigos do trabalho de minha mãe ajudaram ela uma vaquinha que minha mãe não tem condições entendeu? Uma vaquinha pra gente poder ir pra Porto Alegre fazer a pesquisa. P: E depois veio para cá? A: Foi. Com a liminar. Sabe o que é liminar? P: Sei (risos) Ap 2: Risos. Eles não queriam dá o remédio não, mas depois a gente conseguiu porque a gente já tinha a liminar ai eles foram obrigados a dá o remédio. 63 Dentre todas as problemáticas que circundam o adoecimento crônico, quais sejam: a sintomatologia, as internações frequentes, ter seu corpo como um estranho e a autoimagem prejudicada, existe uma que causa grande sofrimento a todos os envolvidos: o acesso ao medicamento de alto custo, não fornecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Para Diniz, Medeiros e Schwartz (2012, p. 482): [...] a judicialização, porém, determina a aquisição obrigatória e imediata de determinadas quantidades dos medicamentos, sem licitação [...] Além disso, dada a inexistência de uma política específica para doenças genéticas raras, ou mesmo dada à ausência de implementação da política de genética clínica no SUS, a assistência em saúde para os pacientes que judicializam é frágil. A recorrência de tal situação durante a realização desta pesquisa foi bastante comum e a falta de medicação para a realização da TRE fez com que acompanhantes e alunos-pacientes desencadeassem sentimentos de tristeza, incerteza e confirmação da não efetividade do direito à saúde, pois “[...] as demandas judiciais não podem ser consideradas como principal instrumento deliberativo na gestão da assistência farmacêutica do SUS [...]”. Assim, no depoimento do Ap2, transpareceu a sua percepção frente às limitações financeiras da família, no tocante ao acesso ao serviço de saúde e a custos durante o período de hospitalização. Esse achado vem reforçar os resultados encontrados por Nóbrega et al. (2010). Essa aluna-paciente ainda afirma que: Ap2: Se eu pudesse eu nem vinha [para o hospital]. Eu não gosto. Eu queria ter uma vida normal como as meninas lá da rua, não tem que vim pra o hospital. Eu tenho que vim para o hospital toda vez, às vezes eu falto. É, às vezes eu falto. Mas, é ruim. P: O que é ter uma vida normal para você? Ap 2: Não vim para o hospital muitas vezes, vim para o hospital um dia todo mundo vem né? Porque fica doente, mas, não vim assim toda vez fazer medicação e as pessoas saberem que você vem pra cá. 64 Os resultados da investigação realizada por Oliveira e Gomes (2004) também corroboram os achados da atual pesquisa, pois aqueles revelaram que quando pacientes adolescentes com doenças crônicas ampliaram a capacidade de compreensão e tomaram consciência sobre a doença, puderam perceber algumas implicações na sua vida como: conscientização de ser doente, maior conhecimento da doença, descoberta de preconceito, vergonha de ser diferente, hospitalização rotineira, e falta à escola. Ao mesmo tempo, os jovens foram percebendo que não podiam fazer tudo que os outros da mesma idade faziam. Assim, o tratamento de doenças crônicas geralmente é longo e complexo, demandando cuidados constantes em relação à terapêutica. Logo, o modo como o sujeito lida com sua doença, suas marcas e consequências, vai refletir em todos os campos de sua vida. (MOREIRA; MACEDO, 2009) No caso da infância, a família e a escola configuram-se como os primeiros locais onde os recursos para se lidar com a doença começam a ser construídos e/ou elaborados. Deve-se considerar que, além da escola, o hospital se torna um ponto central da rede social das crianças com doenças crônicas e/ou deficiências, e um arsenal de contextos passam a fazer parte da rotina de todos os envolvidos, como retrata o desenho livre de Ac3. Figura 9 – Desenho livre de uma acompanhante. Autor: Ac3. . 65 Ressaltamos o quão importante se torna o não rompimento das atividades que fazem parte do dia a dia dos alunos-pacientes com doença crônica (VIEIRA; LIMA, 2002). Contudo, percebemos na Figura 7 que foram inclusos dois elementos que muito provavelmente não fariam parte da vida desse sujeito, caso a doença não requeresse a presença semanal do hospital, quais sejam: a TRE e a Classe Hospitalar. Portanto, Gonçalves e Valle (1999) reforçam, em estudo realizado com crianças com câncer, que afastar a criança da rotina escolar possui um significado muito maior do que o mero prejuízo educacional, pois o isolamento social, decorrente da perda de contato com os colegas, pode interferir na vida pessoal de uma criança. Silva et. al (2008, p. 1950) afirmam portanto, o quão importante se faz a “[...] inclusão não só da família, mas também de práticas educativas e recreativas no ambiente hospitalar [...]. Assim sendo, apresentamos a seguir a nossa segunda categoria de análise: Uma escola dentro do hospital. 6.1.3 Categoria 2: UMA ESCOLA DENTRO DO HOSPITAL O trabalho pedagógico em hospitais apresenta diversas interfaces de atuação e está sob a mira de diferentes olhares que o tentam compreender e explicar. No entanto, é preciso deixar claro que tanto a educação não é elemento exclusivo da escola como a saúde não é elemento exclusivo do hospital. (FONTES, 2007, p. 279) Assim, abordamos nesta categoria, as compreensões apresentadas pelos sujeitos pesquisados, sobre o(s) papel(is) atribuído(s) ao espaço pedagógico-educacional instituído no contexto hospitalar, sendo este um espaço que ainda é dominado por condutas terapêuticas que visam, sobretudo, a cura e/ou tratamento de doenças. Com o intuito de permitir ao leitor uma compreensão do encadeamento das falas dos sujeitos, optamos por distribuir essa categoria em sete subtítulos temáticos, quais sejam: conhecimento sobre a Classe Hospitalar; a relação entre os profissionais de saúde e 66 educação; participação do aluno-paciente nas atividades da Classe Hospitalar; a Classe Hospitalar e adesão ao tratamento: permitindo a experiência de um dia diferente! A Classe Hospitalar e a escola regular; o papel da classe hospitalar e suas contribuições durante a TER. 6.1.3.1 - Conhecimento sobre a Classe Hospitalar Nesta categoria, demos ênfase aos aspectos da Classe Hospitalar, quais sejam: o conhecimento acerca desta modalidade de atendimento, por parte dos alunos-pacientes, acompanhantes e profissionais de saúde. Vale ressaltar que o acometimento por uma doença crônica e progressiva, muitas vezes representa implicações físicas significativas. Holanda (2008) conseguiu identificar, em sua investigação sobre a doença crônica na infância e o desafio do processo de escolarização, a presença de limitações físicas reais, advindas da doença, tais como: dificuldade em manipular objetos; comprometimento dos membros superiores, impedindo a escrita; dificuldades na fala e na deambulação; astenia, e que estas podem se constituir em barreiras para a incorporação da criança ao universo educativo. Assim, a escola dentro do hospital pode permitir uma maior reflexão sobre a complexidade que permeia o processo de escolarização de pacientes com doença crônica. Contudo, para tornar possíveis as ações pedagógicas voltadas para esse público, se faz necessário que se tenha muito bem definido, por parte dos sujeitos envolvidos, a importância deste campo de conhecimento dentro do hospital. Apresentaremos dessa forma, as percepções dos participantes sobre o conhecimento da Classe Hospitalar, através dos seguintes depoimentos dos profissionais de saúde: Sei que ela dá aula, dá aula aos meninos que estão internados. (Ps 4) Pelo que eu entendo até hoje da Classe Hospitalar é um ambiente que os profissionais se utilizam para manter a continuidade do ensino regular das crianças que por alguma razão precisam interromper os estudos então eles conseguem dá continuidade na classe hospitalar. Assim...eu não vejo como algo lúdico digamos assim não e bem uma brinquedoteca eu 67 vejo a Classe Hospitalar como uma escola dentro do hospital. (Ps 1) Conheço, mas não conheço muito, eu sei que é um grupo que fica na Pediatria que dá atendimento as crianças que estão internadas ou fazendo algum tipo de tratamento mesmo que temporário. Eu basicamente sei isso. (Ps 3) Sim, conheço a classe hospitalar. Funciona como suporte educacional às crianças que se encontram internadas no complexo HUPES. (Ps 5) Neste estudo, pudemos perceber, através das falas dos profissionais de saúde, que a compreensão sobre a Classe Hospitalar está muito bem demarcada e que todos eles dão ênfase ao processo educacional, ou seja, a Classe Hospitalar é vista como um espaço de promoção e manutenção do vínculo com a escola regular. Achados semelhantes foram encontrados na pesquisa de Mascarenhas (2011), ao investigar a percepção de médicos acerca do papel do pedagogo no trabalho com crianças hospitalizadas, os resultados revelaram, assim como no atual estudo, que as aprendizagens aliadas às práticas lúdicas não se confundem com as atividades propiciadas no espaço da brinquedoteca, pois se constituem em espaços distintos, mas que podem promover atividades conjuntamente. Para Arosa e Schilke (2007, p.42) Esta modalidade busca uma ação diferenciada do professor no hospital. Apesar de trazer uma perspectiva transformadora intrínseca à sua atuação, é uma postura nova e de difícil realização, pois pode ser banalizada. É facilmente confundida com uma ação recreativa e /ou psicologizante da educação, tanto pelo professor quanto pelos demais profissionais do hospital Contrapondo-se aos dados das pesquisas, já observados, Uchôa (2007) evidenciou em seu trabalho que a equipe médica, de uma maneira geral, desconhece a possibilidade de uma ação educativa hospitalar. De modo análogo, a pesquisa realizada por Carvalho (2008), sobre o olhar de professores acerca da Classe Hospitalar, evidenciou que médicos do setor de cirurgia e hematologia, ao contrário do setor de oncologia, não reconheceram o trabalho das Classes Hospitalares. A autora atribuiu o resultado encontrado ao fato dos pacientes cirúrgicos geralmente