APLICAÇÃO DO PROCESSO TRATAMENTO DE CHORUME FOTO-FENTON AO K. C. MOLDER1, D. C. A. FREITAS2, M. P. G. BALTAZAR3, D. N. SILVA4 e C. A. O. NASCIMENTO5 1 Universidade de São Paulo, Centro de Capacitação e Pesquisa em Meio Ambiente (CEPEMA); Universidade Santa Cecília, Departamento de Engenharia Química e-mail: [email protected] 2 Universidade de São Paulo, Centro de Capacitação e Pesquisa em Meio Ambiente (CEPEMA); Universidade Católica de Santos, Departamento de Química e-mail: [email protected] 3 Universidade de São Paulo, Centro de Capacitação e Pesquisa em Meio Ambiente (CEPEMA); Universidade Católica de Santos, Departamento de Química e-mail: [email protected] 4 Universidade Federal de São Paulo, Departamento de Ciências Exatas e da Terra; Universidade de São Paulo, Centro de Capacitação e Pesquisa em Meio Ambiente (CEPEMA-USP) e-mail: [email protected] 5 Universidade de São Paulo, Escola Politécnica, Departamento de Engenharia Química; Centro de Capacitação e Pesquisa em Meio Ambiente (CEPEMA-USP) e-mail: [email protected] RESUMO – O chorume é o líquido resultante dos processos biológicos de degradação de lixo. Este resíduo apresenta alta toxicidade (compostos orgânicos e metais pesados). Para tratar a carga orgânica presente neste efluente, foi empregado o processo foto-Fenton, que gera radicais hidroxila (poderosos oxidantes não seletivos). O estudo foi realizado em um reator fotoquímico, utilizando-se um planejamento experimental para estudar as concentrações de Fe+2 e H2O2. O processo foi monitorado através de análises de TOC, DQO, DBO, OD, turbidez, pH, sólidos totais, cromatografia líquida e gasosa. Os resultados mostram redução de cor, turbidez (80%), carga orgânica (64%), DQO (70%), além do aumento da concentração de OD. Observou-se a completa oxidação dos aromáticos e a carga orgânica restante é formada por compostos que apresentam baixa toxicidade. Os resultados observados permitem sugerir a aplicação combinada de processos físicos, químicos e biológicos para tratar o chorume, podendo-se obter um efluente aplicável para fins de irrigação. PALAVRAS-CHAVE: chorume; foto-Fenton; tratamento de resíduos 1. INTRODUÇÃO. A conservação dos recursos naturais, o reuso e reciclagem de materiais, a recuperação de áreas degradadas e o tratamento de efluentes e resíduos tem sido a tônica da sociedade do terceiro milênio. Na região da Baixada Santista, os municípios coletam seu lixo doméstico e o enviam para o aterro sanitário localizado nas proximidades da Rodovia Piaçaguera-Guarujá (Km 257). Este aterro atende as exigências dos órgãos ambientais, porém, o rejeito sólido passa por processos naturais de biodegradação gerando gases (que podem ser usados para co-geração de energia) e um líquido de forte odor, cor escura e reconhecida toxicidade, conhecido como chorume (Lo, 1996). Este chorume é coletado no aterro e sua caracterização apresenta alta carga orgânica (TOC) e demanda química de oxigênio (DQO), baixa concentração de oxigênio dissolvido (OD), alta turbidez e presença de uma série de compostos orgânicos. Com o intuito de estudar o tratamento deste resíduo, utilizou-se o processo fotoFenton para promover a redução de carga orgânica e toxicidade do chorume. Este processo se baseia na geração de radicais hidroxila (altamente oxidantes) a partir da reação entre íons ferrosos e peróxido de hidrogênio com o auxílio de radiação na faixa do ultravioleta e visível. Os radicais hidroxila oxidam os compostos orgânicos presentes no meio podendo levá-los à completa mineralização (formação de gás carbônico e água). Nesta reação, os íons ferrosos são convertidos a íons férricos, sendo reconvertidos a íons ferrosos pela ação dos fótons (luz). 