________________________________________________________________ Universidade de Brasília – UnB Campus Universitário Darcy Ribeiro Departamento de Música Instituto de Artes CANTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL - Desafios do estudo do canto na escola de educação infantil - GEOVANE OLIVEIRA SANTOS 12/0067765 Trabalho final da disciplina: Introdução à Pesquisa em Música Trabalho de pesquisa como requisito para aprovação na disciplina Introdução à pesquisa em música Orientação Trabalho Final: Delmary Vasconcelos Brasília – DF Junho 2016 2 SUMÁRIO 1.INTRODUÇÃO............................................................................................................ 2.JUSTIFICATIVA.......................................................................................................... 3.REVISÃO DE LITERATURA................................................................................................ 3.1 Educação infantil 3.2 A Voz da Criança 3.3 Voz e Movimento 4. AULAS DE CANTO – PESQUISA DE CAMPO 4.1 ESCOLA PARQUE Entrevista com Professor Metodologia de Aula Desafios da aula de canto com crianças. Repertório 5.CONSIDERAÇÕESFINAIS..................................................................................................... 6.REFERÊNCIASBIBLIOGRÁFICAS......................................................................................... 5 1. INTRODUÇÃO Desde o inicio do meu estudo de canto eu percebo e acredito piamente que a voz cantada é uma junção de mente, voz e corpo e não apenas voz como muitos acreditam. As aulas de canto são como a expressão dos seus próprios sentimentos, porque a sua voz é o reflexo do que você é no seu interior. Seja a voz de uma criança ao nascer, chorar ou a voz de um idoso a se expressar todos refletem a essência do seu interior. A voz é o instrumento natural do ser humano e todos a possuem, apesar de alguns não a terem desenvolvido por problemas, mesmo assim é a mais natural forma de comunicação do ser humano que possui a capacidade da fala. O estudo do canto, além de ser prazeroso e também divertido é um meio de descoberta e autoconhecimento e também um estudo de anatomia. Até hoje em minhas observações de aulas de canto para crianças vejo que muitos professores evitam entrar na parte da anatomia vocal com as crianças por parecer muito expositivo ou até mesmo estar fugindo do objetivo central que é cantar e utilizar a voz como meio musical. Desde as series iniciais, as crianças possuem aula de conscientização corporal e cuidado consigo e com os outros, assim também, como aulas de desenvolvimento do corpo e as matérias comuns ao currículo básico como português, matemática, ciências, artes e outras linguagens. O estudo da voz pode ser encarado tanto como uma atividade musical como também um estudo de conscientização corporal, estudo da anatomia e também uma diversão para quem gosta de cantar, principalmente para crianças que estão na fase de desenvolvimento tanto psicológico e motor, quanto envolvimento social. A música é uma matéria obrigatória para a educação básica atualmente no Brasil de acordo com a LEI Nº 11.769, DE 18 DE AGOSTO DE 2008. Porém, em muitos casos não existem profissionais qualificados para tal. Apesar de ser uma luta na educação no Brasil, a música faz parte do currículo de muitas outras escolas há bastante tempo, mas na educação publica regular é algo mais recente. O canto é abordado como canto coral ou canto improvisado ou até mesmo como atividade complementar para auxilio de outros instrumentos/disciplinas. O objetivo dessa pesquisa é entender o trabalho de canto desenvolvido na educação básica de Brasília principalmente nas escolas parques do plano piloto. O foco é educação musical infantil por meio do canto e o corpo para crianças que estão nas séries iniciais, e entender os processos envolvidos na qualidade do ensino de música vocal na educação básica. Assim como os métodos de aula e como as aulas de canto são introduzidas nas series iniciais de educação Básica. Por meio de observações e pesquisa de campo em escolas de educação básica, especificamente escolas parque que são focadas no ensino de artes, será abordado entrevistas com professores e sua formação e também trazer a tona os problemas encontrados no caminho do ensino de canto na educação básica. Existe um método ou formula para uma aula de canto bem sucedida com crianças? 6 Como trabalhar o corpo em conjunto com a Voz, fazendo do corpo um instrumento percussivo? Como funciona a anatomia vocal de uma criança? Quais exercícios trabalhar na voz infantil? Qual o repertório adequado para isso? Como fazer que a aula de canto não fique uma aula parada e monótona? São questões como essas que serão abordadas nessa pesquisa e soluções para tais problemas. 