(QUAL – Ed. 224 / pág. 28 -35) Palestra

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028
smart power
Joseph Nye na FAAP
No dia 9 de abril de 2010, um dos mais respeitados teóricos de relações internacionais, Joseph Nye, proferiu
na FAAP a palestra Smart Power e a Política Externa
do Governo Obama.
Poucas vezes um evento dessa natureza despertou tamanho interesse, quer do público interno, quer do público
externo à FAAP, razão pela qual não só o auditório principal do campus ficou lotado, inclusive com a ocupação
plena de suas escadas, mas também o auditório menor,
para onde a palestra foi transmitida em vídeo.
Acompanharam o palestrante na mesa o embaixador Sergio Amaral, diretor do Centro de Estudos Americanos da
FAAP e responsável pelo convite a Joseph Nye, e o embaixador Rubens Ricupero, diretor da Faculdade de Economia.
A palestra foi dividida em três partes. Na primeira, o
palestrante focalizou aspectos conceituais. Na segunda,
a política externa do presidente Barack Obama e seus
principais desafios. Na terceira, fez alguns comentários
sobre o Brasil e o mundo.
Hard, soft e smart power (Poder duro, Poder
Brando e Poder Inteligente)
Tendo em conta que o público presente não era constituído apenas de especialistas, Joseph Nye, como bom
professor, preocupou-se em iniciar sua palestra dando
uma explicação detalhada e muito didática sobre os
conceitos de hard, soft e smart power.
Guilherme A. Silva e Williams Gonçalves, em seu Dicionário de Relações Internacionais, assinalam:
“O conceito de poder é bastante controverso no que diz
respeito à sua natureza e à sua função para as relações
internacionais. Com frequência, poder é relacionado
a termos concorrentes, como influência, autoridade,
controle, coerção, força, persuasão, entre outros. Há,
portanto, uma falta clara de rigor conceitual que não
pode ser desconsiderada e que traz consequências para
sua análise acadêmica e política. Ainda assim, é possível
distinguir um elemento comum a todos os termos acima
relacionados. Ele se refere a um contexto em que o ator
A leva B a fazer (ou não fazer) algo que de outra forma B
não faria (ou não teria deixado de fazer). A definição de
poder, nesse aspecto, está relacionada à capacidade de
controle total ou parcial do comportamento de outrem.”
Com base nessa definição, pode-se dizer, de maneira
bem simplificada, que:
Hard power corresponde à ideia mais disseminada de
conquistar e manter o poder, ou seja, com o uso da força
e da coerção, sendo as Forças Armadas o seu instrumento
de ação mais conhecido.
Soft power corresponde à capacidade de conseguir o
mesmo objetivo por meio do consentimento. Em outras
palavras, pela capacidade de convencer os outros a fazer
algo por meio da influência cultural e ideológica.
Smart power, por sua vez, é um conceito mais recente, seria a combinação de hard e soft power, isto é, a
capacidade de combinar adequadamente a força e o
consentimento para atingir os objetivos.
O professor Nye procurou mostrar, na mesma linha do
conhecido escritor e conferencista Alvin Toffler (Powershift – As Mudanças do Poder), que, à medida que o
tempo foi passando, a fonte do poder se transferiu do
poderio militar para a força econômica e, posteriormente,
desta para o domínio do conhecimento e da informação.
Ainda nesta parte voltada a aspectos conceituais,
Nye chamou atenção para a interessante trajetória do
conceito de soft power que, de uma ideia inicialmente
acadêmica, evoluiu para um uso muito mais amplo. Deu
como exemplo o pronunciamento do presidente Hu Jintao
para a Assembleia Geral do Partido Comunista chinês,
em 2007, quando afirmou textualmente: “Precisamos
desenvolver o nosso soft power.”
A plateia, que superlotou o auditório
principal da FAAP, acompanhou
atentamente a exposição do professor Joseph Nye.
Em função da sua contribuição acadêmica
e política, Nye tem sido reconhecido,
com frequência, como um dos intelectuais
públicos mais influentes dos EUA
030
smart power
A Política Externa do
presidente Barack Obama
Joseph Nye afirmou que o bom uso do smart power será
essencial para que o presidente Barack Obama consiga
recuperar, pelo menos em parte, o prestígio da política
externa norte-americana, fortemente abalada durante os
anos do governo do presidente George W. Bush.
Lembrou que isso não será nada fácil em face dos problemas que o presidente Obama tem de enfrentar, entre os
quais destacou as duas guerras (Iraque e Afeganistão), a
violação sistemática de direitos humanos, a proliferação
de armas nucleares, as questões de ordem ambiental e
os efeitos da grave crise econômico-financeira que teve
origem nos EUA, espalhando-se depois pelo mundo.