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 O Chorume A região da Baixada Santista compreende oito municípios que abrigam cerca de um milhão e meio de habitantes. Nesta região são coletados por dia 1500 toneladas de lixo doméstico que é transportado para o Aterro Sanitário Metropolitano localizado às margens da Rodovia Cônego Domenico Rangoni (Piaçaguera-Guarujá). O Aterro é uma concessão pública e é gerido pela Terrestre Ambiental seguindo todas as especificações da legislação vigente. Durante o processo de biodegradação nos aterros sanitários são gerados uma infinidade de compostos resultantes dos processos metabólicos de microorganismos aeróbios e anaeróbios (Christensen e Kjeldsen, 1989). Os compostos gerados são basicamente resultado de excreção por parte destes microorganismos (Christensen et al., 2001). Entre estes compostos encontram-se inorgânicos (sais em geral e metais) e orgânicos (alifáticos, cíclicos, aromáticos e poliaromáticos) que podem se apresentar na forma sólida, líquida ou gasosa, dependendo das propriedades do composto e das condições de temperatura e pressão onde são gerados e encontrados. Os compostos gasosos podem escapar pela interconexão dos poros (Silva et al., 2005) chegando à superfície, onde oferecem risco à saúde e ao meio ambiente, por isso é necessário um sistema eficiente de captação destes gases. Além disso, estes gases podem ser utilizados na co-geração de energia. Os aterros estão sujeitos a entrada de água advindas de fontes externas (sistemas de drenagem superficial, chuva, lençol freático e nascentes) e aquelas resultantes da decomposição do lixo. O chorume é composto basicamente pelo líquido que entra na massa aterrada de lixo e que arrasta esta série de compostos. No caso específico do Aterro em questão, o chorume é coletado e enviado através de caminhões apropriados a região de Jundiaí onde passa por um tratamento que envolve processos biológicos e incineração. 2.2 O Processo foto-Fenton Segundo Bossmann et al., (1998), o reagente de Fenton (Fenton, 1894) consiste de uma mistura oxidante que contém íons ferrosos e peróxido de hidrogênio. O mecanismo exato da reação térmica de Fenton ainda é motivo de discussão, mas a tese mais aceita relata que em uma primeira etapa ocorre a reação de oxidação do Fe2+ para Fe3+, conhecida como reação de Fenton (Equação 1), produzindo radicais hidroxila em quantidade estequiométrica, os quais são oxidantes extremamente reativos (E0 = 2,8V) e não seletivos. Fe 2 H 2 O2 Fe 3 OH OH 2 (1) Na ausência de luz, o íon Fe3+ produzido é reduzido para Fe2+ conforme a equação 2: Fe 3 H 2O2 H 2O Fe 2 H 3O HO2 (2) Esta redução térmica é a etapa limitante da cinética global do processo Fenton por ser muito mais lenta que a reação de oxidação (Equação 1). É provável que complexos de Fe3+ sejam os responsáveis pela interrupção do processo de mineralização, desde que estes complexos, estáveis na ausência de irradiação, dificultam a regeneração do Fe2+. Assim, a reação Fenton estabiliza após a conversão de Fe2+ a Fe3+. O trabalho de Lu et al. (1997) mostrou que os radicais ●OH podem ser consumidos conforme as equações 3, 4 e 5, onde RH representa uma molécula orgânica qualquer. OH Fe 2 Fe 3 OH (3) OH H 2 O2 H 2 O HO2 (4) OH RH H 2 O R (5) Segundo Nadtochenko e Kiwi (1998) e Moraes et al. (2004), radicais hidroperoxila (HO2●), em geral, não apresentam papel de importância nestes processos de oxidação, pois apresentam menor reatividade quando comparados aos radicais ●OH. Um ponto importante a ser considerado é a quantidade de H2O2 requerida para obter a melhor eficiência do tratamento, já que excesso de peróxido de hidrogênio pode reagir com os radicais hidroxila competindo com os compostos orgânicos e