15(3) Junho / Agosto 2016 June / August 2016 2016 1 Título / Title: Título abreviado/ Short title: Sigla/Acronym: Editora / Publisher: Periodicidade / Periodicity: Indexação / Indexed: Brazilian Journal of Surgery and Clinical Research Braz. J. Surg. Clin. Res. BJSCR Master Editora Trimestral / Quarterly Latindex, Google Acadêmico, Bibliomed, DRJI, Periódicos CAPES e EBSCO host. Início / Start: Dezembro, 2012/ December, 2012 Editor-Chefe / Editor-in-Chief: Prof. Dr. Mário dos Anjos Neto Filho [MS; Dr] Conselho Editorial / Editorial Board Prof. Dr. Antonio Marcos dos Anjos Neto: Instituto do Rim de Maringá – Maringá – PR – Brasil Prof. Dr. Luciano Tavares Ângelo Cintra: UNESP – Araçatuba – SP – Brasil Prof. Dr. Luiz Fernando Lolli: UEM e UNINGÁ – Maringá – PR – Brasil Prof.Dr. Paulo Rodrigo Stival Bittencourt: UFTPR – Medianeira – PR – Brasil Prof. Dr. Jefferson José de Carvalho Marion: UFMS – MS - Brasil Prof. Dr. Aissar Eduardo Nassif: UNINGÁ - Maringá – PR – Brasil Prof. Dr. Sérgio Spezzia: UNIFESP – São Paulo – SP – Brasil Prof. Dr. Romualdo José Ribeiro Gama: IPEMCE - São Paulo- SP Profa. Ma. Rosana Amora Ascari: UDESC – Chapecó - SC Prof. Dr. Ricardo Radighieri Rascado: UNIFAL – Alfenas – MG Prof. Dr. Edmar Miyoshi – UEPG– Ponta Grossa – PR Profa. Dra. Tatiliana Geralda Bacelar Kashiwabara – IMES – Ipatinga – MG Profa. Dra. Thais Mageste Duque – UNICAMP – SP, UNINGÁ - PR Dra. Roseane Oliveira de Figueiredo – Campinas – SP – Brasil O periódico Brazilian Journal of Surgery and Clinical Research – BJSCR é uma publicação da Master Editora para divulgação de artigos científicos apenas em mídia eletrônica, indexada às bases de dados Latindex, Google Acadêmico, Bibliomed, DRJI, Periódicos CAPES e EBSCO host. Todos os artigos publicados foram formalmente autorizados por seus autores e são de sua exclusiva responsabilidade. As opiniões emitidas pelos autores dos artigos publicados não necessariamente correspondem às opiniões da Master Editora, do periódico BJSCR e /ou de seu Conselho Editorial. The Brazilian Journal of Surgery and Clinical Research - BJSCR is an editorial product of Master Publisher aimed at disseminating scientific articles only in electronic media, indexed in Latindex, Google Scholar, Bibliomed, DRJI, CAPES Periodicals and EBSCO host databases. All articles published were formally authorized by the authors and are your sole responsibility. The opinions expressed by the authors of the published articles do not necessarily correspond to the opinions of Master Publisher, the BJSCR and/or its editorial board. Vol.15 n.3, Jun-Ago 2016,pp.06-122 2 Prezado leitor, Disponibilizamos a décima quinta edição, volume três, do periódico Brazilian Journal of Surgery and Clinical Research – BJSCR. A Master Editora e o BJSCR agradecem aos Autores que abrilhantam esta edição pela confiança depositada em nosso periódico. O BJSCR é um dos primeiros “Open Access Journal” do Brasil, representando a materialização dos elevados ideais da Master Editora acerca da divulgação ampla e irrestrita do conhecimento científico produzido pelas Ciências da Saúde e Biológicas. Aos autores de artigos científicos que se enquadram em nosso escopo, envie seus manuscritos para análise de nosso conselho editorial! A décima sexta edição, volume um, estará disponível a partir do mês de setembro de 2016! Boa leitura! Mário dos Anjos Neto Filho Editor-Chefe BJSCR Dear reader, We provide the fifteenth edition, volume three, of the Brazilian Journal of Surgery and Clinical Research - BJSCR. The Master Publisher and the BJSCR would like to thank the authors of this edition for the trust placed in our journal. The BJSCR is one of the early Open Access Journal of Brazil, representing the realization of the lofty ideals of the Master Publisher about the broad and unrestricted dissemination of scientific knowledge produced by the Health and Biological Sciences. Authors of scientific manuscripts that fit in the scope of BJSCR, send their manuscripts for consideration of our editorial board! Our sixteenth edition, volume one, will be available in September, 2016! Happy reading! Mário dos Anjos Neto Filho Editor-in-Chief BJSCR 3 ORIGINAIS APLICAÇÃO DO PROCESSO DE ENFERMAGEM PARA PÓS-OPERATÓRIO IMEDIATO DE COLECISTECTOMIA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA MARISA GOMES DOS SANTOS, JULIA VALERIA DE OLIVEIRA VARGAS BITENCOURT, TARCÍSIO VITOR AUGUSTO LORDANI, TÁLITA DOS SANTOS, KELLY ZANELLA, CAMILA DERVANOSKI 06 CONHECIMENTO E USO DE MEDICAMENTOS GENÉRICOS POR ACADÊMICOS DE UM CENTRO UNIVERSITÁRIO DE JI-PARANÁ, RONDÔNIA IZABEL BÁRBARA BARCELOS, TIAGO BARCELOS VALIATTI, BRUNO SOARES DE CASTRO, JEFERSON DE OLIVEIRA SALVI 12 ADESÃO AO TRATAMENTO ANTI-HIPERTENSIVO POR USUÁRIOS ATENDIDOS EM UNIDADES DE ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA JOÃO JORGE SAAB FILHO, ALEXANDRE VITORATTO GRUNEWALD, CESAR TANINO, LUIS FERNANDO YOKOSAWA DE FARIAS, SIMONE SHIRASAKI OROSCO, LILIAN FRANCISCO ARANTES DE SOUZA, ELENICE MORINI DUARTE 17 PROPOSTA DE UM PROTOCOLO DE ACOLHIMENTO COM CLASSIFICAÇÃO DE RISCO PARA A ATENÇÃO PRIMÁRIA A SAÚDE DE UM MUNICÍPIO DE MINAS GERAIS MARCELA PEREIRA DE SOUZA LEITE, CARLOS HENRIQUE WERNERSBACH GUERRA, NEÍLA RODRIGUES VARGAS DE PAULA, RAMAIL SANTOS POUZAS, RODRIGO DIAS GODINHO, RONAN MOURÃO 23 FREQUÊNCIA DA EVOLUÇÃO PARA TRAQUEOSTOMIA EM PACIENTES SUBMETIDOS À VENTILAÇÃO MECÂNICA INVASIVA E SUA CORRELAÇÃO COM O ÍNDICE DE APACHE II MATEUS DIAS ANTUNES, ELENICE GOMES FERREIRA, FRANCIELI FURLAN DE SOUZA, ÊNIO TEIXEIRA MOLINA FILHO, JEFFERSON FISCHER, SONIA MARIA MARQUES GOMES BERTOLINI 31 AUTISMO: CARACTERIZAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO DO GRAU DE SEVERIDADE DOS ALUNOS DA ASSOCIAÇÃO MARINGAENSE DOS AUTISTAS (AMA) COM BASE NO MÉTODO CARS ELOISE RICARDO DOS SANTOS, LUDMILA COLLA, EMILIA CARVALHO KEMPINSKI, FERNANDA CHAGAS BUENO, FAGNER CORDEIRO VILAR MENDES 37 RELATOS DE CASOS TRATAMENTO CLÍNICO DE FÍSTULA PANCREATICOPLEURAL COM NUTRIÇÃO POR CATETER NASOJEJUNAL EM PACIENTE COM PANCREATITE CRÔNICA ALCOÓLICA SEM PSEUDOCISTO THALES BARCELOS DE SOUZA, GENOLÍVIA VIANA QUARTO, LAURO AUGUSTO CAETANO LEITE, ALEXANDRE SOARES BIFANO, CAROLINE ALCURE PINTO, CÉLIO GENELHU SOARES, MARCELO SOARES PIRES, DAVID ALVES COSTA 42 FECHAMENTO ORTODÔNTICO DE DIASTEMA EM CASO DE AGENESIA DE INCISIVO LATERAL INFERIOR: RELATO DE CASO GABRIELA PALMER PAMPONET DE OLIVEIRA, ELUIZA RAMOS SILVA NOGUEIRA PORTO, CARLA CRISTINA NEVES BARBOSA, OSWALDO LUIZ CECILIO BARBOSA, SILENO CORRÊA BRUM, LIDIANE DE CASTRO SOARES 47 ORTODONTIA PARCIAL EM ADULTOS E INTRUSÃO DE MOLAR COM MINI-IMPLANTES LORRANA FERNANDES LACERDA, HEDIBERTON ALVES DE AGUIAR, JULIANA VOLPATO CURI PACCINI, KARINA MARIA SALVATORE DE FREITAS, RODRIGO HERMONT CANÇADO, FABRÍCIO PINELLI VALARELLI 52 Vol.15 n.3, Jun-Ago 2016,pp.06-122 4 TRATAMENTO ORTODÔNTICO COM EXTRAÇÃO DO MESIODENS - RELATO DE CASO CLÍNICO CLAUDETE ANDRELINA DOS SANTOS PEREIRA, DINO LOPES DE ALMEIDA, JULIANA VOLPATO CURI PACCINI, RODRIGO HERMONT CANÇADO, KARINA MARIA SALVATORE DE FREITAS, FABRÍCIO PINELLI VALARELLI 57 MANEJO DE LESÃO PENETRANTE EM ÓRBITA POR CORPO ESTRANHO DE MADEIRA RETIDO: RELATO DE CASO CARLOS EDUARDO MENDONÇA BATISTA, ANDRE LUIS COSTA CANTANHEDE, JHOONATARRATY FONSECA DE SENA, DIOGO RÊGO D SILVA, SAMUEL BENSON LIMA BARRETO, JOSE EDUARDO BATISTA 63 ATUALIZAÇÕES OSTEÍTE ALVEOLAR: FATORES DE RISCO E MODALIDADES DE TRATAMENTO RAFAEL JORDÃO STORINO VAZ MONTEIRO, ALEXANDRE GODINHO PEREIRA, EDISON ANDRÉS CRUZ OLIVO, MARCELA FARIA MOURA, FERNANDO OLIVERA COSTA, LUIS OTÁVIO MIRANDA COTA 68 RELAÇÃO ENTRE O USO DE CATETER VENOSO CENTRAL (CVC) IMPREGNADO COM ANTISSÉPTICOS E A INFECÇÃO DA CORRENTE SANGUÍNEA: UMA REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA JACKSON HENRIQUE SOUSA LIMA, ODINÉA MARIA AMORIM BATISTA 73 A PROMOÇÃO DA SAÚDE NO ENSINO DE ENFERMAGEM: UMA REVISÃO INTEGRATIVA KÁTIA PEREIRA DE BORBA, MARIA JOSÉ CLAPIS 82 INFECÇÃO DO TRATO URINÁRIO EM GESTANTES: UMA REVISÃO LITERÁRIA LUIZ FELIPE FELISBERTO ANDRADE, CARLOS ALBERTO MENEZES FONTES CAL, SÍLVIA GABRIELLI ROCHA, DALTON GONÇALVES LIMA ALVES, DOUGLAS FERREIRA LIMA 87 EXTRAÇÃO ATRAUMÁTICA: INSTRUMENTOS E DISPOSITIVOS UTILIZADOS NA OTIMIZAÇÃO DA TÉCNICA RODRIGO LORENZI POLUHA, RAFAEL VIEIRA COSTA, CLÓVIS LAMARTINE DE MORAES MELO NETO, BRUNA MILHOMENS DE SOUSA, LUISA MOURA FIALHO, VANESSA CAMILA DA SILVA 91 O LEITE MATERNO E OS FÁRMACOS QUE ATUAM NO SISTEMA NERVOSO CENTRAL: POSSÍVEIS EFEITOS NO LACTENTE ALLONSON RODRIGUES VIEIRA REIS SÁ. ANA LUISA DE ALBERGARIA LIMA OLIVEIRA, CARINA PEIXOTO, CÉSAR AUGUSTO, KARINE SARDINHA, PATRICIA SILVA ALVES, PATRÍCIA MAIA 94 DEFEITO DO METABOLISMO DA CREATINA E SUA CORRELAÇÃO COM A MANIFESTAÇÃO DE DÉFICIT COGNITIVO – AUTISMO SAMARA LUÍZA SILVA, ALINE MARIANO DA SILVA, MAIELE CARVALHO DE MENDONÇA, MICAELE CAMPOS COELHO, NATÁLIA ALVES SOUZA ALMEIDA, KAROLAYNE CRISTINA DE SOUZA RODRIGUES, FERNANDO FERREIRA RIBEIRO, LEONARDO DE ARAÚJO LOPES 100 DERMATOFITOSES FERNANDA VIEIRA SOARES, IVONE DE ALMEIDA PARADELA ROCHA, NATÁLIA SUELEN MOREIRA GARCIA, GUSTAVO HENRIQUE DE OLIVEIRA TEIXEIRA, TATILIANA BACELAR KASHIWABARA 106 DEPRESSÃO NA ATENÇÃO PRIMÁRIA: CONSIDERAÇÕES GERAIS ACERCA DO SOBREDIAGNÓSTICO E SOBRETRATAMENTO RODOLFO NEIVA DE SOUSA, RODRIGO FERRETJANS, MARINA QUEIROZ SANDER, LUCAS CARVALHO NEIVA, ANDRE VINICIUS COSTA CARNEIRO DOURADO 114 5 Vol.15,n.3,pp.06-11 (Jun – Ago 2016) Brazilian Journal of Surgery and Clinical Research - BJSCR APLICAÇÃO DO PROCESSO DE ENFERMAGEM PARA PÓS-OPERATÓRIO IMEDIATO DE COLECISTECTOMIA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA NURSING PROCESS FOR APPLICATION OF POST OPERATIVE IMMEDIATE CHOLECYSTECTOMY: AN EXPERIENCE REPORT MARISA GOMES DOS SANTOS1, JULIA VALERIA DE OLIVEIRA VARGAS BITENCOURT2*, TARCÍSIO VITOR AUGUSTO LORDANI3, TÁLITA DOS SANTOS4, KELLY ZANELLA5, CAMILA DERVANOSKI6 1. Acadêmica da 10ª fase do curso de bacharelado em Enfermagem da Universidade Federal da Fronteira Sul – UFFS; 2. Professora Mestre da Universidade Federal da Fronteira Sul – UFFS. Chapecó, Santa Catarina, Brasil. Doutoranda do Programa de Pós Graduação da Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, do Núcleo de Pesquisa Educação em Saúde e Enfermagem: EDEN; 3. Enfermeiro, Mestre em Promoção da Saúde, Docente do Curso de Enfermagem da Universidade Federal da Fronteira Sul – UFFS; 4. Acadêmica da 10ª fase do curso de bacharelado em Enfermagem da Universidade Federal da Fronteira Sul – UFFS; 5. Acadêmica da 10ª fase do curso de bacharelado em Enfermagem da Universidade Federal da Fronteira Sul – UFFS; 6. Acadêmica da 10ª fase do curso de bacharelado em Enfermagem da Universidade Federal da Fronteira Sul – UFFS. * Rua das Hortências, 221, Bairro: Di Fiori, Guatambu, Santa Catarina, Brasil. [email protected] Recebido em 20/09/2015. Aceito para publicação em 14/06/2016 RESUMO Campo de estudo: Unidade de clínica médico cirúrgica do Hospital Regional do Oeste catarinense. Objetivo: Aplicar o Processo de Enfermagem para um paciente no pós-operatório imediato de colecistectomia. Método: Relato de experiência, realizado durante a Atividade Teórico Pratica da 5ª fase do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS). Resultados: O processo de enfermagem foi elaborado a partir das considerações clínicas e necessidades pontuais do paciente e descrito de acordo com as etapas propostas pela resolução COFEN nº 358/2009. Conclusão: A experiência vivenciada no ambiente hospitalar em especial com a implementação do PE, além de crescimento pessoal e acadêmico, serve de estímulo para profissionais atuantes, pois sinaliza a eficácia desse método, já que todo o plano de cuidados é baseado em diagnósticos identificados na aplicação das primeiras etapas do PE, tornando-os pontuais, resolutivos e eficientes. PALAVRAS-CHAVE: Assistência, cuidados, diagnósticos, enfermagem. ABSTRACT Field of study: Clinical Surgical Physician Regional Hospital of Western Santa Catarina unit. Objective: Apply the nursing process for a patient in laparoscopic immediate postoperative period. Method: Experience report, performed during Theoretical Practice Activity of the 5th stage of the Undergraduate Course in Nursing at the Federal University of South Border (UFFS). Results: The nursing process was developed based on clinical considerations and specific needs of the patient and described according to the steps proposed by Resolution No. 358/2009 COFEN. Conclusion: The experience lived in the hospital environment particularly with the implementation of the EP, as well BJSCR (ISSN online: 2317-4404) as personal and academic growth, a stimulus for working professionals as it signals the effectiveness of this method, since all the care plan is based on identified diagnoses in implementation of the first stages of PE, making them punctual, resolute and efficient. KEYWORDS: Assistance, care, diagnostics, nursing. 1. INTRODUÇÃO Litíase biliar é a presença de cálculos nas vias biliares. Geralmente o cálculo se forma no interior da vesícula biliar, chamado de colelitíase. Uma vez que a vesícula se contrai fisiologicamente, o cálculo presente neste órgão pode se deslocar e obstruir as demais vias biliares. Assim sendo, se houver deslocamento com oclusão na saída ou no ducto cístico, pode causar um processo inflamatório da vesícula biliar, denominado de colecistite, doença em questão. Contudo, este cálculo pode avançar até o ducto colédoco, provocando assim uma coledocolitíase, que pode evoluir para um processo infeccioso ou inflamatório chamado de colangite aguda. E por fim, se o cálculo avançar até o ducto biliar ocluindo-o, poderá causar pancreatite aguda1,2. Colecistite é a inflamação da vesícula biliar, aguda ou crônica. Em média, 80% são causadas pela presença de cálculos, formados por colesterol ou bilirrubina, que ocluem os canais biliares dando início ao quadro clínico, caracterizado por dor ou sensação dolorosa, acompanhada de rigidez da região do hipocôndrio direito. Esta pode ou não irradiar-se para a região medioesternal, além de náuseas e vômitos2,3,4. Openly accessible at http://www.mastereditora.com.br/bjscr Santos et al./ Braz. J. Surg. Clin. Res. V.15,n.3,pp.06-11 (Jun – Ago 2016) A colecistectomia é o procedimento cirúrgico, com baixo índice de mortalidade, que consiste na remoção da vesícula biliar, é o tratamento indicado para colecistite. Este procedimento pode ser realizado tanto pela via tradicional, cirurgia aberta, como por videolaparotomia 5,6 . Diante disso, é necessário pensar na Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE), a fim de garantir cuidado integral e humanizado ao indivíduo que foi submetido a tal procedimento, de forma dinâmica e resolutiva. Neste contexto, Chaves afirma que “a SAE é a metodologia usada para planejar, executar e avaliar o cuidado, tratando-se de ferramenta fundamental do trabalho do enfermeiro” 7. Também chamada de Processo de Enfermagem (PE) em algumas literaturas, é uma dinâmica de ações sistematizadas e inter-relacionadas, que objetivam a organização da assistência de enfermagem, de modo à resolver problemas e atender as necessidades de cuidados de saúde e de enfermagem de um indivíduo 8. Em contrapartida, houve uma evolução no que tange o conceito da SAE, atualmente é a sistematização de toda a assistência de enfermagem em um âmbito amplo o suficiente para demandar sobre questões relativas inclusive a recursos humanos, materiais e outros. Enquanto que o PE é direcionado ao cuidado de enfermagem ao usuário pautado em um método científico. Dessa forma, o PE é parte integrante da SAE, pois corresponde a uma das instâncias da SAE. Assim sendo a RESOLUÇÃO COFEN-358/2009 dispõe que “a Sistematização da Assistência de Enfermagem organiza o trabalho profissional quanto ao método, pessoal e instrumentos, tornando possível a operacionalização do processo de Enfermagem”9. O processo de Enfermagem segundo Pereira “é estruturado por cinco etapas interrelacionadas e codependentes entre si: histórico, diagnóstico, prescrição, implementação e evolução”10, o que vem de encontro com a RESOLUÇÃO COFEN nº 358/2009, a qual resolve no Art. 2º que “ O Processo de Enfermagem organiza-se em cinco etapas inter-relacionadas, interdependentes e recorrentes: Coleta de dados de Enfermagem ou histórico de enfermagem, diagnóstico de enfermagem, planejamento de enfermagem, implementação e avaliação de enfermagem” 9. Assim sendo, o presente estudo teve como objetivo aplicar o Processo de Enfermagem para um paciente no pósoperatório imediato de colecistectomia. estudantes no período de maio a junho de 2014, junto a um paciente em pós-operatório imediato de colecistectomia, internado na clínica médico cirúrgica de um hospital regional do oeste catarinense. Assim sendo, o Processo de Enfermagem teve seu “start” a partir do momento que se teve conhecimento do nome do paciente em questão, o que permitiu identificar o prontuário alvo, para a busca por informações, com o objetivo de evitar perguntas desnecessárias. Após, lançando mãos do Histórico de enfermagem, realizado um questionamento com perguntas abertas e fechadas, na impossibilidade do indivíduo responder, estas foram direcionadas ao familiar presente no momento da coleta de dados, a fim de elencar déficits relacionados ao desvio de saúde, ainda nesta etapa, realizou-se o exame físico, o qual revela as condições clinicas e físicas do indivíduo. Na sequência, foram analisadas as informações colhidas e realizado o diagnóstico de enfermagem, para tal, utilizou-se o referencial teórico North American Nursing Diagnosis Association (NANDA), conforme as condições clínicas e necessidades pontuais do paciente, respeitandoo como ser único, da mesma forma que o planejamento de enfermagem foi pensado e definido exclusivamente para o caso em questão, utilizando como referência a Classificação das intervenções de Enfermagem (NIC). Diante do exposto, as intervenções de enfermagem foram implementadas e avaliadas concomitantemente, completando assim o Processo de enfermagem (PE). O presente estudo faz parte dos objetivos de um grande projeto, intitulado como “A percepção dos Acadêmicos do curso de graduação de Enfermagem da Universidade Federal da Fronteira Sul, quanto a metodologia de ensino do processo de enfermagem”, com aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) da UFFS, cujo protocolo é: 36390414.0.0000.5564, e Parecer Número: 826.140 Todas as atividades realizadas foram acompanhadas por um professor supervisor, além da presença de familiares, os quais foram orientados quanto a disponibilidades a questionamentos, a possibilidade de recusa em responder alguma das perguntas ou à realização de algum procedimento, para garantir o anonimato foi usada as inicias do nome do usuário. A experiência relatada poderá estimular os enfermeiros para a implantação completa da Sistematização de enfermagem, uma vez que os resultados comprovam as viabilidades dessa implementação/implantação o que proporciona um cuidado integral, resolutivo e individual. 2. MATERIAL E MÉTODOS 3. RESULTADOS Trata-se de um relato de experiência, realizado durante a Atividade Teórico Pratica da 5ª fase do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) – campus Chapecó. Para este relato de experiência focou-se nas vivências realizadas pelos (as) Coleta de Dados realizada no dia 09/06/14 BJSCR (ISSN online: 2317-4404) Segundo informações da filha e dados oriundos do prontuário a história prévia do paciente consiste do seguinte histórico: gênero masculino, 78 anos, pele branca, católico, casado, tem cinco filhos. Reside em casa própria Openly accessible at http://www.mastereditora.com.br/bjscr Santos et al./ Braz. J. Surg. Clin. Res. com água encanada, luz, coleta seletiva de lixo e o esgoto é desprezado em fossa. O principal meio de distração é a televisão e os campeonatos de dominó que participa em sua comunidade, antes da internação praticava caminhadas todos os dias. Foi fumante por muitos anos, contudo há 20 anos deixou o vício, nega o consumo de bebidas alcoólicas, drogas e doenças transmissíveis atuais ou pregressas. É hipertenso e tem hipotireoidismo, faz uso de medicação continua; não tem histórico de alergias a medicamentos, alimentos ou outros. Quanto ao esquema vacinal, a familiar não soube informar se está completo. Tem o ensino médio, encontrase aposentado, a sustentabilidade familiar é proveniente de sua aposentadoria e trabalhos manuais desenvolvidos pela sua esposa. Antes da internação sua acuidade visual e auditiva eram preservadas, seguia uma alimentação equilibrada e diversificada com ingesta de quatro refeições/ copos de água ao dia. Dormia em torno de 7 a 8 horas por noite, realizava seu próprio cuidado sem auxílio, sendo higiene de couro cabeludo e banho todos os dias intercalando os períodos segundo sua disponibilidade, e tricotomia facial conforme a necessidade. Diurese de aspecto característico e volume de acordo com a ingestão de líquidos, evacuações diárias sem alteração na característica, contudo não evacua desde a internação, a cinco dias. O paciente referia há algum tempo dores abdominais que se intensificaram nas últimas duas semanas. Internou dia 04/06/14 com diagnóstico de dor abdominal, chegou ao Pronto Socorro do referido hospital trazido pelo Corpo de Bombeiros. Realizou procedimento cirúrgico de colicistectomia no dia 08/06/14, após este, foi identificado uma fístula duodenal e abcesso hepático. Durante o procedimento os sinais vitais se mantiveram na média de: PA 101/64 a 150/90 mmHg; FC 68 a 77; SPO2 87% a 92%, enquanto que a temperatura manteve se em 33,3ºC. Ao exame físico, inconsciente, Glasgow de 8 (Abertura Ocular-AO 2, Melhor Resposta Verbal-MRV 2, Melhor Resposta Motora-MRM 4), couro cabeludo integro, alopecia na região parieto-frontal, face hipocorada pele integra, presença de pelos faciais, movimento palpebral e ocular preservados, esclerótica anictérica, mucosa conjuntival hidratada, hipocorada, apresentando leve edema, pupilas mióticas com 1mm, fotoreativas. Recebe oxigenioterapia em máscara de venturi 50% à 8 l/min, cavidade nasal sem alterações. Lábios corados, mucosa oral hidratada apresentando pequena lesão no lado esquerdo, dentes superiores nas laterais e inferiores com presença de carie e tártaro, prótese dentaria parcial superior na região anterior, língua com presença de saburra. Orelhas e conduto auditivo íntegros. Região cervical com pele livre de lesões, sem presença de nódulos palpáveis, mobilidade da traqueia preservada. Tórax simétrico, pele íntegra, com acesso venoso central duplo lúmen em subclávia direita, sem sinais flogísticos na inserção, curativo com cobertura BJSCR (ISSN online: 2317-4404) V.15,n.3,pp.06-11 (Jun - Ago 2016) estéril transparente com aspecto e validade adequados, recebendo na via distal NPT 40ml/h e na via proximal recebendo fluidoterapia 35 gts/min e medicamentos, respiração torácica, taquipneica 23 irpm, ritmo regular e amplitude profunda, murmúrios vesiculares presentes, com presença de roncos em Ápices e bases na inspiração e expiração, com som submaciço a percussão, expectorando secreção purulenta espessa, volume de aproximadamente 50ml. Bulhas normofonéticas em 2 tempos sem sopro, normocardico 74 bpm, ritmo regular e pulso cheio, normotenso 100/65 mmHg. Abdome distendido, com curativo em ferida operatória na região do hipocôndrio direito com aproximadamente 10 cm de comprimento e cicatrização por primeira intenção, dreno tubular na região do flanco direito com drenagem biliosa em bolsa de Karaya, ruídos hidroaéreos presentes hipoativos 5 mpm, timpânico à percussão, hepatimetria de 11cm, sem alterações à palpação. Membros superiores com pele íntegra, apresentando pontos de hemorragias subcutâneas em braço e antebraço bilateral, turgor cutâneo e força diminuídos classificação 2, com hipoalgesia e hipoestesia, mobilidade prejudicada por movimentos descoordenados em ambos os membros, temperatura axilar de 36,2ºC, enchimento capilar de 3 segundos, mantém oximetria de pulso com monitorização de sinais vitais contínua. Membros inferiores com integridade da pele preservada, apresentando cacifo 3+, turgor cutâneo e força diminuídos, mobilidade restrita, hipoestesia e hipoalgesia, enchimento capilar de 4 segundos. Apresenta edema de prepúcio e escroto, pele íntegra, sonda vesical de demora com diurese de cor laranja, volume de 400 ml, sem sedimentos, região anal sem lesões, faz uso de fralda descartável. A seguir mostramos a tabela na qual se evidenciam os diagnósticos e intervenções identificados a partir dos dados expressos no exame físico e sequenciais ao seu surgimento, respeitando as prioridades de cuidados, durante esta etapa do processo, sendo que para cada diagnóstico se elencaram intervenções. Tabela 1. Diagnósticos e Planejamento/ Intervenções de enfermagem. Diagnósticos de enfermagem Planejamento/ Intervenções de enfermagem Capacidade adaptativa intracraniana diminuída, relacionada a alteração metabólica evidenciado pelo Glasgow 8 e pupila miótica. Monitorizar nível de consciência utilizando escala de Glasgow de 2/2h e avisar alterações ao enfermeiro do setor. Manter cabeceira elevada a 30º. Risco de aspiração, relacionada ao nível de consciência diminuído. Realizar aspiração das vias aéreas (nasal após oral), com auxílio de um colega, na presença de secreção sempre que necessário. Manter grades do leito elevadas, contenção mecânica se necessário, e observar comportamentos. Risco de quedas relacionada a Alteração do nível de consciência (glasgow 8) Openly accessible at http://www.mastereditora.com.br/bjscr Santos et al./ Braz. J. Surg. Clin. Res. Padrão respiratório ineficaz relacionado a síndrome da hipoventilação, evidenciada pela presença de secreção, taquipnéia, instabilidade da saturação. Risco de infecção, relacionado ao procedimento cirúrgico, dreno tubular, procedimentos invasivos de cateter venoso central, cateter vesical de demora e ambiente hospitalar. Risco de integridade da pele prejudicada, relacionada a fragilidade cutânea, circulação prejudicada, edemas em membros superiores e inferiores, idade de 78 anos e mobilidade diminuída Mobilidade física prejudicada, relacionada ao nível de consciência diminuído, evidenciada pela movimentação no leito reduzida. Risco de glicemia instável, relacionado a alteração do estado mental e ingestão alimentar insuficiente pela incapacidade de receber alimentação pela via digestiva. Mucosa oral prejudicada relacionada a aspiração da cavidade oral, evidenciada por lesão traumática na lateral esquerda da cavidade oral. Manter aporte de oxigenioterapia e oximetria de pulso, observando alterações ventilatórias. Atentar para sinais flogísticos nas inserções do dispositivo venoso central, cateter vesical de demora e incisão da ferida operatória. Realizar curativo do dispositivo venoso central com clorexidina alcoólica, usar cobertura estéril transparente a cada 72h e SN. Realizar curativo em ferida operatória com solução fisiológica 0,9%, usando técnica asséptica 1x/dia e SN. Anotar déficit e característica do conteúdo drenado no dreno tubular de 6/6h. Realizar hidratação cutânea com creme a base de aloe vera de 6/6h. Aplicar Cavilon creme barreiras após o banho conforme escala de banho. Avaliar cor, turgor cutâneo, umidade e textura da pele de 6/6h. Manter membros superiores e inferiores elevados para facilitar o retorno venoso. Alternar decúbito, acomodar o paciente de forma confortável usando coxins de 2/2h e quando necessário. Monitorara glicemia conforme protocolo da instituição e avaliar estado nutricional com o uso da NPT. Realizar higiene oral com antisséptico oral de 6/6h. Manter cânula orofaríngea (Guedel) a fim de evitar lesões de mordida na mucosa oral. Perfusão tissular periférica ineficaz relacionada ao lesão abdominal e imobilidade evidenciada pelo tempo de enchimento capilar > que 3 seg. Eliminação urinária prejudicada, relacionada ao dano sensório-motor evidenciada pela incontinência urinária. Monitorar perfusão periférica. Constipação, relacionada ao procedimento cirúrgico, evidenciada Solicitar avaliação nutricional Realizar massagem abdominal no sentido horário 4x/dia. BJSCR Manter fixação da sonda vesical de forma segura e confortável. Manter SVD abaixo do nível do corpo, não encostar a saída da bolsa coletora no chão. Realizar higiene intima e de meato urinário, tracionar o prepúcio e retrai- lo após cada higiene intima de 6/6h e a cada troca de fralda. (ISSN online: 2317-4404) V.15,n.3,pp.06-11 (Jun – Ago 2016) por relatos da familiar de não evacuar a seis dias. Déficit no autocuidado para banho, relacionado a mobilidade prejudicada, ao prejuízo cognitivo, evidenciado pela incapacidade de banhar-se. Estimular movimentos de membros inferiores. Realizar banho de leito com sabonete neutro 1x/dia conforme escala de banho. Realizar higiene do couro cabeludo a cada dois dias e SN. Implementação Todo o planejamento de enfermagem foi executado pela equipe conforme combinações de horários aprazados. Avaliação 11/06/2014 às 14h, 3º dia de pós procedimento cirúrgico de colecistectomia. Glasgow de 4 (AO 2, MRV 1, MRM 1), recebendo oxigenioterapia em máscara de venturi 50% à 15 l/min, taquipneico 35 irpm, respiração de Biot, murmúrios vesiculares presentes, com presença de sons subcreptantes em Ápices e roncos em bases na inspiração e expiração, com som submaciço a percussão, aspiração com secreção purulenta espessa, volume de aproximadamente 50ml. Piora clínica encaminhado paciente de maca para Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Na sequência desta avaliação seguindo a metodologia do processo de enfermagem, seriam identificados novos diagnósticos com novas intervenções de acordo com as alterações de saúde observadas, sendo esta série de ações desenvolvidas de forma contínua durante a internação do paciente. 4. DISCUSSÃO A enfermagem a muito é reconhecida por ser uma profissão voltada ao cuidado, e ao longo da história, ato de cuidar vem sendo discutido e repensado, almejando cientificidade a profissão por meio de teorias de enfermagem e usando de ferramentas de trabalho para aplicá-las na prática de forma organizada e contínua. Assim o Processo de enfermagem (PE) é uma metodologia que organiza o trabalho do enfermeiro em etapas correlacionadas e fundamentadas cientificamente a fim de conferir uma assistência qualificada para atender as necessidades de saúde de cada paciente de maneira individualizada 11. Tendo em vista que “o cuidado é imprescindível em diferentes situações da vida do ser humano, seja ele, na promoção da saúde, na prevenção de doenças, no transcorrer de enfermidades e seus agravos, nas incapacidades ou no processo de morrer” 12:1573. “O Processo de Enfermagem desperta a enfermeira para desenvolver a sua criatividade e sensibilidade, de forma ativa, sistemática e contínua, buscando sempre uma relação com a essência do ser humano, ao identificar os Openly accessible at http://www.mastereditora.com.br/bjscr Santos et al./ Braz. J. Surg. Clin. Res. sinais enviados pelo corpo; observar o comportamento cotidiano das potencialidades e necessidades de ajuda de uma pessoa. Assim, identifica a quantidade e a qualidade de cuidado de Enfermagem que a situação requer para auxiliar na vivência do processo saúde-doença desta pessoa” 13: 203. Tal afirmação é oportuna para o caso em questão, uma vez que o procedimento de colecistectomia, mesmo sendo um procedimento cirúrgico de baixo índice de mortalidade, teve uma evolução negativa, com agravantes que foram identificados a partir dos sinais e sintomas observados durante o desenvolvimento do PE, que exige um olhar integral ao paciente, raciocínio científico para um planejamento adequado dos cuidados necessários, uma eficaz implementação e posterior avaliação, etapas estas, que exigem conhecimento e reflexão crítica para sustentar essas ações, ao coletar dados, identificar as necessidades de cuidados, propor intervenções e avaliar os resultados dos cuidados que realiza. “Essa capacidade de julgar criticamente os dados da prática clínica é o que confere autonomia ao enfermeiro durante a sua atuação, pois consiste em uma atividade individual, reflexiva e, embora exija a interação profissional-paciente, é baseada nos conhecimentos, valores e significados que o enfermeiro dá às informações que encontra” 14:77 . E possibilita que o mesmo possa identificar intercorrências, necessidades básicas afetadas, observar o cuidado que é oferecido ao cliente e propor intervenções com o objetivo de recuperação e reabilitação. Neste contexto, o PE é uma fermenta que é aplicável em diferentes situações de saúde-doença, e em diferentes ambientes, mas vale enfatizar que o profissional deve considerar que as intervenções deve ser dirigidas especificamente ao paciente em avaliação no momento e não ao diagnóstico clínico, visto que as necessidades mudam a medida que são influenciadas por multifatores, os quais também vão direcionar as condutas e seus resultados finais, que deverão ser alterados a medida que as condições de saúde exigem. 5. CONCLUSÃO A aplicação dos fundamentos teóricos à pratica, é oportunizado na vida acadêmica por meio das atividades teórico e práticas, as quais comprovam a viabilidade de aplicar um método científico que visa atender, resolver ou amenizar problemas observados e/ou referidos pelo paciente, de forma planejada e organizada, conforme a realidade local. Considerando que cada paciente é ser único, este deve ser visto como tal e da mesma forma o planejamento de seus cuidados deve ser pensados individualmente. Para que isso seja viável a implementação/implantação do Processo de Enfermagem é de suma importância, visto BJSCR (ISSN online: 2317-4404) V.15,n.3,pp.06-11 (Jun - Ago 2016) que se considera uma ferramenta fundamental e facilitadora do trabalho do profissional enfermeiro. A experiência vivenciada no ambiente hospitalar além de proporcionar crescimento pessoal e acadêmico, serve de estimulo para profissionais já atuantes, pois sinaliza a eficácia desse método, já que todo o plano de cuidados é baseado em diagnósticos identificados na aplicação das primeiras etapas do PE, tornando-os pontuais, resolutivos e eficientes. Vale ressaltar que a não eficácia do planejamento é avaliada, e este substituído quando necessário, o que só é possível se o PE for implementado integralmente. REFERÊNCIAS [01] Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia – spg. O que é litíase biliar? [base de dados na Internet] [acessado em 13/04/15] Disponível em: http://www.spg.pt/wpcontent/uploads/2013/02/oquee_litiase_24.pdf. [02] Instituto de gastroenterologia e cirurgia IGC. Colecistite aguda – colecistectomia. [base de dados na Internet] [acessado em 10/01/14] Disponível em: http://www.igcfoz.com.br/site/colecistite.php [03] Cabral IE. 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BJSCR (ISSN online: 2317-4404) Openly accessible at http://www.mastereditora.com.br/bjscr Vol.15,n.3,pp.12-16 (Jun – Ago 2016) Brazilian Journal of Surgery and Clinical Research - BJSCR CONHECIMENTO E USO DE MEDICAMENTOS GENÉRICOS POR ACADÊMICOS DE UM CENTRO UNIVERSITÁRIO DE JI-PARANÁ, RONDÔNIA KNOWLEDGE AND USE OF GENERIC DRUGS BY ACADEMICS IN A UNIVERSITY IN JI-PARANÁ, RONDÔNIA IZABEL BÁRBARA BARCELOS1, TIAGO BARCELOS VALIATTI2, BRUNO SOARES DE CASTRO3, JEFERSON DE OLIVEIRA SALVI4* 1. Acadêmica do Curso de Graduação em Farmácia do Centro Universitário Luterano de Ji-Paraná; 2. Acadêmico do Curso de Graduação em Farmácia do Centro Universitário Luterano de Ji-Paraná; 3. Estatístico, Docente do curso de Graduação em Estatística da Fundação Universidade Federal de Rondônia; 4. Farmacêutico, Especialista pelo Instituto Brasileiro de Therapias e Ensino, Docente do Curso de Graduação em Farmácia do Centro Universitário Luterano de Ji-Paraná. * Universidade Luterana do Brasil, Centro Universitário Luterano de Ji-Paraná. Avenida Engenheiro Manfredo Barata Almeida da Fonseca, Nº 762, Jardim Aurélio Bernardi, Ji-Paraná, Rondônia, Brasil. CEP: 76907-438. [email protected] Recebido em 05/05/2016. Aceito para publicação em 11/07/2016 RESUMO Os medicamentos exercem um papel primordial na terapêutica, sendo importante a implantação de políticas de saúde que garantam o seu acesso. Entre as estratégias para garantir o acesso aos medicamentos está a implantação dos Genéricos pela Lei nº 9.787 de 10 de fevereiro de 1999, com objetivo de oferecer medicamentos com custo mais acessível, mantendo-se a segurança e eficácia. Através do presente estudo teve-se por objetivo avaliar o conhecimento e uso dos medicamentos genéricos por acadêmicos de um Centro Universitário localizado no município de Ji-Paraná, Rondônia. Constitui-se em um estudo transversal de caráter quantitativo-descritivo, onde foram aplicados questionários a 209 acadêmicos. Os resultados encontrados demonstram satisfatório consumo por parte dos acadêmicos, sendo que as principais classes adquiridas são os analgésicos, antibióticos e antialérgicos. Contudo, a maioria dos participantes considerou o domínio de conhecimento como insuficiente. Verificase a necessidade de uma maior adesão por parte dos médicos, principais profissionais prescritores, sendo importante maior divulgação entre esses profissionais e os consumidores. PALAVRAS-CHAVE: Políticas públicas, acesso aos medicamentos, lei dos genéricos. ABSTRACT Medications play a key role in therapy and it is important the implementation of health policies that guarantee access. Among the strategies to ensure access to medicines, is the implementation of Generics by Law No. 9787 of February 10, 1999, in order to offer more affordable medications, while maintaining the safety and efficacy. The aim of this study is to evaluate the knowledge and use of generic drugs by students of a University Center located in the city of Ji-Paraná, Rondônia. It is in a crossBJSCR (ISSN online: 2317-4404) sectional study of descriptive quantitative approach, where 209 questionnaires were answered by students. The results show a satisfactory consumption by academics, and the main classes of medications purchased are analgesics, antibiotics and anti-allergy. However, most participants considered the domain of knowledge as insufficient.There is a need for greater adherence among physicians who are the main prescribers, so is important greater awareness among these professionals and consumers. KEYWORDS: Public policies, access to medicines, Generic Drugs Act. 1. INTRODUÇÃO Medicamentos constituem-se em produtos farmacêuticos utilizados com finalidades profilática, curativa, paliativa ou para diagnóstico, exercendo papel central na terapêutica(1). O mercado farmacêutico brasileiro possui tipos distintos de medicamentos que são: os de referência, similares e genéricos. O primeiro é o produto inovador que é registrado no órgão federal responsável pela vigilância sanitária, sendo que, a sua eficácia, segurança e qualidade são comprovadas cientificamente junto ao órgão federal competente, na ocasião do registro. Os similares contêm os mesmos princípios ativos, apresentam a mesma concentração, forma farmacêutica, via de administração, posologia e indicação do medicamento de referência, podendo diferir em algumas características tais como: tamanho, embalagem, excipientes e veículos, devendo sempre ser identificado por nome comercial ou marca(2). Genéricos são aqueles que contêm o mesmo fármaco, na mesma dose, forma farmacêutica, indicação e Openly accessible at http://www.mastereditora.com.br/bjscr Barcelos et al./ Braz. J. Surg. Clin. Res. via de administração de seu referente, cujo prazo de proteção patentária expirou, dessa forma a diferença entre os dois está apenas na nomenclatura, pois os genéricos levam o nome do princípio ativo e o de referência adota o nome comercial(3). Ressalta-se que os genéricos obrigatoriamente passam por testes de bioequivalência e biodisponibilidade os quais garantem que os mesmos apresentem o mesmo efeito terapêutico que os de referência(4). Diante de sua importante função na redução da mortalidade e morbidade os medicamentos devem estar disponíveis para a população e para isso muitos países formulam políticas nacionais de medicamentos que definem diretrizes para garantir o acesso a medicamentos seguros, eficazes e de qualidade(5) . Entre as estratégias para garantir o acesso aos medicamentos está a política dos medicamentos genéricos, os quais são geralmente mais baratos do que os medicamentos de referência, pois não recaem sobre eles os custos relacionados ao desenvolvimento da nova molécula, além de um menor investimento em propaganda, nesse sentido os genéricos foram implantados pela Lei nº 9787 de 10 de fevereiro de 1999 com objetivo de fornecer medicamentos com a mesma qualidade e menor custo à população (2). Através do presente estudo objetiva-se verificar o nível de conhecimento e aceitação dos medicamentos genéricos, além da caracterização das principais classes terapêuticas adquiridas por acadêmicos de um centro universitário no município de Ji-Paraná, estado de Rondônia, Brasil. 2. MATERIAL E MÉTODOS Realizou-se um estudo do tipo transversal de caráter quantitativo-descritivo, desenvolvido no Centro Universitário Luterano de Ji-Paraná (CEULJI-ULBRA), sendo que a pesquisa foi submetida e aprovada pelo Comitê de Ética e Pesquisa da instituição, sob o parecer de número 558.118/2014. A coleta de dados ocorreu de maneira aleatória simples por conveniência, entre os meses de maio e junho de 2015, nas dependências da instituição, teve como público alvo os acadêmicos das distintas áreas de graduação ofertadas pela instituição. Aplicou-se um questionário semiestruturado desenvolvido pelos autores, que foram entregues aos participantes que concordaram em preencher o termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE). Os domínios abordados visaram a caracterização da amostra (idade, sexo, estado civil e curso); a capacidade de reconhecer os medicamentos genéricos; a preferência por medicamentos genéricos; a eficácia frente ao medicamento de referência e o similar; as principais classes adquiridas; a detenção de informação sobre os genéricos e a aquisição por prescrição médica. BJSCR (ISSN online: 2317-4404) V.15,n.3,pp.12-16 (Jun – Ago 2016) Os resultados foram expressos por estatística descritiva percentual simples com auxílio do Microsoft Excel (2007 for Windows®) e as médias foram comparadas pelo pacote estatísticos do programa R Core Team® (2012), considerando os valores significativos para p valor <0,05. 3. RESULTADOS A amostra foi constituída por 209 acadêmicos e a maioria esteve compreendida na faixa etária entre 18 a 22 anos (54%), do sexo feminino (68,9%) e solteiros (76%). A figura 1 relaciona a frequência relativa dos participantes classificados por curso. Figura 1. Distribuição dos participantes por curso. A utilização de medicamentos genéricos foi avaliada pela preferência e pela capacidade em reconhecê-lo no ato da aquisição. Observou-se a predominância de uma maior frequência relativa para as assertivas respondidas positivamente, com diferença significativa entre as questões 2 e 3 (tabela 1). Evidenciou-se, ainda, uma chance de 1,88 vezes (odds ratio) para o reconhecimento correto do medicamento genérico em relação ao similar ou de referência. Tabela 1. Relação da capacidade do reconhecimento do medicamento genérico com a intenção de adquiri-lo (p=0,03, Teste do Qi-Quadrado). QUESTÕES Sabe distinguir um medicamento genérico de um similar ou de referência? Quando vai comprar tem maior preferência por genéricos? Sim Não Sim 71,64% 28,36% Não 57,33% 42,67% A opinião dos participantes sobre a eficácia do medicamento genérico foi avaliada pela questão 4 com resultados que diferiram significativamente entre si (p=0,01), sem distinção entre os sexos. A associação com a questão 2 (tabela 2) revela que a proporção das respostas positivas para o saber reconhecer o medicamento genérico aumenta conforme a discordância da eficácia do genérico em relação ao medicamento de referência. Openly accessible at http://www.mastereditora.com.br/bjscr Barcelos et al./ Braz. J. Surg. Clin. Res. V.15,n.3,pp.12-16 (Jun - Ago 2016) Tabela 2. Relação da capacidade do reconhecimento do medicamento genérico com a concordância de sua eficácia quando comparada ao medicamento de referência (p=0,01, Teste do Qi-Quadrado). QUESTÕES Acha que o medicamento genérico é mais eficaz que um de referência? Sabe distinguir um medicamento genérico de um similar ou de referência? Concordo totalmente Concordo Não concordo e nem discordo Discordo Discordo Totalmente Sim 50,00% 60,87% Não 50,00% 39,13% 56,84% 43,16% 77,05% 84,62% 22,95% 15,38% A tabela 3 indica a opinião dos participantes quanto à eficácia em relação ao medicamento similar, a qual foi avaliada pela questão 5 e resultou em uma diferença altamente significativa (p=0,000) sobre a concordância, também se observou uma associação positiva com a capacidade em reconhecer o medicamento genérico no ato da compra. Tabela 3. Relação da capacidade do reconhecimento do medicamento genérico com a concordância de sua eficácia quando comparada ao medicamento de referência (p=0,000, Teste do Qi-Quadrado. p=0,000, Teste de Fisher). QUESTÕES Sabe distinguir um medicamento genérico de um similar ou de referência? Concordo totalmente Concordo Acha que o medicamento genérico é mais eficaz que um similar? Não concordo e nem discordo Discordo Discordo Totalmente Sim Não 93,75% 6,25% 75,00% 25,00 % 50,00% 50,00 % 69,23% 90,00% 30,77 % 10,00 % A questão 6 questionou quais as classes de medicamentos genéricos foram as mais adquiridas pelos participantes, conforme ilustra a Figura 2. Figura 2. Distribuição das classes de medicamentos genéricos mais adquiridas por participante. A: Antibióticos; B: Antialérgicos; C: Analgésicos; D: Antiulceroso; E: Ansiolítico; F: Antiinflamatórios; G: Antihipertensivos; H: Vitaminas; I: Antidepressivos. BJSCR (ISSN online: 2317-4404) A detenção de informações sobre medicamentos genéricos foi questionada na questão 7 e correlacionadas com a capacidade de distinção ou reconhecimento destes (tabela 4). Houve diferença altamente significativa para a concordância (p=0,000) e a identificação de uma relação inversamente proporcional, uma vez que, a positividade sobre a identificação do medicamento genérico diminui e a não concordância sobre a detenção de conhecimento aumenta. Tabela 4. Relação da detenção de informações sobre medicamentos genéricos com a capacidade de distingui-lo entre outros medicamentos (p=0,000, Teste do Qi-Quadrado. p=0,000, Teste de Fisher). Sabe distinguir um medicamento genérico de um similar ou de referência? As informações que possui sobre medicamentos genéricos são suficientes? Concordo totalmente Concordo Não concordo e nem discordo Discordo Discordo Totalmente Sim 83,33% 89,13% Não 16,67% 10,87% 57,14% 42,86% 63,77% 42,11% 36,23% 57,89% A prescrição de medicamentos genéricos por parte dos médicos foi avaliada pela questão 8, sendo que 59, 33% afirmaram já terem recebido prescrição e 40,67% afirmaram negativamente. 4. DISCUSSÃO A política dos medicamentos genéricos, implantados pela Lei nº 9787 de 10 de fevereiro de 1999, teve como principal objetivo propiciar o acesso da população aos medicamentos, além disso, representou importantes mudanças no cenário econômico, uma vez que, elevou a competitividade nesse segmento, fazendo com que até mesmo os medicamentos de referência reduzissem seus preços (6). No Brasil, estudos que avaliam o consumo de medicamentos genéricos têm demonstrado resultados satisfatórios, como o estudo realizado em Natal/RN(7) onde 99,6% dos entrevistados já ouviram falar sobre esses medicamentos. Esse fato se deve possivelmente a intensa divulgação desses medicamentos nos diversos meios de comunicação. Em pesquisa realizada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária(8) em 2001, dois anos após a implantação da Lei dos Genéricos, foi possível verificar a importância dessa divulgação, pois 82% dos consumidores já haviam visto propaganda ou campanha de esclarecimento sobre esses medicamentos. Nesse contexto, se observa, que a faixa etária predominante no presente estudo (18 a 22 anos), representa indivíduos que cresceram em um meio onde os medicamentos genéricos passaram a constituir uma opção real, o que provavelmente explica o fato da maioria dos acadêmicos afirmarem serem capazes de distinguir o medicamento Openly accessible at http://www.mastereditora.com.br/bjscr Barcelos et al./ Braz. J. Surg. Clin. Res. genérico dentre os outros medicamentos. Tal evidência é corroborada pelos resultados encontrados no estado do Paraná, no município de Toledo(9), onde a população investigada declarou o conhecimento e o atribuiu principalmente pela forma de identifica-los por meio da embalagem, a qual contém a tarja amarela e a letra G. No presente estudo, maior parte dos acadêmicos declarou ter preferência pelos genéricos no momento da compra, segundo Figueira e colaboradores(10) a escolha do medicamento nesse momento é condicionada por um conjunto de fatores, tais como: o preço, as crenças que os indivíduos possuem em relação à eficácia e a segurança desses medicamentos, o que pode indicar que os acadêmicos analisados acreditam que os medicamentos genéricos possuem preço acessível e qualidade. Fato o qual é reforçado pelo registro dos indivíduos que declararam preferência pelos genéricos possuírem maior chance de saberem distingui-los dos outros medicamentos. Verificou-se que dentre os acadêmicos que afirmaram saber distinguir o medicamento genérico dos demais, uma maior proporção discordou que o genérico seja mais eficaz que o de referência. Tal achado pode ser considerado um resultado satisfatório indicativo de conhecimento, uma vez que, conforme a legislação, o medicamento genérico deve comprovar sua equivalência farmacêutica e bioequivalência em relação ao medicamento de referência, onde ambos seriam equivalentes terapêuticos, ou seja, apresentam a mesma eficácia clínica (11). Em contrapartida, com relação ao similar, uma maior proporção entre os que souberam diferenciar os genéricos dos demais, concordam que o genérico seja mais eficaz que os similares. De acordo com Bevilacqua e colaboradores (12) é comum verificar uma desconfiança por parte dos pacientes e até mesmo de profissionais da saúde com relação aos medicamentos similares. Conforme o Ministério da Saúde do Brasil, os medicamentos similares, apesar de possuírem o mesmo fármaco, concentração, forma farmacêutica, via de administração, posologia e indicação terapêutica, não passavam por testes que comprovassem o mesmo efeito em igual espaço de tempo que o medicamento de referência, não podendo ser com este intercambiável(13). Contudo, em 2014 foi publicada a RDC nº 58, a qual dispõe medidas para a intercambialidade de medicamentos similares com medicamentos de referência, para tanto o medicamento similar precisa apresentar à ANVISA estudos de equivalência farmacêutica, biodisponibilidade relativa/bioequivalência ou bioisenção, para análise e aprovação. Deve ser disponibilizado em sítio eletrônico a relação dos medicamentos similares e os respectivos medicamentos de referência com os quais são intercambiáveis, sendo que, s medicamentos similares intercambiáveis deverão apresentar a seguinte frase em suas bulas: MEDICAMENTO SIMILAR EQUIVALENTE AO MEDICAMENTO DE REFERÊNCIA(14). BJSCR (ISSN online: 2317-4404) V.15,n.3,pp.12-16 (Jun – Ago 2016) As principais classes de genéricos adquiridas pelos acadêmicos foram as dos analgésicos, seguidos dos antibióticos e dos antialérgicos. Estudo realizado com dados da ANVISA(15), avaliou que o mercado brasileiro de medicamentos abrangia cerca de 93% da necessidade da prescrição médica. Em 2005 o setor vendeu 151,4 milhões de unidades de medicamentos genéricos em todo país, sendo que a grande parte dos registros de princípios ativos de medicamentos genéricos é produzida no Brasil e entre as 10 principais classes terapêuticas com maior registro estão a dos antibióticos, na quinta posição, seguida pela dos analgésicos e os anti-histamínicos na nona posição. Tal relato provavelmente explica o fato dessas classes serem as principais adquiridas e registradas com maior frequência nos resultados do presente estudo. Para Nishijima et al(16) o crescente aumento da participação dos genéricos no faturamento das classes terapêuticas nas quais atuam, indicam que a Lei dos Genéricos foi eficaz em promover o seu consumo no País, os autores destacam ainda o fato de a qualidade dos genéricos ter sido difundida entre os consumidores, apesar de estes já terem a influência da propaganda e das experiências com medicamentos de referência. Apesar dos resultados satisfatórios encontrados anteriormente a maior parte dos acadêmicos discordam que possuem conhecimento suficiente sobre os medicamentos genéricos, verificando-se ainda, que dentre os que discordam em possuir conhecimento suficiente a maioria afirmou não saber distinguir esses medicamentos. Nesse ponto é importante ressaltar que as divulgações nos meios de comunicação podem não ser suficientes, destacando aqui o importante papel da farmácia como um canal de distribuição não só de medicamentos, mas também de informações(17). Nesse contexto, os profissionais da saúde e, em especial o farmacêutico como principal conhecedor acerca de fármacos, precisam estar aptos a prestar informações e realizar a dispensação racional desses produtos(18). Embora a maior parte dos entrevistados tenha recebido prescrição médica para aquisição de genéricos, ressalta-se a não representatividade desse valor, uma vez que, o médico pode ser considerado o principal ator no consumo de medicamentos(19). Estudo realizado em Natal/RN(7) demonstra ainda menor adesão aos genéricos por parte dos médicos, uma vez que, apenas 7,5% dos participantes relataram receber prescrição médica de genéricos. A baixa prescrição dos genéricos pode ser explicada pelo fato dos medicamentos de referência e similares terem uma divulgação mais dinâmica por parte da indústria, com os representantes farmacêuticos, os quais divulgam informações e fazem propaganda para os médicos(20). Conforme Garcia e colaboradores(21) para aumentar a prescrição dos medicamentos genéricos é importante ampliar o nível de conhecimento dos prescritores. Moreira(17) Openly accessible at http://www.mastereditora.com.br/bjscr Barcelos et al./ Braz. J. Surg. Clin. Res. evidencia em seu estudo que os próprios médicos consideram as ações promocionais da indústria farmacêutica fundamentais, pois trata-se do principal canal de informação sobre os medicamentos que necessitam prescrever em suas rotinas, especialmente os produtos novos. 5. CONCLUSÃO Os resultados encontrados sugerem que os medicamentos genéricos apresentaram uma considerável aceitação pela população acadêmica avaliada, estabelecendo uma relação de confiança na qualidade e declarando interesse na maior aquisição de conhecimento. Observou-se, ainda, a necessidade da discussão que estabeleça a maior adesão por parte dos médicos, para tanto, ressalta-se a importância da propagação de informações teóricas e práticas para esses profissionais. REFERÊNCIAS [01] Paula PAB, Alves TNP, Vieira RCPA, Souza AIS. Política de Medicamentos: da universalidade de direitos aos limites da operacionalidade. Physis 2009; 19(4):11111125. [02] Brasil. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. 