apresentarem internações de curto 68 prazo, diferente dos pacientes com câncer, que passam longos períodos internados. Entretanto, salientamos que tais resultados não foram observados no atual estudo, pois os profissionais de saúde entrevistados reconheceram e validaram a importância do atendimento pedagógico e educacional ofertado pelas professoras aos alunos-pacientes com mucopolissacaridose, ainda que estes realizem seu tratamento em regime de hospital-dia. Ortiz e Freitas (2001) pontuam que, independente da duração da internação, as Classes Hospitalares devem se ocupar das atividades cognitivas e socioafetivas. Contudo, quando perguntamos, aos acompanhantes e aos alunospacientes, se conheciam a Classe Hospitalar, tivemos alguns depoimentos que revelaram o desconhecimento acerca deste trabalho e, outros que legitimaram a existência do atendimento pedagógico no ambiente hospitalar. Tais observações foram evidenciadas nas falas de alguns participantes: Não, não conheço. (Ac 1) Não sei te explicar [...] (Ac 2) Não. Não conheço não. (Ap 3) Eu acho fundamental para as crianças. (Ac 4) Eu sei que as professoras têm como função, como trabalho, como projeto ajudar as crianças que vem para infusão a melhorarem o dia da infusão e ajudar também nos deveres escolares quando eles têm duvida. (Ac 5) Que ela é bem apropriada para a criança e para que os meninos se sintam assim...mais a vontade nesse ambiente horrível de hospital. (Ac 3) A única coisa que eu sei é que os meninos iam para lá ler livros, desenhar, fazer até obra de arte que vocês ensinaram alguns dos meninos fazer. (Ap 5) Ap 1:Mais ou menos. P: O que você acha que ela é? Ap 1: Uma classe para ajudar os meninos que ficam aqui internados. Ap 2: Sei P: E o que sabe sobre ela? Ap 2: Ajuda a gente. P: Como que ela ajuda vocês? 69 Ap 2 e P: risos. Ap 2: A passar o dia aqui né? Que aqui é chato. Em pesquisa realizada por Zaias e De Paula (2010, acerca do que revelam as produções acadêmicas sobre as práticas em espaços hospitalares, constantes em teses e dissertações, estes autores observaram que as produções indicaram a necessidade de reconhecimento desta modalidade de educação, como parte integrante do sistema oficial de ensino. Assim, “[...] no que concerne à classe hospitalar, apesar da existência de toda uma legislação, o desconhecimento dessa modalidade de atendimento, ainda é muito grande em diversas instituições hospitalares brasileiras. (HOLANDA; COLLET, 2011, p. 383) Talvez o desconhecimento por parte dos acompanhantes tenha se dado pela falta de informações e esclarecimentos acerca do direito legal das crianças estudarem durante o período de hospitalização. (HOLANDA, 2008) Em pesquisa realizada por Silva e colaboradores (2008) sobre a educação no leito oferecida as crianças internadas no hospital infantil da Zona Leste de Manaus, os autores constataram que os pais e/ou acompanhantes não tinham nenhum conhecimento da existência de um trabalho que oportunizara a continuidade da educação escolar de seus filhos e/ou parentes no ambiente hospitalar. No entanto, o atual estudo apresentou dados similares ao de Uchôa (2007), pois, neste último, os dados evidenciaram que a ação pedagógica no hospital vem sendo progressivamente valorizada e reconhecida pelos médicos, funcionários e familiares. Porém, o mesmo pesquisador afirma que isso não “[...] significa a suficiente legitimação da Classe Hospitalar, em seu aspecto educacional mais amplo, sendo ainda frequentemente concebida como uma prática meramente recreativa.” (UCHÔA, 2007, p. 163) Arosa e Schilke (2007) acrescentam que esta modalidade busca uma ação diferenciada do professor no hospital e, apesar de trazer uma perspectiva transformadora, ainda é uma postura nova e de difícil realização, pois pode ser banalizada e facilmente confundida com uma ação recreativa e/ou psicologizante da educação, tanto pelo professor quanto pelos demais profissionais do hospital. 70 6.1.3.2 - Relação entre os profissionais da saúde e educação O acesso de outros profissionais no contexto hospitalar vem possibilitando a circulação de conhecimentos que vão além dos saberes médicos, ou seja, profissionais das mais diferentes áreas vem dialogando na tentativa de oferecer aos pacientes maiores possibilidades de enfrentamento da hospitalização. Nesse sentido, o ingresso do Pedagogo no ambiente do hospital pode fortalecer a relação entre profissionais da saúde e da educação. Logo, essa categoria pretendeu investigar as concepções dos profissionais de saúde sobre a presença do professor da Classe Hospitalar. As percepções foram retratadas nas falas dos sujeitos entrevistados. Eu já me acostumei na verdade com vocês, porque eu conheço vocês há muito tempo e eu acho que a gente interage muito bem, eu gosto muito. Eu sinto até falta de vocês quando vocês não vêm. (Ps 4) A experiência que eu tive na Classe Hospitalar...com o pessoal de Mucopolissacaridose foi bem positiva assim... a gente tinha uma relação de contato de interação muito boa e a Classe Hospitalar era muito bem vinda na nossa Enfermaria. (Ps 1) [...] interessante seria se tivesse esse contato mais próximo realmente da equipe neste caso da Classe com a gente, mas eu acho bom porque vocês distraem as crianças, você acaba conhecendo um pouco do outro lado da parte psicológica. Vocês entendem o que eles precisam não só está hospitalizado, mas fazendo alguma tarefa que ele está impedido porque está internado, mas acho que deveria ter uma comunicação maior, um encontro como tem discussão de equipe eu acho que a Classe deveria também está inserida neste processo. (Ps 3) A partir das falas dos participantes, observamos que para os profissionais de saúde, o professor da Classe Hospitalar apresenta um papel bem delimitado no que se refere à oferta de atendimento pedagógicoeducacional. Matos e Muggiati (2006, p. 16), sobre a atuação do pedagogo, nos acrescentam: [...] é sem duvida, uma reforçada contribuição ao trabalho multi/interdisciplinar no contexto hospitalar, tanto no que diz respeito às equipes técnicas, em que ele, pedagogo, tem condições de desenvolver um trabalho de sentido sincronizador didático, pedagógico educativo [...] 71 Assim, conseguimos perceber que, na medida em que o profissional de saúde acolhe as necessidades do paciente de maneira mais sensível, o processo de interação com o profissional da educação se torna significativo e tem um impacto positivo na realização dos procedimentos médicos, e favorece a diminuição do estresse causado pela Terapia de Reposição Enzimática. Figura 10 – Desenho livre de um profissional de saúde. Autor: Ps2. Contudo, na fala de uma das entrevistadas, “interessante seria se tivesse esse contato mais próximo realmente da equipe [..] com a gente [...]um encontro como tem discussão de equipe eu acho que a Classe deveria também está inserida neste processo”, fica evidente que o profissional de educação ainda não é compreendido como integrante da equipe multidisciplinar. Nunes (2007, p. 62) reforça que “o professor é ainda frequentemente visto pela equipe de saúde como mais um ‘ator’ no hospital para garantir a política de humanização do setor sem que isso corresponda ao reconhecimento deste profissional e da sua atuação especifica neste espaço”. Esse achado corrobora o estudo realizado por Mascarenhas (2011), acerca das percepções de médicos sobre o papel do pedagogo no trabalho 72 com crianças hospitalizadas, os achados demonstraram que existe uma condição de exclusão do Pedagogo como membro da equipe multidisciplinar. De maneira similar a pesquisa realizada por Pires Júnior e colaboradores (1997) identificou que a maioria dos participantes ressaltou a necessidade do trabalho pedagógico ser feito junto com a equipe de saúde embora alguns participantes acreditassem que o pedagogo não fosse integrante dessa equipe. Contudo, vale ressaltar que, [...] o papel pedagógico-educacional do professor da escola hospitalar [...] lhe assegura transitar lado a lado com os demais profissionais do hospital, auxiliando-os em suas percepções e nas decisões para a efetividade das intervenções junto aos pacientes,que também são alunos da escola hospitalar, e seus familiares. O professor entra como parceiro na relação entre a criança e o ambiente hospitalar, entre a criança e o familiar, e nas interações de ambos com o hospital. (FONSECA, 2003, p. 30) Assim, percebe-se que a atuação do pedagogo em espaços não escolares vem se consolidando, pois a oferta de atendimento educacional é possível em diferentes contextos e, deve ultrapassar o âmbito escolar formal, envolvendo esferas mais amplas da educação. Logo, a formação do indivíduo deve ocorrer em espaços que, estejam sujeitos que anseiam por seu desenvolvimento, o que para nós esse outro espaço é o hospital. 