eficiência do tratamento. diminuindo a Por outro lado, quando ocorre a presença de radiação entre 280 e 550 nm, ocorre o chamado processo foto-Fenton, no qual os radicais ●OH são gerados pela reação de Fe2+ com H2O2 e também pela fotoredução do Fe3+. Uma vez que a fotorredução se processa muito rapidamente, e permite o reciclo do Fe2+, a eficiência e a velocidade de degradação dos poluentes orgânicos aumenta significativamente (Moraes et al. 2004). A reação de fotorredução do Fe3+ para Fe2+ ocorre segundo a Equação 6: hv Fe 3 H 2 O Fe 2 H OH (6) Esta equação pode ser mais rigorosamente representada considerando a formação de complexos aquosos 3+ hexavalentes de Fe , que além de regenerarem o íon Fe2+ também produzem radicais ●OH, conforme as Equações 7 e 8: hv Fe(OH ) 2 Fe 2 OH hv Fe(OH ) 2 FeOH OH (7) (8) Estas reações favorecem a rápida regeneração dos íons Fe2+ mantendo a concentração de íons ferrosos em solução e produzindo mais radicais ●OH que o processo Fenton ou o processo UV/peróxido. Segundo Sun e Pignatello (1993) e Oliveros et al. (1997), a faixa de pH neste sistema tem um efeito significativo na taxa de degradação, pois os íons de ferro precipitam na forma de hidróxido, quando o pH do meio é aumentado, por outro lado, se o pH estiver muito baixo a concentração das espécies fotoativas é baixa. O pH ótimo da reação foto-Fenton situa-se entre 2,8 e 3,5. 3. METODOLOGIA 3.1 Reagentes O Chorume utilizado neste trabalho foi cedido pela Terrestre Ambiental e coletado no próprio Aterro Sanitário, onde foi gerado. Os reagentes utilizados para promover a oxidação da matéria orgânica no chorume são o peróxido de hidrogênio (H2O2, 30% m/m; Synth) e o sulfato ferroso heptahidratado (FeSO4.7H2O, Synth). Para a correção do pH (quando necessário) utilizou-se ácido sulfúrico concentrado (H2SO4 P.A.; Synth) e hidróxido de sódio 10 molar (NaOH, 10M; Synth). Para as análises cromatográficas utilizou-se como extrator o hexano P. A. (Synth) para cromatografia gasosa, e metanol (Sigma-Aldrich) e acetonitrila (SigmaAldrich) para cromatografia líquida. Em todo o estudo utilizou-se água ultra-pura obtida de um sistema milli-Q (condutividade menor que 18 S / cm ). 3.2 Aparato Experimental A montagem experimental, utilizada nos ensaios é mostrada na Figura 1, e consiste em um reator, de geometria anular com um volume líquido de 1L, colocado em uma caixa de metal fechada, com a finalidade de evitar a saída de radiação luminosa do seu interior. Este reator está conectado a um tanque de recirculação, com um volume útil de 2L, sendo a temperatura do mesmo controlada por meio de um banho termostático (TECNAL®, TE-1842) e monitorada por um termopar digital (SP – G21C*, IOPE). O pH é monitorado por um potenciômetro digital (TECNAL®, 3-MP), e controlado dependendo das condições experimentais, com o auxílio de ácido sulfúrico (H2SO4) e/ou hidróxido de sódio (NaOH). Figura 1 – Diagrama esquemático do aparato experimental utilizado. A fonte de radiação usada foi uma lâmpada de vapor de mercúrio de média pressão de 120W de potência (PHILLIPS®), a qual foi posicionada no eixo longitudinal do reator, no interior de uma camisa constituída de borossilicato, em que circulava água com a finalidade de resfriar o sistema. 