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Openly accessible at http://www.mastereditora.com.br/bjscr Vol.15,n.3,pp.17-22 (Jun – Ago 2016) Brazilian Journal of Surgery and Clinical Research - BJSCR ADESÃO AO TRATAMENTO ANTI-HIPERTENSIVO POR USUÁRIOS ATENDIDOS EM UNIDADES DE ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA ADHERENCE TO ANTIHYPERTENSIVE TREATMENT FOR PATIENTS SEEN IN FAMILY HEALTH STRATEGY UNITS JOÃO JORGE SAAB FILHO1, ALEXANDRE VITORATTO GRUNEWALD1, CESAR TANINO1, LUIS FERNANDO YOKOSAWA DE FARIAS1, SIMONE SHIRASAKI OROSCO2*, LILIAN FRANCISCO ARANTES DE SOUZA3, ELENICE MORINI DUARTE4 1. Acadêmico do Curso de Graduação em Medicina da Universidade do Oeste Paulista; 2. Acadêmica do Curso de Graduação em Medicina da Universidade do Oeste Paulista, graduada em Enfermagem e mestre em Educação pela Universidade do Oeste Paulista; 3. Graduada em Medicina Veterinária pela Universidade Estadual de Londrina, doutora pela Universidade Estadual Paulista (UNESP), docente do curso de graduação em Medicina da Universidade do Oeste Paulista; 4. Graduada em Enfermagem pela Universidade do Oeste Paulista, docente do curso de graduação em Medicina da Universidade do Oeste Paulista. *Avenida Salim Farah Maluf, nº 2500, Condomínio Porto Seguro Residence, Presidente Prudente, São Paulo, Brasil. CEP: 19026-240. [email protected] Recebido em 20/05/2016. Aceito para publicação em 14/07/2016 RESUMO A Hipertensão Arterial Sistêmica é uma doença crônica caracterizada por elevados níveis de pressão arterial. Estudos demonstram que a baixa adesão ao tratamento anti-hipertensivo tem sido considerada como barreira ao controle pressórico. Diante disso, este trabalho tem como objetivo avaliar a adesão ao tratamento anti-hipertensivo por usuários atendidos em unidades de ESF, utilizando o instrumento Brief Medication Questionnare. Trata-se de uma pesquisa descritiva, transversal, com abordagem quantitativa. Os sujeitos desta pesquisa foram hipertensos inscritos há pelo menos seis meses no programa de assistência a indivíduos hipertensos e diabéticos. Foram classificados como aderentes ao tratamento 36,7% dos entrevistados e 63,3% foram considerados como não adesão. A idade até 65 anos e o uso de até dois medicamentos diariamente foram estatisticamente associados à adesão ao tratamento. Conclui-se que a taxa de adesão ao tratamento anti-hipertensivo apresentada neste estudo está dentro dos valores encontrados em pesquisas nacionais e internacionais. PALAVRAS-CHAVE: Atenção primária à saúde, hipertensão, prevenção & controle, adesão à medicação, questionário. ABSTRACT The Hypertension is a chronic disease characterized by high levels of blood pressure. Studies have demonstrated that low adherence to antihypertensive treatment has been considered as a barrier to blood pressure control. Thus, this study aims to evaluate adherence to antihypertensive treatment for patients seen in ESF units, using the Brief Medication Questionnare instrument. This is a descriptive, cross-sectional, with a quantitative approach. The subjects of this study were hypertensive people who have joined the assistance program for hypertensive and diabetic subjects for at least six months. 36.7% of the BJSCR (ISSN online: 2317-4404) subjects were classified as adherent to the treament and 63.3% were considered non-compliance. The age up to 65 years and the use of one or two daily medications were statistically associated with treatment adherence. It is concluded that the rate of adherence to antihypertensive treatment presented on this study is within the range found in national and international researches. KEYWORDS: Primary health care, hypertension, prevention & control, medication adherence, questionnaire. 1. INTRODUÇÃO As doenças crônicas não transmissíveis são atualmente a principal causa de mortalidade no mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). No Brasil, as doenças do aparelho circulatório constituem hoje a principal causa de morte1. Vale ressaltar que a maioria das doenças cardiovascular (DCV) deriva da Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS). Totaliza-se aproximadamente 300 mil mortes por ano graças a esta. Segundo o DATASUS somente em novembro de 2009 ocorreram 91.970 internações que resultaram em um gasto de 165.461.644,33 reais2. A HAS é uma doença crônica caracterizada por elevados níveis de pressão arterial (PA). Tal doença relaciona-se frequentemente com alterações ou problemas que surgiram em seus órgãos alvo (cérebro, coração, rins, fígado e olhos). Ela é uma doença condicionada a diversos fatores, entre os quais a idade, obesidade e grande ingestão de sal. Atualmente, esta é considerada como a maior vilã do aumento de casos de doenças cardíacas e cérebro vascular2. A fim de tentar diminuir as taxas de mortalidade geOpenly accessible at http://www.mastereditora.com.br/bjscr Saab Filho et al./ Braz. J. Surg. Clin. Res. radas indiretamente pela HAS e os gastos gerados pela mesma, foram desenvolvidos tratamentos tanto medicamentosos quanto não medicamentosos. Estes últimos são regidos pela orientação profissional, enquanto o primeiro, pelo uso de medicamentos como os diuréticos, inibidores adrenérgicos entre outros3. A combinação medicamentosa de agentes com mecanismos de ação diferente é um tratamento recomendado, pois em alguns pacientes resulta em melhor resposta ao controle da HAS, sendo mais frequente o uso combinado de anti-hipertensivos com diuréticos. Utiliza-se essa combinação medicamentosa por auxiliar na redução da retenção persis4:127 tente do volume intravascular . O tratamento medicamentoso anti-hipertensivo pode ser manipulado com o uso de mais de um tipo de remédio. Porém, é preciso tomar cuidado principalmente com idosos já que eles normalmente usam remédio para outras alterações5. Segundo Ben, Neumann e Mengue “em estudos observacionais, a baixa adesão ao tratamento anti-hipertensivo tem sido considerada como barreira ao controle pressórico” 3:280. Dessa forma, a adesão ao tratamento pode ser definida como o grau de coincidência entre prescrição e o comportamento do paciente.6 Além disso, entende-se a adesão a medicamentos como a utilização em pelo menos 80% do total de medicamentos prescritos, sendo observados horários, doses e tempo de tratamento. O uso inferior a 80% representa risco quatro vezes maior de pacientes apresentarem eventos cardiovasculares agudos3. Acrescenta-se ainda que o comportamento relacionado à adesão tem a ver com a incorporação ou manutenção de hábitos saudáveis de vida, mudanças naqueles que podem constituir um fator de risco para progressão da doença, busca de conhecimento e desenvolvimento de habilidades para controlar situações que interferem ou poderão interferir nos objetivos terapêuticos7. Diante do exposto, surge a seguinte dúvida: qual a taxa de adesão dos hipertensos atendidos em duas unidades de Estratégia de Saúde da Família (ESF) ao tratamento medicamentoso? Alguns autores alertam que a avaliação da adesão ao tratamento medicamentoso não é padronizada, tornando-se difícil qualquer comparação. Os métodos diretos como ensaios biológicos, ou de terapia de observação direta (DOT) são caros, difíceis de aplicar e não isentos de erros. Entre os métodos indiretos, o teste de Morisky-Green é um instrumento validado e simples para estimar essa adesão ao tratamento8. Assim, esses métodos indiretos, apesar de não apresentarem muita sensibilidade e acurácia, são os mais utilizados, pois não geram muitos gastos e sua aplicação pode ser realizada em grandes populações. Os resultados dos testes baseiam-se em quanto maior o número de BJSCR (ISSN online: 2317-4404) V.15,n.3,pp.17-22 (Jun – Ago 2016) respostas afirmativas nos questionários maior a especificidade para rastrear a baixa adesão 3. Os hipertensos com baixa adesão nos testes tem um número médio de medicamentos maior do que aqueles com alta adesão, além do que, esses normalmente são idosos5. O índice de hipertensão em idosos é superior a 60%, o que demonstra que a hipertensão está diretamente relacionada ao envelhecimento. O diagnóstico rápido e eficaz somado a adesão fiel e persistente do hipertenso são fatores primordiais no tratamento eficiente dessa doença, reduzindo consideravelmente os números de mortes cardiovasculares associadas à hipertensão8. Existem diferentes instrumentos que podem ser usados para medir a adesão ao tratamento da hipertensão como Teste de Morisky, Cuestionário de Valoración de Adherencia, Questionário MBG, Questionário QAM-Q, Teste de Haynes, Escala de conductas em salud e Hill-Bone compliance to high blood pressure therapy scale. No entanto, esses diferentes instrumentos utilizados apresentam suas limitações e não há um método ideal6. No estudo realizado por Ben, Neumann e Mengue foram analisados a confiabilidade e o desempenho da versão em português de dois instrumentos de avaliação da adesão ao tratamento anti-hipertensivo. O Brief Medication Questionnare apresentou melhor desempenho que o Teste de Morisky-Green, com maiores sensibilidade e especificidade3. Diante disso, este trabalho teve como objetivo avaliar a adesão ao tratamento anti-hipertensivo por usuários atendidos em unidades de ESF, utilizando o instrumento Brief Medication Questionnare. 2. MATERIAL E MÉTODOS Trata-se de uma pesquisa descritiva, transversal, com abordagem quantitativa. Os sujeitos desta pesquisa foram hipertensos inscritos há pelo menos seis meses no programa de assistência a indivíduos hipertensos e diabéticos (Hiperdia) de duas unidades de Estratégia Saúde da Família em um município do interior paulista. Participaram os sujeitos que estavam presentes no grupo de atenção aos hipertensos e diabéticos de uma microárea (previamente agendada), sendo excluídos da amostra os indivíduos que não aceitaram participar da pesquisa. Os participantes foram abordados na sala de reuniões da unidade de ESF, antes do início das atividades de grupo, onde os pesquisadores explicaram o objetivo da pesquisa. Os interessados em participar da mesma permaneceram na sala e logo após, foi aplicado o instrumento de coleta de dados pelos pesquisadores. Os participantes responderam ao instrumento Brief Medication Questionnaire na versão traduzida e validada para o português. Este instrumento em português contém Openly accessible at http://www.mastereditora.com.br/bjscr Saab Filho et al./ Braz. J. Surg. Clin. Res. 11 perguntas e foi apresentado por Ben, Neumann e Mengue em seu artigo intitulado “Teste de Morisky-Green e Brief Medication Questionnaire para avaliar adesão a medicamentos”.3:279 O escore de problemas encontrados pelo BMQ em cada domínio (regime, crenças e recordação) foi obtido comparando-se as respostas dos participantes com a prescrição recebida. A prescrição médica considerada foi a registrada no prontuário. O escore do BMQ foi dicotomizado, considerando como não aderentes aqueles com pontuação ≥ 3. Analisou-se a associação entre adesão referida ao tratamento medicamentoso mensurado pelo Brief Medication Questionnaire (BMQ) e fatores sóciodemográficos, comorbidades, incluindo obesidade (índice de massa corporal, IMC ≥ 30 kg/m2), fatores de risco cardiovascular, nível pressórico e total de medicamentos utilizados. Foi utilizada a análise de regressão logística multivariada. A análise foi realizada no programa Bioestat 5.3 e o nível de significância adotado foi de 5%, ou seja, p<0,05. Os aspectos éticos da pesquisa foram conduzidos de acordo com a Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde, após aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Coordenadoria Central de Pesquisa (CCPq), com parecer favorável, sob protocolo Nº.1994, de 2014. Os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. 3. RESULTADOS A amostra deste estudo caracterizou-se por participantes na faixa etária menor ou igual a 65 anos (61,2%) e com predomínio do sexo feminino (63,3%). A maioria referiu ser casado ou viver com companheiro (69,4%), ter cor de pele branca (67,3%) e não ser aposentado (63,3%). Pouco mais da metade da amostra tinha plano de saúde (51%) e muitos apresentavam sobrepeso ou obesidade (69,4%). Muitos apresentavam duas ou mais comorbidades, sendo as mais frequentes a doença cardiovascular (46,9%). A maioria referiu não ser tabagista (91,8%) e pouco mais da metade não realiza atividade física (53,1%). Em relação à classificação da pressão arterial, de acordo com as VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão 2, muitos participantes apresentam pressão arterial normal, limítrofe ou estágio I (51%) e tomam até dois medicamentos diariamente (55,1%). Foram classificados como aderentes ao tratamento 36,7% dos entrevistados (até duas respostas positivas) e 63,3% foram considerados como não adesão (três ou mais respostas positivas) (dados não apresentados em tabela). V.15,n.3,pp.17-22 (Jun - Ago 2016) Tabela 1. Descrição da amostra de acordo com as variáveis em estudo. Presidente Prudente, SP, 2016. (N = 49) Variável N % 30 19 61,2 38,8 18 31 36,7 63,3 15 34 30,6 69,4 16 33 32,7 67,3 31 18 63,3 36,7 25 24 51,0 49,0 15 34 30,6 69,4 26 23 53,1 46,9 4 45 8,2 91,8 23 26 46,9 53,1 Normal / limítrofe / Estágio I Estágio II / III Total de medicamentos utilizados 25 24 51,0 49,0 até 2 3 ou mais 27 22 55,1 44,9 Idade (anos) Até 65 anos (menor ou igual) Acima de 65 anos Sexo Masculino Feminino Estado civil Sem companheiro (a) Com companheiro (a) Corda pele Não Branca Branca Profissão/Ocupação Não aposentado Aposentado Plano Privado de Saúde Sim Não IMC (índice de massa corporal) Magreza / Normal Sobrepeso / Obesidade Doença Cardiovascular Ausência Presença Tabagismo Sim Não Atividade Física Sim Não Classificação da pressão arterial Tabela 2. Descrição das principais questões abordadas nos domínios do Brief Medical Questionnaire. Presidente Prudente, SP, 2016. (N = 49) Questões aplicadas Regime Falhou em listar (espontaneamente) os medicamentos prescritos no relato inicial? Relatou que interrompeu a terapia devido ao atraso na dispensação da medicação ou outro motivo? Relatou alguma falha de dias ou de doses? N % 26 53,1 3 6,1 6 12,2 Reduziu ou omitiu doses de algum medicamento? Relatou tomar alguma dose extra ou medicação a mais do que o prescrito? Respondeu que “não sabia” a alguma das perguntas? 16 32,7 3 6,1 3 6,1 Recusou a responder a alguma das questões? 0 0,0 Crença BJSCR (ISSN online: 2317-4404) Openly accessible at http://www.mastereditora.com.br/bjscr Saab Filho et al./ Braz. J. Surg. Clin. Res. V.15,n.3,pp.17-22 (Jun – Ago 2016) Relatou que algum dos medicamentos “não funciona bem” Nomeou as medicações que o incomodam Recordação Recebe um esquema de múltiplas doses de medicamentos (2 ou mais vezes/dia)? Relatou ter dificuldade de abrir e fechar a embalagem Relatou ter dificuldade de ler o que está escrito na embalagem Relatou ter dificuldade em lembrar-se de tomar os medicamentos Relatou ter dificuldades de conseguir os seus medicamentos Relatou ter dificuldades de tomar vários medicamentos ao mesmo tempo 6 12,2 2 4,1 36 73,5 6 12,2 12 24,5 9 18,4 6 12,2 4 8,2 Tabela 3. Regressão logística múltipla da variável adesão ao tratamento medicamentoso anti-hipertensivo em função de variáveis sóciodemográficas e clínicas. Presidente Prudente, SP, 2016. (N = 49). Variáveis N Odds Ratio (%) IC95% Idade Até 65 anos Adesão (%) 30 46,67 64,80 Acima de 65 anos Sexo Masculino Feminino Estado civil Sem companheiro Com companheiro Raça/cor Não Branca Branca Profissão Não aposentado Aposentado Plano de Saúde Sim Não IMC Magreza / normal Sobrepeso / obesidade Doença cardiovascular Ausência Presença Tabagismo Sim 19 21,05 1,20; 3512,88 18 31 27,77 41,94 0,2709 0,01; 5,64 15 34 33,33 38,24 0,3425 0,01; 8,83 16 33 43,75 33,33 0,7019 0,05; 10,37 31 18 29,03 50,00 0,0411 0,00; 1,39 25 24 36,00 37,50 3,1816 0,19; 52,31 15 34 40,00 35,29 0,1976 0,00; 8,07 26 23 42,31 30,43 0,1779 0,01; 6,33 5,9283 Não Atividade física Sim Não Pressão arterial Normal / limítrofe estágio I Estágio II / III Medicamentos Até 2 45 50,00 35,56 0,05; 644,97 23 26 34,78 38,46 0,4160 0,03; 5,30 25 60,00 10,4801 24 12,50 0,83; 132,28 97,3414 2,59; 3658,56 Acima de 3 04 / 27 22 59,26 9,09 Entre os principais aspectos abordados nos domínios do BMQ, destacaram-se o relato de alguma falha em listar (espontaneamente) os medicamentos prescritos (53,1%) e reduziu ou omitiu doses de algum medicamento (32,7%), aspectos relacionados ao regime do tratamento prescrito do BMQ. No domínio que avaliou a crença dos pacientes na eficácia do tratamento e sobre efeitos colaterais indesejados, 12,2% relataram que o medicamento “não funcionava bem”. No domínio reBJSCR (ISSN online: 2317-4404) cordação, que identifica problemas em relação à recordação em tomar os medicamentos, 24,5% relataram ter dificuldade de ler o que está escrito na embalagem (Tabela 2). Foram estatisticamente associados à adesão ao tratamento na análise: idade até 65 anos (menor ou igual) e usar até dois medicamentos diariamente (Tabela 3). 4. DISCUSSÃO Este estudo avaliou a adesão ao tratamento anti-hipertensivo em uma amostra de base populacional de indivíduos hipertenso inscritos há pelo menos seis meses no programa de assistência a indivíduos hipertensos e diabéticos (Hiperdia) de duas unidades de Estratégia Saúde da Família em um município do interior paulista. Verificou-se que a maioria era constituída por muP lheres com até 65 anos de idade (menor ou igual), referiu ser casada ou viver com companheiro, ter 0,0406 cor de pele branca e não ser aposentada. Esses dados estão de acordo com a pesquisa que analisou a confiabilidade e o desempenho da 0,3992 versão em português de instrumentos de avaliação da adesão ao tratamento anti-hipertensivo. A popu0,5180 lação da pesquisa apresentava média de idade de 66,6 anos, predomínio do sexo feminino (64,6%), 0,7967 casado/companheiro (45,6%), branco (81,6%) e não ser aposentado (aposentado somente 37,4%)3. Pouco mais da metade da amostra deste estudo 0,0758 tinha plano de saúde. Este dado não vai ao encontro de outros estudos, pois em um deles, que anali0,4178 sa fatores associados à baixa adesão ao tratamento medicamentoso em idosos, mais da metade da 0,3916 amostra pertencia a nível socioeconômico médio a baixo e não tinha plano de saúde9. 0,3434 Embora em alguns estudos, a renda familiar e a condição socioeconômica sejam descritas como 0,4570 fatores associados negativamente à adesão ao tratamento de doenças crônicas10, outros autores afirmam que a classe social tem pouca influência 0,4994 sobre a adesão do paciente ao tratamento medicamentoso entre hipertensos11, conforme dados obti0,0693 dos nesta pesquisa. Aproximadamente 2/3 dos participantes desta pesquisa apresentaram sobrepeso ou obesidade, a 0,0133 maioria referiu não ser tabagista e não realizar atividade física. No estudo que avaliou o estado nutricional, os hábitos alimentares e o perfil sociodemográfico dos pacientes hipertensos em uma cidade paranaense, constatou-se que 21% dos entrevistados fumavam regularmente. Referiram praticar atividade física somente 36% dos hipertensos e observou-se um predomínio de sobrepeso entre os adultos e idosos4. Esses resultados mostraram que as pessoas hipertensas estão acima do peso ideal, o que facilita o aumento progressivo da PA, pois a obesidade é uma variável Openly accessible at http://www.mastereditora.com.br/bjscr Saab Filho et al./ Braz. J. Surg. Clin. Res. muito sensível nos hipertensos. Segundo as Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial, o excesso de peso aumenta de duas a seis vezes o risco e complicações para HAS12. A questão do sedentarismo não está apenas na falta de incentivo, mas se relaciona também à educação das pessoas em mudar suas atividades rotineiras para hábitos saudáveis de vida4. Em relação às comorbidades, muitos participantes deste estudo relataram a presença de doença cardiovascular. De acordo com a classificação da pressão arterial, a maioria apresentou níveis pressóricos dentro do normal, limítrofe e hipertensão estágio I e toma até dois medicamentos diariamente. Em um estudo que analisou a adesão ao tratamento medicamentoso e não medicamentoso de idosos com hipertensão arterial em uma unidade básica de saúde no município de João Pessoa, no Estado da Paraíba, dos 25 pacientes hipertensos pesquisados, 4 tinham histórico de acidente vascular cerebral e 2 relataram outras doenças coronarianas entre seus familiares4. Nos últimos anos, a redução das doenças cardiovasculares é maior para doenças cerebrovasculares (34%) e para a categoria de outras formas de doença cardíaca (44%). A mortalidade diminuiu em 26% por doença cardíaca isquêmica. Contudo, a mortalidade por doença cardíaca hipertensiva cresceu 11%, fazendo aumentar para 13% o total de mortes atribuíveis a doenças cardiovasculares em 2007. Mesmo com algumas reduções, a mortalidade cardiovascular brasileira permanece alta 1. No Brasil, o controle da hipertensão (<140/90 mmHg) é insatisfatório, variando de 20% a 39% segundo duas recentes pesquisas domiciliares1. No estudo realizado no município de São José do Rio Preto – SP para identificar o perfil dos portadores de HA em seguimento ambulatorial, os valores de PA apresentavam-se maiores ou iguais a 140x90mmHg em 48% dos sujeitos pesquisados. Como os agentes anti-hipertensivos atuais são eficazes em reduzir a PA, a baixa adesão à terapia medicamentosa é uma das principais razões do baixo percentual de controle dos pacientes13. Ainda na mesma pesquisa citada acima o número de medicamentos utilizados diariamente variou de 3 a 9 comprimidos, sendo que os anti-hipertensivos apresentavam média de 3 comprimidos ao dia por paciente. Um estudo de revisão apontou que os medicamentos mais utilizados pelos idosos eram os de ação cardiovascular e que os anti-hipertensivos ocupavam o topo da lista13. De acordo com o Brief Medication Questionnare foi encontrada uma prevalência de 36,7% (até duas respostas positivas) de adesão neste estudo, apresentando nos domínios regime, crença e recordação alguma falha em listar os medicamentos prescritos, redução ou omissão das doses de algum medicamento, relato de que o medicamento “não funcionava bem”, problemas em relação à BJSCR (ISSN online: 2317-4404) V.15,n.3,pp.17-22 (Jun - Ago 2016) recordação em tomar os medicamentos e dificuldade de ler o que está escrito na embalagem. Em estudo que utilizou o mesmo instrumento em idosos, a prevalência de adesão foi de aproximadamente 2/3 dos entrevistados9. No estudo de revisão, a prevalência de adesão ao tratamento teve uma variação entre 59,6% a 8,7%, utilizando outros instrumentos validados. Foram aplicados três no Brasil, um no México, um em Cuba, um na Colômbia, um no Chile e dois no continente Europeu (Espanha e Reino Unido)6. Alguns estudos apontam como motivos que contribuem para que o paciente abandone o tratamento o alto custo dos medicamentos, a necessidade de tomá-lo várias vezes ao dia, o surgimento de efeitos indesejáveis, a falta de conhecimento sobre as complicações, a ausência de sintomatologia e o esquecimento14. Na análise deste estudo foi estatisticamente associada à adesão ao tratamento medicamentoso a idade até 65 anos (menor ou igual) e o uso de até dois medicamentos diariamente. Aspectos socioeconômicos e demográficos estão entre os fatores que influenciam a não adesão ao tratamento anti-hipertensivo, sendo algumas variáveis altamente relevantes como: pessoas do sexo masculino, idade avançada e baixa condição socioeconômica. No entanto, outros estudos indicam a idade mais avançada como um facilitador do processo de adesão em relação aos mais jovens14, o que difere do encontrado no presente estudo. Quanto ao número de medicamentos em uso, pesquisadores do assunto têm argumentado que quanto mais simples o esquema terapêutico, maior é a adesão ao tratamento. Além disso, doses elevadas de medicamentos podem aumentar a incidência de reações adversas11. 5. CONCLUSÃO A taxa de adesão ao tratamento anti-hipertensivo apresentada neste estudo está dentro dos valores encontrados em pesquisas nacionais e internacionais, apesar da informação ser muito variável na literatura. O uso de pequeno número de medicamentos diariamente e idade não avançada foram associadas à adesão ao tratamento medicamentoso. Como limitação do estudo, encontra-se a falta de um consenso sobre o método ideal para avaliação da adesão ao tratamento e a diversidade de métodos empregados nas pesquisas que dificultam a comparação dos dados. Apesar das limitações, este estudo apresenta uma estimativa da adesão ao tratamento anti-hipertensivo em adultos atendidos em unidades de Estratégia Saúde da Família, auxiliando os profissionais de saúde na identificação do uso inadequado de medicamentos e no direcionamento de futuras ações e pesquisas. Openly accessible at http://www.mastereditora.com.br/bjscr Saab Filho et al./ Braz. J. Surg. Clin. Res. V.15,n.3,pp.17-22 (Jun – Ago 2016) Agradecimentos e conflitos de interesse Os autores declaram não haver qualquer potencial conflito de interesse que possa interferir na imparcialidade deste trabalho científico. [10] REFERÊNCIAS [01] Schmidt MI, Duncan BB, Azevedo e Silva G, Menezes AM, Monteiro CA, Barreto SM et al. Doenças crônicas não transmissíveis no Brasil: carga e desafios atuais. The Lancet. [periódico na Internet]. 2011 Maio [citado 2014 Nov 28]; maio 9: 61-74. Disponível em: http://www.uniad.org.br/desenvolvimento/images/stories /pdf/brazilpor41.pdf. doi: 10.1016/S0140-6736(11):60135-9. [02] VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão. Arq. Bras. Cardiol. [periódico na Internet]. 2010 [citado 2015 Jul 15]; 95(1 Suppl 1): I-III. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid= S0066-782X2010001700001&lng=es. doi: 10.1590/S0066-782X2010001700001. [03] Ben AJ, Neumann CR, Mengue SS. Teste de Morisky-Green e Brief Medication Questionnaire para avaliar adesão a medicamentos. Rev. Saúde Pública [periódico na Internet]. 2012 Abr [citado 2015 Jul 15]; 46(2):279-289. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid= S0034-89102012000200010&lng=en. 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Enfermeiro, Mestre pelo UNEC, professor dos cursos de medicina e enfermagem e coordenador do curso de enfermagem do UNEC. * Rua Casimiro de Abreu, 430, Bairro Ideal, Ipatinga, Minas Gerais, Brasil. CEP: 35162-163. [email protected] Recebido em 15/05/2016. Aceito para publicação em 14/07/2016 RESUMO O acolhimento constitui uma forma de organizar o trabalho em saúde, sendo fundamental para a garantia de um acesso humanizado e equânime aos usuários. A implantação do protocolo é vista pela equipe como ação imprescindível para a reorganização da APS. O presente trabalho objetiva elaborar um protocolo de acolhimento com classificação de risco para a atenção primária à saúde – APS, de um município de Minas Gerais, a partir da análise do diagnóstico situacional da saúde deste município. Após análise do diagnóstico situacional, discussão e reflexão, foi elaborado e proposto um protocolo de acolhimento com classificação de risco, baseado no protocolo de Manchester e nas demandas da APS. O protocolo elaborado pressupõe o acolhimento por meio de uma escuta qualificada e humanizada, capaz de dar uma resposta ao sujeito, garantindo-lhe acesso e atendimento humanizado e equânime. PALAVRAS-CHAVE: Protocolo, acolhimento, classificação de risco, humanização. ABSTRACT The embracement is a way of organizing work in health, being essential to ensuring a humane and equitable access to users. The protocol implementation is seen by the team as an essential action for the reorganization of PHC. This paper aims to draw up a protocol host with risk classification for primary health care - PHC, a city in Minas Gerais, from the analysis of the situational diagnosis of the health of this city. After analysis of the situational diagnosis, discussion and reflection, it was drafted and proposed a embracement protocol with risk rating, based on the Manchester protocol and the demands of the PHC. The elaborate protocol assumes the embracement by a qualified hearing and humanized, able to respond to the subject, guaranteeing access and humane care and equitable. KEYWORDS: Protocol, embracement, risk rating, humanization. BJSCR (ISSN online: 2317-4404) 1. INTRODUÇÃO O PSF foi criado pelo ministério da saúde em 1994 numa proposta de estruturação e organização do SUS, com o objetivo de colaborar para a implementação dos princípios de universalização, descentralização, integralidade e participação comunitária. O programa prioriza as ações de proteção e promoção à saúde dos sujeitos e das famílias, de forma integral e contínua1. Para tanto, é essencial que haja uma ampliação do acesso aos serviços de saúde, através de um trabalho em equipe e da mudança no processo de trabalho da mesma 2. Segundo este autor, uma das estratégias que faz parte dessa política, é o acolhimento. Este é visto como forma de aplicação dos princípios da universalidade, equidade e integralidade. O acolhimento no campo da saúde consiste na qualificação da escuta, na construção de vínculos solidários e na garantia do acesso com responsabilização e resolutividade nos serviços. Portanto, ele não é um local, mas uma postura ética: não existe hora marcada ou profissional específico para fazê-lo. Diferencia-se da triagem por não ser uma etapa do processo de trabalho e por não trabalhar com a lógica da exclusão, já que todos serão atendidos e terão uma resposta para a sua demanda. Acolhimento implica em compartilhamento de saberes, angústias e invenções através da escuta e deve estar presente em todos os locais e momentos do serviço. Se bem realizado, garante o acesso dos usuários e possibilita um atendimento mais resolutivo e equânime3. O acolhimento fundamenta-se em três elementos básicos: acessibilidade, atendimento e humanização. A acessibilidade é o elemento estrutural do acolhimento e Openly accessible at http://www.mastereditora.com.br/bjscr Leite et al./ Braz. J. Surg. Clin. Res. engloba a disponibilidade, comodidade, custo e aceitabilidade do serviço pelo usuário, considerando barreiras físicas, disponibilidade em horários que atendam às necessidades dos usuários, existência de transporte coletivo, etc. O atendimento é o elemento processual e implica em resolutividade e responsabilidade da equipe e de cada profissional em sua área de atuação. Depende do conhecimento do problema pelos profissionais, da qualidade da atenção prestada e da co-responsabilização do usuário. A humanização é o elemento que permitirá a real efetivação do vínculo entre o profissional, a equipe e a comunidade, tornando as unidades ambientes mais acolhedores4. Desta forma, este protocolo propõe a utilização da tecnologia de Avaliação com Classificação de Risco, para uma maior agilidade no atendimento a partir da análise do grau de necessidade do usuário proporcionando atenção centrada no nível de complexidade e não na ordem de chegada5. A classificação de risco é um processo dinâmico de identificação dos usuários que necessitam de tratamento imediato, de acordo com o potencial de risco, agravos à saúde ou grau de sofrimento. A partir deste processo de classificação, os casos poderão ser categorizados por prioridades, a partir da utilização de um protocolo clínico6. Segundo o diagnóstico situacional realizado, o município do estudo possui 100% da população cadastrada no SIAB e acompanhada pela atenção primária a saúde, promovendo ações voltadas à prevenção de agravos e doenças e à promoção da saúde. Contudo, o modelo médico centrado, voltado às atividades curativas, ainda prevalece. O acolhimento é a estratégia fundamental para a mudança deste modelo assistencial vigente. Ele modifica a lógica do atendimento por ordem de chegada, possibilitando um acesso mais equânime, universal e integral aos indivíduos. Deve acontecer em todos os momentos do processo de trabalho da equipe de saúde. Contudo, é importante a existência de um local reservado onde aconteça o acolhimento com a classificação de risco, resguardando o usuário e garantindo-lhe privacidade. Desta forma, para os usuários que procuram a unidade, motivados por um problema, queixa ou evento agudo, propõe-se a classificação de risco. Esta deve ser realizada por profissionais devidamente treinados para proceder uma entrevista objetiva que possibilite a exclusão ou identificação de sinais de gravidade. A classificação de risco objetiva6: Humanizar e personalizar o atendimento, valorizando a singularidade; Avaliar o usuário logo na sua chegada para identificar a gravidade do caso; Estabelecer a prioridade de atendimento do usuário, de acordo com a gravidade do caso; BJSCR (ISSN online: 2317-4404) V.15,n.3,pp.23-30 (Jun – Ago 2016) Determinar o ponto de atenção e o atendimento adequado, de acordo; Com a gravidade ou a necessidade de atendimento de cada caso; Prestar informações adequadas ao usuário/familiares; Informar o tempo de espera. Segundo o Ministério da Saúde, para a implantação do acolhimento com classificação de risco são necessários alguns pré-requisitos: estabelecimento de fluxos, protocolos de atendimento e classificação de risco; qualificação das Equipes de Acolhimento e Classificação de Risco (recepção, enfermagem, orientadores de fluxo, segurança, auxiliares administrativos e de serviços gerais); sistema para o agendamento de consultas (organização da demanda programada); quantificação dos atendimentos diários e perfil da clientela e horários de pico (para avaliação do processo)5. Diante do exposto, o presente trabalho objetiva, a partir do diagnóstico situacional de um município de Minas Gerais, elaborar e implantar um protocolo de acolhimento com classificação de risco, baseado na realidade da APS local. 2. MATERIAL E MÉTODOS Trata-se de um estudo envolvendo a APS de um município de Minas Gerais, onde inicialmente firmou-se um termo de compromisso com a Secretaria Municipal de Saúde autorizando e viabilizando o trabalho com as equipes. Aleatoriamente, foram sorteadas 6 equipes de PSF como piloto para implantação do protocolo, com possibilidade de ampliação para as 24 equipes. Após análise da APS e a realização do diagnóstico situacional a partir de dados do DATASUS, SIA e SIAB, profissionais e outras fontes do próprio município, elaborou-se um protocolo de acolhimento com classificação de risco, baseado no protocolo de Manchester e adaptado a realidade local. 3. RESULTADOS Apresentação do protocolo Considerando a realidade do serviço de saúde do município e os recursos disponíveis, fez-se necessária a adaptação do protocolo de Manchester, propondo-se um sistema de classificação de risco baseado em 3 prioridades6. 1. classificação Prioridade 1 - Vermelho: • Inclui os usuários classificados como vermelho (EMERGÊNCIA ABSOLUTA - necessita de ressuscitação) ou laranja (EMERGÊNCIA – que não ne- Openly accessible at http://www.mastereditora.com.br/bjscr Leite et al./ Braz. J. Surg. Clin. Res. cessita de ressuscitação) pelo protocolo de Manchester. • Prioridade 1 - ex: parada cardíaca, choque, politraumatismo, coma profundo, trauma grave, alteração do estado mental, comprometimento do estado hemodinâmico, queimaduras de segundo e terceiro grau, dor precordial, quadros hemorrágicos intensos, entre outros. • Este atendimento é prioridade absoluta, os primeiros cuidados são imediatíssimos. • O ponto de atenção com competência para o atendimento destes usuários é o pronto socorro e o acesso deve ser imediatíssimo e realizado prioritariamente pelo SAMU. Prioridade 2 - Amarela: • Deve ser categorizado como caso de URGÊNCIA. • Prioridade 2 – ex: traumatismos moderados, quadros dolorosos de intensidade moderada, quadros de sibilância de intensidade moderada. • Este atendimento é prioridade, os primeiros cuidados são imediatos (ainda na unidade de atenção primaria) e o transporte sanitário deve ser acionado se houver necessidade de transferir o sujeito para o pronto socorro mais próximo. Prioridade 3 - Azul: • Categorizado como caso de URGÊNCIA MENOR e SEM SINAL DE ALERTA. • Prioridade 3 – ex: quadro febril de baixa intensidade em criança, gestantes com queixas, quadros dolorosos de baixa intensidade. Além disso, as situações que não apresentam Sinal de Alerta - caso eletivo: quadro gripal, dor de intensidade leve, trauma menor, entre outras. • Este atendimento deve ser priorizado, preferencialmente, na UAPS, para o mesmo turno (nos casos de urgência menor) ou pode ser agendada. • O ponto de atenção com competência para o atendimento destes usuários é a UAPS. V.15,n.3,pp.23-30 (Jun – Ago 2016) Os prontuários serão separados pela recepcionista e o acolhimento será de responsabilidade do profissional médico ou de enfermagem. Deverá ser preenchida a ficha de produção do acolhimento. 2.3 Horário de funcionamento Manhã: de 07:30h às 09:00h. Tarde: 13:00h às 14:30h. 2.4 Local de funcionamento Serão utilizados as salas de acolhimento e os consultórios dos profissionais médicos e enfermeiros. 2.5 Fluxos Os fluxogramas abaixo propostos foram construídos com base nas linhas guias da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais e adaptados à realidade da atenção primária à saúde do município em estudo e, portanto, devem ser considerados no momento do acolhimento. 2. funcionamento A proposta de funcionamento referenciou-se no protocolo de acolhimento da secretaria municipal de saúde de Campinas7. 2.1 Porta de entrada Unidade de atenção primária à saúde de Caratinga. 2.2 Profissionais responsáveis O acolhimento com classificação de risco deverá ser realizado pelo médico ou enfermeiro da ESF, preferencialmente. Também poderá e deverá ser feito pelo auxiliar ou técnico de enfermagem da ESF, dentro de seus conhecimentos e habilidades técnicas. BJSCR (ISSN online: 2317-4404) Figura 1. Fluxograma do acolhimento à demanda espontânea4 Openly accessible at http://www.mastereditora.com.br/bjscr Leite et al./ Braz. J. Surg. Clin. Res. V.15,n.3,pp.23-30 (Jun – Ago 2016) Figura 4. Fluxograma do acolhimento à criança 4, 9 Figura 2. Fluxograma do acolhimento à gestante ou mulher com suspeite de gravidez4,8 Figura 5. Fluxograma do acolhimento ao adolescente4,10 Figura 3. Fluxograma do acolhimento ao RN4,9. BJSCR (ISSN online: 2317-4404) Openly accessible at http://www.mastereditora.com.br/bjscr Leite et al./ Braz. J. Surg. Clin. Res. Figura 6. Fluxograma do acolhimento ao hipertenso e diabético4,11 V.15,n.3,pp.23-30 (Jun – Ago 2016) Figura 8. Fluxograma do acolhimento ao portador de sofrimento mental4,14 Figura 9. Fluxograma do acolhimento ao idoso 4,15. 2.6 Responsabilidades Caberá a toda equipe de saúde: Figura 7. Fluxograma do acolhimento ao caso suspeito de tuberculose e hanseníase4,12, 13 BJSCR (ISSN online: 2317-4404) 1. Orientar a todos os pacientes sobre o protocolo, identificando-os com ficha da cor correspondente à sua classificação de risco. Isso é importante para Openly accessible at http://www.mastereditora.com.br/bjscr Leite et al./ Braz. J. Surg. Clin. Res. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. que os usuários possam entender o processo de acolhimento com classificação de risco e respeitem a lógica do atendimento por grau de prioridade. Afixar na sala de espera e outros ambientes da unidade cartazes informando sobre o acolhimento com classificação de risco e as cores correspondentes às prioridades. Nos casos aparentemente de urgência/emergência é fundamental manter a calma e obter do paciente e de seus acompanhantes o maior número de informações possíveis. Preocupar-se em primeiro lugar em acolher e acomodar um paciente que chega em sofrimento agudo. Isso tranquiliza os acompanhantes, dá segurança e facilita seu trabalho. Quando for necessário colocar um paciente em observação, preocupe-se com o seu bem-estar, comodidade e privacidade. Trate-o como você gostaria de ser tratado. Cubra-o se estiver frio. Providencie travesseiro se for o caso. Troque o lençol. Não acomode na mesma sala, sem biombo, homens e mulheres. Em caso de crianças peça a mãe ou pai para permanecerem junto. Todo paciente tem direito de se comunicar com seu acompanhante. Acompanhante bem informado e tranquilizado contribui para que tudo corra bem. O paciente que chega agressivo deve ser abordado com competência profissional por toda a equipe – do guarda ao médico. Uma técnica muito eficaz e preventiva é levá-lo imediatamente a uma sala onde você possa, demonstrando calma, interesse e segurança, convidá-lo a sentar-se e a colocar seu problema. A postura de “responder na mesma altura” é a mais inadequada e anti-profissional possível. Muitos pacientes que chegam agressivos, xingando e ofendendo os funcionários querem “plateia”, querem demonstrar força, e quando convidados a sentar-se numa sala para colocar seu problema, desarmam-se com mais facilidade. Nunca dispense da recepção um paciente com traumatismo ou ferimento leve. Mesmo que o ferimento apresentado seja aparentemente muito leve, o paciente deve ser levado até a sala de procedimentos e orientado sobre cuidados de higiene e investigado sobre vacinação anti- tetânica. Da mesma forma os pacientes com traumas e suspeita de entorse ou fratura devem ser investigados, receber medicação analgésica, se for o caso, encaminhados por escrito pelo médico e orientados para ir ao Pronto Socorro de ortopedia. Na falta de médico na Unidade a Enfermeira deve fazer o encaminhamento e registrar o fato no prontuário. Havendo médico na Unidade nenhum caso de urgência deve ser dispensado sem avaliação, independentemente do número de consultas que o mé- BJSCR (ISSN online: 2317-4404) V.15,n.3,pp.23-30 (Jun – Ago 2016) 9. 10. 11. 12. 13. dico realizou. Caso contrário isto pode se caracterizar por omissão de socorro. O paciente portador de alguma condição crônica jamais deve ficar sem medicação. Caso o médico que o atende não esteja presente, deverá ser realizado atendimento de enfermagem, para avaliação do caso. Os pacientes deverão ser chamados pelos profissionais pelo nome, sempre que possível, sendo abordados na porta dos consultórios – nunca atrás da mesa, gritando pelo próximo ou solicitando ao paciente já atendido que chame o próximo. Todos os usuários devem ser cumprimentados e questionados pelo motivo de sua espera – muitos aguardam por uma simples informação. Todos deverão manter o ambiente de trabalho humanizado, mantendo uma interdisciplinaridade que permitirá a troca de conhecimentos e maior integração da equipe. Não se trabalha isolado. É função de toda equipe trabalhar com o “POSSO AJUDAR?”, de forma a serem orientadores de fluxo dentro da unidade. Caberá ao auxiliar e/ou técnico de enfermagem: 1. Realizar a escuta do motivo da procura ao serviço; 2. Observar, reconhecer e descrever sinais e sintomas de acordo com o nível de sua qualificação, priorizando o atendimento segundo a classificação de risco; 3. Buscar ajuda junto aos demais membros da equipe (fisioterapeuta, cirurgiã dentista, médico, psicólogo, farmacêutica, bioquímico, enfermeiro, agente comunitário de saúde, auxiliar administrativo, etc.) para ajudar a esclarecer uma dúvida, definir um encaminhamento e até mesmo, participar de uma avaliação de risco. 4. Referenciar o paciente à equipe responsável por ele; 5. Preencher ficha de produção do acolhimento. Caberá ao enfermeiro: 1. Realizar supervisão do acolhimento realizado pelo auxiliar e/ou técnico de enfermagem; 2. Receber os pacientes que procuraram o serviço com queixa, sinal ou sintoma e realizar acolhimento com classificação de risco, ofertando, se necessário, a consulta de enfermagem, assim como proceder aos encaminhamentos necessários; 3. Buscar ajuda junto aos demais membros da equipe (fisioterapeuta, cirurgiã dentista, médico, psicólogo, farmacêutica, bioquímico, agente comunitário de saúde, auxiliar administrativo, etc.) para ajudar a esclarecer uma dúvida, definir um encaminhamento e até mesmo, participar de uma avaliação de risco. 4. Referenciar o paciente à equipe responsável por ele; Openly accessible at http://www.mastereditora.com.br/bjscr Leite et al./ Braz. J. Surg. Clin. Res. 5. Preencher ficha de produção do acolhimento. Caberá ao médico: 1. Receber os pacientes que procuram o serviço com queixa, sinal ou sintoma e realizar acolhimento com classificação de risco, ofertando, se necessário, a consulta médica, assim como proceder aos encaminhamentos necessários; 2. Buscar ajuda junto aos demais membros da equipe (fisioterapeuta, cirurgiã dentista, psicólogo, farmacêutica, bioquímico, enfermeiro, agente comunitário de saúde, auxiliar administrativo, etc.) para ajudar a esclarecer uma dúvida, definir um encaminhamento e até mesmo, participar de uma avaliação de risco. 3. Referenciar o paciente à equipe responsável por ele; 4. Preencher ficha de produção do acolhimento. 2.7 Acompanhamento A secretaria de saúde deverá indicar um funcionário da unidade para acompanhar a implantação e utilização do protocolo pela equipe e arquivar semanalmente as fichas de produção e avaliação do acolhimento. As fichas deverão ser encaminhas à secretaria de saúde mensalmente junto com a produção da equipe, devendo ser entregues a coordenação do PSF. A cada 2 meses (talvez mensalmente, dependendo da produção) será feita uma análise das fichas de avaliação para avaliar o processo de implantação do acolhimento e reparar possíveis entraves junto a equipe. 5. DISCUSSÃO Pensando no ato de acolher com a intenção de resolver os problemas de saúde das pessoas, elaborou-se e propôs-se o protocolo supracitado. Este pressupõe uma acolhida realizada por um profissional da equipe técnica, que deve responsabilizar-se por dar uma resposta à queixa do indivíduo, após escutá-lo e avaliá-lo conforme seu grau de risco, considerando, obviamente, as percepções deste sujeito acerca do seu processo de adoecimento3. Segundo Beck e Minuzi, para que o serviço realmente se transforme num espaço resolutivo e de construção de sujeitos valorizados e autônomos, o acolhimento deve ser um instrumento de humanização da atenção à saúde. Esta é a melhor forma para a construção de vínculo entre trabalhadores e indivíduos, famílias e comunidades e para a instituição de um atendimento integral que visa a promoção e proteção da saúde, ao tratamento, recuperação e reabilitação dos sujeitos16. Pinheiro coloca que a integralidade pode ser entendida como “uma ação resultante da interação democrática entre atores no cotidiano de suas práticas, na oferta do cuidado de saúde nos diferentes níveis de atenção do sistema de saúde”1. Assim, pode-se reconhecer o acolhimento com uma prática integral, usuário-centrado, BJSCR (ISSN online: 2317-4404) V.15,n.3,pp.23-30 (Jun – Ago 2016) com o objetivo de garantir acesso universal, reorganizar o processo de trabalho e qualificar a relação trabalhador usuário. O profissional deve atentar não apenas ao sofrimento físico, mas também ao psíquico, realizando, verdadeiramente, esta abordagem integral do sujeito 3. O protocolo de acolhimento contribuirá para o estabelecimento da prática da integralidade, de forma que o serviço assuma sua função de acolher, escutar e dar respostas, deslocando o eixo de seu processo de trabalho para a equipe multiprofissional e tornando as relações profissional-usuário mais humanizadas. Vê-se, portanto, que a materialização deste princípio está diretamente relacionada ao acolhimento e vínculo1. A criação deste vínculo entre o profissional e o indivíduo só é possível quando se estabelece entre eles uma postura solidária e respeitosa de um para com o outro, valorizando-se enquanto seres humanos. Este entendimento é importante para a definição das responsabilidades de toda a equipe em relação ao acolhimento. Este quando bem realizado, possibilita a ampliação da capacidade da equipe de saúde em responder às demandas dos usuários, diminuindo a centralidade do profissional médico e melhor utilizando as habilidades dos demais profissionais16. Franco, Bueno e Merhy expõem que com esta prática os profissionais não médicos passam a usar todo seu arsenal tecnológico e conhecimento na escuta e solução das demandas trazidas pela população 17. 6. CONCLUSÃO O acolhimento pode ser compreendido como uma forma de organização do trabalho em saúde e de estruturação das Equipes de Saúde da Família. Este protocolo de acolhimento com classificação de risco pressupõe o acolhimento por meio de uma escuta qualificada e humanizada, capaz de dar uma resposta ao sujeito, garantindo-lhe acesso e atendimento humanizado e equânime. Propõe-se que este protocolo seja implantado após aprovação do conselho municipal de saúde – de forma a garantir a participação da população - e que a equipe receba capacitações para utilização deste documento. Acredita-se que a implantação deste protocolo possa contribuir para a organização de um acolhimento que promova um atendimento ágil, a partir da análise e avaliação da necessidade do usuário, proporcionando a priorização da atenção aos mais vulneráveis e com maior risco, em detrimento ao atendimento por ordem de chegada. REFERÊNCIAS [01] Gomes MC P A, Pinheiro, R. Acolhimento e vínculo: práticas de integralidade na gestão do cuidado em saúde em grandes centros urbanos. Interface – Comunic, Saúde, Educ, v.9, n.17:p.287-301, mar/ago 2005 [02] Scholze AS. A implantação do acolhimento no processo Openly accessible at http://www.mastereditora.com.br/bjscr Leite et al./ Braz. J. Surg. Clin. Res. [03] [04] [05] [06] [07] [08] [09] [10] [11] [12] de trabalho de equipes de saúde da família. Revista espaço para a saúde, Londrina, v.8, n.1:p.7-12, dez.2006. Ministério Da Saúde. Textos básicos de saúde: acolhimento nas práticas de produção de saúde. 2ed. Brasília:editora Ministério da Saúde, 2006. 44p. Castro A J R., Shimazaki, ME. Protocolos clínicos para unidades básicas de saúde. Belo Horizonte: editora Gutenberg, 2006. 240p. Ministério Da Saúde. Textos básicos de saúde: acolhimento com avaliação e classificação de risco. Brasília:editora Ministério da Saúde, 2004. 20p. Escola De Saúde Publica Do Estado De Minas Gerais.Implantação do Plano Diretor da Atenção Primária à Saúde: Acolhimento e Classificação de Risco. Oficina 5. Belo Horizonte:ESPMG,2010. 56p. [acesso em 08 jun. 2014]. Disponível em: http://www.esp.mg.gov.br/wp-content/uploads/2011/02/I mplanta%C3%A7ao-PDAPS-Oficina-5_080210_BAIXA.pdf. Campos G W S, Carpinterom C, Bueno J M S. Protocolo de acolhimento da secretaria municipal de saúde de Campinas. [acesso 26 de setembro de 2014]. Disponível em: http://www.campinas.sp.gov.br/saúde/programas/protoco los/protocolo_acolhimento.htm Minas Gerais. Secretaria de Estado de Saúde. Superintendência de Atenção à Saúde. Gerência de Atenção Básica e Gerência de Normalização de Atenção à Saúde. Atenção ao pré-natal, parto e puerpério. 2ed. Belo Horizonte:SAS/ SES, 2006. 84p. [acesso 24 de novembro de 2014]. Disponível em: https://www.nescon.medicina.ufmg.br/biblioteca/imagem /2016.pdf. Minas Gerais. Secretaria de Estado de Saúde. Atenção à saúde da criança. 1ed. Belo Horizonte: SAS/ SES, 2005. 224p. [acesso 24 de novembro de 2014]. Disponível em: m http://www.pucsp.br/prosaude/downloads/bibliografia/At encao_Saude_Crianca_MG.pdf Minas Gerais. Secretaria de Estado de Saúde. Superintendência de Atenção à Saúde. Gerência de Atenção Básica e Gerência de Normalização de Atenção à Saúde. Atenção à saúde do adolescente. 1ed. Belo Horizonte:SAS/ SES, 2006.152p. [acesso 24 de novembro de 2014]. Disponível em: http://www.saude.mg.gov.br/images/documentos/LinhaG uiaSaudeAdolescente.pdf. Minas Gerais. Secretaria de Estado de Saúde. Superintendência de Atenção à Saúde. Gerência de Atenção Básica e Gerência de Normalização de Atenção à Saúde. Atenção à saúde do adulto: hipertensão e diabetes. 1ed. Belo Horizonte:SAS/ MG, 2006. 198p. [acesso 24 de novembro de 2014]. Disponível em: https://www.nescon.medicina.ufmg.br/biblioteca/imagem /2119.pdf Minas Gerais. Secretaria de Estado de Saúde. Superintendência de Atenção à Saúde. Gerência de Atenção Básica e Gerência de Normalização de Atenção à Saúde. Atenção à saúde do adulto: tuberculose. 2ed. Belo Horizonte:SAS/ SES, 2006.144p. [acesso 24 de novembro de 2014]. Disponível em: http://www.saude.mg.gov.br/images/documentos/LinhaG BJSCR (ISSN online: 2317-4404) V.15,n.3,pp.23-30 (Jun – Ago 2016) uiaTuberculose2006.pdf [13] Minas Gerais. Secretaria de Estado de Saúde. Superintendência de Atenção à Saúde. Gerência de Atenção Básica e Gerência de Normalização de Atenção à Saúde. Atenção à saúde do adulto: hanseníase. 2ed. Belo Horizonte:SAS/ SES, 2006. 62p. [acesso 24 de novembro de 2014]. Disponível em: http://www.saude.mg.gov.br/images/documentos/LinhaG uiaHanseniase.pdf. [14] Minas Gerais. Secretaria de Estado de Saúde. Superintendência de Atenção à Saúde. Gerência de Atenção Básica e Gerência de Normalização de Atenção à Saúde. Atenção em saúde mental. 2ed. Belo Horizonte:SAS/ SES, 2006. 238p. [acesso 24 de novembro de 2014]. Disponível em: https://www.nescon.medicina.ufmg.br/biblioteca/imagem /1210.pdf [15] Minas Gerais. Secretaria de Estado de Saúde. Superintendência de Atenção à Saúde. Gerência de Atenção Básica e Gerência de Normalização de Atenção à Saúde. Atenção à saúde do idoso. 2ed. Belo Horizonte:SAS/ SES, 2006. 186p.. [acesso 24 de novembro de 2014]. . Disponível em: http://www.saude.mg.gov.br/images/documentos/LinhaG uiaSaudeIdoso.pdf [16] Beck C LC, Minuzi D. O acolhimento como proposta de reorganização da assistência à saúde: uma análise bibliográfica. Saúde, Santa Maria, v.34, n.1-2: p.37-43, 2008. [17] Franco TB, Bueno WS, Merhy EE. O acolhimento e os processos de trabalho em saúde: o caso de Betim, Minas Gerais, Brasil. Cadernos de saúde pública, Rio de Janeiro, 15(2):345-353, abr-jun,1999. . Openly accessible at http://www.mastereditora.com.br/bjscr Vol.15,n.3,pp.31-36 (Jun – Ago 2016) Brazilian Journal of Surgery and Clinical Research - BJSCR FREQUÊNCIA DA EVOLUÇÃO PARA TRAQUEOSTOMIA EM PACIENTES SUBMETIDOS À VENTILAÇÃO MECÂNICA INVASIVA E SUA CORRELAÇÃO COM O ÍNDICE DE APACHE II FREQUENCY OF EVOLUTION FOR TRACHEOSTOMY IN PATIENTS UNDERGOING INVASIVE MECHANICAL VENTILATION AND ITS CORRELATION WITH THE INDEX APACHE II MATEUS DIAS ANTUNES¹*, ELENICE GOMES FERREIRA2, FRANCIELI FURLAN DE SOUZA3, ÊNIO TEIXEIRA MOLINA FILHO4, JEFFERSON FISCHER5, SONIA MARIA MARQUES GOMES BERTOLINI6 1. Fisioterapeuta pelo Centro Universitário de Maringá (UNICESUMAR), Mestrando em Promoção da Saúde (Bolsista CAPES) pelo Centro Universitário de Maringá (UNICESUMAR); 2 Fisioterapeuta pela Universidade do Oeste Paulista (UNOESTE), Mestre em Ciências da Saúde pela Universidade Estadual de Maringá (UEM), Docente do Curso de Fisioterapia do Centro Universitário de Maringá (UNICESUMAR); 3. Fisioterapeuta pelo Centro Universitário de Maringá (UNICESUMAR); 4. Médico pela Universidade Federal do Rio Grande, Especialista em Clinica Médica com Área de Atuação de Medicina de Urgência e Especialista em Medicina Intensiva, Pós-graduado em Administração Hospitalar e Serviços da Saúde, Pós-graduado em Terapia Intensiva, Docente do curso de Medicina na Faculdade INGÁ; 5. Médico pela Universidad Privada Abierta Latino Americana, com diploma revalidado pela UFC -Universidade Federal do Ceará, Especialização em Emergências Clínicas e Especialização em Terapia Intensiva; 6. Fisioterapeuta pela Faculdade de Educação Física de Líns, Mestrado em Ciências Morfofuncionais pela Universidade de São Paulo e Doutorado em Ciências Morfofuncionais pela Universidade de São Paulo, Docente da Universidade Estadual de Maringá (UEM) e Docente e Coordenadora do Mestrado em Promoção da Saúde do Centro Universitário de Maringá (UNICESUMAR). * Avenida Guedner, 1610, Jardim Aclimação, Maringá, Paraná, Brasil. CEP: 87050-900. [email protected] Recebido em 24/05/2016. Aceito para publicação em 14/07/2016 RESUMO Diversas mecânica invasiva. Para auxiliar no direciona- mento de um tratamento foram desenvolvidos os índices prognósticos, entre ele o escore APACHE II que é utilizado para avaliar e quantificar a doença. O objetivo deste foi verificar freqüência de evolução para a traqueostomia, e correlacionar com a gravidade do diagnóstico baseado no escore APACHE II. Realizou um estudo prospectivo por meio de levantamento de prontuários dos pacientes internados dentro das primeiras 48 horas na UTI de um hospital privado, de ambos os gêneros e de qualquer idade utilizando o índice de APACHE II e acompanhado o tempo de ventilação invasiva, data da traqueostomia, desmame ou óbito. De 80 prontuários analisados, 20% deram entrada na unidade por acidente vascular encefálico, a maioria foi do gênero masculino (68,75%), com média de idade de 61,6 anos. Quanto maior era a idade do paciente maior foi o valor de APACHE II e consequentemente maior foi risco de mortalidade. Conclui-se que houve uma frequência alta de evolução para traqueostomia sem correlação com o escore do APACHE II. PALAVRAS-CHAVE: Ventilação mecânica invasiva, traqueostomia, desmame. tended time on mechanical ventilation. To assist in targeting treatment have been developed prognostic indices, among them APACHE II score that is used to assess and quantify the disease. The aim of this was to verify progress frequency for tracheostomy, and correlate with the severity of the diagnosis based on the APACHE II score. Conducted a prospective study using survey of medical records of patients admitted within the first 48 hours in the ICU of a private hospital, of both genders and any age using the APACHE II index and accompanied invasive ventilation time, date tracheostomy, weaning or death. 