6.1.3.3 - Participação do aluno-paciente nas atividades da Classe Hospitalar A oferta do atendimento escolar no hospital tem como uma de suas pretensões, aproximar a criança e/ou adolescente hospitalizado à “rotina” escolar. Assim, os dados do atual estudo evidenciaram que as atividades pedagógicas e – educacionais são validadas por seus acompanhantes, pois ao se envolver com as atividades escolares o aluno-paciente esquece a dor, e através delas tem a oportunidade de exercer seu direito de aprender, sentindose produtivo e participante. Quando solicitamos que os acompanhantes 73 relatassem o(s) motivo(s) que os levaram a permitir que seu filho(a) participassem da Classe Hospitalar eles expuseram as seguintes razões: Porque eu acho uma coisa importante para a mente dele ainda mais ele que tem assim ... uma mente aberta eu acho muito importante para ele [...]Ele fica contente e eu gosto que ele participe de muitas coisas assim, muitas atividades. (Ac 1) [...] para ele ter mais conhecimento eu acho muito bom essas aulas que tem que ele vem e participa. (Ac 2) Porque é importante tanto para ela quanto para a pró. Eu acho que é uma troca de experiência. Ela fica feliz porque esta fazendo uma atividade tem uma ajuda e as prós porque também estão recebendo de alguma forma a retribuição do trabalho dela, vê a felicidade das crianças quando elas chegam. (Ac 5) Porque distrai e é um dia que ele falta na escola e de certa forma não fica parecendo que ele está descumprindo com aquela obrigação semanal e também porque ele gosta das atividades, ele gosta, ele se sente assim...mais meio criativo aqui. Na verdade, porque na escola ele faz o programa que a professora preparou e aqui não. Aqui tem opções de escolhas né? Ele pode pintar, ele pode brincar, ele pode assistir, ele pode desenhar, é mais livre. (Ac 3) As falas das entrevistadas demonstraram o quão significativo é a presença das professoras da Classe Hospitalar, pois permite ao aluno a participação no processo de ensino e aprendizagem. Contrapondo aos dados encontrados no atual estudo, a pesquisa realizada por Foggiatto (2006) os resultados evidenciaram que os pais não participaram muito das atividades relativas à escola dentro do hospital e alguns deles acharam que o filho precisava descansar e que seria melhor que ele ficasse no quarto e longe da Classe. Por outro lado, vale destacar um trecho do relato apresentado por Ac3 “é um dia que ele falta na escola e de certa forma não fica parecendo que ele está descumprindo com aquela obrigação semanal [...]” , logo a Classe Hospitalar favorece a aproximação do hospital com a escola regular. O professor, com a participação do acompanhante e as contribuições dos profissionais de saúde, detém condições 74 ótimas de demonstrar que o atendimento pedagógicoeducacional no ambiente hospitalar em muito colabora para que a criança não se sinta presa no hospital e possa, além de melhorar a sua compreensão sobre o ambiente hospitalar em que está inserido, de alguma forma estabelecer, manter ou estreitar os seus laços com o mundo fora do hospital. (FONSECA, 2003, p. 31-2, grifo do autor) Logo, pudemos identificar que a oferta do atendimento pedagógicoeducacional favorece as interações do aluno-paciente hospitalizado com outros contextos, em especial, a escola, pois “[...] frequentar as aulas, usufruir das relações interpessoais, conquistar aprendizagens e conhecer sentidos demarcam prazeres oriundos da ambiência escolar, e a criança hospitalizada almeja esta aceitação de normalidade”.(ORTIZ; FREITAS, 2005, p. 46) Não podemos deixar de considerar que o estresse da hospitalização, composto pela angústia da evolução prognóstica, e ansiedade pela resposta do organismo à terapêutica empreendida - ainda mais quando se trata de um estudo experimental - faz com que tanto os alunos-pacientes quanto seus familiares necessitem de uma escuta sensível que permita a atenuação e superação de estados emocionais negativos (BARROS, 1999). Portanto, todo o trabalho realizado no leito, com os alunos com MPS, conforme nos sinaliza Uchôa, [...] busca oferecer à criança e aos seus familiares, atividades que oportunizem momentos lúdicos e de construção de conhecimento, através de propostas educativas que estimulem a curiosidade e de estimulo ao desenvolvimento do pensamento crítico. Com isso, o vazio da espera pode ser transformado em um tempo de construção e aquisição de significados. ( 2007, p. 161) Dessa forma, percebemos que, para os alunos-pacientes com doença crônica que realizam visitas sistemáticas para realização da terapêutica, a ocupação – o ‘ter o que fazer’ – e a escuta sensível os ajudam a enfrentar seus medos e atenuar a sensação de incompletude e ansiedade comuns aqueles que permanecem em regime de hospital-leito. Tal afirmativa é retratada nas falas dos sujeitos participantes da investigação. 75 No momento que vocês estão aqui distrai eles um pouco da doença, eles esquecem um pouquinho que estão tomando medicação, por exemplo. [...] eu acho que distraem muito eles esquecem que estão no momento de tomar medicação, esquecem até da “hora da furada” eu acho que é como se eles estivessem na sala de aula. (Ps 1) Eu acho que ajuda os meninos porque uma pessoa passar 4 horas aqui só olhando para parede seria terrível. (Ac 3) [...] o tempo ocioso que eles ficam aqui é ocupado por atividades e essas atividades tendem a “crescer” as crianças, a ativar a mente deles. (Ac 5) [...] a gente brinca, faz coisas, estuda. (Ap 1) [...] vocês vem pra cá, ai a gente se diverte. ( Ap 2) As etapas que compõem a realização da Terapia de Reposição Enzimática, desde a saída da sua casa e/ou dos seus Municípios, a chegada no hospital, espera pelo medicamento, administração de antipiréticos e/ou antihistamínicos e submissão à punção venosa periférica, fazem com que as crianças e adolescentes vivenciem momentos de dor e sofrimento. Logo, a Classe Hospitalar, promove por meio de suas intervenções lúdicas e pedagógicas, momentos prazerosos para o enfrentamento da terapêutica, além disso, conforme nos mostra Uchôa ( 2007, p. 162), os alunos-pacientes, [...] vivenciam [...] um tempo ocioso, sentindo-se estressadas, o que torna o momento de espera um transtorno para elas, para seus familiares, acompanhantes e médicos. Em contrapartida, nestes encontros afetuosos, carregados de amor, inerente ao ato educativo, de que fala Freire (2000), é proposto um espaço e um tempo em que os alunos podem vivenciar momentos prazerosos de aprendizagem, experimentando suas potencialidades e desenvolvendo sua leitura de mundo. 76 Figura 11 – Desenho livre de um aluno-paciente. Fonte – Ap 4 Reconhecemos que não temos autonomia para modificarmos o quadro já instalado da patologia, entretanto podemos minimizar os aspectos negativos decorrentes da hospitalização, como medos, ansiedade e tristeza. Logo, a oferta de ambientes educacionais e lúdico-terapêuticos nos hospitais, pode contribuir de forma singular para que crianças e adolescentes hospitalizados, melhor tolerem a terapêutica empreendida para sua recuperação e promover um “olhar” mais humanizado para o ambiente hospitalar. Vale destacar que tal empreendimento não se trata meramente de uma ação por “caridade”, pois os doentes crônicos - com todas as problemáticas que envolvem o enfermar - sobretudo quando se trata de uma doença progressiva e multissistêmica, como é o caso da mucopolissacaridose, se caracterizam como alunos-pacientes com necessidades especiais. Dessa forma, devem ser inclusos nos projetos e ações de políticas públicas que vislumbrem a inclusão social e interação entre os sujeitos, por meio da vivência educativa e social, mesmo que realizem atendimento em regime de hospitaldia, já que segundo Fonseca (2003, p. 16) [...] perde sentido considerar um tempo longo de internação da criança para justificar a manutenção ou não do atendimento. 77 Do mesmo modo, o estar hospitalizado já caracteriza a criança como portadora de necessidades especiais, independente de ser esta necessidade temporária (uma doença que, se tratada, é curada) ou permanente (além da doença que acarretou a internação, a criança é portadora de síndrome de Down oi paralisia cerebral, por exemplo). Em geral, as doenças crônicas, a exemplo da mucopolissacaridose, fibrose cística, anemia falciforme e o câncer, exigem um tratamento prolongado e internamentos hospitalares para a realização da terapêutica que visa ofertar para esses pacientes, uma melhor qualidade de vida. Contudo, a adesão ao tratamento torna-se mais difícil, à medida que o paciente deixa de ser criança e torna-se adolescente, sobretudo por conta das dificuldades que eles enfrentam diante de doenças crônicas que trazem estigma e descriminação. (KOURROUSKI, 2008) Assim, nos questionamos se a oferta de um ambiente lúdico e educativo pode em alguma medida, promover uma maior adesão a Terapia de Reposição Enzimática? Para tal reflexão tivemos como embasamento teórico o pensamento exposto por Vygotski, na obra Fundamentos de Defectología (1997), este autor afirma que, [...] muito frequentemente o defeito criança consiste de uma doença,[..]. Nesse sentido, a educação deve estar ligada ao tratamento e diz respeito ao alcance da pedagogia terapêutica. Unindo forças, o médico e o professor podem realizar essa tarefa. Muitas vezes, você não pode desenhar uma delimitação rigorosa entre terapêuticas e medidas educacionais.(VYGOTSKI, 1997, p. 201, tradução nossa) Assim, definimos a subcategoria temática: A Classe Hospitalar e adesão ao tratamento: permitindo a experiência de um dia diferente! 78 6.1.3.5 - A Classe Hospitalar e adesão ao tratamento: permitindo a experiência de um dia diferente! [...] seu eu ficasse aqui sem nada pra fazer o tempo todo dormindo, acordando e dormindo de novo, dormindo, acordando e dormindo de novo e indo embora ia ficar chato. (Ap 1) A promoção da adesão ao tratamento não deve se traduzir somente por intervenções clínicas, embora reconheçamos que a terapêutica empreendida é capaz de diminuir os riscos de mortalidade e morbidade decorrentes de uma doença crônica e progressiva. Contudo, devemos considerar que outras necessidades devem ser consideradas, sobretudo quando os pacientes são crianças e/ou adolescentes. Para Oliveira e Gomes (2004, p. 460) “a simultaneidade da adolescência e da doença crônica caracteriza uma crise existencial, sobrepondo-se à outra crise, representada pela enfermidade incurável e respectiva necessidade de tratamento continuado”. Assim, torna-se estratégico “[...] buscar formas de ampliação das atividades de promoção da adesão por meio do aprimoramento dos serviços de saúde, de capacitação de equipes multidisciplinares e articulação dos serviços com a comunidade”, (BRASIL, 2007) como também a oferta de atividades pedagógico-educacionais, a exemplo da Classe Hospitalar. Ao questionarmos, os participantes a cerca da possível contribuição desta modalidade de atendimento, na adesão ao tratamento, obtivemos os seguintes relatos: Eu acredito sim. Porque quando você vem e tem algo de bom no lugar, algo que você gosta você tem prazer em vim. Então eu sinto que Ap 