associada a espécies de Ipomoea Linnaeus

Propaganda
A apifauna (Hymenoptera; Apoidea) associada a espécies de Ipomoea Linnaeus (Convolvulaceae) em
áreas de Cerrado e urbanas de Minas Gerais.
Léo Correia da Rocha Filho 1 , Mariana Resende Silva 2 , Francielle Paulina de Araújo 2 , Cláudia Inês da Silva
2
& Solange Cristina Augusto 3
1
Programa de Pós-Graduação em Entomologia – UFPR, 2 Programa de Pós-Graduação em Ecologia e
Conservação de Recursos Naturais – UFU, 3 Instituto de Biologia – UFU. [email protected]
Introdução
A família Convolvulaceae é composta predominantemente por espécies herbáceas e trepadeiras, que ocorrem
em florestas tropicais, savanas, pradarias e desertos. Cerca de 1700 espécies distribuídas em 55 gêneros
compõem a família, que alcança a maior diversidade nas Américas e África. O gênero Ipomoea constitui-se
em um dos mais representativos das Convolvulaceae, contando com cerca de 500 espécies que se distribuem
pelos trópicos. Suas flores são tubulares, oferecendo pólen e néctar para seus visitantes, que podem ser beija flores, mariposas, borboletas e, principalmente, abelhas (Joly, 1987; Gentry, 1993; Austin, 1997). A
polinização das espécies de Ipomoea se dá frequentemente por abelhas, sobretudo por alguns gêneros
oligoléticos, que utilizam apenas o pólen de Ipomoea para o aprovisionamento de seus ninhos (Austin,
1997). De acordo com Linsley (1958), as abelhas oligoléticas são mais eficientes na coleta de recursos de
suas plantas específicas quando comparadas às espécies generalistas, que não possuem preferência por
nenhum gênero ou família de plantas. Na apifauna brasileira, exemplos de oligolectia ocorrem
principalmente em algumas espécies de Andrenidae, Colletidae e em vários grupos de Apidae, que coletam
os recursos florais de Apiaceae, Asteraceae, Cactaceae, Convolvulaceae, Iridaceae, Loasaceae, Malvaceae,
Onagraceae, Oxalidaceae, Pontederiaceae e Solanaceae (Schlindwein, 2004). Este trabalho tem como
objetivo estimar a apifauna associada a cinco espécies de Ipomoea em áreas preservadas de cerrado e em
áreas urbanas de Uberlândia, bem como avaliar os recursos florais coletados por elas e seu potencial como
polinizadoras.
Material e Métodos
O estudo foi desenvolvido em duas áreas: Área 1 - Reserva Vegetal do Clube Caça & Pesca Itororó de
Uberlândia, distante cerca de 10 km do centro da cidade, cuja vegetação predominante é caracterizada como
Cerrado sensu stricto (Appolinário & Schiavini, 2002). As espécies estudadas foram: Ipomoea cf. martii
Meisn. e Ipomoea virgata Meisn. As coletas foram realizadas no período de Fevereiro a Abril de 2003. Área
2 - Parque Municipal Victorio Siquierolli, localizado no perímetro urbano do município de Uberlândia,
composto por áreas de Cerradão e de jardins. As três espécies ornamentais: Ipomoea fistulosa Mart. ex
Choisy, Ipomoea horsfalliae Hook. e Ipomoea purpurea (L.) Roth. foram acompanhadas durante os meses
de Março a Junho de 2004. As abelhas foram amostradas com auxílio de rede entomológica entre 8h00 e
16h00.
Resultados e Discussão
Foram registradas 41 espécies no total, das quais apenas Melitoma sp., Melitoma segmentaria (Fabricius,
1804), Ceratina (Calloceratina) sp. (Fabricius, 1804), Ceratina (Crewella) maculifrons Smith, 1854,
Ceratina (Crewella) sp1 e Ceratina (Crewella) sp2 coletaram pólen, correspondendo a 14,63% do total.
