PREVENÇÃO DA DENGUE NA ESCOLA: UMA EXPERIÊNCIA DE CONSTRUÇÃO COLETIVA NA LUTA CONTRA A EPIDEMIA KRABBE, Elisete Cristina1; MACHADO, Angélica Santos2; DALENOGARE, Cristian dos Santos2; LOURENÇO, Gabriela de Campos2; VIEIRA, Raiany Bittencourt2; CARVALHO, Themis Goretti Moreira Leal de3 Resumo: A dengue tem se tornado um problema de saúde pública. O vírus transmitido pelo Aedes aegypti, pode causar infecções assintomáticas ou até mesmo levar a morte. O objetivo deste trabalho foi verificar o conhecimento dos alunos do Instituto Estadual de Educação Professor Annes Dias sobre temática dengue, construindo espaços de discussão e reflexão, levando a tomada de decisões preventivas. É um estudo exploratório e descritivo, realizado com 514 alunos, matriculados no ensino médio e técnico profissionalizante. A coleta dos dados foi realizada através da aplicação de um questionário. Os principais resultados indicam, que grande parte dos alunos, não possui conhecimentos suficientes sobre essa temática, sendo necessário realizar intervenções de educação em saúde para conscientizar e educar sobre a importância do conhecimento dos sintomas, transmissor, forma de contaminação, além de como podemos prevenir a propagação do vetor. Oficinas pedagógicas e distribuição de folders educativos, entre todos os participantes, buscou maior conscientização e comprometimento dos alunos envolvidos na pesquisa. Desta forma incentivamos e envolvemos este público escolar, acreditando no trabalho de educação entre pares e no aumento de multiplicadores de informações. Abstract: Dengue has become a public health problem. The virus transmitted by Aedes aegypti, can cause asymptomatic infections or even lead to death. The aim of this study was to verify the knowledge of the students of the State Institute of Teacher Education Annes Dias on thematic dengue, building spaces for discussion and reflection, leading to taking preventive decisions. It is an exploratory and descriptive study with 514 students enrolled in high school and vocational technical. Data collection was performed by applying a questionnaire. The main results indicate that most students do not have enough knowledge on this subject, being necessary to carry out health education interventions to raise awareness and educate about the importance of knowledge of symptoms, transmitter, form of contamination, and how can we prevent propagation vector. educational workshops and distribution of educational brochures, among all participants, sought greater awareness and commitment of the students involved in 1 Acadêmica do 8° semestre do Curso de Fisioterapia da Universidade de Cruz Alta-UNICRUZ. Participante do Núcleo de Pesquisa em Saúde Coletiva. Bolsista PIBEX/UNICRUZ. [email protected] 2 Acadêmicos do 4° semestre do Curso de Biomedicina da Universidade de Cruz Alta-UNICRUZ. 3 Prof.ª Adjunta do Centro de Ciências da Saúde e Agrárias da Universidade de Cruz Alta- UNICRUZ. Líder do Núcleo de Pesquisa em Saúde Coletiva da UNICRUZ, técnica científica do Centro de Atendimento ao Educando – CAE/Tupanciretã-RS, Delegada Regional do CREFITO. Tupanciretã/RS, Brasil. [email protected] Revista Interdisciplinar de Ensino, Pesquisa e Extensão vol. 4 n°1 103 the research. In this way we encourage and engage this public school, believing in the work of peer education and increasing multipliers information Palavras- Chave: Dengue. Aedes Aegypti. Conhecimento. Saúde do Escolar. Keywords: Dengue. Aedes Aegypti . Knowledge. INTRODUÇÃO A dengue é hoje uma doença das mais frequentes em todo Brasil, atingindo a população em todos os estados, independente da classe social (BRASIL, 2008). Entre os anos de 2002 e 2010, cerca de quatro milhões de prováveis casos de dengue foram registrados no Brasil, sendo um dos grandes problemas de saúde pública (BRASIL, 2011). Os vírus são transmitidos pela picada do mosquito infectado, sendo o principal vetor transmissor o Aedes aegypti. Pode causar infecções assintomáticas ou até mesmo levar a pessoa a óbito (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2009). Segundo o Ministério da Saúde (2008), normalmente o primeiro sintoma da dengue é a febre alta entre 39° e 40°C, durando em média de 2 a 7 dias, sendo o agente etiológico o vírus de genoma RNA, do qual são reconhecidos quatro sorotipos: DEN-1, DEN-2, DEN-3 e DEN-4. O diagnóstico prévio destas situações é essencial para avaliação e controle da doença, diminuindo as possibilidades de mortalidade das formas mais graves, além de poder acompanhar a reação da dengue em diferentes indivíduos infectados. Segundo Barros (2007), a incidência da dengue no Brasil necessita de inovações que propiciem a prevenção da difusão da doença, ainda mais no domicílio. As inovações abrangem a utilização de tecnologias relacionadas com propostas que informem e eduquem o público. Segundo o Ministério da Saúde (2009), a comunicação não