80 charts analyzed, 20% were admitted to the unit for stroke, most were male (68.75%) with a mean age of 61.6 years. The greater the age of the patient greater was the amount of APACHE II and was consequently greater risk of mortality. It was concluded that there was a high frequency of progression to tracheostomy no correlation with the APACHE II score. KEYWORDS: Invasive mechanical ventilation, tracheostomy, weaning. ABSTRACT 1. INTRODUÇÃO Tracheostomy is indicated for patients who stay for ex- A intubação traqueal é realizada nos pacientes que necessitam de manutenção artificial das vias aéreas1. Pode BJSCR (ISSN online: 2317-4404) Openly accessible at http://www.mastereditora.com.br/bjscr Antunes et al./ Braz. J. Surg. Clin. Res. ser através da via nasal (intubação nasotraqueal) ou via cavidade oral (intubação orotraqueal), no entanto o mesmo pode acarretar diversas complicações entre elas lesões de mucosa, decorrentes, principalmente, de intubações traumáticas e prolongadas, podendo ser ainda devido a utilização de tubos de grande calibre ou devido a elevada pressão no balonete2,3. Desta forma, a duração da ventilação mecânica (VM) está diretamente associada a uma série de complicações e ainda expor o paciente a desenvolver a pneumonia associada ao ventilador e fraqueza muscular, o que aumenta o seu tempo no ventilador4. A fim de diminuir essas complicações relacionadas ao tempo que o paciente permanece na VMI a traqueostomia passa a ser um procedimento cirúrgico mais comumente realizado nestes pacientes críticos, permitindo a retirada do tubo traqueal e a diminuição da sedação, além de promover o conforto do paciente, proporcionando maior mobilidade no leito, facilitar a alimentação e a remoção de secreções5,6, 7. Suas primeiras indicações foram realizadas por Lorenz Heister, em 1743, onde fez a retirada de um pedaço de cogumelo da traqueia de um paciente8. A partir daí este procedimento ficou conhecido por retirar corpos estranhos que levassem a obstrução traqueal9Por volta da década de 60, com o surgimento de ventiladores com pressão positiva e das Unidades de Terapia Intensiva (UTI), a traqueostomia finalmente conquistou espaço na terapia respiratória de pacientes críticos, devido aos seus benefícios em pacientes com suporte ventilatório prolongado9. No entanto, como qualquer outro procedimento invasivo, a traqueostomia não é desprovida de riscos e complicações10, porém diversos estudos têm demonstrado que com a traqueostomia precoce obtêm-se resultados satisfatórios na evolução clínica, principalmente no que diz respeito ao desmame, minimizando o tempo de internação na UTI e no hospital, quando comparada com a traqueostomia tardia11,12. É de extrema importância a determinação do prognóstico de um paciente, tanto em nível de planejamento do tratamento quanto nos custos e prevenção de doenças13,14. Para isso tornou-se necessário a utilização dos índices prognósticos, onde verificam a severidade de cada enfermo e assim contribuem na determinação se ele será submetido a VM e posteriormente a traqueostomia ou a outro tratamento específico15. Entre os índices de gravidade temos o escore APACHE II (Acute Physiology and Chronic Health Evalution) que é uma forma de avaliar e classificar a gravidade da doença, objetivando a descrição quantitativa do grau de disfunção orgânica de pacientes gravemente enfermos, sendo esta gravidade traduzida em valor numérico a partir das alterações clínicas e laboratoriais existentes ou do tipo e/ou número de procedimentos utilizados16,17,18. BJSCR (ISSN online: 2317-4404) V.15,n.3,pp.31-36 (Jun – Ago 2016) Esse escore é aplicado nas primeiras 24horas de admissão do paciente na UTI, seus valores têm sido utilizados para determinar a gravidade do enfermo, buscando identificar, juntamente com outros fatores, a gravidade e os riscos de mortalidade a fim de direcionar a assistência dos profissionais de saúde19,20. O APACHE II foi utilizado por Bohnen et al. (1988)21 que desenvolveu o primeiro trabalho prospectivo e de relevância científica nesse método e comprovou que ele poderia ser utilizado para predizer sobrevida no pré-operatório em pacientes acometidos por sepse abdominal. Desta forma o presente estudo teve por objetivo verificar o tempo de intubação orotraqueal dos pacientes em UTI e sua frequência de evolução para traqueostomia, além de correlacionar com a gravidade do diagnóstico clinico baseado no score APACHE II. 2. MATERIAL E MÉTODOS O presente estudo foi aprovado pelo comitê de ética em pesquisa do Unicesumar, com o parecer nº 64632/2012. Trata-se de um estudo prospectivo por meio de levantamento de prontuários, realizado na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Maternidade Rede Metropolitana de Sarandi – PR. Foram incluídos no estudo os pacientes internados sob VMI, de ambos os gêneros e de qualquer idade, sem diagnóstico de morte encefálica ou suspeita da mesma, admitidos na UTI do Hospital no período de março á agosto de 2012. O levantamento dos prontuários foi realizado pelos pesquisadores dentro das primeiras 48 horas de internação, utilizando uma ficha pré-elaborada, com as variáveis do estudo (gênero, faixa etária, diagnóstico, data da internação na UTI, data da VMI, a data da traqueostomia, desmame ou óbito) e a ficha APACHE II. Pelo APACHE II foram levantadas variáveis fisiológicas (temperatura, pressão arterial, frequência respiratória, frequência cardíaca, oxigenação, gasometria arterial, sódio, potássio, creatinina, leucócitos, hematócrito e escala de Glasgow), idade e doenças crônicas, onde a somatória destas variáveis foi o valor final do escore APACHE II. Com base no escore do APACHE II foi levantado o risco de mortalidade. Após sua realização, os prontuários dos pacientes eram acompanhados diariamente, sendo anotada a data que o mesmo foi submetido à traqueostomia e a data caso o paciente evoluísse para o óbito ou desmame. Os dados obtidos foram organizados em Planilha do Microsoft Excel 2010 e analisados posteriormente no Software Statistica 8.0. Foi utilizado o teste Pearson para verificar correlação entre duas variáveis. Também foi utilizado o teste t e Exato de Fisher para verificar se as médias das variáveis em comparação diferem entre si. O nível de significância estatística utilizado foi de 5%, ou seja, a significância estatística ocorre quando p < 0,05. Openly accessible at http://www.mastereditora.com.br/bjscr Antunes et al./ Braz. J. Surg. Clin. Res. V.15,n.3,pp.31-36 (Jun - Ago 2016) 3. RESULTADOS geral do escore foi de 25,3±6,10. Foram analisados 80 prontuários, observou-se que o motivo de admissão na UTI, com necessidade da utilização da VMI, foi os mais variados, dentre eles o mais freqüente foi: acidente vascular encefálico (AVE) com 20% (n=16) seguido da insuficiência Cardíaca Congestiva (ICC) e traumatismo crânio encefálico (TCE) com 12,5% (n=10) e 10% (n=8) respectivamente (Tabela 1). Tabela 1. Distribuição das principais Patologias dos Pacientes Internados na UTI. Diagnóstico Clínico N Frequência % Acidente vascular encefálico 16 20 Edema agudo de pulmão 3 3,75 Hemorragia Digestiva 2 2,5 Hipertensão arterial sistêmica 2 2,5 Insuficiencia Cardíaca Congestiva 10 12,5 Insuficiencia renal Aguda 5 6,25 Insuficiencia renal crônica 2 2,5 Insuficienciarespiratoria 3 3,75 P.O. Craniotomia 2 2,5 P.O. labarotomia 4 5,0 Pneumonia 2 2,5 Politrauma 2 2,5 Outros 16 20 Septcemia 3 3,75 Traumatismo crânio encefálico 8 10 80 100 Total Destes prontuários, 68,75% (n=55) eram pacientes do gênero masculino e o restante do gênero feminino. A média da faixa etária dos pacientes foi de 61,6±15,7 anos que quando comparado com o gênero, à média apresentou-se maior para as mulheres com 68,8±14,7 anos, estando estatisticamente diferente (p=0,0124) entre os gêneros (Tabela 2). Tabela 2. Gênero dos pacientes Internados na UTI em relação à idade. Média Faixa Etária Desvio padrão n Feminino 68,8 14,7 22 Masculino 58,9 15,4 58 Gênero 0,0124* Entre os prontuários analisados a frequência de realização da traqueostomia foi de 16,25% (n=13) com média de tempo de 10,5±5,1 dias sendo que entre esses, apenas um evoluiu para o óbito. Dos prontuários analisados dentro das 48 horas de internação observou-se que 26,25% (n=21) apresentaram o escore de Apache II de 20-24 pontos, sendo que os escores de 25-29 e 30-34 apresentaram percentuais iguais (25% [n=20]) cada (FIGURA 1) e a média (ISSN online: 2317-4404) 15% 10 a 14 25% 15 a 19 20 a 24 25 a 29 26,25% 30 a 34 > 34 25% Figura 1. Frequência da pontuação do Apache II dos prontuários analisados dentro das 48 horas de internação. Dos pacientes traqueostomizados, ao correlacionar o escore APACHE II com os dias até evolução para traqueostomia foi encontrado correlação não significativa (p=0,06), ou seja, a gravidade do quadro não foi fator para traqueostomizar o paciente (Figura 2). Figura 2. Correlação do APACHE II com os dias para o paciente evoluir para a traqueostomia. Pela Tabela 3, observa-se que o risco de mortalidade apresentou-se maior entre os pacientes que não realizaram traqueostomia, porém o risco de mortalidade não foi fator determinante no tempo até os pacientes evoluírem para a traqueostomia (p=0,32334). Tabela 3. Correlação entre o Risco de Mortalidade com tempo para os pacientes evoluírem para a traqueostomia. P *p significativo com 95% de confiança pelo Teste t BJSCR 6,25% 2,5% Tempo até evolução para traqueostomia Risco de Mortalidade Não fez Menos de 10 dias Mais de 11 dias N % n % n % 1 1,3 1 1,3 0 0,0 Aprox. 25% 8 10,0 2 2,5 2 2,5 Aprox. 40% 16 20,0 1 1,3 3 3,8 Aprox. 55% 20 25,0 0 0,0 1 1,3 Aprox. 15% p* 0,32334 Aprox. 75% 17 1 2 21,3 1,3 2,5 Aprox. 85% 5 6,3 0 0,0 0 0,0 * p-não significativo com 95% de confiança pelo Exato de Fisher Na figura abaixo, observa-se que conforme a idade aumenta o escore do APACHE II também se eleva, apresentando uma correlação significativa (p=0,043). Openly accessible at http://www.mastereditora.com.br/bjscr Antunes et al./ Braz. J. Surg. Clin. Res. V.15,n.3,pp.31-36 (Jun – Ago 2016) na faixa etária entre 60 a 79 anos com uma probabilidade de óbito acima de 40%, havendo uma associação (p=0,03361) que quanto maior era a idade dos pacientes maior foi o risco de mortalidade (Tabela 6). Tabela 6. Frequência do risco de mortalidade e a relação com a faixa etária dos pacientes internados na UTI. Risco de Mortalidade Figura 3. Correlação do APACHE II com a idade dos pacientes. Com base na probabilidade de óbito, na tabela 4 observa-se que no risco de mortalidade igual ou superior a 40% houve uma maior freqüência do gênero masculino, porém sem diferença significativa entre os gêneros dos pacientes avaliados (p=0,27113). Tabela 4. Frequência do risco de mortalidade e a relação com o gênero. Gênero Risco de Mortalidade Masculino Feminino N % n % Aprox. 15% 2 2,5 0 0,0 Aprox. 25% 10 12,5 2 2,5 Aprox. 40% 16 20,0 4 5,0 Aprox. 55% 13 16,3 8 10,0 Aprox. 75% 11 13,8 9 11,3 Aprox. 85% 3 3,8 2 2,5 p* 0,27113 * p não significativo com 95% de confiança pelo Exato de Fisher Dos 80 prontuários analisados, 62,5% (n=50) evoluíram para o óbito e 37,5% (n=30) evoluíram para o desmame da VMI. Pela tabela 5, pode ser observado que as maiores frequências de óbito concentrou-se no risco de mortalidade acima de 55% o que estatisticamente houve uma associação significativa (p=0,02024). Tabela 5. Associação entre o risco de Mortalidade com o óbito dos pacientes. Óbito Risco de Mortalidade Sim Não N % n % Aprox. 15% 0 0,0 2 2,5 Aprox. 25% 4 5,0 8 10,0 Aprox. 40% 12 15,0 8 10,0 Aprox. 55% 13 16,3 8 10,0 Aprox. 75% 16 20,0 4 5,0 Aprox. 85% 5 6,3 0 0,0 p* 0,02024* * P significativo com 95% de confiança pelo Exato de Fisher Ao relacionar a idade dos pacientes com o risco de mortalidade observou uma maior freqüência de pacientes BJSCR (ISSN online: 2317-4404) De 20 a 39 anos Faixa Etária De 40 a 59 De 60 a 79 anos anos De 80 a 99 anos n % n % n % n Aprox. 1 0 1 0 15% 1,3 0,0 1,3 Aprox. 4 6 1 1 25% 5,0 7,5 1,3 Aprox. 1 9 10 0 40% 1,3 11,3 12,5 Aprox. 3 5 10 3 55% 3,8 6,3 12,5 Aprox. 2 4 9 5 75% 2,5 5,0 11,3 Aprox. 0 1 2 2 85% 0,0 1,3 2,5 * p significativo com 95% de confiança pelo Exato de Fisher p* % 0,0 1,3 0,0 3,8 0,0336 1* 6,3 2,5 4. DISCUSSÃO Pode ser observado pelos dados encontrados que vários foram os motivos de internamento na UTI, porém o mais frequente foi o AVE e a ICC. A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é um dos mais importantes fatores de risco para essas condições clínicas, pois conforme a idade aumenta a probabilidade de um indivíduo desenvolver HAS também tende a aumentar, aumentando o risco da ocorrência de AVE entre as pessoas mais velhas22. No Brasil, em 2003, 40% dos óbitos foram decorrentes de doenças cardiovasculares, sendo que a principal causa de morte em todas as regiões do Brasil é o AVE, acometendo as mulheres em maior proporção23. Levando em consideração o gênero, observamos neste uma maior frequência de internamento para o gênero masculino (68,75%), porém as mulheres que necessitaram da assistência na UTI eram mais velhas. Estes dados corroboram com outros estudos, que reforçam este perfil nas atuais UTIs, com uma menor frequência de mulheres adoecendo, mas que, quando adoecem estas são mais velhas quando comparada com os homens, 15,19,23,24,25. De acordo com o levantamento do IBGE 22, os homens são mais numerosos enquanto jovens, depois a relação se inverte, isso porque a maior causa de morte entre os homens está na faixa etária de 15 a 59 anos, por causas externas (78%) e em segundo as doenças do aparelho circulatório26. (. E mesmo sabendo que o índice de morbimortalidade está aumentando para os homens, a presença deles nos serviços de atenção primária à saúde é muito pequeno quando comparado com as mulheres. Isso porque os homens pensam em ser o protetor e dar o essencial e o conforto para sua família e não se preocupa em prevenir doenças além de terem a características machistas e acharem que prevenção e atenção primária são características de mulheres, e que prevenir-se é exagero27,28. Openly accessible at http://www.mastereditora.com.br/bjscr Antunes et al./ Braz. J. Surg. Clin. Res. O estilo de vida associado a fatores de riscos faz com que os homens morram mais cedo. Entretanto o fato das mulheres alcançarem uma idade mais avançada aumentam também as chances de terem uma doença crônica, por exemplo HAS e diabetes, aumentando o risco para AVE e infarto agudo do miocárdio (A gravidade do caso de cada paciente pode determinar um tempo de internação prolongado, que na maioria das vezes poderá necessitar da utilização da VMI, fazendo com que o médico intensivista opte ou não por realizar a traqueostomia29,30. Alguns estudos apontam que a frequência da traqueostomia nas UTIs encontra-se entre 10% e 11% 5,31,32, fato que demonstra uma frequência mais alta em nossos dados, mas que pode estar relacionado ao perfil de morbidade de nossos pacientes que acabam por requerer um tempo maior de permanência na VMI. A média de tempo para realização deste procedimento neste estudo foi de 10,5±5,1 dias, semelhante ao encontrado na literatura que tem apontado uma média de tempo de13,5±2,92 dias11, 9,4±4,9 dias24. Contudo, outros estudos apontam que quando este procedimento é realizado, a sua maioria (88% a 84%) é feita após sete dias de permanência do paciente na VMI33,34. Devido à traqueostomia ser um procedimento invasivo, sua realização dentro das UTI's passa a ser indicada, principalmente para aqueles pacientes cujo tempo de internação será prolongado35, e desta forma prevenindo as complicações da VMI e trazendo benefícios para o paciente11,36,37. Entretanto, existem controversas sobre as vantagens e desvantagens desse procedimento, assim como o tempo ideal para a sua realização33, pois é um procedimento dependente da equipe médica local, porém é claro que a traqueostomia precoce reflete em redução do tempo de VM, internação na UTI e hospitalar11, 33,34. No presente estudo, entre os pacientes que realizaram a traqueostomia, o escore do APACHE II não apresentou correlação significativa para a realização da mesma, dado semelhante em outros estudos33,34. No entanto, dos nossos pacientes que apresentaram um escore de APACHE II alto com maiores riscos de óbito, a maioria não realizaram a traqueostomia o que difere do estudo de Aranha11 onde o escore de APACHE II apresentou-se maiores nos pacientes que realizaram a traqueostomia antes de 13 dias de VMI. Em alguns estudos analisados24,33,34, observou-se que o APACHE II por ser um índice prognóstico, sua utilização é mais voltada para auxiliar na determinação de um tratamento, do que para a realização de um procedimento, como no caso da traqueostomia. A média de APACHE II entre os prontuários analisados foi de 25,37±6,10 e desses 26,25% apresentaram escore entre 20-24 pontos, ou seja, uma probabilidade de 40% de chance de irem a óbito, e este risco foi maior entre os indivíduos mais velhos. Por ser um índice dependente de várias variáveis a média de pontuação do APACHE II BJSCR (ISSN online: 2317-4404) V.15,n.3,pp.31-36 (Jun - Ago 2016) pode variar de acordo com o perfil dos pacientes e complexidade do local do serviço prestado, onde em alguns estudos pode ser encontrado escore variando entre 12,8 e 24,9 pontos24,38. O valor obtido com o índice de APACHE II, caso seja alto, demonstra a gravidade do quadro e pode significar um paciente com um prognóstico grave38, sugerindo uma permanência longa na VMI, onde a tomada de decisão pela equipe médica deve ser muito criteriosa, e que consequentemente poderá ser indicado a realização de traqueostomia9,35. Entretanto, podem ser levados em considerado outros fatores para a realização deste procedimento, como por exemplo, a rotina de cada serviço, características emergenciais e não apenas o escore do APACHE II24. Sendo assim, diante deste contexto, ainda não há um consenso sobre qual o melhor momento de realizar a traqueostomia11,24. No entanto, a partir do escore de APACHE II, temos o risco de mortalidade, que nos dados apresentados foi maior na faixa etária de 60-79 anos, demonstrando que pessoas mais velhas, com co-morbidade e com maiores alterações fisiológicas apresentam risco de mortalidade cada vez mais alto11,15,25,38 e que as tomadas de decisão pela equipe será de extrema importância. A utilização do índice de APACHE II dentro das UTIs se tornou muito útil e acessível devido sua facilidade para aplicação, entretanto ainda são necessários novos estudos para determinar a sua importância quanto à tomada de decisão para a realização da traqueostomia. 5. CONCLUSÃO Conclui-se que houve uma frequência alta de evolução para traqueostomia nos pacientes submetidos à ventilação mecânica invasiva, porém o índice de APACHE II não foi fator determinante para a tomada de decisão para a realização da mesma. Os resultados inferem que indivíduos mais velhos apresentam o escore de APACHE II mais alto, apresentando pior prognóstico o que refletiria em maior tempo de TOT, efeitos deletérios da VMI e consequentemente maior risco de mortalidade. REFERÊNCIAS [1] Matsumoto T, Carvalho WB. Intubação traqueal. Jornal de Pediatria, v. 83, n, 2, p. 83-90, 2007. [2] Net A, Benito S. Ventilação mecânica. 3.ed. Rio de Janeiro: Revinter, 2002. p. 301. [3] Martins RH, et al. Complicações das vias aéreas relacionadas à intubação Endotraqueal. Revista Brasileira Otorrinolaringologia, Botucatu, 2004, 70(5)671-677. [4] Schttino G, et al. Unidade de terapia intensiva do hospital Sírio Libanês, Janeiro, 2004. Padronização do desmame da ventilação mecânica. 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Fisioterapeuta, Mestre e Docente do curso de graduação em Fisioterapia da Faculdade Ingá. * Rua Rio das Várzeas, 320, Parque Residencial Tuiuti, Maringá, Paraná, Brasil. CEP: 87043-180. [email protected] Recebido em 18/02/2016. Aceito para publicação em 14/06/2016 RESUMO O transtorno do espectro autista (TEA) tornou-se um dos distúrbios mais estudados em neuropsiquiatria, devido ao aumento da incidência mundial. Um dos instrumentos mais utilizado para avaliar a severidade do autismo é o Childhood Autism Rating Scale (CARS), que é de acordo com o DSM-IV que cita 15 domínios e serve como diagnóstico em indivíduos de 2 à 12 anos. O objetivo deste estudo é caracterizar o grau de severidade do quadro clínico de autistas através do método CARS, a fim de, favorecer uma melhor abordagem e planejamento das intervenções multidisciplinares. De caráter transversal e quanti-qualitativo foi realizada a pesquisa na Associação Maringaense dos Autistas (AMA), na cidade de Maringá – Pr. OCARS foi aplicado em 29 indivíduos com idade entre 2 e 12 anos. Os resultados obtidos foram avaliados através da Análise de Variância (ANOVA) e Teste t de student” (P<0,05%). A idade média foi de 8,06 (DP±2,99) anos de idade, sendo 20,69% do gênero feminino e 79,31% do gênero masculino. Do conjunto 41,66% foram caracterizados sem autismo, 47,91% leve/moderado 10,41% em grau severo com diferenças significativas entre a idade e gêneros. Dessa forma concluímos que a maior incidência é do sexo masculino, com diferenças de comprometimento entre os gêneros. PALAVRAS-CHAVE: Transtorno autístico, diagnóstico, CARS. ABSTRACT The autistic spectrum disorder (ASD) has become one of the most studied disorders in neuropsychiatry, due to increased global incidence. One of the tools used to assess the severity of autism is the Childhood Autism Rating Scale (CARS), which is according to the DSM-IV cited areas 15 and serves as a diagBJSCR (ISSN online: 2317-4404) nostic in 2 subjects to 12 years. The aim of this study is to characterize the severity of the clinical picture of autism through the CARS method, in order to favor a better approach and planning of multidisciplinary interventions. Cross and quantitative and qualitative survey was carried out in Maringaense Autistic Association (AMA) in the city of Maringa - Pr. The CARS was applied to 29 subjects aged between 2 and 12 years. The results were assessed by analysis of variance (ANOVA) and t test student "(P <0.05%). The mean age was 8.06 (SD ± 2.99) years of age, and 20.69% female and 79.31% male. The whole 41.66% were characterized without autism, 47.91% mild / moderate 10.41% in severe with significant differences between age and gender. Thus we conclude that the highest incidence is male, with differences of commitment between genders. KEYWORDS: Autistic disorder, diagnosis, CARS 1. INTRODUÇÃO O autismo, também conhecido como Transtorno do Espectro Autista (TEA) tornou-se um dos distúrbios mais estudados em neuropsiquiatria e o interesse é amplamente justificado, tendo em vista a gravidade deste transtorno, o impacto para o paciente e sua família e o aumento da incidência nas últimas décadas, devido principalmente a melhora dos métodos de diagnóstico1. A incidência populacional mundial gira em torno de 2 a 5 indivíduos para 10.000 pessoas e o predomínio para o sexo masculino de 4:12. No Brasil, estima-se que existam de 75 a 195 mil autistas, baseado na proporção internacional, pois nenhum estudo semelhante foi realizado3. Openly accessible at http://www.mastereditora.com.br/bjscr Santos et al./ Braz. J. Surg. Clin. Res. O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais quarta edição (DSM-IV), publicado pela Associação Americana de Psiquiatria (2000)4 para a classificação dos transtornos mentais, é usado para diagnosticar o transtorno do espectro autista (2). Segundo ele, os TEA são um grupo de doenças caracterizadas por deficiências na interação recíproca social, comunicação, padrões repetitivos e estereotipados de comportamento, interesses e atividades5. Além disso, esses pacientes podem apresentar outros sintomas como irritabilidade, explosões de raiva, comportamentos auto agressivos, desatenção, contato visual pobre, diferentes níveis de cognição e distúrbios motores6,7,8. Devido a essa gama de características o DSM-IV pode ser subdividido em cinco grupos, sendo eles: I- transtorno autista (autismo clássico), II-Síndrome de Asperger (desenvolvimento da linguagem na idade esperada, nenhum retardo mental), III- transtorno desintegrativo (regressão comportamental, cognitivo e da linguagem entre as idades de 2 e 10 anos após o desenvolvimento inicial inteiramente normal, incluindo a linguagem), IV-TGD transtorno global do desenvolvimento- não especificado (indivíduos que têm características autistas e não se adaptam a qualquer dos outros subtipos) e V-Síndrome de Rett (um distúrbio genético do desenvolvimento do cérebro pós-natal, causada por um defeito de um único gene que afeta predominantemente meninas)9. De acordo com Pizzarelli & Cherubini (2011)10 os sinais e sintomas clínicos geralmente se apresentam na idade de 3 anos, entretanto, estudos prospectivos de crianças em situação de risco demonstram que os déficits na capacidade de resposta social e comunicação poderiam estar presentes precocemente, com a idade de 6-12 meses de vida. Marteleto et al. (2008)11 afirma que é essencial identificar o transtorno o quanto antes, pois quanto mais cedo o diagnóstico mais favorável é o prognóstico das crianças com TEA, podendo ser aplicado o tratamento adequado fazendo com que desenvolvam habilidades sociais e comunicativas, diminua as estereotipias e melhore seu comportamento. Um dos fatores que dificultam essa identificação precoce e a determinação do diagnóstico, apesar de décadas de pesquisas e investigações é a indefinição etiológica do autismo, pois se trata de um distúrbio complexo e heterogêneo que pode variar do mais leve ao mais alto grau de comprometimento12,13. Existem algumas teorias que procuram comprovar o autismo, uma das hipóteses sugere que o autismo pode resultar de uma combinação da susceptibilidade genética e exposição a toxinas ambientais em períodos críticos durante o desenvolvimento do cérebro14. O diagnóstico de autismo requer uma apreciação clínica cuidadosa com avaliações de linguagem e neuropsicologia, bem como exames complementares quando possível (estudos de cromossomos incluindo DNA para BJSCR (ISSN online: 2317-4404) V.15,n.3,pp.37-41 (Jun – Ago 2016) X-frágil e estudos de neuroimagem ou neurofisiologia) podem ser necessários em casos específicos, para permitir identificar subgrupos mais homogêneos, de acordo com o fenótipo comportamental e a etiologia15. Porém, não havendo um marcador biológico, seu diagnóstico e o conhecimento de seus limites permanecem uma decisão clínica e se baseia em critérios definidos pelo DSM-IV, realizado por um neuropediatra e um psiquiatra, através de exames e dos três domínios comportamentais16. A avaliação de indivíduos autistas requer uma equipe multidisciplinar e o uso de escalas objetivas. Técnicas estruturadas existem e devem ser utilizadas para a avaliação tanto do comportamento social das crianças (atenção conjunta, contato visual, expressão facial de afeto) quanto da sua capacidade de imitação17. Um instrumento muito utilizado em diversos países, validado e adaptado para o português do Brasil com a finalidade de auxiliar no diagnóstico do TEA é o Childhood Autism Rating Scale (CARS)18 (PEREIRA; RIESGO; WAGNER, 2008). Ele foi criado e validado pela Diagnosis and Statistical Manual of Mental Disorders III (DSM-III) consiste em uma entrevista estruturada de 15 itens (podendo ser aplicada em 30-45 minutos) com os pais ou responsáveis de uma criança autista maior de 2 anos de idade. A cada um dos 15 itens, aplica-se uma escala de sete pontos, o que permite classificar formas leve-moderadas ou severas de autismo19, bem como diagnosticá-lo com o TEA diferenciando as das crianças com retardo mental 20,21. Desta forma, o presente estudo tem como objetivo caracterizar e classificar o grau de severidade do quadro clínico dos alunos matriculados na Associação Maringaense dos Autistas através do método CARS, adaptado para o português do Brasil, a fim de favorecer uma melhor abordagem e planejamento das intervenções multidisciplinares. 2. MATERIAL E MÉTODOS Trata-se de um estudo exploratório quanti-qualitativo de caráter transversal. O estudo foi conduzido pelo setor de fisioterapia da Faculdade Ingá-Uningá na Associação Maringaense dos Autistas (AMA) situada na cidade de Maringá - Pr. Participaram da pesquisa29 crianças com idade entre 2 a 12 anos, de ambos os sexos e todos com diagnóstico clínico de TEA. Como critério de inclusão os indivíduos deveriam estar matriculados de forma ativa na escola, ter como diagnóstico confirmado de autismo, nenhuma outra patologia associada e idade de 2 a 12 anos já que o CARS é aplicado em indivíduos dessa faixa etária, já como critério de exclusão aqueles que não estudavam no período vespertino uma vez que a pesquisa foi realizada pela manhã por conveniência, bem como os que não estavam presentes no dia da coleta. A realização do estudo ocorreu dentro dos preceitos éticos, garantindo o respeito à dignidade humana, con- Openly accessible at http://www.mastereditora.com.br/bjscr Santos et al./ Braz. J. Surg. Clin. Res. V.15,n.3,pp.37-41 (Jun - Ago 2016) forme preconiza a legislação nacional. Todos os responsáveis legais foram informados sobre os objetivos da pesquisa que foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade Ingá-Uningá, preservando os princípios éticos com base na resolução n° 196, de 10 de outubro de 1996, do Conselho Nacional de Saúde (CNS). Para a coleta de dados foi utilizado o CARS-BR adaptado à cultura Brasileira por Pereira et al. (2007)22, que consiste em 15 domínios a fim de classificar o grau de comprometimento do TEA e o diferenciar de outros transtornos do desenvolvimento. Os 15 domínios são: relações pessoais, imitação, resposta emocional, uso corporal, uso de objetos, resposta a mudanças, resposta visual, resposta auditiva, resposta e uso do paladar, olfato e tato, medo ou nervosismo, comunicação verbal, comunicação não verbal, nível de atividade, nível de consciência intelectual e impressões gerais. Os escores de cada domínio variam de 1(dentro dos limites de normalidade para outra criança) a 4 (comportamento severamente anormal) com intermediários de 0,5 predizendo quando os sintomas situam-se entre dois itens, totalizando entre 15 a 60 pontos. A pontuação final define a severidade do TEA, classificando os indivíduos sem autismo, os que atingirem pontuação entre 15 a 29 e com autismo o que pontua igual ou acima de 30 classificando-os de acordo com o grau de comprometimento em leve-moderado de 30 a 36 e grave de 37-60 pontos. Para a realização da estaScore Variáveis Média/DP tistica os dados foram inicialmente compilados em plaSem autismo 22.66 nilha do software Microsoft® (±3,29) Leve/ 33.56 Office® Excel® versão 2013 moderado (±1,69) e em seguida avaliados atraSevero 53.50(±1,91) vés do programa Graph Pad ® Prism5 , Os resultados obtidos foram avaliados através da Análise de Variância (ANOVA), estipulando-se P<0,05% o nível de significância, e para análise entre dois grupos foi realizado o “Teste t de student” com P<0,05% de significância, para os resultados descritivos foram apresentados em média e desvio padrão (DP). 3. RESULTADOS Tabela 1. Caracterização do perfil autista Variáveis n FR (%) Gênero Feminino 06 20,69 Masculino 23 79,31 2-5 anos 08 27,58 6-9 anos 11 37,93 Idade 10-12 anos 10 n = frequência absoluta; FR= frequência realtiva BJSCR (ISSN online: 2317-4404) 34,48 Assim, tivemos a participação de 29 indivíduos com idade média de 8,06 (DP±2,99) anos de idade, sendo que 20,69% eram do gênero feminino correspondendo a 6 indivíduos e 23 indivíduos do gênero masculino correspondendo a 79,31%. Ademais, realizamos a frequência de idade subdividindo em 3 categorias; de 2-5 anos representado por 8 indivíduos (27,58%), 11 indivíduos de 6-9 anos (37,93%) e de 10-12 anos 10 indivíduos (34,48%) (Tabela 1) Foi possível constatar que a maior parte dos indivíduos foi do gênero masculino, e de acordo com Assumpção e Pimentel (2000)23 o autismo afeta principalmente os meninos, mesmo a etiologia não sendo confirmada. Um recente estudo de Jacquemont et al. (2014)24 traz uma hipótese de que mulheres precisam de mutações genéticas mais extremas do que os homens para o desenvolvimento de distúrbios neurológicos. Barton et al. (2010)25, realizou uma pesquisa com 606 crianças com idade variável de 2 a 4 anos de idade, 80% da amostra era do gênero masculino e 20% do feminino, e demonstrou que o CARS melhorou a precisão do diagnóstico de autismo, mas os autores não recomendam esse instrumento para realização do diagnóstico da síndrome do espectro autista, já que cada indivíduo tem o comportamento diferente e que para um profissional menos experiente com autistas o CARS poderá levá-lo ao erro de diagnóstico. Tabela 2. Grau de comprometimento de acordo com o CARS. Feminino (n) FR Masculino (n) FR Total (n) FR 1 16,66 8 34,78 9 41,66 5 83,34 11 47,82 16 47,91 0 0 100% 4 17,39 100% 4 10,41 100% DP = desvio padrão; n= frequência absoluta Um estudo realizado por Passos & Bandim (2011)26 relata que o desenvolvimento dos meninos com autismo é maior do que o desenvolvimento das meninas, observando que apesar de ambos os gêneros possuírem o mesmo nível de gravidade, os meninos com autismo aprendem com mais facilidade do que as meninas. Ainda hoje existem muitas dúvidas em relação à diferença na severidade e na capacidade de aprendizagem entre meninos e meninas com autismo, além de existirem poucos estudos voltados a este conteúdo. A partir dessas premissas acima, a tabela 2 avalia o grau de comprometimento do autismo comparando com o sexo. Dessa forma é possível avaliar que no sexo feminino apenas 1 indivíduo se caracterizou como sem autismo (16,66%) e 5 com autismo leve/moderado (83,34%), já no sexo masculino 8 indivíduos (34,78%) foram classificados sem autismo, 11 (47,82%) com autismo leve/moderado e 4 (17,39%) com autismo severo. Openly accessible at http://www.mastereditora.com.br/bjscr Santos et al./ Braz. J. Surg. Clin. Res. Analisado o conjunto como um todo é possível averiguar que 9 indivíduos foram caracterizados sem autismo (41,66%), 16 indivíduos na categoria de leve/moderado (47,91%) e 4 (10,41%) em grau severo. A figura 1 está representada a pontuação obtida no CARS tendo relação com o gênero e idades divididas em grupos: 2 a 5, 6 a 9 e 10 a 12 anos. Dessa forma é possível observar uma diferença significativa entre os grupos de 2-5 anos com os de 6-9 anos, como também entre o grupo de 6-9 anos com os de 10-12 anos. Já a diferença intra-grupo pelo gênero, ocorreu diferença significativa apenas entre o grupo de 6-9 anos e o de 10 a 12anos. Figura 1. Score CARS de acordo com a idade e o gênero. * P<0,05 Teste t de “ student” Mesmo o trabalho demonstrando diferenças significativas entre as idades, não é possível afirmar que a idade seja um fator preponderante para a severidade, uma vez que ela não segue uma linearidade, era possível previamente imaginar que quanto maior a idade menor a severidade devido ao melhor aprendizado motor, porém isso não ocorre e sustenta a hipótese de que o comprometimento cerebral na tenra infância é determinante para o comprometimento do indivíduo durante toda a vida. Entretanto, nosso estudo demonstrou alterações significativas de severidade em relação ao gênero, apesar de nosso estudo ir ao encontro de outros quando o assunto é incidência de gênero, apresentamos resultados contrários no grau e severidade. Originalmente, Kanner (1943)27, concebeu o autismo como um distúrbio do contato afetivo. Hoje o autismo é concebido como um desvio do desenvolvimento e, por essa razão, é classificado como um transtorno global do desenvolvimento (TGD), tanto na CID-10 quanto no DSM-IV e apresenta características marcantes como a tríade do autismo. O questionário CARS foi escolhido devido ao grande reconhecimento do diagnóstico do TEA estabelecido pelo mesmo. Porém, autores afirmam que o instrumento de avaliação não separa a Síndrome de Asperger dos transtornos de desenvolvimento, e pode não apontar crianças com características de autismo, sendo assim um aspecto negativo do uso dessa escala para graus de comBJSCR (ISSN online: 2317-4404) V.15,n.3,pp.37-41 (Jun – Ago 2016) prometimento leves. Um estudo realizado por Santos et al. (2010)28evidencia que a partir das respostas à CARS, 50% dos indivíduos apresentaram um escore final que os classificava em indivíduos sem autismo, sendo a maior escala apresentada. Analisando os diagnósticos médicos aplicados a esses indivíduos temos que: 57% são de Autismo de Alto Funcionamento e Síndrome de Asperger28. Cada item do CARS é pontuado de 1 (nenhuma patologia) a 4 (patologia grave), em intervalos de 0,5 que determinarão o grau de comprometimento do autismo nos indivíduos (sem autismo, leve-moderado e severo). As notas de corte foram determinadas através de um estudo de 537 crianças matriculadas no tratamento e educação de autistas e afins Communication Handicapped Children programa (TEACCH) durante um período de 10 anos17. A presente pesquisa obteve por resultado do CARS, que 9 indivíduos foram considerados sem autismo. Um estudo realizado por Gomes e Mendes (2010)29, traz que um terço dos alunos investigados em seu trabalho, tendo diagnóstico prévio ou não de autismo não apresentou sintomas consistentes de autismo com referência na CARS, preenchida por seus professores. A CARS sozinha não é o suficiente para realizar o diagnóstico de autismo, porém pode indicar com segurança se uma criança apresenta um conjunto de sintomas característicos de autismo ou não, e o fato de que uma parte desses alunos não obteve pontos referentes ao autismo pode mostrar falta de clareza sobre o diagnóstico desses alunos, assim como imprecisão na avaliação dos professores sobre o comportamento de seus alunos. Amorin (2011)30 esclarece que o tratamento do autismo envolve intervenções psicoeducacionais, orientação familiar, desenvolvimento da linguagem e comunicação sendo recomendado que uma equipe multidisciplinar avalie e desenvolva um programa de intervenção orientado a satisfazer as necessidades particulares a cada indivíduo. Segundo Marques (2002)31 a fisioterapia é de extrema importância, pois vai atuar ingressando esse paciente ao convívio social, treinando habilidades motoras, melhorando o equilíbrio e coordenação, reduzindo padrões indesejados, tônus inadequados, correção de déficits posturais melhorando assim a qualidade de vida dos indivíduos. 4. CONCLUSÃO Contudo nossa pesquisa concluiu que a maior incidência de autismo ocorre no gênero masculino e que o grau de severidade não está correlacionado com a idade, mas sim com o grau de comprometimento patológico determinado na baixa idade. Vale ressaltar que nosso estudo procurou abordar o uso do CARS como um instrumento para auxiliar no diagnóstico clínico, e ainda demonstrar o grau de severidade dos autistas da AMA, Openly accessible at http://www.mastereditora.com.br/bjscr Santos et al./ Braz. J. Surg. Clin. Res. porém não correlacionou com os tipos de autismo isso foi importante para verificar se este questionário seria interessante quando temos uma população heterogênea quanto a classificação dos TEA, não demonstrando sensível. Dessa forma, sugerimos que o mesmo seja utilizado quando se tem uma população homogênea independente dos tipos do autismo, mas que tenham a mesma classificação. Ademais, concluímos que o autismo infantil corresponde a um quadro de extrema complexidade que exige que abordagens multidisciplinares sejam efetivadas visando-se não somente a questão educacional e de socialização, mas principalmente a questão médica e a tentativa de estabelecer o melhor tratamento para cada indivíduo, passíveis de prognósticos precisos e abordagens terapêuticas eficazes de acordo com o grau de acometimento diagnosticado. Faz-se necessários estudos posteriores que incluam os 15 domínios avaliados e a correlação dos mesmos em relação aos graus de comprometimento. REFERÊNCIAS [01] Vitiello B, Wagner A. The rapidly expanding Field of autism research.Biolpsychiatry 2007; 61:427-428. [02] Tamanaha AC, Perissinoto J, Chiari BM. Uma breve revisão histórica sobre a construção dos conceitos do Autismo Infantil e da síndrome de Asperger. Rev Sociedade Brasileira fonoaudiol. 2008; 13(3):296-9. [03] Orru Silvia E. Autismo: linguagem e educação. 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Openly accessible at http://www.mastereditora.com.br/bjscr Vol.15,n.3,pp.42-46 (Jun – Ago 2016) Brazilian Journal of Surgery and Clinical Research - BJSCR TRATAMENTO CLÍNICO DE FÍSTULA PANCREATICOPLEURAL COM NUTRIÇÃO POR CATETER NASOJEJUNAL EM PACIENTE COM PANCREATITE CRÔNICA ALCOÓLICA SEM PSEUDOCISTO PANCREATICOPLEURAL FISTULA CLINICAL NUTRITION TREATMENT CATHETER NASOJEJUNAL IN PATIENTS WITH CHRONIC ALCOHOL WITHOUT PSEUDOCYST PANCREATITIS THALES BARCELOS DE SOUZA1*, GENOLÍVIA VIANA QUARTO2, LAURO AUGUSTO CAETANO LEITE3, ALEXANDRE SOARES BIFANO4, CAROLINE ALCURE PINTO5, CÉLIO GENELHU SOARES5, MARCELO SOARES PIRES7, DAVID ALVES COSTA8 1. Médico residente em Clínica Médica pelo Hospital César Leite; 2. Médica residente em Clínica Médica pelo Hospital César Leite; 3. Médico residente em Clínica Médica pelo Hospital César Leite; 4. Médico residente em Infectologia pelo Hospital das Clínicas / UFMG; 5. Médica residente em Gastroenterologia pela Hospital Universitário Cassiano Antônio de Morais / UFES; 6. Médico residente em Medicina Intensiva pelo Hospital Madre Tereza; 7. Médico Gastroenterologista pelo Hospital da Beneficência Portuguesa do Rio de Janeiro e membro titular da federação brasileira de Gastroenterologia. Nutrologia pelo GANEP; 8. Médico Pneumologista pela UFJF, Título de Especialista em Tsiologia e Pneumologia pelo Conselho Federal de Medicina e Título de Especialista pela Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia * Rua Duarte Peixoto, nº 195, apto 208, Bairro Coqueiro, Manhuaçu-MG, CEP 36900-000. [email protected] Recebido em 20/06/2016. Aceito para publicação em 14/07/2016 RESUMO A fístula Pancreaticopleural é uma rara sequela da pancreatite que pode ocasionar complicações no aparelho respiratório, associadas ou não a sintomas abdominais, dificilmente demonstrada em exames radiológicos. A confirmação diagnóstica, por sua vez, é obtida pelo elevado conteúdo de amilase no líquido pleural em relação à sua dosagem sérica e visualização da fístula em exames radiológicos. Cerca de 50% destas irão fechar com o tratamento conservador. Dessa forma, o presente estudo relata o caso de um paciente portador de pancreatite crônica de etiologia alcoólica que evoluiu com fístula pancreaticopleural confirmada por colangioressonância magnética. Como tratamento optou-se pelo manejo clínico: nutrição por sonda nasojejunal por 14 dias associado ao octreotide, sendo alcançado sucesso terapêutico. PALAVRAS-CHAVE: Pancreatite crônica,fístula pancreaticopleural, cateter nasojejunal. ABSTRACT The Pancreaticopleural fistula is a rare sequela of pancreatitis which may cause complications in the respiratory system, associated or not with abdominal symptoms, hardly demonstrated in radiological examinations. Diagnostic confirmation, in turn, is achieved by the high amylose content in pleural fluid in relation to their serum and Fistula viewing radiological examinations. About 50 % of these will close with conservative BJSCR (ISSN online: 2317-4404) treatment. Thus, the present study reports the case of a patient with chronic pancreatitis of alcoholic etiology who developed pancreaticopleural fistula confirmed by magnetic resonance cholangiopancreatography pancreas. As treatment opted for the clinical management: nutrition for nasojejunal probe for 14 days associated with octreotide, being achieved therapeutic success. KEYWORDS: Pancreatitis, fistula pancreaticopleural, catheter nasojejunal. 1. INTRODUÇÃO A fístula pancreaticopleural é uma entidade rara, descrita pela primeira vez em 1973 por Tombroff, porém há relatos no início da década de 60. Estima-se que ocorra em 0,4% dos pacientes que apresentam pancreatite. Está relacionada em 99% dos casos à etiologia alcoólica2,7. Pode ocorrer através de dois mecanismos: diretamente pela comunicação do ducto pancreático principal com a cavidade pleural ou, com mais frequência, através de um pseudocisto3,4,5. Produz derrame pleural volumoso e recidivante, usualmente do lado esquerdo1, associado a alto teor de amilase pancreática4,7 concomitante a elevados valores séricos desta enzima. Não existem diretrizes para o tratamento da fístula baseados em ensaios clínicos randomizados, sendo seu manejo embasado em relatos e séries de casos1,7. Dessa Openly accessible athttp://www.mastereditora.com.br/bjscr Souza et al./ Braz. J. Surg. Clin. Res. forma, o relato aqui exposto tem como finalidade apresentar o sucesso terapeutico de fístula pancreaticopleural em um paciente elitista portador de pancreatite crônica sem pseudocisto e derrame pleural de origem pancreática. 2. RELATO DE CASO Paciente masculino, 39 anos, em bom estado geral com queixa de dispneia aos médios esforços associada a dor torácica e tosse seca de curso progressivo, de início há dois meses. Etilista de longa data e tabagista com carga tabágica de 26 maços/ano. Sem comorbidades prévias e uso de medicamentos contínuos. À admissão, paciente em bom estado geral, lúcido e orientado no tempo e espaço, afebril, corado, hidratado, acianótico, anictérico e eupneico em ar ambiente. Ausculta respiratória com murmúrio vesicular abolido em hemitórax esquerdo. Aparelhos cardiovascular, abdominal e membros inferiores sem alterações. A radiografia de tórax revelou opacidade difusa em hemitórax esquerdo, caracterizando um derrame pleural extenso com velamento de todo parênquima pulmonar. (Figura 1). V.15,n.3,pp.42-46 (Jun – Ago 2016) 25.890 U/L. Com relação à bioquímica, amilase e lipase séricas e seriadas obtiveram elevação persistente, sendo valor máximo de amilase de 1.771U/L e lipase de 1.859U/L. Hemograma normal, enzimas hepáticas levemente elevadas, CA 19-9 normal e anti-HIV negativo. Tomografia computadorizada (TC) de abdome e endoscopia digestiva alta sem alterações. TC de tórax demonstrou grande derrame pleural sem presença de massas no mediastino e no parênquima pulmonar (Figuras 2 e 3). Figura 2. TC de Tórax Figura 1. Radiografia de Tórax (PA) Foi realizada então toracocentese diagnóstica com aplicação dos Critérios de Light, que evidenciou exsudato com níveis elevados de amilase (15.648 U/L) e lipase (1.383 U/L) e biópsia pleural, que mostrou-se conclusiva com pleurite crônica inespecífica (repetida e confirmada). Durante a internação, foi submetido a cinco toracocenteses de alívio devido à dispneia progressiva e recidivante. Bem como à análise seriada do líquido pleural, que alcançou pico de amilase com 36.770 U/L e lipase BJSCR (ISSN online: 2317-4404) Figura 3. TC de Tórax A principal hipótese diagnóstica aventada foi fístula pancreaticopleural. O paciente, por sua vez, foi encaminhado ao serviço de cirurgia torácica de referência onde foi descartada a possibilidade de comorbidade pulmonar que justificasse o quadro clínico, o que corrobora a principal hipótese. Para dar continuidade à investigação, foi realizada ressonância magnética de abdome superior com colangioressonância, a qual sugeriu a presença da fístula (Figuras 4 e 5). Openly accessible athttp://www.mastereditora.com.br/bjscr Souza et al./ Braz. J. Surg. Clin. Res. V.15,n.3,pp.42-46 (Jun - Ago 2016) Por conseguinte, foi inciada a terapêutica com octreotide subcutâneo associado à dieta oligomérica oferica por sonda de Freka (cateter nasojejunal) por 14 dias. O paciente evoluiu com importante melhora clínica e radiológica recebendo alta hospitalar com orientações para o controle abulatorial. O exame radiológico de controle manteve-se dentro dos padrões de normalidade confirmado o sucesso da terapêutica empregada (Figura 6). 3. DISCUSSÃO Figura 4. Colangiorressonancia Figura 5. Colangiorressonancia Figura 6. Radiografia de tórax de controle BJSCR (ISSN online: 2317-4404) Segundo William et al., (1991), os primeiros relatos de casos de fístula pancreático pleural e ascite pancreática foram publicados no início da década de sessenta. O derrame pleural devido à fístula pancreático pleural pode ser um desfecho raro de pancreatite crônica, decorrente de intercorrência traumática ou cirúrgica de ducto pancreático. Derrame pleural secundário à fístula pancreático pleural representa menos de 1% de todos os casos diagnosticados de derrame pleural10, mas poderá ser desfecho em 3 a 7% dos pacientes com pancreatite11. Para melhor entendimento da fisiopatologia, observa-se que a formação da fístula pancreaticopleural é, geralmente, consequência de extravasamento ou ruptura de um pseudocisto pancreático12,13. Caso a ruptura ou extravasamento do ducto pancreático ocorra anteriormente, observaremos ascite pancreática secundário a fístula pancreaticoperitoneal12,13. Se a comunicação desenvolve-se posteriormente, secreção pancreática fluirá em retroperitônio, podendo dissecar através do hiato aórtico ou esofágico no mediastino e formar uma fístula pleural12. Pancreatite alcoólica é o principal fator para desenvolvimento da fístula. Homens de meia idade (40-50 anos) com histórico de alcoolismo serão os mais acometidos, mas aproximadamente 50% dos casos não possuem história de pancreatite. Pseudocistos pancreáticos podem ser observados em 69 a 77% dos pacientes e trauma corresponde a 0,5% das causas13,14. Sintomas respiratórios são mais comuns que os abdominais, gerando dúvidas na busca da etiologia diagnóstica. Como na maioria dos casos trata-se de derrame pleural volumoso, queixas de dispneia, dor torácica ventilatória e tosse seca são mais descritos na literatura. Sintomas abdominais característicos de pancreatite aguda geralmente não estão presentes13,14. Encontra-se derrame pleural à radiografia predominantemente à esquerda, sendo à direita em cerca de 15% dos casos13. Por se tratar de volumoso derrame pleural, toracocenteses repetidas ou até mesmo drenagem torácica em selo d´água serão necessárias. Sendo assim, superinfecção bacteriana é a principal complicação contribuindo para a mortalidade significativa12,13,14. Identificado o derrame pleural, o diagnóstico etiológico geralmente é retardado, gerando atraso também na terapêutica adequada. O tempo decorrido até o diagOpenly accessible athttp://www.mastereditora.com.br/bjscr Souza et al./ Braz. J. Surg. Clin. Res. nóstico de fístula pancreaticopleural segundo Dhebri, Alhad R., and Nicholas Ferran 2005 é cerca de 12 a 49 dias. Será necessária alta suspeição clínica e observação de pancreatite no passado para conduzir propedêutica adequada, pois atraso no diagnóstico é uma questão crítica em se tratando do prognóstico do paciente. Radiografia simples de tórax é a primeira linha de investigação, a qual fornece informações da coleção de fluido na cavidade pleural13,14. Atualmente, a tomografia computadoriza (TC) de tórax é o padrão ouro para a investigação de derrame pleural. Fornece dados para determinar a localização e tamanho do derrame, mas peca quanto a capacidade de identificação da fístula8,15,16. TC de abdômen poderá ser útil para demonstrar alterações típicas de pancreatite e visualização de pseudocisto pancreático. Já para o diagnóstico da fístula e confirmação da etiologia do derrame pleural pancreático, colangiopancreatografia retrógrada endoscópica (CPRE) é o padrão ouro. Outra vantagem conhecida da CPRE é que, além de propedêutico, também poderá ser terapêutico com a colocação de stent endoscópico pancreático 13,14,15,16. Colangiopancreatografia por ressonância magnética é relatada como sendo útil em demonstrar a patologia do pâncreas e da fístula6,11. É uma alternativa não invasiva à CPRE por visualizar o ducto além de qualquer restrição, retrata a atrofia do parênquima, anatomia ductal e pequenos pseudocistos intrapancreáticos e extrapancreáticos, coleção peripancreática, ou fístula pancreaticopleural e é útil quando CPRE não fornece informações adequadas 6,8,11. O paciente foi submetido à radiografia de tórax e toracocentese, que identificou derrame pleural com elevação significativa de enzimas pancreáticas. No seguimento propedêutico para confirmação diagnóstica de fístula pancreaticopleural, foi realizada colangiopancreatografia por ressonância magnética, visto que se trata de um exame não invasivo e de custo mais acessível em comparação à CPRE. A terapêutica descrita na literatura inclui: 1) manejo clínico com suspensão dieta oral, introdução de dieta parenteral, análogos da somatostatina e paracenteses repetidas; 2) CPRE com colocação de stent endoscópico pancreático; 3) Cirurgia10,12,16,17. Sabe-se que o objetivo da terapêutica conservadora é o alívio dos sintomas. Para isso, a literatura indica ser eficaz reduzir a estimulação pancreática com dieta oral zero e iniciar a dieta parenteral, bem como, a realização de toracocentese ou drenagem torácica e prescrição de análogos da somatostatina9. No passado, quando o implante de stent endoscópico não estava disponível, o tratamento conservador não excedia 2 a 4 semanas13. Atualmente, devido ao sucesso alcançado com a administração de octreotide e colocação de stent no ducto, um longo período de tratamento BJSCR (ISSN online: 2317-4404) V.15,n.3,pp.42-46 (Jun – Ago 2016) conservador é empregado; este inclui octreotide contínuo por cerca de 2,5 a 6 meses. Caso haja falha após o fim do manejo clínico, abordagem por CPRE ou cirurgia será indicada14. Octreotide tem como posologia inicial 50 ug administrada por via subcutânea três vezes por dia, sendo a dose titulada com base no débito da fístula e dose máxima de 250 ug três vezes por dia14,16. As complicações relacionadas ao tratamento conservador incluem desnutrição, infecções do cateter venoso da dieta parenteral, trombose venosa profunda e sepse associada à atrofia da mucosa intestinal de jejum prolongado. Atenção deve ser dada à função renal em pacientes usando análogos da somatostatina devido ao seu efeito constritor. Na condução do caso clínico em questão, o paciente foi mantido em dieta oral zero e sua nutrição ofertada através do cateter nasoentérico sonda de FREKA (Figura 7) posicionado por endoscopia digestiva alta. Realizado esvaziamento da cavidade pleural pela drenagem torácica e administração de Octreotide 50µg via subcutânea na posologia de oito em oito horas por 14 dias. Figura 7. Sonda Freka em radiografia de abdome. Em revisão sistemática da literatura não foi encontrado outro relato de caso ou série de casos em que o tratamento fundamentou-se na inibição da secreção pancreática através do uso da sonda nasojejunal (sonda de Freka), conforme realizado no presente estudo. Sendo assim, com a substituição da dieta parenteral pela jejunal, além de não estimular a secreção pancreática, as chances de intercorrências geradas pela alimentação parenteral foram reduzidas, como infecção de cateter e sepse por foco intestinal, além de tornar o tratamento menos oneroso à instituição. 4. CONCLUSÃO Em suma, a fístula pancreaticopleural é uma complicação rara da pancreatite crônica, principalmente de etiOpenly accessible athttp://www.mastereditora.com.br/bjscr Souza et al./ Braz. J. Surg. Clin. Res. ologia alcoólica, que deve ser aventada aos diagnósticos diferenciais do derrame pleural. O caso clínico aqui exposto demonstrou a efetividade do tratamento conservador, associando o uso de Octreotide via subcutânea com a dieta por sonda nasojejunal por 14 dias, possibilitando um tratamento com menor custo e evitando as complicações relacionadas à dieta parenteral. V.15,n.3,pp.42-46 (Jun - Ago 2016) [16] D. C. Rockey and J. P. Cello, “Pancreaticopleural fistula: report of 7 patients and review of the literature,” Medicine, vol. 69, no. 6, pp. 332–344, 1990. [17] T. Uchiyama, T. Suzuki, A. Adachi, S. Hiraki, and N. Iizuka, “Pancreatic pleural effusion: case report and review of 113 cases in Japan,” American Journal of Gastroenterology, vol. 87, no. 3, pp. 387–391, 1992. REFERÊNCIAS [01] Ali T, Srinivasan N, Vu Le, Chimpiri R, Tierney M. Pancreaticopleural Fistula. Pâncreas 2009; 38 (1): 26- 31. [02] Ribeiro B, Gomes D, Rosa A, Amaro P, Tomé L, Leitão M, Freitas D.Derrame pleural recidivante por fístula pancreático-pleural. 