CARACTERIZAÇÃO GEOMORFOLÓGICA E DINÂMICA DA PAISAGEM NO MUNICÍPIO DE CAMPOS GERAIS – MG Ludimila Ferreira Castro * Marta Felícia Marujo Ferreira** [email protected] * [email protected] ** * Discente do curso de Geografia, Universidade Federal de Alfenas – Unifal – MG **Professor Adjunto IV do curso de Geografia, Universidade Federal de Alfenas – Unifal – MG. RESUMO O município de Campos Gerais se destaca como área produtora agropecuária da região Sul de Minas Gerais, se caracterizando por atividades com intenso uso do solo como a cafeicultura e criação de gado leiteiro e de corte. O desmatamento para fins de produção agrícola e a adoção de práticas de preparo do solo inadequadas, gera áreas susceptíveis à erosão, intensificando os processos erosivos e, como consequência, o assoreamento dos cursos d’água e reservatórios. O objetivo do estudo é realizar análise da drenagem e do relevo utilizando metodologias da geomorfologia. Para análise da drenagem, utilizou-se metodologias de Soares e Fiori (1976) e Howard (1967), além de estudos de Pires Neto (1991) para a compartimentação morfológica da área. Resultados preliminares mostram que há forte influência das estruturas geológicas regionais, de direção E-W no condicionamento dos padrões e na rede de drenagem da área. A pesquisa realizada contribuirá para a compreensão da dinâmica dos processos erosivos lineares, sobretudo, na relação existente entre estes processos e as características naturais do ambiente, além destes serem acelerados pela ação antrópica. Palavras Chave: Geomorfologia; Voçorocas; Lineamentos; Drenagem; Atividade antrópica Eixo 1 - Geomorfologia, Morfotectônica e Dinâmica da Paisagem 1. INTRODUÇÃO A geomorfologia tem como escopo o estudo da formação e evolução da superfície terrestre que é promovida pela ação de forças antagônicas, endógenas e exógenas, que constroem e suavizam a superfície terrestre ao longo dos períodos históricos e geológicos. Com o propósito de caracterizar a geomorfologia de parte do município de ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 104 Campos Gerais (MG), este estudo analisa a rede de drenagem e o relevo, e os condicionamentos geológicos e estruturais na geração de feições erosivas lineares. O município de Campos Gerais situa-se no setor sul do estado de Minas Gerais, localizado entre as coordenadas geográficas 21°14'06'' de latitude S e 45°45'31'' de longitude W. Insere-se na microrregião de Varginha, tendo como municípios limítrofes, Alfenas, Campo do Meio, Boa Esperança, Três Pontas, Santana da Vargem, Paraguaçu e Fama, que, juntos, Integram o Circuito das Águas, fazendo parte do complexo da Represa de Furnas. 2. OBJETIVOS 2.1. Geral - realizar análise geomorfológica por meio de estudos da rede de drenagem e do relevo, e avaliar os condicionamentos geológicos e estruturais no condicionamento da dinâmica das feições erosivas. 2.2. Específicos - elaborar a carta morfológica caracterizando os diferentes tipos de relevo; - mapear os processos erosivos lineares (ravinas e voçorocas); - elaborar a carta da rede de drenagem, delimitando padrões e anomalias de drenagem 3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA A geomorfologia é o estudo das formas da superfície terrestre, buscando entender os processos atuais e pretéritos. É a ciência que descreve, identifica e explica as formas de relevo, tanto no seu aspecto interno quanto externo, onde são analisados sua gênese (origem) e evolução. Além disso, dentre outros estudos ligados à geomorfologia, e não menos importantes, estão os fatores antropogênicos que atuam nas formas de relevo. Segundo Ab’Saber (1969) a geomorfologia é um campo científico que cuida do entendimento da compartimentação topográfica regional, por meio da caracterização e descrição, das formas de relevo de cada compartimento delimitado, além do estudo da estrutura superficial e a fisiologia da paisagem. A análise dos padrões de drenagem são facilitadas pelo mapeamento geomorfológico, que busca oferecer informações que auxiliam as interpretações e análises sobre a evolução da paisagem. A composição geológica do substrato, pode influenciar no padrão de drenagem de um sistema fluvial. Áreas com densidade maior de canais e outras menos densas compondo o mesmo sistema, podem apresentar diferenças no substrato geológico (CHRISTOFOLETTI, 1980). Dada a comparação do tipo de solo com a densidade da drenagem e os padrões morfológicos da área, é possível fazer uma relação entre tipo de solo e padrão de drenagem ou tipos de canais de drenagem. Cunha e Guerra ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 105 (1995) ressaltam que o padrão de drenagem, corresponde à disposição espacial ou geometria dos rios. Assim, a análise da rede de drenagem a partir dos padrões tornase fundamental para o entendimento da dinâmica hidrográfica da área. Feições erosivas lineares (ravinas e voçorocas) podem ser geradas a partir de condicionamentos estruturais da rocha ou mesmo dos lineamentos da rede de drenagem. Por outro lado, a voçoroca, feição erosiva complexa, está ligada ao escoamento das águas, que evoluiu a partir da existência de ravina em processo acelerado de aprofundamento, cuja origem pode se relacionar ao desmatamento e a falta de práticas conservacionistas para uso agrícola e/ou pecuária (BIGARELLA, 2007). 