028 smart power Joseph Nye na FAAP No dia 9 de abril de 2010, um dos mais respeitados teóricos de relações internacionais, Joseph Nye, proferiu na FAAP a palestra Smart Power e a Política Externa do Governo Obama. Poucas vezes um evento dessa natureza despertou tamanho interesse, quer do público interno, quer do público externo à FAAP, razão pela qual não só o auditório principal do campus ficou lotado, inclusive com a ocupação plena de suas escadas, mas também o auditório menor, para onde a palestra foi transmitida em vídeo. Acompanharam o palestrante na mesa o embaixador Sergio Amaral, diretor do Centro de Estudos Americanos da FAAP e responsável pelo convite a Joseph Nye, e o embaixador Rubens Ricupero, diretor da Faculdade de Economia. A palestra foi dividida em três partes. Na primeira, o palestrante focalizou aspectos conceituais. Na segunda, a política externa do presidente Barack Obama e seus principais desafios. Na terceira, fez alguns comentários sobre o Brasil e o mundo. Hard, soft e smart power (Poder duro, Poder Brando e Poder Inteligente) Tendo em conta que o público presente não era constituído apenas de especialistas, Joseph Nye, como bom professor, preocupou-se em iniciar sua palestra dando uma explicação detalhada e muito didática sobre os conceitos de hard, soft e smart power. Guilherme A. Silva e Williams Gonçalves, em seu Dicionário de Relações Internacionais, assinalam: “O conceito de poder é bastante controverso no que diz respeito à sua natureza e à sua função para as relações internacionais. Com frequência, poder é relacionado a termos concorrentes, como influência, autoridade, controle, coerção, força, persuasão, entre outros. Há, portanto, uma falta clara de rigor conceitual que não pode ser desconsiderada e que traz consequências para sua análise acadêmica e política. Ainda assim, é possível distinguir um elemento comum a todos os termos acima relacionados. Ele se refere a um contexto em que o ator A leva B a fazer (ou não fazer) algo que de outra forma B não faria (ou não teria deixado de fazer). A definição de poder, nesse aspecto, está relacionada à capacidade de controle total ou parcial do comportamento de outrem.” Com base nessa definição, pode-se dizer, de maneira bem simplificada, que: Hard power corresponde à ideia mais disseminada de conquistar e manter o poder, ou seja, com o uso da força e da coerção, sendo as Forças Armadas o seu instrumento de ação mais conhecido. Soft power corresponde à capacidade de conseguir o mesmo objetivo por meio do consentimento. Em outras palavras, pela capacidade de convencer os outros a fazer algo por meio da influência cultural e ideológica. Smart power, por sua vez, é um conceito mais recente, seria a combinação de hard e soft power, isto é, a capacidade de combinar adequadamente a força e o consentimento para atingir os objetivos. O professor Nye procurou mostrar, na mesma linha do conhecido escritor e conferencista Alvin Toffler (Powershift – As Mudanças do Poder), que, à medida que o tempo foi passando, a fonte do poder se transferiu do poderio militar para a força econômica e, posteriormente, desta para o domínio do conhecimento e da informação. Ainda nesta parte voltada a aspectos conceituais, Nye chamou atenção para a interessante trajetória do conceito de soft power que, de uma ideia inicialmente acadêmica, evoluiu para um uso muito mais amplo. Deu como exemplo o pronunciamento do presidente Hu Jintao para a Assembleia Geral do Partido Comunista chinês, em 2007, quando afirmou textualmente: “Precisamos desenvolver o nosso soft power.” A plateia, que superlotou o auditório principal da FAAP, acompanhou atentamente a exposição do professor Joseph Nye. Em função da sua contribuição acadêmica e política, Nye tem sido reconhecido, com frequência, como um dos intelectuais públicos mais influentes dos EUA 030 smart power A Política Externa do presidente Barack Obama Joseph Nye afirmou que o bom uso do smart power será essencial para que o presidente Barack Obama consiga recuperar, pelo menos em parte, o prestígio da política externa norte-americana, fortemente abalada durante os anos do governo do presidente George W. Bush. Lembrou que isso não será nada fácil em face dos problemas que o presidente Obama tem de enfrentar, entre os quais destacou as duas guerras (Iraque e Afeganistão), a violação sistemática de direitos humanos, a proliferação de armas nucleares, as questões de ordem ambiental e os efeitos da