2. JUSTIFICATIVA Quando comecei a estudar as disciplinas pedagógicas musicais na universidade, tive uma nova visão para muitas coisas relacionadas à educação e ensino de música na escola Básica e também para aulas de instrumento, quer sejam particulares ou em grupo. Geralmente quando estamos dando aula e somos iniciantes, não sabemos nem como começar uma aula e isso pode deixar muito professor iniciante frustrado e Foi o meu caso, ao ser desafiado a dar aula para crianças de educação básica. Eu não tive aula de música na escola Básica, Não tive referencial de educação básica a quem eu pudesse seguir quando eu comecei a dar aula nos estágios obrigatórios. E obviamente, o que fazemos quando não temos experiência? Seguimos os exemplos dos nossos professores de instrumento. Porém, algo que muitas vezes não se é lembrado, é que aula de instrumento num nível técnico é diferente de aula para crianças de educação infantil. E esse molde que queremos seguir nem sempre funciona para turmas de escola regular. Observando as aulas de estágio fui percebendo que as aulas de musicalização estavam parecendo forminhas prontas e que mesmo muitos professores tentando fugir do tradicional e dos moldes engessados, as aulas ainda estavam monótonas. Um dos maiores desafios para os professores ao chegar às escolas para dar aula é não poder trabalhar em seu próprio instrumento na escola básica. Primeiro porque não existe instrumento para todos e muitas vezes seu instrumento principal é um instrumento muito caro e por isso o professor precisa se virar para trabalhar com o que está disponível. Outro caso também, é que as aulas de músicas são dadas por professores que não são formados na área de música, mas que estão ocupando a cadeira de música por ser um professor de artes. Se uma aula de música não é dada por um professor de música, claro que a aula não terá a mesma qualidade, porque tal professor não possui competência para ministrar essa aula. Seria o mesmo caso de um professor de música dando aula na educação básica de artes plásticas. Dentro desse contexto, observei que alguns professores trabalham a voz em sala de aula por ser mais acessível, mas algumas questões nem sempre são levadas em consideração ao dar aula de canto em grupo. Primeiramente o tipo de exercício a ser trabalhado com as crianças e repertório, assim como a dinâmica da aula de canto. É importante ressaltar que anatomia vocal de uma criança é diferenciada e precisa-se de um cuidado especial, 7 porque a voz ainda está em formação. Como dito na introdução dessa pesquisa, aula de canto não é simplesmente escolher uma música e fazer com que as crianças cantem em conjunto, se assim for, não é aula de canto e sim um canto coral infantil e o foco do canto coral muitas vezes é o repertório e nem tanto o desenvolvimento vocal do pequeno cantor. É possível uma aula de canto sem os moldes de canto coral e através deste introduzir informações de técnica vocal, elementos musicais básicos e ainda ensino de instrumentos? Acredito que seja possível! Desenvolvendo uma metodologia de aula pensando no publico alvo é possível um trabalho interessante. Uma boa aula planejada com materiais adequados e exercícios musicais interessantes e atividades que estejam ligadas umas as outras, as aulas não ficam tão vazias. Sempre quando penso em voz eu automaticamente penso em corpo e movimento, a voz cantada é um conjunto de sons, respiração, movimentação corporal e ritmo. Aula com crianças, vezes torna-se um desafio porque não é interessante desenvolver atividades muito paradas, porque crianças são muito agitadas e provavelmente atividade desse formato poderá dispersa-las. Nesse período de estágio pude perceber como andam as aulas de canto em escolas de ensino regular. Até mesmo as escolas de artes utilizavam da voz como um complemento para o ensino de outros instrumentos ou o canto como instrumento principal, mas que na verdade eram aulas de canto coral, sem o intuito de aprimorar a voz cantada e apenas cantar um repertório para uma apresentação final de uma data comemorativa. Para Willems (1976, p.23 apud PAREJO, 2011, p.103): “O canto desempenha o papel mais importante na educação musical dos principiantes”. As canções constituem o que denominou de uma atividade sintética: agregando em torno da melodia, o ritmo e a harmonia subentendida; são, portanto, meios sensíveis e eficazes para desenvolver a musicalidade e a audição interior. Willems salienta, ainda, o fato de muitas crianças cantarem antes mesmo de falar, o que é uma indicação preciosa para orientar as escolhas de pais e professores nas interações musicais com os pequenos. Acredito nos argumentos de Willems relacionados ao ensino do canto como papel importante na educação musical, porque é a forma mais natural de criação musical quer seja improviso vocal ou arranjos cantados, canto coral e expressão através da fala. O canto dentro da educação infantil é o passo inicial para a percepção interior e a construção de um ouvido interno. Numa escola de educação básica um dos recursos mais acessíveis é a própria voz dos alunos, obviamente utilizando outros instrumentos no auxilio da afinação. Sendo assim, seria muito mais produtivo trabalhar com o mais acessível, ou seja, a voz que é um instrumento prático e favorável a realidade Brasileira. (SCHMELING, TEIXEIRA,v.2,2010) A voz é recurso na produção musical porque todos a levam consigo.Assim, a utilização da voz como instrumento de musicalização, na escola, torna-se uma opção relevante. 