- Congresso Brasileiro de Meteorologia

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ANÁLISE DA VARIAÇÃO DA PRECIPITAÇÃO DIÁRIA NO MUNICÍPIO DE
SÃO PAULO SEGUNDO OS DIAS DA SEMANA (1933-1999)
Edson Cabral
Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária – INFRAERO
Aeroporto Internacional de São Paulo - Rodovia Hélio Smidt s/n –Guarulhos, SP, 07141-970
e-mail: [email protected]
Frederico Luiz Funari
Sérgio Torre Salum
Instituto Astronômico e Geofísico da Universidade de São Paulo – IAG/USP
Av. Miguel Stéfano, 4200, São Paulo, SP, 04301-904.
e-mail: [email protected]
ABSTRACT
An analysis is made of the frequency of rainfall and of the frequency of rainfall since 10 mm/day, besides the
totals, according to the days-of–the-week, for São Paulo (period 1933-1999). The numbers of the rainy days,
the frequency of rainfall more intense and the totals are not conditioned by the day-of-the-week.
INTRODUÇÃO
Trabalhos enfocando o elemento precipitação pluviométrica tem sido escritos em número apreciável
levando-se em consideração as alterações climáticas ocorridas no interior do ambiente urbano.
Dos parâmetros climáticos que sofrem influência da urbanização, provavelmente é a precipitação a
que mais controvérsias acarreta, embora vários estudos tenham mostrado que as chuvas são favoravelmente
afetadas pela urbanização e que, em grandes cidades e algumas de porte médio chove cerca de 5 a 10% mais
que nas áreas rurais (Landsberg, 1981). Tal diferença pode ser explicada basicamente por três fatores:
• a presença da ilha de calor, que propicia aumento da convecção, favorecendo a precipitação;
• o efeito de rugosidade que ocorre com a existência da cidade e sua infinidade de edificações, gerando um
efeito de turbulência mecânica significativo e,
• a grande quantidade de material particulado em suspensão, que servem como núcleos higroscópicos,
fomentando a formação de nuvens e as chuvas.
Este trabalho tem como universo de análise o Município de São Paulo, que se constitui como uma das
áreas mais densamente ocupadas em termos de cidades mundiais, com quase 10 milhões de habitantes. A
mancha urbana do município, que em 1930 era de 180 km², em 1965 atingia 700 km² e, em 1988 alcançava 900
km² de área, de uma dimensão total hoje de aproximadamente 1500 km², estendendo-se desde o setor rural
situado na porção sul da cidade, próximo das escarpas da Serra do Mar, até o norte, passando por uma grande
área urbanizada e atingindo a Serra da Cantareira.
Levanta-se uma hipótese inicial, segundo a qual pode haver diferenças nas precipitações na cidade de
São Paulo, em termos de suas freqüências e totais nos diversos dias da semana. Com o maior dinamismo
urbano (processos industriais, movimento de veículos e de pessoas) ocorrendo nos dias de semana, poderia se
esperar que as precipitações fossem mais freqüentes e intensas em tais dias e menos numerosas e mais tênues
durante os sábados e domingos, embora a percepção do cidadão seja que os finais de semana são mais
nublados e chuvosos e que muitas vezes a chegada dos sistemas frontais à região coincida com esses dias.
Em relação às pesquisas sobre o assunto, Ashworth, em trabalho publicado em 1929 (apud Moreno,
1999, p. 41), constatou para a cidade inglesa de Rochdale, um decréscimo de 13% nas chuvas aos domingos.
Para a cidade de Barcelona, Moreno (1988) encontrou valores absolutos de freqüência menores também aos
domingos, em que pese a distribuição das precipitações não ser estatisticamente diferenciada entre os dias da
768
semana. Em recente pesquisa, Martin Vide, Gómez y Moreno (1998) analisam a questão para as cidades
espanholas de Madrid, Barcelona, Valencia, Málaga e La Coruña, abrangendo o período de 1951 a 1960 e não
encontram valores que comprovem diferenciação significativa entre as precipitações que ocorrem entre os ditos
dias laborais e os finais de semana.
