UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOLOGIA DE AGENTES INFECCIOSOS E PARASITÁRIOS ANÁLISE DA EXPRESSÃO DOS GENES DAS CITOCINAS IL-2 E TNF-α EM MODELO EXPERIMENTAL ANIMAL INFECTADO COM O VÍRUS MAYARO (TOGAVIRIDAE: ALPHAVIRUS) ALESSANDRA DA CONCEIÇÃO MIRANDA SANTOS Belém-Pará 2013 ALESSANDRA DA CONCEIÇÃO MIRANDA SANTOS ANÁLISE DA EXPRESSÃO DOS GENES DAS CITOCINAS IL-2 E TNF-α EM MODELO EXPERIMENTAL ANIMAL INFECTADO COM O VÍRUS MAYARO (TOGAVIRIDAE: ALPHAVIRUS) Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Biologia de Agentes Infecciosos e Parasitários do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Pará como requisito para obtenção do grau de Mestre em Biologia de Agentes Infecciosos e Parasitários. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Ana Cecília Ribeiro Cruz. Belém-Pará 2013 ALESSANDRA DA CONCEIÇÃO MIRANDA SANTOS ANÁLISE DA EXPRESSÃO DO GENE DA IL-2 E TNF-α EM MODELO EXPERIMENTAL ANIMAL INFECTADO COM O VÍRUS MAYARO (TOGAVIRIDAE: ALPHAVIRUS). Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Biologia de Agentes Infecciosos e Parasitários do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Pará como requisito para obtenção do grau de Mestre em Biologia de Agentes Infecciosos e Parasitários. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Ana Cecília Ribeiro Cruz Instituto Evandro Chagas Banca Examinadora: Prof.ª Dr.ª Edna Cristina Santos Franco Instituto Evandro Chagas Prof. Dr. José Antônio Picanço Diniz Júnior Instituto Evandro Chagas Prof. Dr. Luiz Fernando Almeida Machado Instituto de Ciências Biológicas – ICB/UFPA Prof.ª Dr.ª Daniele Barbosa de Almeida Medeiros (Suplente) Instituto Evandro Chagas Aprovada em:___/___/___ Conceito:_____ Belém, 30 de Abril de 2013. EPÍGRAFE “Um homem nunca sabe aquilo de que é capaz até que o tenta fazer.” (Charles Dickens). DEDICATÓRIA “Ao meu pai, tias-mães e irmã que fizeram dos meus sonhos sua luta; ao meu marido e filho por todo amor, compreensão e incentivo; aos meus amigos e familiares, pelo carinho e apoio constantes e a Deus porque sem Ele nada seria possível". AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus pelo dom da vida, por seu infinito amor que me guia em todos os momentos da minha vida e pela realização de mais sonho. Ao meu Pai, Edilson da Silva Miranda, minha tia, Oscarina da Silva Miranda e a minha irmã, Renata da Conceição Miranda, pelo apoio, confiança e paciência, elementos fundamentais que me permitiram hoje está a onde estou. Obrigado por todo amor, carinho e proteção que vocês me proporcionam. Aos meus Tios e Tias, Primos e Primas, por todo apoio, palavra de incentivo e gestos de compreensão que me deram. Obrigada pela família maravilhosa que vocês são. Ao meu marido, José Alberto Baptista Santos Junior (Jota), pelo companheirismo, paciência, compreensão, amor e carinho que me dedica. Obrigada por fazer parte da minha vida e me permitir fazer parte da sua. Ao meu filho Lucas, hoje com apenas sete meses, e dono de um amor que não cabe em mim. Obrigada por existir em minha vida e dar a ela o sentido que só você pôde dar. Te amo mais que tudo e para sempre, você foi sem dúvida a melhor coisa que me aconteceu durante este curso! À Professora Dr.