grave crise econômico-financeira que teve origem nos EUA, espalhando-se depois pelo mundo. Apesar desses problemas, Nye afirmou ter confiança na habilidade de Barack Obama para conduzir a política externa do seu governo a bom termo. Para tanto, ele precisará do apoio do Congresso e dos principais integrantes de sua equipe, entre os quais o da sua secretária de Estado Hillary Clinton. Para atingir suas metas, o presidente Obama deverá saber quando usar a força (hard power), ainda necessária em determinadas situações, o convencimento (soft power), ou a combinação das duas estratégias. E deu dois exemplos importantes do uso de recursos militares, normalmente associados ao hard power para ações de smart power. O primeiro, da Marinha dos EUA prestando assistência aos povos dos países asiáticos atingidos pelo Joseph Nye (à esquerda) e Antonio Bias Bueno Guillon, diretor-presidente da FAAP. Sobre Joseph Nye Por Guilherme Casarões, professor do curso de Relações Internacionais (RI) da FAAP Joseph Nye é, sem dúvida, um dos teóricos das Relações Internacionais (RI) mais populares do planeta. Professor de Harvard desde 1964, detém a paternidade, ao lado do colega Robert Keohane, da escola neoliberal institucionalista, que se transformou em paradigma a partir dos anos 1980. Propôs, em suas primeiras obras, o conceito-chave da “interdependência complexa”, que descreve as complexas relações econômicas, militares e sociais entre os Estados no advento da globalização. Trabalhou também com a emergência dos atores nãoestatais e transnacionais, tendo publicado com Robert Keohane as obras Transnational Relations and World Politics (1972) e Power and Interdependence (1977) este último, um dos livros mais importantes da área, em sua terceira edição ampliada. Ao longo dos anos 1990, Nye desenvolveu o conceito pelo qual ficaria mundialmente conhecido: o poder brando ou soft power. O termo apareceu pela primeira vez no livro Bound to Lead, de 1990, que discutia a necessidade de os Estados Unidos da América (EUA) se adaptarem às novas realidades do poder mundial num mundo cada vez mais interdependente (e menos suscetível ao emprego do poder militar). O poder brando seria, na visão de Nye, o caminho para a manutenção do poder norte-americano após o fim da União Soviética, contrapondo-se à tese de Paul Kennedy sobre o declínio necessário das potências hegemônicas. Sua projeção acadêmica o alçou ao cargo de secretário assistente de Defesa para Assuntos de Segurança Internacional, durante o governo Bill Clinton, tendo sido cogitado para assumir o posto de assessor de Segurança Nacional (National Security Advisor) numa eventual administração de John Kerry (candidato à presidência dos EUA em 2004). Logo após os ataques de 11 de setembro de 2001, Nye publica uma de suas principais obras, O Paradoxo do Poder Americano (2002), reafirmando a importância do soft power e defendendo o entendimento da política internacional a partir de um jogo de xadrez de três níveis (político-militar, econômico e transnacional). A próxima fronteira para os Estados (e particularmente para os EUA) seria enfrentar os desafios transnacionais e assimétricos (terrorismo, ameaças cibernéticas etc.) por meio do poder brando. Diante do desgaste causado pela Guerra do Iraque, o teórico desenvolveu uma evolução do conceito de soft power, o smart power ou poder inteligente, que seria a conjunção entre poder duro e poder brando, de forma a projetar a política externa de um país. Em função da sua contribuição acadêmica e política, Nye tem sido reconhecido, com frequência, como um dos intelectuais públicos mais influentes dos EUA. A partir da esquerda: prof. Guilherme Casarões; José Roberto de Araújo Cunha Jr., diretor da Agência Paulista de Promoção de Investimentos e Competitividade; prof. Georges Landau; prof. José Maria Rodriguez Ramos; prof. Luiz Alberto Machado, vice-diretor da Faculdade de Economia; Antonio Bias Bueno Guillon, diretor-presidente da FAAP; Joseph Nye; prof. Gunther Rudzit, coordenador do curso de Relações Internacionais; embaixador Rubens Ricupero, diretor da Faculdade de Economia e o embaixador Sergio Amaral, diretor do Centro de Estudos Americanos da FAAP; momentos antes do início da palestra. tsunami. O segundo, do Exército do Brasil em operações de peacekeeping (manutenção da paz) no Haiti. Pontualmente, Joseph Nye identificou como pontoschave os desafios do Iraque, do Afeganistão, da Índia e do Paquistão, além das ações terroristas