3.3 Procedimento Experimental Inicialmente o chorume passa por um filtro de areia (areia lavada de rio; Jaccuzzi) para eliminar sólidos suspensos e parte dos sólidos dissolvidos com o intuito de reduzir a quantidade de possíveis interferentes, principalmente substâncias inorgânicas (Lu et al., 1997; Nadtochenko & Kiwi, 1998; Martyanov & Savinov, 1997; Kiwi et al., 2000). Em seguida são adicionados 2,8 L de chorume ao tanque de recirculação, acionando-se a bomba de recirculação (bomba de elevação retirada de uma máquina de lavar) com vazão de 1,5 L/min. O pH da solução é ajustado para 3, com a adição de H2SO4 concentrado. A lâmpada é acionada, deixando-se a temperatura do sistema atingir o estado estacionário no valor desejado (30ºC). Com o sistema estabilizado, a contagem do tempo de reação é iniciada, executando-se, simultaneamente, as adições das soluções de FeSO4.7H2O (100mL de solução) e de H2O2 (100mL de solução). A solução de peróxido de hidrogênio é adicionada com o auxílio de uma bomba peristáltica (IPC-4, Ismatec) com vazão de 3,33 mL/min, durante os trinta minutos iniciais do experimento. As soluções contêm massas de ferro e peróxido suficientes para obter as concentrações finais destes reagentes em cada experimento. Estas concentrações são apresentadas na tabela 1. Tabela 1 – Concentrações dos reagentes de Fenton em cada experimento. Experimento [Fe2+] mmol/L [H2O2] mmol/L pH inicial 1 1,20 294,20 7,0 2 1,20 294,20 3,0 3 0,66 161,80 3,0 4 0,12 29,42 3,0 5 0,12 294,20 3,0 6 1,20 29,42 3,0 Todos os experimentos tiveram uma duração de três horas de reação. A amostragem foi realizada em diferentes intervalos de tempo (0, 5, 10, 15, 30, 45, 60, 75, 90, 120, 150, 180 minutos), sendo retiradas duas amostras com alíquotas de 20mL (TOC e HPLC) e 5 mL (GC-MS) respectivamente. A cada alíquota de 20mL é adicionado 3 gotas de NaOH 10M para inibir a reação através da precipitação do ferro. Em seguida a amostra é filtrada em filtros 0,45 µm (Millipore). Deste filtrado é retirado 1mL para análise por cromatografia líquida (UFLC LC20AD Shimadzu® acoplado ao um detector UV-visível SPD20A Shiamdzu® equipado com coluna C18 – 250mm x 4,6mm) e o restante segue para análise de carbono orgânico total (HyperToc Thermo®). A alíquota de 5mL passa por uma extração com 20 mL de hexano em um extrator Soxtherm (Gerhardt®) e o extrato é analisado em um Cromatógrafo gasoso (CP3800 Varian® equipado com coluna DB5 – 30m x 0,25mm) acoplado a um espectrômetro de massas (MS Saturn-2200 Varian®). Uma série de outras análises foram realizadas com o chorume bruto e o efluente retirado do reator ao final do experimento, conforme descrito a seguir: pH: Determinado pelo método potenciométrico através de medida direta utilizando um pHmetro Tec-3MP (Tecnal®); Sólidos Totais dissolvidos: Determinado através da secagem de um volume fixo de solução (20 mL) em uma estufa Nova Ética 400/4WD, seguida da pesagem do material sólido na placa de Petri, resultante da secagem, que corresponde a massa de sólidos presente no volume definido. Turbidez: Determinado através de leitura direta em um turbidímetro TB-1000 (Tecnal®). Oxigênio dissolvido: Determinado através de leitura direta em um oxímetro DM4P Digimed®. Demanda Química de Oxigênio: Método Colorimétrico com refluxo fechado (Standard Methods 5220D) (APHA, 2005). Demanda Bioquímica de Oxigênio: Método respirométrico (Standard Methods 5210D) (APHA, 2005). 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO Nos instantes iniciais do experimento foi observada a formação de espuma (Figura 2). Não foi possível identificar a causa, mas, provavelmente, se deve à presença de substâncias tensoativas que se formam pela ação de bactérias sulfonantes (muito comuns na região) e que atuam sobre moléculas de alquilbenzenos lineares formando sulfonatos de alquilbenzenos lineares (precursores de tensoativos). Figura 3 – Redução de carga orgânica no chorume tratado pelo processo foto-Fenton. Figura 2 – Formação de espuma nos instantes iniciais de reação. A formação de espuma se extingue após cinco minutos, porém a mesma poderia promover o arraste de substâncias (similar a um processo de flotação) e para estudar esta possibilidade