3 e Ap 1 têm prazer quando as prós chegam, então...isso é melhor para eles traz um dia diferente para eles. (Ac 5) Com certeza. [...] especificamente quando se fala na terapêutica da Mucopolissacaridose, ela é muito sofrida assim... você tem assistência de enfermagem a respeito das punções que você precisa fazer, a própria restrição ao leito - o que para uma criança é mais complicado – sem contar, que não é um dia feliz para criança. Por mais que a gente tente 79 minimizar e minorar os problemas, muitos deles não querem vim e assim... o ambiente da Classe Hospitalar ameniza bastante esse tipo de desconforto e incomodo. A gente tem que tentar promover o máximo possível de razões que façam com que o paciente queira vim para infusão e minimizar aquelas razões que os fazem não querer vim. [...] eu vejo a classe hospitalar inequivocamente de uma maneira que favorece a adesão porque ela é quase que um lenitivo, um consolo até para o próprio paciente. Alguns deles aguardavam o momento em que a professora ia. Ai! Que tristeza quando ela não poderia está lá. Sem dúvida, a Classe Hospitalar favorece a adesão ao tratamento, sim. (Ps 1) Acho. Primeiro porque ele não só faz chegar, tomar a medicação e ficar 4 horas sentado. Ele fica interagindo durante essas horas, e na verdade, ele não fica só 4 horas, [..] eles chegam 7h ou 7h30min e ficam aqui às vezes até 14h30min então é um período grande às vezes de 6 horas. Então isso faz com que o tempo passe mais rápido, faz com que eles se sintam...tenham atividade o tempo todo. Porque quando vocês não estão aqui eles ficam dormindo [...] Acho que eles podem ter mais vontade de vim, porque se eles vêm só para fazer a medicação e ir embora não tem muito o que fazer, então se eles souberem que aqui vai ter uma atividade que eles possam está fazendo durante essas 4 ou 5 horas eu acho que com certeza vai melhorar a adesão (Ps 4) Sim, especialmente na adesão ao tratamento, sendo uma atividade prazerosa, ajuda a relaxar enquanto está recebendo tratamento, além de socializar com outras crianças (Ps 5) A presença da Classe Hospitalar no contexto do hospital proporciona um dia diferente para os alunos pacientes que se encontram submetidos a TER e, essa modalidade de ensino chega a ser comparada por um dos entrevistados como um lenitivo, quando se trata de tornar a terapêutica menos sofrida. Logo, a presença das professoras nos leitos, ofertando ora atendimento individual, ora atendimento em grupo, permite que os alunos-pacientes vivenciem momentos prazerosos. [...] já que ele está no ambiente hospitalar e a pessoa mesmo vindo por obrigação (não vem por vontade vem obrigada mesmo), então aqui é um ambiente social onde você conhece pessoas que estão trabalhando, pessoas que estão passando por problemas e pessoas que estão até em situações piores. É essa interação que faz com que ele perceba as coisas e o ambiente com outra visão é outro tipo de interação, e eu acho interessante. (Ac 3) 80 Logo, a socialização entre os pares é favorecida durante a realização das atividades pedagógicas e, dessa forma, tanto os alunos quanto seus familiares podem descobrir, não somente os limites que uma doença crônica pode ocasionar, mas, sobretudo as possibilidades “escondidas” de um corpo que clama pela visibilização de um potencial negado pela exclusão imposta socialmente. Percebemos nos relatos apresentados, que os participantes reconheceram a importância da Classe Hospitalar, enquanto instrumento facilitador da atenção terapêutica da mucopolissacaridose, favorecendo uma maior adesão ao tratamento. Em estudo realizado por Oliveira e Gomes (2004), os resultados apontaram que dentre as estratégias mais utilizadas para melhorar a adesão estão os programas educativos, que visam envolver no tratamento tanto os jovens quanto seus familiares. 6.1.3.7 - A Classe Hospitalar e a escola regular [...] teve uma coisa que me marcou muito. Certa vez um dos pacientes estava no dia de terapia e tinha uma prova eu não sei se para aquele dia mesmo ou no outro dia pela manhã e a professora sentou com ele, pegou o material e estudou com ele aquele material então assim... foi uma aula direcionada, uma aula bem especifica. Eu não tenho como te dá parâmetros claros sobre o impacto objetivo disso, mas é inegável que aquele trabalho dela com o paciente eu não posso falar em termos com muita propriedade, mas na medida em que você ver a interação do paciente e que ele demonstra entendimento na execução das tarefas, quando você vê que ele interage de maneira inteligente e que a cognição dele está sendo estimulada. Não consigo ver de outra forma, porque assim não é a diferença daquilo que eu vejo ali e o que eu veria em uma sala de aula a diferença é o contexto ambiental, mas em termos de interação e trabalho não há diferença. (Ps 1) A oferta do atendimento educacional na Classe Hospitalar, destinado as crianças e adolescentes, em condição de adoecimento crônico, visa também 81 favorecer o processo de ensino e aprendizagem. Para Ortiz e Freitas (2005, p.93) A luta por mais cognição e saúde são traços associados ao papel das classes hospitalares que se empenham em ajudar o aluno em sua tarefa de aprender, seja na forma de dar prosseguimento aos estudos regulares, no atendimento específico às dificuldades de aprendizagem, na apropriação de saberes ou mesmo no estabelecimento de vínculos com o universo escolar de cada paciente. A manutenção do vínculo com a escola de origem, proporcionado pelas professoras da Classe Hospitalar, faz com que aluno com doença crônica, consiga estabelecer conexões dos assuntos abordados nestes dois espaços, que embora diferentes, são complementares. Quando questionamos os alunospacientes, seus acompanhantes e os profissionais de saúde, de que forma eles achavam que o trabalho realizado pelas professares da Classe Hospitalar poderia ajudá-los na escola regular, emergiram os seguintes relatos: Tirando dúvidas, às vezes eu tenho uma dúvida posso vim aqui perguntar, pedir um conselho. (Ap 2) Por exemplo, porque assim... dá coisas que a gente estuda lá que na hora das provas também dá um reforço para gente [...] no dia que eu te pedir uma pesquisa de história que eu estava com dificuldade no dever que você me deu ai...eu levei essa pesquisa para a escola e quando eu cheguei lá eu descobrir que eu já sabia aquilo. (Ap 1) Estudando, me acompanhando. (Ap 3) [...] a professora pergunta o que é que ele está vendo na escola, quais são as habilidades dele o que é que ele já sabe fazer, o que ele não sabe o que ele tem dificuldade, o que ele tem facilidade. (Ac 2) Evitar descontinuidade no ensino, além de permitir um trabalho mais individualizado, podendo detectar dificuldades. E nesse período a atividade ser um estímulo ao retorno à classe escolar regular. (Ps 5) Eu acho que sim. Na verdade é quase a conseqüência direta do trabalho, falando em termos leigos, isso me parece ser algo quase que natural que aconteça. Inclusive, você consegue... na 82 minha opinião, você consegue promover uma espécie de adaptação se for o caso, para a criança que talvez não tenha essa inclusão lá fora e quando chegar lá, vai está mais ou menos adaptada ao tipo de metodologia e terminologia. Eu acho que isso inclusive pode servir como um preparo ou manutenção enquanto eles estão fora da escola. (Ps 1) [...] no dever dele que às vezes ele tem dificuldade em matemática como já aconteceu ai ele veio trouxe os deveres e as professoras ensinaram e ele fez a prova e deu tudo certo. (Ac 4) Pelo que eu vejo da aula de vocês, vocês não dão só aula de Português, Matemática, [...] outro dia eu estava falando que vocês falam até sobre trânsito, ensina sobre a violência eu estou gostando, porque eu presto atenção, na verdade. (Ps 2) Os discursos dos participantes evidenciaram a existência de uma mediação das interações das crianças e adolescentes hospitalizados com o mundo fora do hospital, qual seja a escola. A relação que aluno conseguiu fazer com a aquisição de conhecimento “[...] eu descobrir que eu já sabia aquilo”. (Ap 1) e estabelecer comparações entre os diferentes espaços de aprendizagem é, um revelador do seu processo de desenvolvimento cognitivo, mesmo na presença de uma doença crônica e progressiva. Para Pires Júnior e colaboradores (1997, p.180) o atendimento escolar hospitalar é uma “[...] oportunidade de a criança confrontar com outras metodologias de ensino e perceber a importância do estudo". Assim, a Classe Hospitalar é capaz de fazer com que esses alunos percebam que são capazes de aprender mesmo doentes e que os pais reconheçam o potencial dos filhos. [...] ele assimila coisas que ele ainda não viu na escola e a gente descobre... porque na escola ele vai e não sabemos o que ele está dizendo a professora, as perguntas que ela faz, a pesquisa e aqui a gente fica assistindo e às vezes a gente até se surpreende porque eles sabem coisas que a gente não pensou que soubessem. (Ac 3) No estudo realizado por Ortiz e Freitas (2001) os achados encontrados, corroboram com o atual estudo, pois os resultados apontaram - no que se refere ao atendimento escolar no cotidiano do hospital - que, 100% das classes 83 hospitalares ocupam-se em dar continuidade aos estudos regulares e sanar as dificuldades de aprendizagem dos pacientes-alunos; 60% favorecem a apropriação de novos saberes e novas habilidades não ofertadas pela escola regular do paciente-aluno. Assim, tais fatos podem ser ratificados a partir dos relatos dos participantes, pois através deles ficou evidente o cuidado das professoras em investigar os conhecimentos prévios dos alunos, objetivando estimular as potencialidades dos mesmos e/ou atenuar as dificuldades do processo de escolarização. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) ao se referirem aos temas transversais, trazem como premissa que, “o compromisso com a construção da cidadania pede necessariamente uma prática educacional voltada para a compreensão da realidade social e dos direitos e responsabilidades em relação à vida pessoal, coletiva e ambiental [...]” (BRASIL, 1997, p.19). Assim, a realização de uma práxis pedagógica reflexiva exige a incorporação de tais temáticas no trabalho educativo da escola. Portanto, a Classe Hospitalar enquanto um espaço promotor de educação, em seu sentido mais amplo, tem tornado possível tal compromisso. Destacamos o relato “[...] vocês não dão só aula de Português, Matemática, [...] outro dia eu estava falando que vocês falam até sobre trânsito, ensina sobre a violência”. (Ps 2). Dessa forma, podemos afirmar que a escola instituída no contexto do hospital, é um ambiente que (re) significa princípios segundo os quais devem orientar uma prática, verdadeiramente, educativa, pois nela os sujeitos envolvidos são reconhecidos como cidadãos co-responsáveis pelo exercício e legitimação de seus direitos. 6.1.3.9 - O papel da classe hospitalar e suas contribuições durante a TER. A última subcategoria temática visa por fim, responder ao questionamento central desta investigação científica. A Classe Hospitalar tem contribuído na atenção terapêutica de alunos-pacientes com doença crônica? Embora reconheçamos que ao longo da análise dos dados o nosso 84 questionamento foi sendo respondido, através das percepções dos sujeitos participantes dessa investigação, a legitimação deste espaço de saberes e práticas educacionais, foi reforçada a partir das seguintes falas, que embora longas, conseguiram esboçar a significação e compreensão dos aspectos que permeiam o “ser professor da Classe Hospitalar: [...] vocês “tiram” um pouco que eles estão fazendo infusão quando vocês chegam ai eles esquecem se você prestar atenção em... (se refere a um aluno-paciente) ele não interage assim com outras pessoas não gosta dos toques, você já percebeu isso? E quando vocês estão aqui, olha ai o que ele está fazendo, está desenhando, está pintando, está brincando. (Ps 2) Eu acho que se não tem, se a classe hospitalar, por exemplo, não tivesse um apoio ao tratamento propriamente, porque indiretamente tem, e ainda que não tivesse ela tem potencial para fazer. É um material extremamente poderoso. Então, por exemplo, você pode utilizar a classe hospitalar para fazer explanação sobre a própria doença talvez para os próprios pacientes e até para os familiares, aqueles que acompanham. Você tem ferramenta pedagógica que pode facilitar muito o intercâmbio de informações que às vezes partem dos profissionais de saúde, mas eles não possuem uma instrumentalidade mais adequada. Pesquisadora: E de que forma você acha que isso seria possível? Uma das formas que isso se torne possível é aumentar ainda mais o contato do professor não só com o aluno, mas com a equipe e que haja uma interação e ai o que é que acontece? Você vai gerar uma nova demanda para o professor, você vai gerar uma demanda para o professor hospitalar. Digamos assim, eu acho que ele vai ter que adquirir algumas outras competências, o campo de conhecimento vai precisar ser ampliado, mas eu acho que é uma área extremamente fecunda que tem muito chão para se plantar.. Eu não quis repetir que a classe hospitalar já tem uma ajuda na terapêutica, mas se for escarafunchar alguma outra coisa que se poderia fazer diretamente no tratamento eu acho que essas coisas vão aparecer na medida em que houver ainda mais interseções entre o trabalho de vocês e o que é que é da doença,, o que que é da terapêutica [...] Pesquisadora: Você acha que se partíssemos para essas questões não estaríamos “invadido” o espaço do profissional de saúde? Essa é uma situação um pouco complicada dentro da própria área de saúde. É você estabelecer fronteiras e limites eu acho que a gente pode na verdade ter mais um prejuízo para o 85 próprio paciente quando a gente acaba estabelecendo esses limites, porque de fato as áreas se interceptam [...] eu acho que a gente tem que achar um mecanismo de favorecer essas interseções. [...] o que vai haver não é uma sobreposição meramente, mas uma abordagem especifica de cada área. Não dá para você simplesmente fazer com que o enfermeiro morra de medo de dá orientações sobre alimentação porque ele não é nutricionista entende? [...] o que podemos fazer é reforçar o trabalho do outro [...] Essa é uma das razões porque a interação deve ser ainda maior. Temos muita dificuldade em ter trabalho interdisciplinar, embora se fale muito disso, se fala muito, muito, muito, mas ninguém está disposto a fazer. Não é nem que não se saiba eu vejo muito pouco esforço para se fazer isso e alguns talvez nem queira mesmo, pois dá trabalho fazer, mas não vai de outro jeito, enquanto se tiver com essa coisa fragmentada vai ter isso que a sua pergunta evoca vai ter competição. [...] Não acho que isso invada o trabalho do profissional de saúde, eu acho que isso só contribui. Diante do depoimento do profissional de saúde, podemos observar o quanto é importante a diálogo entre as áreas da Educação e da Saúde, sobretudo por compreendermos que a Classe Hospitalar é uma modalidade de educação genuinamente interdisciplinar. Para Ortiz e Freitas (2005, p. 61) [...] a classe hospitalar [...] é sem dúvida, uma abordagem de educação ressignificada como prioridade, ao lado do tratamento terapêutico [...] e ao longo da historicidade hospitalar, o encontro entre educação e saúde se legitima, mesmo que a confirmação desta proximidade seja permeada de estranheza. A estranheza surge quando se caracteriza a fusão de fins e práticas diferenciadas pela especificidade do trabalho pedagógico junto ao trabalho terapêutico. (ORTIZ. FREITAS, 2005, p. 61) As análises das falas dos participantes reforçaram a importância da oferta de escolarização para crianças e adolescentes hospitalizados, em seu aspecto mais amplo, assim como o seu pertencimento ao campo da Educação Especial. Entretanto, algumas questões foram postas, acerca do papel da Classe Hospitalar e, faz sentido retomá-las. Ortiz e Freitas (2005) evidenciam que o encontro da educação com a saúde, ainda causa estranheza e (Ps1) evidencia em sua fala que o papel da Classe Hospitalar pode ser ampliado, na medida em que o professor discute com o aluno e a família questões de saúde e doença. Contudo, algumas questões precisam ser pontuadas. 86 A primeira delas, diz respeito à relação estabelecida entre profissionais de saúde e da educação. Assim, não podemos deixar de pontuar que o hospital, ainda se constitui por equipes das mais diversas áreas da saúde e o pedagogo se insere nesse contexto, com ressalvas que muitas vezes, não permitem o diálogo efetivo sobre tais questões. A segunda vem reafirmar que a Classe Hospitalar ainda é um campo nascente de saberes e práticas, assim o pedagogo ainda não compreende a sua função, enquanto sujeito ativo no contexto hospitalar. A terceira é uma questão que já vem sendo debatida por pesquisadores da área da educação, a formação do pedagogo para atuar em contextos nãoescolares. A discussão em torno das Ciências da Saúde nas Licenciaturas de Pedagogia ainda carece de investimentos que provoquem no educando um refletir sobre questões da saúde e doença. Logo, os professores da Classe Hospitalar, ocupam muitas vezes, esse espaço sem uma formação especifica que o instrumentalize e permita uma ação que vá além da oferta de conteúdos escolares. A última, e não menos importante, diz respeito ao atendimento de alunos-pacientes com doenças crônicas e incuráveis, como é o caso da MPS, pois se torna mais difícil trazer questões que podem provocar no alunopaciente e no seu familiar sentimentos negativos, sem contar que, muitas vezes na visão do acompanhante é melhor, que seu filho(a) não compreenda aspectos relacionados a sua doença. Em pesquisa realizada por Cecim e Fonsesa (1999) os resultados evidenciaram que o atendimento escolar ofertado no hospital é um recurso que pode minimizar a exclusão escolar decorrente da estigmatização de algumas doenças e/ou pela estigmatização física decorrente de condutas terapêuticas, quais sejam: amputações, queda de cabelo, cicatrizes, ostomias, dentre outras. A investigação feita por Barros e Sousa (2006) com professoras de Classes hospitalares, apontou em seus resultados que, quando questionadas acerca das contribuições específicas da classe hospitalar, elas perceberam que tais contribuições giravam em torno do avanço cognitivo das crianças, do elo com a escola e a vida fora do hospital, com a possibilidade de tornar o hospital 87 menos áspero, propor atividades lúdicas que as faziam esquecer a doença, resignificar o ambiente hospitalar, interagir com a criança e sua história de vida, dar significado à vida das crianças, passarem esperança, ser um pouco mãe, amiga, transmitir alegria e segurança às crianças, divulgar o trabalho de classe hospitalar a outros professores e ajudar as mães através do diálogo a enfrentarem o problema de saúde dos filhos. Em pesquisa realizada por Zaias e De Paula (2009) acerca do que revelam as produções acadêmicas sobre as práticas em espaços hospitalares constantes nas teses e dissertações, identificaram que algumas pesquisas destacaram que o benefício da escola no contexto hospitalar vai além do processo de ensino e aprendizagem de conteúdos trabalhados na escola regular. A presença deste espaço pode contribuir para a diminuição do estresse durante o enfrentamento da rotina hospitalar e aumentar autoestima desse alunado. De modo análogo a presente investigação, Pires Júnior (1997) identificou na sua pesquisa que maioria dos participantes relatou que o trabalho do pedagogo dentro do hospital traria vantagens para a recuperação da criança, diminuindo o tempo de hospitalização. Indicaram como sendo determinante para a recuperação da saúde da criança, a atenção desprendida colaboraria com o estado emocional da criança e na aprendizagem. Fonseca e Ceccim (1999, p.34) ainda reforçam que, [...] o atendimento sistemático proporcionado a estas crianças contribuiu para um melhor desenvolvimento delas. A possibilidade de saída do leito, bem como a proposição de atividades motivadoras e a observação de que outras crianças também vivenciam estas experiências, contribuiu para uma performance mais assertiva destas crianças, se comparadas com aquelas que não são atendidas sistematicamente e que, por conseguinte, têm seu campo motivacional muito mais restrito. O atendimento pedagógico-educacional que é desenvolvido na classe hospitalar contribuiu para um melhor desenvolvimento e mais rápida recuperação de saúde das crianças que participaram do mesmo. 