Para a área de estudo, vários são os trabalhos que abordam o parâmetro chuva, com distintas
abordagens: França (1946), Occhipinti e Santos (1965), Cabral e Jesus (1994), Cabral (1997a, 1997b), Cabral e
Funari (1997), Xavier et. al. (1992, 1993a, 1993b, 1996).
MATERIAL E MÉTODOS
A estação meteorológica da Água Funda, pertencente ao Instituto Astronômico e Geofísico da
Universidade de São Paulo, localiza-se na área do Parque Estadual das Fontes do Ipiranga, no bairro da Água
Funda, na zona sul da área urbana de São Paulo. Sua altitude é de cerca de 800 m e suas coordenadas
geográficas são: 23°39’S de latitude e 46°38’W de longitude, sendo que sua série de dados remonta ao início
dos anos 30.
Foram levantados os registros diários de precipitação pluviométrica dessa estação para o período de
1933 a 1999, a partir de valores significativos de 0,1 mm. Os registros foram separados em termos de dias da
semana e contaram posteriormente com três tipos de análise: freqüência de dias de precipitação por dia da
semana, número de dias de precipitação com valores a partir de 10 mm conforme os dias da semana e
somatório de valores de chuva encontrados para cada um dos dias. O período total de análise foi dividido em
três períodos distintos: 1933 a 1949, 1950 a 1974 e 1975 a 1999, abrangendo fases diferenciadas da
urbanização de São Paulo, tanto em termos de população (vide figura 1), quanto da evolução de sua superfície
urbanizada. Foram feitas tabelas constando os dias de chuva e a freqüência de dias de precipitação iguais ou
superiores a 10 mm em relação ao período total (1933-1999) e dos três períodos acima mencionados, além de
ser elaborada uma tabela com o somatório de chuvas ocorridas no período mais recente de dados (1975-1999).
EVOLUÇÃO POPULACIONAL DO MUNICÍPIO DE
SÃO PAULO (1890-1991)
10.000.000
8.000.000
6.000.000
4.000.000
2.000.000
0
ANOS
Figura 1 (Fonte: FIBGE)
769
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados obtidos encontram-se nas tabelas 1 a 9, onde se verificam os valores dos sub-períodos e
do período total (1933-1999).
Examinando os valores apresentados nas tabelas, verificamos que os registros, tanto para os dias em
que ocorreu precipitação, quanto para aqueles em que a precipitação pluviométrica foi igual ou superior a 10,0
mm/dia, as porcentagens diferem de um dia qualquer da semana para os demais, de 0,73% no caso dos totais de
dias de chuva (tabela 1) e 1,8% para o caso de dias de chuva com valores a partir de 10,0 mm (tabela 5).
Ambos valores são bastante baixos e estariam dentro do desvio aceitável; em resumo, não há praticamente
diferença entre os dias da semana, portanto não podemos afirmar que, em determinado dia da semana chove
mais que nos outros, levando-se em consideração a série analisada. Mesmo para o somatório das chuvas que
ocorreram no período mais recente (figura 9), a diferença percentual entre o dia com maiores valores de
precipitação e o dia de valores mais reduzidos fica em torno de 2,0%.
A série histórica da Estação Meteorológica do IAG (1933-1999) é, sem dúvida, a mais completa série
pluviométrica e pluviográfica do Estado de São Paulo, sendo mesmo considerada padrão de referência, o que
tem possibilitado a realização de inúmeros trabalhos, principalmente para estabelecimento de equações para
cálculo de probabilidade de chuvas intensas na Cidade de São Paulo.
Em um trabalho futuro, pode-se tentar verificar se ocorrem os mesmos resultados para outras estações
do Município, como por exemplo o Mirante de Santana, localizada em região mais urbanizada da cidade (zona
norte), porém com uma série de registros mais restrita.