8 Ainda com o mesmo pensamento, reflito sobre a questão da movimentação corporal e o uso de todo o corpo para produção musical. As propostas de Dalcroze sobre corpo em movimento e a rítmica unidas aos conceitos de educação musical de Edgar Willems formam uma base rica na produção musical, a junção do ritmo ao som. A vivência é o fio condutor de toda aprendizagem musical, claro que é importante entender sobre teoria, mas fazer a música primeiro e depois entender a sua teoria torna-se mais atrativo. O cantar é uma das atividades musicais que possui a maior sensibilidade musical, porque é o próprio corpo em sintonia com o ritmo e com as alturas. Por meio disso, o ouvido fica mais sensível a percepções e o desenvolvimento para aqueles que estão iniciando musicalmente 3. REVISÃO DE LITERATURA 3.1 EDUCAÇÃO INFANTIL A educação básica na educação brasileira constituísse em três seguimentos para a formação inicial de uma pessoa, que são: Educação Infantil, educação fundamental e ensino médio. Todas essas etapas são importantes para o desenvolvimento de uma criança até sua fase adulta, porém, a educação infantil é o inicio de tudo e também é o ponto de partida para a construção de idéia de personalidade e muitos outros fatores que serão refletidos posteriormente na adolescência e para o resto da vida. Segundo Mathias (2009) A Educação Infantil é a primeira etapa da Educação Básica, ela estabelece as bases da personalidade humana, da inteligência, da vida emocional, da socialização. As primeiras experiências da vida são as que marcam mais profundamente a pessoa. Quando positivas, tendem a reforçar, ao longo da vida, as atitudes de autoconfiança, de cooperação, solidariedade, responsabilidade. As ciências que se debruçaram sobre a criança nas ultimas décadas, investigam como se processa o seu desenvolvimento, coincidem em afirmar a importância dos primeiros anos de vida para o desenvolvimento e aprendizagem posteriores. E tem oferecido grande suporte para a educação formular seus propósitos e atuação a partir do nascimento. Segundo Mathias citando Áries (1978), o censo comum, a idéia de infância como um período peculiar de nossas vidas simplesmente não existia não era um sentimento natural ou inerente a condição humana. Essa concepção, esse olhar diferenciado sobre a criança teria começado a se formar com o fim da Idade Média, sendo inexistentes na sociedade desse período, as crianças eram “adultos em miniaturas” à espera de adquirir a estatura normal. As crianças nesse período simplesmente não possuíam direitos algum e eram apenas seres que viviam em sociedade, mas que não tinham visibilidade. O desenvolvimento da sociedade percebeu que era através das crianças que o futuro poderia ser construído. 9 Atualmente a educação é prioridade na educação em muitos países e também no Brasil. A educação infantil no Brasil compreende o atendimento às crianças de 0 a 6 anos, enquanto em outros países abrange crianças entre 3 e 5 anos. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB - 1996) define que a Educação Infantil deve ser oferecida em creches ou em entidades equivalentes, para crianças de 0 a 3 anos de idade, e em pré-escola, para crianças de 4 a 6 anos. Ainda que não obrigatória, a Educação Infantil é um direito público, cabendo ao município a expansão da oferta, com o apoio das esferas federal e estadual. Acredito que seja importante esse período justamente por ser o inicio de uma formação, sendo assim, a absorção de conhecimento. As aulas na educação infantil têm como foco canções, jogos, danças, exercícios de movimento, relaxamento, prática instrumental e vocal, improvisação, apreciação, noções básicas de ritmo, melodia, compasso, métrica, som, tonalidade, leitura e escrita musical que são reportadas às crianças sempre por meio de seu universo lúdico da infância. Todas essas atividades são importantes para o desenvolvimento do saber durante a vida. Maura pena (2010) comenta que a estimulação musical precoce em crianças tem por objetivo dotá-las de elementos característicos da música de determinada cultura, desenvolvendo não só a percepção auditiva, mas também o movimento corporal e a expressão verbal, para que elas reajam a esses estímulos. Tornar as crianças ativas na execução da música mesmo que de forma básica é extremamente produtivo para a construção do que é música no futuro. 