ª Ana Cecília Ribeiro Cruz, pela orientação ao longo desses anos, que me permitiram crescimento pessoal e profissional. Obrigada pela atenção, confiança, paciência e dedicação para a realização desse trabalho. À equipe do Laboratório de Biologia Molecular da Secção de Arbovirologia e Febres hemorrágicas do Instituto Evandro Chagas: Cleiton e Maira, pela amizade e paciência com que me ensinaram as técnicas de biologia molecular; José Wilson Jr, pelo apoio e trabalho na inoculação dos isolados em camundongos e dissecação para extração dos órgãos dos animais; Antônio Gregório Dias Jr; pela colaboração e sugestões no trabalho e execução das técnicas de RT-qPCR; Samir Casseb, pelo companheirismo, incentivo e execução das técnicas de biologia molecular; e Natália do Vale e Maria Natividade pela amizade e incentivo durante a realização desse trabalho. À Pesquisadora Eliana Pinto da Silva pela colaboração nos experimentos de titulação em células Vero; A pesquisadora Milene Ferreira e ao pesquisador Basílio pelas inoculações dos isolados em camundongos. A todos os funcionários do biotério da Seção de Arbovirologia e Febres Hemorrágicas (SAARB) do Instituto Evandro Chagas, pelo apoio no fornecimento e manutenção dos animais de laboratório. A todos os funcionários, contratados e estagiários da SAARB do Instituto Evandro Chagas, pela amizade apoio e incentivo na realização deste trabalho. Ao Instituto Evandro Chagas por permitir que este trabalho fosse desenvolvido em seus laboratórios. Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico (CNPq), pela concessão da bolsa de estudos. A Universidade Federal do Pará, em especial ao Programa de Biologia de Agentes Infecciosos e Parasitários, pela oportunidade de cursar o mestrado em Biologia de Agentes Infecciosos e Parasitários. Aos professores do curso de mestrado do programa de Biologia de Agentes Infecciosos e Parasitários, pelos conhecimentos transmitidos. À minha turma de mestrado, pela amizade ao longo dos vários meses de disciplinas. SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS 8 RESUMO 9 ABSTRACT 10 1. INTRODUÇÃO 11 1.1. CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE O ARBOVÍRUS 11 1.2. FAMÍLIA TOGAVIRIDAE 15 1.3. GÊNERO ALPHAVIRUS 16 1.4. CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE O VÍRUS MAYARO 19 1.4.1. Modo de Transmissão 20 1.5. Breve Histórico e Epidemiologia 20 1.6. Manifestação Clinica 22 1.7. Patogenia e Resposta Imunológica 23 1.8. Diagnóstico, Tratamento e Prevenção 25 1.5. RELEVÂNCIA DO TRABALHO 27 1.6. OBJETIVOS 28 1.6.1. Objetivo Geral 28 1.6.2. Objetivos Específicos 28 2. MATERIAL E METODOS 29 2.1. AMOSTRAS VIRAIS 29 2.2. PREPARAÇÃO DO ESTOQUE VIRAL I 30 2.3. TITULAÇÃO VIRAL EM CELULA VERO 31 2.4. PREPARAÇÃO DO ESTOQUE VIRAL II 32 2.5. TITULAÇÃO VIRAL EM CAMUNDONGO 32 2.6. EXPERIMENTO 33 2.6.1. Critérios de Inclusão e Exclusão de Animais no Experimento 33 2.6.2. Dose Infectante 33 2.6.3. Colheita e Preparação do Material para Análise 33 2.7. TESTES VIROLÓGICOS 33 2.8. EXPRESSÃO DE RNA MENSAGEIRO PARA DETECÇÃO DE CITOCINAS POR TRANSCRIÇÃO REVERSA E REAÇÃO EM CADEIA MEDIADA PELA POLIMERASE EM TEMPO REAL (RT-qPCR) USANDO SISTEMA SYBR GREEN 35 2.8.1. Análise da Expressão de mRNA de IL-2, TNF-α e GAPDH 35 2.9. ANÁLISE ESTATÍSTICA 36 3. RESULTADOS 37 3.1. CONFIRMAÇÃO DA INFECÇÃO POR MAYV 37 3.2. ANÁLISE DA EXPRESSÃO DE mRNA DE IL-2, TNF-α E GAPDH 39 4. DISCUSSÃO 48 5. CONCLUSÕES 52 8. REFERENCIAS BIBLIOGÁFICAS 53 ANEXO 1 59 ANEXO 2 60 ANEXO 3 61 LISTA DE FIGURAS Figura 1- Ciclo de manutenção dos Arbovírus em natureza -------------------------------- 11 Figura 2 - Esquema do genoma dos integrantes da família Togaviridae (Alphavirus) -- 16 Figura 3 - Esquema do genoma de RNA dos Alphavirus ----------------------------------- 18 Figura 4 – Localização do município de Santa Bárbara no Estado do Pará -------------- 29 Figura 5 - Produto de RT-PCR, em gel de agarose a 1,5% corado por SYBR® Safe, de amostras de camundongos infectados via subcutânea com o MAYV, após 24 horas de infecção ------------------------------------------------------------------------------------- 37 Figura 6 - Produto de RT-PCR, em gel de agarose a 1,5% corado por SYBR® Safe, de amostras de camundongos infectados via subcutânea com o MAYV, após 48 horas de infecção ----------------------------------------------------------------------------------------- 37 Figura 7 - Produto de RT-PCR, em gel de agarose a 1,5% corado por SYBR® Safe, de amostras de camundongos infectados via subcutânea com o MAYV, após 72 horas de infecção ---------------------------------------------------------------------------------------- 38 Figura 8 – Curva de amplificação do experimento de RT-qPCR para determinação da expressão de mRNA das citocinas IL-2, TNF-α e GAPDG (gene endógeno) em camundongos infectados após 24horas com o MAYV pela via subcutânea nos fragmentos de cérebro, fígado, rim e músculo esquelético --------------------------------- 40 Figura 9 - Curva padrão da RT-qPCR demonstrando a eficiencia da reação para o gene GAPDH - ------------------------------------------------------------------------------------ 41 Figura 10 - Curva padrão da RT-qPCR demonstrando a eficiencia da reação para o gene IL-2 -- ---------------------------------------------------------------------------------------- 41 Figura 11 - Curva padrão da RT-qPCR demonstrando a eficiencia da reação para o gene TNF-α ---------------------------------------------------------------------------------------- 42 Figura 12 – Curva de dissociação com amplificação do gene endógeno (GAPDH) em camundongos infectados após 24horas com o MAYV pela via subcutânea nos fragmentos de cérebro, fígado, rim e músculo esquelético -------------------------------- 43 Figura 13 – Curva de dissociação com amplificação do gene da citocina IL-2 em camundongos infectados após 24horas com o MAYV pela via subcutânea nos fragmentos de cérebro, fígado, rim e músculo esquelético --------------------------------- 43 Figura 14 – Curva de dissociação com amplificação do gene da citocina TNF-α em camundongos infectados após 24horas com o MAYV pela via subcutânea nos fragmentos de cérebro, fígado, rim e músculo esquelético --------------------------------- 44 Figura 15 – Diferença em porcentagem da expressão de gene da IL-2 nos órgãos e tecido muscular infectados com o MAYV com 48 e 72 horas após infecção ------------ 45 Figura 16 – Diferença em porcentagem da expressão de gene da IL-2 nos órgãos e tecido muscular infectados com o MAYV com 48 e 72 horas após infecção ------------ 46 RESUMO O Mayaro vírus (MAYV) é um vírus considerado endêmico na Amazônia brasileira e enzoótico na América do Sul onde é amplamente distribuído. Diversos surtos têm sido descritos ao norte do Brasil e diagnosticado de forma endêmica no Estado do Para. O objetivo deste trabalho foi analisar a expressão de RNA mensageiro das citocinas IL-2 e TNF-α em camundongos (Mus musculus) recém-nascidos infectados experimentalmente via subcutânea com o MAYV. A cepa selecionada foi proveniente de um caso humano de Febre do Mayaro oriundo do surto ocorrido em fevereiro de 2008, no município de Santa Bárbara, no Estado do Pará. O vírus foi inoculado na região dorsal dos camundongos com 0,02 mL de suspensão viral a 10% contendo 10-9,5 