Outra consideração a ser feita é em relação à genese das chuvas na área de estudo, fortemente
dependente da passagem de sistemas frontais, particularmente no período de outono-inverno (abril-setembro) e
também importante no período de primavera-verão, aliado neste caso às chuvas de caráter local e associadas à
orografia. Em termos médios, ocorre a passagem de pouco mais de um sistema frontal por semana no Estado
de São Paulo (vide tabela 10) e suas chegadas podem coincidir com qualquer dos dias da semana.
A percepção de que as chuvas e a maior cobertura de nebulosidade se verifica nos finais de semana
ocorre mais pelo interesse maior que a população tem em usufruir um tempo bom conforme sua semana de
trabalho vai chegando ao fim.
CONCLUSÃO
Em suma, o presente trabalho mostra claramente que não existe relação, em nível significativo, dos
dias da semana com a ocorrência de chuva na cidade de São Paulo.
Tabela 1. Distribuição dos dias de precipitação entre os dias da semana - 1933-1999
ANOS
SEG
TER
QUA
QUI
SEX
SAB
DOM
SOMA
1849
1792
1783
1864
1812
1793
1807
%
16,69
16,17
16,09
16,82
16,35
16,17
16,3
Tabela 2. Distribuição dos dias de precipitação entre os dias da semana - 1933-1949
ANOS
SEG
TER
QUA
QUI
SEX
SAB
DOM
SOMA
474
469
478
483
485
446
464
%
14,37
14,21
14,49
14,64
14,7
13,52
14,06
Tabela 3. Distribuição dos dias de precipitação entre os dias da semana - 1950-1974
ANOS
SEG
TER
QUA
QUI
SEX
SAB
DOM
SOMA
705
671
663
698
656
669
652
%
14,95
14,23
14,06
14,8
13,91
14,19
13,83
770
Tabela 4. Distribuição dos dias de precipitação entre os dias da semana - 1975-1999
ANOS
SEG
TER
QUA
QUI
SEX
SAB
DOM
SOMA
670
652
642
683
671
678
691
%
14,29
13,91
13,69
14,57
14,31
14,46
14,74
Tabela 5. Dias de precipitação >= 10,0 mm entre os dias da semana - 1933-1999
ANOS
SEG
TER
QUA
QUI
SEX
SAB
DOM
SOMA
437
409
435
446
393
409
414
%
14,85
13,89
14,78
15,15
13,35
13,89
14,07
Tabela 6. Dias de precipitação >= 10,0 mm entre os dias da semana - 1933-1949
ANOS
SEG
TER
QUA
QUI
SEX
SAB
DOM
SOMA
89
99
92
97
86
78
92
%
14,06
15,64
14,53
15,32
13,58
12,32
14,53
Tabela 7. Dias de precipitação >= 10,0 mm entre os dias da semana - 1950-1974
ANOS
SEG
TER
QUA
QUI
SEX
SAB
DOM
SOMA
160
151
170
164
139
158
147
%
14,69
13,86
15,61
15,06
12,76
14,51
13,5
Tabela 8. Dias de precipitação >= 10,0 mm entre os dias da semana - 1975-1999
ANOS
SEG
TER
QUA
QUI
SEX
SAB
DOM
SOMA
188
159
173
185
168
173
175
%
15,39
13,02
14,17
15,15
13,76
14,17
14,33
Tabela 9. Somatório dos totais de precipitação entre os dias da semana - 1975-1999
ANOS
SEG
TER
QUA
QUI
SEX
SAB
DOM
SOMA
5892,3
5459,9
5207,2
5510,2
5246,7
5147,4
5386,3
%
15,56
14,42
13,76
14,56
13,86
13,6
14,23
Tabela 10. Freqüência anual dos sistemas frontais que passaram por São Paulo de 1995
a 1999
ANO
1995
1996
1997
1998
1999
Total
66
60
57
68
Fonte: CETESB. Relatório de Qualidade do Ar 1999, anexo 3, Tabela A, p. 50, 2000.
771
65
AGRADECIMENTOS
Agradecemos ao Instituto Astronômico e Geofísico da Universidade de São Paulo pela cessão dos
dados climatológicos da Estação Meteorológica da Água Funda, utilizados neste trabalho.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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