3.1 A VOZ DA CRIANÇA. A voz é o instrumento natural do ser humano e pode-se dizer que é um dos instrumentos mais caros existentes. Todo o seu mecanismo e produção sonora são muito sensoriais, a produção dos sons não é algo que podemos ver, mas apenas ouvir e sentir. A partir dessas sensações sabemos se está correto ou não, se os sons estão bonitos e se a colocação vocal está adequada. O estudo do canto nas séries iniciais é importante para o desenvolvimento musical da criança por conta das sensações e por ser a forma mais natural de produção musical, Porque é o seu próprio corpo na criação e execução musical. Porém, muitos pontos devem ser levados em consideração. O fato de a voz humana ser um instrumento natural é exigido um cuidado diferenciado também, principalmente se essa voz é de crianças nos estágios iniciais da vida. Como a voz da criança ainda está em formação os cuidados são máximos, é importante conhecer a anatomia vocal de uma criança para a elaboração de exercícios adequados, analisar idade e também a questão da voz das crianças que esta na construção da voz. Antes da puberdade a voz das crianças tanto meninos quanto meninas não têm uma diferença muito grande, até a tessitura vocal é 10 praticamente a mesma, a mudança de voz ocorre a partir dos doze anos nas meninas e aos quatorze anos nos meninos. De acordo com Bloch (2003) citado por GIGA, no fim da puberdade, as cordas vocais masculinas revelam um aumento de um centímetro de comprimento, enquanto as femininas só crescem cerca de três a quatro milímetros. É importante que a criança aprenda a usar a sua voz desde pequeno, para uma boa produção vocal ao longo dos anos de vida. Uma voz saudável traz muitos benefícios a uma pessoa que tem cuidado de sua fonação. A educação musical WARD, por exemplo, da uma importância primordial a voz, uma das etapas do aprendizado é a descoberta da fala e logo em seguida transportar o mecanismo da voz falada para a voz cantada de uma forma natural. A conscientização corporal e a formação da voz é um dos princípios adotados por Justine Bayard Ward pedagoga musical e pianista do século passado. O canto pode ser agregado de variadas formas dentro da educação musical, seja canto solo/grupo ou canto coral infantil. Esse cuidado da voz é importante para ambas as práticas musicais. O estudo do canto em sala de aula pode ser criativo e muito satisfatório, desde que tenha uma breve pesquisa dos objetivos musicais com o estudo do canto. Será focado no repertório? Na pesquisa do próprio aparelho fonador? Na musicalização por meio da voz? É normal a percepção do canto desafinado de algumas crianças principalmente aquelas que estão no início. Muitas crianças procuram cantar da sua forma sem pensar se está correto ou não. É importante que o professor esteja atento a esses pontos, não fazer vista grossa a aspectos sérios como esse. Muitas crianças cantam em regiões agudas, já outras procuram as regiões graves para cantar, Porém, a voz da criança possui a mesma extensão tanto meninos quanto meninas até a idade da mudança de voz. Assim, uma maior compreensão dos elementos relacionados à extensão vocal infantil pode ser útil para a prática do canto escolar e muito mais satisfatório. O ponto inicial de uma boa aula de canto é você explorar a voz de todas as formas possíveis, tanto dos graves aos agudos e poder brincar com essas alturas de uma forma confortável. Na aula de canto seja individual ou em grupo o professor deve conhecer a voz de seus alunos, por isso, é essencial que esse entenda de fisiologia da voz. O professor que procura entender sobre a extensão vocal, fraseado, colocação vocal, projeção vocal, tessitura vocal e outros aspectos da voz, produz um som muito melhor com seus alunos. Canuyt (apud MÁRSICO, s.d, p. 139) define a tessitura como a parte da escala vocal que o cantor pode realizar sem esforço e com uma sonoridade plena e sem maiores dificuldades. Da mesma forma, Paparotti e Leal (2013, p. 116) expõem o conceito de tessitura como: “[...] a região da extensão vocal onde o cantor tem mais conforto e brilho na voz”. É interessante entender esses pontos para não expor aos alunos exercícios vocais que possam prejudicar seu aparelho fonador ou até mesmo um repertório que exija uma voz das crianças que talvez elas não tenham. Como a voz está em desenvolvimento, muita informação pode causar problemas e repertórios ou jogos vocais muito agudos ou muito graves, podem prejudicar a saúde vocal dessas crianças. 