pode ser o único componente para trabalhar mudanças de comportamento. A educação em saúde exerce importante papel nesse processo. A educação em saúde é uma forma significativa de prevenção e promoção da saúde, que faz o indivíduo repensar sobre suas práticas de vida diárias transformando sua realidade e consequentemente melhorando sua qualidade de vida (JARDIM, 2012). Revista Interdisciplinar de Ensino, Pesquisa e Extensão vol. 4 n°1 104 Como a fase da adolescência é marcada por mudanças, os novos hábitos adquiridos geralmente são levados para o resto da vida, além de que os jovens podem ser multiplicadores de informações. Desta forma, o presente estudo teve por objetivo verificar o conhecimento dos alunos do Ensino Médio e Técnico Profissionalizante do Instituto Estadual Professor Annes Dias em relação ao vetor da dengue, constatando as formas de transmissão, gênero e características do mosquito transmissor, bem como as condições ideais para sua reprodução, além dos sintomas da pessoa infectada, construindo espaços de discussão e reflexão, levando a tomada de decisões preventivas. METODOLOGIA A presente pesquisa tem cunho exploratório e descritivo, sendo esta realizada com alunos do Ensino Médio (primeiro, segundo e terceiro ano) e Técnico Profissionalizante (Enfermagem, Secretariado, Química, Contabilidade, Segurança do Trabalho e Administração) do Instituto Estadual de Educação Professor Annes Dias. A amostra constou de 514 alunos, sendo 237 matriculados no 1º ano, 128 no 2º e 53 no 3º anos do Ensino Médio e 86 alunos matriculados no Ensino Técnico. A idade média foi de 18 anos. A coleta dos dados foi realizada através da aplicação de um questionário: Questionário de dengue modificado da Prefeitura Municipal de Cruzília-MG, do ano de 2015, sendo aplicado durante o período de aula, de forma individualizada e constou de 17 perguntas fechadas, com o objetivo de determinar o conhecimento sobre o mosquito vetor da dengue. A análise foi realizada através do programa IBM SPSS Statistics 21, com estatística descritiva sob a forma de percentuais. Revista Interdisciplinar de Ensino, Pesquisa e Extensão vol. 4 n°1 105 Figura 1. Coleta dos dados. Para atendimento à Resolução 196/96, apreciação do comitê de ética e pesquisa – CEP - da UNICRUZ, sob o número CAAE 0014.0.417.000-10. Não houve risco à saúde física ou psicológica dos participantes da pesquisa e, a fim de manter a confidencialidade das informações, os questionários não contêm nomes. RESULTADOS E DISCUSSÕES A amostra constou de 514 alunos, sendo que destes 44% (n=227) são do gênero masculino e 54% (n=280) são do gênero feminino. 2% (n=7) não responderam. Na pergunta “Você sabe como se pega dengue?” 86% (n=443) relataram que sabem que a dengue se dá através da picada do mosquito Aedes aegypti, entretanto somente 49% (n=252) sabem que é a fêmea que pica a pessoa. Segundo o Instituto Oswaldo Cruz, somente as fêmeas picam, necessitando de sangue para o amadurecimento completo dos ovos e maturação nos ovários. Tanto o macho como a fêmea se alimentam de substâncias que contem açúcar e como o macho não põe ovos, ele não necessita de sangue. Geralmente três dias após a ingestão de sangue, as fêmeas já estão aptas para a postura, buscando uma área para a desova. De acordo com o mesmo Instituto, o mosquito da dengue possui uma coloração mais escura, com marcações brancas no corpo e nas patas e na pesquisa no IEE Professor Annes Dias, 56% (n=288) sabem reconhecer o Aedes aegypti. Revista Interdisciplinar de Ensino, Pesquisa e Extensão vol. 4 n°1 106 Figura 2: Mosquito da dengue Quando questionados se o mosquito deve estar infectado para transmitir a dengue, 60% (n=308), responderam que sim, 13% (n=67) responderam que não, 25% (n=127) não sabem e 2% (n=12) não responderam. Como relatado anteriormente, somente às fêmeas picam o homem, no entanto, apenas as fêmeas do Aedes aegypti que possuem o vírus em suas glândulas salivares são capazes de transmitir a doença para o humano. A presença do vírus nas glândulas salivares do vetor acontece cerca de 10 a 14 dias após picar um indivíduo infectado que se encontra na fase virêmica da doença. Uma vez infectado ele se tornará um vetor permanente de infecção (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2001). A fêmea costuma picar as pessoas durante o dia pra viabilizar a maturação dos ovos e a transmissão não acontece pelo contato de um doente ou suas secreções com uma pessoa sadia (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2008). Revista Interdisciplinar de Ensino, Pesquisa e Extensão vol. 4 n°1 107 Figura 3: Modo de transmissão Fonte: Ministério da Saúde, 2008 Vários são os sintomas da dengue. De acordo com o Ministério da Saúde (2013), a primeira manifestação é a febre, associada à cefaleia, adinamia, mialgia, artralgias, dor retroorbitária e exantema. Anorexia, náuseas e vômitos também são sintomas que podem