Dentre as espécies coletoras de néctar, cerca de 62,86% foram consideradas polinizadoras, pois ao coletar
néctar, sujavam o tórax com vários grãos de pólen, os quais entravam em contato com a superfície
estigmática. Estas espécies são: Bombus (Fervidobombus) atratus Franklin, 1913, Bombus (Fervidobombus)
morio (Swederus, 1787), Melipona (Melikerria) quinquefasciata Lepeletier, 1836, Eufriesea sp., Euglossa
(Euglossa) cordata (Linnaeus, 1758), Euglossa (Euglossa) townsedi Cockerell, 1904, Eulaema (Apeulaema)
nigrita Lepeletier, 1841, Centris (Centris) nitens Lepeletier, 1841, Centris (Hemisiella) tarsata Smith, 1874,
Centris (Heterocentris) analis (Fabricius, 1804), Centris (Trachina) fuscata Lepeletier, 1841, Epicharis
(Epicharana) flava (Friese, 1900), Epicharis (Epicharis) bicolor Smith, 1854, Acanthopus excellens
Schrottky, 1902, Exomalopsis (Exomalopsis) fulvofasciata Smith, 1879, Alepidosceles imitatrix (Schrottky,
1909), Monoeca sp., Thygater (Thygater) analis (Lepeletier, 1841), Augochloropsis sp1, Augochloropsis
sp2, Augochloropsis sp3 (Halictidae) e Megachile sp. (Megachilidae). As demais espécies (37,14%), foram
consideradas pilhadoras, seja pela perfuração da base da corola para a coleta de néctar, como no caso de
Oxaea flavescens Klug, 1807 (Andrenidae), Melipona (Melipona) quadrifasciata Lepeletier, 1836, Xylocopa
(Neoxylocopa) grisescens Lepeletier, 1841, Xylocopa (Neoxylocopa) suspecta Moure & Camargo, 1988
(Apidae), Pseudaugochlora graminea (Fabricius, 1804) e Pseudaugochlora pandora (Smith, 1853)
(Halictidae) ou na coleta deste recurso sem contactar as anteras e a superfície estigmática, no caso das
espécies de pequeno porte como Apis mellifera Linnaeus, 1758, Paratrigona lineata (Lepeletier, 1836),
Partamona sp., Tetragonisca angustula (Latreille, 1811), Trigona spinipes (Fabricius, 1793), Augochlora sp.
e Augochlora (Oxystoglossella) sp. (Halictidae). As espécies I. purpurea e I. virgata apresentaram um maior
número de espécies: 20 e 17, respectivamente, ao passo que as demais foram visitadas por menos de dez
espécies cada: I. fistulosa (7), I. cf. martii (6) e I. horsfalliae (2). Schlising (1970) e Austin (1997) ressaltam
a ocorrência de abelhas oligoléticas associadas a Convolvulaceae, sobretudo aquelas dos gêneros Melitoma,
Cemolobus, Diadasia e Ancyloscelis. A espécie Melitoma segmentaria foi a mais observada, sendo que tanto
machos quanto fêmeas foram coletados. Esta espécie visitava as flores de quatro das cinco espécies de
Ipomoea, atuando como polinizadora efetiva destas espécies, evidenciando a intrínseca relação entre
Melitoma e plantas do gênero Ipomoea (Schlising, 1970; Austin, 1997).
Referências Bibliográficas
APPOLINÁRIO, V. & SCHIAVINI, I. 2002. Levantamento fitossociológico de espécies arbóreas de Cerrado
(stricto sensu) em Uberlândia – Minas Gerais. Boletim do Herbário Ezechias Paulo Heringer 10: 57-75.
AUSTIN, D.F. 1997. Dissolution of Ipomoea ser. Anisomerae (Convolvulaceae). Journal of the Torrey
Botanical Society 124(2): 140-159.
GENTRY, A.H. 1993. A field guide to the families and genera of woody plants of northwest South
America (Colombia, Ecuador, Peru), with supplementary notes on herbaceus taxa. Washington:
Conservation International, 895p.
JOLY, A.B. 1987. Botânica: Introdução à Taxonomia Vegetal. 8ª ed. São Paulo: Companhia Editora
Nacional, 777p.
LINSLEY, E.G. 1958. The ecology of solitary bees. Hilgardia 27: 543-599.
SCHLINDWEIN, C. 2004. Are oligolectic bees always the most effective pollinators? p. 231-240. In: B.M.
FREITAS (Ed). Solitary bees: conservation, rearing and manageme nt for pollination. Fortaleza:
Imprensa Universitária, 285p.
SCHLISING, R.A. 1970. Sequence and timing of bee foraging in flowers of Ipomoea and Aniseia
(Convolvulaceae). Ecology 51: 1961-1067.
Download