11 Atterbury aponta para relação entre a extensão vocal dos alunos e a extensão vocal que muitas canções infantis sugerem: “Muitas crianças têm sido descritas como desafinadas por causa de falta de habilidade em cantar dentro da extensão vocal de materiais de canções impressos” (ATTERBURY, 1984, p. 59). Algumas até se sentem deslocadas ao perceber que não conseguem cantar conforme o que está escrito e sentem-se reprimidas ao executar tal atividade. Nesse ponto que entra o saber do professor ao escolher músicas e exercícios apropriados para as suas turmas para que a aula seja inclusiva e não venha a afastar alguns alunos pela vontade de querer aprender. A respiração é outro aspecto a ser analisado no estudo de canto. A capacidade respiratória de uma criança é limitada e muito menor do que a de um adulto. Não é satisfatório exercícios de respiração muito longos ou até mesmo em repertório frases que exijam uma capacidade de ar maior, porque a respiração infantil é ainda limitada. Os exercícios vocais e de respiração seriam mais apropriados se tudo na aula estivesse ligado. Por exemplo, os vocalizes executados antes de cantar uma música tivessem um objetivo musical e não apenas técnico. É interessante que os exercícios sejam claros e ligados a atividade musical para que façam sentido a sua execução. Assim, também como os exercícios de respiração para que não pareça que os exercícios não possuem ligação nenhuma com a produção musical e seja apenas algo sem conexão. 3.2 VOZ E MOVIMENTO O corpo humano é uma grande ferramenta sonora, seja de sons vocais ou até mesmo percussivos. As aulas de percussão corporal estão presentes em muitos ambientes musicais ou até mesmo em grupos profissionais da música como é o caso dos Barbatuques*, Grupo paulista de percussão corporal e vocal. A música possui movimento sonoro/ritmico e esse movimento é algo que podemos sentir no nosso próprio corpo. “A rítmica- sistema de educação musical criado por JaquesDalroze, que visa a musicalização do corpo- é uma disciplina na qual os elementos da música são estudados através do movimento corporal” (mariane,2011,p.27). Dalcroze prezava muito o ritmo na educação musical, criando métodos para o estudo da música através do corpo ele acreditava que o corpo fosse o aspecto fundamental na consciência rítmica, para Dalcroze precisava participar ativamente no que a mente captava, assim, a identificação de processos seria mais rápido. “Eu me pego sonhando com uma educação musical na qual o corpo faria ele mesmo o papel de intermediário entre sons e nossos pensamentos, e se tornaria instrumento direto dos nossos sentimentos” (Jaques – Dalcroze citado por DutoitCarlier, 1965,p.317). Dentro de uma sala de aula existem muitas formas de aprendizado musical com crianças de educação infantil, a exploração dos movimentos é um fator essencial para conhecer as suas habilidades corporais e também o corpo como instrumento musical. Ao pensar na realidade de educação musical do Brasil em que vivemos hoje, existe ainda uma pergunta que não se cala 12 nunca: Para quê o ensino de música na educação básica e como? Essa é uma pergunta que precisa ser revista sempre para nos questionarmos os objetivos das nossas aulas de música nas escolas. Quais os processos tomados para uma boa aula de música? Qual instrumento e como utilizar esse instrumento da melhor forma possível para a educação musical? Mesmo essa pesquisa caminhando para o trabalho vocal com crianças da educação infantil é sempre importante nos questionarmos. 6. AULAS DE CANTO – PESQUISA DE CAMPO 6.1 ESCOLAS PARQUE- DISTRITO FEDERAL A escola parque é a realização de um projeto que está dando certo no distrito federal a muitos anos. Idealizado por Anísio Teixeira teve como base o trabalho do pedagogo e filósofo norte americano John Dewey que pesquisou a vida escolar e a vida social quando compreendeu a escola como uma micro sociedade na qual a ação pedagógica assume o real sentido de ambiente para construção do conhecimento e do exercício da cidadania que, segundo Teixeira, a “escola não é um suplemento à vida que já leva a criança, mas a experiência da vida a que vai levar a criança em uma sociedade em acelerado processo de mudança.” (Teixeira, 1977). Com a construção da cidade de Brasília, foi elaborado o Plano de Construções Escolares de Brasília que abordou a construção de edifícios escolares organizados em consonância com a proposta urbanística de Lúcio Costa – as superquadras. A proposta era composta de prédios escolares para o Jardim de Infância, Escolas Classe (EC), Escolas Parque (EP), Centros de Ensino Fundamental (CEF) e Centros de Ensino Médio (CEM). Escola Parque é realizada primeiramente no Centro Educacional Carneiro Ribeiro na cidade de Salvador/BA em 1950 sendo a concretização dos ideais de Anísio Teixeira que defendia a necessidade de ajustar a educação à diversidade das condições concretas, fazendo dela um instrumento de mudanças e progresso. A escola parque seria a resposta a proposta de Anísio Teixeira para a educação brasileira, mas que foi formalizada no distrito federal e em salvador. Dessa idéia, Temos um numero considerável de escolas parque no plano 13 piloto, mas que não atendem a demanda de estudantes do DF, porque infelizmente não foi expandida a outros lugares do distrito federal. Muitas das informações contidas nesse projeto e questionamentos