a espuma é devidamente coletada, passando por um processo de extração com hexano e analisada em um cromatógrafo gasoso acoplado a um espectrômetro de massas, semelhantemente ao método descrito anteriormente para o chorume. A análise não mostrou presença de compostos orgânicos arrastados pela espuma. O objetivo neste trabalho é estudar a redução de carga orgânica, por isso, não foi realizada análise para inorgânicos na espuma. A figura 3 mostra os resultados normalizados das análises de carbono orgânico total (TOC) para todos os experimentos. Os experimentos 1 e 4 apresentam percentuais de redução da carga orgânica de 12% e 6%, respectivamente. No caso do experimento 1, podemos atribuir este resultado ao pH inicial do processo (7,0), no qual o ferro se encontra na forma de hidróxido, tornando o processo heterogêneo, dificultando a difusão no poro e não permitindo a formação das espécies fotoativas. O experimento 4 apresenta os níveis mínimos de ferro e peróxido utilizados neste estudo. A baixa remoção pode ser explicada pela formação de pequena quantidade de espécies radicalares oriundas dos reagentes de Fenton. O experimento 2 é similar ao experimento 1, com a diferença do pH inicial que neste caso é 3,0. O percentual de remoção de carga orgânica chega a 59%, mostrando que o pH inicial tem forte influência sobre o processo. Neste experimento as concentrações de ferro e peróxido apresentam os níveis máximos, o que explica um maior percentual de redução de carga orgânica quando comparado ao experimento com os níveis mínimos dos mesmos reagentes. O experimento 6 corresponde ao nível máximo de ferro e mínimo de peróxido e obteve-se uma redução de carga orgânica de 36%, mostrando que a baixa concentração de peróxido reduz a quantidade de radicais hidroxila disponíveis. O resultado é melhor que o experimento com níveis mínimos de ambos os reagentes porque a velocidade de reação é acelerada pela presença de mais íons ferrosos. Por tratar-se de uma reação radicalar, uma maior velocidade inicial promove uma maior eficiência, similarmente a comparação entre uma explosão e um fogo controlado. Os experimentos 3 e 5 apresentam uma redução de carga orgânica de 64% e 59%, respectivamente. O experimento 3 corresponde aos níveis centrais de ferro e peróxido e apresenta o melhor percentual de remoção de carga orgânica de todo o planejamento experimental. O experimento 5 apresenta o nível máximo de peróxido e nível mínimo de ferro e apresenta percentual de remoção similar ao experimento 3 e também ao experimento 2 (com níveis máximos dos reagentes de Fenton). Analisando os resultados de remoção de carga orgânica obtidos, notamos que o grande limitante do processo é a quantidade de peróxido presente, pois comparando a remoção final dos experimentos com níveis mínimo e máximo de ferro, mantida a mesma concentração (máxima) de peróxido, observamos resultados semelhantes. Selecionamos como experimento que mais se adequa a nossa necessidade, o experimento 5 (mínimo de ferro e máximo de peróxido), pois a quantidade de ferro usada neste experimento se enquadra na Resolução 357 (CONAMA, 2005) para níveis de emissão em corpos de água. A maior quantidade de peróxido utilizada apresenta como único entrave, a questão de custo (embora o custo do peróxido não seja tão elevado), pois do ponto de vista de resíduo, o mesmo gera apenas água e oxigênio. Pode-se estudar ainda uma otimização da concentração de peróxido. Os resultados mostram ainda redução de cor. Embora não tenha sido realizada análise específica, a observação visual (Figura 4) demonstra tal fato. É importante observar que visualmente o experimento 3 apresenta um aspecto melhor que o experimento 5. Isto pode ser devido