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Cirurgiã-Dentista pela Universidade Severino Sombra (USS) – Vassouras (RJ)/Pós-graduanda em Ortodontia pela Universidade Severino Sombra (USS) – Vassouras (RJ); 2. Cirurgiã-Dentista pela Universidade Severino Sombra (USS) – Vassouras (RJ); 3. Professora Assistente III do Curso de Odontologia da Universidade Severino Sombra (USS) – Vassouras (RJ)/Mestre em Ortodontia e Ortopedia Funcional dos maxilares pelo Centro de Pesquisas Odontológicas (CPO) – São Leopoldo Mandic – Campinas (SP); 4. Professor Assistente I do Curso de Odontologia da Universidade Severino Sombra (USS) – Vassouras (RJ)/Mestrando em Saúde coletiva pelo Centro de Pesquisas Odontológicas (CPO) – São Leopoldo Mandic – Campinas (SP); 5. Professor Adjunto I do Curso de Odontologia da Universidade Severino Sombra (USS) – Vassouras (RJ)/Doutor em Saúde coletiva pela Universidade Federal Fluminense – Niterói (RJ); 6. Professora Adjunto I do Curso de Odontologia da Universidade Severino Sombra (USS) – Vassouras (RJ)/Doutor em Biologia pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro – Rio de Janeiro (RJ). * Rua Lúcio de Mendonça, 24/705. Centro. Barra do Piraí, Rio de Janeiro, Brasil. CEP: 27123-050. [email protected] Recebido em 05/05/2016. Aceito para publicação em 14/07/2016 RESUMO A agenesia dentária é a ausência de um ou mais dentes por falta de formação afetando principalmente a dentição permanente que, juntamente com a perda precoce de molares, é responsável pela abertura de diastemas. O objetivo desse trabalho foi apresentar um caso clínico para fechamento de diastemas em que o paciente apresentava agenesia de incisivo lateral inferior, perdas dentárias inferiores, diastemas anteriores e gengiva hiperplásica. O tratamento envolveu a instalação de aparelho ortodôntico, visando devolver estética e função adequada ao paciente, à recuperação dos espaços perdidos devido às perdas, posterior colocação de contenção com mantenedores de espaço e a gengivectomia para remoção do excesso gengival. Os diastemas foram reduzidos devolvendo estética e função ao paciente, os mantenedores instalados possibilitando posterior reabilitação protética e a cirurgia foi realizada, com isso alcançou-se o objetivo e os almejos do paciente deixando-o satisfeito com o tratamento. PALAVRAS-CHAVE: Agenesia dentária, diastemas, aparelho ortodôntico fixo, perda de molar inferior, gengivectomia. ABSTRACT The tooth agenesis is the absence of one or more teeth for lack of formation mainly affecting the permanent dentition that along with the early loss of molars is responsible for opening diastema. The aim of this study was present a case report for closing diastema in which the patient had agenesis of mandibular lateral incisor, lower dental losses, anterior diastema and hyperplasic gum. The treatment involved the installation of orthodontic appliances aiming to return the esthetics and proper function to the BJSCR (ISSN online: 2317-4404) patient, the recovery of lost spaces due to losses, subsequent placement of containment with space maintainers and gingivectomy to removal of gingival excess. The diastema were reduced giving back esthetic and function to the patient, the maintainers installed allowing posterior prosthetic rehabilitation and surgery was held, with that we reached our goal and the perspectives of the patient leaving him satisfied with the treatment. KEYWORDS: Toth agenesis, diastema, orthodontic appliances, loss of the lower molar, gingivectomy. 1. INTRODUÇÃO A Odontologia vem se aperfeiçoando para solucionar os mais diversos problemas relacionados aos dentes quando se trata de anomalias na morfologia, coloração e alterações numéricas, pois estes têm papel fundamental para o desenvolvimento adequado das funções vitais. No desenvolvimento da dentição o profissional pode se deparar com imperfeições como as anomalias dentárias. Estas ocorrem frequentemente na dentadura mista, podendo ter manifestações mais brandas ou mais severas como o atraso cronológico na odontogênese ou a agenesia dentária, respectivamente1. A agenesia dentária é uma das anomalias mais comuns no desenvolvimento da dentição2. Definida como a ausência de um a seis dentes, sendo a oligodontia de mais de seis dentes, ambas excluindo os terceiros molares, enquanto que a anodontia é a perda de todos os dentes3. Sua etiologia ainda não é bem conhecida, porém há uma relação predominante com a genética ocorrendo mutações Openly accessible at http://www.mastereditora.com.br/bjscr Oliveira et al./ Braz. J. Surg. Clin. Res. nos genes MSX1, PAX9, AXIN2, LTBP3 e EDA4. É nesse contexto que entra o dentista para eliminar, diminuir ou até mesmo mimetizar os problemas que causam desconforto e a diminuição da função. No caso de agenesias dentárias, perdas de dentes e a consequente abertura de diastemas, o ortodontista é um dos profissionais escolhidos para realizar os procedimentos de fechamento ou manutenção do espaço. O diastema dentário cria um ponto escuro no sorriso por refletir o fundo da boca, e que pode ser fechado ortodonticamente ou por meio de restaurações, o tratamento para cada paciente será definido baseado no tempo e na limitação psicológica, física e financeira5. A aparatologia ortodôntica dificulta a higienização e pode causar hiperplasia gengival6. Esta possui etiologias variadas e alguns fatores locais podem contribuir para os aumentos gengivais inflamatórios, dentre eles estão à presença de cavidades cariosas, apinhamento dental, restaurações com excesso e aparelhos ortodônticos7. As doenças bucais variam nas diferentes partes do mundo, sendo a cárie o maior problema na maioria dos países. A anatomia oclusal dos molares faz com que sejam mais susceptíveis a essa doença por causa de suas cicratrículas, fóssulas e fissuras estreitas e profundas, características essas que dificultam a autolimpeza e o controle da higienização pelo paciente, contribuindo para uma grande possibilidade de perda, ocasionando alterações funcionais e estéticas8. O primeiro molar permanente é a unidade de mastigação mais importante, por isso é essencial no desenvolvimento da oclusão funcionalmente desejável9. A manutenção de espaço de um dente perdido pode ser feita com aparelhos fixos ou removíveis, sendo os fixos os mais escolhidos na maioria dos casos, pois não necessitam da cooperação do paciente10. Os mantenedores de espaço têm o objetivo de: prevenir a perda de comprimento, largura e/ou perímetro da arcada; manter o espaço interproximal desejado; não interferir com a oclusão dos dentes antagonistas, com a erupção do dente permanente, na fonética e mastigação e se possível devolver a função mastigatória e estética; permitir o espaço mesio-distal suficiente; ter um desenho simples; e serem fáceis de higienizar e conservar. É indicado manter o espaço da perda de um dente quando o espaço adequado está disponível11. Este trabalho visa mostrar a realização de um caso em que o paciente possui agenesia de incisivo lateral inferior, diastemas e perda de molar e pré-molar inferior, objetivando devolver ao paciente a função mastigatória adequada, tornar a estética satisfatória deixando-o em condições favoráveis para uma posterior reabilitação bucal. V.15,n.3,pp.47-51 (Jun – Ago 2016) Universidade Severino Sombra (Vassouras-RJ) com o intuito de fechar os espaços ântero-inferiores. Segundo ele, os dentes se separaram após as perdas dentárias. Ao exame clínico e radiográfico (Figura 1) observou-se que o paciente apresentava agenesia do dente 32, o que também foi considerado uma das causas da abertura dos diastemas, e ausência dos dentes 36 e 45. Figura 1. RX Panorâmica. O planejamento proposto para o tratamento ortodôntico foi disposto em três fases: primeira fase composta pelo alinhamento e nivelamento dos dentes; a segunda, redução dos diastemas e consequente recuperação dos espaços dos dentes perdidos; e a terceira, a instalação da contenção com os mantenedores de espaço. Para a realização desse caso foram colados bráquetes de pré-molar a pré-molar inferior (Figura 2). Figura 2. Bráquetes montados de pré-molar a pré-molar. 2. RELATO DE CASO O Paciente D.F., gênero masculino, 27 anos, melanoderma chegou à clínica odontológica de ensino da USS – Figura 3. Batente superior. BJSCR (ISSN online: 2317-4404) Openly accessible at http://www.mastereditora.com.br/bjscr Oliveira et al./ Braz. J. Surg. Clin. Res. V.15,n.3,pp.47-51 (Jun - Ago 2016) Foi necessário instalar um batente superior (Figura 3), pois o paciente, ao ocluir, tocava o canino superior no bráquete de seu antagonista. O elástico em corrente foi colocado para reduzir os diastemas inferiores (Figura 4) e, após o fechamento (Figura 5), houve a necessidade de instalar botões linguais, pois o dente 44 se encontrava em giroversão (Figura 6). Figura 7. Vista lateral direita. Figura 4. Reduzindo os diastemas com elástico em corrente. Figura 8. Vista lateral esquerda. Figura 5. Diastemas reduzidos. Figura 9. Vista frontal logo após a gengivectomia. Figura 6. Sistema binário de força. Molas foram instaladas para manter os espaços das ausências para posterior reabilitação (Figuras 7 e 8). Após a remoção do aparelho o paciente foi encaminhado para a realização de uma gengivectomia inferior (Figura 9) e todo o excesso gengival inferior foi removido (Figuras 10 e 11). BJSCR (ISSN online: 2317-4404) Figura 10. Aspecto final pós gengivectomia. Openly accessible at http://www.mastereditora.com.br/bjscr Oliveira et al./ Braz. J. Surg. Clin. Res. Figura 11. Vista frontal final. 3. DISCUSSÃO As classificações das agenesias dentárias são divididas em hipodontia, que são agenesias de um a seis dentes; oligodontia, ausência de mais de seis dentes3-4, 12-13; e a anodontia, ausência completa de dentes2, 12-13. Porém, há estudo revelando que hipodontia é a ausência de um a cinco dentes e oligodontia de seis ou mais dentes2. A etiologia da agenesia dentária é multifatorial, sendo que os fatores mais citados são: síndromes3-4, 12, 14, casos isolados de origem familiar3 e fatores adquiridos15. Porém, a maioria dos autores concordam que a causa das agenesias dentárias é predominantemente genética 1, 3-4, 12, 14-15 envolvendo os genes MSX1, PAX9, AXIN2, LTBP3 e EDA, sendo que as mutações no gene MSX1 estão associadas com a hipodontia hereditária autossômica dominante, como a oligodontia, e hipodontia autossômica recessiva; no gene PAX9 estão associadas com autossômico dominante, não sindrômica e oligodontia familiar; no gene AXIN2 são responsáveis por formas esporádicas de agenesias de incisivos; no gene LTBP3 causam uma forma familiar recessiva autossômica de oligodontia; no gene EDA são responsáveis pela falta de dentes na maxila e mandíbula como o incisivo central, lateral e caninos4. Esta pode também estar associada à obstrução física ou rompimento da lâmina dentária, limitação de espaço, anormalidades funcionais do epitélio dentário, dentre outros14. A agenesia dentária tem uma frequência de 1,6% a 9,6%4, 12, excluindo os terceiros molares, porém há discordância dessa porcentagem, variando de 4,3% a 7,8%1, ambos concordando com um estudo onde foi citada uma prevalência de 4,6%2. Incluindo os terceiros molares a frequência aumenta para 20%12, mas há discordância afirmando que ela é de 20,7%1. Em relação à dentição decídua essa frequência varia entre 0,5% e 0,9%12. De acordo com a prevalência das agenesias dentárias citam-se: Maior em terceiros molares12, 14, segundos prémolares e incisivos laterais2, 12, 14; Maior em pacientes do gênero feminino1-2; Maior nos dentes permanentes3; Ocorre unilateralemente1, 3, concordando com o caso clínico descrito. BJSCR (ISSN online: 2317-4404) V.15,n.3,pp.47-51 (Jun – Ago 2016) Variam de acordo com os grupos étnicos1-2-3, 14. As anomalias podem ser classificadas como hereditárias, congênitas ou adquiridas. Os fatores etiológicos das anomalias hereditárias agem na fase de formação genética; os das anomalias congênitas, na fase de formação intrauterina; e os das anomalias adquiridas, na fase de formação pós-natal15. Muitas anomalias podem ser detectadas e confirmadas pelo exame radiográfico, sendo a radiografia panorâmica a mais indicada15-16. Quanto aos diastemas, há prevalência no gênero feminino e em pacientes com padrão de face mesofacial, e dentre seus fatores etiológicos, que podem ser patológicos ou fisiológicos, estão: agenesias e/ou microdontia de incisivo lateral, hábitos de sucção, freio labial fibroso, dentes supranumerários, dentre outros17. Só com a ortodontia não é possível corrigir espaços excessivos, assim, o tratamento restaurador entra em conjunto com os procedimentos ortodônticos5, 18, podendo também ser necessária à realização de procedimentos periodontais depois de finalizado o tratamento ortodôntico18. As aparatologias ortodônticas atuam como coadjuvantes nos efeitos deletérios ao periodonto6, 19, pois o aparelho ortodôntico torna a higiene bucal adequada mais difícil, o que contribui para respostas gengivais hiperplásicas e inflamatórias podendo levar a complicações e posterior terapia periodontal6. As hiperplasias gengivais são tratadas por meio de raspagem e alisamento radicular, porém quando estas não diminuem após a terapia básica periodontal é necessário fazer a cirurgia de gengivectomia para remover o excesso gengival19. Em relação à perda dentária, o primeiro molar permanente é o dente mais acometido por lesões cariosas e por isso são perdidos mais precocemente, pois, além de serem confundidos com um dente decíduo, possuem fóssulas e fissuras profundas8, 20-21. A perda precoce dos molares ocorre mais no arco inferior8, 21-22, como no relato apresentado. As consequências dessa perda podem acarretar em prejuízos estéticos, psicológicos e funcionais23. Os mantenedores de espaço são classificados de acordo com suas características e dentes perdidos ou de acordo com a zona da arcada em mantenedores fixos e removíveis11. 4. CONCLUSÃO Com a realização do tratamento foi possível reduzir os diastemas minimizando a falta do incisivo lateral inferior devolvendo a estética do sorriso. Com a utilização dos mantenedores de espaço, o paciente teve a possibilidade de aguardar para prosseguir com a reabilitação bucal. A gengivectomia restabeleceu um contorno anatômico e agradavelmente estético, e devolveu-lhe a possibilidade de realizar uma adequada higiene. E conseguimos alcançar as perspectivas do paciente deixando-o satisfeito com os resultados do tratamento. Openly accessible at http://www.mastereditora.com.br/bjscr Oliveira et al./ Braz. J. Surg. Clin. Res. REFERÊNCIAS [1] [2] [3] [4] [5] [6] [7] [8] [9] [10] [11] [12] [13] [14] [15] Garib, DG, Alencar BM, Ferreira FL, Ozawa TO. 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Especialista em Ortodontia pela SOEP-FACSETE – Porto Velho-RO, professor do curso de especialização em Ortodontia SOEP-FACSETE – Porto Velho-RO; 3. Mestre em Ortodontia pela UNICID – São Paulo – SP, professora do curso de especialização em Ortodontia SOEP-FACSETE – Porto Velho-RO; 4. Coordenadora do Mestrado em Odontologia da Faculdade Ingá, Maringá-PR; 5. Professor do Curso de Mestrado em Odontologia da Faculdade Ingá, Maringá-PR; 6. Professor do Curso de Mestrado em Odontologia da Faculdade Ingá, Maringá-PR. * Rua Jamil Gebara 1-25 apto 111, Bauru, São Paulo, Brasil. CEP: 17017-150. [email protected] Recebido em 20/05/2016. Aceito para publicação em 15/07/2016 RESUMO O presente caso clínico apresenta uma alternativa favorável para pacientes que não querem se submeter a tratamentos ortodônticos completos e que são encaminhados por outros profissionais para correção de problemas isolados. Foram colados acessórios ortodônticos somente no arco superior e a inserção de dois parafusos de mini-implante, na região do dente 26 com o intuito de fazer a intrusão do elemento em questão para posterior encaminhamento para reabilitação protética com implante ósseo integrado no arco inferior. Ao final do tratamento, houve o sucesso da intrusão do molar, o qual resultou em espaço adequado para a reabilitação protética do arco inferior. PALAVRAS-CHAVE: Ortodontia, intrusão dentária, implante dentário. ABSTRACT This clinical case presents a favorable alternative for patients who do not want to undergo complete orthodontic treatment and are referred by other professionals to correct isolated problems. Orthodontic appliances were bonded only in the upper jaw and the insertion of mini implant screws, one on each side buccal and lingual face each other across the region of the tooth 26 in order to make the intrusion of the element in question for further routing to prosthetic rehabilitation with endosteal implants in the mandibular arch. At the end of treatment, there was the success of the molar intrusion, which resulted in adequate space for prosthetic rehabilitation of the lower arch. KEYWORDS: Orthodontics, tooth intrusion, dental im- ortodôntico demasiadamente difícil e complexo de se realizar usando métodos tradicionais de ancoragem1. Existem, no entanto, situações clínicas nas quais este movimento se faz necessário para obtenção de um bom resultado no tratamento, como, por exemplo, na extrusão de molares causada pela perda de dentes antagonistas. Na clínica diária, observa-se com frequência este tipo de problema, principalmente na população adulta, onde a perda de dentes permanentes ainda é uma realidade fazendo com que os dentes antagonistas extruam. A intrusão de molares, nestas situações, configura-se como a melhor opção de tratamento, pois evita a necessidade de tratamento endodôntico e reconstrução protética da unidade extruída ou métodos cirúrgicos de intrusão posterior, por meio de osteotomia subapical2. Com o advento do mini-implante na ortodontia o movimento de intrusão foi simplificado, por não causar efeitos colaterais nos dentes adjacentes e não depender da cooperação do paciente e ainda realizar uma intrusão efetiva e rápida. Este recurso tem sido utilizado cada vez mais frequentemente na clínica ortodôntica, quando não há unidades dentárias suficientes para promover efetiva ancoragem ou, simplesmente, de modo a tornar a mecânica menos complexa e mais previsível para o ortodontista3,4. Neste trabalho, será apresentado um caso clínico em que foram utilizados mini-implantes para a intrusão do molar superior extruído devido à falta do dente antagonista, para posterior reabilitação com implantes. plants. 2. RELATO DE CASO 1. INTRODUÇÃO A paciente A. T. procurou a clínica ortodôntica com a finalidade de intruir o dente 26 (primeiro molar superior esquerdo) e conseguir o espaço suficiente para realiza- A intrusão de molares é considerada um movimento BJSCR (ISSN online: 2317-4404) Openly accessible at http://www.mastereditora.com.br/bjscr Lacerda et al./ Braz. J. Surg. Clin. Res. V.15,n.3,pp.52-56 (Jun – Ago 2016) ção do implante inferior do dente 36 (primeiro molar inferior esquerdo). Através da análise facial, constatou-se que a paciente possui perfil reto, suavemente braquifacial com terço facial inferior diminuído e selamento labial passivo. Figura 1 A-C: Fotografias extrabucais frente e perfil. No exame clínico intrabucal a paciente apresentava boa higiene bucal, Classe I bilateral, com incisivos superiores bem posicionados e extrusão do dente 26 (Figura 2 A-E). Figura 4. Telerradiografia inicial, pode-se observar o perfil reto, suavemente braquifacial e terço facial inferior diminuído. Alternativas de tratamento Figura 2 A-E: Fotos intrabucais iniciais. Na radiografia panorâmica foi possível observar a presença de implante na região do dente 24, presença de prótese na região do dente 16, presença de pino intrarradicular e coroa no dente 35 e raiz residual do dente 36. Nos tecidos adjacentes aos dentes não foi observado nenhuma alteração (Figura 3) O plano de tratamento inicial, indicado pelo implantodontista, envolvia desgastes da coroa e tratamento endodôntico para permitir instalação de próteses sobre implantes no arco inferior. A paciente relatou que gostaria de manter a vitalidade de seus dentes superiores. Para isso, foi proposta a intrusão do molar superior esquerdo por meio de movimento de intrusão ortodôntica auxiliado com mini-implantes. A paciente recusou o uso de aparelho ortodôntico na arcada inferior, relatando que gostava de seus dentes inferiores e que sentia incômodo com o aparelho. Por esse motivo foi realizado o tratamento parcial. Sequência do tratamento Figura 3. Radiografia Panorâmica inicial. BJSCR (ISSN online: 2317-4404) Diante do diagnóstico realizado por meio dos exames clínicos e radiográficos, optou-se por realizar o alinhamento e nivelamento dos dentes superiores com o uso do aparelho prescrição Roth ,022” x ,028” no arco superior, utilizando-se a mecânica do arco reto, logo ao início do tratamento ortodôntico foram instalados dois mini-implantes de 1,6mm x 8mm com perfil transmucoso de 1mm na região do zigomático e outro pela palatina, entre as raízes dos primeiros e segundos molares superiores permanente para intrusão do dente 26 ( primeiro molar superior esquerdo). Openly accessible at http://www.mastereditora.com.br/bjscr Lacerda et al./ Braz. J. Surg. Clin. Res. A força de intrusão foi realizada por meio de elástico corrente posicionado nos tubos do primeiro molar superior e ancorada nos mini-implantes previamente instalados. Para o alinhamento e o nivelamento foram usados uma sequência de fios Niti superelásticos, partindo do 0,014” até o 0,020”, e de fios de aço 0,020” com acentuação da curva de Spee e 0,019”x0,025” de aço. Nesta fase do uso do fio de aço foi utilizado elástico corrente do dente 15 ao 26. E o elástico corrente foi substituído a cada trinta dias, durante as consultas de manutenção do aparelho ortodôntico. V.15,n.3,pp.52-56 (Jun – Ago 2016) tratamento ortodôntico para realizar ajustes oclusais, totalizando 20 meses para o termino do tratamento, onde foi possível realizar a reabilitação oral do paciente (figura 6), possibilitando o Implante dentário do dente 36. Após o termino do tratamento foi indicado a extração de dente 27, porque o mesmo não apresentava dente antagonista e a paciente não queria fazer outro implante na região antagonista. Foi confeccionada como contenção superior placa de Hawley com mantenedor de espaço no dente 16 para posterior reabilitação com implante dentário. O caso se apresenta estável após 2 anos de término do tratamento. Figura 5 A-C. Evolução da intrusão do dente 26. Figura 6 A-C. fotos do termino do tratamento (após reabilitação do dente 36 com implante dentário). Figura 8. Panorâmica final (com implante do dente 36). Figura 7 A- B. Fotos finais intrabucais. (contenção) Figura 8 A-B: Fotografias extrabucais final. Para realizar uma efetiva intrusão do dente 26 foram necessários 16 meses de força intrusiva no dente 26 para conseguir o espaço para implante dentário do dente 36 (Figura 5 A-C). Após a intrusão foram necessários mais 4 meses de BJSCR (ISSN online: 2317-4404) Figura 9. Telerradiografia Final. (mostrando implante na região do dente 36, sem mudança no perfil da paciente). Openly accessible at http://www.mastereditora.com.br/bjscr Lacerda et al./ Braz. J. Surg. Clin. Res. 3. DESENVOLVIMENTO Entretanto esses pacientes adultos apresentam características peculiares em suas más oclusões, que dificultam a mecânica ortodôntica e por diversas vezes comprometem o sucesso do tratamento5,6. Através de estudos realizados encontrados na literatura podemos observar diante da perda de unidades dentárias na região posterior, tem-se, frequentemente, a extrusão de um ou mais dentes no arco antagonista. Esta extrusão compromete o espaço para a reabilitação protética, defeitos periodontais e interferências oclusais durante os movimentos funcionais7. Devido a sua praticidade e efetividade, o uso dos mini-implantes para a intrusão de molares tem sido cada vez mais frequente na Ortodontia8-11. Além disso, sabe-se que a intrusão dos molares obtida por meio de métodos convencionais, sem o uso dos mini-implantes, apresenta pouca significância clínica, quantificando apenas 0,96 mm de real intrusão12. No entanto alguns fatores devem ser avaliados antes de iniciar a mecânica de intrusão dentária: avaliar a saúde periodontal; furca radicular e a possibilidade de se reabilitar o dente antagonista13. MARASSI (2006)14, em 2006 descreveu que os mini-implates seriam excelentes opções para intrusão de molares superiores e recomendaram utilizar força entre 150 a 200 g, por meio de elásticos em cadeia, trocados a cada três semanas, ou molas de NiTi. O mini-implante poderia ser instalado mesiovestibularmente e outro disto-palatinamente ao dente a ser intruído, para obter um movimento dentário vertical controlado. Acrescentou que a barra transpalatina poderia ser usada para vestíbulo - lingualmente os dentes a serem intruídos e os implantes poderiam ser ligados diretamente ao arco no caso de intrusão de múltiplos dentes posteriores de um mesmo lado. O uso de mini-implantes como forma de ancoragem ortodôntica tem eficácia comprovada em diversos trabalhos da literatura, apresentando-se como uma opção viável dentro do caráter custo-benefício ao profissional e paciente, já que o mesmo se apresenta com baixo custo, eficácia comprovada, dispensa a cooperação do paciente para obtenção dos resultados almejados, além de não apresentar comprometimento estético. Quanto aos níveis de força que deve ser aplicada ao mini-implante parece haver uma concordância entre a maioria dos autores que recomendam a aplicação de 150g para a intrusão de um molar superior15-17. O caso clínico exposto mostra uma maneira simples e eficaz de intrusão ortodôntica, sem evidências de reabsorção radicular ou comprometimento periodontal, o que confirma os achados de OHMAE et al. (2001)18. A ancoragem esquelética utilizada neste caso clínico permitiu uma quantidade significante de intrusão do primeiro molar superior. Com a aplicação da força direBJSCR (ISSN online: 2317-4404) V.15,n.3,pp.52-56 (Jun – Ago 2016) tamente nos mini-implantes, foi possível realizar movimentos dentários sem prejudicar o posicionamento dos outros dentes que atuariam como ancoragem. A biomecânica da intrusão deve ser bem controlada para evitar que o dente sofra inclinação vestibular ou lingual. Em geral, nos casos de intrusão posterior, deseja-se um movimento de corpo dos dentes. Para isso, a força deve ser aplicada bilateralmente, por vestibular e por lingual19,20. Neste caso clínico, optou-se por dois mini-implantes, um vestibular e um lingual, com uso de elástico corrente fixado diretamente nos acessórios soldados na banda. Assim, pode-se obter um controle tridimensional melhor da movimentação. Além disso, evitou-se passar o elástico sobre a superfície oclusal do molar, ligando um mini-implante vestibular ao lingual, pois poderia haver o risco do deslocamento do elástico para mesial ou distal, inclinando a coroa. 4. CONCLUSÃO No presente trabalho concluímos a efetividade da intrusão por meio do uso do mini-implante, sendo o tratamento realizado sem efeitos colaterais nos dentes adjacentes, com tempo de tratamento reduzido, e possibilitando assim a reabilitação oral do paciente. REFERÊNCIAS [01] Villela H, Villela P, Bezerra F, Laboissière M, SOARES A. Utilização de mini-implantes para ancoragem ortodôntica direta. Innovations J. 2004 8(1):5-12. [02] Bezerra F, Villela H, Laboissière Júnior M, Diaz L. Ancoragem absoluta utilizando microparafusos ortodônticos de titânio: planejamento e protocolo cirúrgico (Trilogia - Parte I). Implant News. 2004;6(1 ):469-75. [03] Araujo TM, Lima Filho RMA, Bolognese AM. Ancoragem esquelética com miniimplantes. Dental Press Ortodontia: arte e ciência. 2007. [04] Janson M. Ortodontia em adultos e tratamento interdisciplinar. Dental Press. 2008. [05] Kalia S, Melsen B. Interdisciplinary approaches to adult orthodontic care. J Orthod. 2001 Sep;28(3):191-6. 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BJSCR (ISSN online: 2317-4404) Openly accessible at http://www.mastereditora.com.br/bjscr Vol.15,n.3,pp.57-62 (Jun – Ago 2016) Brazilian Journal of Surgery and Clinical Research - BJSCR TRATAMENTO ORTODÔNTICO COM EXTRAÇÃO DO MESIODENS - RELATO DE CASO CLÍNICO ORTHODONTIC TREATMENT WITH MESIODENS EXTRACTION – CLINICAL CASE REPORT CLAUDETE ANDRELINA DOS SANTOS PEREIRA1, DINO LOPES DE ALMEIDA2, JULIANA VOLPATO CURI PACCINI3, RODRIGO HERMONT CANÇADO4, KARINA MARIA SALVATORE DE FREITAS5*, FABRÍCIO PINELLI VALARELLI6 1. Especialista em Ortodontia pela SOEP-FACSETE, Porto Velho-RO; 2. Professor do Curso de Especialização em Ortodontia pela SOEP-FACSETE, Porto Velho-RO; 3. Mestre em Ortodontia pela UNICID – São Paulo-SP, professora do curso de especialização em Ortodontia SOEP-FACSETE – Porto Velho-RO; 4. Professor do Curso de Mestrado em Odontologia da Faculdade Ingá, Maringá-PR; 5. Coordenadora do Mestrado em Odontologia da Faculdade Ingá, Maringá-PR; 6. Professor do Curso de Mestrado em Odontologia da Faculdade Ingá, Maringá-PR. * Rua Jamil Gebara 1-25 apto 111, Bauru, São Paulo, Brasil. CEP: 17017-150. [email protected] Recebido em 20/05/2016. Aceito para publicação em 14/07/2016 RESUMO 1. INTRODUÇÃO O presente artigo aborda sobre a prevalência, localização e consequências de dentes supranumerários. Dentes supranumerários (DSN) são considerados anomalias dentárias que acontece mais na maxila do que na mandíbula e também são mais frequentes em pacientes do sexo masculino. De etiologia ainda não bem definida os DSN podem estar relacionados à desordem hereditária. A pesquisa relata um caso clínico cirúrgico e ortodôntico de dentes supranumerários de um paciente de 20 anos de idade do sexo masculino, foi proposto a extração dentária do mesiodens, correção do suave do apinhamento ântero superior e alinhamento por meio de aparelho fixo com movimento para mesial do dente 21 e abertura do espaço para o dente 22, correção da posição do incisivo central superior esquerdo e fechamento do diastema. O resultado do tratamento foi satisfatório, o paciente obteve um bom alinhamento dos dentes anteriores, um perfil facial aceitável e com uma estética favorável e um sorriso harmonioso. A hiperdontia é o termo utilizado para definir a situação em que ocorre um número de dentes além do considerado normal para a dentição humana (32 dentes na permanente e 20 na dentição decídua) 11,16. Os dentes supranumerários, como o próprio nome sugere, são aqueles que se desenvolvem nos maxilares, além dos dentes de série normal. É importante ressaltar que o diagnóstico precoce, ajuda resolver problemas complexos e de difícil solução para o correto estabelecimento da oclusão na dentadura permanente ³. Ocorrem com maior frequência na dentadura permanente e em patologias sistêmicas e, mais raramente, na dentadura decídua; são mais facilmente encontrados na maxila do que na mandíbula, sendo a região anterior a de maior preferência (90%). Sua origem é bastante discutida, sugerindo inúmeras teorias para explicá-la2,3. A etiologia desta anormalidade ainda não foi claramente estabelecida. No entanto, uma série de teorias tem sido sugerida para que ocorra essa anomalia. Alguns autores acreditam no processo filogenético do atavismo, em que os dentes adicionais seriam uma recuperação dos dentes suprimidos no processo evolutivo do ser humano7,8. Podem variar os aspectos radiográficos de um dente supranumerário de estrutura dental com aparência normal ou um dente com forma cônica e, em casos extremos, estrutura dentaria grosseiramente deformada. Normalmente tem tamanho menor do que os dentes da região a radiografia panorâmica da face é o exame de escolha para avaliação da presença e quantidade de dentes supranumerários2,3,12. O tratamento pode ser feito através de exame clínico e radiográfico. Para o planejamento da remoção cirúrgica, são necessárias localizações radiográficas com técnicas específicas para cada região dos processos alveo- PALAVRAS-CHAVE: Dentes supranumerários, anomalias dentárias, exodontia. ABSTRACT This article focuses on the prevalence, location and consequences of supernumerary teeth. Supernumerary teeth (SNT) are considered dental anomaly that happens more in the maxilla than in the mandible and are also more frequent in male patients. With etiology not well defined, the SNT can be related to heredity. The survey reports a surgical and orthodontic clinical case of supernumerary teeth in a 20 years-old male patient, which was proposed the extraction of the mesiodens correction of the slight maxillary anterior crowding and alignment with fixed appliances with mesial movement of the tooth 21 and opening space for tooth 22, correction of the position of the left maxillary central incisor and closure of the diastema. The treatment result was satisfactory, patient had good alignment of anterior teeth, acceptable facial profile and favorable esthetics with a harmonious smile. KEYWORDS: Supernumerary teeth, dental anomalies, oral surgical. BJSCR (ISSN online: 2317-4404) Openly accessible at http://www.mastereditora.com.br/bjscr Pereira et al./ Braz. J. Surg. Clin. Res. lares. Além disso, o tratamento depende do tipo, da posição e do possível dano do supranumerário em um dente adjacente2,3,5. A extração é indicada quando o irrompimento de outro dente é alterado pela sua presença, quando ele interfere na estética ou no tratamento ortodôntico, quando associado a uma patologia, ou ainda, quando estiver causando reabsorção em raízes adjacentes3,7,8. Este artigo tem como objetivo apresentar um relato de caso clínico ortodôntico de dente supranumerário relatando o início do exame clínico extrabucal, a análise intrabucal mostrando passo a passo do tratamento até o término do mesmo, dando uma oclusão harmoniosa. V.15,n.3,pp.57-62 (Jun – Ago 2016) diano e a linha média inferior desviada 2 mm para direita (Figura 2-B). Curva de Spee moderada (Figura 2-A e Figura 2-C). Objetivo Objetiva-se com este trabalho apresentar uma forma de se tratar deformações na arcada dentaria causadas por mesiodens, onde, o mesmo é extraído a fim de possibilitar a reposição correta dos demais elementos dentários do paciente. Figura 2. Fotografias intrabucais iniciais. 2. RELATO DE CASO O paciente A.C.B.C. do gênero masculino, com 20 anos de idade procurou a clínica odontológica para tratamento ortodôntico. Sua queixa principal, dentes que nasceram tortos e apinhamento no arco superior do lado esquerdo. Exame Clínico Inicial Figura 3. Radiografia panorâmica inicial. Ao exame clínico extra-bucal inicial, foi observado que o paciente apresentava padrão facial vertical (Figura 1-A), perfil convexo (Figura 1-C), linha média inferior desviada em relação ao plano sagital mediano (Figura 1-B). Figura 1. Fotografias extrabucais iniciais. Na análise intrabucal, foi diagnosticada uma má oclusão de classe I (Figura 2-A e Figura 2-C). Constataram-se apinhamento dentário dos dentes anterossuperiores e a presença de um de um mesiodens entre incisivo centrais superiores (Figura 2-B). As linhas médias dentárias não estavam coincidentes entre si, sendo a linha média dentária superior coincidente com plano sagital meBJSCR (ISSN online: 2317-4404) Figura 4. Telerradiografia inicial. Openly accessible at http://www.mastereditora.com.br/bjscr Pereira et al./ Braz. J. Surg. Clin. Res. Verificava-se ainda que o elemento 23 (canino superior do lado esquerdo) encontra-se em vestibularizado e o elemento 22 (incisivo lateral superior do lado esquerdo) encontra-se localizado por palatino (Figura 2-D). O arco dentário inferior com desvio de 2mm da linha média para direita e leve apinhamento anterior. (Figura 2-E). Na radiografia panorâmica, foram observadas características de normalidade das estruturas dentoalveolares com presença de todos os elementos dentários, incluindo os terceiros molares superiores em processo de formação radicular; ausência dos terceiros molares inferiores; presença de mesiodens entre os incisivos centrais superiores (Figura 3). Na telerradiografia inicial verificou-se que os planos horizontais característico de um padrão dolicefálico com perfil convexo (Figura 4). V.15,n.3,pp.57-62 (Jun – Ago 2016) mola aberta entre o elemento 21 e 23 (Figura 6-C) fio 0.016” de NiTi. Elástico corrente nos incisivos centrais superiores com a amarrilho no 21 e 23. Elástico corrente nos elementos 11 e 21. Botão vestibular no elemento 22 com amarrilho à distância. Sequência de tratamento Para o tratamento do paciente foi realizado a extração do mesiodens, por estar fora de oclusão e com a finalidade de reposicionar o elemento 22. Foi proposto um tratamento com ortodontia fixa, e a técnica utilizada foi arco reto com prescrição (Roth, slot .022’’x.030”). Para a correção do incisivo lateral superior esquerdo (dente 22), foi realizada a abertura do espaço com mola aberta, após cinco meses já havia espaço para o alinhamento do incisivo lateral. Uma vez que o paciente apresentava perfil facial aceitável e má oclusão de classe I com pouca discrepância anteroposterior, foi proposta a extração dentária do mesiodens, correção suave do apinhamento ântero superior e alinhamento por meio de aparelho fixo com movimento para mesial do dente 21 e abertura do espaço para o dente 22, correção da posição do incisivo central superior esquerdo e fechamento do diastema (Figura 5). Figura 5. Abertura de espaço para o dente 22 e fechamento do diastema. Após a extração do mesiodens, a técnica utilizada foi arco reto com prescrição (Roth, slot. 022”x.030”). Para alinhamento e nivelamento, foram utilizados as seguintes sequências de fios: 0.012”NiTi; 0.014 ”NiTi; 0.016”NiTi; 0.018”NiTi; 0.019”x0.025”NiTi. Foram utilizados 0.018” de aço e 0.020” de aço planificado revenido, 0.019”X0.025”’ retangular passivo, BJSCR (ISSN online: 2317-4404) Figura 6. Sequência de tratamento e finalização. Amarrilho conjugado do elemento 11 ao 16, elástico corrente do 11 ao 21. Após cinco meses de tratamento, já havia espaço para alinhamento do incisivo lateral superior esquerdo (Figura 6 – A a C), foi feita colagem no elemento 22 com braquete invertido para dar torque vestibular na raiz, elástico de Classe II, torque individual para lingual no elemento 22, elástico de Classe II noturno por 30 dias, elástico corrente, kobayashi nos incisivos centrais anterossuperiores e inferiores (Figura 6 – D à F). Desgaste interproximal nos incisivos centrais anteroinferiores. Dobra de extrusão nos incisivos centrais superiores, elástico corrente superior e inferior. Após a intercus- pidação foi removido o aparelho fixo e instalado no arco superior uma placa de Hawley (Figura 6-G) e uma contenção fixa no arco inferior (3X3 de canino a canino com fio 0.018” de aço). Resultados do Tratamento Ao término do tratamento foi obtido um bom alinhamento dos dentes anteriores uma vez que o paciente apresentava um perfil facial aceitável, com estética faOpenly accessible at http://www.mastereditora.com.br/bjscr Pereira et al./ Braz. J. Surg. Clin. Res. V.15,n.3,pp.57-62 (Jun - Ago 2016) vorável e uma boa harmonia do sorriso (Figura 7). Figura 7. Fotografias extrabucais finais. As fotografias extrabucais demonstram que não houve alteração no perfil do paciente. Nas fotos intrabucais pode observar perfeito alinhamento dos dentes e o fechamento de espaço incisivo central superior esquerdo, houve uma boa relação de molar e caninos de Classe I (Figura 8). Figura 8. Fotografias intrabucais finais. Figura 9. Radiografia panorâmica final. BJSCR (ISSN online: 2317-4404) Figura 10. Telerradiografia final. 3. DISCUSSÃO Vários autores defendem que os dentes supranumerários é uma hereditariedade autossômica dominante com penetrância incompleta, porém não há dados suficientes para confirmar e vários outros padrões de hereditariedade tem sido propostos nos últimos anos5,8,16. Assim como no caso apresentado, os dentes supranumerários apresentam predileção pelo sexo masculino como no estudo dos autores2,3,12. E podem ocorrer de maneira isolada ou múltipla, unilateral ou bilateralmente2,12. Apesar de rara, a presença de dentes supranumerários de acordo com Girondi, et. al.4 deve ser observada o mais precocemente possível para que não prejudique o desenvolvimento e crescimento normal das bases ósseas de indivíduos em crescimento. Quando há uma demora significativa no irrompimento dos dentes de uma área localizada na dentição, suspeita-se da presença de dentes supranumerários12. A presença de dentes supranumerários pode levar a várias complicações como retenções dos dentes da região, aparecimento de diastemas, fechamento anormal do espaço, má oclusão, desvios de linha média e giroversões 3,5,8,12. É importante ressaltar que um diagnóstico precoce e o tratamento de pacientes com dentes supranumerários são importantes para prevenir e minimizar complicações8 . Segundo Locht14 radiografia panorâmica já faz parte da rotina ortodôntica atual. Hoje não se admite mais avaliações ortodônticas sem exames complementares dentre eles a radiografia panorâmica. Não só na ortodontia, como na clínica odontológica como um todo, a panorâmica deveria estar presente como auxílio de diagnóstico na maioria dos casos odontológicos. O tratamento depende do tipo, da posição e do possível dano do supranumerário em um dente adjacente. A extração é indicada quando o irrompimento de outro Openly accessible at http://www.mastereditora.com.br/bjscr Pereira et al./ Braz. J. Surg. Clin. Res. dente é alterado pela sua presença, quando ele interfere na estética ou no tratamento ortodôntico, quando associado a uma patologia7. O tratamento cirúrgico dos dentes supranumerários sempre foi um consenso na literatura científica, mas existe muita controvérsia quando se discute o momento ideal para se proceder a cirurgias. Segundo Leonard e Barbato7, Scanlan e Hodge15 recomendam a extração dos supranumerários concomitantemente com as exodontias dos terceiros molares, caso obviamente estes dentes tenham indicação de cirurgia. No entanto, a grande maioria dos autores recomenda que os elementos supranumerários devam ser controlados e removidos posteriormente, quando as raízes estiverem mais desenvolvidas, evitando-se assim danos a estruturas adjacentes e permitindo uma melhor regeneração óssea6,13. Porém, essa recomendação não está de acordo com Peterson et al.9 que recomendam a extração de todo e qualquer incluso assim que for diagnosticado. Conforme Prhimosch10 relata que a remoção pode não ser oportuna até que a formação da raiz adjacente esteja completa, geralmente entre 8 e 10 anos de idade. Além do tratamento cirúrgico para extração, também pode ser realizado o tracionamento do supranumerário até o arco dentário para substituir um dente natural ou perdido1. Em outras pesquisas foi encontrado relato que o dente supranumerário quando irrompidos, geram apinhamentos, ocupam o lugar destinado a um dente normal e são esteticamente desagradáveis, entre outras implicações, como exemplo, impactação, erupção tardia ou ectópica dos incisivos permanentes, causadas pela presença do mesiodens e podem contribuir para o desenvolvimento do diastema na linha média, resultando num mal desenvolvimento da oclusão. Outro problema que pode ocorrer, devido ao não irrompimento do supranumerário, de acordo com Stafne19 é a formação de cisto dentígero encontrou que 5.5% dos casos de supranumerários apresentavam formação cística. O mesiodens, correspondendo de 45 a 66% dos casos, apresenta uma ampla variação de forma e tamanho, desde próximo a um incisivo central até um pequeno dente conóide. Certos autores acreditam que o dente supranumerário, quando irrompido na cavidade bucal, gera transtornos e problemas na oclusão. Este artigo comprova que o mesiodens irrompido entre os incisivos centrais superiores pode causar desvio de linha média, apinhamentos e uma estética desfavorável. Além do tratamento cirúrgico, também pode ser realizado o tracionamento de um dente supranumerário até o arco dentário para substituir um dente perdido. No entanto, neste caso, optou-se a extração do mesiodens, uma vez que o paciente possuía todos os elementos den- BJSCR (ISSN online: 2317-4404) V.15,n.3,pp.57-62 (Jun – Ago 2016) tários superiores. 4. CONCLUSÃO Considerando o caso clínico relatado na pesquisa pode-se afirmar que o paciente ficou satisfeito com o resultado, pois o mesmo obteve um bom alinhamento dos dentes anteriores, um perfil facial aceitável e com uma estética favorável e um sorriso harmonioso. Os dentes supranumerários estão, muitas vezes, associados a diversos problemas dentoalveolares. Um diagnóstico precoce destas anomalias é indispensável para um tratamento de sucesso, restabelecendo a estética, oclusão e função dentárias e minimizando o risco de possíveis complicações futuras. REFERÊNCIAS [1] [2] [3] [4] [5] [6] [7] [8] [9] [10] [11] [12] [13] [14] Ames JR, Johnson RP, Stevens EA. Computerized tomografy in oral and maxillofacial surgery. J Oral Surg, 1980; 38(2):145-9. Cerqueira A, Oliveira AS, Pagnoncelli R. Múltiplos dentes supranumerários em paciente não cindrômico. Rev. APCD, 2002; 145-7. Couto Filho CEG, Santos RL, Lima. Relato de Casos. BCI 2002; 9:150-5. Girondi EA. 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Anterior supernumerary teeth assessment and surgical intervention in children. Pediat Dent. 1981; 3:204-14. [19] Stafne EC. Supernumerary teeth. Dental Cosmos. 1982; 74:653. BJSCR (ISSN online: 2317-4404) Openly accessible at http://www.mastereditora.com.br/bjscr Vol.15,n.3,pp.63-67 (Jun – Ago 2016) Brazilian Journal of Surgery and Clinical Research - BJSCR MANEJO DE LESÃO PENETRANTE EM ÓRBITA POR CORPO ESTRANHO DE MADEIRA RETIDO: RELATO DE CASO MANAGEMENT OF PENETRATING ORBITAL INJURY BY A WOODEN FOREIGN BODY: CASE REPORT CARLOS EDUARDO MENDONÇA BATISTA1, ANDRE LUIS COSTA CANTANHEDE2, JHOONATARRATY FONSECA DE SENA2, DIOGO RÊGO D SILVA3, SAMUEL BENSON LIMA BARRETO4, JOSE EDUARDO BATISTA4 1. Preceptor do Serviço de Cirurgia e Traumatologia BucoMaxiloFacial - UFPI, Teresina, PI, Brasil; 2. Residente de Cirurgia e Traumatologia BucoMaxiloFacial - UFPI, Teresina, PI, Brasil; 3. Especialista de Cirurgia e Traumatologia BucoMaxiloFacial - UFPI, Teresina, PI, Brasil; 4. Prof. Dr. Adjunto do Departamento de Patologia da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). * Universidade Federal do Maranhão, Centro de Ciências da Saúde, Departamento de Patologia. Rua de São Pantaleão, 02, Madre Deus - São Luis, Maranhão, Brasil. CEP: 65000-000. [email protected] Recebido em 27/05/2016. Aceito para publicação em 14/07/2016 RESUMO Traumas penetrantes por corpos estranhos na órbita como fragmentos de madeira de natureza porosa e orgânica podem gerar reação inflamatória local importante, causando lacrimejamento, inflamação persistente, motilidade ocular restrita, perda da acuidade visual podendo levar à cegueira se não instituída sua remoção cirúrgica precoce, além da necessidade de instituição de profilaxia antimicrobiana e fúngica. O diagnóstico de tais injúrias deve pode ser feito por avaliação clínica cuidadosa pois, em alguns casos, pequenos fragmentos retidos profundamente podem passar despercebidos pelos métodos de imagem tradicionais, sendo a tomografia computadorizada (TC) o recurso de imagem com melhor custo benefício para este tipo de situação. Nesse aspecto, o presente artigo objetiva ilustrar um caso clínico de lesão penetrante em órbita por objeto orgânico de madeira de grandes dimensões retido profundamente no cone orbitário em um paciente apresentando sinais clínicos sutis, assim como discutir condutas diagnósticas e terapêuticas descritas na literatura para casos semelhantes. PALAVRAS-CHAVE: Órbita, Reação a corpo estranho, Ferimento ocular penetrante ABSTRACT Penetrating trauma by foreign bodies in orbit as wood fragments, which are porous and organic in nature, can generate significant local inflammatory reaction, causing tearing, persistent inflammation, restricted ocular motility, loss of visual acuity and can lead to blindness if not established its early surgical removal, as well the need for antimicrobial and antifungal prophylaxis institution. The diagnosis of such injuries should be conducted by careful clinical assessment because in some cases, small fragments deeply held may go undetected by traditional imaging methods, being computed tomography (CT), the image resource BJSCR (ISSN online: 2317-4404) with better cost benefit for these clinical situations. This paper aims to illustrate a case of penetrating injury in orbit by a large organic wooden object held deep in the orbital cone in a patient with subtle clinical signs, as well as discuss diagnostic and therapeutic procedures described in the literature for similar cases. KEYWORDS: Orbit, Foreign body reaction, Eye injury, penetrating 1. INTRODUÇÃO A Nos traumas orbitários penetrantes, os objetos mais frequentemente encontrados são os de natureza metálica ou orgânicos como a madeira, embora outros objetos atípicos tenham sido relatados na literatura1. A permanência de tais objetos pode originar lacrimejamento, dor, sensação de arranhadura e coceira nos olhos, estimulando o paciente à manipulação, o que pode deslocar ainda mais o corpo estranho, além disso, inflamação persistente, motilidade ocular restrita, perda da acuidade visual e inflamação secundária podem ser indícios de permanência desses fragmentos no continente orbitário2. Corpos estranhos como fragmentos de madeira de natureza porosa e orgânica geram reação inflamatória que pode se resolver após sua eliminação ou cursar como um processo crônico se mantidos in loco, culminando tardiamente em comprometimento das estruturas orbitárias como nervos ou músculos através da formação de granulomas, celulites fúngicas, abscessos orbitários ou fístulas crônicas3,4,5. Situações clínicas como estas necessitam além de uma remoção rápida do objeto estranho, a instituição de profilaxia antimicrobiana e fúngica6. O diagnóstico de tais injúrias orbitárias pode ser feito por visualização direta, durante debridamento, sutura e curativo. No entanto, há casos onde a identificação da Openly accessible at http://www.mastereditora.com.br/bjscr Pereira et al./ Braz. J. Surg. Clin. Res. V.15,n.3,pp.63-67 (Jun – Ago 2016) existência de fragmentos de madeira retidos reapresentam um desafio ao clínico e podem passar despercebidos pelos métodos de imagem tradicionais, sendo a tomografia computadorizada (TC) o recurso de imagem que representa melhor custo benefício1,4. De um modo geral, sugere-se reunir o maior número de informações relativas à natureza e localização do(s) objeto(s), a fim de executar uma abordagem cirúrgica planejada, oportuna e eficiente. O presente trabalho tem por objetivo discutir as condutas diagnósticas e terapêuticas abordadas na literatura com relação ao manejo de injúrias orbitárias penetrantes por objetos de madeira, ilustrando um caso clínico cirúrgico. 2. RELATO DE CASO Paciente do sexo masculino, 47 anos, vítima acidente de trabalho (vaqueiro), chocou-se contra uma árvore, o mesmo foi atendido no Hospital de Urgência de Teresina - PI (HUT) por um Oftalmologista de plantão. Nesse primeiro momento foi removido um pequeno fragmento de madeira que estava visível na laceração na órbita direita, sutura da lesão e curativo externo foram executados. Após 15 dias da primeira avaliação, foi solicitado um parecer do Serviço de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial do HUT, onde ao exame clínico o paciente queixavase de lacrimejamento constante, baixa acuidade visual e desconforto durante mínima movimentação ocular, apresentando ao exame clínico estrabismo causado por lesão nervosa provável do abducente (VI par) e oculomotor (III par), midríase, sem edema significativo no olho direito (Figura 1). BJSCR (ISSN online: 2317-4404) Figura 1. Aspecto clínico pré-operatório, lacrimejamento intenso no olho direito. Com discreto edema periorbitário. Figura 2. (A) Tomografia computadorizada com janela para tecido moles, corte sagital. Corpo estranho longo radiopaco retido no continente orbitário. (B) Reconstrução 3D com defeito ósseo na parede órbitária do osso zigomático. Foi solicitado exame tomográfico do terço médio da face, janela para tecidos moles e reconstrução 3D, onde foi constatado a presença de um corpo estranho que transfixava a parede lateral da órbita direita e localizava-se na face orbital do osso zigomático (Figura 2). O paciente foi submetido a um procedimento cirúrgico exploratório na órbita direita sob anestesia geral, com acesso subtarsal através de divulsão dos planos para exposicão do assoalho e parede lateral da órbita direita, com posterior remoção total do corpo estranho de madeira, colocação de um dreno de Pen Rose e curativo compressivo externo ao final do procedimento (Figura3 – a,b,c), procedeu-se manutenção de antibioticoterapia pós operatória Openly accessible at http://www.mastereditora.com.br/bjscr Pereira et al./ Braz. J. Surg. Clin. Res. V.15,n.3,pp.63-67 (Jun - Ago 2016) (Cefalexina 500mg + Metronidazol 400mg) por um período de 7 dias. A evolução clínica do paciente em acompanhamento ambulatorial de 40 dias mostrou regressão total da infecção e melhora clínica, houve expulsão pela órbita de um pequeno fragmento de madeira residual. O paciente evoluiu com déficit ocular persistente (baixa acuidade visual e anisocoria), sem evidência imaginológica de fragmentos residuais no pós-operatório de 6 meses (Figura 3 - d). entanto, sem a presença de laceração palpebral 8, fato este correspondente ao nosso caso. Portanto, enfatiza-se a necessidade de um exame minucioso da conjuntiva e fórnices, podendo-se lançar mão como em caso descrito por Moraes et al. (2011)9 de corante de Fluoresceína, que proporciona identificação de anomalias no epitélio corneano, auxiliando no diagnóstico deste tipo de lesão. O manejo cirúrgico e prognóstico de injúrias orbitais por corpos estranhos é dependente da sua localização, Figura 3. (A) Acesso subtarsal para remoção do corpo estranho. (B) Sutura final e aposição de dreno. (C) Aspecto do corpo estranho de madeira após remoção. (D) Aspecto clínico da região orbitária direita após 40 dias de pós-operatório. composição, tamanho, superfície de penetração e presença ou não de infecção secundária, sendo os objetos metálicos e de vidro, biologicamente mais bem tolerados. Objetos estranhos de madeira, no entanto, podem resultar em sérias reações inflamatórias e complicações6,10. Devido à sua natureza porosa e orgânica, a madeira pode ser um sítio propício para a instalação e crescimento de bactérias e fungos exigindo profilaxia direcionada no intuito de evitar complicações oftalmológicas de caráter infeccioso6. Diversas manobras semiológicas podem ser utilizadas na identificação de injúrias oculares aliado à observação dos sintomas referidos pelo paciente como teste de ducção forçada, acuidade visual utilizando tabela de Rosenbaum e teste de reflexos pupilares para identificação de reflexo consensual e fotoreatividade pupilar9. Lesões orbitárias penetrantes por corpos de madeira, 3. DISCUSSÃO Vários Atendimentos emergenciais a traumas oculares correspondem de 2 a 7% das injúrias em unidades hospitalares, afetando na maioria homens entre 16 e 45 anos de idade, seguido de crianças em ambiente domiciliar 4,7. Shelsta et al. (2010)8 em estudo de 23 casos de injúrias orbitais por objetos estranhos de madeira relataram que, a idade dos pacientes variava entre 2 a 52 anos; os tipos de corpos estranhos mais encontrados foram lápis (39%), galho de árvore/planta (35%) e outros (26%); as regiões orbitais atingidas foram a supra orbital (26%), medial (30%), assoalho (26%), posterior (9%) e lateral (4%), sendo que injúria à conjuntiva foi encontrada em 53% dos casos, no BJSCR (ISSN online: 2317-4404) Openly accessible at http://www.mastereditora.com.br/bjscr Pereira et al./ Braz. J. Surg. Clin. Res. no entanto, podem representar um desafio diagnóstico devido à alguns fatores como trauma mínimo; o globo ocular ocupa apenas um quarto do volume orbitário, permitindo à acomodação de objetos de grandes dimensões; os tecidos peri-orbitários tendem à aprisionar e mascarar o trajeto de objetos em casos de pequenos ferimentos penetrantes; o edema peri-orbitário pode dificultar a identificação desses fragmentos durante inspeção e por fim os exames de imagem convencionais como raios X simples e TC em alguns casos apenas identificam objetos de madeira se associado a eles, houver substâncias radiopacas ou um granuloma1,3,4,11. Nos casos de lesão orbitária de causa desconhecida, Lee & Lee (2002)6 recomendam a utilização de exames de imagem mais acurados quando não há provas visíveis clinicamente da presença de corpo estranho. Os raios X convencionais não são recomendados para estes casos por raramente detectarem fragmentos de madeira devido seu aspecto radiotransparente neste exame, sendo a TC janela para tecidos moles o exame de escolha devido a sua versatilidade, disponibilidade e custo em relação à ressonância magnética (RM), que nem sempre está disponível em unidades de urgência e emergência, mas que seria um exame superior para esta finalidade1. Ao se lançar mão da TC, Boncouer-Matel et al. (2001)12 salientam que os achados imaginológicos de corpos estranhos de madeira podem ao longo do curso clínico diferir na aparência. Segundo os autores, nos primeiros dias (fase aguda), a densidade do material de madeira é baixo e assim, pode ser confundido com bolhas de ar. Decorrido uma semana (fase subaguda), a madeira assume uma densidade moderada, podendo ser difícil sua distinção entre a gordura peri-orbital. Após semanas ou meses (fase crônica), a densidade do corpo de madeira pode tornar-se maior do que a da gordura orbital, assemelhando-se à uma massa homogênea em torno dos poros da madeira, com densidade semelhante aos músculos oculares12. Nos casos em que a TC não revela evidências de corpo estranho, estes resultados podem se relacionar à localização desses fragmentos perto do assoalho da órbita, na descrita como “área cega” da TC5. Nos casos de TC com imagem negativa para corpos estranhos e com suspeita clínica de injúria, portanto, recomenda-se o exame de RM, após descartada a natureza não metálica do corpo estranho, que poderia ser deslocado causando maiores prejuízos6. No presente caso, a utilização da TC com janela para tecidos moles em cortes sagitais e axiais foi suficiente para localização do fragmento de madeira. O manejo cirúrgico exploratório após confirmação da localização e extensão do corpo estranho na cavidade orbitária pode ser praticado por acesso subtarsal, subciliar ou transconjutival, este último limitando-se à localização de corpos estranhos anteriorizados2. Isso pode explicar possíveis falhas prévias na remoção de fragmentos localizados mais posteriormente no cone orbitário, levando-nos BJSCR (ISSN online: 2317-4404) V.15,n.3,pp.63-67 (Jun – Ago 2016) à utilização do acesso subtarsal que demonstrou ser suficiente para exposição do assoalho e parede lateral da órbita. 