Apesar desses problemas, Nye afirmou ter confiança
na habilidade de Barack Obama para conduzir a política
externa do seu governo a bom termo. Para tanto, ele
precisará do apoio do Congresso e dos principais integrantes de sua equipe, entre os quais o da sua secretária
de Estado Hillary Clinton.
Para atingir suas metas, o presidente Obama deverá
saber quando usar a força (hard power), ainda necessária em determinadas situações, o convencimento (soft
power), ou a combinação das duas estratégias. E deu
dois exemplos importantes do uso de recursos militares,
normalmente associados ao hard power para ações de
smart power. O primeiro, da Marinha dos EUA prestando
assistência aos povos dos países asiáticos atingidos pelo
Joseph Nye (à esquerda) e Antonio Bias Bueno
Guillon, diretor-presidente da FAAP.
Sobre Joseph Nye
Por Guilherme Casarões, professor do curso de Relações Internacionais (RI) da FAAP
Joseph Nye é, sem dúvida, um dos teóricos das Relações
Internacionais (RI) mais populares do planeta. Professor de Harvard desde 1964, detém a paternidade, ao
lado do colega Robert Keohane, da escola neoliberal
institucionalista, que se transformou em paradigma a
partir dos anos 1980. Propôs, em suas primeiras obras,
o conceito-chave da “interdependência complexa”, que
descreve as complexas relações econômicas, militares
e sociais entre os Estados no advento da globalização.
Trabalhou também com a emergência dos atores nãoestatais e transnacionais, tendo publicado com Robert
Keohane as obras Transnational Relations and World
Politics (1972) e Power and Interdependence (1977) este último, um dos livros mais importantes da área, em
sua terceira edição ampliada.
Ao longo dos anos 1990, Nye desenvolveu o conceito
pelo qual ficaria mundialmente conhecido: o poder
brando ou soft power. O termo apareceu pela primeira
vez no livro Bound to Lead, de 1990, que discutia a
necessidade de os Estados Unidos da América (EUA)
se adaptarem às novas realidades do poder mundial
num mundo cada vez mais interdependente (e menos
suscetível ao emprego do poder militar). O poder brando
seria, na visão de Nye, o caminho para a manutenção do
poder norte-americano após o fim da União Soviética,
contrapondo-se à tese de Paul Kennedy sobre o declínio
necessário das potências hegemônicas. Sua projeção
acadêmica o alçou ao cargo de secretário assistente
de Defesa para Assuntos de Segurança Internacional,
durante o governo Bill Clinton, tendo sido cogitado para
assumir o posto de assessor de Segurança Nacional (National Security Advisor) numa eventual administração de
John Kerry (candidato à presidência dos EUA em 2004).
Logo após os ataques de 11 de setembro de 2001, Nye
publica uma de suas principais obras, O Paradoxo do
Poder Americano (2002), reafirmando a importância do
soft power e defendendo o entendimento da política
internacional a partir de um jogo de xadrez de três
níveis (político-militar, econômico e transnacional). A
próxima fronteira para os Estados (e particularmente
para os EUA) seria enfrentar os desafios transnacionais
e assimétricos (terrorismo, ameaças cibernéticas etc.)
por meio do poder brando. Diante do desgaste causado pela Guerra do Iraque, o teórico desenvolveu uma
evolução do conceito de soft power, o smart power ou
poder inteligente, que seria a conjunção entre poder
duro e poder brando, de forma a projetar a política
externa de um país. Em função da sua contribuição
acadêmica e política, Nye tem sido reconhecido, com
frequência, como um dos intelectuais públicos mais
influentes dos EUA.
A partir da esquerda: prof. Guilherme Casarões; José Roberto de Araújo Cunha Jr., diretor da Agência Paulista de Promoção de Investimentos e Competitividade; prof. Georges Landau; prof. José Maria Rodriguez Ramos; prof. Luiz Alberto Machado, vice-diretor da Faculdade de Economia; Antonio Bias Bueno
Guillon, diretor-presidente da FAAP; Joseph Nye; prof. Gunther Rudzit, coordenador do curso de Relações Internacionais; embaixador Rubens Ricupero,
diretor da Faculdade de Economia e o embaixador Sergio Amaral, diretor do Centro de Estudos Americanos da FAAP; momentos antes do início da palestra.
tsunami. O segundo, do Exército do Brasil em operações
de peacekeeping (manutenção da paz) no Haiti.