foram elaboradas por observações em escolas parque do plano piloto. ENTREVISTA COM PROFESSORA FORMAÇÃO DO PROFESSOR E A IMPORTANCIA DO CANTO NA EDUCAÇÃO BÁSICA. G- Qual a sua formação? P: Eu estudei música na UnB, licenciatura em música. Eu estudava fora da UnB antes, mas sou formada em licenciatura música. G- E qual o seu instrumento Principal ? P: Eu estudei Piano, mas eu uso teclado porque é mais prático nas escolas. Porque é leve e da pra carregar,tem a questão da modulação no piano que é mais fácil utilizando o teclado. G- qual a importância do canto na educação básica, porque uma coisa é trabalhar o canto individual como instrumento principal seja na escola de música ou na escola particular, mas qual a importância do canto na educação básica? P: Nosso corpo é o nosso maior instrumento, acredito que no processo inicial que é a musicalização , devemos trabalhar nossas habilidades o nosso corpo, a dança o movimento e o som que vem da voz tem que ser prioritário. Antes de trabalhar qualquer instrumento é muito importante trabalhar a voz e o movimento do corpo. G- Então, você acredita que o processo da aprendizagem musical começa com o instrumento vocal ? 14 P: sim G- seria então mais importante, primeiramente o estudo do canto pra depois o ensino de um outro instrumento ? P: sim, acredito que seja importante para os instrumentistas ter a voz como base. DESAFIOS E DIFICULDAES DA AULA DE CANTO NA EDUCAÇÃO BÁSICA G- quais são as maiores dificuldades do canto dentro da educação básica, as dificuldades em trabalhar a voz na educação básica? P: Bom, Eu tenho vários itens para falar sobre esse ponto, eu vou tentar lembrar os principais, depois eu descrevo cada um deles. Um deles é a dificuldade do próprio professor, porque geralmente quem estuda música não é preparado em termos de técnica vocal da sua própria voz pra enfrentar a sala de aula caótica. Então, os professores não só de música, tendem a terem problemas vocais , porque não tem esse preparo seja com um professor de canto para trabalhar a sua própria voz, para não criar uma fenda, um calo nas cordas vocais, esse é um dos itens que eu vejo como dificuldade, que é a dificuldade da própria pessoa com seus limites. Uma outra dificuldade que eu vejo é que é muito interessante trabalhar pelo menos duas vozes ou cânones, mas para isso como é um processo inicial as crianças tem muita dificuldade de cantar duas vozes senão tiver dois professores, eles seguem a visão de um professor, ou seja, eles ouvem vendo literalmente, eles tem que ver um professor na frente cantando a voz deles pra fazer uma segunda voz. E isso requer um trabalho conjunto com os outros professores e para trabalhar em conjunto com outras pessoas isso gera uma necessidade de trabalho em grupo,onde os professores precisam aceitar o ponto de vista diferente do dele. E também não só isso, aqui na escola parque nós temos muitos casos de professores que não são de musica atuando na vaga de música, então não tem como eu pedir pra uma pessoa que não é da área de música pra fazer um cânone porque ela não vai sustentar uma segunda voz assim como as crianças iniciantes não vão sustentar uma segunda voz sozinhos. Esse seria o segundo ponto que eu acho extremamente complexo, cânones são coisas fáceis, músicas pequenas infantis que são fáceis para músicos e não para professores formados em artes plásticas ou teatro. Tem outras coisas que eu acho muito difícil , por exemplo, quando eu fiz música na UnB, eu tive um professor que me explicou sobre a extensão vocal das crianças,mas eu vejo que hoje ainda tem muitos professores que não levam isso em consideração. Mas que precisam saber pelo menos sobre modulação pra deixar as músicas cantadas em tonalidades mais apropriadas. Não sei se a nossa formação teórica foi bem direcionado para os desafios práticos de sala de aula. Por exemplo, nesse terceiro aspecto, as vezes o professor não tem formação em música e está atuando. Eu 15 conheci um professor que tocava violão e ate compunha, mas ele não lia e não teve uma formação teórica, ele estava na área e tocava muito bem, so que na hora de cantar ele tocava o que era conveniente para ele tocar porque era mais fácil naquele tom e também não queria adequar a tonalidade para a extensão vocal das crianças, ele cantava na extensão que era conveniente pra ele como homem adulto e para a voz dele e isso é um absurdo, porque o professor tem que se desdobrar pra atender a especificidade do aluno, a dificuldade daquele aluno. Então, tem muitos itens, principalmente a dificuldade de trabalhar com pessoas que não são formadas na área e as vezes não entendem porque não falam a mesma linguagem. Então, tem muitas dificuldades. Aqui eu estou até no paraíso, eu tenho um teclado, tenho material, mas tem escolas que não tem material nenhum. O quarto aspecto seria esse, a empresa a secretaria ela não reconhece o professor de música, como