de uma forma geral. Nesse aspecto, como tem insistido o embaixador Rubens Ricupero, diretor da Faculdade de Economia da FAAP, não há como deixar de levar em conta a crescente islamização da agenda internacional. A deterioração do poder de atração dos EUA para a sua agenda internacional foi um dos principais legados da presidência de George W. Bush, que foi profundamente alterada a partir do 11 de setembro de 2001. Esta deterioração se deveu, particularmente, a políticas insustentáveis no longo prazo, visando reafirmar o poderio norte-americano somente a partir da perspectiva do hard power, associado a uma relativa ingenuidade de Washington quanto ao impacto que poderia efetivamente ter no mundo. Nos oito anos de Bush, o soft power norteamericano declinou enormemente. Como resultado, a administração Obama herdou um número de problemas enormes, como Iraque, Afeganistão, Paquistão, Irã e Coreia do Norte. A estratégia de Obama tem sido tentar alterar o legado recebido como elemento de definição de sua presidência, no sentido se exportar esperança ao invés de medo. Iniciativas como o anúncio do fechamento da base militar (e prisão) de Guantánamo, a possibilidade de negociar mais intensamente a questão da mudança climática, apesar de o Protocolo de Kyoto, em sua percepção, não ser um mecanismo eficiente, fazem parte do O prof. Joseph Nye durante a sua brilhante exposição. smart power 032 Sobre o Brasil Apesar de não ser tema central de sua apresentação, o professor Nye fez alguns comentários sobre o Brasil. Para ele, o País ganhou muita importância nos últimos anos devido aos acertos no campo macroeconômico, e com isso caminha para ser uma das grandes potências no futuro. Nye afirmou que a mediação do Brasil no debate diplomático do Oriente Médio é positiva, mas o País precisa tomar cuidado para não encorajar o regime iraniano a buscar um arsenal nuclear. Nesse sentido, Nye demonstrou preocupação com a posição do governo Lula diante do presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, que foi percebida como ambígua pelos EUA. “Uma coisa é dizer que eles podem manter o enriquecimento [de urânio] e arsenal de medidas para a restauração do soft power dos outra bem diferente é dizer que eles podem construir EUA como uma nação que pode se recriar. uma bomba”, afirmou Nye. Os discursos de Obama em Praga (República Tcheca), no Nye disse não acreditar que o fato de o Brasil ter apenas Cairo (Egito) e na Organização das Nações Unidas (ONU) o soft power seja prejudicial para a política externa. Setiveram o objetivo de restituir a confiança do mundo no gundo ele, “ao desistir de buscar armas nucleares após o multilateralismo norte-americano. Obama, no entanto, reaparecimento do regime democrático e ao arrumar sua não tem se esquivado de utilizar os meios militares para economia no começo dos anos 90, o Brasil ampliou seu atingir os objetivos de sua política externa, como, por soft power e agora pode usá-lo para conseguir avanços exemplo, enviar mais soldados ao Afeganistão ou utilizar tanto na questão Israel-Palestina quanto com o Irã.” aviões não tripulados no Paquistão, dentre outros. Nye Na matéria sobre a palestra de Joseph Nye para o portal enfatizou, ainda, que o smart power é essencial para da revista Época, o jornalista José Antonio Lima assiconvencer, particularmente no caso dos iranianos, quannalou que, segundo Nye, o ideal é que o Brasil coloque to à não necessidade de armas nucleares como forma seu peso diplomático a favor da campanha para que o de defesa. Ao misturar soft e hard power no processo Irã desista de construir um arsenal nuclear. “É preciso das negociações, os EUA devem liderar a comunidade desencorajar o Irã a buscar armas nucleares”, disse. “E eu internacional no convencimento de que o Irã não deve esperava que o Brasil tivesse tomado uma posição mais ter armas nucleares. forte nesta questão”, disse o professor norte-americano, Por fim, os EUA deverão tender a um maior multilateralistransparecendo uma certa decepção com a atuação de mo nos próximos anos em busca dos oito anos perdidos Lula nos encontros com Ahmadinejad. De acordo com durante o governo Bush, segundo Nye. Nye, Ahmadinejad, um governante que nega o Holocausto e prega a destruição de Israel, No centro, embaixador Sergio Amaral, diretor do Centro de Estudos Americanão está aberto a ser convencido nos da FAAP, faz a apresentação de Joseph Nye, à sua direita, e tendo à sua por outros presidentes, assim