88 Logo, observamos que algumas contribuições do atendimento pedagógico e educacional, ofertado por professores da Classe hospitalar, para os alunos-pacientes, estão bem demarcadas, sejam eles, a promoção da qualidade de vida, diminuição do estresse, aumento da autoestima, dentre outros. Entretanto, é necessário que o próprio profissional (re)conheça o ambiente em que desenvolverá suas atividades, uma vez que esse local ainda carece da expansão, de muitas investidas que ampliem seu entendimento. Já que os dados de pesquisas já realizadas em torno da problemática da Classe Hospitalar, ainda não foram suficientes para que o poder público consiga se convencer na real necessidade de instituir uma política pública específica para tal modalidade de atendimento. 89 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS Uma pesquisa é sempre, de alguma forma, um relato de longa viagem empreendida por um sujeito cujo olhar vasculha lugares muitas vezes já visitados. Nada de absolutamente original, portanto, mas um modo diferente de olhar e pensar determinada realidade a partir de uma experiência e de uma apropriação do conhecimento que são, aí sim, bastante pessoais. (DUARTE, 2002, p. 140) Iniciaremos as nossas considerações nos referenciando em Moreira e Macedo (2009, p. 65, grifos dos autores), quando nos provocam, afirmando que “[...] é preciso estruturar estudos com crianças portadoras de doença crônica e não somente sobre essas crianças [...]”. Acrescentamos a tal afirmação, os adolescentes e jovens que não portam, mas se encontram na condição de adoecimento crônico. Além disso, importante também se faz escutar seus familiares, que muito sofrem por verem seus filhos silenciados e excluídos do direito à educação, pois [...] afirmar positivamente a experiência da doença ou hospitalização e não marcá-las como ruptura com os laços interativos da aprendizagem de si, do mundo, das relações é o objeto de uma escuta pedagógica. O direito à invenção de si e do mundo é o devir ético do trabalho educacional. Uma escuta pedagógica em saúde decorre da defesa de vida como valor maior (CECCIM, 2010, p.37) Se a educação no hospital é ainda um processo em construção, a ação educativa voltada para alunos-pacientes com doença crônica progressiva, no caso, a mucopolissacaridose, é ainda mais recente. Dessa forma, o período de hospitalização pode ser transformado em um tempo de aprendizagem e aquisição de novos significados, não sendo preenchido, apenas, pelo sofrimento e pelo vazio do não desenvolvimento afetivo, psíquico e social. A partir da análise desenvolvida nos capítulos anteriores tecemos algumas considerações à luz das reflexões que foram colocadas ao logo desta dissertação. Percebemos a contribuição social e pedagógica oferecida pela Classe Hospitalar para o desenvolvimento da criança, evidenciadas nas falas dos próprios alunos-pacientes, seus acompanhantes e profissionais de saúde. 90 Os nossos questionamentos e inquietações próprios de uma pesquisa investigativa geraram diversas hipóteses ao longo dos dois anos de Mestrado. Muitas vezes, nos perguntávamos a que ponto o atendimento pedagógico poderia contribuir na adesão ao tratamento de uma doença crônica? Será que o trabalho realizado pode de fato, fazer com que os alunos-pacientes tolerem melhor a terapêutica dolorosa a que eram submetidos? Até que ponto a oferta do atendimento ofertado em regime de leito-dia, pode estreitar a relação com a escola regular? Contudo, acreditávamos que, [...] dispor de atendimento na escola hospitalar, mesmo que por um tempo mínimo, e que talvez pareça não significar muito para uma criança que atende a escola regular, tem caráter importantíssimo para a criança hospitalizada. Esta criança tem a chance de atualizar suas necessidades, desvincular-se mesmo que momentaneamente das restrições que um tratamento hospitalar impõe, e adquirir conceitos importantes tanto para sua vida escolar quanto pessoal. (FONSECA, 2003, p. 8) Mas, será que os sujeitos envolvidos, acreditavam em tal premissa? Mas, felizmente conseguimos identificar com a realização desta pesquisa que de modo geral, os participantes relataram os estímulos diversificados que as crianças e adolescentes receberam, assim como as variedades de atividades desenvolvidas pela Classe Hospitalar, por meio dos educadores, corroboraram para o desenvolvimento da criança como um todo, sendo, portanto a sua aplicabilidade de fundamental importância. No que se refere ao papel da Classe Hospitalar no atendimento aos alunos com mucopolissacaridose, percebemos que as contribuições atribuídas pelos sujeitos da pesquisa, vão muito além da continuidade aos conhecimentos escolares, elas perpassam pela atenuação do sofrimento, promoção de momentos de diversão, apoio psicológico, resgate ao prazer de estudar, favorece a adesão do tratamento e contribui significativamente na atenção terapêutica. Contudo, vale destacar que, o contexto de inserção da Classe Hospitalar, qual seja, o hospital, requer investidas que propiciem descobertas para o entendimento deste novo fenômeno. E a divulgação dos resultados das 91 pesquisas permitirão um maior embasamento teórico-metodológico para realização de práticas e transformação das mesmas em saberes. Entendemos que, o reconhecimento de uma determinada área do saber, enquanto ciência esta intimamente relacionada à produção de conhecimentos novos, porém percebemos que a Classe Hospitalar, vista como um campo do conhecimento e do saber ainda “[...] carece, com certa urgência, de investimentos empíricos que superem a marca excessivamente missionária dos discursos que se empregam em seu nome”. (BARROS, 2008, p. 35) Assim, a Pedagogia que pretendemos, seja incluída, no atual contexto educacional, exige tanto um trabalho coletivo que é algo a ser conquistado, a médio e em longo prazo, quanto uma disponibilidade das pessoas envolvidas para a construção de novos conhecimentos que permitirão o reconhecimento, da Classe Hospitalar, enquanto ciência e, dessa forma poderemos transpor as fronteiras do educar. Ressaltamos que, essa pesquisa não se encerra em si, já que, os conhecimentos adquiridos no decorrer da realização do trabalho proporcionaram novos questionamentos que podem impulsionar a realização de outros trabalhos nessa área de conhecimento. Portanto, os resultados de uma pesquisa nunca se dão por terminado, vive do momento e da incompletude. Mas podem inspirar. Aluna- paciente com MPS 92 REFERÊNCIAS ALBUQUERQUE, RML et. al., Aspectos eletrencefalográficos em crianças com Mucopolissacaridose. J Epilepsy Clin Neurophysiol v. 16, n. 4, p. 162166, 2010. 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Resolução Nº 196/96 do Conselho Nacional de Saúde) Prezado (a) pais e/ou responsáveis, O Sr (ª) está sendo convidado (a) para participar do projeto de pesquisa intitulado: “O papel da classe hospitalar na atenção terapêutica às crianças e adolescentes com doença crônica progressiva: o caso da mucopolissacaridose” O estudo será realizado na Classe Hospitalar do Hospital Universitário Professor Edgar Santos –(HUPES/ UFBA), Salvador – BA, sob a responsabilidade da pesquisadora mestranda Rosane Santos Gueudeville, professora da Classe Hospitalar do Complexo Hospitalar Professor Edgar Santos (C–HUPES) e orientado pela Profa. Dra. Alessandra Santana Soares e Barros. O objetivo deste trabalho é compreender o papel da classe hospitalar na atenção terapêutica às crianças e adolescentes com mucopolissacaridose (MPS). Para realização da coleta de dados será necessária sua disponibilidade para responder a um roteiro de entrevista individual, semi-estruturado e adaptado a fim de se obter dados a respeito da sua percepção sobre o papel da Classe Hospitalar no atendimento de pacientes com mucopolissacaridose. Informamos que a entrevista será gravada em áudio, para posterior transcrição e análise dos dados. As respostas serão tratadas de forma anônima e confidencial, quando for necessário exemplificar determinada situação, sua privacidade será assegurada. As informações coletadas serão guardadas por 5 (cinco) anos no Grupo de Estudos e Pesquisa em Educação Inclusiva e Necessidades Educacionais Especiais (GEINE) da Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia – FACED/UFBA. A realização deste trabalho contribuirá para a garantia do direito de acesso, manutenção e continuidade da escolarização de pessoas em condição de adoecimento e/ou hospitalização e melhor compreender as crianças e adolescentes com essa doença rara, crônica e progressiva, no que diz respeito aos aspectos pedagógicos e educacionais. Além de poder facilitar o trabalho dos profissionais de educação, no diálogo com as famílias e com os profissionais de saúde com relação a MPS. Sua participação é voluntária, a qualquer momento você pode recusar-se a responder qualquer pergunta ou desistir de participar e retirar seu consentimento. Sua recusa não trará nenhum prejuízo a você e nem ao seu filho(a) na relação com o pesquisador ou com a instituição, ficando assegurado o acompanhamento clínico e pedagógico ao paciente. O Sr (a) não terá nenhum custo ou quaisquer compensações financeiras. . Não haverá riscos de qualquer natureza relacionada à sua participação. O benefício relacionado à sua participação será de contribuir com o conhecimento científico para a área da pedagogia, da saúde e com os