ao fato de haver intermediários mais oxidados e portanto com menor intensidade de cor. É importante salientar que a análise de carbono orgânico total não identifica compostos e sim, a quantidade de carbono, independente do estado de oxidação do composto. Figura 4 – Aspecto do chorume bruto (à esquerda) e do efluente retirado do reator ao final de cada experimento. Os resultados de redução de carga orgânica são compatíveis com os resultados de redução da demanda química de oxigênio, apresentados na tabela 2, sendo o experimento 3 o que apresenta menor DQO, o que deve confirmar a informação de que os compostos presentes ao final do processo estão mais oxidados que em qualquer outro experimento, pois necessitam de uma menor quantidade de oxigênio para a completa oxidação (princípio do método de análise de DQO). Os dados de turbidez (redução de até 80%) corroboram a redução de cor discutida anteriormente. Além disso, outra informação importante advinda da tabela 2 é o aumento da concentração de oxigênio dissolvido, que em alguns casos chegou a ser mais de dez vezes maior que a concentração de oxigênio dissolvido no chorume original. Tabela 2 – Resultados de turbidez, oxigênio dissolvido e demanda de química de oxigênio de cada experimento. Turbidez Experimento (NTU) OD (mg/L de O2) DQO (mg/L) (flotação para remoção da espuma), químicos (processo foto-Fenton que promove a oxidação dos compostos orgânicos) e biológicos (permitem a remoção da carga orgânica). Chorume 161,2 0,80 3100,0 1 152,8 0,70 2027,5 2 38,8 2,40 1572,5 3 32,0 11,50 914,2 4 39,4 2,31 2478,4 O efluente resultante destes processos combinados pode apresentar níveis que se enquadram nos padrões da Resolução CONAMA 357 (CONAMA, 2005) para águas que podem ser aplicadas na agricultura (irrigação). O uso deste efluente em irrigação acarretaria em duas vantagens principais. A primeira consiste no tratamento de um potencial efluente para águas superficiais e subterrâneas e o segundo no reuso em agricultura, reduzindo o custo da produção. 5 38,5 2,01 1058,8 6. AGRADECIMENTOS 6 40,3 1,98 1897,6 Este trabalho tem o suporte financeiro da FAPESP, CNPq e CAPES. Os autores agradecem ainda ao Instituto Nacional de Cência e Tecnologia de Estudos em Meio Ambiente (INCT-EMA) e ao Centro de Capacitação e Pesquisa em Meio Ambiente da Universidade de São Paulo (CEPEMAUSP) pela estrutura para realização da pesquisa e a Terrestre Ambiental pelo apoio logístico e pela cessão do chorume utilizado. As análises cromatográficas mostraram uma redução total dos picos dos cromatogramas obtidos por cromatografia gasosa e líquida, sendo verificada a completa oxidação de compostos aromáticos. A carga orgânica restante não foi identificada pelas colunas usadas nas análises cromatográficas, indicando que devem se tratar de compostos alifáticos (apresentam pouca toxicidade), e de moléculas de menor cadeia (ácidos carboxílicos, álcoois e aldeídos), que servem de substrato para microorganismos em seu processo de crescimento. Os resultados mostram ainda um aumento de cerca de cinco vezes na relação DBO/DQO, o que indica um aumento na biodegradabilidade do efluente resultante do processo foto-Fenton. 5. CONCLUSÕES Os resultados apresentados neste trabalho permitem inferir a possibilidade de aplicação combinada de processos físicos 7. REFERÊNCIAS APHA. Standard methods for the examination of water & wastewater. 21st Edition, Baltimore, 2005. BOSSMANN S. H., OLIVEROS E., GÖB S., SIEGWART S., DAHLEN E.P., PAYAWAN L., STRAUB M., WÖRNER M., BRAUN A. M. New evidence against hydroxyl radicals as reactive intermediates in the thermal and photochemically enhanced Fenton Reactions. J.Phys. 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