professor de musica. Eu que sou professora de música sou reconhecida como professora de artes. Então, me colocam numa sala para o ensino regular para dar aula de artes plásticas e obviamente eu não tenho conhecimento para dar aula de artes plásticas eu vou dar o que eu sei. Então, eu enfrento a dificuldade de que onde tenha vaga de música, eles não lotam com os professores de música e onde tem a vaga de artes, eles dão prioridade para artes. É um sistema que a administração da empresa não direciona os profissionais para a vaga que existem, esse é o quarto aspecto. E tem muitas outras dificuldades. G- Você acredita que o estudo da fisiologia da voz pelo professor anteriormente a sala de aula e dentro da sala de aula com os alunos de educação básica seja importante? P: Depende do que você acredita que seja fisiologia da voz! Esse aspecto teórico em nível prático não me ajudou em absolutamente nada. A pessoa para tomar conhecimento do seu aparelho é uma experiência prática, uma vivencia real a nível empírico, então, a teoria sem a prática nesse caso é trágica porque eu acredito que o professor de música ao longo dos cinco anos de curso aulas de canto, para que ele conheça o seu próprio instrumento e seu limite para que ele possa trabalhar com as crianças, claro que se tem toda uma bagagem como músico, se ele tem uma extensão é possível modular para adequar a tonalidade,mas se ele não sabe por exemplo, levar a voz das crianças para a região aguda, como ele vai adivinhar isso ? Todo esse conhecimento faz parte do canto, eu tive uma professora de canto que me ajudou e me ensinou esses aspectos de extensão vocal e toda a parte de técnica, tudo isso a gente aprende na aula de canto, a maior parte dos professores de música não tem aula de canto na universidade. Muitas vezes o próprio curso não direciona ajuda aos desafios reais da área que são conflituosos, tanto a nível da didática quanto a aprender a usar o matéria que temos enquanto humanos,nós não somos realmente preparados pela academia para enfrentar esses problemas isso é um problema da área como um todo, mas com o tempo a gente vai melhorando buscando se aperfeiçoar. 16 METODOLOGIA DE SALA DE AULA, OBJETIVOS DA AULA DE CANTO E REPERTÓRIO. A metodologia que eu uso talvez eu não saiba citar pedagogos, mas como eu fui desenvolvendo o processo até aqui. Foi uma descoberta também e não tem muito matéria sobre voz infantil, eu não sou da área,mas mesmo procurando é raro encontrar algo sobre voz infantil. E quando encontrado um ou outro me dava as respostas aos meus questionamentos e fui descobrindo soluções. Por exemplo, eu descubro meio de cinqüenta alunos que tem um contraltino que não vai conseguir alcançar talvez um lá 3 um si 3, eu puxo a voz das crianças para o agudo, mas é natural que eles direcionem para o grave que é confortável de inicio. E eu tenho o privilégio de ter uma extensão muito ampla, minha voz tem umas três oitavas e eu desço para o grave junto quando os contraltinos não alcançam os agudos eu vou com eles. Quando vejo que tem um desafinado 90% das vezes ele está cantando numa região que é aguda pra ele, eu peço pra que ele cante no grave e ele canta afinado porque é confortável pra ele. Faço vocalizes com a turma inteira respeitando a voz do grupo, vou modulando de meio em meio tom nos exercícios. Na insistência e com persistência de trabalho com alguns meses um contraltino possa desenvolver os agudos melhor. Eu fui descobrindo os porquês e os como em trabalhar essas vozes mais difíceis que muitas vezes alguns professores não percebem e acham que esse tipo de voz apenas está desafinada por não conseguir alcançar as outras vozes do grupo. Tem professores que possuem uma extensão menor e não alcança muito algumas notas, eu sou soprano apesar de possuir toda a extensão do contralto, se eu cantar agudo em sala de aula, talvez tenha toda uma questão cultura porque as crianças riem da minha cara, acham engraçado. E eu tenho a tendência de cantar no grave até para eles me aceitarem melhor. E isso cai novamente naquilo que eu tinha dito sobre técnica vocal. Se eu não tenho técnica vocal eu vou ferir a minha voz porque sou uma soprano, volto a dizer que nós professores de música deveríamos ter aula de canto ao longo dos estudos para conhecer a própria voz e corpo. Eu comecei a adaptar todos os exercícios, eu acho muito importante que eles saibam as notas musicais. Existe todo um processo para que eles tenham toda a habilidade de cantar para depois aprenderem as notas que estão cantando, saber fazer na prática pra depois descobrir a teoria. A questão da metodologia eu fui descobrindo como fazer . Eu começo cantando a “escada” e não a escala musical. Sempre nas primeiras aulas eu não vou dar nome de notas, mas eles vão aprendendo no decorrer, com umagrafia diferenciada para que eles possam reconhecer visualmente o que estão cantando e depois introduzir