4. CONCLUSÃO Traumas oculares diretos devem ser minunciosamente avaliados quanto à penetração de corpos estranhos que podem conter fragmentos não identificados clinicamente. Nos casos de trauma penetrante por objetos de madeira, devido sua natureza porosa e orgânica recomenda-se uso de profilaxia antimicrobiana e antitetânica, bem como exame físico delicado e acurado a fim de prevenir eventuais complicações. Para estes casos recomenda-se sempre lançar mão de TC como método de imagem primário e parecer clínico oftalmológico pré e pós-operatório. REFERÊNCIAS [1] Fulcher TP, McNab AA, Sullivan TJ. Clinical features and management of intraorbital foreign bodies. Ophthalmology. 2002; 109:494-500. [2] Varella R, Resende R, Santoro D. Remoção de corpo estranho em cavidade orbitária: Relato de caso. Rev. Cir. Traumatol. Buco-Maxilo-Fac, Camaragibe. 2002; 12(3):25-30. [3] Bullock JD, Warwar RE, Bartley GB, Waller RR, Henderson JW. Unusual orbital foreign bodies. Ophthal Plast Reconstr Surg. 1999; 15:44-51. [4] Liu D, Al Shail E. Retained orbital wooden foreign body: a surgical technique and rationale. Ophthalmology. 2002; 109:393-399. [5] John SS, Rehman TA, John D, Raju RS. Missed diagnosis of a wooden intra-orbital foreign body. Indian Ophthalmolgy. 2008; 56(4):322-324. [6] Lee JA, Lee HY. A case of retained wooden foreign body in orbit. Korean J Ophthalmol. 2002; 16:114-118. 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Avenida Antônio Carlos, 6627, Bairro Pampulha, Caixa Postal 359, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil, CEP 31270-901. [email protected] Recebido em 04/05/2016. Aceito para publicação em 07/07/2016 RESUMO A osteíte alveolar é uma condição dolorosa que ocorre de três a cinco dias após a exodontia, caracterizada por dor forte e contínua, além de odor fétido, com paredes ósseas alveolares expostas sem cobertura protetora. Por ser necessário retorno do paciente ao consultório para tratar esta condição, ocorre diminuição da produtividade, além de deixar o paciente insatisfeito com os resultados do tratamento, portanto, encontrar uma abordagem ideal para o manejo da osteíte alveolar é algo de extremo interesse. O objetivo desta revisão da literatura científica é abordar as características clínicas, etiologia, prevalência, fatores de risco, mecanismos que podem reduzir a ocorrência e técnicas de tratamento da osteíte alveolar. O conhecimento dos fatores de risco e dos cuidados pré, trans e pós-operatórios, por parte do cirurgião dentista, podem reduzir a ocorrência desta complicação. Além do tratamento convencional para redução da dor, esta revisão da literatura científica apresenta materiais e técnicas promissoras para aceleração do processo cicatricial, como o Neocone®, o ácido tranexâmico e a laser terapia de baixa potência. PALAVRAS-CHAVE: osteíte alveolar, alvéolo seco, alveolite, osteíte localizada, periostite alveolar ABSTRACT Alveolar osteitis is a painful condition that occurs three to five days after extraction, characterized by strong and continuous pain, and foul-smelling, with alveolar bone exposed walls without protective covering. Because it is necessary return the patient to the clinic to treat this condition, there is a decrease in productivity, and leave the patient dissatisfied with the results of treatment, so finding an ideal approach for the management of alveolar osteitis is something of extreme interest. The aim of this review is to discuss the clinical features, etiology, prevalence, risk factors, mechanisms that can reduce the occurrence and alveolar osteitis treatment techniques. When the dentist knows the risk factors and the cautions that should be taken in the pre, trans and post-operative, the occurrence of this complication can be BJSCR (ISSN online: 2317-4404) reduced. In addition to the conventional treatment for pain reduction, this review of the scientific literature shows promising materials and techniques for accelerating the healing process, as Neocone®, tranexamic acid and low level laser therapy. KEYWORDS: Alveolar Osteitis, Dry Socket, Alveolar Periostitis, Fibrynolitic alveolitis 1. INTRODUÇÃO O termo alvéolo seco foi descrito pela primeira vez na literatura científica por Crawford¹, em 1896 e embora continue a ser utilizado, outros termos como osteíte alveolar, alveolite, osteíte localizada, alveolalgia, periostite alveolar e alveolite seca dolorosa são utilizados popularmente para descrever esta condição²-6. É uma condição dolorosa que ocorre de três a cinco dias após a exodontia, caracterizada por dor forte e contínua, além de odor fétido, com paredes ósseas alveolares expostas sem cobertura protetora. Pode ser descrita pelo mecanismo de destruição da fibrina do coágulo sanguíneo antes que o mesmo seja substituído por tecido de granulação4. É uma condição relativamente frequente após extrações de terceiros molares, tendo algumas pesquisas importantes apresentado dados de prevalência que variam entre 1 a 45% após cirurgias nessa região e 2 a 4% após extrações simples em outras regiões4,5,7-9. Há um consenso que essa condição pode resultar em diminuição da produtividade no consultório do cirurgião, pois pelo menos 45% dos casos requerem múltiplas visitas para manejo dos sintomas10, além de fazer com que os pacientes fiquem insatisfeitos com os resultados do tratamento, portanto, encontrar uma abordagem ideal para o manejo desta condição é um assunto de interesse3. Esta revisão da literatura científica tem como objetivo descrever as características clínicas, etiologia, prevalência, fatores de risco e mecanismos que podem reduzir a Openly accessible at http://www.mastereditora.com.br/bjscr Monteiro et al. / Braz. J. Surg. Clin. Res. ocorrência desta condição, além de abordar técnicas de tratamento. 2. MATERIAL E MÉTODOS Foi realizada pesquisa nas seguintes bases de dados: PubMed, SciELO, LILACS, Portal de Periódicos CAPES, revistas eletrônicas, monografias e livros textos com ISBN, abrangendo artigos com os relatos iniciais de osteíte alveolar até os dias atuais. Não houve restrição de linguagem, sendo selecionados artigos na língua portuguesa e inglesa. As palavras-chave utilizadas foram: osteíte alveolar, alvéolo seco, alveolite, osteíte localizada, periostite alveolar, alveolar osteitis, dry socket, alveolar periostitis, fibrynolitic alveolitis. 3. DESENVOLVIMENTO Caracterização Clínica A OA é um atraso na cicatrização, mas não é associado a uma infecção. Essa complicação pós-operatória causa dor moderada a intensa, mas sem que tenha sinais ou sintomas característicos de infecção, como febre, edema e eritema. A expressão alvéolo seco descreve a aparência do alvéolo do dente extraído quando a dor começa. Ao exame clínico, o alvéolo dentário aparenta estar vazio, com perda parcial ou total do coágulo sanguíneo, podendo algumas superfícies do alvéolo estar expostas. A exposição óssea é sensível e é a fonte da dor. A dor é indefinida, de moderada a intensa, normalmente lateja e quase sempre irradia para o ouvido do paciente. A área alveolar tem odor ruim e o paciente frequentemente reclama de um gosto desagradável4,5. Nas primeiras 24 horas após a remoção do dente, os pacientes relatam uma melhora inicial ou redução da dor, mas em seguida desenvolvem uma dor severa, debilitante e constante, que continua durante a noite e se torna mais intensa em 72 horas após a extração. A gengiva adjacente pode se apresentar com aspecto avermelhado, inflamado e frágil6. Prevalência A ocorrência de OA após extrações simples foi descrita como rara (2%), porém, frequente depois da remoção dos terceiros molares mandibulares impactados ou outros dentes molares inferiores (20% das extrações de alguma destas séries)4,8,9. Parthasarathi el al. (2011)8 publicaram um estudo prospectivo comunitário, onde foi avaliada série consecutiva de 564 exodontias em 284 pacientes, tendo ocorrido 13 casos de osteíte alveolar em 12 pacientes, ou seja, incidência de 2,3% por extração e 4,2% por paciente. Em contraste com outros estudos que utilizaram análise univariada, a análise multivariada deste estudo levou a conclusão que, pacientes com dentes extraídos em razão de BJSCR (ISSN online: 2317-4404) V.15,n.3,pp.68-72 (Jun – Ago 2016) doença periodontal tem 7,5 vezes mais chances de desenvolver OA. Nenhum paciente que estava sob uso de antibiótico sistêmico desenvolveu OA, nem pacientes com boa higiene oral. A análise multivariada também demonstrou maior predisposição dos dentes posteriores para desenvolver OA (OR 5,2), a hipótese mais comum para explicar este achado é que dentes posteriores podem sofrer maior trauma durante a extração. Nusair e Goussous7 apresentaram em 2006 resultados que indicavam prevalência de 4% após extrações simples e 45% após extrações de terceiros molares. Eshghpour e Nejat, publicaram estudo em 2013, relatando incidência de 19,14% após exodontia de terceiros molares mandibulares impactados. Etiologia Ainda não foi claramente definida, mas sabe-se que resulta de uma condição de lise total do coágulo de sangue formado, antes que ele seja substituído por tecido de granulação, levando a exposição do osso. A atividade fibrinolítica pode resultar de infecções subclínicas, inflamação do espaço da medula óssea, saliva, tecido ou bactérias4,5,11-13. O papel da bactéria nesse processo pode ser confirmado empiricamente baseado no fato de que profilaxia tópica e sistêmica reduz a incidência de OA em 50 a 75%11-13. Fatores de Risco Ciclo menstrual e uso de contraceptivo oral Eshghpour et al. (2013)14 realizaram um estudo de boca-dividida, randomizado, cego, para avaliar a frequência de OA e o ciclo menstrual, além de incluir uso de contraceptivo oral como variável. O estudo contou com 145 mulheres, com média de idade de 24 anos, que foram submetidas a 290 extrações de terceiro molar. Das 145 mulheres, 79 faziam uso de contraceptivo oral e 66 não utilizavam tal medicação. Foi observado que a frequência de OA foi significativamente maior, no meio do ciclo, em pacientes que utilizavam contraceptivos orais em comparação com as não usuárias. Não houve diferença significativa entre os 2 grupos durante o período menstrual. Este estudo levou a conclusão que o ciclo menstrual e o uso de contraceptivo oral podem ser um fator de risco determinante na ocorrência de OA e sugeriu que procedimentos eletivos fossem realizados durante o período menstrual, tanto em pacientes usuárias de contraceptivo oral, como em não usuárias, para eliminar o efeito das alterações hormonais relativas ao ciclo no desenvolvimento da OA. Xu et al. (2015)15 publicaram meta análise em 2015 e os resultados sugeriram que o uso de contraceptivos orais pode promover a incidência de AO em mulheres que passaram por procedimento cirúrgico para extração de terceiros molares impactados. Extração traumática, uso de tabaco e infecção prévia do sítio cirúrgico Openly accessible at http://www.mastereditora.com.br/bjscr Monteiro et al. / Braz. J. Surg. Clin. Res. Halabí et al. (2012)16, publicaram os resultados de um estudo prospectivo com aninhamento para caso-controle, para avaliar fatores de risco para o desenvolvimento de osteíte alveolar, como gênero, higiene oral, localização do dente, infecção prévia do sítio cirúrgico, extração traumática, doenças sistêmicas, consumo de álcool e uso de tabaco. Foram encontradas associações estatísticas significantes entre extração traumática (odds ratio 13,1), uso de tabaco após a extração (odds ratio 3,5), infecção prévia do sítio cirúrgico (odds ratio 3,3) e o desenvolvimento de OA. Cuidados que contribuem para a redução da ocorrência A ocorrência de OA pode ser reduzida por muitas técnicas, muitas das quais reduzem a contaminação bacteriana do sítio cirúrgico. Cuidados pré-operatórios Evidências suportam que a irrigação com agentes antimicrobianos como a clorexidina a 0,12% logo antes do procedimento, ou iniciada uma semana antes do procedimento, pode reduzir a incidência de OA em até 50%11-13,17. Cuidados trans-operatórios O cirurgião dentista deve minimizar o trauma e a contaminação bacteriana na área da cirurgia. Ele deve promover uma cirurgia atraumática com incisões limpas e reflexão dos tecidos moles. O alvéolo deve ser debridado apenas se necessário. Se lesão periapical é visível na radiografia pré-operatória e não houver granuloma preso ao dente quando este é removido, a região periapical deve ser curetada cuidadosamente com uma cureta periapical para remover o granuloma ou cisto. Se algum resíduo como cálculo dental, amálgama, ou fragmento de dente permanecer no alvéolo, ele deve ser gentilmente removido com cureta ou ponta do aspirador. Entretanto, se não há nem lesão periapical nem debris, o alvéolo não deve ser curetado. Os remanescentes do ligamento periodontal e o das paredes ósseas sangrantes estão nas melhores condições para gerar cura rápida. Curetagem vigorosa desse alvéolo produz apenas lesão adicional e pode atrasar a cicatrização4,5. Uma abundante irrigação com solução salina ao final da cirurgia, a colocação de uma esponja de gelatina embebida em tetraciclina no alvéolo, também são métodos indicados para redução da OA11-13. A colocação de gel de clorexidina 0,2% no alvéolo no momento da cirurgia também demonstrou reduzir a incidência de OA em um estudo randomizado, duplo-cego, realizado em terceiros molares mandibulares18. Cuidados pós-operatórios A continuação de bochechos com clorexidina 0,12% até 1 semana após o procedimento são meios efetivos na BJSCR (ISSN online: 2317-4404) V.15,n.3,pp.68-72 (Jun - Ago 2016) redução substancial da incidência de OA11-13. Em um estudo prospectivo, randomizado, duplo-cego, controlado com placebo, este regime foi associado a uma redução de 50% na OA em comparação com o grupo controle17. Tratamento O tratamento da OA tem como principal objetivo terapêutico aliviar a dor do paciente durante o período de cicatrização4,5. Irrigação O alvéolo deve ser gentilmente irrigado com soro fisiológico a 0,9% toda vez que for trocada a gaze, para remoção de restos teciduais, proporcionando limpeza da região. O excesso da substância salina deve ser aspirado 2,4,5. Curativo Uma pequena tira de gaze umedecida com iodofórmio ou alguma medicação é inserida no interior do alvéolo com uma pequena pinça para gaze e deixada em contato com a ferida. Após a inserção da gaze com medicamento no alvéolo, o paciente usualmente experimenta alívio profundo em cinco minutos. A gaze é trocada todo dia nos próximos três a seis dias4,5, ou até a cura11-13. Uma vez que a dor do paciente diminui, não se deve trocar a gaze por outra nova, porque ela age como um corpo estranho e agirá prolongando a cicatrização da ferida4,5. Medicamentos de uso tópico Um composto medicamentoso que pode ser utilizado para alívio da dor, contém os seguintes ingredientes principais: eugenol, que diminui a dor dos tecidos ósseos; um anestésico tópico, como benzocaína; e um veículo carreador, como bálsamo do Peru4,5. Há evidência de que antibióticos de uso tópico, como o metronidazol, podem acelerar a cura da OA11-13. Medicamentos de uso sistêmico Analgésicos comuns, que não precisam de receita, apresentam pouca melhoria no tratamento da dor. Uma preparação de paracetamol com codeína e um AINEs por curto período de tempo são recomendados. Os antibióticos de uso interno não devem ser prescritos no tratamento da OA, a menos que o paciente seja imunocomprometido, ou se há risco de desenvolvimento de osteomielite6. Tempo para remissão da dor Muitas vezes a dor se resolve de 3 a 5 dias, embora em alguns pacientes ela possa permanecer por até 14 dias11-13. Curetagem do alvéolo Medeiros2 (2011) contraindica a curetagem do alvéolo, alegando que esse procedimento retardaria a reparação, Openly accessible at http://www.mastereditora.com.br/bjscr Monteiro et al. / Braz. J. Surg. Clin. Res. além de permitir que o processo que está localizado se dissemine, ultrapassando a barreira de defesa existente sob o alvéolo. Ele aconselha que a cureta seja utilizada apenas para a remoção delicada de restos de coágulo e material necrosado. Em linha de raciocínio semelhante, Hupp4 (2007) alega que o alvéolo não deve ser curetado diretamente no osso, porque isso aumentaria a quantidade de osso exposto e consequentemente, de dor. Usualmente, nem todo o coágulo sofre lise e sua parte ainda intacta deve ser mantida. Materiais e técnicas que podem ser utilizados como coadjuvantes no tratamento Neocone®, Alvogyl®, Óxido de Zinco e Eugenol Faizel et al. (2015)19 realizaram um ensaio clínico randomizado duplo cego, para comparar a eficiência do Neocone® (Fabricado por Septodont India Pvt. Limitada. Conteúdo - Sulfato B de polimixina, tyrothricin, sulfato de neomicina, cloridrato de tetracaína), Alvogyl ® (Fabricado por Septodont India Pvt. Limitada. Conteúdo - iodoformio 15,8 mg, eugenol B.P. 13,7 mg, e butesina 25,7 mg) e Óxido de Zinco e Eugenol (Fabricado por Septodont India Pvt. Limitada) para tratamento da OA. O Neocone® foi considerado o melhor material para manejo da OA, pois leva a alívio completo da dor em menor tempo, necessita menor número de visitas para trocar o material e leva a cicatrização mais rápida do alvéolo. O Alvogyl® se provou eficiente para o alívio rápido da dor, porém, sua ação tem curta duração. O Óxido de Zinco e Eugenol foi considerado o medicamento mais barato e facilmente disponível. Ácido tranexâmico O ácido tranexâmico é um agente fibrinolítico que impede a degradação proteolítica da fibrina, impedindo a ligação do plasminogênio e plasmina, que são enzimas presentes no sangue e que são responsáveis pela degradação dos coágulos de fibrina ou fibrinólise20. Estudos indicam que este agente pode não apenas reduzir a incidência da OA, mas aparentemente contribuir para a cicatrização do alvéolo pós-cirúrgico quando utilizado de maneira tópica21,22 ou sistêmica, além de possuir as vantagens de ser um material seguro, de baixo custo e fácil acesso22. Laser terapia de baixa potência (LTBP) A laser terapia de baixa potência tem sido utilizada para tratamento da dor nos últimos 25 anos. O mecanismo que alivia a dor não está completamente elucidado, embora acreditem que a LTBP ajuda a reduzir a inflamação através da inibição da segunda via da cicloxigenase e consequentemente das prostaglandinas, que são potentes mediadores inflamatórios23. O efeito da LTBP na ferida cicatricial tem sido atribuído a aumento na mobilidade de queratinócitos, promoção de epitelização acelerada, ganho na BJSCR (ISSN online: 2317-4404) V.15,n.3,pp.68-72 (Jun – Ago 2016) proliferação de fibroblastos e aprimoramento da neovascularização24. Alguns estudos compararam a eficácia da LTBP com outros materiais frequentemente utilizados para manejo da OA. Kaya et al. (2011)10 observaram diferenças estatísticas significativas no alívio da dor e cicatrização em pacientes que receberam tratamento da OA através da LTBP com comprimento de onda de 808nm, durante 60 segundos (6J ou 7,64J/cm²), quando comparado a outro material como o Alvogyl® e a um grupo controle que recebeu apenas irrigação com soro fisiológico. Os procedimentos de tratamento contaram com uma sessão inicial e foram repetidos após três dias. Eshghpour et al. (2015)3 publicaram os resultados de um ensaio clínico prospectivo randomizado, desenvolvido para investigar a eficácia do laser de baixa potência no manejo da dor causada pela OA, além de comparar os efeitos com a terapia a base de Alvogyl®. Eles observaram que o efeito imediato do Alvogyl® na redução da dor dos pacientes afetados com OA foi significativamente maior do que o efeito dos lasers de baixa potência, mas após o segundo dia de intervenção, o laser utilizando o comprimento de onda de 660 nm, tornou-se mais eficaz, sendo considerado uma alternativa promissora no tratamento da OA. Neste estudo o laser de baixa potência foi utilizado por três dias consecutivos, aplicado durante 30 segundos em cada superfície bucal, lingual e no meio do alvéolo, totalizando 6J por área. 4. CONCLUSÃO A ocorrência de OA nas cirurgias de rotina e na prática odontológica é inevitável, entretanto, o conhecimento dos fatores de risco e dos cuidados pré, trans e pós-operatórios, por parte do cirurgião dentista, podem reduzir a ocorrência desta complicação. Embora alguns autores afirmem que o tratamento da OA não influencia no processo de cicatrização e que se o paciente não receber nenhum tratamento, nenhuma sequela além de dor continuada existirá4,5, estudos têm indicado que materiais e técnicas como o Neocone®19, o ácido tranexâmico21,22 e a laser terapia de baixa potência3,10, podem ser alternativas promissoras para aceleração do processo cicatricial. Estudos que comparem a efetividade da clorexidina nas concentrações de 0,12 e 0,2%, para tratamento da OA são necessários para o enriquecimento da literatura científica. REFERÊNCIAS [1] [2] Crawford JY. Dry sockets after extraction. Dent Cosmos 1896; 38:929-931. Medeiros PJ. Cirurgia dos dentes inclusos: extração e aproveitamento. 1ª ed. São Paulo: Santos, 2011. Openly accessible at http://www.mastereditora.com.br/bjscr Monteiro et al. / Braz. J. Surg. Clin. Res. 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Docente da graduação em Enfermagem da UNINOVAFAPI, Teresina, PI. Doutoranda em Enfermagem pela UFPI. *Avenida Newton Bello, 129, Centro, Fortuna, Maranhão, Brasil, CEP: 65695-000. [email protected] Recebido em 28/05/2016. Aceito para publicação em 17/07/2016 RESUMO A infecção associada ao cuidado à saúde (IRAS) é uma séria problemática e um desafio em âmbito mundial ainda mais diante da variabilidade de procedimentos diagnósticos e terapêuticos. Nesse sentido, estabeleceu-se como objetivo principal desse estudo buscar evidências sobre a associação entre o uso de Cateter Venoso Central (CVC) impregnado com antissépticos e a redução da Infecção da Corrente Sanguínea (ICS). Tratou-se de um estudo de revisão integrativa da literatura. Entendemos que outras pesquisas acerca de prevenção de ICS relacionada ao CVC são necessárias no sentido de elucidar questionamentos ainda sem respostas, auxiliar na tomada de decisão frente às controvérsias, apoiar a implementação de novas tecnologias e a sua aplicabilidade na prática, o que sem dúvida, repercutirá na qualidade da assistência aos pacientes submetidos à cateterização venosa central. PALAVRAS-CHAVE: Terapia Intensiva, infecções, enfermagem baseada em evidencias. controle de ABSTRACT The infection associated with health care (IRAS) is a serious problem and a challenge worldwide even before the variability of diagnostic and therapeutic procedures. In this sense, it was established as the main objective of this study to find evidence on the association between the use of Central Venous Catheter (CVC) impregnated with antiseptic and reducing bloodstream infection (ICS). This was an integrative review. We consider that further research about ICS prevention related to CVC are necessary in order to clarify questions without answers, assist in taking forward the decision to the disputes, support the implementation of new technologies and their applicability in practice, which undoubtedly have repercussions on the quality of care for patients undergoing central venous catheterization. KEYWORDS: intensive care, infection control, nursing based on evidence. BJSCR (ISSN online: 2317-4404) 1. INTRODUÇÃO A infecção associada ao cuidado à saúde (IRAS) é uma séria problemática e um desafio em âmbito mundial ainda mais diante da variabilidade de procedimentos diagnósticos e terapêuticos. Especificamente, a infecção relacionada ao cateter vascular é preocupante face a sua gravidade e letalidade. Tem etiologia complexa e multifatorial. Estudos destacam a situação clínica do paciente, o tipo de cateter, sua composição, a técnica de inserção, a localização, a frequência de manipulação do sistema e a duração da cateterização aspectos que merecem atenção1. Por tudo isso observa-se que é necessário o conhecimento da equipe multiprofissional sobre os riscos de infecções relacionadas a procedimentos invasivos em especial o cateter vascular, pois o tempo e a sua permanência são as principais evidencias para o aparecimento de sítios de infecção na unidade de terapia intensiva. O emprego do cateter venoso central em ambiente hospitalar corresponde a um avanço para a prática clínica, sendo ferramenta indispensável no cuidado ao paciente, principalmente para aqueles em situação crítica. Neste grupo de pacientes, o cateter de curta permanência é o mais comumente empregado, uma vez que é indicado quando se necessita de acesso central por curto período de tempo (sete a dez dias)2. O aparecimento de múltiplas técnicas e desenvolvimento tecnológico relacionado ao acesso vascular permitiu o salvamento, assim como o prolongamento, da vida de incontáveis pacientes. Mas sua utilização não está isenta de complicações, pois Openly accessible at http://www.mastereditora.com.br/bjscr Lima & Batista / Braz. J. Surg. Clin. Res. muitas vezes podem evoluir de forma catastrófica. Assim, se faz necessária a devida atenção desde a inserção até a sua retirada. Segundo Pedrolo et al. (2014)2, a despeito de sua ampla utilização, os cateteres centrais expõem o paciente a complicações, dentre as quais se destaca a infecção primária da corrente sanguínea, devido aos elevados índices de morbimortalidade associados. Esta corresponde à primeira infecção da corrente sanguínea nos pacientes em uso de cateter central por tempo superior a 48 horas, e cuja infecção sanguínea não seja relacionada a outro sítio Uma das formas de prevenir essa complicação é mediante a oclusão do óstio do cateter central com curativo estéril, para o qual estão disponíveis diversas tecnologias no mercado. Frente a isto, objetivou-se identificar fatores relacionados à ocorrência de infecção, reação local e má fixação de curativos para cateter venoso central2. O uso de antissépticos tem sido investigado como uma das possibilidades de modificar as propriedades da superfície do dispositivo, e diminuir a colonização microbiana do cateter. O reconhecimento dessa possibilidade tem implementado nas últimas décadas o uso de cateteres impregnados com antisséptico1. Segundo Assis et al. (2007)3, a infecção da corrente sanguínea é responsável por 10 a 15% de todas as infecções hospitalares. Nos Estados Unidos, estima-se que 87% das infecções de corrente sanguínea sejam devidas a cateteres. No Brasil, a taxa de infecção da corrente sanguínea relacionada a cateter é de 17,05/1000 dispositivos invasivos-dia, considerando-se um percentil de 95%. Apesar dessa não ser a principal dentre as infecções hospitalares, acarreta grande ônus para os estabelecimentos de saúde, uma vez que prolonga o tempo de internação, aumenta o custo do tratamento e coloca em risco a vida dos clientes4. O curativo do acesso venoso central é uma maneira de proteger o sítio de inserção do cateter da colonização por bactérias. Atualmente, existem diferentes curativos no mercado, sendo que o de gaze e fita e o filme transparente de poliuretano são os mais utilizados. Esses curativos variam na durabilidade, facilidade de aplicação, capacidade de desenvolver reação cutânea e capacidade de prevenir infecções5. Para Bacuzzi (2006)6, o uso de antissépticos tem sido investigado como uma das possibilidades de modificar as propriedades da superfície do dispositivo, e diminuir a colonização microbiana do cateter. O reconhecimento dessa possibilidade tem implementado nas últimas décadas o uso de cateteres impregnados com antissépticos. Diante do exposto, o presente estudo utilizará a Prática Baseada em Evidências (PBE), uma vez que sua BJSCR (ISSN online: 2317-4404) V.15,n.3,pp.73-81 (Jun – Ago 2016) abordagem proporcionará a aplicação sistemática da melhor evidência disponível para a avaliação de opções e tomada de decisão no cuidado integral do paciente7. Nesse sentido, estabeleceu-se como objetivo principal desse estudo buscar evidências sobre a associação entre o uso de Cateter Venoso Central (CVC) impregnado com antissépticos e a redução da Infecção da Corrente Sanguínea (ICS). 2. MATERIAL E MÉTODOS Tratou-se de um estudo de revisão integrativa da literatura operacionalizada a partir das seguintes etapas: identificação do tema e seleção da questão de pesquisa; estabelecimento de critérios de inclusão e exclusão; identificação dos estudos pré-selecionados e selecionados; categorização dos estudos selecionados; análise e interpretação dos resultados e apresentação da revisão/ síntese do conhecimento8. As perguntas que nortearam este estudo foram: qual a prevalência de infecção relacionado a cateter venoso central em pacientes da unidade de terapia intensiva? Quais os métodos de segurança que previnem esse tipo de infecção hospitalar? Fernandes (2000)9 afirma que a revisão integrativa é uma análise ampla da literatura, contribuindo para compreensão sobre métodos e resultados de pesquisas, bem como na identificação do direcionamento de futuras investigações. A elaboração da revisão deve seguir padrões de rigor metodológico, os quais possibilitam ao leitor identificar as características reais dos estudos analisados. O resultado de uma revisão da literatura bem elaborada, sobre um determinado tema clínico, acarreta impacto benéfico direto na qualidade dos cuidados prestados ao paciente. O propósito inicial da revisão integrativa da literatura é a obtenção de um entendimento profundo sobre o fenômeno a ser investigado, com o objetivo de apresentar o atual conhecimento sobre um tópico específico ou esclarecer assuntos ainda obscuros. Além disso, torna-se essencial que as fontes escolhidas expressem a representatividade do todo, para que o processo seja organizado e conciso10. Na pesquisa bibliográfica ocorre o desencadeamento de uma série de etapas, tais como: escolha de tema, levantamento bibliográfico, formulação do problema (pergunta), elaboração do plano provisório de assunto, busca de fontes, leitura do material, fichamento, organização lógica do assunto e redação do texto11. Neste estudo o tema escolhido foi “infecção de corrente sanguínea” devido ao grande aumento de casos vividos diariamente em unidades de terapia intensiva e por estar relacionada a causas multifatoriais e apresentarem fisiopatologia, critérios diagnósticos, implicações terapêuticas, prognósticas e preventivas distintas. Openly accessible at http://www.mastereditora.com.br/bjscr Lima & Batista / Braz. J. Surg. Clin. Res. Para a seleção da amostra foi estabelecido os seguintes critérios de inclusão: artigos online disponíveis na íntegra que aborde o tema infecção de corrente sanguínea publicados no idioma português no período de 2008 a 2016. Como critérios de exclusão optou-se por: estudos em formatos de editoriais, estudos de caso, estudos epidemiológicos, dissertações, teses e comentários. Para realizar esta pesquisa foi feita uma busca eletrônica no banco de dados SCIELO, usando os seguintes descritores: terapia intensiva, controle de infecções, enfermagem baseada em evidencias. Em seguida, foi realizada uma leitura exploratória, seguida da seletiva e, por fim, a análise do material selecionado. Posteriormente foi feito o fichamento com a devida identificação das fontes e o registro dos conteúdos pertinentes, para reunir sistematicamente o material colhido dos artigos selecionados para o estudo11. Por fim, os dados foram apresentados em quadros e analisados conforme os objetivos do estudo. 3. DESENVOLVIMENTO As Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) se utilizam de medidas extremas como medicações e dispositivos invasivos, que paradoxalmente, podem desencadear complicações e efeitos colaterais. Entre essas complicações, a infecção hospitalar se destaca pela sua frequência e importância12. O uso de cateter venoso central (CVC) vem se tornando prática indispensável nos cuidados aos pacientes hospitalizados, particularmente, os mais graves. Na Europa 60% dos pacientes hospitalizados, fazem uso do CVC em algum momento da internação13. A infecção relacionada ao cuidado ao cuidado à saúde é apontada como uma das mais serias problemáticas e um desafio em âmbito mundial. E, esse agravo se torna ainda maior mediante a variabilidade de recursos e condutas aplicadas na assistência, seja no domicilio ou na instituição14. Quando se fala de infecção hospitalar é importante destacar sua participação significativa nas taxas de morbimortalidade, no aumento do período de hospitalização, e, por conseguinte na elevação dos custos. Acresce-se que o risco de infecção está diretamente relacionado às condições clínicas do paciente, extremos de idade, comorbidades, condições nutricionais, dentre outros aspectos15. As Utis são unidades especializadas dentro dos hospitais, destinadas ao tratamento de pacientes cuja sobrevivência se encontra ameaçada por doenças ou condição que causa instabilidade ou disfunção de um ou mais sistemas fisiológicos. Os leitos de terapia intensiva representam mais ou menos 10% dos leitos de um hospital, porém a maioria das infecções hospitalares graves ocorre com os pacientes internados nessas BJSCR (ISSN online: 2317-4404) V.15,n.3,pp.73-81 (Jun - Ago 2016) unidades12. No Brasil, a Portaria n° 2615 de 1998 considera infecção hospitalar qualquer manifestação clínica de infecção que manifeste após a admissão e que se manifeste durante a internação ou com procedimentos hospitalares. As topografias mais frequentes são trato urinário, aparelho respiratório, sítio cirúrgico e corrente sanguínea, com distribuição percentual variando, respectivamente de 40,8 a 42%, 11 a 32,9%, 8 a 24% e 5 a 9,2%16,17. A utilização de CVC representa significativo avanço no diagnóstico e na terapêutica em saúde. Nos recém-nascidos e crianças, são indicados para terapia medicamentosa, monitorização hemodinâmica, administração de nutrição parenteral total. Alguns procedimentos cirúrgicos e clínicos são realizados com o desenvolvimento dessa tecnologia na internação13. Trata-se de um dispositivo de acesso direto a corrente sanguínea, o uso do cvc está associado a complicações mecânicas e infecciosas, locais ou sistêmicas, descritas como celulite do sítio de inserção, endocardite, bacteremia e infecção metastática. A patogenia da infecção de corrente sanguínea é multifatorial, podendo ocorrer por contaminação da solução de infusão, nas conexões entre cateter e as linhas de infusão e/ou colonização endógena do cateter. Várias condições tem sido apontadas como fatores de risco para o desenvolvimento das infecções relacionadas ao cateter venoso central (CVC). A duração do cateterismo, a colonização cutânea no local de introdução do cateter, a manipulação frequente da linha venosa, a utilização do cateter para medir a pressão venosa central, o tipo de curativo usado, a doença de base e a gravidade dos estados clínicos são considerados os fatores mais importantes12. As infecções de corrente sanguínea relacionada a cateter ocorrem quando o germe presente no local de inserção atinge a corrente sanguínea, resultando em bacteremia, que quando não contida, provoca infecção com grave comprometimento clínico, podendo resultar em septicemia. Essa infecção a partir do cateter deve ser suspeita quando existe um foco infeccioso primário aparente e quando as hemoculturas (do sangue da ponta do cateter), colhidas após 48h de internação, resultarem no crescimento do mesmo agente infeccioso18. Com relação a infecção sanguínea relacionada a cateter, as taxas de infecção variam de acordo com o local de implante, o tipo de cateter empregado, a categoria do CTI (queimados, trauma, pós-operatório) e as comorbidades dos pacientes18. A Seleção do sítio de inserção pode ser um importante fator de risco, com base em estudos observacionais que sugerem taxas mais altas para cateteres inseridos na jugular em comparação com a Openly accessible at http://www.mastereditora.com.br/bjscr Lima & Batista / Braz. J. Surg. Clin. Res. subclávia; e ao comparar cateteres nas femurais com aqueles inseridos em subclávia e jugular interna. A veia jugular, depois da veia femural, é a que segue quando analisamos a literatura em relação ao risco de contaminação devido ao fato deste local ser próximo à região das traqueostomias dos pacientes na terapia intensiva, o que favorece o contato com secreções das vias aéreas, além da facilidade do deslocamento do cateter pela movimentação do pescoço possibilitando a contaminação dos mesmos. A seleção do local de inserção é baseada na facilidade de inserção, na habilidade de quem insere, no risco de infecção, trombose e complicações do procedimento. O tipo de CVC é selecionado de acordo com a finalidade da utilização, levando em consideração as características individuais do paciente, além de sua condição clínica e limitações, e em com consonância com algumas variáveis como: tempo de utilização (temporário ou curta duração, permanente ou de longa duração), sítio de inserção (subclávia, femural, jugular interna, periférica, cateter central, inserido perifericamente), percurso até o vaso (tunelizado e não tunelizado), extensão física (longo ou curto). A constituição é variável, podendo apresentar impregnação com heparina, antibióticos e antissépticos, diferente número de lumens, dentre outros19. A utilização de cateteres venoso central é essencial para o cuidado do paciente hospitalizado que requer um acesso central, sendo suas vantagens praticamente praticamente indiscutíveis. Porém, podem existir complicações mecânicas e/ou infecciosas20. Dentre as complicações mecânicas estão a formação de trombos, punção arterial acidental, pneumotórax, oclusão ou colapso do dispositivo, extravasamento do liquido infundido, arritmias cardíacas, embolia gasosa durante a inserção do cateter, sangramentos e formação de hematomas. Vale ressaltar que durante a cauterização prolongada, as conexões dos cateteres são manipuladas diversas vezes, o que aumenta possibilidade do desenvolvimento de uma infecção da corrente sanguínea da colonização 12. Em relação às complicações infecciosas desde a década de 60 a literatura informa que são frequentes as complicações sépticas, variando desde uma supuração local, até uma infecção sistêmica. As infecções relacionadas ao acesso vascular são descritos como celulite no sitio de inserção, flebite, tromboflebite séptica, bacteremia, abcesso pulmonar, cerebral e artrite19,21. O tempo de permanência do cateter venoso central é o principal fator determinante para o desenvolvimento da infecção de corrente sanguínea. O risco de infecção aumenta proporcionalmente com a permanência do cateter venoso central. BJSCR (ISSN online: 2317-4404) V.15,n.3,pp.73-81 (Jun – Ago 2016) O CDC recomenda que a taxa de infecção da corrente sanguínea relacionada a cateter (ICSRC) (infecção de corrente sanguínea relacionada a cateter central), seja calculada com base no número de ICSRC por 1000 cateteres venosos centrais/dia, pois este parâmetro é mais útil que a taxa expressa por 100 cateteres (ou percentual de cateteres estudados, devido a interferência do tempo na determinação da infecção e, o portanto, há ajuste do risco pelo numero de dias de uso do cateter19. Vale ressaltar que é alarmante que é alarmante a evidência de que aproximadamente 90% das infecções de corrente sanguínea (ICS) estão associadas ao uso de CVC14. Em relação a constituição, são vários os autores que demonstram benefícios na utilização de cateteres impregnados com agentes antissépticos e anticoagulantes, além da técnica de “lock” de antibiótico, onde o mesmo é introduzido através do lúmen do cateter, permanece por algumas horas e depois é removido. Todas essas medidas visam a proteção de aderência microbiana, e consequentemente, o desenvolvimento de infecção relacionada ao cateter22. Desde a sua introdução, esses cateteres tem sido preferidos para pacientes que exigem acesso central. No entanto, podem induzir a taxas mais altas de colonização e ICSRC devido à frequência de manipulação, com pacientes recebendo nutrição parenteral23. Ainda em relação à sua constituição, são vários os autores que demonstram benefícios na utilização de cateteres impregnados com agentes antissépticos e anticoagulantes, além da técnica de “lock” de antibiótico, onde o mesmo é introduzido através do lúmen do cateter, permanece por algumas horas e depois é removido. Todas essas medidas visam à prevenção de aderência microbiana e consequentemente, o desenvolvimento de infecção relacionada ao cateter23. Quanto aos fatores de risco envolvidos, a utilização de CVC de múltiplos lúmens resulta em vantagens para pacientes que necessitam de diversas medicações intravenosas, testes laboratoriais, transfusões de hemoderivados e nutrição parenteral. No entanto, podem induzir a taxas mais altas de colonização e ICSRC devido à frequência de manipulação, com possibilidade de inoculação de microrganismos. E, estudos clínicos realizados com objetivo de comparar essas taxas entre os cateteres de diferentes números de lumens ainda permanecem com discrepâncias significativas entre seus resultados24. Em relação ao aparecimento de infecções no sítio de inserção do cateter merece atenção a densidade da microbiota cutânea no local. São vários os que recomendam a inserção preferencial do CVC na veia subclávia que na veia jugular, pois esta localização está mais distante da orofaringe e o dispositivo pode ser mais Openly accessible at http://www.mastereditora.com.br/bjscr Lima & Batista / Braz. J. Surg. Clin. Res. facilmente fixado. Ainda, a inserção na veia femural figura como última opção. Não obstante, outros fatores devem ser levados em consideração, como estenose da veia subclávia, habilidade do profissional e fatores inerentes ao paciente como deformidade anatômica, risco elevado de sangramento e pneumotórax25. (TRICK et al., 2006). De acordo com a literatura no que se trata da antissepsia, são vários estudos que avaliam a atividade microbiana de composto a base de iodo, clorexidina, ou álcool 70%26 (BANTON, 2006). Em se tratando de curativos no local de inserção do cateter, os mais utilizados são os transparentes semipermeáveis de poliuretano, assim como os realizados com faze e fita adesiva. Hoje em dia com os avanços tecnológicos existem infinitas marcas de curativos com suas respectivas indicações como o filme transparente de poliuretano (FTP) impregnado com clorexidina, que quando comparado com o curativo de gaze e fita, o FTP apresenta vantagens por seu tempo de permanência maior, redução do custo dos materiais e possibilidade de observação do óstio do cateter sem a necessidade de remoção do curativo. Entre os curativos impregnados, destaca-se o curativo antimicrobiano de clorexidina (CHG), composto por filme transparente associado à clorexidina 2%, a qual está concentrada em uma placa de gel ou em uma esponja, dependendo do fabricante. Este curativo também possui a vantagem de observação do óstio do cateter sem precisar retirá-lo Destaca-se que os curativos de gaze e fita e transparente de poliuretano foram amplamente estudados nos últimos anos, não havendo evidências que indiquem o uso de um em detrimento do outro. No tocante ao curativo impregnado com clorexidina, os estudos são incipientes27 (OLIVEIRA, 2012). Ao analisar os sete artigos para o estudo, foi constatado que em relação à autoria 07 foram escritos por Enfermeiras, 02 por Médicos. Dos temas abordados 01 abordava Cateter Venoso Profundo Recoberto com antibiótico para reduzir infecção, 01 tratava Acessos Vasculares e infecção relacionada a catete, 01 abordava infecção relacionada a cateter venoso central: um desafio na terapia intensiva, 01 sobre o processo do cateterismo venoso central em unidade de terapia intensiva neonatal e pediátrica, 01 sobre controle de infecção relacionada a cateter venoso central impregnado com antissépticos: revisão integrativa, 01 sobre a avaliação da mortalidade de neonatos e crianças relacionada ao uso de cateter venoso central: revisão sistemática, 01 sobre a ocorrência de complicações relacionadas ao uso de cateter venoso central de inserção periférica (PICC) em recém – nascidos. Em relação ao ano de publicação, 02 (28,5%) foram BJSCR (ISSN online: 2317-4404) V.15,n.3,pp.73-81 (Jun - Ago 2016) publicados em 2008, 01 (14,3%) em 2010, 03 em 2011 (42,9%), 01 em 2013 (14,3%). Em relação à instituição em que os estudos foram realizados os 07 foram em Unidades de Terapia Intensiva. Quanto ao tipo de revista cientifica, 01 (14,3%) foi publicado na Revista Esc. Enfermagem, 01 (14,3%) Actual Paul Enferm, 01 (14,3%) na Revista do Hospital Universitário Pedro Ernesto (UERJ), 01 (14,3%) na Revista Esc. Enferm. USP, 02 (28,6%) na Revista Brasileira de Terapia Intensiva. A caracterização dos estudos pode ser visualizada detalhadamente na Tabela1, abaixo: Tabela 1. Caracterização dos estudos quanto autor, ano, revista, metodologia, público alvo e enfoque temático. REVISTA GOMES, A.V.O, NASCIMENTO, M.A. L, et al, 201329 Revista Esc. Enfermagem Descritiva, com delineamento longitudinal e abordagem quantitativa STOCCO, J.G.D; CROZETA, K., et al, 201113 ACTA PAUL ENFERM. Revisão Sistemática da Literatura PASSAMAN I, R. F.; SOUZA, S.R.O.S Revista Hospital Universitário Pedro Ernesto, (UERJ) Descritivo, Exploratório com abordagem quantitativa Paciente admitidos/internados no CTI Geral no período de julho a setembro de 2010. Infecção Relacionada a cateter venoso central: Um desafio na Terapia Intensiva Estudo Retrospectivo, descritivo com abordagem quantitativa RNs internados na UTI neonatal no período de out.de 2008 a julho 2009 Ocorrência de complicações relacionadas ao uso de CVC de inserção Periferica (PICC) em recém-nascidos et al 201112 MONTES, S.F.; TEIXEIRA, J.B.A; Enfermeri a Global METODOLOGIA PÚBLICO ALVO ENFOQUE TEMÁTICO AUTOR/ANO Pacientes atendidos no Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do adolescente Fernandes Filgueira (IFF/FIOCRUZ) Neonatos e Crianças et al 201130 FERREIRA, M.V.F; ANDRADE, D.; et al, 20101 Rev Esc. Enferm. USP Revisão Integrativa Pacientes Adultos Hospitalizados KURTZ, P.; PENNA, G.; et al 2008 Revist. Brasileira de Terapia Intensiva Estudo prospectivo Pacientes internados em UTI médico-cirurgica em hospital particular no Rio de Janeiro O processo do cateterismo venoso central em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal e Pediátrica. Avaliação da mortalidade de neonatos e crianças relacionada ao uso do cateter venoso central: Revisão Sistemática Controle de infecção relacionada a CVC impregnado com antissépticos: revisão integrativa Cateter Venoso Profundo recoberto com antibiótico para reduzir infecção. Estudo Piloto Openly accessible at http://www.mastereditora.com.br/bjscr Lima & Batista / Braz. J. Surg. Clin. Res. BONVENTO , M. 200817 Revist. Brasileira de Terapia Intensiva Revisão da Literatura Pacientes Hospitalizados em uso de CVC V.15,n.3,pp.73-81 (Jun – Ago 2016) Acessos Vasculares e Infecção Relacionada à Cateter Ao observar o delineamento de Pesquisa, foi observado que todos são descritivos, sendo 01 (14,3%) por meio de Revisão Integrativa, 01 (14,3%) por meio de Revisão Sistemática, 02 (28,5%) descritiva com delineamento longitudinal e abordagem quantitativa, 01 (14,3%) artigo de revisão, 01 (14,3%) estudo prospectivo. O estudo de GOMES et al. (2013)28 “Intitulado O Processo do Cateterismo Venoso Central em unidade de Terapia Intensiva Neonatal e Pediátrica”, foi um estudo com pacientes atendidos no Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Filgueira. À análise crítica do processo do cateterismo venoso central possibilitou rever a pratica assistencial para estabelecer o aprimoramento da assistência prestada à clientela neonatal e pediátrica internados em Unidade de Terapia Intensiva do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente em relação à terapia intravenosa, a relação custo-benefício na realização dos cuidados e eleição de recursos tecnológicos e desenvolvimento de novas pesquisas na área, afim de assegurar a qualidade do cuidado, garantindo a segurança dessa clientela. As elevadas taxas de infecção da corrente sanguínea associada ao uso do CVC apontam para a necessidade de implementação cada vez mais eficaz de políticas institucionais direcionadas à prevenção e controle de infecções hospitalares, na busca constante da qualidade da assistência e da segurança das crianças hospitalizadas. Ademais, esse estudo possibilitou esclarecer as equipes assistenciais refletir criticamente sobre à pratica da terapia intravenosa, em busca da racionalização de recurso, redução de custos hospitalares, incorporação de novas tecnologias, considerando a relação risco benefício, de forma a garantir a segurança do paciente e alcançar a excelência do cuidado. Já o estudo de Stocco et al. (2011)13 intitulado, “Avaliação da Mortalidade de Neonatos e Crianças Relacionadas ao uso do Cateter Venoso Central: Revisão Sistemática”. Nesse estudo as evidências da pesquisa mostra que a sepse primária foi a complicação mais prevalente relacionada ao uso do CVC. As evidências nesse estudo mostram que as infecções relacionadas ao uso do CVC prolongam a internação em 6,5 a 22 dias, com um custo de U$ 29.000 a U$ 56.000 por episódio infeccioso. A incidência foi maior entre crianças com menor peso ao nascer, sexo masculino e tempo de permanência do cateter. BJSCR (ISSN online: 2317-4404) Os microrganismos mais comuns nos casos de sepse relacionado ao uso de CVC foram Candida sp e Enterococcus sp, bem como sua relação com a mortalidade. Já o estudo de Passamani & Souza et al. (2011)12 intitulado, “Infecção relacionada a Cateter Venoso Central: Um desafio na Terapia Intensiva”, descreve que a incidência da infecção relacionada à corrente sanguínea por CVC é um fator determinante no número de complicações na Unidade de Terapia Intensiva, descreve que a incidência da infecção relacionada a corrente por CVC é um fator determinante no número de complicações na unidade de terapia intensiva, dentre elas a mais comum que é a sepse. Neste estudo comparando-se as culturas de ponta de cateter, às hemoculturas de acessos centrais e de hemodiálise, de 12 a 14% respectivamente. Os principais microrganismos presentes nas culturas de ponta de cateter foi diagnosticado o Acinetobacter sp, que comparado ao estudo, apresentou a incidência de 16%, e teve o mesmo micro-organismo como causador de infecção12. O presente estudo trata-se de um estudo descritivo, exploratório com abordagem quantitativa, o presente estudo mostrou a incidência da infecção da corrente sanguínea conforme a dimensão do hospital e dos serviços, podendo ser influenciadas pelas características dos pacientes tais como, diagnósticos de base, idade12. Os estudos apontam que a educação da equipe de saúde pode ser a medida mais importante para a prevenção das complicações advindas do uso de cateter venosos centrais, chamando-se a atenção para o cuidado com a lavagem das mãos como medida primordial na prevenção das infecções hospitalares. Já o estudo de autoria de Montes & Teixeira (2011)29, é um estudo retrospectivo, descritivo com abordagem quantitativa, intitulado: “Ocorrência de complicações relacionadas ao uso de CVC de Inserção Periférica (PICC) em recém-nascidos. No presente estudo as evidências mostram que o PICC na UTI neonatal, representa um recurso terapêutico importante na assistência de enfermagem, porém a equipe de enfermeiros deve ser capacitada para garantir que o local de inserção seja escolhido adequadamente, que o procedimento seja executado com segurança, diminuindo-se o número de tentativas de punção, que o cateter seja manipulado corretamente evitando principalmente as complicações como obstrução e infecção e que o cateter seja de fato um recurso terapêutico importante no uso de medicações intravenosa de longa permanência. As evidencias desse estudo sugerem que deve haver investimento em programas de treinamento e educação permanente, estabelecimento de protocolos de cuidados, e realização de estudos longitudinais que permitam um Openly accessible at http://www.mastereditora.com.br/bjscr Lima & Batista / Braz. J. Surg. Clin. Res. melhor acompanhamento da ocorrência das complicações relacionadas ao uso deste tipo de cateter. O estudo de Ferreira & Andrade (2011)1 intitulado “Cateter venoso profundo recoberto com antibiótico para reduzir infecção: Estudo Piloto”, foi um estudo realizado com pacientes adultos hospitalizado, onde as evidências apontam que as infecções da corrente sanguínea relacionada a Bacteremia associada ao Cateter (BAC), continua sendo uma das maiores preocupações em pacientes em terapia intensiva, com alta morbidade e implicações de custo. Apesar dos esforços contínuos para reduzir esse ônus como máxima barreira estéril e inserção por pessoas qualificadas e experientes, alguns centros continuam a ter elevadas taxas de sepse associadas ao CVC. Recentemente os CVC’s recobertos por antibióticos foram incluídos no arsenal disponível para prevenir BAC, desde que emblemáticos estudos aleatórios realizados demonstraram redução das taxas de BAC com seu uso em comparação aos cateteres não recobertos. Este estudo não teve poder estatístico para acessar diferenças significativas nos resultados clínicos. Todavia como não houve relatos de estudos brasileiros anteriores para calcular a taxa de colonização e BAC em cateteres recobertos por antimicrobianos, os resultados deste ensaio piloto vão permitir que seja desenhado um estudo clínico aleatório, multicêntrico, prospectivo em UTI’s brasileiras para confirmar a eficácia clínica e estimar a redução no custo associado ao uso de cateteres endovasculares recobertos por antibióticos. Já o estudo de Kutz (2008)30 intitulado “Acessos vasculares e infecção relacionada à cateter realizado com pacientes hospitalizados em uso de CVC, observou-se que em relação ao local de inserção do CVC, às veias subclávias são as mais utilizadas, sendo última opção jugulares e femurais. Cateteres inseridos na veia jugular interna possuem maior risco de infecção quando comparados a inserção na veia subclávia, considerando sua proximidade com secreções da orofaringe. Acrescenta-se a dificuldade de imobilização do cateter, já a inserção pela veia femural deve ser evitada, considerando o elevado risco de complicações como trombose venosa profunda e infecção principalmente em adulto incontinentes. V.15,n.3,pp.73-81 (Jun - Ago 2016) cateteres impregnados com a sulfadiazina de prata e clorexidine, nas taxas de colonização do cateter venoso central, embora não tenha explicitado o mesmo fenômeno quanto a infecção da corrente sanguínea relacionada a cateter. Considerando-se que as diretrizes do CDC estão subsidiadas em fortes evidencias, cabe destacar que em 2002, recomendaram a utilização de CVC impregnados com antissépticos para pacientes adultos que necessitem de cateterização com duração superior a 5 dias ou em instituições onde persiste alta a incidência das complicações infecciosas relacionadas ao procedimento, apesar de serem tomadas todas as medidas preventivas recomendadas19. No geral os estudo recomendam preferir cateteres de único lúmen quando possível; utilizar barreira estéril durante inserção do CVC; dispor de antisséptico a base de clorexidine na inserção e manutenção do CVC; preferir instalar o CVC não tunelizado na veia subclávia em vez da jugular ou femural, em pacientes adultos, quando a intenção for reduzir o índice de infecção; Os curativos transparentes semipermeáveis de poliuretano, assim como os realizados com gaze e fita adesiva, são os mais utilizados nos cateteres vasculares, porém todos têm vantagens e desvantagens. Ponderando sobre esses fatos observou-se a escassez de produção cientifica pelos profissionais enfermeiros, de estudos que retrataram fortes níveis de evidências, com delineamento de pesquisa experimental, considerando “padrão ouro” na prática baseada em evidências. Entendemos que outras pesquisas acerca de prevenção de ICS relacionada ao CVC são necessárias no sentido de elucidar questionamentos ainda sem respostas, auxiliar na tomada de decisão frente às controvérsias, apoiar a implementação de novas tecnologias e a sua aplicabilidade na prática, o que sem dúvida, repercutirá na qualidade da assistência aos pacientes submetidos à cateterização venosa central. REFERÊNCIAS [1] 4. CONCLUSÃO [2] A presente revisão integrativa a cerca da Relação entre o uso de Cateter Venoso Central (CVC) impregnado com antissépticos e a infecção da corrente sanguínea: uma revisão integrativa da literatura envolveu 07 estudos os quais foram classificados em nível de evidencias I e II, segundo31 Steller et al. (1998). A maioria dos estudos evidenciou impacto do uso de BJSCR (ISSN online: 2317-4404) [3] Ferreira MVF, Andrade D, Ferreira AM. Controle de infecção relacionada a cateter venoso central impregnado com antissépticos: revisão integrativa. 