estudos sobre mucopolissacaridose. O Sr (a) receberá uma cópia deste termo onde consta o n° de telefone/e-mail do pesquisador responsável, podendo tirar as suas dúvidas sobre o projeto e sua participação, agora ou a qualquer momento. Desde já agradecemos! Eu li e entendi a explicação e agora estou compreendendo totalmente o estudo. Eu também acredito que a participação e do meu (minha) filho(a) é de grande valor para ela e outras crianças/adolescentes com mucopolissacaridose. Eu, __________________________________________, RG nº _______________________, responsável legal por ____________________________________, RG nº _____________________ declaro ter sido informado e concordo com a sua participação, como voluntário, no projeto de pesquisa acima descrito. Salvador, _____ de ____________ de _______. Nome: Rosane Santos Gueudeville. E-mail: [email protected] Contato: (71) 8841-2638 Nome: Profa. Dra. Alessandra S. Soares e Barros. E-mail: [email protected] Contato: (71) 32838248 109 TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (Conf. Resolução Nº 196/96 do Conselho Nacional de Saúde) Prezado(a) profissional de saúde, O Sr (ª) está sendo convidado (a) para participar do projeto de pesquisa intitulado: “O papel da classe hospitalar na atenção terapêutica às crianças e adolescentes com doença crônica progressiva: o caso da mucopolissacaridose” O estudo será realizado na Classe Hospitalar do Hospital Universitário Professor Edgar Santos –(HUPES/ UFBA), Salvador – BA, sob a responsabilidade da pesquisadora mestranda Rosane Santos Gueudeville, professora da Classe Hospitalar do Complexo Hospitalar Professor Edgar Santos (C–HUPES) e orientado pela Profa. Dra. Alessandra Santana Soares e Barros. O objetivo deste trabalho é compreender o papel da classe hospitalar na atenção terapêutica às crianças e adolescentes com mucopolissacaridose (MPS). Para realização da coleta de dados será necessária sua disponibilidade para responder a um roteiro de entrevista individual, semi-estruturado e adaptado a fim de se obter dados a respeito da sua percepção sobre o papel da Classe Hospitalar no atendimento de pacientes com mucopolissacaridose. Informamos que a entrevista será gravada em áudio, para posterior transcrição e análise dos dados. As respostas serão tratadas de forma anônima e confidencial, quando for necessário exemplificar determinada situação, sua privacidade será assegurada. As informações coletadas serão guardadas por 5 (cinco) anos no Grupo de Estudos e Pesquisa em Educação Inclusiva e Necessidades Educacionais Especiais (GEINE) da Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia – FACED/UFBA. A realização deste trabalho contribuirá para a garantia do direito de acesso, manutenção e continuidade da escolarização de pessoas em condição de adoecimento e/ou hospitalização e melhor compreender as crianças e adolescentes com essa doença rara, crônica e progressiva, no que diz respeito aos aspectos pedagógicos e educacionais. Além de poder facilitar o trabalho dos profissionais de educação, no diálogo com as famílias e com os profissionais de saúde com relação a MPS. Sua participação é voluntária, a qualquer momento você pode recusar-se a responder qualquer pergunta ou desistir de participar e retirar seu consentimento. Sua recusa não trará nenhum na relação com o pesquisador ou com a instituição. O Sr (a) não terá nenhum custo ou quaisquer compensações financeiras. Não haverá riscos de qualquer natureza relacionada à sua participação. O benefício relacionado à sua participação será de contribuir com o conhecimento científico para a área da pedagogia, da saúde e com os estudos sobre mucopolissacaridose. O Sr (a) receberá uma cópia deste termo onde consta o n° de telefone/e-mail do pesquisador responsável, podendo tirar as suas dúvidas sobre o projeto e sua participação, agora ou a qualquer momento. Desde já agradecemos! Eu li e entendi a explicação e agora estou compreendendo totalmente o estudo. Eu também acredito que a minha participação de grande valor para as crianças/adolescentes com mucopolissacaridose. Eu, __________________________________________, RG nº _____________________ declaro ter sido informado e concordo em participar, como voluntário, do projeto de pesquisa acima descrito. Salvador, _____ de ____________ de _______ .Nome: Rosane Santos Gueudeville. E-mail: [email protected] Contato: (71) 8841-2638 Nome: Profa. Dra. Alessandra S. Soares e Barros. E-mail: [email protected] Contato: (71) 32838248 110 APÊNDICE 2: Roteiro de entrevista com os acompanhantes NOME DO ENTREVISTADO:______________________________________ DOCUMENTO DE IDENTIDADE Nº:_______________________________________ DATA DE NASCIMENTO: _____/____/_______ ENDEREÇO:________________________________________Nº_____APTO:______ BAIRRO:_________________CIDADE:_____________ESTADO:___________CEP: E-MAIL:________________________________TELEFONE:____________________ DATA DA ENTREVISTA:____________________ I- Informações demográficas: 1 - Sexo: ( ) M ( ) F 2 – Idade ________________ 3 - Estado civil: ( ) casado (a) ( ) solteiro (a) ( ) divorciado (a)/ ou separado (a) ( ) viúvo (a) 4 - Escolaridade: ( ) Ensino Médio:________________________________________ ( ) Ensino Superior: _______________________________________ ( ) Pós-graduação:________________________________________ 1. Você conhece a Classe Hospitalar? O que sabe sobre ela? 2. Como você se sentiu quando soube da doença de seu filho/sua filha? 3. Se você precisar explicar o que é a doença de seu filho (a) para um parente próximo acha que saberia fazê-lo? Por quê? 4. Você acha que seu filho entende o que é a doença que ele tem? Por quê? 5. Por que você permite que filho/sua filha participe do atendimento educacional oferecido no hospital? 6. Qual a sua percepção em relação ao atendimento da Classe Hospitalar? 7. Você observou alguma contribuição do atendimento educacional oferecido durante a Terapia de Reposição Enzimática (TRE)? 8. De que forma você acha que o trabalho realizado pelos professores da Classe Hospitalar pode concorrer para a inclusão escolar/social de seu filho/sua filha? 9. Você acha que a classe hospitalar contribui para a continuidade da escolarização seu filho/sua filha? Por quê? 10. Para você a classe hospitalar pode promover uma maior adesão ao tratamento da TRE? Por quê? 11. Como você percebe a relação do seu filho com: outro aluno-paciente com MPS, com o professor e com os profissionais de saúde? 12. Fale-me um pouco a respeito de como era seu filho/ou filha antes do atendimento pedagógico ofertado pela Classe Hospitalar? 13. Você pode desenhar como você enxerga a relação do seu filho/sua filha com a Classe Hospitalar? 14. Qual o papel da classe hospitalar no apoio ao tratamento de alunos-pacientes acometidos pela mucopolissacaridose? 15. Para você a classe hospitalar tem contribuído para diminuir a distância entre o hospital e a escola? 111 APÊNDICE 2: Roteiro de entrevista com os profissionais de saúde NOME DO ENTREVISTADO:_______________________________________ DOCUMENTO DE IDENTIDADE Nº:________________________________ DATA DE NASCIMENTO: _____/____/______ ENDEREÇO:________________________________________Nº_____APTO:______ BAIRRO:_________________CIDADE:_____________ESTADO:___________CEP: E-MAIL:________________________________TELEFONE:____________________ DATA DA ENTREVISTA:____________________ Informações demográficas: 1 - Sexo: ( ) M ( ) F 2 – Idade ___________ 3 - Estado civil: ( ) casado (a) ( ) solteiro (a) ( ) divorciado (a)/ ou separado (a) ( ) viúvo (a) 4 - Escolaridade: ( ) Ensino Médio:________________________________________ ( ) Ensino Superior: _______________________________________ ( ) Pós-graduação:_________________________________________ 1. Você conhece a Classe Hospitalar? O que sabe sobre ela? 2. Como você percebe o trabalho conjunto entre profissionais da saúde e da educação? 3. De que forma você acha que o trabalho realizado pelos professores da Classe Hospitalar pode concorrer para a inclusão escolar/social do aluno -paciente? 4. Qual a sua percepção em relação ao atendimento da Classe Hospitalar? 5. Você observou alguma contribuição do atendimento educacional oferecido durante a Terapia de Reposição Enzimática (TRE)? 6. Qual o papel da classe hospitalar no apoio ao tratamento de alunos-pacientes acometidos pela mucopolissacaridose? 7. De que forma você acha que o trabalho realizado pelos professores da Classe Hospitalar pode concorrer para a inclusão escolar/social do aluno-paciente? 8. Para você a classe hospitalar pode promover uma maior adesão ao tratamento da TRE? Por quê? 9. Como você percebe a relação do aluno-paciente com: outro aluno-paciente com MPS, com o professor e com seu(s) acompanhante(s) e com os profissionais de saúde? 10. Fale-me um pouco a respeito de como era o aluno-paciente do atendimento pedagógico ofertado pela Classe Hospitalar? 11. Você pode desenhar como você enxerga a relação do aluno-paciente com a Classe Hospitalar? 12. Para você qual o papel da classe hospitalar no apoio ao tratamento de alunospacientes acometidos pela mucopolissacaridose? 112 APÊNDICE 2: Roteiro de entrevista com os alunos-pacientes NOME DO ENTREVISTADO:_______________________________________ DOCUMENTO DE IDENTIDADE Nº:________________________________ DATA DE NASCIMENTO: _____/____/_______ ENDEREÇO:________________________________________Nº_____APTO:_____ BAIRRO:_________________CIDADE:_____________ESTADO:___________CEP: E-MAIL:_________________________________TELEFONE:____________________ DATA DA ENTREVISTA:____________________ ENTREVISTADOR:________________________ I- Informações demográficas: 1 - Sexo: ( ) M ( ) F 2- Idade _______________ 3- Escolaridade: Nome da escola: ________________________________________________________ Série ________________________________________________________________ 1. Conte-me a sua história de ter ficado doente e ter vindo para o hospital. 