estar presente durante a infecção da dengue. Nas formas graves pode ocorrer disfunção de órgãos, como o coração, fígado, sistema nervoso central, pulmão e rins. Os alunos do IEE Professor Annes Dias não souberam responder corretamente a questão referente aos sintomas. Todas as opções descritas eram sintomas da dengue, porém nenhum aluno marcou todas as opções. Este fato é preocupante, tendo em vista que caso o aluno ou familiar venha a contrair a dengue, os sintomas podem não ser suficientes para a busca de um médico, consequentemente o quadro clínico poderá evoluir tornando-se uma condição mais grave ou até mesmo evoluir a óbito. Quanto ao tempo de sobrevivência do mosquito, somente 11% (n= 57) sabem que o mosquito vive de 30 a 45 dias. 36% (n=186) marcaram a opção que o mosquito vive somente 15 dias, 6% (n=32) relataram que o mosquito vive 25 dias, 7% (n=35) que vive um ano e 40% (n=204) não souberam responder. De acordo com o Ministério da Saúde (2008), o Aedes aegypti apresenta quatro fases em seu ciclo de vida: ovo, larva, pupa e adulto. O mosquito adulto vive em média 30 a 45 dias, sendo que a fêmea põe ovos de 4 a 6 vezes durante sua vida, colocando cerca de 100 ovos cada vez, em locais com água limpa e parada. Quando não encontrar um local apropriado para a desova, a fêmea pode voar a grandes distâncias para buscar um local adequado. Revista Interdisciplinar de Ensino, Pesquisa e Extensão vol. 4 n°1 108 Na pergunta “Os ovos ressecados do Aedes aegypti em recipientes vazios são perigosos?” 56% (n=290) responderam que isso é verdade, 6% (n=30) acham que isso é mito e 38% (n=194) não tem certeza. De acordo com o Ministério da Saúde (2015), os ovos do mosquito podem ficar grudados nas laterais dos recipientes por até um ano. Se neste período ocorrer o contato com a água, o ovo irá eclodir e o ciclo recomeça. O ciclo de reprodução do ovo até a fase adulta leva cerca de 5 a 10 dias. Portanto, é fundamental realizar a vistoria semanalmente e lavar os recipientes com água e sabão eliminando todos os focos. Somente 11% (n=57) responderam que existem condições ideais para o mosquito procriar e agir, 8% (n=43) acham que é mito e 81% (n=414) não souberam responder. No estudo de Ribeiro, et al. (2006), os resultados encontrados mostraram que em períodos de chuva e temperatura elevada, aumentam a reprodução do vetor. Para Moore (1985), o aumento dos dias com chuva e consequentemente o volume são responsáveis pela expansão do mosquito. Portanto, devemos ter cuidados redobrados durante períodos com temperaturas altas e úmidas, a fim de evitar a maior proliferação deste vetor e consequentemente diminuir o número de pessoas infectadas pelo vírus. Após a análise e discussão dos resultados, foi elaborado um plano de educação em saúde, levando informações capazes de melhorar o conhecimento em relação ao vetor da dengue, pois entende-se que a proposta aumenta o potencial da redução dos riscos associados ao vetor. Foi elaborado e entregue um folder para os alunos demonstrando formas de prevenir a proliferação do mosquito, solidificando desta forma que com atitudes simples podemos melhorar a situação do nosso país. Revista Interdisciplinar de Ensino, Pesquisa e Extensão vol. 4 n°1 109 Figura 4: Folder entregue aos alunos CONSIDERAÇÕES FINAIS Mesmo com todas as campanhas na mídia: televisão, rádio, espaços públicos, entre outros, ficou claro o desconhecimento sobre dados importantes para a prevenção da dengue dos alunos na pesquisa. O tema é bastante sério e de suma importância devendo ser aprofundado, pois o entendimento e a participação da população em relação às medidas preventivas são essenciais para reduzir danos à saúde. É direito e dever de todos fiscalizar as medidas de prevenção que devem ser tomadas em casa e na comunidade, uma vez que os cuidados devem ser adotados por toda população. A comunidade escolar tem um papel fundamental na forma de abordar e investir na educação em saúde de forma continuada para que os alunos possam se conscientizar e aprender que a melhor qualidade de vida depende de todos e que os resultados serão alcançados em conjunto, evitando ainda mais a propagação deste vetor. Revista Interdisciplinar de Ensino, Pesquisa e Extensão vol. 4 n°1 110 REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS BARROS, H. S. Investigação de Conhecimentos sobre a dengue e o índice de adoção de um recurso preventivo. Fundação Oswaldo Cruz. Rio de Janeiro; s.n; 2007. 118p. ilus. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigiliancia em Saúde Departamento de Vigilância epidemiológica. Diretrizes Nacionais para a Prevenção e Controle de Epidemias de Dengue. Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância Epidemiológica. – Brasília: Ministério da Saúde, 2009. BRASIL. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Vigilância em Saúde. 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