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Ribeirão Preto, São Paulo. *Rua 05 de outubro, 1931, Santa Cruz, Guarapuava, Paraná. CEP: 85015020. [email protected] Recebido em 20/05/2016. Aceito para publicação em 14/07/2016 RESUMO Objetivo: analisar a produção científica sobre promoção da saúde no ensino de enfermagem brasileiro. Método: trata-se de uma revisão integrativa da literatura, que incluiu artigos indexados nas bases de dados literatura científica e técnica da América Latina e Caribe (LILACS) e Base de dados em enfermagem (BDENF) e na biblioteca científica eletrônica online (Scielo), publicados entre os anos 2002 a 2013. Resultados: identificaram-se cinco artigos que sinalizam as concepções de promoção de saúde entre docentes, discentes e profissionais dos serviços de saúde e as práticas de promoção da saúde desenvolvidas durante a academia de enfermagem, apontando fragilidades e possibilidades de mudança na formação do enfermeiro brasileiro. Conclusões: acredita-se que a implementação do conceito ampliado de saúde no ensino de enfermagem possa contribuir na caracterização da formação do enfermeiro. PALAVRAS-CHAVE: Educação em enfermagem, educação, promoção da saúde. ABSTRACT Aim: to review scientific literature on health promotion in the Brazilian nursing education Method: it is an integrative literature review, which included articles indexed in the databases Latin American and Caribbean Scientific and Technical Literature (LILACS) and Nursing database (BDENF) and Scientific Electronic Library Online (SciELO), published between 2002-2013. Results: we identified five articles that indicate the health promotion ideas between teachers, students and professionals of health services and health promotion practices developed during the academic nursing, pointing out weaknesses and possibilities for change in the formation of the Brazilian nurse. Conclusions: it is believed that the implementation of the expanded concept of health in nursing education can contribute to the characterization of nursing education. KEYWORDS: Nursing education, education, health promotion. BJSCR (ISSN online: 2317-4404) 1. INTRODUÇÃO A implementação do Sistema Único de Saúde (SUS) em 1990 proporcionou no Brasil diversas transformações no setor sanitário e no ensino em saúde. Destaca-se nesse processo de mudança a regulamentação das Diretrizes Curriculares Nacionais em Enfermagem (DCN/ENF), o que refletiu na busca de adequações junto à formação do enfermeiro. As DCN/ENF propõem às instituições formadoras o desenvolvimento de metodologias ativas no processo ensino-aprendizagem, objetivando garantir aos estudantes, desde os primeiros anos de graduação, atividade de prática de campo em serviços do SUS nos diferentes níveis de complexidade assistencial, assim como, contemplam na formação em enfermagem competências e habilidades visando as necessidades de saúde da população e a implementação de programas de Promoção da Saúde (PS)1. Desde que foi utilizado pela primeira vez, percebe-se uma evolução no conceito de PS da saúde, transitando de um nível de prevenção, para um enfoque político técnico do processo saúde-doença-cuidado2,3. A PS é o nome dado ao processo de capacitação da comunidade para atuar na melhoria de sua qualidade de vida e saúde, sendo que este processo está além de um estilo de vida saudável, o qual envolve condições e recursos fundamentais como paz, habitação, educação, alimentação, renda, ecossistema estável, recursos sustentáveis, justiça social e equidade1,4-10. As atividades que contemplam a PS podem ser denominadas como vigilância da saúde, sendo que exigem o uso de tecnologias de comunicação social, monitoramento da situação e tomada de decisão no nível local, integração entre as ações de prevenção, controle e recuperação, bem como ações programáticas nas unidades de saúde e atuação intersetorial6. O campo da PS exige se situar no paradigma da gestão de redes, isto é, envolvimento de organizações formais e informais que não mantém entre si relações hierárquicas6. O trabalhador da PS deve ter uma visão generalista, Openly accessible at http://www.mastereditora.com.br/bjscr Borba & Clapis./ Braz. J. Surg. Clin. Res. ou seja, ter visão além de uma área restrita, conhecer o campo da política, da educação, da cultura, dos esportes, da habitação, meio ambiente e quaisquer outros com os quais se faça a intersecção com a área da saúde 2. Diversos estudos científicos sobre promoção da saúde envolvendo o trabalho do enfermeiro foram encontrados junto à literatura nacional e internacional6,11-16. Sobretudo, destaca-se um estudo internacional que reconhece o trabalho do enfermeiro como importante na PS9. Entendendo que o ensino de enfermagem deva estar atrelado à PS, considerando a educação um elemento chave para realização de mudanças políticas, econômicas e sociais e a importância de estratégias de promoção da saúde para tornar a saúde possível, vislumbrou-se a necessidade de buscar fundamentação científica sobre a temática em questão. Assim, o objetivo desse estudo foi analisar a produção científica sobre a promoção da saúde no ensino de enfermagem brasileiro. 2. MATERIAL E MÉTODOS Este estudo é uma revisão integrativa da literatura, que buscou responder a seguinte questão norteadora: “O que foi produzido na literatura científica sobre a abordagem de promoção da saúde no ensino de enfermagem brasileiro, a partir das DCN?”. As etapas desenvolvidas foram as seguintes: elaboração da pergunta norteadora, busca e amostragem na literatura, coleta de dados, análise crítica dos estudos incluídos, discussão dos resultados e síntese do conhecimento17,18. As buscas foram realizadas nas bases eletrônicas de dados LILACS e BDENF e a biblioteca eletrônica Scielo, de janeiro a agosto de 2013, utilizando como palavraschave: ensino, currículo e promoção da saúde, todos associados ao descritor educação em enfermagem. Consideraram-se critérios de inclusão das referências: ser um artigo original, cuja temática respondesse ao problema da investigação; publicados em inglês, português ou espanhol; produzidos no Brasil, no período de janeiro de 2002 a julho de 2013; disponíveis e indexados nas bases de dados supracitadas. Foram excluídos os artigos que não estavam disponíveis para acesso livre. Foram identificados no LILACS 65 artigos, sendo cinco elegíveis para análise. Na base BDENF 20 artigos foram identificados, sendo quatro elegíveis. Na Scielo seis artigos foram identificados, sendo cinco elegíveis. Dos artigos selecionados foram excluídos aqueles repetidos nas bases de busca. Assim, compuseram o corpus de análise da pesquisa cinco artigos. 3. DESENVOLVIMENTO Com relação ao tipo de estudo quatro pesquisas foram delineadas como estudo descritivo exploratório8,19-21, e BJSCR (ISSN online: 2317-4404) V.15,n.3,pp.82-86 (Jun - Ago 2016) uma como referencial metodológico da teoria fundamentada nos dados22. Todos os estudos eram de abordagem de análise qualitativa. Segundo os temas retratados quatro artigos se referiram às concepções de promoção de saúde entre docentes, discentes e profissionais dos serviços de saúde8,20-22 e um artigo as práticas de promoção da saúde desenvolvidas durante a formação acadêmica do enfermeiro 19. Concepções de promoção de saúde entre docentes, discentes e profissionais dos serviços de saúde A pesquisa Educação em enfermagem e os desafios para a promoção da saúde, publicada no ano de 2009, indexada na BDENF, LILACS e Scielo foi realizada junto a coordenadores, docentes e acadêmicos do curso de enfermagem, e profissionais que recebem os estudantes nos cenários de aprendizagem, de dois cursos de graduação em enfermagem de Minas Gerais/Brasil21. Teve como objetivo geral analisar a abordagem da promoção da saúde na formação do enfermeiro, identificando práticas, referenciais teórico-conceituais e as relações existentes entre ensino-serviço-comunidade. Nesta pesquisa verificou-se que há indicativos da incorporação da promoção da saúde como referencial para a formação do enfermeiro, favorecidas pela articulação ensino-serviço, entretanto, chama a atenção para carência de uma maior valorização no processo de mudança na formação do enfermeiro. O estudo Formação do enfermeiro: desafios para a promoção da saúde, publicado no ano de 2010, indexado na BDENF e LILACS, foi realizado em dois cursos de graduação em enfermagem do Estado de Minas Gerais, uma instituição privada e uma pública, junto a coordenadores, docentes e estudantes do curso de enfermagem e profissionais de saúde que recebem os acadêmicos, coordenador de projeto social e presidente de Conselho Local de Saúde8. Este estudo teve como objetivo geral analisar as concepções e práticas de promoção da saúde na formação do enfermeiro. Evidenciou-se a indicação de imprecisão conceitual entre promoção da saúde e prevenção de agravos na academia de enfermagem. A pesquisa A Educação em saúde na perspectiva de graduandos de enfermagem, publicada no ano de 2008 e indexada na LILACS, teve como cenário de estudo os cursos de graduação em enfermagem das Universidades Federal de Santa Maria e do Rio Grande do Sul, sendo os participantes do estudo os alunos do último semestre dos cursos mencionados20. Objetivou identificar as concepções de educação em saúde dos graduandos. Constatou-se que o preparo do aluno de graduação em enfermagem como educador em saúde é permeado por concepções que mesclam pressupostos tradicionais, e pressupostos mais modernos de educação em saúde. O estudo Significados do cuidar na promoção da saúde, publicado no ano de 2008, indexado na Scielo, foi Openly accessible at http://www.mastereditora.com.br/bjscr Borba & Clapis / Braz. J. Surg. Clin. Res. realizado no curso de enfermagem de uma Universidade Federal do Sul do Brasil, instituição eleita por estar desenvolvendo um currículo novo, tendo como eixo central a promoção da saúde, sendo os sujeitos do estudo alunos e docentes do curso de enfermagem22. Proporcionou compreender o quanto é complexo o processo de ensinar/aprender focando a promoção da saúde. Práticas de promoção da saúde desenvolvidas durante a formação acadêmica do enfermeiro O artigo Promoção da saúde como decisão política para a formação do enfermeiro, publicado no ano de 2007, indexado na BDENF, LILACS e Scielo, realizado em dois cursos de graduação em enfermagem do Estado de Minas Gerais, uma instituição pública e uma privada, tendo como sujeitos da pesquisa as coordenadoras dos cursos, docentes, estudantes e profissionais dos serviços de saúde que recebem os estudantes de enfermagem, buscou analisar as práticas de promoção da saúde desenvolvidas durante a formação em enfermagem, analisando as práticas de promoção da saúde desenvolvidas durante a formação, identificando os referenciais teórico-conceituais sobre promoção da saúde que sustentam a formação do enfermeiro e as relações existentes entre ensino-serviço-comunidade para viabilizar as práticas de promoção da saúde.19 O resultado desse estudo demonstrou que as escolas utilizam espaços de aprendizagem favoráveis à abordagem da promoção da saúde na formação do enfermeiro. 4. DISCUSSÃO O processo ensino aprendizagem na formação acadêmica do enfermeiro visando a promoção da saúde foi evidenciado nos cinco artigos estudados, nas situações que envolvem a compreensão dos sujeitos dos estudos sobre o que é promoção da saúde e os cenários que possibilitam a academia. A análise dos resultados destes artigos permitiu a visualização das diferentes concepções sobre o que é promoção da saúde. Percebeu-se nos artigos analisados informações sobre interdisciplinaridade, intersetorialidade, parcerias, relações com a sociedade civil organizada e grupos comunitários. Sobretudo, verificou-se a importância da intersetorialidade para que a PS seja uma vivência concreta8. A PS foi por vezes considerada um tema filosófico e outrora, um tema necessário para entender o ser humano, assim como, a conceituação de promoção da saúde expressou-se como sinônimo de prevenção e a valorização de atividades preventivas no campo educativo8,20,22. Um dos estudos considerou que o processo ensinoaprendizagem na enfermagem desenvolve-se em uma etapa de crise, indo de um estado de ordem, caracterizado pelo pensamento biologicista da saúde, a um estado de desordem, gerado pela necessidade de formação para a promoção da saúde22. BJSCR (ISSN online: 2317-4404) V.15,n.3,pp.82-86 (Jun - Ago 2016) Contudo, evidencia-se ainda forte tendência da abordagem de promoção da saúde como uma atividade de educação em saúde21. Identificou-se duas concepções distintas de educação em saúde, uma embasada numa noção tradicional preventista, e outra orientada por um entendimento mais ampliado e abrangente, visualizando a educação em saúde enquanto importante estratégia para a PS da população20. Enquanto as políticas governamentais no campo da saúde pública apontam para uma noção de educação em saúde segundo os pressupostos ampliados do movimento da promoção da saúde, a formação profissional parece não estar acompanhando a evolução destes campos no preparo do enfermeiro para ser educador. A educação em saúde caracteriza-se como fundamental estratégia para o alcance de melhores condições de vida/saúde, e a formação profissional, centrada essencialmente na valorização do saber biomédico, vem apresentando dificuldades para articular-se com os princípios da PS20. Pode-se pensar que apesar dos avanços contemporâneos no campo da saúde os cursos de graduação em enfermagem parecem encontrar-se ainda fortemente influenciados por paradigmas já ultrapassados. Em relação às práticas de promoção da saúde desenvolvidas durante a formação acadêmica do enfermeiro, evidencia-se que há espaços para docentes e discentes realizarem suas práticas no ensino de enfermagem, no entanto, há necessidade de uma maior integração. Fica evidente que há falta de participação das comunidades nas atividades que envolvem a promoção da saúde, sendo explicitado o entendimento de que os espaços de participação e controle social não estão sendo ocupados pela sociedade8. Subentende-se que a universidade não está atendendo as necessidades da sociedade em constante mudança, o que pode gerar descredibilidade junto aos serviços de saúde. A partir dos resultados obtidos constatou-se a supervalorização da prevenção de doenças nos significados de educação em saúde, e que durante a formação, o enfermeiro tem poucas oportunidades de desenvolver habilidades para a PS20,8. Reconhece-se que é preciso o envolvimento coletivo de docentes e estudantes para refletir sobre as diferentes práticas de gestão, de assistência e ensino, e que não é fácil a operacionalização 8. Destaca-se o fato de os alunos considerarem importante, além das aulas teóricas, ter maior contato com a comunidade, uma vez que para a PS é importante levar-se em conta o conhecimento dos membros da comunidade sobre o processo saúde-doença22. Percebeu-se nas publicações a manifestação da necessidade de reformulação no processo de formação do enfermeiro. A implantação das DCN/ENF no Brasil foi uma estratégia potente para redirecionar a formação dos profissionais de enfermagem23. No entanto, compreendese que há a necessidade de reconhecer os princípios que Openly accessible at http://www.mastereditora.com.br/bjscr Borba & Clapis./ Braz. J. Surg. Clin. Res. baseiam as DNC/ENF para que se transforme as práticas de ensino, visando superar o modelo biologicista. Como o docente é tido como uma das figuras centrais na formação e no processo de mudança e inovações curriculares, é fundamental que ele seja capaz de romper com práticas tradicionais, e implementar ações à luz de um novo paradigma8,24. Complementando, a universidade precisa investir na formação, tendo a temática PS como tema transversal nos processos educativos25. Nesse sentido, o aprimoramento constante de docentes e preceptores é necessário. No entanto, os resultados dessa pesquisa demonstram uma lacuna de estudos envolvendo docentes e a promoção da saúde. A PS é tomada como decisão política para mudança na formação do enfermeiro19. Formar profissionais contextualizados à realidade dos serviços de saúde e que atendam às demandas de "boas" práticas de PS, exige que universidade e serviços estejam juntos nas discussões do processo de formação21. Contudo, este ajustamento é ainda rudimentar no que diz respeito a sua concepção teórica e os ambientes de operacionalização, uma vez que para promover saúde, é preciso construir políticas públicas intersetoriais voltadas para a melhoria da qualidade de vida e equidade no trabalho junto a comunidade, visando proporcionar o empoderamento da população. 5. CONCLUSÃO A pesquisa revela a carência de produção científica nacional envolvendo a promoção da saúde e o ensino de enfermagem. A análise dos artigos demonstra que há necessidade e possibilidades de mudança na formação do enfermeiro brasileiro. Entende-se que para que haja tal transformação no ensino de enfermagem, seja necessário vencer as resistências, estar disposto a reflexões, possibilitar estratégias que aproximem o ensino e os serviços de saúde e investir na formação pedagógica dos professores. Acredita-se que a implementação do conceito ampliado de promoção da saúde no ensino de enfermagem possa contribuir na caracterização da formação e a atuação do enfermeiro. REFERÊNCIAS [01] Ministério da Saúde (BR). Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Superior. Resolução nº 3 de 07 de novembro de 2001. Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Enfermagem. [Internet]. Brasília; 2001. [acesso em 02 nov 2013]. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/CES03.pdf. [02] Lefevre F, Lefebre AMC. Promoção de Saúde: a negação da negação. Rio de Janeiro: Vieira & Lent; 2004. BJSCR (ISSN online: 2317-4404) V.15,n.3,pp.82-86 (Jun - Ago 2016) [03] World Health Organization. The Ottawa charter for healthpromotion. Geneve: WHO; 1986. [04] Mayer C, Andrusyszyn MA, Iwasiw C. Codman Award Paper: self-efficacy of staff nurses for health promotion counselling of patients at risk for stroke. Axone. 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Graduando em Medicina pelo Instituto Metropolitano de Ensino Superior- Ipatinga – MG; 5*. Graduado em Medicina pelo Instituto Metropolitano de Ensino Superior- Ipatinga - MG. Rua kyle Batista, número 91, Centro, Bom Jesus do Galho, Minas Gerais, Brasil. CEP: 35340-000 [email protected] Recebido em 29/05/2016. Aceito para publicação em 11/07/2016 RESUMO A infecção do trato urinário (ITU) é comum na gestação, haja vista a gestante passar por alterações fisiológicas e anatômicas. As ITU representam a maioria das infecções bacterianas comuns na gravidez e são classificadas como assintomática ou sintomática. A bacteriúria assintomática na gravidez pode suscitar complicações médicas. A E. coli é o agente etiológico mais comumente associado a essas infecções. Foi realizada uma revisão com intuito de abordar a infecção urinária em gestantes e sua terapêutica, além do acompanhamento na prevenção de recidivas. A bacteriúria não tratada durante a gravidez se associa a baixo peso ao nascer e trabalho de parto prematuro, além do aumento do risco de gastrosquise. O método de diagnóstico padrão-ouro da ITU é a urocultura. A etiologia da ITU na gestante é representada pela Escherichia coli em 80% dos casos, mas bactérias aeróbias Gram-negativas podem contribuir. A Bacteriúria assintomática tem seu diagnóstico por meio da urina rotina e urocultura. A cistite cursa com sintomas urinários irritativos, dor suprapúbica, sem febre ou com febre menor que 38ºC. Já a pielonefrite se consagra por febre maior que 38ºC, calafrios, indisposição, náuseas e êmeses (sintomas constitucionais), acompanhados de dor lombar, com sinal de Giordano ou Punho-percussão positivos, se que o tratamento deve delongar-se por 14 dias. Uma adequada gestão de antimicrobianos pelos médicos desempenha um papel importante no diagnóstico e tratamento das ITU. A instituição de antibioticoterapia ou profilaxia adequada às gestantes deve priorizar diagnóstico adequado e escalonamento dos antimicrobianos conforme a urocultura. PALAVRAS-CHAVE: Infecção urinária, Gestação, Diagnóstico, Tratamento. ABSTRACT An urinary tract infection (UTI) is common in pregnancy, due to the pregnant women undergo physiological and anatomical changes. The ITU represent the most common bacterial infections in pregnancy and are classified as asymptomatic or symptomatic. The asymptomatic bacteriuria in pregnancy can get medical complica- BJSCR (ISSN online: 2317-4404) tions. E. coli is the etiological agent most commonly associated with these infections. A review with a view to addressing the urinary infection in pregnant women and its treatment was carried out, in addition to monitoring to prevent recurrences. The bacteriuria untreated during pregnancy is associated with low birth weight and premature labor, and increased risk of gastroschisis. The method of the gold standard diagnosis of UTI is a urine culture. The etiology of UTI in pregnant women is represented by Escherichia coli in 80% of cases, but aerobic Gram-negative bacteria may contribute. Asymptomatic bacteriuria has its diagnosis through routine urine and urine culture. Cystitis courses with irritative urinary symptoms, suprapubic pain, no fever or fever with less than 38 ° C. Already pyelonephritis is consecrated by fever greater than 38 ° C, chills, malaise, nausea and emesis (constitutional symptoms), accompanied by low back pain, with Giordano signal or positive fist-percussion, that treatment should be delay by 14 days. A suitable antimicrobial management by physicians plays an important role in the diagnosis and treatment of UTI. The institution of antibiotic therapy or appropriate prophylaxis to pregnant women should prioritize appropriate diagnostic and scheduling of antibiotics as the urine culture. KEYWORDS: urinary tract infection, diagnosis, pregnancy, treatment. 1. INTRODUÇÃO A infecção do trato urinário (ITU) é um evento comum na gestação, haja vista a gestante passar por alterações fisiológicas e anatômicas, dentre as quais a dilatação das pielocalicial e ureteral, detectável a partir da sétima semana de gravidez até o parto (hidroureter fisiológico da gravidez). Tal mudança é proveniente da compressão uterina e diminuição da atividade peristáltica intermediada pela progesterona1. O débito urinário elevado pelo aumento do fluxo plasmático renal determina estase urinária, que somado à dextrorrotação uterina, dilatação da veia ovariana na Openly accessible at http://www.mastereditora.com.br/bjscr Andrade et al./ Braz. J. Surg. Clin. Res. gravidez, podem gerar a hidronefrose e pielonefrite à direita1. A perda da capacidade de concentrar a urina decresce a ação bactericida da urina, somado à maior excreção renal de glicose e aminoácidos, o que provê um meio de cultura para a proliferação bacteriana. Ademais, o pH urinário mais alcalino nas gestantes facilita proliferação bacteriana nas vias urinárias. O estado de hiperestrogenismo gestacional permite adesividade de determinadas cepas de E. coli (portadoras de adesinas tipo I), ao uroepitélio1. A incidência de ITUs ocasionadas por germes resistentes a antibióticos não beta lactâmicos tem se expandido pelo mundo, o que pode ocasionar dificuldade terapêutica ambulatorial pela disseminação de E.coli de espectro de beta-lactamase estendido (ESBL)2. As ITU representam a maioria das infecções bacterianas comuns na gravidez e são classificadas como assintomática ou sintomática. A bacteriúria assintomática na gravidez pode suscitar complicações médicas. A E. coli é o agente etiológico mais comumente associado a essas infecções3. 2. MATERIAL E MÉTODOS Foi realizada uma revisão bibliográfica com o objetivo de abordar a infecção urinária em gestantes e sua terapêutica, além do acompanhamento na prevenção de recidivas, tendo sido utilizado as bases de dados Pubmed, LiLACS e SciELO, tendo como palavras-chave: ITU, Infecção urinária, Gestação, Diagnóstico e Conduta. Foram selecionados e revisados os artigos de maior relevância correspondentes ao período entre 2006 a 2016, conforme sua relevância para o presente estudo. A seleção dos artigos restringiu-se aos idiomas inglês e português. Foram pesquisados 16 artigos e, desses, selecionados 09 do período de 2006 a 2016. Foram excluídos artigos anteriores a 2006, com maior foco em artigos mais atuais, pois expõem aplicabilidade mais coerente com a prática médica vigente. 3. DESENVOLVIMENTO Muito embora seja preconizado o não tratamento de pacientes com Bacteriúria Assintomática, com exceção de pacientes gestantes, antes de procedimentos urológicos, e em imunossuprimidos, numerosos estudos sugerem que cerca de 50% dos pacientes são desnecessariamente tratados com antibióticos, sendo as culturas de urina por vezes obtidas em configurações que são discordantes com recomendações das diretrizes atuais. Esse tratamento inadequado implica no uso excessivo de antibióticos e infecções por Clostridium difficile, elevando o BJSCR (ISSN online: 2317-4404) V.15,n.3,pp.87-90 (Jun – Ago 2016) risco de infecção do trato urinário sintomática (ITU), especialmente com agentes patogénicos resistentes, impactando negativamente a qualidade de vida4. A prevalência de ITU em mulheres grávidas nigerianas pontua os 55,0%, com agente etiológico mais prevalentemente observado a Escherichia coli. Com exceção do flouroquinolones, aminoglicosídeos, e Amoxicilina-clavulanato, a atividade de outros antibióticos usados em uropatógenos eram falhas5. Embora a gravidez seja um estado fisiológico, as gestantes de países desenvolvidos recebem diversos medicamentos que visam prevenir complicações maternas ou neonatais, sendo os antibióticos os mais frequentemente prescritos6. Durante a gestação, os antibióticos podem ser prescritos por febre intraparto, profilaxia de infecção neonatal por Estreptococos do grupo B, em cesarianas e ambulatoriamente para afecções do trato respiratório, urinário, sinusites, amigdalites bacterianas6. Crescente preocupação com a resistência aos antibióticos por overuse e uso incorreto estimulam ação imediata no combate a resistência aos antibióticos em uma escala global. A maioria dos estudos no campo da obstetrícia têm-se centrado sobre os benefícios dos antibióticos para complicações maternas e neonatais de curto prazo, mas com muito pouco de consequências a longo prazo6. A bacteriúria não tratada durante a gravidez se associa a baixo peso ao nascer e trabalho de parto prematuro, além do aumento do risco de gastrosquise. O teste rápido de esterase de vareta de leucócitos e nitrito para o rastreio de ITU / bacteriúria assintomática se associado a muitos resultados falsos positivos e negativos comparado com o método de diagnóstico padrão-ouro: urocultura7,8. A etiologia da ITU na gestante é representada pela Escherichia coli em 80% dos casos, mas bactérias aeróbias Gram-negativas podem contribuir para a os casos restantes (Klebsiella pneumoniae, Proteus mirabilis e bactérias do gênero Enterobacter). Bactérias Gram-positivas também podem implicar na gênese da ITU (baixa prevalência), destacando-se o Staphylococcus saprophyticus, Streptococcus agalactiae e outros estafilococos coagulase negativos, em especial em casos de infecções complicadas com litíase renal9. Quadro clínico: BACTERIÚRIA ASSINTOMÁTICA E CISTITE A Bacteriúria assintomática tem seu diagnóstico por meio da urina rotina e urocultura. A cistite geralmente cursa com sintomas urinários irritativos (disúria, polaciúria), somados a dor suprapúbica, sem febre ou com febre menor que 38ºC, sendo denominada ITU baixa. Já Openly accessible at http://www.mastereditora.com.br/bjscr Andrade et al./ Braz. J. Surg. Clin. Res. a pielonefrite se consagra por febre maior que 38ºC, calafrios, indisposição, náuseas e êmeses (sintomas constitucionais), acompanhados de dor lombar, com sinal de Giordano ou Punho-percussão positivos1. Os antimicrobianos mais empregados podem ser a cefuroxima 250 mg a cada oito horas, norfloxacino 400 mg a cada doze horas, nitrofurantoína 100 mg a cada seis horas e sulfametoxazol/trimetoprim 320/1600 mg uma vez ao dia. O uso da ampicilina 500 mg a cada seis horas ou da cefalexina 500 mg a cada seis horas se limita pelas elevadas taxas de resistência bacteriana. Dose única ou por curto período de tempo (três dias) demostra altos índices de falha, não sendo indicado para gestantes9. PIELONEFRITE Na pielonefrite, deve-se iniciar tratamento suportivo, mantendo hidratação venosa, antieméticos se necessário, antipiréticos e instituindo-se mais precocemente possível a terapêutica antimicrobiana por via parenteral, aguardando 48-72 horas de normotermia para permuta para via oral. Os antimicrobianos são cefuroxima 750 mg, a cada oito horas e ceftriaxona 1 g ao dia. Outras opções são a norfloxacina, 400 mg a cada doze horas e a nitrofurantoína, 100 mg a cada seis horas (via oral) A cefalotina 1 g de seis em seis horas e ampicilina 1 g a cada seis horas só devem ser utilizadas caso haja susceptibilidade ao antibiograma. Na pielonefrite, o tratamento deve delongar-se por 14 dias. As sulfas não devem ser prescritas nas últimas semanas de gestação, devido ao risco de kernicterus. A nitrofurantoína pode provocar anemia hemolítica na mãe e no feto, os aminoglicosídeos são ototóxicos e nefrotóxicos. As quinolonas se ligam a alterações da cartilagem de crescimento9. Diagnóstico O diagnóstico da ITU é clínico-laboratorial, baseado na anamnese, exame físico, elementos anormais de sedimentação (urina rotina) e urinocultura1. Urina rotina deve ser colhida preferencialmente pela manhã, após higiene adequada, descartando o primeiro jato e colhendo o jato médio urinário. Tal procedimento possibilita identificação do agente etiológico e, em conformidade com a cultura, um tratamento adequado de acordo com a sensibilidade bacteriana ao fármaco1. Atenção deve ser dada à microrganismos tais como a Chlamydia e o Mycoplasma, haja vista serem bactérias que requerem meios de cultivo específicos para seu crescimento. Suspeição para ITU por esses microrganismos deve ser aventada quando de sintomatologia irritativa urinária presente acrescida de piúria e urocultura negativa1. A urocultura positiva, de acordo com o critério tradicional, se dá por meio de achado de 100 mil unidades BJSCR (ISSN online: 2317-4404) V.15,n.3,pp.87-90 (Jun - Ago 2016) formadoras de colônias por mililitro (UFC/mL), com alta especificidade e sensibilidade de somente 50%. Caso o limiar seja infra nivelado para 1.000 UFC/mL, em mulheres jovens com sintomatologia de cistite, eleva-se a sensibilidade com redução muito pequena na especificidade1. Tratamento O uso de nitrofurantoína e fosfomicina demonstrou boa opção terapêutica em casos de pacientes com ESBL, sendo a fosfomicina a que apresentou melhores índices de sensibilidade. A amoxicilina-clavulanato também demonstrou boa aplicabilidade nesses casos2. As mais baixas taxas de resistência foram observadas com uso dos aminoglicosídeos, cefalosporinas de terceira geração, cefuroxima, quinolonas mono e bifluoradas e nitrofurantoína. Por sua vez, a ampicilina, cefalotina, cefalexina e amoxicilina (antimicrobianos largamente utilizados para tratamento de ITU em gestantes) demonstraram elevados índices de resistência (cerca de 40%)9. 4. CONCLUSÃO É de conhecimento geral que o estado gestacional permite fatores facilitadores de ITU, por meio de alterações na mecânica miccional, somados às mudanças hormonais que deflagram maior susceptibilidade no trato urinário materno. O ESBL tornou-se um agente etiológico preocupante no que tange à ITU de uma forma geral. Nitrofurantoína e fosfomicina são opções apropriadas, e a taxa de resistência a amoxicilina-clavulanato é baixa. Uma adequada gestão de antimicrobianos pelos médicos desempenha um papel importante no diagnóstico e tratamento das ITU. A preocupação com a administração de antibióticos a curto e longo prazo deve incutir conscientização de primar por um melhor diagnóstico, tratamento e estratégias para a estratificação de risco de mulheres grávidas, pesando os riscos e benefícios dos antibióticos. Em contrapartida, é sabido que a bacteriúria assintomática e ITU não tratadas na gravidez se associam à trabalho de parto prematuro e baixo peso ao nascer. A instituição de antibioticoterapia ou profilaxia adequada às gestantes deve priorizar diagnóstico adequado e escalonamento dos antimicrobianos conforme a urocultura. REFERÊNCIAS [01] Figueiró-Filho EA, Bispo AMB, Vasconcelos MM, Maia MZ, Celestino FG. Infecção do trato urinário na gravidez: aspectos atuais. FEMINA, Março 2009; 37(3):165-171. 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BJSCR (ISSN online: 2317-4404) Openly accessible at http://www.mastereditora.com.br/bjscr Vol.15,n.3,pp.91-93 (Jun – Ago 2016) Brazilian Journal of Surgery and Clinical Research - BJSCR EXTRAÇÃO ATRAUMÁTICA: INSTRUMENTOS E DISPOSITIVOS UTILIZADOS NA OTIMIZAÇÃO DA TÉCNICA ATRAUMATIC EXTRACTION: INSTRUMENTS AND DEVICES USED IN THE OPTIMIZATION OF TECHNIQUE RODRIGO LORENZI POLUHA1*, RAFAEL VIEIRA COSTA2, CLÓVIS LAMARTINE DE MORAES MELO NETO3, BRUNA MILHOMENS DE SOUSA4, LUISA MOURA FIALHO5, VANESSA CAMILA DA SILVA6 1. Cirurgião Dentista; Mestrando Odontologia Integrada da Universidade Estadual de Maringá; 2. Cirurgião Dentista graduado pela Universi- dade Federal do Maranhão; 3. Cirurgião Dentista; Mestrando Odontologia Integrada da Universidade Estadual de Maringá; 4. Cirurgiã Dentista; Mestranda Odontologia Integrada da Universidade Estadual de Maringá; 5. Cirurgiã Dentista graduada pela Universidade Federal do Maranhão; 6. Professora do Departamento de Odontologia – Universidade Federal do Maranhão. Departamento de Odontologia - Universidade Estadual de Maringá - Avenida Mandacaru, 1.550, Vila Santa Izabel, Maringá, Paraná, Brasil. CEP: 87080-000. [email protected] * Recebido em 08/04/2016. Aceito para publicação em 14/06/2016 RESUMO A extração atraumática visa diminuir a hemorragia, inflamação, inchaço, dor e desconforto, assim como a máxima preservação da estrutura óssea dos alvéolos e do tecido mole, favorecendo a reabilitação com implantes. Vários instrumentos têm sido desenvolvidos para facilitar e melhorar esta prática. Assim, o presente estudo tem como objetivo realizar uma revisão da literatura sobre vários dispositivos utilizados para a realização da extração atraumática. Compreender a terapia e o emprego de vários instrumentais são fundamentais para a obtenção do sucesso clínico da técnica. PALAVRAS-CHAVE: Extração dentária, instrumentos cirúrgicos, piezocirurgia. ABSTRACT The atraumatic extraction aims to alleviate bleeding, inflammation, swelling, pain and bruising, as well as maximum preservation of bone structure of the alveoli and soft tissue, favoring rehabilitation with implants. Various instruments have been developed to facilitate and improve this practice. Thus, the present study aims to perform a literature review on various devices used in carrying out the atraumatic extraction. Understanding the therapy and the use of multiple instrumentals are key to the achievement of the clinical success of the technique. KEYWORDS: Tooth extraction, surgical instruments, piezosurgery. 1. INTRODUÇÃO As modificações no processo alveolar, especialmente na espessura, altura do osso e na anatomia do tecido mole, resultantes BJSCR (ISSN online: 2317-4404) da extração dentária, são influenciadas por uma combinação de coeficientes1, entre eles as características biológicas do paciente2, a morfologia do local cirúrgico e fatores relacionados com a técnica de extração usado pelo cirurgião3. Na técnica de extração tradicional, embora seja incentivado o trauma mínimo, a luxação através de extratores e/ou remoção via fórceps geralmente implica fratura ou deformidade espaço dento alveolar4. É inerente a qualquer cirurgia oral algum grau de lesão. A extração atraumática visa minimizar a hemorragia, inflamação, edema, dor e hematomas além da máxima preservação do osso alveolar e de tecidos moles5. Isso favorece a reabilitação do sítio cirúrgico com implantes6. Vários instrumentos foram desenvolvidos para facilitar e melhorar a prática da extração atraumática, como periótomo, periótomo elétrico, piezoelétrico e sistemas de extração com elevação por polias e roldanas. Compreender a terapia, o manejo e a indicação dos vários artefatos são fundamentais para a obtenção do sucesso clínico da técnica. Assim, o presente estudo tem como objetivo realizar uma revisão da literatura sobre vários dispositivos utilizados para a realização da extração atraumática. 2. MATERIAL E MÉTODOS O presente estudo foi desenvolvido através de revisão bibliográfica do tipo exploratória, retrospectiva, baseada em pesquisa de livros e artigos científicos disponibilizados nas bases de dados PubMed, SciELO, LILACS, Science Direct e Google Acadêmico, referentes ao tema escolhido. As palavras-chave, nos idiomas inglês e português, utilizadas foram: extração dentária; extração atraumática; instrumentos cirúrgicos; periótomo; periótomo elétrico; piezocirurgia; sistema extrator. Openly accessible at http://www.mastereditora.com.br/bjscr Poluha et al./ Braz. J. Surg. Clin. Res. 3. REVISÃO DA LITERATURA Periótomo é um instrumento manual composto de lâminas intercambiáveis retas e angulares7. É acessível, de baixo custo e fácil manuseio. Deve ser inserido na região interproximal ao longo do eixo da raiz, rompendo as fibras periodontais circundantes do elemento, liberando assim grande parte da ancoragem ao osso. Depois de ser usado como uma cunha, pode-se fazer uma alavanca, rotacionando o cabo, para aumentar a mobilidade. A extração é complementada com a utilização de um fórceps adequado para cada dente, sem causar danos às paredes dos alvéolos8. Outro instrumento empregado é o periótomo elétrico. O modelo Powertome® (Powertome 100S, Westport Medical Inc., Salem, OR, USA), acionado por pedal, tem a extremidade ativa de um periótomo manual, ação oscilatória e podem ser usados na extração de elementos de uni e multirradiculares. Este dispositivo pode ser ajustado para diferentes configurações. Além disso, a utilização de Powertome muitas vezes permite a remoção de dentes sem retalhos. Isso diminui a dor pós-operatória e o desconforto, mantendo o suprimento sanguíneo do periósteo9. A literatura relata que o dispositivo funciona de forma eficiente para otimizar a extração atraumática, com excelente aceitação do paciente e sem prolongar o procedimento cirúrgico em comparação com outras técnicas de extração10. Piezoelétrico é um sistema oscilatório de ultra-som. Ele é capaz de realizar um corte definido e preciso, sem causar danos aos tecidos moles, bem como aos nervos e aos vasos sanguíneos11. Em comparação com outros dispositivos, apresenta uma espessura de corte relativamente mais delgada, menos traumática e mais precisa, resultando assim em menores danos ao osso e menos sangramento. É possível ainda a readaptação do fragmento de osso removido por meio da fixação por mini-placas reabsorvíveis. O tempo total do processo cirúrgico é reduzido, assim como a intensidade de dor pós-operatória e a possibilidade da ocorrência de trismo12. Esta técnica é capaz de fazer qualquer tipo de osteotomia, sendo mais adequada para o acesso ao seio maxilar e extrações de elementos impactados, principalmente na mandíbula devido ao risco da lesão do nervo alveolar inferior13. Há vários modelos de dispositivos de extração com sistema de elevação, composto por polias e roldanas. Eles são empregos cada vez mais na remoção de dentes unirradiculares e raízes residuais. Também podem ser usados na extração de dentes posteriores, necessitando da secção prévia das raízes e sua remoção separadamente14. É indicado principalmente para as áreas estéticas, este sistema permite preservar completamente a papila interdental, bem como osso alveolar, sendo adequado para implantes imediatos. O modelo mais popular é o Benex®-Extraction System (Luzern, Switzerland) que tem dois suportes, os BJSCR (ISSN online: 2317-4404) V.15,n.3,pp.91-93 (Jun – Ago 2016) quais são montados em ambos os lados do elemento a ser extraído, garantindo um perfeito alinhamento para o procedimento. Brocas diamantadas são utilizadas para remover o tecido cariado e preparar a cavidade, geralmente através do alargamento do canal radicular, onde o parafuso de tração vai ser inserido. Ao instalar o parafuso no sistema de ancoragem, move-se a roldana, então o elemento a ser extraído é puxado no sentido coronal até esfoliação completa15. 4. DISCUSSÃO A extração atraumática deve ser sempre a técnica preferida por oferecer vantagens estéticas e funcionais. Block et al., em 2009, realizaram um estudo com 76 pacientes, avaliando dois procedimentos: a extração convencional com enxerto ósseo e implante tardio (grupo 01) e extração atraumática com periótomo e implante imediato (grupo 02). Após dois anos, os autores não encontraram diferenças significativas entre o sucesso dos dois tratamentos, mas eles encontraram recessão da gengiva marginal, estatisticamente importante em relação ao primeiro grupo (diferença de 1 mm), e que o tempo de osseointegração do primeiro grupo foi o dobro do segundo (quatro e oito meses, respectivamente) 16. White et al., em 2009, usaram o Powertome® em seis casos clínicos, onde três destes casos, a extração atraumática foi realizada juntamente com implante imediato, e dois casos de dentes multirradiculares, onde a separação das raízes foi previamente realizada através da odontosecção. Neste estudo, os autores também apresentaram um caso de uma fratura horizontal, na altura do terço cervical da raiz, onde o fragmento de raiz foi extraído apenas com o uso de periótomo eléctrico. Este trabalho mostra aplicações do periótomo em diferentes casos, provando assim a versatilidade, a indicação e a funcionalidade do instrumento9. Pappalardo et al, em 2014, compararam dois dispositivos usados para osteotomia: piezoelétrico e instrumento rotatório. No estudo, oitenta pacientes foram submetidos a uma das duas técnicas, entre 2007-2010, por sorteio, separados em dois grupos de quarenta pacientes. O grupo teste foi composto pelos pacientes submetidos ao procedimento realizado por piezoelétrico e o grupo controle por um instrumento rotatório. Os procedimentos realizados foram semelhantes nos pacientes, diferindo basicamente pelo tipo de instrumento utilizado. Os pacientes do grupo de teste relataram sentir cerca de duas vezes menos dor e tiveram duas vezes e meia menos edema pós-operatório em média, comparado ao grupo controle. E, embora a osteotomia feita com piezoelétrico ser estendida, o tempo total do procedimento foi reduzido devido à redução da hemorragia, melhor visibilidade e acesso ao campo operatório17. Blues et al., em 2013, realizaram a extração seguido de quarenta implantes imediatos, em vinte e três pacientes. Openly accessible at http://www.mastereditora.com.br/bjscr Poluha et al./ Braz. J. Surg. Clin. Res. Neste estudo, a extração de dentes (incisivos, caninos e pré-molares apenas) foi realizada com auxílio do piezoelétrico, utilizando diferentes pontas ativas. Nos pacientes acompanhamento por um ano, os autores encontraram sucesso em 96,5% dos casos e uma melhor recuperação óssea18. Muska et al., em 2013, usaram o Benex®-Extraction System em 72 pacientes que apresentavam contra-indicações para a extração por meio de fórceps ou tinham sido submetidos a extração pela técnica convencional antes. Do total de 111 dentes, 92 (83%) foram extraídos com sucesso. A taxa de sucesso foi maior nos dentes unirradicular (89%) e menor nos dentes multirradiculares (43%). A maioria das falhas foram caracterizados pela retenção insuficiente do parafuso e/ou fratura da raiz, que ocorreu principalmente como resultado de cárie no canal radicular, erro na perfuração do parafuso ou excesso de força de tração15. Está elevada taxa de sucesso indica que a utilização de procedimentos cirúrgicos mais invasivos com a finalidade de facilitar a extração, tais como retalhos extensos e osteotomia podem ser reduzidos de rotina do dentista. 5. CONCLUSÃO Podemos concluir que a técnica de extração atraumática deve ser usada sempre que possível. É uma terapia que preserva a estética e diminui o desconforto pós-operatório. O conhecimento e o manuseio correto dos muitos dispositivos concebidos para este procedimento são essenciais para alcançar o melhor resultado clínico e bemestar do paciente. REFERÊNCIAS [01] Araújo MG, Lindhe J. Dimensional ridge alterations following tooth extraction. An experimental study in the dog. J Clin Periodontol. 2005; 32:212-8. [02] Ten HJM, Slot DE, Van WGA. Effect of socket preservation therapies following tooth extraction in nonmolar regions in humans: a systematic review. Clin Oral Implants Res. 2011; 22:779-88. [03] Oghli AA, Steveling H. Ridge preservation following tooth extraction: a comparison between atraumatic extraction and socket seal surgery. Quintessence Int. 2010; 41:605-9. [04] Babbush CA. A new atraumatic system for tooth removal and immediate implant restoration. Implant Dent 2007; 16:139-45. 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ANA LUISA DE ALBERGARIA LIMA OLIVEIRA1, CARINA PEIXOTO1, CÉSAR AUGUSTO1, KARINE SARDINHA1, PATRICIA SILVA ALVES1, PATRÍCIA MAIA2 1. Acadêmico do Curso de Graduação em Medicina da Faculdade de Minas / FAMINAS-BH; 2. BSc; MSc; PhD; Pós-Doutorado; Núcleo de Neurociências, UFMG King's College London. Docente do Curso de Graduação em Medicina da Faculdade de Minas / FAMINAS-BH. * Rua das Tangerinas, Vila Clóris, 631, apartamento 1102, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil. CEP: 31744-108. [email protected] Recebido em 20/05/2016. Aceito para publicação em 19/07/2016 RESUMO Diversas pesquisas relataram que o desmame precoce ocorre devido a problemas relacionados aos riscos de exposição dos lactentes a medicação materna. No período puerperal, a taxa de depressão aumenta nas mulheres, o que pode elevar em cerca de 20,2% o uso de fármacos que atuam no sistema nervosos central1. O presente artigo relaciona a passagem de fármacos pelo leite-materno e a farmacocinética dos lactentes. Ademais, aborda algumas classes de remédios como os antipsicóticos que podem ocasionar à criança delírios e alucinações e os anticonvulsivantes que podem ocasionar sonolência, cefaléia. Relatamos a mudança que a Food and Drug Administration estipulou em relação à bula dos remédios comercializados nos EUA, pois, a nova medida demonstra a necessidade de informar os efeitos adversos ocasionados pela ingestão de fármacos através do leite materno e seus possíveis efeitos adversos para o lactente. Portanto, novas pesquisas devem ser realizadas para estudar a relação do fármaco com o leite materno e efeitos adversos para o recém-nascido, principalmente em drogas que já estão no mercado e que ainda não tiveram nenhum estudo em seres humanos. Como base referencial utilizou-se de artigos na língua inglesa e portuguesa, além de livros e sites relacionados ao tema. PALAVRAS-CHAVE: Lactentes, amamentação, ansiolíticos, antipsicóticos, antiepiléticos. ABSTRACT Tracheostomy several studies report that early weaning occurs due to problems related to risk exposure of infants to maternal medication. In the puerperal period, the rate of depression increases in women, which may increase by about 20.2% the use of drugs that act on the central nervous system1. This article relates the passage of drugs by the mother's milk to the pharmacokinetics of infants. Moreover, covers some drug classes as antipsychotics that can cause delusions and hallucinations in children and anticonvulsants that can cause drowsiness, headache. We report the change that the Food and Drug Administration stipulated in relation to the label of the drugs commercialized in BJSCR (ISSN online: 2317-4404) the United States, since the new measure demonstrates the need to inform the adverse effects caused by the ingestion of drugs through breast milk and their possible adverse effects on the infant. Therefore, further research should be conducted to study the drug compared with breast milk and adverse effects on the newborn, especially in drugs that are already on the market that have not yet been any studies in humans. As bibliographic reference was used articles, as well as books and websites related to the topic. KEYWORDS: Infants, breast-feeding, anxiolytics, antipsychotic, antiepileptic. 1. INTRODUÇÃO O leite materno é o principal alimento nutricional para o recém-nascido, sendo constituído de vitaminas e minerais. É importante para o fortalecimento do sistema imunológico da criança, prevenindo doenças como diarreias, alergias, dentre outras. Durante o processo de lactação, é frequente o uso de fármacos pelas mães, o que pode resultar em efeitos adversos no lactante. De fato, grande parte das drogas passam para o leite materno, podendo ou não ser absorvidas através do trato gastrointestinal do bebê2. Assim, a ingestão de fármacos através do leite materno para o lactente, cujo o peristaltismo é irregular e lento, pode tornar-se tóxico para o organismo, ocasionando determinados efeitos adversos, como a sedação, haja vista a passagem desses medicamentos pela barreira hematoencefálica. O sistema nervoso de um recém-nascido não se encontra completamente desenvolvido, desse modo, os remédios que são ingeridos através do leite materno podem penetrar a barreira hematoencefálica 3. A barreira hematoencefálica é composta por células endoteliais que revestem o sistema vascular e cerebral, fazendo com que ocorra a manutenção da homeostase de Openly accessible at http://www.mastereditora.com.br/bjscr Sá et al./ Braz. J. Surg. Clin. Res. neurônios e células gliais, bloqueando o acesso de substâncias tóxicas. Porém, existem determinadas partes do cérebro que essa barreira é menos proeminente como no hipotálamo, a eminencia mediana, a área postrema, a glândula pineal, o órgão subforciceal e o órgão subcomissural, que facilitam a passagem de certas substâncias4. Existem pequenas fenestrações que permitem a passagem de pequenas substâncias e substâncias lipossolúveis chegarem até o cérebro. As transposições desses remédios também ocorrem através de transportadores ou por difusão. A lipossolubilidade das formas não ionizadas e livre de um fármaco corresponde a um fator importante de sua captação pelo cérebro, pois isto facilita a passagem através da barreira hematoencefálica4. Outros fatores podem facilitar a passagem pela barreira como o fato dos fármacos se difundirem transcelularmente e penetrarem as membranas basal e luminal do endotélio4. Em função da diversidade e heterogeneidade de efeitos adversos que os fármacos ingeridos pelas mães podem causar no lactante, a prescrição dos mesmos para pacientes nessa condição deve ser feita com cautela e apenas se estritamente necessária. Assim, esse artigo tem como intuito descrever os principais grupos de fármacos usados por pacientes durante a amamentação e seus possíveis efeitos no lactente. 