2. Conte-me uma situação que tenha vivido aqui no Hospital e que tenha sido muito difícil para você. 3. O que você vem fazer no hospital durante a semana? 4. Você sabe para que serve este medicamento? 5. O que faz para se sentir melhor? 6. Como se distrai? 7. Você conhece a Classe Hospitalar? O que sabe sobre ela? 8. De que forma você acha que o trabalho realizado pelos professores da Classe Hospitalar pode te ajudar com a sua escola? 9. Qual a sua percepção em relação ao atendimento da Classe Hospitalar? 10. Para você a classe hospitalar pode te ajudar a “suportar” o tratamento da TRE? Por quê? 11. Você pode desenhar como você enxerga a relação do aluno-paciente com a Classe Hospitalar? 12. A classe hospitalar tem contribuído para diminuir a distância entre o hospital e a escola? Por quê? 113 APÊNDICE 5: Categorização das entrevistas dos acompanhantes Perguntas Operacionais CÓDIGOS Você conhece a Classe Hospitalar? O que sabe sobre ela? - A classe hospitalar enquanto espaço pouco conhecido. - Deixando a criança mais a vontade no espaço do hospital. - Sendo fundamental. - Tornando o uso da medicação menos entediante. - Fazendo o tempo passar mais rápido e com alegria. - Melhorando o dia da infusão. - Oferecendo auxílio nas atividades escolares. Como você se sentiu quando soube da doença de seu filho/sua filha? - O diagnóstico da doença promove tristeza. -O alto custo do medicamento impossibilita o tratamento. - A MPS enquanto doença desconhecida. - Escondendo a presença da doença. - Os sintomas da doença interferindo no convívio social. - Saber da doença gera impotência. - Processo bastante difícil. - Redução das possibilidades através do diagnóstico clínico. - Acreditando nas potencialidades do filho. - A crença em Deus. -- A dos sintomas e a bisca do diagnóstico. A presença doença como algo desconhecido. Se você precisar explicar o que é a doença de seu filho (a) para um parente próximo acha que saberia fazê-lo? Por quê? - Pesquisando sobre a MPS. - Entendendo a doença para melhor agir. Você acha que seu filho entende o que é a doença que ele tem? Por quê? - A não aceitação da doença pela criança. - Não aceita cão da terapêutica. - Sentindo raiva. - A não aceita cão da doença pelo acompanhante. - Explicando a doença para os colegas da escola. - A criança não compreende a sua doença. - Precisando de cuidados. - A doença não impõe limites. Por que você permite que filho/sua filha participe do atendimento educacional oferecido no hospital? - Ficando contente com as atividades. - Aquisição de mais conhecimentos. - Momentos de distração. - Favorece ao cumprimento da rotina escolar. - Permitindo a criatividade. - Troca de experiência. Qual a sua percepção em relação ao atendimento da Classe Hospitalar? - Brincando com os alunos-pacientes. - A relação de afeto. - Fazendo brotar sorrisos. - Ocupando o tempo ocioso. - A presença da alegria e da comunicação. - Sujeitos sociais. Você observou alguma contribuição do atendimento educacional oferecido durante a Terapia de Reposição Enzimática (TRE)? - A presença do sono. - Antecipando assuntos da escola regular. - Favorece o potencial do aluno. - Transformando problemas em alegria. - Dando continuidade a temas abordados na escola regular. De que forma você acha que o trabalho realizado pelos professores da Classe Hospitalar pode concorrer para a inclusão escolar/social de seu filho/sua filha? - Estudar e se divertir. - O Hospital como espaço de interação. - Se sentindo um ser social e útil. - Jogando com o outro. - A importância de viver com o outro. Você acha que a classe hospitalar contribui para a continuidade da escolarização seu filho/sua filha? Por quê? - Fazendo a relação necessária com o espaço da escola regular. - Identificando as habilidades. - Promovendo reflexo das atividades realizadas no cotidiano da escola regular. 114 Para você a classe hospitalar pode promover uma maior adesão ao tratamento da TRE? Por quê? - A adesão por obrigação. - A presença de algo bom no espaço de sofrimento. - Tornando o atendimento um dia diferente. Como você percebe a relação do seu filho com: outro aluno-paciente com MPS , com o professor e com os profissionais de saúde? - Agindo com amor. - A interação acontece aos poucos. - A relação como processo de troca. - Se preocupando com o outro. Fale-me um pouco a respeito de como era seu filho/ou filha antes do atendimento pedagógico ofertado pela Classe Hospitalar? - Fazendo o tempo passar mais rápido. - Aguardando ansiosos pelo atendimento. - Novidades no dia de aula. Qual o papel da classe hospitalar no apoio ao tratamento de alunospacientes acometidos pela mucopolissacaridose? - Esquecendo o momento do tratamento. - Interferindo positivamente no emocional. Para você a classe hospitalar tem contribuído para diminuir a distância entre o hospital e a escola? - A presença das professoras no leito é fundamental. 115 APÊNDICE 6: Categorização das entrevistas dos alunos-pacientes Perguntas Operacionais Conte-me a sua história de ter ficado doente e ter vindo para o hospital. CÓDIGOS - Lutando para conseguir a medicação. - Contando com a ajuda dos amigos. - Precisando recorrer ao apoio jurídico. - Buscando o diagnóstico. - Participando do projeto experimental Conte-me uma situação que tenha vivido aqui no Hospital e que tenha sido muito difícil para você. - Enfrentando situações difíceis. - Sentindo medo. - Encarando as dificuldades. - Sentindo o coração disparar. O que você vem fazer no hospital durante a semana? - Tentando curar a doença. - Ajudando no crescimento. - Ajudando a doença a não progredir. - As coisas foram se normalizando. - Prejudicando órgãos do corpo humano. Você sabe para que serve este medicamento? - Tentando se manter vivo. - Evitando a piora da doença. Você conhece a Classe Hospitalar? O que sabe sobre ela? - Ajudando os meninos que estão internados. - Ajudando os alunos-pacientes. - Tornando o dia menos chato. - Tirando dúvidas da escola. De que forma você acha que o trabalho realizado pelos professores da Classe Hospitalar pode te ajudar com a sua escola? - Reforçando assuntos da escola. - Contribuindo para a aprendizagem. Para você a classe hospitalar pode te ajudar a “suportar” o tratamento da TRE? Por quê? - Ajudando a passar o tempo. - Desejando ter uma vida normal 116 APÊNDICE 7: Categorização das entrevistas dos profissionais de saúde Perguntas Operacionais CÓDIGOS Você conhece a Classe Hospitalar? O que sabe sobre ela? - Ofertando aula aos pacientes internados. - Promovendo a continuidade do processo de ensino e aprendizagem. - Uma escola dentro do hospital. - Funcionando como um suporte educacional. Como você percebe o trabalho conjunto entre profissionais da saúde e da educação? - Se acostumando com a presença das professoras. - Sentindo falta quando não há aula. - Experienciando momentos positivos. - A presença da Classe Hospitalar é muito bem vinda. - Percebendo a necessidade de ampliar o contato. - Inserção da classe no contexto de discussão. - Ampliando o leque de temáticas abordadas. - A inclusão como consequência direta do trabalho. - Manutenção do vínculo escolar. - Promovendo a troca de experiência entre os pares. - Evitando a descontinuidade do ensino. - Estimulando o retorno à escola regular. - Fazendo esquecer à terapêutica. - Esquecendo a “hora da furada’. - Percebendo o atendimento de forma positiva. - Cuidando emocionalmente. - Ampliando a rede de envolvimento. De que forma você acha que o trabalho realizado pelos professores da Classe Hospitalar pode concorrer para a inclusão escolar/social do aluno -paciente? Qual a sua percepção em relação ao atendimento da Classe Hospitalar? Você observou alguma contribuição do atendimento educacional oferecido durante a Terapia de Reposição Enzimática (TRE)? Para você a classe hospitalar pode promover uma maior adesão ao tratamento da TRE? Por quê? Como você percebe a relação do aluno-paciente com: outro aluno-paciente com MPS, com o professor e com seu(s) acompanhante(s) e com os profissionais de saúde? Fale-me um pouco a respeito de como era o alunopaciente do atendimento pedagógico ofertado pela Classe Hospitalar? - Ajudando nos assuntos escolares. - A existência de uma aula direcionada. - Facilitando o entendimento e realização das atividades. - Estimulo à cognição. - Promoção de um ambiente educativo. - Ajudando a diminuir o sofrimento do “pegar o acesso”. - O tratamento exige assiduidade. - Ausência em decorrência de doenças. - Sofrimento na terapêutica. - Promovendo um dia feliz. - Amenizando o desconforto e incomodo. - Promover razões para o aluno realizar a infusão. - Sendo um lenitivo. Estabelecendo uma relação de professor e aluno. - Percebendo o a importância de criar vínculos. - A existência da interação de maneira disciplinada e supervisionada. - Utilizando o ambiente da Classe Hospitalar. - Toda equipe é beneficiada. - A criação de vínculos exige tempo. - o ato de dormir como rotina. - A televisão como atração. - Modificando a rotina da terapêutica. - Promovendo momentos de interação. - Facilitando o trabalho do outro. 117 Para você qual o papel da classe hospitalar no apoio ao tratamento de alunos-pacientes acometidos pela mucopolissacaridose? - Aproximando pessoas. - Ajudando a esquecer a TER. - Mostrando o potencial que possui. - Ajudando a compreender os aspectos da doença. - Utilizando o pedagógico. - Ampliando o contato do professor com a equipe de saúde. - Respondendo às novas demandas de atuação. - Aquisição de novas competências. - Expandindo o campo de conhecimento. - Reconhecendo as suas potencialidades. - Potencializando às ações voltadas ao conhecimento da doença. - Experienciando um trabalho interdisciplinar. - Promovendo educação em sentindo amplo. - Favorecendo a motricidade. - Estimulando à auto-estima. - Favorecendo a inclusão social. - Ajudando a superar as limitações físicas. - Instigando as potencialidades do alunos. - Ajudando a diminuir a estigmatização da doença. 118