Pontualmente, Joseph Nye identificou como pontoschave os desafios do Iraque, do Afeganistão, da Índia e
do Paquistão, além das ações terroristas de uma forma
geral. Nesse aspecto, como tem insistido o embaixador
Rubens Ricupero, diretor da Faculdade de Economia da
FAAP, não há como deixar de levar em conta a crescente
islamização da agenda internacional.
A deterioração do poder de atração dos EUA para a sua
agenda internacional foi um dos principais legados da
presidência de George W. Bush, que foi profundamente
alterada a partir do 11 de setembro de 2001. Esta deterioração se deveu, particularmente, a políticas insustentáveis no longo prazo, visando reafirmar o poderio
norte-americano somente a partir da perspectiva do
hard power, associado a uma relativa ingenuidade de
Washington quanto ao impacto que poderia efetivamente
ter no mundo. Nos oito anos de Bush, o soft power norteamericano declinou enormemente. Como resultado, a
administração Obama herdou um número de problemas
enormes, como Iraque, Afeganistão, Paquistão, Irã e
Coreia do Norte. A estratégia de Obama tem sido tentar
alterar o legado recebido como elemento de definição
de sua presidência, no sentido se exportar esperança ao
invés de medo. Iniciativas como o anúncio do fechamento
da base militar (e prisão) de Guantánamo, a possibilidade
de negociar mais intensamente a questão da mudança
climática, apesar de o Protocolo de Kyoto, em sua percepção, não ser um mecanismo eficiente, fazem parte do
O prof. Joseph Nye durante a sua brilhante exposição.
smart power
032
Sobre o Brasil
Apesar de não ser tema central de sua apresentação,
o professor Nye fez alguns comentários sobre o Brasil.
Para ele, o País ganhou muita importância nos últimos
anos devido aos acertos no campo macroeconômico, e
com isso caminha para ser uma das grandes potências
no futuro.
Nye afirmou que a mediação do Brasil no debate diplomático do Oriente Médio é positiva, mas o País precisa
tomar cuidado para não encorajar o regime iraniano a buscar um arsenal nuclear. Nesse sentido, Nye demonstrou
preocupação com a posição do governo Lula diante do
presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, que foi
percebida como ambígua pelos EUA. “Uma coisa é dizer
que eles podem manter o enriquecimento [de urânio] e
arsenal de medidas para a restauração do soft power dos
outra bem diferente é dizer que eles podem construir
EUA como uma nação que pode se recriar.
uma bomba”, afirmou Nye.
Os discursos de Obama em Praga (República Tcheca), no
Nye disse não acreditar que o fato de o Brasil ter apenas
Cairo (Egito) e na Organização das Nações Unidas (ONU)
o soft power seja prejudicial para a política externa. Setiveram o objetivo de restituir a confiança do mundo no
gundo ele, “ao desistir de buscar armas nucleares após o
multilateralismo norte-americano. Obama, no entanto,
reaparecimento do regime democrático e ao arrumar sua
não tem se esquivado de utilizar os meios militares para
economia no começo dos anos 90, o Brasil ampliou seu
atingir os objetivos de sua política externa, como, por
soft power e agora pode usá-lo para conseguir avanços
exemplo, enviar mais soldados ao Afeganistão ou utilizar
tanto na questão Israel-Palestina quanto com o Irã.”
aviões não tripulados no Paquistão, dentre outros. Nye
Na matéria sobre a palestra de Joseph Nye para o portal
enfatizou, ainda, que o smart power é essencial para
da revista Época, o jornalista José Antonio Lima assiconvencer, particularmente no caso dos iranianos, quannalou que, segundo Nye, o ideal é que o Brasil coloque
to à não necessidade de armas nucleares como forma
seu peso diplomático a favor da campanha para que o
de defesa. Ao misturar soft e hard power no processo
Irã desista de construir um arsenal nuclear. “É preciso
das negociações, os EUA devem liderar a comunidade
desencorajar o Irã a buscar armas nucleares”, disse. “E eu
internacional no convencimento de que o Irã não deve
esperava que o Brasil tivesse tomado uma posição mais
ter armas nucleares.
forte nesta questão”, disse o professor norte-americano,
Por fim, os EUA deverão tender a um maior multilateralistransparecendo uma certa decepção com a atuação de
mo nos próximos anos em busca dos oito anos perdidos
Lula nos encontros com Ahmadinejad. De acordo com
durante o governo Bush, segundo Nye.