2. MATERIAL E MÉTODOS O presente artigo consiste em uma revisão de literatura, no qual foram utilizados catorze artigos retirados do PubMed, Medline, Google Acadêmico e SciELO, com os seguintes termos pesquisados: lactente, fármacos, efeitos adversos, benzodiazepínicos, ansiolíticos, antipsicóticos, antiepiléticos e amamentação, sendo que os artigos estudados correspondem ao ano de 2010 à 2015 sendo de língua inglesa e portuguesa. Também foram realizadas pesquisas em três livros, língua correspondente ao inglês e ao português, uma cartilha do Ministério da Saúde e sites relacionados ao tema. 3. RESULTADOS Novas regras da Food And Drug Administration A Food and Drug Administration, no ano de 2015, estipulou novas regras para substituir a antiga seção "mães que amamentam". A partir de junho foi estipulado que todos os medicamentos serão obrigados a ter uma secção "Aleitamento" com o intuito de proporcionar às profissionais informações valiosas sobre a segurança desse medicamento na amamentação desse modo, irá incluir informações sobre a quantidade de um fármaco que é excretada no leite materno e o consumo da droga pelo bebê, bem como os efeitos observados no lactente. Com isso, o provedor terá as informações necessárias para reduzir ou evitar a exposição do bebê, a determinadas BJSCR (ISSN online: 2317-4404) V.15,n.3,pp.94-99 (Jun – Ago 2016) substancias, no rotulo "Considerações Clínicas". A nova regra tenta abordar preocupações atuais, fornecendo resumos narrativos do risco representado pelo uso de drogas durante a gravidez, lactação. O novo formato deve incluir três secções: gravidez, lactação, e uma nova seção em homens e mulheres de potencial reprodutivo, portanto essa se mostra diferente das seções anteriores que incluíam informações sobre a gravidez, trabalho de parto, e mães que amamentam. Além disso, cada seção inclui um resumo detalhado de riscos, considerações clínicas, e seção de dados relevantes. A maior mudança, no entanto, será a eliminação progressiva do sistema de categoria. Novos medicamentos aprovados depois de junho de 2015 deixam de ter uma categoria de segurança, e além disso todos os medicamentos aprovados após 30 de Junho, 2001, terão 3 anos para apresentar informações atualizadas na rotulagem5. Transferência do Fármaco para o leite materno Os fármacos podem sair da concentração plasmática do sangue para o leite materno, atravessando a membrana basal das células alveolares do tecido mamário devido a um gradiente de concentração. Essas drogas conseguem adentrar ao leite materno através da difusão e por meio da ligação à proteínas carreadoras6. A presença de medicamentos no leite materno pode ser influenciada por vários aspectos, que devem ser observados pelo médico no momento da prescrição como deficiências nutricionais ou disfunções hepato-renais, via de administração do fármaco, tempo de duração no organismo. Ademais, medicamentos com baixo peso molecular, baixa afinidade a proteínas plasmáticas e bases fracas atingem mais facilmente o compartimento lácteo, assim como os fármacos lipossolúveis que por terem maior afinidade a barreira lipoproteica, conseguem penetrar em maior quantidade no leite materno o que pode ocasionar efeitos adversos para o lactente6. Classificação quanto aos fármacos durante a amamentação De acordo com Ministério da Saúde, os fármacos podem ser classificados de acordo com o risco para o lactente em: USO COMPATÍVEL COM A AMAMENTAÇÃO: desta categoria fazem parte os fármacos cujo uso é potencialmente seguro durante a lactação, haja vista não haver relatos de efeitos farmacológicos significativos para o lactente7. USO CRITERIOSO DURANTE A AMAMENTAÇÃO: nesta categoria estão os medicamentos cujo uso no período da lactação depende da avaliação do risco/benefício. Quando utilizados, exigem observação clínica e/ou laboratorial do lactente, devendo ser utilizados durante o menor tempo e na menor dose possível. Novos medicamentos cuja segurança durante a amamentação ainda não Openly accessible at http://www.mastereditora.com.br/bjscr Sá et al./ Braz. J. Surg. Clin. Res. V.15,n.3,pp.94-99 (Jun - Ago 2016) foi devidamente documentada encontram-se nesta categoria7. USO CONTRAINDICADO DURANTE A AMAMENTAÇÃO: esta categoria compreende as drogas que exigem a interrupção da amamentação, pelas evidências ou risco significativo de efeitos colaterais importantes no lactente7. Estimativa da Passagem do fármaco pelo leite materno A presença do fármaco no leite materno pode ser estimada de forma quantitativa, utilizando a dose relativa no lactente e a razão com o leite materno. Essas fórmulas são mais utilizadas quando as mães fazem uso de fármacos por longos períodos de tempo ou dependo da concentração do remédio a ser ministrado no período de amamentação7. = ( (%) ⁄ ( ⁄ ⁄ ) ⁄ ) O resultado deve ser menor que 10% para que o remédio seja considerado seguro, caso esse valor ultrapasse 25% considera-se risco elevado para o lactente7. ã / çã á = çã á Esta fórmula estipula a quantidade do fármaco transferido para o leite. Caso o resultado seja igual a quatro, por exemplo, significa que a concentração do fármaco no leite é quatro vezes maior que a concentração plasmática 7. Antipsicóticos Os antipsicóticos são utilizados em diversas doenças que afetam o Sistema Nervoso Central (SNC). O termo antipsicóticos denota a “capacidade desses fármacos de aliviar a desorganização do processo mental”. Essa classe de fármacos pode ser dividida em atípicos, que agem como antagonistas de alta afinidade pelos receptores 5HT2 e, também pelos receptores D4, e típicos, que possuem a capacidade de bloquear a neurotransmissão dopaminérgica do SNC nos receptores D28. Antipsicóticos de primeira geração tem passagem de aproximadamente 1% pelo leite materno, não causando efeitos adversos tóxicos para o lactante. Sendo assim, foram estudados dez relatórios com 28 recém-nascidos expostos a agentes antipsicóticos, não ocorrendo efeitos adversos. Antipsicóticos de segunda geração alcançaram níveis baixos no plasma infantil, sugerindo que estes agentes podem ser seguros9. A olanzapina é utilizada no tratamento agudo e de manutenção da esquizofrenia e de outros transtornos mentais onde sintomas positivos (ex.: delírios) e os sintomas negativos (ex.: isolamento emocional) estejam acentuados, BJSCR (ISSN online: 2317-4404) sendo bem absorvida pelo organismo com concentração plasmática máxima de 5 a 8 horas após administração, até 93% de ligação a proteína plasmática, metabolismo de primeira passagem, pelo fígado, excreção com cerca de 57% pela urina10. Esse fármaco pode causar convulsões, discinesia tardia, síndrome neuroléptica maligna, hipotensão ortostática. Segundos dados do Ministério da Saúde seu uso é compatível com a amamentação7. Em um relato de caso, foram estudadas 102 mães que faziam uso da olanzapina durante a amamentação. O medicamento foi usado por 13 meses, com dosagem de 20mg/ dia, com estimativa de passagem da droga pelo leite de 1,8% da dosagem do fármaco. De acordo com o estudo, 82% das mães não notaram qualquer efeito adverso em seus filhos, 15,6 % notaram irritabilidade, 3,9% tremor e 2% insônia11. O fármaco asenapina (Saphris), é utilizado no tratamento de esquizofrenia, mania, psicose, e transtornos bipolares. Essa droga possui ação entre 30 minutos à uma hora e meia após ser administrada de forma sublingual sendo que seus efeitos adversos mais comuns foram dormência temporária na língua, sonolência e náuseas, entretanto, apresentou poucos efeitos extrapiramidais e ganho de peso12. Anticonvulsivantes Os anticonvulsivantes são medicamentos de uso continuo não podendo se abster durante a amamentação. Estudos demonstraram a presença de 5% da dose de alguns anticonvulsivantes no leite materno que podem causar efeitos adversos como, padrões de sono alterados, má alimentação e inadequada sucção do seio materno2. A farmacodinâmica desse grupo de drogas pode ser dividida da seguinte maneira, “fármacos que aumentam a inibição pelos canais de sódio, inibidores de canais de cálcio; que aumentam a inibição mediada pelo GABA e inibidores dos receptores de glutamato”8. A zonisamida é utilizada para o tratamento dos tipos parciais de epilepsia, porém com relatos de efeitos adversos como a sonolência. Esse fármaco demonstra baixa ligação à proteína plasmática (de 40% a 50%), metabolizado pela enzima CYP3A4. Sua comercialização nos Estados Unidos iniciou-se no ano 2000, sendo que em 2005 foi aprovada a comercializado na União Europeia. Entretanto, estudos comprovaram sua passagem para o leite materno, devido à prolongada meia vida de 63 horas, a amamentação só poderá ocorrer um mês após o final da sua terapêutica13. Em um estudo feito com quatro mães que faziam uso de 100mg\dia de zonisamida, constatou que sua concentração no leite materno variou de 20-40% da dose do fármaco. Em outro estudo, uma mãe tomando zonisamida (dose não especificada) no período da amamentação, obteve uma concentração no soro de 3,6 mg/L após 9 dias Openly accessible at http://www.mastereditora.com.br/bjscr Sá et al./ Braz. J. Surg. Clin. Res. do parto, o recém-nascido apresentava elevada sonolência. Constatou-se que doses de até 400 mg/dia produzem níveis elevados (30% dose remédio) no leite e no soro infantil14. De acordo com o Ministério da Saúde o uso desse fármaco é contraindicado durante a amamentação, com doses elevadas no lactente (33%). Em pacientes pediátricos há relatos de sonolência, vertigem, cefaleia, náusea, anorexia, agitação, diplopia, dor torácica, parestesia, leucopenia, perda de peso, psicose, hipertermia7. O fármaco lamotrigina, absorção oral, apresenta biodisponibilidade de 98%, com ação entre 1 a 3 horas e 55% de ligação à proteína plasmática. A metabolização ocorre por via hepática, pela a enzima UGT1A-415. De acordo com o Ministério da Saúde, esse fármaco deve ser usado de forma criteriosa durante a amamentação 7. Ademais, houve relatos de que lamotrigina passa para o leite materno em concentrações variáveis, resultando na presença de até 50% da dose do medicamento utilizado pelas mães nos bebês o que pode levar à irritação, exantema, letargia16. Um estudo feito com 30 lactantes e seus bebês relatou uma razão média de leite/plasma de 41,3. Foi observado também que as concentrações mais elevadas de lamotrigina no leite materno ocorreram após 4 horas da administração do medicamento pela mãe. Comparando as concentrações plasmáticas maternas com as dos recém-nascidos eram 18,3%. Quase todas as crianças apresentaram trombocitose suave na amostragem do soro17. Benzodiazepínicos A classe dos benzodiazepínicos (BZD) possui alta afinidade e seletividade a um único sítio dos receptores GABAa, atuando como moduladores alostéricos positivos, potencializando a regulação dos canais na presença de GABA8. Os BZD são compatíveis com a amamentação e o risco de efeitos adversos são baixos. A literatura sobre a excreção destas drogas demonstra cerca de 1% de oxazepam e até 8% de Alprazolam encontrados no leite materno3. Os fármacos Lorazepam, Clonazepam, correspondem às drogas mais utilizadas, com uma taxa de 52%, 18% respectivamente, entre as nutrizes devido a seus efeitos benéficos de suprir os sintomas da depressão18. O clonazepam, fármaco utilizado como relaxante, tranquilizante, crises epiléticas, tratamento do humor, possui absorção rápida, sendo que sua concentração plasmática máxima é alcançada em torno de 14 horas, e sua biodisponibilidade absoluta é 90%. Pode causar certos efeitos adversos como sonolência diurna, fadiga, ataxia, vertigem. A ligação às proteínas plasmáticas corresponde entre à 82% e 86%. Os citocromos P-450 da família 3A desempenham importante papel no metabolismo desse fármaco e sua eliminação ocorre principalmente pela urina19. BJSCR (ISSN online: 2317-4404) V.15,n.3,pp.94-99 (Jun – Ago 2016) Segundo dados do Ministério da Saúde seu uso deve ser criterioso durante a amamentação, pois esse fármaco é excretado no leite materno. Estudos, porém, mostraram baixa incidência de toxicidade em crianças amamentadas, podendo causar apneia, cianose, hipotonia, sedação 7. De acordo com estudo, 174 de 1560 relatórios, o clonazepam foi relatado por causar reações adversas em lactentes, sendo um dos fármacos que apresentava reações adversas graves, principalmente sedação. No estudo, uma mãe ao fazer uso do clonazepam, 2 mg, duas vezes por dia, teve suas medições do fármaco no leite nos dias 2 a 4 do pós-parto, sendo que o nível mais elevado de leite foi de 10,7 mcg / L após 4 horas da dose. Os autores calcularam que um bebê amamentado exclusivamente do leite materno iria receber cerca de 2,5% da dose materna do fármaco, o que poderia acarretar efeitos adversos como hipotonia, sonolência e apneia20. O fármaco lorazepam possui biodisponibilidade, após administração oral, correspondente a mais de 90% em indivíduos saudáveis, sendo que a concentração plasmática máxima ocorre aproximadamente 2 horas após a administração oral. A taxa de ligação do lorazepam a proteínas plasmáticas humanas é de aproximadamente 92%, sendo que sua eliminação ocorre em média a 88% na urina e 7% nas fezes21. Antidepressivos Os fármacos antidepressivos (ADTs), em nível pré-sináptico, bloqueiam a recaptura de noradrenalina e serotonina e em menor quantidade de dopamina. (DALE, 2007). A maioria dos antidepressivos são usados para tratamento do humor, sendo excretados em baixa concentrações no leite materno, como por exemplo a sertralina que corresponde a 0,5% da dose excretada no leite materno, outros podendo chegar à 10% como a fluoxetina22. O fármaco agomelatina, comercializado no Brasil desde de 2010, atua nos receptores melatoninérgicos MT1 e MT2, sendo utilizado no tratamento dos transtornos depressivos. No leite materno, esse fármaco foi investigado em uma paciente que sofria de depressão pósparto. Nos três primeiros dias a paciente fazia uso de 25 mg de agomelatina, sendo coletadas amostras do leite materno dentro de um prazo de tempo de 10 minutos antes (T1), e 30 (T2), 60 (T3), 90 (T4), 120 (T5) e 240 (T6) minutos após a dosagem. Em todas as amostras a dosagem do fármaco eram inferiores ao limite de detecção. Não houve vestígio residual do fármaco 4 horas após a sua administração, sugerindo que a interrupção da amamentação durante o tratamento com agomelatina não é necessária23. A comercialização da Duloxetina iniciou-se no Brasil em 2006 e, desde que foi comercializado pela primeira vez em 2004, mais de 45 milhões de pacientes receberam esse fármaco24. Essa droga é um inibidor potente e balanceador da recaptação da serotonina e da noradrenalina, Openly accessible at http://www.mastereditora.com.br/bjscr Sá et al./ Braz. J. Surg. Clin. Res. sua ação consiste em combater a depressão maior, podendo causar efeitos adversos como fadiga, cansaço, boca seca e tontura. (ANIVSA, 2013)25. Segundo o Ministério da Saúde, esse fármaco deve ser usado de forma criteriosa durante a amamentação7. Realizou-se uma pesquisa com seis mulheres que se encontravam amamentando e estavam sobre o uso de duloxetina com uma dosagem de 40 mg a cada 12 horas por 3 dias. As amostras de leite de ambas as mamas foram obtidos antes e após 1, 2, 3, 6, 9 e 12 horas, sendo que os níveis de pico de duloxetina no leite materno ocorreu a uma média de 6 horas após a dose do fármaco. A quantidade de duloxetina no leite materno excretada foi de aproximadamente 7,4 mcg/L da dose do fármaco, se o benefício for considerado superior ao risco, não é necessário ajuste da dose. Não foi observado qualquer risco para o lactente, entretanto devem ser observados estados de sonolência exacerbado e irritabilidade18. A fluoxetina quando ingerido por via oral apresenta concentrações máximas no plasma cerca de 6 a 8 horas após o uso, sendo que cerce de 94,5% liga-se à proteínas plasmáticas e sua meia vida é de 2 à 3 dias. Sua metabolização ocorre principalmente no fígado, sendo metabolizada em norfluoxetina (meia vida plasmática em torno de 7 à 9 dias), metabólito ativo. Esse fármaco é excretado principalmente pelos rins, sendo identificados 65% na urina e 15% nas fezes. De acordo com o Ministério da Saúde, a fluoxetina é compatível com a amamentação. (Drugs.com, Internet, Fluoxetine use while Breastfeeding, 2015)25. 4. RESULTADOS Contudo, uma pesquisa realizada com ratos no pósparto, durante seis semanas, com 2,5 mg/dia do fármaco por 10 dias, encontrou cerca de 3,8% da dose no leite. No estudo, foi observada redução no crescimento, irritabilidade e falta de apetite, em 25% das crias. Em seres humanos não se sabe a possibilidade desse fármaco ser excretado no leite materno, desse modo, deve ser evitado seu uso nos períodos de lactação27. Define-se que o lorazepam é excretado no leite materno em concentrações baixas, sendo sua utilização com intuito de aliviar os sintomas da ansiedade e depressão, podendo causar efeitos adversos tais como sedação, cansaço, tontura. De acordo com o estudo realizado pela Academia Americana de Pediatria, quatro mulheres que tinham recebido 3,5 mg por via oral de lorazepam após 4 horas da dosagem do fármaco apresentaram no leite materno uma concentração de 2,5% da dose do fármaco, sendo que após as primeiras 48 horas não foi observado secreção do remédio. A Academia Americana de Pediatria considera os efeitos do lorazepam no lactente desconhecidos, mas eles podem ser motivo de preocupação se a exposição for prolongada28. No relato de caso de uma mãe que tinha 11 semanas de BJSCR (ISSN online: 2317-4404) V.15,n.3,pp.94-99 (Jun - Ago 2016) pós-parto e utilizava uma dose diária de 20 mg de fluoxetina, foi estimado que o bebê receberia uma dose de 3,3% de fluoxetina que estariam sendo passados pelo leite materno. Com 3 dias de idade o lactente apresentava dificuldade de despertar, apresentava gemidos e grunhindo. Embora a criança tinha sido exposta no útero e foi um pouco sonolento durante os 2 primeiros dias de vida, os sintomas pioraram após entrar em contato com o leite da mãe, demonstrando um efeito adverso do fármaco29. 5. DISCUSSÃO Os efeitos dos fármacos sobre o lactente são maiores em recém-nascidos menores de dois meses e são mais raros de ocorrer em maiores de seis meses30. Determinados fatores devem ser pesquisados, pois a absorção dos fármacos nos recém-nascidos ocorre de forma mais rápida, devido ao fato do sistema enzimático envolvido no metabolismo das drogas amadurecer gradualmente no decorrer das primeiras duas semanas de vida8, desse modo, as drogas ficam mais tempo no organismo do recém-nascido sem serem metabolizadas. Outro fato, é que a barreira hematoencefálica é imatura em recém-nascidos e lactentes jovens, havendo aumento da passagem de fármacos lipossolúveis; ademais, em relação ao ácido gástrico, seu aumento é gradativo após o nascimento. O metabolismo da maioria dos fármacos ocorre no fígado com a participação do citocromo P450, o qual lactentes apresentam em menor quantidade, corresponde a 50-70% do valor em relação ao adulto, o que leva à maior biodisponibilidade das drogas8. Por outro aspecto, a eliminação renal ocorre de modo que a taxa de filtração glomerular é mais baixa nos recém-nascidos (30-40% do que observados no adulto). No final da terceira semana, a filtração glomerular corresponde a 50-60% do valor observado no adulto, em 6-12 meses atinge os valores do adulto, favorecendo a eliminação dos fármacos. O volume de leite ingerido também influencia, pois lactentes que mamam mais estão mais expostos às drogas maternas que aqueles que mamam menos e com um volume menor6. 6. CONCLUSÃO O leite materno é o alimento mais indicado para o neonato, entretanto, existem alguns fatores que podem levar a uma preocupação ao amamentar, entre eles está à utilização de fármacos pela mãe, pois a maioria dos medicamentos transpõe-se para o leite podendo ser encontrados no plasma do infante, o que pode então causar efeitos adversos à saúde do bebê. Fármacos que atuam como psicofármacos enquadram na categoria de remédios mais utilizados na fase puerperal, sendo que os efeitos para o lactente que ingere dosagens desse medicamento junto ao Openly accessible at http://www.mastereditora.com.br/bjscr Sá et al./ Braz. J. Surg. Clin. Res. leite materno ainda são poucas conhecidas. Pesquisas referentes ao tema devem ser abordadas com o intuito de lucidar as lacunas encontradas pelos profissionais de saúde que muitas vezes não sabem como lidar com a situação de uma mãe que esteja amamentado e o manuseio na prescrição dos remédios. Ademais, devemos ter o cuidado com fármacos que se encontram no mercado e que não demostram estudos comprobatórios sobre a real dosagem da passagem desses remédios junto ao leite materno e seus possíveis efeitos adversos em um recém-nascido que ainda não se encontra com seu sistema completamente formado. REFERÊNCIAS [01] Byatt, Nancy; Deligiannidis, Kristina M., Freeman, Marlene P. Antidepressant Use in Pregnancy: A Critical Review Focused on Risks and Controversies, National Institute of Health, v. 127, p. 94-114, maio de 2014. [02] Ito, Shinya. Chronic illness and the breastfeeding mother, Motherisk, The Hospital for Sick Children, Toronto, v.54, p. 13, maio de 2014. 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Openly accessible at http://www.mastereditora.com.br/bjscr Vol.15,n.3,pp.100-105 (Jun – Ago 2016) Brazilian Journal of Surgery and Clinical Research - BJSCR DEFEITO DO METABOLISMO DA CREATINA E SUA CORRELAÇÃO COM A MANIFESTAÇÃO DE DÉFICIT COGNITIVO – AUTISMO DEFECT IN CREATINE METABOLISM AND ITS CORRELATION WITH THE MANIFESTATION OF COGNITIVE DEFICITS – AUTISM SAMARA LUÍZA SILVA1*, ALINE MARIANO DA SILVA1, MAIELE CARVALHO DE MENDONÇA1, MICAELE CAMPOS COELHO1, NATÁLIA ALVES SOUZA ALMEIDA1, KAROLAYNE CRISTINA DE SOUZA RODRIGUES1, FERNANDO FERREIRA RIBEIRO1, LEONARDO DE ARAÚJO LOPES2 1. Biomédica(o), Graduada(o) pela Faculdade Única de Ipatinga – M.G; 2. Farmacêutico. Graduado pela Universidade Federal de Alagoas – UFAL. Mestre em Imunobiologia de protozoários pela Universidade Federal de Ouro Preto – UFOP. Docente do curso de Biomedicina da Faculdade Única de Ipatinga – M.G. * Rua Salermo, 299, Bethânia, Ipatinga, Minas Gerais, Brasil. CEP: 35160-214. [email protected] Recebido em 10/06/2016. Aceito para publicação em 11/07/2016 RESUMO 1. INTRODUÇÃO A creatina é um composto de aminoácidos encontrado em alimentos de origem animal, exclusiva das células do cérebro, miocárdio e músculos esqueléticos e sua função primordial é a produção de energia. Deficiências relacionadas a produção e ao metabolismo da creatina estão sendo associadas a doenças como o autismo, hiperatividade e retardo mental. Problemas no funcionamento da enzima responsável pela produção da creatina – arginina: glicina amidinotransferase (AGAT) e guanidino acetato metiltransferase (GAMT), leva a um acúmulo de um intermediário da creatina, o guanidino acetato (GAA), que prejudica o funcionamento da creatina-quinase cerebral e na diminuição dos níveis séricos de creatina. O diagnóstico precoce destes defeitos relacionados a creatina é de grande importância, uma vez que o tratamento adequado evita progressões nos quadros clínicos, dentre estes, desordens no desenvolvimento psicomotor e no desenvolvimento neurológico do paciente. As patologias que envolvem os erros inatos do metabolismo (EIM) são geneticamente ocasionadas por um defeito específico (na maioria das vezes enzimático), levando a via metabólica a um bloqueio. Quando isso ocorre, o bloqueio tem como resultado um acúmulo do substrato da enzima deficiente, a redução do produto da reação, e o substrato se esquiva para outra via metabólica. Já foram descritos aproximadamente 500 tipos de EIM diferentes, o que corresponde em média a 10% de todas as patologias genéticas. Considerando que individualmente são raras, os EIM em conjunto são frequentes, tendo uma estimativa de um caso para cada 1.000 nascimentos1,2. Os EIM são considerados patologias geneticamente determinadas, sendo assim, o responsável por cerca de 10% de todas as patologias genéticas. A maior parte dos EIM é de fundamental importância no aconselhamento genético, devido ao alto índice. Esta patologia é herdada de forma autossômica recessiva, sendo assim, o casal tem a possibilidade de 25% em gerar uma criança portadora desta patologia3. Os EIM são acometidos devido ao um bloqueio de uma via metabólica, causada por um defeito enzimático especifico. Devido a este bloqueio, é ocasionado um acúmulo do substrato inicial, ou a falta do produto da reação, ou ainda, um desvio da rota, o que pode levar a origem de outro produto final. Os EIM podem ser classificadas conforme o efeito metabólico final ocasionados pelo erro genético em patologias de pequenas ou de grandes moléculas. Tem como finalidade esta classificação estabelecer a sua relação com a apresentação clínica, e facilitando as suspeitas e o diagnostico especifico. O diagnóstico precoce para os EIM é fundamental, pois estabelece melhores benefícios da terapia, para algumas destas patologias o tratamento é de forma efetiva, já em outras o tratamento PALAVRAS-CHAVE: Deficiência de creatina, déficit cognitivo, autismo. ABSTRACT Creatine is an amino acid compound found in animal foods, exclusive of the cells of the brain, myocardium and skeletal muscles and their primary function is to produce energy. Deficiencies related to production and creatine metabolism are associated with disorders such as autism, hyperactivity and mental retardation. Problems in the functioning of the enzyme responsible for the production of creatine - arginine: glycine amidinotransferase (AGAT) and guanidine acetate methyltransferase (GAMT), it leads to an accumulation of an intermediate of creatine, acetate guanidine (GAA), which impairs the functioning of creatine brain kinase and decreased serum levels of creatine. The early diagnosis of these defects related creatine is extremely important, since the treatment prevents proper progression in clinical settings, among these, psychomotor development disorders and neurological development of the patient. KEYWORDS: Deficiency of creatine, cognitive impairment; Autism. BJSCR (ISSN online: 2317-4404) Openly accessible at http://www.mastereditora.com.br/bjscr Silva et al./ Braz. J. Surg. Clin. Res. altera a progressão da doença2. Os transtornos do espectro autista (TEA) englobam um grupo de doenças que têm em comum a interação social prejudicada, a falta de atividade imaginativa, a comunicação verbal e não verbal prejudicada e comportamentos estereotipados e repetitivos. São desordens do desenvolvimento neurológico caracterizado pela sua enorme complexidade e heterogeneidade, tanto do ponto de vista neurobiológico (genética, neuroimagem, comportamento e cognição, etc.) como do ponto de vista clínico. Doenças metabólicas são consideradas hoje uma causa de TEA, mesmo que rara. Alguns desses EIM é a deficiência de transportador de creatina ou distúrbios do metabolismo da creatina4. Na idade média o autismo era visto como um castigo divino e as crianças eram eliminadas da população, já que eram vistas como malformadas e deficientes. Na década de 70 e 80 o autismo vem a ser conhecido como um distúrbio cognitivo. O autista possui características como resistência ao aprendizado, dificuldade de interagir com outras pessoas, comportamento indiferente, e são geralmente hiperativos. Muitas vezes o autista age como se fosse surdo, e alguns possuem uma maneira peculiar de girar objetos continuamente5. Muitas crianças autistas têm história de problemas auditivos e otite recorrente, e em alguns casos podem desenvolver transtornos convulsivos ou epilepsia na infância ou adolescência. Em relação ao diagnóstico, exames de imagem podem revelar irregularidades neurológicas, mesmo na ausência de convulsões e epilepsias. É possível notar em crianças autistas um medo exagerado a estímulos inofensivos, e respostas sensoriais peculiares, hipersensibilidade ou hiposensibilidade a estímulos táteis, sonoros e visuais. Alguns têm fascinação com luzes piscando e reflexo no espelho6. O que chama a atenção no autismo é a diversidade de sintomas e etiologias, resultando assim em diferentes esquemas e abordagens terapêuticas. O papel do profissional que trabalha com o autismo é orientar e interpretar um indivíduo com complexas alterações cognitivas7. As síndromes de deficiência cerebral de creatina são um grupo de patologias recentemente descritas, caracterizadas por defeitos congênitos no metabolismo da creatina. O estudo do mecanismo da patologia se mostra importante no diagnóstico de perturbações do neurodesenvolvimento. Como também, a identificação do tipo de defeito metabólico que culmina na ausência de creatina, seja este defeito na sua síntese ou no seu transporte. A deficiência de creatina se não tratada, por vezes, pode ter consequências graves, como a possível manifestação do autismo. No entanto, se diagnosticada e tratada logo que possível esta consequência pode ser evitada ou minimizada, melhorando assim a qualidade de vida desses pacientes. As manifestações comportamentais do autismo são consequên- BJSCR (ISSN online: 2317-4404) V.15,n.3,pp.100-105 (Jun – Ago 2016) cias do anormal desenvolvimento cerebral em suas estruturas e funções. Estudos sugerem que a doença possui etiologia complexa e multifatorial, não havendo consenso quanto às causas das alterações neurológicas e como elas se manifestam. Com base nisso, o estudo do defeito do metabolismo da creatina mostra-se importante, uma vez que, tal disfunção pode ser verificada como um dos fatores etiológicos para o desenvolvimento da doença. Os objetivos da presente revisão serão: Correlacionar o erro do metabolismo da creatina cerebral; Demonstrar as causas dos defeitos do metabolismo da creatina; Discutir a pertinência da triagem da deficiência de creatina em neonatos e crianças. 2. MATERIAL E MÉTODOS Este estudo constitui-se de uma revisão de literatura com abordagem descritiva realizada entre março e novembro de 2015. Utilizou-se para a pesquisa as bases de dados MedLine e SciELO, como também outros sites gratuitos com acesso a arquivos de produção científica, como teses, dissertações, artigos, periódicos. Como também livros de conteúdo científico. As palavras-chave utilizadas na busca foram: erros inatos do metabolismo, creatina, síndromes de deficiência cerebral de creatina, creatina cerebral, transtornos do espectro do autismo. Os mesmos termos também serão pesquisados na língua inglesa. Para cada um desses descritores foram selecionados os estudos mais pertinentes ao objetivo do trabalho. 3. DESENVOLVIMENTO Deficiência de creatina associada ao surgimento de déficit cognitivo – autismo Metabolismo e biossíntese da creatina A creatina é um composto de aminoácidos encontrado em alimentos de origem animal, tais como peixes e carnes sendo fornecida em quantidade de um grama de creatina/ dia. Sua sintetização também pode ser feita a partir de fontes endógenas uma vez que, o fígado, rins e pâncreas fazem parte deste processo juntamente com alguns aminoácidos importantes nas etapas da síntese desta, tais como glicina, arginina e metionina. A maior parte de creatina encontra-se nos músculos esqueléticos na forma de fosfocreatina, no qual é a primeira a ser degradada durante exercícios que precisam de uma demanda maior de energia8. A síntese de creatina inicia-se a partir do aminoácido arginina de maneira que o grupo amino da arginina é passado para a glicina no qual a reação enzimática é iniciada pela enzima arginina: glicinaamidinotransferase (AGAT) tendo como resultado a formação de ornidina e guanidino acetato (GAA). A enzima guanidino acetato metiltransferase (GAMT) catalisa o segundo passo da biossíntese de creatina, transformando o GAA em creatina. A GAMT Openly accessible at http://www.mastereditora.com.br/bjscr Silva et al./ Braz. J. Surg. Clin. Res. promove a transferência reversível do grupo metil para o GAA originando creatina. A proteína que tem a função de transportar a creatina é a SLC6A89. A enzima creatina-quinase (CK) é exclusiva das células do cérebro, miocárdio, músculos esqueléticos e em poucas quantidades nos demais tecidos. Tem como função primordial a produção de energia, uma vez que serve como catalisador na fosforilação de adenosina difosfato (ADP), creatina e adenosina trifosfato (ATP), sendo ela a causadora da ligação rica em energia ao ADP. Essa reação permite uma facilidade na formação de ATP para atividades contráteis bem como no músculo e outros tecidos10. O processo creatina/creatina-quinase está estritamente relacionado a funções importantíssimas no sistema nervoso central (SNC) como, alongamento dendrítico e axonal, migração dos cones em crescimento, atividade na bomba sódio e potássio, arranjo do potencial de membrana e a homeostase do cálcio11. Por esta razão, o organismo celular reserva isoenzimas CK citosólica e mitocondrial caso a célula necessite ativar rapidamente e sem abaixar com rapidez o pico de ATP intracelular12. No cérebro, as enzimas reguladoras da síntese de creatina situam-se nos neurônios, oligodedrócitos e astrócitos, sugerindo a produção da creatina por tais células, visto que a ação de transportadores específicos para esta é menor na barreira hematoencefálica. Esta é levada para os tecidos através de um meio ativo com grande afinidade pela bomba de sódio e potássio12. Foi identificado que certos hormônios podem estimular a obtenção de creatina pelas células musculares, como exemplo as catecolaminas que podem influenciar juntamente com os β receptores, a creatina, uma vez que seu mecanismo dependerá de monofosfato cíclico (AMP). Outro exemplo, seriam doses elevadas de insulina e o fator de crescimento (IGF-1) como essenciais na captação da creatina9. Déficit cognitivo pelo defeito do metabolismo da creatina cerebral O autismo e os transtornos do espectro do autismo são desordens do desenvolvimento neurológico heterogêneos comportamentalmente definida por déficits significativos na interação social e comunicação e pela presença de interesses restritos e comportamentos repetitivos. A etiologia do autismo permanece em grande parte desconhecido, mas é provavelmente multifatorial, incluindo fator biológico, genético e ambiental13. O papel dos transtornos neurometabólicos ou subjacente disfunção metabólica na produção de um fenótipo de autismo não é clara. A deficiência de creatina cerebral pode estar associada com um fenótipo de autismo. Produzindo uma variedade de sintomas clínicos, incluindo atraso mental, atraso de fala e epilepsia13. Se tratando de síndromes da deficiência de cretina, três disfunções genéticas foram descobertas como causa BJSCR (ISSN online: 2317-4404) V.15,n.3,pp.100-105 (Jun - Ago 2016) das síndromes: a deficiência de guanidino acetato metiltransferase (GAMT), a deficiência de arginina: glicina amidinotransferase (AGAT) e a deficiência no transportador de creatina (CRTR), a proteína SLC6A8. Os sintomas clínicos comuns às três disfunções são o retardo mental e a epilepsia, dessa forma, sugerem um envolvimento importante do SNC na patologia dessas doenças. As deficiências de AGAT e de GAMT têm caráter autossômico recessivo e a de SLC6A8, de herança recessiva ligada ao cromossomo X14, 15. A deficiência de creatina enquadra-se como um defeito do metabolismo dos aminoácidos. A creatina sintetizada no fígado e no pâncreas é transportada para os músculos e o cérebro, que contêm altas atividades de creatina-quinase (CK). A fosforilação e desfosforilação da creatina produzem reações com fosfato de alta energia 16. Quando ocorrem demandas energéticas, a enzima CK catalisa a transferência do grupo fosfato da fosfocreatina para o ADP restaurando as reservas de ATP e creatina. A enzima tem papel central no metabolismo energético em tecidos com alta demanda energética, tais como cérebro, músculos cardíaco e esquelético. A CK apresenta as seguintes isoformas: cerebral (CK-BB), muscular esquelética (CK-MM) e muscular cardíaca (CK-MB). Metabólitos acumulados são capazes de inibir a atividade da CK. A deficiência de guanidino acetato metiltransferase (GAMT) provoca o acúmulo de guanidino acetato (GAA) prejudicando a atividade da CK-BB. A diminuição na atividade da CK vem sendo associada com perda neuronal seguida de isquemia e com doenças neurodegenerativas17. O sistema de creatina, fosfocreatina e creatina-quinase desempenha um papel essencial para manter altos níveis de energia necessários para a SNC. O cérebro representa apenas dois por cento da massa corporal, mas pode gastar até vinte por cento do consumo total de energia18. A disfunção no transporte de creatina é de etiologia genética, causada por mutações no gene SLC6A8/CRTR. Sendo que esta disfunção relaciona-se ao fenótipo de algumas doenças como o autismo, hiperatividade e retardo mental. A creatinina é um indicador confiável do metabolismo da creatina. Já foi verificado níveis baixos de creatinina na urina de indivíduos com autismo comparandose a um grupo controle de pessoas sem autismo. Foram sugeridos estudos posteriores com o emprego de exame neurológico de imagem ou análise do sequenciamento do gene (SLC6A8/CRTR1)19. A deficiência de guanidino acetato metiltransferase (GAMT) é um erro inato do metabolismo da creatina. A doença é, bioquimicamente, evidenciada pelo acúmulo de guanidino acetato (GAA) e deficiência de creatina e fosfocreatina nos tecidos dos pacientes afetados. Os mecanismos da disfunção neurológica que ocorrem nessa doença ainda são desconhecidos. As manifestações neurológicas encontradas nos pacientes associadas ao Openly accessible at http://www.mastereditora.com.br/bjscr Silva et al./ Braz. J. Surg. Clin. Res. acúmulo de GAA no cérebro, sugerem uma ação neurotóxica. Acredita-se que o GAA atua em receptores GABAA como agonista, sugerindo um possível mecanismo de indução de disfunção neuronal em pacientes com deficiência de GAMT. A estimulação prolongada desses receptores pode causar uma desestabilização dos mesmos e aumentar a excitabilidade neuronal17. O retardo mental, o comportamento autístico, e desordens de linguagem graves parecem ser o resultado da depleção de creatina no cérebro, enquanto que distúrbios do movimento, a epilepsia, e deterioração neurológica apontam para um possível efeito neurotóxico da GAA ou outros compostos de guanidina20. Radicais livres são normais no organismo e exercem funções importantes, tais como fagocitose, sinalização celular e regulação de proteínas. Entretanto, quando formados em excesso, os radicais livres geram o estresse oxidativo, podendo provocar reações em cadeia e causar alteração a um grande número de moléculas. O estresse oxidativo pode ter envolvimento na fisiopatologia desta doença. Já foi verificado que compostos guanidínicos induzem convulsões em ratos e coelhos e que são capazes de produzir radicais livres. Todas as células aeróbicas sofrem algum tipo de dano oxidativo, sendo que o cérebro é um tecido especialmente sensível. Nesse contexto, vem sendo proposto que o GAA possa estar envolvido na neuropatologia da deficiência de GAMT 14. Ainda não está definida a prevalência das síndromes de deficiência de creatina na população em geral. Existe a ocorrência de deficiência de SLC6A8 em até dois por cento dos deficientes mentais do sexo masculino. Madeira relata ainda que a prevalência de deficiência de GAMT em Portugal seja de um caso para 40.000 nascimentos. Dada a proximidade genética entre Brasil e Portugal, é possível que esses achados se apliquem também a população brasileira21. Diagnóstico da deficiência de creatina e tratamento O diagnóstico precoce desta doença progressiva é de suma importância, visto que a evolução nos doentes com deficiência da enzima guanidino acetato metiltransferase (GAMT) parece estar relacionada com a idade na qual o tratamento é iniciado. É provável que o diagnóstico ao nascimento e o início do tratamento em idades muito jovens, numa fase pré-sintomática, melhore efetivamente o prognóstico destes indivíduos22. O autismo por deficiência de creatina pode ser consequência de distúrbio da síntese da creatina (AGAT ou GAMT) ou por defeito na proteína transportadora (SLC6A8) e a deficiência pode ser demonstrada por ressonância magnética de encéfalo com espectroscopia 23. Pacientes com deficiência no SLC6A8 apresentam uma elevada razão de creatina/creatinina na urina 24. BJSCR (ISSN online: 2317-4404) V.15,n.3,pp.100-105 (Jun – Ago 2016) O tratamento objetiva elevar os níveis de creatina e reduzir os níveis de ácido guanidinoacético (GAA). A suplementação oral com monohidrato de creatina acarreta num aumento da concentração da creatina cerebral. Com a inibição da enzima arginina-glicina amidinotransferase (AGAT) diminui-se parcialmente a acumulação de GAA o que pode ser reforçado pela restrição concomitante de arginina, o substrato limitador da sua síntese. Doses baixas de ornitina (100 mg/kg/dia) previnem a falta de arginina no ciclo da ureia e altas doses (800 mg/kg/dia) teriam um efeito adicional na diminuição de GAA, por inibição competitiva da atividade da AGAT 22. Nos pacientes com deficiência de GAMT e AGAT, a suplementação oral de creatina em concentrações de 350 miligramas a dois gramas por Kg de peso corporal por dia leva a uma significativa melhora dos sintomas clínicos e, principalmente quando iniciada precocemente, tem grande impacto no desenvolvimento cognitivo e no controle dos sintomas neurológicos associados. Nos pacientes com deficiência de GAMT, a associação entre restrição de arginina e suplementação de ornitina leva a redução dos níveis de GAA e supressão dos efeitos neurotóxicos causados pelo acúmulo dessa substância. Estudos de imagem por ressonância magnética com espectroscopia de próton revelam que a diminuição do GAA circulante favorece a restauração dos níveis cerebrais de creatina e fosfocreatina principalmente em pacientes com deficiência de GAMT. Para a deficiência de SLC6A8, não há tratamento definido e a reposição oral de creatina não revela benefícios clínicos21. Independentemente da resposta ao tratamento, todos os pacientes e seus familiares podem se beneficiar de um diagnóstico e de um adequado aconselhamento genético 21. Importância da triagem da deficiência de creatina em neonatos e crianças A importância do diagnóstico precoce da deficiência de creatina, principalmente em neonatos e crianças se deve ao fato das manifestações clínicas serem reversíveis, de forma que um diagnóstico tardio pode acarretar complicações irreversíveis ao paciente. A procura por um médico começa quando a criança já apresenta disfunções, como deficiência na fala, interação social e de comunicação. Esses problemas possuem relações genéticas, uma vez que pacientes que apresentam perturbação do espectro do autismo (PEA) apresentam deficiências na enzima arginina:glicina amidinotransferase (AGAT) e na transportadora de creatina (CRTR)11. Crianças com atraso psicomotor moderado a grave, atraso e ausência da fala, epilepsia, alterações de comportamento e autismo, e com dificuldades de aprendizagem, deverão ser sempre rastreadas. O diagnóstico da deficiência de creatina, permite além do tratamento para o problema, a realização de um aconselhamento genético apropriado, com a possibilidade de pesquisa da mutação em Openly accessible at http://www.mastereditora.com.br/bjscr Silva et al./ Braz. J. Surg. Clin. Res. uma futura gravidez25. Níveis baixos ou ausência de creatina no cérebro podem caracterizar uma doença metabólica em que paciente apresentará principalmente sintomas neurológicos. A creatinina é um marcador confiável do metabolismo da creatina. Autistas apresentam níveis mais baixos de creatinina na urina com relação a não autistas. O diagnóstico inicial é considerado fácil, através do doseamento da creatinina na urina19, 25. 4. CONCLUSÃO O déficit de creatina é decorrente do comprometimento da função das enzimas envolvidas em sua biossíntese, a AGAT e a GAMT e com a proteína responsável por seu transporte, a SLC6A8. A depleção de creatina no cérebro pode compromete de forma intensa a função do SNC, podendo ser um fator que culmina em manifestações comportamentais do autismo. O acúmulo de GAA no cérebro sugere uma ação neurotóxica, causando efeitos no desenvolvimento cognitivo. A triagem da deficiência de creatina tem importância não apenas para a implantação de tratamento precoce para a doença como também a realização de aconselhamento genético. A deficiência de creatina deve ser considerada em todos os doentes com déficit cognitivo inexplicado. A suplementação de creatina, especialmente iniciada precocemente, tem grande impacto no desenvolvimento cognitivo e no controle dos sintomas neurológicos associados. Ainda são necessários estudos posteriores para melhor esclarecimento do assunto e possíveis melhores expectativas para o futuro ao que tange o tratamento de déficits cognitivos. Poderia ser interessante a utilização de exame neurológico de imagem como também a análise do sequenciamento do gene (SLC6A8/CRTR1). Pois a disfunção no transporte de creatina é de etiologia genética, causada por mutações no gene SLC6A8/CRTR1. REFERÊNCIAS [1] Teixeira PRA, Reis SC, Carvalho TJ, Cisz,M, Silva LCS. Perfil epidemiológico de erros inatos do metabolismo na região Norte do Brasil. An Congr Bras Med Fam. 2013; 12:1357. [2] Cardoso MSS. Erros Inatos do Metabolismo dos Hidratos de Carbono. [Dissertação] Porto: Universidade Fernando Pessoa - Faculdade Ciências da Saúde; 2014. [3] Bittar CM. Triagem clínica e bioquímica e diagnóstico de deficiência de lipase ácida em pacientes de alto risco. 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Professora Adjunto de Pediatria do Instituto Metropolitano de Ensino Superior/IMES IMES – Univaço, Ipatinga, Minas Gerais, Brasil. Msc Saúde, Meio Ambiente e Sustentabilidade, Ipatinga, Minas Gerais. Doutoranda em Gestão pela UTDA. Orientadora. * Rua Marques de Caravelas nº253, Condomínio Village Nobre, Bairro Cidade Nobre, Ipatinga, Minas Gerais, Brasil. CEP: 35160-000 [email protected] Recebido em 09/05/2016. Aceito para publicação em 16/07/2016 RESUMO 1. INTRODUÇÃO A proposta deste estudo bibliográfico foi identificar as concepções sobre apresentação clínica, diagnóstico e tratamento das dermatofitoses, referidas na literatura nacional e internacional. Foram utilizadas as bases de dados SCIELO e PUBMED, e o levantamento bibliográfico manual em livros texto, após os critérios de exclusão foram selecionados 10 artigos e sete capítulos. As dermatofitoses são infecções também conhecidas como tineas, causadas pelos dermatófitos, fungos que acometem os tecidos queratinizados do corpo, representados pela pele, cabelos e unhas, sendo uma causa importante de morbidade no mundo. A apresentação clínica varia conforme o local de acometimento do organismo. O diagnóstico inicia-se primariamente com um exame clínico minucioso, sendo possível estabelecer a confirmação por meio de métodos laboratoriais (exame microscópico direto e cultura) e da lâmpada de Wood. O tratamento nem sempre é simples, havendo dificuldade na escolha dos esquemas terapêuticos disponíveis na literatura, assim como suas possíveis interações medicamentosas e efeitos colaterais. A dermatofitoses são infecções também conhecidas como tineas, sendo causadas pelos dermatófitos, fungos que acometem os tecidos queratinizados do corpo, representados pela pele, cabelos e unhas. Esses microorganismos não sobrevivem em regiões onde não há formação de queratina como a mucosa da boca e a mucosa da vagina1,2,3. Os dermatófitos são classificados em três gêneros: Trichophyton sp., Microsporum sp. e Epidermophyton sp.1,4,5,6, sendo que apenas algumas espécies destes são responsáveis pela maioria das infecções humanas1,2. As espécies de dermatófitos são divididas em antropofílicas, que acometem o homem, geofílicas, encontradas no solo, e zoofílicas, originadas de animais 1,2,4,5. Cerca de 70% das infecções em humanos são causadas pelas espécies antropofílicas. Estas espécies se adaptaram para infectar os seres humanos, sendo que as espécies zoofílicas podem ser responsáveis por até 30% das infecções1. A infecção pode ocorrer a partir de contato direto com animais e humanos infectados ou por contato indireto, por meio de fômites. Alguns fatores dificultam a infecção pelo fungo, tais como a pele íntegra, a descamação fisiológica e a presença de ácidos graxos que possuem ação antifúngica. Já a imunossupressão, fatores locais como umidade, ausência de luminosidade e fricção contribuem para uma maior susceptibilidade à infecção3. Segundo a Organização Mundial da Saúde, até 25% da população mundial pode estar acometida pelos dermatófitos, sendo que a incidência em pacientes imunocomprometidos é maior. A prevalência das dermatofitoses é maior em regiões tropicais e subtropicais, pois o calor e a umidade oferecem condições ideais para o crescimento dos fungos, sendo fatores predisponentes para a infecção3,5. Fatores genéticos também podem estar envolvidos, pois pessoas casadas podem não se contaminar a partir da infecção do cônjuge2. PALAVRAS-CHAVE: Dermatofitoses, diagnóstico, tratamento. ABSTRACT The proposal of this literature study was to identify the conceptions about the clinical presentation, diagnosis and treatment of dermatophytosis, referred to in the national and international literature. The used databases were SCIELO and PUBMED, and manual literature text books, after the exclusion criteria were selected ten articles and seven chapters. Dermatophytosis infections are also known as tineas, caused by dermatophytes, fungi that affect keratinized tissues of the body, represented by the skin, hair and nails, an important cause of morbidity in the world. The clinical presentation varies depending on the site of involvement of the body. Diagnosis starts primarily with a thorough clinical examination, being possible to establish the confirmation by laboratory methods (direct microscopic examination and culture) and the Wood lamp. Treatment is not always simple, with difficulty in the choice of treatment regimens available in the literature, as well as their possible drug interactions and side effects. KEYWORDS: Dermatophytosis, diagnosis, treatment. BJSCR (ISSN online: 2317-4404) Openly accessible at http://www.mastereditora.com.br/bjscr Soares et al./ Braz. J. Surg. Clin. Res. Em relação à localização corporal, algumas regiões como couro cabeludo, face e braços podem ser mais propícios à infecção por serem áreas expostas. Além disso, o local de acometimento do organismo também pode ser utilizado para designar a própria afecção. Sendo assim, temos: tinea corporis (tinha do corpo), tinea pedis (tinha do pé), tinea manuum (tinha da mão), tinea capitis (tinha do couro cabeludo), tinha cruris (tinha da região crural ou inguinal), tinea barbae (tinha da barba), tinea unguium (tinha da unha)1,3,6. As tineas podem atingir o homem em qualquer época da vida, mas em algumas faixas de idade é mais frequente a infecção. A tinea capitis é a infecção fúngica que mais acomete crianças abaixo de 12 anos de idade, já a tinea cruris é mais frequente entre os adolescentes, jovens e adultos. A tinea pedis é mais comum no adulto e rara antes dos 4 anos4,5. 2. MATERIAL E MÉTODOS Trata-se de uma pesquisa bibliográfica em que foram utilizadas as bases de dados SCIELO e PUBMED, através da INTERNET, e o levantamento bibliográfico manual em Tratados de dermatologia, farmacologia e atualização terapêutica da biblioteca do Instituto Metropolitano de Ensino Superior, no período de março a maio de 2014. Inicialmente foi realizada uma busca sobre a produção do conhecimento referente às dermatofitoses, tendo como objetivo identificar as concepções sobre apresentação clínica, diagnóstico e tratamento. Foram considerados os títulos e os resumos dos artigos para a seleção ampla de prováveis trabalhos de interesse, utilizando-se como palavras chave os termos dermatofitoses, diagnóstico e tratamento. E buscaram-se nos livros textos os capítulos referentes à temática. Foram utilizados como critérios de inclusão os textos que abordavam as dermatofitoses, textos nacionais e internacionais. Assim foram encontrados 39 artigos e dez capítulos sobre a temática, sendo excluídos aqueles que não possuíam texto completo acessível, aqueles publicados anteriormente ao ano 2000 e aqueles que se referiam à dermatofitose no âmbito de uma população específica. Ao final, foram selecionados 10 artigos e sete capítulos de livro texto. 3. DESENVOLVIMENTO Apresentações clínicas Tinea capitis (tinea tonsurante) Acomete preferencialmente crianças em idade escolar (entre 4 e 10 anos). As lesões são caracterizadas pelo aparecimento de uma ou várias placas de alopecia no couro cabeludo, onde se observam fragmentos de pêlos imergindo dos folículos pilosos (tonsura) e descamação. Estas, quando não tratadas, tendem para a cura espontânea na BJSCR (ISSN online: 2317-4404) V.15,n.3,pp.106-113 (Jun – Ago 2016) puberdade1. O T. tonsurans é o principal causador2,4. Tinea supurativa (tinea capitis e barbae) Lesão que acomete crianças e adultos, tendo predileção pelo couro cabeludo na mulher e na criança, e pela barba e bigode no homem (tinea barbae). Caracteriza-se pelo aparecimento gradual de uma placa escamosa que, após evolução, apresenta sinais de inflamação como edema, rubor e pus. É também conhecida pelo nome de “Quérion” e os dermatófitos envolvidos pertencem ao gênero Trichophyton sp., sendo nesses casos o T. mentagrophytes var. mentagrophytes a espécie mais frequentemente isolada. Embora tendam para a cura espontânea, podem originar alopécia cicatricial1,3. Tinea fávica ou favosa (Tinea capitis) Tem como principal agente etiológico o Trichophyton schoenleinii. Na fase inicial da infecção é caracterizada pelo aparecimento, em torno do pelo, de gotas de líquido seroso misturado com material córneo, formando uma massa com aspecto de uma crosta amarelada com odor de urina de rato. As lesões são localizadas sempre na região da nuca e na fronte posterior. Com a evolução da doença, há uma tendência de desenvolvimento de uma foliculite intensa, produzindo uma alopecia definitiva1,3. Ttinea corporis A gama de manifestações é ampla, com lesões de tamanho, grau de inflamação e profundidade de acometimento variáveis, dependendo da imunidade do hospedeiro e da espécie do fungo2. Na infecção clássica a lesão é circular, de coloração rósea, com evolução excêntrica, descamativa, margens nítidas e bordas vesiculares, única ou múltipla, ocasionada por fungos dos gêneros Microsporum sp., Epidermophyton sp. e Trichophyton sp1,2. Normalmente envolve o tronco, ombros, membros e ocasionalmente a face (exceto a região da barba), acometendo tanto crianças quanto adultos de ambos os sexos1,3. Tinea imbricata É comumente encontrada em algumas ilhas do Pacífico, no sul da China, Índia, Guatemala, México, Colômbia, Brasil, Etiópia e Egito. Essa infecção é comum em vilarejos e tribos, acometendo principalmente o jovem adulto, apesar de qualquer faixa etária ou sexo poder manifestá-la. Sua transmissão é feita pelo contato direto ou através de objetos contaminados e é favorecida pela higiene insatisfatória, promiscuidade e pelo clima tropical. A doença caracteriza-se por várias lesões com relevo discreto que evoluem formando círculos escamosos, concêntricos e de diâmetros variáveis. Existe um prurido de intensidade variável que pode interferir na lesão, dando uma hiperqueratose em placas, além de facilitar a disseminação da lesão por autoinoculação1,5. Tinea cruris (tinea da virilha) Openly accessible at http://www.mastereditora.com.br/bjscr Soares et al./ Braz. J. Surg. Clin. Res. Essas lesões são localizadas mais frequentemente na região inguinal (virilha), perianal e, ocasionalmente, nas coxas superiores, poupando, no entanto, o escroto2,3. Podem ser observadas também, porém com menor frequência, nas regiões axilares, inframamárias e interglúteas. Normalmente são mais incidentes em homens adultos e têm como agentes etiológicos mais frequentes, o T. rubrum e E. floccosum. São caracterizadas por lesões com bordas eritematosas, vesiculosas ou mesmo pustulosas, que circunscrevem uma região descamativa, com prurido moderado ou intenso. Sua transmissão é feita pelo contato íntimo com roupas contaminadas, em locais de banho e salas de ginástica1,3. Tinea pedis (lesões interdigitoplantares) Acometem os pés, especialmente a região plantar e os espaços interdigitais. A manifestação clínica mais comum é a lesão intertriginosa, mais comumente conhecida com “pé de atleta” e caracteriza-se por maceração intensa e prurido que atinge a base inferior dos dedos, principalmente entre o quarto e quinto dedo do pé, evoluindo para o aparecimento de fissuras2,4. Estas favorecem as infecções bacterianas secundárias que ajudam a causar um odor fétido no local da infecção 1. Outras manifestações clínicas são as formas disidróticas e hiperqueratóticas. Nas disidróticas há o aparecimento de vesículas duras que se rompem e liberam um líquido, tendendo a formar uma placa na região plantar. Já as lesões hiperqueratóticas formam placas eritemato-escamosas localizadas na região plantar, calcanhar ou na borda lateral do pé, tipo “mocassim”1,3. Os agentes etiológicos mais frequentes nas tineas pedis são T. rubrum, T. mentagrophytes var. interdigitale e E. floccosum1. Tinea manum (lesões interdigitopalmares) Caracterizadas pelo aparecimento de lesões na superfície palmar e na parte lateral dos dedos, podendo variar de aspecto disidrótico a hiperqueratótico. O T. rubrum e o T. tonsurans são os agentes isolados das lesões hiperqueratóticas, enquanto o T. mentagrophytes é mais comumente isolado em casos com aspecto eczematóide1. A tinea da face dorsal da mão apresenta as características da tinea corporis; a tinea da palma tem a mesma aparência queratótica da infeccção nas plantas dos pés2. Onicomicoses dermatofíticas (tinea unguium) É a forma de onicomicose mais comum, responsável por 90% dos casos em algumas regiões, os dermatófitos mais frequentemente isolados são o T. rubrum e T.mentagrophytes1,3. Caracteriza-se por uma invasão na borda da unha com descolamento da lâmina ungueal, tornandoa opaca, esbranquiçada e espessa. Há o desenvolvimento de uma inflamação moderada, resultando em intensa queratólise que produz um raspado subungueal de consistência farinácea e esbranquiçado. Este espaço subungueal BJSCR (ISSN online: 2317-4404) V.15,n.3,pp.106-113 (Jun - Ago 2016) pode servir como reservatório para bactérias, dando um aspecto marrom-amarelado à unha. Durante a evolução da doença pode haver o acometimento do leito ungueal, ocasionando o descolamento da unha1. Onicodistrofia tota é um estágio final de patologia da unha, embora alguns clínicos a considerem um subtipo de onicomicose. Essa lesão é possivelmente originada de outras anteriores e caracteriza-se pela fragilização e queda das lâminas ungueais, persistindo apenas um resto de queratina aderida ao leito ungueal. Geralmente esse quadro é observado em pacientes que fazem descaso pelo tratamento ou pela lesão prévia da unha. O agente etiológico implicado é mais uma vez o T. rubrum1. Diagnóstico O diagnóstico das dermatofitoses inicia-se primariamente com um exame clínico minucioso, tendo em vista que diversas outras condições cutâneas podem ser semelhantes4. Sendo assim, é possível estabelecer a confirmação diagnóstica por meio de métodos laboratoriais (como o exame microscópico direto e a cultura) e da lâmpada de Wood1,2,6. A coleta do material clínico, assim como sua boa conservação e transporte devem ser observados, tendo em vista que podem influenciar nos resultados do exame laboratorial1,6. Para uma amostragem apropriada, o paciente não deve estar fazendo uso de antifúngico, ou se caso estiver, o mesmo deve ser suspenso com um intervalo superior a uma semana antes da coleta. A quantidade de material deve ser suficiente para a realização de, no mínimo, dois exames laboratoriais1,6. Os cabelos devem ser coletados junto com a raiz, pois o fungo encontra-se próximo a estas áreas. As lesões de pele devem ser raspadas partindo-se da região próxima ao centro em direção à periferia da lesão, devido ao crescimento radial do fungo. As unhas devem ser raspadas na sua área distrófica até quase atingir o leito ungueal6. Exame microscópico É o exame mais importante e simples para o diagnóstico da infecção por dermatófitos. As amostras de pele, unha e pelos, após coletadas adequadamente, são colocadas em uma lâmina de microscopia, na qual é aplicada uma preparação de hidróxido de potássio (KOH de 10 a 30%), que é uma solução clarificante1,6. Ao microscópio, em objetiva de aumento de 40x, é possível a visualização dos dematófitos, que quando presentes apresentam-se como hifas ramificadas e sem constrição2. A avaliação microscópica permite identificar a infecção, entretanto, não possibilita a identificação da espécie já que os dermatófitos apresentam aspectos morfológicos semelhantes entre si. O exame de cultura é o indicado para determinar a espécie do agente causal7. Openly accessible at http://www.mastereditora.com.br/bjscr Soares et al./ Braz. J. Surg. Clin. Res. V.15,n.3,pp.106-113 (Jun – Ago 2016) Exame em lâmpada de Wood ser realizado com cremes imidazólicos como cetoconazol, isoconazol, tioconazol, econazol e miconazol. Outros agentes tópicos utilizados são tolnaftato, ciclopirox olamina, terbinafina e naftifina. Estas drogas, em creme a 1%, são utilizadas uma ou duas vezes por dia, durante um período de 2-4 semanas. Para a tinea cruris o tratamento deve ser realizado ao longo de 4-6 semanas. É necessário destacar a necessidade de manter as áreas acometidas livres de umidade, mantendo-as sempre secas8. Ao abordar formas extensas ou inflamatórias da tinea corporis ou tinea cruris, o tratamento sistêmico deve ser considerado. Pode-se optar por terbinafina 250 mg/dia durante 2-4 semanas, itraconazol 200 mg/dia durante uma semana, fluconazol 150-300 mg/semana durante 2-4 semanas e griseofulvina micronizada 500 mg/dia ou ultramicronizada 330-375 mg/dia, ambas durante 2-4 semanas2,8,9. Algumas lesões em pelos, causadas por alguns dermatófitos, quando avaliadas com a lâmpada de Wood, podem revelar raios luminosos com comprimentos de onda acima de 365 nm, emitindo fluorescência azul esverdeada. Esse fenômeno é observado quando estão presentes fungos como os das espécies Microsporum audouinii, M. canis e M. ferrugineum, causadores de Tinea Capitis. A emissão de fluorescência verde pálido pode ser vista em