esquerda o diretor da Faculdade de Economia, embaixador Rubens Ricupero. como o líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei. “Usar o soft power neste caso é tentar convencer as gerações mais novas de iranianos de que ter armas nucleares não vai atrair seus vizinhos, ao contrário” declarou. Para ele, o mundo e os EUA, em particular, devem lidar com o Irã usando o smart power. “Claro que as negociações são importantes, mas as sanções econômicas também são, para mostrar que há uma comunidade internacional que não deseja que o Irã tenha armas nucleares”, enfatizou Joseph Nye. Na avaliação do estudioso norteamericano, o Brasil ajuda a Logo depois de sua palestra, o professor Joseph Nye autografou exemplares de seus livros para alunos e professores do curso de Relações Internacionais da FAAP. Joseph Nye e Celita Procopio de Carvalho, presidente do Conselho de Curadores da FAAP. Considerações finais No final de sua exposição, Joseph Nye fez questão de destacar que uma das características que considera mais interessantes da política atual diz respeito ao peso da opinião pública, hoje exercido não apenas pelos meios tradicionais de comunicação, mas também e cada vez mais pelos novos canais de comunicação proporcionados pela tecnologia da informação (TI), entre os quais as redes de relacionamento na Internet como o You Tube e o Facebook. comunidade internacional ao procurar atuar como mediador entre israelenses e palestinos. Para ele: “Quanto mais países, como o Brasil, entrarem na questão, melhor, pois não é possível ver um fim para o conflito enquanto radicais, como o grupo terrorista palestino Hamas e os partidos da extrema direita israelense, continuarem opinando nas decisões de ambos os lados. Será preciso uma ampla intervenção da comunidade internacional.” Ele ainda ressaltou que a busca por armamento nuclear pode ter o efeito contrário do que muitos pensam. Em vez de contribuir para a ascensão do Brasil à condição de grande potência, a sua nuclearização pode afetar negativamente seu relacionamento com nossos países vizinhos, lembrando que a aproximação entre Brasil e Argentina passou pelo abandono do programa nuclear nos dois países. Por fim, Nye ressaltou que a busca por se transformar em uma potência militar pode afetar o soft power brasileiro, ou seja, essa possibilidade de diálogo com muitos governos poderia ser afetada negativamente. Homenagem Após a concorridíssima palestra, o professor Nye foi homenageado com um almoço na sede da diretoria da entidade mantenedora da FAAP, com a presença da presidente do Conselho de Curadores, Celita Procopio de Carvalho, do diretor-presidente, Antonio Bias Bueno Guillon, dos embaixadores Rubens Ricupero e Sergio Amaral, além de outros professores e executivos. A intensa agenda de Joseph Nye em São Paulo teve continuidade com a gravação do programa Roda Viva, na TV Cultura e, na sequência, nova palestra no Instituto Fernando Henrique Cardoso. Em um evento que contou com a participação de grandes personalidades brasileiras como o próprio ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, os ex-ministros Celso Lafer e Bresser-Pereira, além do historiador Boris Fausto e do cientista político Sérgio Fausto, o autor propôs reflexões acerca dos elementos que caracterizam o poder em si e sobre seu enquadramento neste novo século. Nye enfatizou a necessidade de se pensar nas esferas múltiplas desse poder, destacando o conceito de smart power, como já fizera mais cedo em sua passagem pela FAAP. Igualmente, pautou seu discurso na difusão desse elemento e nas possíveis novas configurações do globo. Tomada geral do auditório principal da FAAP com um grande público. 034 smart power Ao reconhecer o caráter estadocêntrico do sistema, o professor de Harvard realçou não apenas a disponibilidade de recursos como o cerne do debate, mas a sua acessibilidade, que, de acordo com seu ponto de vista, estaria criando uma nova cena na comunidade internacional. De acordo com o autor, o poder tradicional, orientado basicamente pelas capacidades militares e econômicas, continuaria não sendo capaz de lidar com novos temas – a exemplo da mudança climática – de modo que, mais do que nunca, os Estados não deveriam se orientar com base na lógica de “poder sobre os outros”, mas voltados à noção de “poder com os outros”, aquilo que define como power over versus power with. Desse modo, ao observar tais mudanças paradigmáticas, Nye reafirmou as fragilidades da