Nye, Ahmadinejad, um governante que nega o Holocausto
e prega a destruição de Israel,
No centro, embaixador Sergio Amaral, diretor do Centro de Estudos Americanão está aberto a ser convencido
nos da FAAP, faz a apresentação de Joseph Nye, à sua direita, e tendo à sua
por outros presidentes, assim
esquerda o diretor da Faculdade de Economia, embaixador Rubens Ricupero.
como o líder supremo do Irã, o
aiatolá Ali Khamenei. “Usar o
soft power neste caso é tentar
convencer as gerações mais
novas de iranianos de que ter
armas nucleares não vai atrair
seus vizinhos, ao contrário” declarou. Para ele, o mundo e os
EUA, em particular, devem lidar
com o Irã usando o smart power.
“Claro que as negociações são
importantes, mas as sanções
econômicas também são, para
mostrar que há uma comunidade
internacional que não deseja que
o Irã tenha armas nucleares”,
enfatizou Joseph Nye.
Na avaliação do estudioso norteamericano, o Brasil ajuda a
Logo depois de sua palestra, o
professor Joseph Nye autografou
exemplares de seus livros para
alunos e professores do curso de
Relações Internacionais da FAAP.
Joseph Nye e Celita Procopio de
Carvalho, presidente do Conselho
de Curadores da FAAP.
Considerações finais
No final de sua exposição, Joseph Nye fez questão de
destacar que uma das características que considera mais
interessantes da política atual diz respeito ao peso da
opinião pública, hoje exercido não apenas pelos meios
tradicionais de comunicação, mas também e cada vez
mais pelos novos canais de comunicação proporcionados pela tecnologia da informação (TI), entre os quais as
redes de relacionamento na Internet como o You Tube
e o Facebook.
comunidade internacional ao procurar atuar como mediador entre israelenses e palestinos. Para ele: “Quanto
mais países, como o Brasil, entrarem na questão, melhor,
pois não é possível ver um fim para o conflito enquanto
radicais, como o grupo terrorista palestino Hamas e os
partidos da extrema direita israelense, continuarem opinando nas decisões de ambos os lados. Será preciso
uma ampla intervenção da comunidade internacional.”
Ele ainda ressaltou que a busca por armamento nuclear
pode ter o efeito contrário do que muitos pensam. Em
vez de contribuir para a ascensão do Brasil à condição
de grande potência, a sua nuclearização pode afetar
negativamente seu relacionamento com nossos países
vizinhos, lembrando que a aproximação entre Brasil e
Argentina passou pelo abandono do programa nuclear
nos dois países. Por fim, Nye ressaltou que a busca por
se transformar em uma potência militar pode afetar o soft
power brasileiro, ou seja, essa possibilidade de diálogo
com muitos governos poderia ser afetada negativamente.
Homenagem
Após a concorridíssima palestra, o professor Nye foi
homenageado com um almoço na sede da diretoria da
entidade mantenedora da FAAP, com a presença da
presidente do Conselho de Curadores, Celita Procopio
de Carvalho, do diretor-presidente, Antonio Bias Bueno
Guillon, dos embaixadores Rubens Ricupero e Sergio
Amaral, além de outros professores e executivos.
A intensa agenda de Joseph Nye em São Paulo teve
continuidade com a gravação do programa Roda Viva,
na TV Cultura e, na sequência, nova palestra no Instituto
Fernando Henrique Cardoso. Em um evento que contou
com a participação de grandes personalidades brasileiras
como o próprio ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, os ex-ministros Celso Lafer e Bresser-Pereira, além
do historiador Boris Fausto e do cientista político Sérgio
Fausto, o autor propôs reflexões acerca dos elementos
que caracterizam o poder em si e sobre seu enquadramento neste novo século.
Nye enfatizou a necessidade de se pensar nas esferas
múltiplas desse poder, destacando o conceito de smart
power, como já fizera mais cedo em sua passagem pela
FAAP. Igualmente, pautou seu discurso na difusão desse
elemento e nas possíveis novas configurações do globo.
Tomada geral do auditório principal da FAAP com um grande público.
034
smart power
Ao reconhecer o caráter estadocêntrico do sistema, o professor de Harvard realçou não apenas a disponibilidade
de recursos como o cerne do debate, mas a sua acessibilidade, que, de acordo com seu ponto de vista, estaria
criando uma nova cena na comunidade internacional.
De acordo com o autor, o poder tradicional, orientado
basicamente pelas capacidades militares e econômicas,
continuaria não sendo capaz de lidar com novos temas
– a exemplo da mudança climática – de modo que, mais
do que nunca, os Estados não deveriam se orientar com
base na lógica de “poder sobre os outros”, mas voltados
à noção de “poder com os outros”, aquilo que define
como power over versus power with.