infecções pelo Trichophyton schoenleinii2. Outros fungos que infectam pelos ou pele, com exceção da pitiríase versicolor, não produzem fluorescência. Quando isso ocorrer, outro método deve ser selecionado para avaliação complementar7. A importância deste exame deve-se à oportunidade de diagnóstico de lesões pouco visíveis a olho nu, além de permitir um acompanhamento adequado do paciente7. Exame de cultura A existência de infecção de pele por dermatófitos não exige uma necessidade de se conhecer a espécie causadora da lesão, tendo em vista que os agentes orais e tópicos são ativos contra todos esses fungos. Entretanto, esse conhecimento torna-se necessário quando as regiões acometidas são pelos e unhas2. Na prática clínica, a cultura é indicada quando existe necessidade de tratamento oral, quando a infecção parece refratária ao tratamento inicial ou, ainda, quando o diagnóstico não é bem estabelecido7. O meio de cultura utilizado é o ágar-dextrose de Sabouraud, contendo inibidores bacterianos e fúngicos como cloranfenicol e cicloeximida, o que torna o meio mais seletivo1,6. Outros exames Métodos que utilizam identificação por meio do DNA contido em amostras clínicas ainda não foram padronizados e não há uma relação custo/benefício que justifique o seu uso de rotina6. Tratamento O tratamento das dermatofitoses nem sempre é simples, devendo-se considerar a melhor escolha dentre os esquemas terapêuticos disponíveis, relevando suas possíveis interações medicamentosas e seus possíveis efeitos4,5,14. Medicamentos tópicos ou sistêmicos podem ser utilizados de acordo com cada caso, preferindo-se os primeiros para infecções menos extensas, exceto em couro cabeludo5. O tratamento de cada dermatofitose será apresentado a seguir. As considerações farmacológicas acerca de cada antifúngico encontram-se no Quadro 1. Tinea corporis e tinea cruris O tratamento tópico da tinea corporis localizada pode BJSCR (ISSN online: 2317-4404) Tinea pedis e tinea manuum Recomendam-se os seguintes tratamentos tópicos para as formas não-inflamatórias: cetoconazol, isoconazol, tioconazol, econazol e miconazol. Outros produtos tópicos utilizados incluem tolciclato, ciclopirox olamina, terbinafina e naftifina. Estas drogas, em creme a 1%, são utilizadas uma ou duas vezes por dia, durante 46 semanas8,9. Posteriormente, se necessário, nos casos inflamatórios, o tratamento sistêmico pode ser iniciado. Pode-se optar por terbinafina 250 mg/dia durante 2 semanas; itraconazol 200 mg de 12/12 horas durante uma semana, fluconazol 150 mg/semana durante 2-4 semanas, griseofulvina micronizada 1g/dia ou ultra-micronizada 660-750mg/dia, ambas durante 4-8 semanas2,8. As alaminas, cujo representante mais usado é a terbinafina, mantêm a cura micológica por períodos mais extensos que fármacos azólicos, devido às características lipofílicas e queratinofílicas das alaminas, permitindo que permaneçam farmacologicamente ativas na pele mesmo após a suspensão do tratamento2,10. Tinea capitis O tratamento oral é necessário, uma vez que a droga precisa penetrar nos folículos pilosos para ser eficaz8,11. A griseofulvina é a única droga aprovada pelo FDA (Food and Drug Administration) para o tratamento da tinea capitis (classificação de recomendação A, força de evidência 1a), embora a utilização de terbinafina, itraconazol e fluconazol (todos classificação de recomendação A, força de evidência 1b) também possam ser empregadas de acordo com cada caso. O perfil de eficácia e segurança da terbinafina, itraconazol e fluconazol são semelhantes ao da griseofulvina e estas drogas podem ser utilizadas em caso de falha terapêutica com griseofulvina8. A dose indicada de griseofulvina micronizada é de 20- Openly accessible at http://www.mastereditora.com.br/bjscr Soares et al./ Braz. J. Surg. Clin. Res. 25 mg/kg/dia, já para a fórmula ultra-micronizada, que é mais rapidamente absorvida, sugere-se uma dose de 1015 mg/kg/dia, ambas com duração de 6-12 semanas8,11. Taxas de cura micológica são geralmente elevadas, em torno de 80-95% e 88-100%, para a fórmula micronizada e ultra-micronizada, respectivamente8. A dose de terbinafina é baseada no peso: menos de 20 kg - 62,5mg/dia; 20-40 kg - 125 mg/dia; mais de 40 kg 250 mg/dia, com duração de 4-6 semanas. A taxa de cura micológica é de 96%2,8,9. Itraconazol pode ser usado, embora não tenha sido aprovado pela FDA para crianças. O esquema terapêutico é baseado em uma dosagem contínua de 5 mg/kg/dia, durante 4-6 semanas, ou pulsoterapia com uma dose de 5 mg/kg/dia durante 1 semana no mês, durante 2-4 meses. A taxa de cura micológica é em torno de 82-100%2,8. A terapia com fluconazol 8 mg/kg/semana durante 8 semanas tem uma taxa de cura micológica em torno de 98-100%8,9. Em casos de tinea capitis inflamatória, a associação de corticosteroides sistêmicos pode evitar ou minimizar as cicatrizes de alopecia. Medidas preventivas também são importantes no manejo da doença. Pelo fato de ser contagiosa, as pessoas que vivem com pacientes infectados devem ser examinadas e tratadas adequadamente. O uso de xampus anti-fúngicos (cetoconazol 2%) ou agentes antifúngicos tópicos podem auxiliar no tratamento, eliminando fômites8. Tinea barbae e tinea imbricata Indica-se o tratamento com antifúngicos orais incluindo terbinafina 250 mg/dia, fluconazol 150 mg/semana ou itraconazol 100 mg/dia, durante 2-4 semanas. Para lesões inflamatórias intensas os corticóides sistêmicos são úteis8,9. O tratamento tópico pode ser utilizado como adjuvante. Cremes imidazólicos uma ou duas vezes por dia durante 2-4 semanas8. Tinea unguium/onicomicose As onicomicoses podem ser difíceis de tratar e a recorrência é comum. Segundo alguns autores, a taxa de fracasso terapêutico oscila entre 20-50%12. Os fatores que contribuem para o recorrência incluem o elevado custo do medicamento, períodos prolongados de terapêutica, uso inadequado do medicamento e a intolerância aos efeitos adversos das drogas, tais como hepatotoxicidade e manifestações gastrointestinais8. Atualmente a terapêutica para onicomicose envolve terapia tópica, terapia sistêmica e terapia combinada. A terapia tópica é recomendada nos casos em que a matriz da unha não está envolvida, quando há contraindicações ao tratamento sistêmico e na profilaxia póstratamento. A vantagem é o baixo nível de efeitos sistêmicos e interações medicamentosas, mas apresenta BJSCR (ISSN online: 2317-4404) V.15,n.3,pp.106-113 (Jun - Ago 2016) baixa eficácia terapêutica. O fármaco ideal para o tratamento tópico deve ter penetração eficaz e altas concentrações na placa ungueal8,12. As drogas utilizadas incluem: Amorolfina 5% esmalte, uso semanal, por 6 meses para as unhas das mãos e 9-12 meses para as unhas dos pés, com taxa de cura entre 60-76%12. Ciclopirox olamina 8% esmalte, uma aplicação a cada 48 horas no primeiro mês, duas aplicações semanais no segundo mês e semanalmente a partir do terceiro mês durante 6-12 meses, com taxa de cura entre 29-36%12. Solução de tioconazol 28%; terbinafina e naftifina8,12. Estudos têm demonstrado que as formulações em esmalte penetram na placa e atingem o leito ungueal em concentrações suficientemente elevadas para destruir os fungos que causam a onicomicose8,12. Para permitir uma concentração mais elevada e maior biodisponibilidade da droga nas camadas mais profundas da unha, a avulsão química com ureia a 40%, mecânica ou cirúrgica da placa ungueal pode ser necessária8,11. A terapia sistêmica é recomendada nos casos em que a matriz da unha está envolvida em acometimento superior a 50% da lâmina ungueal, fracasso terapêutico prévio pela via tópica e em onicomicoses múltiplas. Implica em riscos de interação medicamentosa e efeitos adversos, sendo importante o acompanhamento da função hepática e renal12. Em se tratando de onicomicose da unha da mão, utilizam-se: itraconazol 200 mg/dia, durante 6-12 semanas ou pulsoterapia com 200 mg/dia por 7 dias/mês, 2-3 pulsos; terbinafina 250 mg/dia durante 6-12 semanas ou pulsoterapia com 500 mg/dia por 7 dias/mês, 2-3 pulsos; fluconazol 150 mg/semana até a cura clínica; griseofulvina 500-1000 mg/dia até a cura clínica8. Em relação à onicomicose da unha do pé, utilizam-se: itraconazol 200 mg/dia, durante 12-24 semanas ou pulsoterapia com 400 mg/dia por 7dias/mês, 3-6 pulsos; terbinafina 250 mg/dia, durante 12-24 semanas ou pulsoterapia com 500 mg/dia 7dias/mês, 3-6 pulsos; fluconazol 150-300 mg/semana até a cura clínica; griseofulvina 500-1000 mg/dia até a cura clínica4. A combinação de terapia tópica e sistêmica pode aumentar as taxas de cura ou mesmo reduzir o tempo de tratamento, porém não existem estudos conclusivos sobre isso. A associação deve dar prioridade a drogas com mecanismos de ação diferentes. As indicações absolutas para esta opção terapêutica são hiperqueratose da placa ungueal (espessura maior que dois milímetros) e unha distrófica. Resistência do paciente à monoterapia representa uma indicação relativa8. A terbinafina é o antifúngico de eleição para as onicomicoses que afetam as unhas dos pés12. Na dose de 1 comprimido diário, durante 12 semanas, obtém-se a Openly accessible at http://www.mastereditora.com.br/bjscr Soares et al./ Braz. J. Surg. Clin. Res. cura de até 90% dos casos de onicomicose13. Já entre os antifúngicos azólicos, o itraconazol tem efetividade superior12. A terbinafina e o itraconazol alcançam altas concentrações ungueais que persistem mesmo após a interrupção do tratamento14. 4. CONCLUSÃO V.15,n.3,pp.106-113 (Jun – Ago 2016) [13] Carrillo-Muñoz A, Tur-Tur C.; Hernández-Molina JM, Santos P,Cárdenes D, Giusiano G. Antifúngicos disponibles para el tratamiento de las micosis ungueales. Revista Íberoamericana de Micologia. 2010; 27(2): 49-56. [14] Silva P. Farmacologia. 8ª Ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010 [15] Goodman & Gilman. As Bases Farmacológicas da Terapêutica. 12ª Ed. Porto Alegre: AMGH, 2012. Com base na literatura pesquisada foi possível verificar a importância da temática, uma vez que as dermatofitoses são as infecões fúngicas mais frequentes em todo o mundo, afetando indivíduos de diversas faixas etárias e acarretando uma diminuição na qualidade de vida dos pacientes acomentidos, além do prejuízo econômico pelos gastos com o tratamento. Observou-se a necessidade de conhecer o perfil epidemiológico, as diversas formas de apresentação clínica e também os esquemas terapêuticos e preventivos dessas afecções. Tarefa nem sempre fácil, tendo em vista que diversas outras condições cutâneas podem ser semelhantes, somado às dificuldades na abordagem terapêutica, que pode exigir períodos prolongados, elevado custo de alguns medicamentos e intolerância aos efeitos adversos das drogas. REFERÊNCIAS [1] Costa, C. B. Dermatofitoses: gêneros, principais espécies antropofílicas, diagnóstico laboratorial e tratamento. 54f. Monografia de Especialização em Microbiologia. Departamento de Microbiologia, Universidade Federal de Minas Gerais, 2008. [2] Habif TP. Dermatologia Clínica: guia colorido para diagnóstico e tratamento. 5ª Ed. Porto Alegre: Elsevier, 2012. [3] Tomaz D. Será fungo? Revista Portuguesa de Clínica Geral. 2011; 27:96-108. [4] Fernandes NC, Akiti T, Barreiros MG. Dermatophytoses in children: study of 137 cases. Rev Inst Med Trop Sao Paulo. 2001; 43(2):83-5. [5] Sampaio SAP, Rivitti EA. Dermatologia. 3ª Ed. São Paulo: Artes Médicas, 2007. [6] Santos JI, Coelho MPP, Nappi BP. Diagnóstico laboratorial das dermatofitoses. Revista Brasileira de Análises Clínicas. 2002; 34(1):3-6. [7] Fitzpatrick TB. Tratado de Dermatologia. 7ª Ed. Rio de Janeiro: Revinter, 2010; 2. [8] Dias MFRG, et al. Update on therapy for superficial mycoses: review article part I. Anais Brasileiros de Dermatologia. 2013; 88(5):764-74. [9] Dias MFRG, et al. Treatment of superficial mycoses: review article part II. Anais Brasileiros de Dermatologia. 2013; 88(6):937-944. [10] Rotta I, et al. Eficácia de antifúngicos tópicos em diferentes dermatomicoses: uma revisão sistemática com metanálise. Revista da Associação Médica Brasileira. 2012; 58: 308-318. [11] Borges DR. Atualização terapêutica de Prado, Ramos e [12] Valle: diagnóstico e tratamento. 24ª Ed. São Paulo: Artes Médicas, 2013. BJSCR (ISSN online: 2317-4404) Openly accessible at http://www.mastereditora.com.br/bjscr Soares et al./ Braz. J. Surg. Clin. Res. V.15,n.3,pp.106-113 (Jun - Ago 2016) Quadro 1. Características farmacológicas dos agentes antifúngicos disponíveis. Classe Imidazóli-cos Representante Apresentação Cetoconazol Creme 20 mg/g e xampu 20mg/mL Isoconazol Creme, solução, spray Tioconazol Econazol Creme, loção, sol. para unhas 28%, pó, spray Creme, emulsão, sabonete Bifonazol Creme e spray Itraconazol Cáps 100 mg, Suspensão 10 mg/mL Fluconazol Cáps 50-100-150-200 mg, Suspensão 10-40 mg/mL Mecanismo de ação Efeitos adversos Terbinafina Alilaminas Benzofura-no heterocícli-co Naftifina Creme Griseolfulvina Micronizada – comp. 250-500mg, Ultramicroniza-da – comp. 125-165-250-330 mg, Supensão 125 mg/5mL Creme, pomada, solução, pó Tonalftato Morfolina BJSCR Ciclopirox olamina Creme, solução e esmalte de unha 8% Amorolfina Creme e esmalte de unha 5% (ISSN online: 2317-4404) Considerações farmacocinéticas Rifamicinas; varfarina; fenitoína; sulfonilureias; digoxina; ciclosporina midazolam; triazolam; inibidores da HMG-CoA Absorção gastrointestinal aumentada pelos alimentos; lipossolúvel. Contra-indicações Prurido, eritema, irritação local. Inibição das enzimas fúngicas do citocromo P450, com redução da síntese de ergosterol. Fungistático. Distúrbios gastrointestinais; cefaleia; alterações nas enzimas hepáticas; hipertrigliceridemia; hipopotassemia Triazólicos Comps 125-250 mg, Creme, gel, solução e spray (todos a 1%) Interações medicamentosas Hidrossolúvel Inibição da enzima fúngica esqualeno epoxidase, interferindo na síntese de ergosterol. Fungicida. Inibição Fungistática da mitose. Inibição da captação de precursores de macromoléculas da membrama fúngica. Fungicida Distúrbios gastrointestinais; alterações nas enzimas hepáticas; cefaleia; prurido, eritema e irritação local. Cefaleias; distúrbios gatrointestinais; neurite periférica; síndrome alérgica; hepatite; fotossensibili-dade; leucopenia; albuminúria; cilindrúria fenobarbital; Disfunção ventricular e hepática;gestação (categoria C) Lúpus eritematoso cutâneo e sistêmico; disfunção hepática e renal; gestação (categoria B) Rifampicina; cimetidina Varfarina; penicilina Gestação (categoria C) Absorção gastrointestinal aumentada pelos alimentos Porfiria; hepática; gestação. insuficiência lúpus; Prurido; eritema; irritação local O p e n l y a c c e s s i b l e a t h t t p : / / w w w. m a s t e r e d i t o r a . c o m . b r / b j s c r Vol.15,n.3,pp.114-122 (Jun – Ago 2016) Brazilian Journal of Surgery and Clinical Research - BJSCR DEPRESSÃO NA ATENÇÃO PRIMÁRIA: CONSIDERAÇÕES GERAIS ACERCA DO SOBREDIAGNÓSTICO E SOBRETRATAMENTO DEPRESSIVE DISORDER IN PRIMARY CARE: GENERAL CONSIDERATIONS ON OVERDIAGNOSIS AND OVERTREATMENT RODOLFO NEIVA DE SOUSA¹*, RODRIGO FERRETJANS2, MARINA QUEIROZ SANDER3, LUCAS CARVALHO NEIVA4, ANDRE VINICIUS COSTA CARNEIRO DOURADO5 1. Acadêmico do Curso de Graduação em Medicina da Faculdade FAMINAS-BH; 2. Médico psiquiatra, MSc. pela Universidade Federal de Santa Maria, docente do Curso de Graduação em Medicina da Faculdade FAMINAS-BH; 3. Acadêmica do Curso de Graduação em Medicina da Faculdade FAMINAS-BH; 4. Acadêmico do Curso de Graduação em Medicina da Universidade Federal do Sul da Bahia; 5. Acadêmico do Curso de Graduação em Medicina da Faculdade FAMINAS-BH. * Rua Luther King, Cidade Nova, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil, CEP: 31170-100. [email protected] Recebido em 05/05/2016. Aceito para publicação em 05/07/2016 RESUMO Este artigo apresenta evidências do crescimento da prevalência de transtorno depressivo na sociedade moderna, analisa hipóteses que justifiquem esse crescimento e, sobretudo, investiga a hipótese de que a depressão possa estar sendo sobrediagnosticada desde a atenção primária. O sobrediagnóstico implica em sobretratamento, com impactos sobre o bem-estar do paciente, onerando e comprometendo a otimização de recursos no setor de saúde pública. O próprio DSM saltou de 106 possíveis diagnósticos psiquiátricos desde sua primeira edição para cerca de 300, atualmente. Parte do crescimento da prevalência decorre da confusão que se faz entre tristeza, melancolia e depressão, outra parte decorre da definição do diagnóstico mesmo quando nem todos os critérios estão presentes e também da pressão que o paciente exerce sobre o médico na expectativa de uma prescrição farmacológica que reduza o seu sofrimento. Sendo a explosão da depressão um fenômeno da contemporaneidade, a sociedade se vê diante de um dilema: ou se trabalha em mais pesquisas para suprir a demanda cada vez maior de antidepressivos, ou se revê conceitos e estilos de vida, de modo a se reduzir a tendência a “patologização” das emoções humanas. A segunda opção parece não apenas ser a mais lógica, mas a única sustentável. PALAVRAS-CHAVE: Depressão, atenção primária, sobrediagnóstico, sobretratamento. ABSTRACT This article presents evidence of the increasing prevalence of depressive disorders in modern society, examines some hypotheses that justify this growth and, above all, investigates the hypothesis that depression may be being over diagnosed. Over diagnosis implies overtreatment, with impacts on the well being of the patient, burdening and compromising the optimizaBJSCR (ISSN online: 2317-4404) tion of resources in the public health sector. The first version of DSM jumped from 106 possible psychiatric diagnoses to about 300 nowadays. Part of the growth of prevalence growth is originated from the confusion made between sadness, melancholy and depression, another part comes from the definition of the diagnosis even when not all the criteria are met and also, due to the pressure that patients put on doctors for a drug prescription to reduce their suffering. As the explosion of depression is a phenomenon of the contemporary world, society is faced with a dilemma: either working on more research to meet the growing demand for antidepressants, or review concepts and lifestyles, in order to reduce tendency to "pathologizing" human emotions. The second choice seems to be not only the more logical, but also the only sustainable one. KEYWORDS: Depression, primary care, overdiagnosis, overtreatment. 1. INTRODUÇÃO O ser humano tem por característica essencial a sua necessidade do conviver em grupo. É na sociedade que ele realiza suas necessidades, que contribui para o interesse coletivo, que desenvolve seus relacionamentos. Conforme seu comportamento na sociedade, dentro de expectativas, limites e padrões aceitos por aquele grupo, o indivíduo recebe reconhecimento e aprovação, e alimenta sua autoestima1. O homem apresenta um complexo sistema de emoções e sentimentos, em vista da intensa quantidade de conexões entre as suas redes neurais pré-frontais e as estruturas límbicas. Esse comportamento vem se desenvolvendo desde o surgimento dos primeiros mamíferos, e com a evolução, o homem desenvolveu cada vez mais forte a sua necessidade de conviver em grupo e de com- Openly accessible at http://www.mastereditora.com.br/bjscr Sousa et al./ Braz. J. Surg. Clin. Res. partilhar afetos2. No âmbito da psicologia, afetividade é a capacidade individual de experimentar o conjunto de fenômenos afetivos, as tendências, emoções, paixões, sentimentos3. A afetividade consiste na força exercida por esses fenômenos no caráter de um indivíduo e está presente em todas as áreas da vida, influenciando o cognitivo e o comportamento. Afeto é definido como "um conjunto de fenômenos psíquicos que se manifestam sob a forma de emoções, sentimentos ou paixões, acompanhadas da impressão de prazer ou dor, de satisfação ou insatisfação, agrado ou desagrado, alegria ou tristeza" 4. O afeto, portanto, é responsável pelo significado das experiências humanas, pelas emoções frente à realidade, influenciando decisivamente sua percepção e interpretação. Muitas vezes, uma mesma realidade pode ser percebida de forma serena por um ou de forma turbulenta por outro. Portanto, as emoções encontram menos correlação com fatos e realidades, e mais correlação com a forma como a realidade é percebida pelo indivíduo, o que confere o caráter subjetivo ao afeto. A afetividade é, portanto, involuntária e não está sujeita à vontade consciente. Os sentimentos surgem e se esvaem de forma mais ou menos alheia à nossa permissão, contudo, há formas de se buscar o equilíbrio e os limites para se conter os extremos da afetividade. Há soluções tanto no campo psicoterápico quanto farmacológico, por exemplo, para se regular emoções a partir de medicamentos que controlam o fluxo de neurotransmissores5, ou psicoterapias que ajudam o indivíduo a encontrar seu equilíbrio emocional. Vários estudos tentam elucidar que variáveis mais interferem sobre o temperamento e personalidade das pessoas e, embora não se possa listar com precisão esses mecanismos emocionais, é pacífica a ideia de que parte dessa característica é genética, ou seja, é inata e herdada, e parte é determinada por influência do ambiente em que vive o indivíduo6. Quando há um distúrbio na relação entre o indivíduo e o meio em que vive, cria-se uma situação de desequilíbrio, o que em geral resulta em sofrimento e perda de funcionalidade por parte do indivíduo, que deixa de cumprir satisfatoriamente sua função social e às vezes deixa de atender às suas próprias expectativas. Há diversas situações em que esse equilíbrio pode ser comprometido, e as doenças psiquiátricas representam significativa parcela dos casos em que essa harmonia é rompida. Dentre as doenças mentais, o transtorno depressivo é uma das patologias de maior prevalência na população7,8,9. Levantamento feito pela OMS - Organização Mundial de Saúde (2011) indica que a depressão atinge mais de 340 milhões de pessoas no mundo, sendo hoje uma das principais causas de sofrimento psíquico da população, o que pode levar a incapacitação das pessoas para as atividades profissionais e socias diárias. Estudos epidemiológicos apresentados pela OMS corroboram a ideia de BJSCR (ISSN online: 2317-4404) V.15,n.3,pp.114-122 (Jun – Ago 2016) que o número de casos diagnosticados cresce em escala acelerada, mas dada à natureza subjetiva do diagnóstico, um dos grandes desafios dos pesquisadores e profissionais de saúde ainda é separar o quanto desse crescimento é real e o quanto constitui distorções do diagnóstico10. À luz do exposto, os principais objetivos desse trabalho são: apresentar evidências do crescimento da prevalência de transtorno depressivo na sociedade moderna, no Brasil e no mundo; analisar algumas hipóteses que justifiquem esse crescimento e, sobretudo, investigar a hipótese de que a depressão possa estar sendo sobrediagnosticada desde a atenção primária. O maior problema relacionado a distorções do diagnóstico é que grande parte dos casos percebidos como depressão, reais ou não, acabam sendo tratados, o que gera impactos sobre o bem-estar do paciente e onera e compromete a otimização de recursos no setor de saúde pública. 2. MATERIAL E MÉTODOS O método adotado para construção desse artigo foi uma combinação da revisão bibliográfica integrativa com ênfase na prática baseada em evidências, associando-a à entrevistas com médicos que atendem a atenção básica do SUS (Sistema Único de Saúde) na região metropolitana de Belo Horizonte e a visão e experiências dos autores. A revisão integrativa é um método bastante amplo pois considera a inclusão tanto de estudos experimentais quanto não-experimentais para uma compreensão mais abrangente do fenômeno que se estuda11. Para o estudo em questão, no entender dos autores, esta metodologia apresenta vantagens sobre métodos como a meta-análise ou a revisão sistemática. Enquanto a meta-análise constitui um método de revisão baseado na busca de evidências de múltiplos estudos com fundamentação estatística, e a revisão sistemática propõe uma síntese rigorosa das pesquisas e estudos experimentais relacionadas ao tema de interesse, a revisão integrativa abre o leque para abordagens não estatísticas, que encontrem amparo na prática cotidiana. No estudo em particular, a metodologia leva em conta a prática de como a depressão costuma ser abordada e tratada “na vida real”, sobretudo na rede pública. As publicações utilizadas como referências nesse trabalho foram pesquisadas principalmente nas bases de dados da Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), da Medical Literature Analysis and Retrieval Sistem on-line (Medline) e do Google Acadêmico. Para as buscas de artigos foram utilizados descritores e combinações entre esses, em português e em inglês, como “depressão”, “transtorno depressivo”, “causas da depressão”, “sobrediagnóstico da depressão”, “depressão como o mal do século”, “epidemiologia da depressão”. Partindo-se da hipótese inicial defendida pelos autoOpenly accessible at http://www.mastereditora.com.br/bjscr Sousa et al./ Braz. J. Surg. Clin. Res. res, de que há um sobrediagnóstico e, por consequência, um sobretratamento de depressão no Brasil, os autores buscaram investigar estudos anteriores que abordavam as questões epidemiológicas, sua evolução e suas implicações. A pesquisa não se limitou aos artigos, mas também incluiu entrevistas com médicos que atendem nos serviços de atenção básica da rede municipal da região metropolitana de Belo Horizonte, na tentativa de encontrar os elos comuns da prática clínica nos consultórios, no que diz respeito ao diagnóstico e tratamento da depressão. A análise crítica do conjunto de informações levantadas permitiu aos autores interpretar as diferentes abordagens, resultados e tendências, e elaborar as avaliações e conclusões apresentadas no presente estudo. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Diagnóstico da depressão A depressão, quando analisada sob os diferentes prismas da ciência, envolve as abordagens psiquiátrica, psicanalítica, biológica, sociológica, filosófica e outros. Dentro da linha psiquiátrica, alguns autores enfatizam aspectos biológicos e genéticos, outros enfocam uma linha mais biopsicossocial, e outros buscam integrar essas variáveis. Verifica-se também abordagens mais psicanalíticas, onde se utilizam com frequência, por exemplo, a corrente Lacaniana12. Busca-se também entender a depressão pelos seus aspectos sociológico, comportamental, cognitivo, etc. Enfim, trata-se de uma questão multifacetada, portanto passível de múltiplas abordagens e, por tratar-se de tema muito abrangente, o fenômeno nos convida a optar por uma linha principal de análise a seguir. Para fins desse estudo, optou-se pela abordagem psiquiátrica, contemplando aspectos biológicos e psicossociais que se correlacionam com o fenômeno da depressão. O Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais (DSM-5) é um manual nosológico que busca catalogar e categorizar as diversas formas de transtornos mentais, descrevendo entidades, quadros psicopatológicos e combinações entre elas, com base na leitura sintomatológica dos quadros clínicos dos indivíduos13,14. O DSM-5 estabelece os critérios para se caracterizar o transtorno depressivo maior, o que, resumidamente, inclui sintomas com evolução de pelo menos duas semanas e que representam mudanças no funcionamento prévio do indivíduo, como humor deprimido e perda de interesse ou prazer, além de alterações no apetite e no sono, retardo psicomotor, fadiga, sentimento de culpa, concentração reduzida, ideação suicida, dentre outros15. Contudo, o diagnóstico pode se tornar impreciso considerando que o ser humano é de uma complexidade quase incatalogável, o que abre uma razoável margem de subjetividade na prática clínica. Pra se ter uma ideia da complexidade do comportamento humano, a primeira BJSCR (ISSN online: 2317-4404) V.15,n.3,pp.114-122 (Jun - Ago 2016) versão do DSM (DSM-I), de 1952, apresentava em suas 130 páginas, 106 possíveis diagnósticos psiquiátricos, enquanto a versão IV, de 1994, apresentava em suas 886 páginas, 297 categorias de desordens mentais16. A última versão, o DSM-5, apresenta nada menos que 300 transtornos mentais e tal evolução quantitativa é frequentemente citada como um sinal de que há uma progressiva tendência a patologização das emoções e do comportamento humano. Há autores que defendem o reagrupamento de classes, uma vez que esse nível de compartimentalização não contribui para a especificidade da conduta clínica14,16. Ou seja, na prática, não se compartimentaliza os tratamentos na mesma proporção. Isso também mostra que não apenas é alto o grau de subjetividade na classificação das doenças mentais, como também é grande a dificuldade dos profissionais de saúde em diagnosticar seus pacientes. O diagnóstico da depressão é essencialmente clínico e não há sintomas patognomônicos e nem exames laboratoriais que indiquem claramente essa doença. Desde que Sigmund Freud caracterizou conceitos como luto e melancolia, em 1915, relacionando-os a características como desânimo profundo, perda de interesse, inibição de atividades e redução de autoestima, a intensidade e a duração dessas características têm levado profissionais de saúde a interpretar e diagnosticar de forma variada os estados emocionais de seus pacientes. Essa subjetividade aumenta as chances de que um mesmo paciente receba diagnósticos diferentes, conforme o profissional que o avalie. O DSM aumentou significativamente a validade dos diagnósticos, mas não eliminou completamente o problema. A compartimentalização da medicina em muitas especialidades e subespecialidades às vezes pode levar a diferentes tratamentos para as mesmas patologias. Não raro, costuma-se ouvir entre pacientes uma crença em que se diz: “diga-me a especialidade do seu médico e lhe direi o seu diagnóstico”. Isso deriva da ideia de que cada especialista tem uma tendência natural de trazer o diagnóstico para dentro de sua especialidade, por ser a área em que se sente confortável para diagnosticar e tratar. No Brasil, na atenção básica, a maioria dos pacientes de saúde mental são atendidos por médicos generalistas e clínicos gerais, que podem ou não encaminhar os pacientes para psiquiatras ou psicólogos, e dependendo desse caminho, o paciente poderá receber diagnóstico e tratamento distinto. Origem da depressão enquanto doença mental Nos dias atuais, tornou-se prática comum o diagnóstico de “depressão” para as mais variadas formas de mal-estar psicológico e vivencial. Isso não se limita a avaliação de pacientes nos consultórios médicos, mas é também parte do cotidiano social dos leigos, onde o senso comum sugere ao cidadão que é razoável se corre- Openly accessible at http://www.mastereditora.com.br/bjscr Sousa et al./ Braz. J. Surg. Clin. Res. lacionar variações no estado de humor, de si próprio ou de um familiar, ao transtorno depressivo, em seus diferentes estágios. Essa equivocada interpretação sobre o que seja um quadro depressivo teve uma escalada muito grande nas últimas décadas, e os registros dispararam, de modo que em muitos trabalhos, tanto científicos quanto de cunho jornalísticos, os autores passaram a se referir a depressão como “o mal do século”, tal sua suposta prevalência. Esse jargão deriva da ideia de que haveria uma epidemia de depressão na sociedade16,17,18. A racionalidade e complexidade das reações emocionais são as principais marcas do ser humano. A tristeza, por exemplo, é um sentimento peculiar e constitui apenas um dos sintomas da depressão. O estado mais avançado da tristeza, em uma condição mais intensa e duradoura, é a melancolia. Sigmund Freud (1917), descreve o luto como um processo conhecido, natural e superável, por determinado indivíduo. É o exemplo clássico da perda por morte de um ente muito querido, em que o sofrimento é previsível, mas é superável. A melancolia, por sua vez, é descrita como um estado mais duradouro e de causas nem sempre bem definidas. O indivíduo não consegue explicar com clareza a razão de seu sofrimento. Freud entendia a melancolia como uma forma patológica do luto, estado em que o indivíduo apresenta um pesado estado de desânimo, desestímulo, baixa autoestima e desinteresse por coisas que em outro cenário deveriam parecer interessantes19. O conceito de depressão evoluiu a partir do conceito de melancolia, de modo a caracterizar melhor um estado patológico. As primeiras citações ao termo depressão em substituição à melancolia datam de 1860, quando os médicos começaram a preferir esse termo para designar a doença20. Considerando a maior tendência do desenvolvimento do transtorno depressivo maior em pacientes que apresentam história familiar positiva, alguns estudos passaram a considerar as causas hereditárias para a doença21. O tratamento da depressão Não é objetivo desse estudo aprofundar-se na classificação dos diferentes tipos de depressão e nem nas diversas formas de tratamento. A depressão unipolar e, mais particularmente, o transtorno depressivo maior, por ser o tipo de depressão mais prevalente na população, será usado nesse trabalho para exemplificar os casos de depressão. Na atenção primária, o tratamento farmacológico tem sido o método preferencial entre médicos e mais aceito entre pacientes. Em fases mais moderadas da depressão unipolar é comum o uso de Inibidores Seletivos da Recaptação da Serotonina (ISRS), como o Escitalopram e a Fluoxetina, ou de antidepressivos tricíclicos, como a Amitriptilina e a Nortriptilina. São também muito utilizados a Venlafaxina, a Bupropiona e a Imipramina 2,22. BJSCR (ISSN online: 2317-4404) V.15,n.3,pp.114-122 (Jun – Ago 2016) Associados aos métodos farmacológicos, são também usadas psicoterapias que auxiliam o paciente a encontrar a saída para seu estado depressivo. Em casos mais graves, tem também sido utilizada eletroconvulsoterapia23. Qualquer que seja o tratamento, a questão mais relevante, para fins desse estudo, é identificar se determinado paciente está ou não sendo corretamente diagnosticado. Isso porque, se estiver diagnosticado de forma equivocada, qualquer que seja o tratamento, esse será também equivocado e, portanto, representará riscos à saúde do paciente e um grande desperdício de recursos (de medicamento, de tempo dos profissionais de saúde envolvidos, em tempo do paciente, etc). Epidemiologia da depressão O National Institute of Mental Health, dos Estados Unidos, realizou a primeira grande pesquisa epidemiológica de saúde mental (Epidemiological Catchment Area ECA- NIMH), de base populacional, utilizando critérios diagnósticos padronizados pelo DSM. Segundo essa pesquisa, cerca de 25% da população mundial já apresentou ou apresentará algum tipo de distúrbio mental em alguma fase da vida. A prevalência de transtorno depressivo maior nos Estados Unidos saltou de 3,3% para 7,1% entre a década de 80 e o ano 2000. Esses dados variam muito entre estudos e regiões geográficas, mas há regiões dos Estados Unidos em que a prevalência chega a 26,6%24. No levantamento feito pela OMS (2011), a prevalência de depressão nos países desenvolvidos era em média 14,6% contra 11,1% nos países em desenvolvimento10. Esses dados mostram a tendência crescente e corroboram a ideia de que a depressão deva estar mais relacionada com a percepção das pessoas sobre suas vidas do que propriamente sobre fatos acerca da qualidade de vida e acesso a bens de consumo. Adultos dos anos 90 tinham 10 vezes mais chances de desenvolver um quadro de depressão que adultos dos anos 4025. Nos Estados Unidos, a prevalência de distúrbios mentais entre crianças e estudantes universitários aumentou, em 1990, em um desvio-padrão do que era em 195026. A prevalência de depressão no Brasil varia entre 8 a 12% da população27. Como há divergências entre os métodos diagnósticos, uma vez que nem todos os profissionais de saúde utilizam com rigor os critérios do DSM-5, mas valem-se de avaliações mais empíricas, não é incomum que um mesmo paciente possa ter diagnóstico divergente, conforme o profissional que lhe atenda. Não se encontrou na literatura estudos confiáveis que apontassem a evolução da prevalência da depressão no Brasil no decorrer dos anos, mas de modo geral, médicos consultados que atendem na atenção básica concordaram que esse número é crescente. No Brasil, o Estudo Multicêntrico Brasileiro de Morbidade Psiquiátrica concluiu que o transtorno depressivo maior é comum e tende à Openly accessible at http://www.mastereditora.com.br/bjscr Sousa et al./ Braz. J. Surg. Clin. Res. remissão e recorrência, com incidência anual relativamente alta, chegando a 1,59% em algumas localidades28. A maior prevalência registrada no Brasil, em 2011, foi de 10,4%29. Por não ser doença de notificação obrigatória, a prevalência de depressão é mais conhecida pelas amostragens realizadas em estudos específicos, mas não se encontrou registro censitário disponível da base de dados do SUS. Conforme base de dados do SUS (DATASUS, 2015), a depressão está fortemente correlacionada aos casos de suicídio, e esses tiveram significativo aumento no Brasil, passando de 6.743 casos em 1996 para 10.321 em 2012, uma média de 28 mortes por dia. A faixa de maior risco é aquela acima de 60 anos. Segundo especialistas, o aumento da incidência e da prevalência de transtorno depressivo na população ocorre tanto porque houve crescimento efetivo do número de casos, mas também porque os profissionais de saúde passaram a registrar as ocorrências de forma mais intensa, em parte devido às facilidades computacionais da atualidade. Dessa forma, não há como distinguir com clareza o quanto do crescimento da doença foi devido à maior incidência e o quanto foi devido ao aumento dos registros29. A maior utilização dos serviços de saúde está muito associada a depressão, e a prevalência de depressão dentro da área de saúde mental chega a 40%. Custos com consultas, exames laboratoriais e hospitalizações chegam a ser de duas a quatro vezes maiores entre os portadores de depressão, comparados ao paciente médio30. Em 2007, o Ministério da Saúde estimava que o custo de um paciente internado com diagnóstico de algum transtorno do humor, fosse de cerca de R$ 1.000,00/ dia. Entre os custos indiretos, deve-se considerar a perda de produtividade e as faltas ao trabalho, o que pode corresponder a 60% dos custos totais devido a depressão. O transtorno depressivo pode representar um custo anual para a sociedade mundial da ordem de 800 bilhões de dólares7. Estudos europeus indicaram que aposentadorias prematuras devido a depressão podem representar cerca de 47% do custo da doença, enquanto o afastamento ao trabalho e a perda de produtividade podem representar cerca de 32%, o que seria muito superior ao próprio custo da medicação envolvida no tratamento, que responderia por 3% do custo total31. Uma forma indireta de se avaliar a tendência da prevalência da depressão no mundo é se analisar o aumento do consumo de antidepressivos. Dados mostram que em países como Islândia, Austrália e Inglaterra, a taxa de prescrição de antidepressivos aumentou na seguinte escala: Islândia: ano 1989: 14,9 doses/ 1000 habitantes; 2000: 70,9 doses; 2011: 105,8 doses; Austrália: ano 1989: 12,0 doses/ 1000 habitantes; 2000: 45,4 doses; 2011: 80,0 doses; Reino Unido: ano 1989: 12,8 doses/ 1000 habitantes; 2000: 30,0 doses; 2011: 70,9 doses; Tendências semelhantes foram observadas nos Estados Unidos e BJSCR (ISSN online: 2317-4404) V.15,n.3,pp.114-122 (Jun - Ago 2016) no Canadá32. No Brasil, a venda de antidepressivos, estabilizadores de humor e benzodiazepínicos cresceu 44,8% entre 2005 e 2009, com um volume de vendas desses medicamentos passando de R$ 674,7 milhões para R$ 976,9 milhões no período33. A depressão no mundo contemporâneo: o que justifica o aumento da prevalência Há, tanto no meio científico quanto na sociedade em geral, muita especulação sobre a hipótese de que o modo de viver na sociedade moderna esteja causando uma epidemia de depressão. Assumindo-se, por hipótese, que haja de fato uma epidemia de depressão na sociedade, faz-se necessário identificar as causas que desencadearam a escalada desse processo. Afinal, que fatores estariam presentes na sociedade de hoje e que talvez não estivessem presentes em meados do século passado, que poderiam justificar um aumento dos índices de depressão na sociedade moderna? Há correlação direta entre o PIB (Produto Interno Bruto) de um país e a prevalência de depressão em sua população24. Se por um lado isso parece um contrassenso, afinal, países de maior PIB deveriam ter uma população mais saudável, tanto física como psicologicamente, a prática não tem demonstrado isso. Ocorre que em países desenvolvidos tem sido alta a evolução de doenças crônicas, sobretudo devido a problemas como obesidade, sedentarismo, estilo de vida. A vida moderna propicia um conforto que agrava esses problemas, que por sua vez podem explicar a relação com as doenças mentais. Há tanto a questão biológica, quando se considera as comorbidades e suas interações, quanto a questão comportamental, pois o estilo de vida é um forte determinante da ocorrência de doenças. O aumento do uso de drogas e abuso de álcool também são frequentemente encontrados em conjunto com a depressão34. As estimativas de prevalência de consumo de substâncias psicotrópicas nos Estados Unidos, por exemplo, aumentaram de 10,3% para 26,6%35, com um aumento do risco em grupos mais jovens36. Se por um lado os países em desenvolvimento apresentam altas taxas de doenças infectocontagiosas, por outro lado apresentam menor índice de obesidade e sedentarismo, o que poderia contribuir para explicar em parte a menor prevalência de depressão. Uma exceção a essa tendência, como observado, é o Japão 24. Embora seja uma país de elevado desenvolvimento econômico e tecnológico, a população cultua bons hábitos de alimentação, dieta e de exercícios físicos, o que tem reflexo direto sobre a menor prevalência de doenças mentais, comparativamente a outras nações desenvolvidas. No Japão, a prevalência de obesidade é extremamente baixa37 e há alto consumo de produtos do mar, ricos em ômega 3 e ácidos graxos poliinsaturados, o que pode contribuir para este fenômeno38. Os japoneses também Openly accessible at http://www.mastereditora.com.br/bjscr Sousa et al./ Braz. J. Surg. Clin. Res. exibem um grau relativamente baixo de a desigualdade social39 e colocam grande ênfase cultural no coletivismo, em oposição ao individualismo40,41, o que pode ser considerado um fator de proteção contra o desenvolvimento de depressão. Estudo mostrou que a adoção do estilo de vida americano parece explicar maiores taxas de depressão em mexicanos-americanos nascidos nos EUA, em comparação com os imigrantes mexicanos42. Portanto, o estilo de vida, nesse caso, parece ter determinado a escalada da depressão. Outro exemplo interessante é a China, que passou por uma transformação cultural rápida nas últimas décadas. O risco de ser acometido por transtorno depressivo parece ter aumentado dramaticamente: um estudo retrospectivo mostrou que chineses nascidos após 1966 apresentam um risco 22,4 vezes maior de sofrer um episódio depressivo durante o seu tempo de vida, em relação aos nascidos antes de 193743. Não há um fator único a se mencionar como causa para esse fenômeno, mas há algumas questões que merecem análise particular. Uma delas é uma tendência natural na atualidade de se rotular ou “patologizar” os sentimentos e atitudes6. Conforme citado anteriormente, o próprio DSM saltou de 106 possíveis diagnósticos psiquiátricos em 1952 para 297 em 201113,16. Ainda, influenciam nesse processo o próprio crescimento do setor farmacêutico, que ampliou as possibilidades de tratamentos e o crescimento do marketing da indústria farmacêutica, o que influencia o comportamento das pessoas. Além disso, a facilidade para se registrar os prontuários na era da informática faz com que registros antes ocultos agora tenham maior visibilidade nos estudos epidemiológicos. Mas acima desses, a questão maior parece não ser exatamente o porquê aumentou a incidência da depressão, mas por que aumentou a sensação das pessoas de que elas se encontram deprimidas. Afinal, o que há na sociedade de hoje que faz com que as pessoas se sintam menos realizadas que sua geração anterior? Essa pergunta será o foco da discussão a seguir. Em tese, no campo biológico, hereditário, não há razão para crer em grandes transformações entre as últimas duas gerações. Pelo menos não tão grandes quanto as transformações ocorridas no ambiente e no comportamento social. No mundo contemporâneo, o predomínio de certas psicopatologias costuma estar diretamente correlacionadas aos modelos e configurações sociais vigentes. Esses modelos não apenas influenciam comportamento, mas praticamente acabam ditando padrões de conduta e expectativas a serem alcançadas. A sociedade evolui de forma muito dinâmica e, em diferentes períodos da história, produziu determinados sistemas de princípios e valores, de regras de conduta e comportamentos, de regrais morais, de tendências culturais e continuamente adequa sua arquitetura de leis formais e de costumes a esse conjunto de valores. Ou seja, BJSCR (ISSN online: 2317-4404) V.15,n.3,pp.114-122 (Jun – Ago 2016) a lei e os costumes mudam com o tempo, para se adequarem às mudanças de valores, muitos dos quais, de caráter fortemente subjetivo. Desde o início do sistema capitalista, a sociedade nunca se mostrou tão inclinada ao consumo e ao hedonismo, como se observa nos dias atuais. Nota-se uma exacerbada valorização da imagem, uma imposição das mídias sobre referencias e valores, e uma submissão de grande parte da população a esses referenciais criados. São exemplos desses referenciais, o excessivo culto ao corpo, às suas formas e proporções, ao narcisismo, às intervenções estéticas, aos bens que simbolizam status, e a tudo mais que, no modelo social vigente, é propalado como sinônimo de sucesso. Em vista desse conjunto de valores que caracterizam a contemporaneidade, nossa sociedade é rotulada como “a sociedade do espetáculo” 44. Nessa sociedade do espetáculo, as relações entre as pessoas passaram a ser determinadas pelas tendências das mídias sociais, das imagens, da globalização das culturas, e isso tem feito que cada indivíduo questione seu papel nesse cenário. O comportamento humano tem sido mudado de tal sorte, que a essência do ser passou a ter menos significância que sua instrução formal, suas proporções biométricas, suas posses. Ainda, mais recentemente, com as mídias sociais cada vez mais presentes no cotidiano do indivíduo, os atributos físicos, os bens, etc, muitas vezes não passam de fantasias fabricadas com intuito de se vender a imagem do que não se é, ou do que não se tem. Vivemos, portanto, em um momento que chamamos de “sociedade de aparências”, onde, para muitos, a aparência passou a ser fator fundamental, o que acaba subvertendo as necessidades concretas do indivíduo. Na sociedade do espetáculo, as relações interpessoais também foram modificadas. Novos personagens e novos tipos de relacionamentos foram criados. Hoje, por mídias sociais, se estabeleceram os contatos, e o contato do contato, o amigo do amigo, os seguidores na rede social, etc, e assim cria-se uma rede de relacionamentos que na prática é uma reprodução fantasiosa, meramente quantitativa, de um círculo social onde poucos efetivamente se conhecem por essência, mas todos compartilham seu quinhão de aparências. A televisão, hoje presente em todos os lares, vende estilos de vida, cria objetos de desejo. Fora das redes digitais, na interação entre indivíduos, na escola, no trabalho, nos encontros casuais, o mesmo modelo se reproduz. Nesse contexto, não raro, as crianças avaliam a qualidade de seu natal pelo número de presentes recebidos, os adolescentes avaliam a qualidade de suas festas pelo número de parceiros trocados, os adultos avaliam um bom emprego pelo valor dos benefícios e, sobretudo, pela forma como poderão dar visibilidade às suas conquistas para aqueles com os quais interagem na sociedade do espetáculo. A sociedade atual criou uma cultura da estetização do Openly accessible at http://www.mastereditora.com.br/bjscr Sousa et al./ Braz. J. Surg. Clin. Res. eu, na qual o sujeito tem seu valor atribuído pelo o que aparenta ser, mediante as imagens produzidas para se apresentar na cena social e, dessa forma, a exibição se transforma no lema essencial da existência, sendo a razão de seu ser6. Nesse contexto, a depressão, assim entendida como uma manifestação de um mal-estar, na prática, em muitos casos, representa o insucesso do indivíduo em participar da cultura da sociedade do espetáculo e não um transtorno real. Essa “necessidade” de desempenhar um determinado papel na cena social, muitas vezes acaba gerando inevitáveis frustações e mal-estar, como resultado da incompatibilidade entre necessidades reais do indivíduo e as falsas necessidades, criadas apenas pela demanda do modelo social vigente. Conforme a manifestação e o grau de intensidade desse mal-estar, ele acaba muitas vezes sendo entendido como comportamento patológico, diagnosticável e, por consequência, passível de tratamento. Essa confusão que se estabelece entre o que é depressão de fato e o que é uma falsa percepção de depressão tem sido objeto de estudo de alguns outros autores. Amaral (2006), por exemplo, chama a atenção para o equivocado enquadramento da tristeza e do luto no âmbito da patologia e demonstra de que forma, historicamente, conceitos como melancolia foram evoluindo até o que hoje se caracteriza como depressão 45. Farinha (2005), coloca seu enfoque sobre depressão sob o ponto de vista psicanalítico, abordando a questão sob a ótica das teorias de Freud e Lacan, e também propõe a hipótese de haver certa banalização do conceito de depressão 46. Muitas vezes um diagnóstico de depressão é definido mesmo quando um paciente ainda nem sequer reúne o conjunto de sintomas clássicos, ou não os apresenta em magnitude e duração suficientes, o que leva ao sobrediagnóstico. Alguns estudos indicaram que até 40% dos diagnósticos de depressão nos grupos estudados não atendiam aos critérios do DSM-56. Portanto, a doença muitas vezes rotulada como o “mal do século” pode ter boa fração de sua reputação creditada a uma falsa percepção do comportamento humano. A confiabilidade e validade científica dos testes diagnósticos em psiquiatria ainda são baixos, dentre outros porque ainda prescindem de maior embasamento biológico e estatístico47. Isso ajuda a entender porque os estudos de prevalência ainda encontram resultados tão diversos e também demonstra que o DSM, embora tenha contribuído muito como ferramenta de padronização, não é a única referência que conduz aos os diagnósticos. Um dos maiores problemas dessa distorção é que tanto os médicos prescrevem em excesso como a população também se automedica em maior intensidade45. O uso indiscriminado de antidepressivos e benzodiazepínicos, por exemplo, não apenas representa risco aos usuários, mas também onera o sistema de saúde e impacta a disponibilidade de recursos22,48. BJSCR (ISSN online: 2317-4404) V.15,n.3,pp.114-122 (Jun - Ago 2016) 4. CONCLUSÃO Se há sobrediagnóstico, o sobretratamento passa a ser uma consequência natural, portanto apenas se pode reduzir o segundo em se reduzindo o primeiro. A tendência à patologização das emoções, ao que parece, não é uma característica apenas do sistema de saúde brasileiro. O próprio DSM, que é definido por entidade internacional, já traz esse viés6. O crescimento dos índices de depressão é um fenômeno mundial (OMS, 2016). Como vimos, parte decorre da confusão entre tristeza, melancolia e depressão, outra parte decorre da definição do diagnóstico mesmo quando nem todos os critérios estão presentes e também da pressão que o paciente exerce sobre o médico na expectativa de uma prescrição farmacológica que reduza o seu sofrimento. Some-se a isso, o modelo social vigente, que impõe frustações aos indivíduos, e essas são com frequência confundidas com um quadro depressivo. Ou seja, o médico, muitas vezes, ao invés de encorajar o indivíduo a rever suas expectativas e escolhas de vida e a questionar as causas, opta por tratar o sintoma decorrente de falsas expectativas sobre as demandas da sociedade, que o indivíduo assume como demandas próprias, sejam reais ou imaginárias. Assim, se o paciente não alcança suas metas, suas frustrações são traduzidas e tratadas como depressão. Os fatores que relacionam o estilo de vida na sociedade moderna a depressão parecem ser, principalmente, o declínio de valores como o senso de coletividade, a maior desigualdade, o isolamento e solidão das pessoas, uma vez que as famílias tendem a se dissociar mais precocemente, além da vida sedentária e com poucas atividades prazerosas. O estilo de vida moderno está também relacionado à menor exposição à luz solar, a privação do sono, a automedicação sem controle e à má qualidade da alimentação. Se a modernização se correlaciona com um aumento do risco de depressão, cabe questionar em que grau a cultura ocidental moderna contribui para esse fenômeno. Se esse estilo de vida pode representar um declínio no bem-estar físico e mental do indivíduo, ele precisa ser repensado e modificado, e os médicos podem ter papel decisivo no estímulo à autorreflexão das pessoas. Na prática médica, uma vez diagnosticada a depressão, a opção farmacológica tem sido, via de regra, a primeira escolha nos consultórios. O atendimento na atenção básica mostra que as opções não farmacológicas não são encorajadas pelos médicos e, em grande parte das vezes, os próprios pacientes influenciam o médico para que esse indique uma solução de efeito supostamente mais imediato, a prescrição farmacológica. A ideia da solução medicamentosa é sempre mais tentadora, em grande parte pela crença na redução do sofrimento, bem como por efeitos colaterais desejados pelo paciente, como a melhora do sono. Talvez por isso, a fluoxetina, Openly accessible at http://www.mastereditora.com.br/bjscr Sousa et al./ Braz. J. Surg. Clin. Res. um antidepressivo largamente utilizado no Brasil e no mundo, tenha ganhado em 1971 o rótulo de pílula da felicidade, apelido pelo qual ainda é conhecido nos dias de hoje49. Uma outra razão que explica a escalada do consumo de fármacos é o fato de que medicamentos para depressão são fornecidos gratuitamente pelo SUS na atenção primária. Se a depressão é de fato um mal da contemporaneidade, e como visto, estudos mostram que a prevalência é crescente, a sociedade se vê diante de um dilema: ou se trabalha em mais pesquisas para suprir a demanda cada vez maior de antidepressivos, ou se revê conceitos, de modo a se reduzir a tendência a “patologização” das emoções humanas, e também se revê valores que ajudem a reduzir a influência da sociedade do espetáculo na autoestima das pessoas. A segunda opção parece não apenas ser a mais lógica, mas a única sustentável, pois a primeira não se sustenta a longo prazo. Não se pode aceitar que a prevalência de uma patologia como a depressão tenha uma tendência ao crescimento exacerbado e ao mesmo tempo se colocar a ênfase no tratamento, ao invés de se avaliar e mitigar as potenciais causas. Pelo exposto, as questões socioculturais e comportamentais têm explicado mais fortemente a tendência de aumento do consumo de antidepressivos que as questões biológicas. É, portanto, fundamental que se coloque a ênfase na remoção das causas ao invés de priorizar o acesso aos tratamentos. Essa deveria ser a postura das políticas públicas, do SUS, e da conduta médica nos consultórios. Faz-se necessário um grande esforço da sociedade e do governo para que o cidadão possa rever suas expectativas, bem como é necessário orientar os profissionais que atuam na atenção primária para redução da patologização das emoções humanas normais. O sobrediagnóstico, embora difícil de estimar com precisão, encontra-se embutido nas estatísticas atuais dos transtornos depressivos e tem contribuído significativamente para a tendência de crescimento do consumo de antidepressivos, sem necessariamente resultar em melhora da qualidade de vida e bem-estar das pessoas. REFERÊNCIAS [1] Berrios GE. Melancolia e depressão durante o século XIX: uma história conceitual. Rev. Latinoam. Psicopat. Fund., São Paulo, v. 15, n. 3, p. 590-608, Set. 2012. [2] Alencar LMS, Jesus D, França EL, Alves AD. A depressão e os tratamentos farmacoterápicos – um perfil dos fármacos mais utilizados e os seus usuários em Barra do Garças – MT. Interdisciplinar: Revista Eletrônica da Univar n.º 8 Vol – 1 p.129 – 125. 2012. [3] Oliveira MK, Rego TC. Vygotsky e as complexas relações entre cognição e afeto. In: ARANTES, Valéria Amorin (org). Afetividade na escola: alternativas teóricas e práticas. São Paulo: Summus, 2003. [4] Ferreira ABH. 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