leitura unipolar de mundo, que considera os EUA a única superpotência preponderante para a tomada de decisões internacionais. Na mesma medida, o autor dedicou-se a comentar o caso da China, tida repetidamente como player (ator) aspirante ao papel que hoje se atribui aos norte-americanos. Para Nye, o argumento que coloca o caso asiático no cerne das discussões globais de sucessão hegemônica é problemático em função de sua linearidade e da unidimensionalidade, uma vez que as projeções se baseiam fortemente no sucesso econômico do País, mas desconsideram outras esferas, como a inquestionável superioridade militar dos EUA e, principalmente, a deficiência do país em termos de soft power. Assim, embora reconheça o potencial de crescimento chinês – que em 2009 registrou índice ao redor de 8,5% – esse futuro é questionável, para Nye, na medida em que o governo mantém controle sobre a liberdade das pessoas, e assim cerceia sua capacidade criativa e de expressão, inibe a produção cultural da sociedade e enfraquece seu potencial de influência externa. O teórico voltou a avaliar também o declínio relativo dos EUA, já que tomar decisões unilaterais parece cada vez mais inviável, mas elogiou a capacidade dos norteamericanos para fazerem alianças e participarem de instâncias legitimadoras. Neste ponto, Nye reforçou o papel das instituições e sua capacidade de gerar confiança, fazendo menção, inclusive, à credibilidade conferida à Agência Internacional de Energia Atômica e à experiência europeia, que, segundo ele, transformou inimigos históricos como França e Alemanha em parceiros fiéis. Com relação ao caso brasileiro, inevitavelmente abordado, houve menção à temática nuclear, tratada nitidamente com delicadeza, já que a tradição pacífica do País conferiu a ele uma imagem de confiança que se teme pôr a prova. O mesmo se deu ao comentar a questão dos direitos humanos em Cuba. Ademais, a presença de Nye suscitou o debate concernente à participação brasileira nas negociações do Oriente Médio e à busca incessante do País por visibilidade na seara internacional. Em termos simples, a linha de análise sugerida de forma dialética entre os participantes considerou que o Brasil construiu sua credibilidade, especialmente ao longo dos últimos dez anos, pela competência de sua diplomacia e porque aprendeu a lidar com as questões próprias de sua sociedade. Desse modo, teriam sido as mudanças internas, como o investimento em educação ou a adoção de políticas voltadas ao combate de inflação, por exemplo, as verdadeiras forças motrizes responsáveis pela alavancagem do País como emergente e, portanto, o foco de medidas visando à projeção externa de liderança. Há que se mencionar, por fim, a preocupação evidente no que tange à “ideologização” da política externa, bem como a quebra de alguns paradigmas norteadores no caso específico do Brasil. Em um evento ímpar, numa discussão de alto nível, finalizou destacando a preocupação quanto ao embate norte-sul como referência para o estabelecimento de prioridades do País, ao mesmo tempo que teve como pano de fundo a incerteza do ordenamento dos próximos anos e a questão da polaridade do sistema internacional. Depois deste verdadeiro tour de force na capital paulista, Joseph Nye viajou para Gramado, no Rio Grande do Sul, Nye reafirmou as fragilidades da leitura unipolar de mundo, que considera os EUA a única superpotência preponderante para a tomada de decisões internacionais a fim de ser a principal atração do Encontro Nacional de Estudantes de Relações Internacionais (ENERI), evento que contou com a presença de uma delegação de 40 alunos da FAAP que, na ocasião, conquistaram o direito de organizar a edição de 2011, a ser realizada em Brasília (DF). A partir da esquerda: prof. Luiz Alberto Machado, vice-diretor da Faculdade de Economia; o jornalista Carlos Eduardo Lins da Silva; Antonio Bias Bueno Guillon, diretor-presidente da FAAP; embaixador Rubens Ricupero, diretor da Faculdade de Economia; embaixador Sergio Amaral, diretor do Centro de Estudos Americanos da FAAP, Celita Procopio de Carvalho, presidente do Conselho de Curadores da FAAP; o ilustre prof. Joseph Nye; profa. Fernanda Magnotta; Sergio Fausto, diretor-executivo do Instituto Fernando Henrique Cardoso; José Roberto de Araújo Cunha Jr., diretor da Agência Paulista de Promoção de Investimentos e Competitividade; e professor Gunther Rudzit, coordenador do curso de Relações Internacionais, na sede da diretoria da FAAP.