4. MATERIAIS E MÉTODOS 4.1. Materiais Os materiais cartográficos utilizados foram cartas topográficas na escala 1:50.000 produzidas pelo IBGE (1970). Para a fotointerpretação dos processos erosivos lineares, foi utilizado imagens do Google Earth. Para confecção das cartas com suas características geomorfológicas foi utilizado o software ArcGis 9.1. 4.2 Métodos O estudo se apoia na metodologia proposta por Soares e Fiori (1976), que se baseia na análise da drenagem e do relevo considerando os atributos: densidade de textura de drenagem; sinuosidade dos elementos texturais de drenagem e assimetria. Para esta análise foram considerados as anomalias e o padrão de drenagem utilizando também os trabalhos de Howard (1967). Para a caracterização geomorfológica, foi utilizada metodologia de Pires Neto (1991) que compreende a análise de tipos de relevo (DEMECK, 1967), também denominado complexo de formas de relevo (SPIRIDONOV, 1980) e unidades genéticas do relevo (VERSTAPPEN e VAN ZUIDAN, 1975). Esta unidade taxonômica corresponde a uma associação de formas de relevo, que leva em consideração os atributos morfométricos e morfográficos, os sistemas de interflúvios e vales. 5. RESULTADOS PARCIAIS Resultados preliminares comprovam forte influência das estruturas geológicas (Falhas de Três Pontas e de Campos Gerais) e dos lineamentos de direção E-W no condicionamento da drenagem e das cristas retilíneas das serras da Fortaleza, do Paraíso, de Campos Gerais, do Mato Dentro e da Onça. O diagrama de rosetas elaborado, mostra que a direção E-W é predominante na área, seguida da direção N-S ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 106 (Figura 1). Ressalta-se a ocorrência de anomalias de drenagem como cotovelos, meandros comprimidos e áreas de capturas. A Carta Morfológica (Figura 2) exibe a predominância de colinas com topos arredondados em grande parte da área, ocorrendo também um conjunto de morrotes e morros com encostas suaves. As principais serras na área mostram escarpamentos com declives acentuados, de 20 a 30% e maior que 30%. As cristas arredondadas das serras do Mato Dentro e da Onça, de direção E-W, condicionam os canais de 1a. ordem situados na face sul. Os processos erosivos lineares – ravinas e voçorocas ocorrem pontualmente na área, e estão subordinados às serras da Fortaleza e do Paraíso. Estas feições acham-se condicionadas pelos lineamentos de drenagem, porém alguns processos erosivos foram deflagrados pela extração das rochas e do manto de alteração para a construção do sistema viário do município. Atualmente, estes acham-se acelerados pelas características naturais da área, como presença da rocha quartizítica, declividade das vertentes, distribuição das chuvas e solos de textura arenosa. Figura 1- Carta de Lineamentos Rede de Drenagem, Campos Gerais – MG. ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 107 108 Figura 2- Carta Morfológica de parte do município de Campos Gerais (MG) 6.CONCLUSÕES Este estudo está em fase de desenvolvimento apresentando resultados preliminares. A partir das cartas elaboradas na área (morfologia, lineamentos e anomalias da drenagem) constatou-se um forte condicionamento das estruturas geológicas na esculturação das feições do relevo e da drenagem da área. Com o desenvolvimento de trabalhos de campo de detalhe, espera-se que a pesquisa comprove ou não o condicionamento geológico nos processos erosivos mapeados na área. 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AB’SABER, A N. Um conceito geomorfológico a serviço das pesquisas sobre o quaternário. Geomorfologia, no. 18, 1969. BIGARELLA, J. J. et al. Estrutura e origem das paisagens tropicais e subtropicais. 2. ed. Florianópolis: Ed. da UFSC, v.3, 2007. CHRISTOFOLETTI, A. Geomorfologia. São Paulo: Edgard Blucher/ EDUSP, 1980. CASSETI, V. Ambiente e apropriação do relevo. Contexto. São Paulo, 1991. DEMECK, J. Generalization of Geomorphological Maps. In: Proceedings of the meeting of the IGU-comission on applied geomorphology, sub-comission on geomorphology mapping. Progress made in geomorphological mapping. Breno and Bratislava, 1967, p. 63 - 72. GUERRA, A. T. Geomorfologia: uma atualização de bases e conceitos. São Paulo: Bertrand Brasil, 2003. HOWARD, A.D. Drainage analysis in geologic interpretation: a summation. Bull. of. Amer. Assoc. of. Petr. Geol., v.51, p. 2246-2259, 1967. ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 PIRES NETO, A. G. As abordagens sintético-histórica e analítico-dinâmica: uma proposição metodológica para a geomorfologia. Tese de Doutorado, Departamento de Geografia-USP, 302p, 1991. ROSS, J. Registro cartográfico dos fatos geomorfológicos e a questão da taxonomia do relevo. Rev. do Departamento de Geografia SP. IG-USP, 1992. ROSS, J. Geografia do Brasil. São Paulo: EDUSP, 2001. SOARES, P. C. e FIORI, A. P. Lógica e sistemática na análise e interpretação de fotografias aéreas em geologia. Notícia Geomorfológica, 16 (32):71-104, 1976. SPIRIDONOV, A I. Princípios de la metodologia de las investigaciones de campo y el mapeo geomorfologico. Havana, Univ. de Havana, 1980, 657p. VERSTAPPEN, H. Th. e VAN ZUIDAN, R.A. ITC System of Geomorphological Survey. Dutchland. Enschede Textbook ITC, 1975, 49p. ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 109