teoria de fato. Eu começo com conceito e depois o nome , a grafia so vem depois do nome. Tudo isso eu so aprendi em sala de aula com erros e acertos, em lugar nenhum eu li sobre isso eu mesma vi e vivenciei isso, eu via o que acontecia e me questionava sempre e fui refazendo a minha atuação. Eu trabalho muito folclore, eu escrevi muitas das músicas que eu cantava quando era criança para eu ter a partitura, porque 17 muitas vezes as partituras estão erradas e eu mesma escrevi. E fui adequando para uma tonalidade mais grave para as crianças, mas também tendendo a puxar para o agudo. Ai eu reconheço que para cantar no agudo é necessário técnica, por isso é mais fácil começar com o grave a ao poucos ir trabalhandoo agudo. Eu acredito que todas essas questões do canto elas precisavam ser aprofundadas,tanto em termos de questionamentos dos porques e como resolve-los, quanto em termos de prática. G- Qual o objetivo do repertorio? Eu trabalho muito o folclore é a base cultural a identidade. É a ponte para se fazer algo mais e também pela faixa etária porque são muito pequenos, Eu tenho uma necessidade de trabalhar músicas a duas vozes, mas eu dependo de um outro professor porque sozinhos eles não sustentam as vozes. Claro, tem uma apresentação porque a comunidade cobra isso dentro da escola, eles querem ver o trabalho de alguma forma. Ai sim, a gente procura direcionar o trabalho para uma apresentação, ai torna-se mais complexo a questão do trabalho em grupo porque cada um tem uma opinião diferente e devem ser respeitadas, com uma vontade e entendimentos diferentes. A música que eu gostaria de fazer não é a musica que o meu colega de música formado que está comigo gostaria de fazer que não é a música que o meu colega que ocupa a vaga de professor de música que não é formado em música gostaria de fazer e geralmente é aquilo que ele escuta na mídia. E ele vai cobrar que eu toque pra ele a música que ele escolheu e que as vezes é trágico. Não é a música que a comunidade em volta ou talvez a direção gostaria de ouvir. Então, a questão do repertorio numa apresentação a barca muitos conflitos, e até um pouco de política e bom senso. Porque de repente eu não tenho como fazer um “Bach” polifonia aqui, mas eu também não preciso radicalizar e fazer só o que eu quero, eu posso fazer uma MPB alguma coisa, mas e tenho que ter um bom senso,pra ver o nível do que eu estou mostrando e continuo achando que música a duas vozes são interessantes, porque não são musicas a quatro vozes, mas são musicas pequenas que já mostram um processo de Harmonia e trabalho em grupo e flexibilizar para algo que o publico conheça, porque também não adianta eu trazer um erudito pode não sintonizar com aquilo porque eles não conhecem, também não precisa baixar tanto o nível e trazer uma música que não tem nada, nenhum elemento ou conteudode música. Tem o trabalho que eu procuro fazer em sala de aula, trabalhar o quatro paramentos do som que são , timbre,duração, intensidade e altura. E tem o trabalho que a comunidade cobra que seja mostrado alguma coisa. 18 Ainda falando sobre o objetivo eu ouvi isso do orlando Leite que foi meu professor de técnica em iniciação musical e didática especifica da área de educação. Muitos locais o professor de arte é aquele que fica responsável pelas festas da escola e mural e parede, para mostrar o trabalha que ela fica tão envolvida em apresentar algo que ela se esquece do aspecto didático em sala de aula. Eu tento fugir disso o máximo que eu posso, mas é claro que se você vai apresentar o trabalho numa apresentação não é a mesma coisa da sala de aula. Eu acho muito preocupante, a escola parque sofre esses problemas de interpretação que a própria comunidade não sabe definir se é um centro cultural, se é uma escola. Muitas vezes a gente vê o professor fazendo o trabalho no lugar do aluno, e quem tem que aparecer é o trabalho do aluno e não o professor. Obviamente o trabalho do professor com o aluno e muitas vezes é perceptível o contrario. Claro que o professor enriquece o trabalho do aluno . Muitas vezes eu fico naquele dilema é um lugar didático para o desenvolvimento do aluno. Muitos acham que o objetivo é mostrar a comunidade que as crianças estão fazendo algo, ao invés de se preocupar com o conteúdo em sala de aula de fato. Você acaba direcionado todo o seu trabalho para uma apresentação e acaba esquecendo de todo o desenvolvimento do aluno. G- a quanto tempo a senhora vem trabalhando na educação básica? Estou a vinte anos trabalhando na secretaria de educação, tudo que estou falando é a respeito dos anos que venho trabalhando em sala de aula. Dentro dos limites de formação, porque canto não é a minha formação e comecei a fazer canto recentemente. Antes da secretaria eu dava aula, mas eu dava aula particular,então, é diferente de sala de aula e trabalhar com musicalização. O publico alvo também é totalmente diferente.