Desse modo, ao observar tais mudanças paradigmáticas, Nye reafirmou as fragilidades da leitura unipolar
de mundo, que considera os EUA a única superpotência
preponderante para a tomada de decisões internacionais.
Na mesma medida, o autor dedicou-se a comentar o caso
da China, tida repetidamente como player (ator) aspirante
ao papel que hoje se atribui aos norte-americanos.
Para Nye, o argumento que coloca o caso asiático no
cerne das discussões globais de sucessão hegemônica
é problemático em função de sua linearidade e da unidimensionalidade, uma vez que as projeções se baseiam
fortemente no sucesso econômico do País, mas desconsideram outras esferas, como a inquestionável superioridade militar dos EUA e, principalmente, a deficiência do
país em termos de soft power.
Assim, embora reconheça o potencial de crescimento
chinês – que em 2009 registrou índice ao redor de 8,5% –
esse futuro é questionável, para Nye, na medida em que o
governo mantém controle sobre a liberdade das pessoas,
e assim cerceia sua capacidade criativa e de expressão,
inibe a produção cultural da sociedade e enfraquece seu
potencial de influência externa.
O teórico voltou a avaliar também o declínio relativo
dos EUA, já que tomar decisões unilaterais parece cada
vez mais inviável, mas elogiou a capacidade dos norteamericanos para fazerem alianças e participarem de
instâncias legitimadoras.
Neste ponto, Nye reforçou o papel das instituições e sua
capacidade de gerar confiança, fazendo menção, inclusive, à credibilidade conferida à Agência Internacional de
Energia Atômica e à experiência europeia, que, segundo
ele, transformou inimigos históricos como França e Alemanha em parceiros fiéis.
Com relação ao caso brasileiro, inevitavelmente abordado, houve menção à temática nuclear, tratada nitidamente com delicadeza, já que a tradição pacífica do País
conferiu a ele uma imagem de confiança que se teme pôr
a prova. O mesmo se deu ao comentar a questão dos
direitos humanos em Cuba.
Ademais, a presença de Nye suscitou o debate concernente à participação brasileira nas negociações do Oriente Médio e à busca incessante do País por visibilidade na
seara internacional.
Em termos simples, a linha de análise sugerida de forma
dialética entre os participantes considerou que o Brasil
construiu sua credibilidade, especialmente ao longo dos
últimos dez anos, pela competência de sua diplomacia
e porque aprendeu a lidar com as questões próprias de
sua sociedade.
Desse modo, teriam sido as mudanças internas, como o
investimento em educação ou a adoção de políticas voltadas ao combate de inflação, por exemplo, as verdadeiras
forças motrizes responsáveis pela alavancagem do País
como emergente e, portanto, o foco de medidas visando
à projeção externa de liderança.
Há que se mencionar, por fim, a preocupação evidente
no que tange à “ideologização” da política externa, bem
como a quebra de alguns paradigmas norteadores no
caso específico do Brasil.
Em um evento ímpar, numa discussão de alto nível,
finalizou destacando a preocupação quanto ao embate
norte-sul como referência para o estabelecimento de
prioridades do País, ao mesmo tempo que teve como
pano de fundo a incerteza do ordenamento dos próximos
anos e a questão da polaridade do sistema internacional.
Depois deste verdadeiro tour de force na capital paulista,
Joseph Nye viajou para Gramado, no Rio Grande do Sul,
Nye reafirmou as
fragilidades da leitura
unipolar de mundo,
que considera os EUA
a única superpotência
preponderante para a
tomada de decisões
internacionais
a fim de ser a principal atração do Encontro Nacional
de Estudantes de Relações Internacionais (ENERI),
evento que contou com a presença de uma delegação
de 40 alunos da FAAP que, na ocasião, conquistaram o
direito de organizar a edição de 2011, a ser realizada
em Brasília (DF).
A partir da esquerda: prof. Luiz Alberto Machado, vice-diretor da Faculdade de Economia; o jornalista Carlos Eduardo Lins da Silva; Antonio Bias Bueno Guillon,
diretor-presidente da FAAP; embaixador Rubens Ricupero, diretor da Faculdade de Economia; embaixador Sergio Amaral, diretor do Centro de Estudos
Americanos da FAAP, Celita Procopio de Carvalho, presidente do Conselho de Curadores da FAAP; o ilustre prof. Joseph Nye; profa. Fernanda Magnotta; Sergio
Fausto, diretor-executivo do Instituto Fernando Henrique Cardoso; José Roberto de Araújo Cunha Jr., diretor da Agência Paulista de Promoção de Investimentos e
Competitividade; e professor Gunther Rudzit, coordenador do curso de Relações Internacionais, na sede da diretoria da FAAP.
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