DL50/0,02 mL da cepa. Após a infecção experimental, em intervalos de 24, 48 e 72 horas, três camundongos infectados com a cepa e três camundongos não infectados (controle negativo) foram anestesiados, eutanasiados e necropsiados, sendo os fragmentos do cérebro, fígado, rim e músculos esqueléticos extraídos para a análise da expressão de citocinas por RT-qPCR. Nas análises dos três primeiros dias após infecção, todos os fragmentos em estudo (cérebro, fígado, rim e músculo esquelético) e em todos os intervalos de tempo (24, 48 e 72 horas) foram confirmados por RT- PCR com infecção pelo MAYV. A expressão de mRNA das citocinas IL-2 e TNF-α utilizando a técnica de RT-qPCR não apresentou variação estatisticamente significativa nos órgãos e tecido muscular selecionados no intervalo de tempo de 24 horas, no cérebro foi observada redução significativa de expressão dos genes da IL-2 e TNF-α após 48 horas de infecção; no rim um aumento de expressão do gene IL-2 após 48 e 72 horas de infecção, porém redução de expressão do gene TNF-α no mesmo período; o fígado não apresentou variação de expressão gênica em nenhum dos genes alvo em todos os intervalos de tempo, já o músculo esquelético, teve aumento significativo de expressão dos genes da IL-2 e TNF-α, após 48 e 72 horas de infecção, sugerindo que tais citocinas pró-inflamatórias podem ter um papel fundamental na patogêneses das doença artralgênicas. Palavra-Chave: Arbovírus; Expressão Gênica; Camundongo como animal de laboratório. ABSTRACT Mayaro virus (MAYV) is widely distributed and considered to be endemic in Brazilian Amazon and enzootic in South America. On this regard, several outbreaks have been reported in northern Brazil and diagnosed in the state of Pará. The aim of this study was to analyze the expression of mRNA of IL-2 and TNF-α in newborn mice (Mus musculus) that were via subcutaneous experimentally infected with MAYV. The strain was selected from a human case of MAYV fever outbreak in Santa Barbara municipality, State of Pará, Brazil, in February 2008. The virus was inoculated in the dorsal region of the mice with 0.02 ml of 10% viral suspension containing 10 to 9.5 LD50/0.02 ml. After experimental inoculation, at intervals of 24, 48 and 72 hours, three infected and three uninfected mice (negative control) were anesthetized, sacrificed and necropsied and fragments from brain, liver, kidney, skeletal muscles were extracted for analysis of cytokine expression by RT-qPCR. In the analyzes of the first three days after infection, all fragments under study (brain, liver, kidney and skeletal muscle) and at all time intervals were confirmed to be infected by RT-PCR. The mRNA expression of IL-2 and TNF-α, using the technique of RT-qPCR, showed no statistically significant change in those investigated organs within 24 hours post-infection. By the other hand, it was observed a significant reduction of genes IL-2 and TNF-α at 48 hours after infection in brain. In kidney extracts, there was an increase in expression of IL-2 after 48 and 72 hours post-infection, but reduced expression of TNF-α at the same period. Regarding liver, it could not be observed any change in gene expression in any of the target genes at all time intervals. And finally, skeletal muscle had a significant increase in gene expression of IL-2 and TNF-α after 48 and 72 hours post infection, suggesting that these pro-inflammatory cytokines may play a key role in the pathogenesis arthrogenic of disease. Keyword: Arboviruses; Gene Expression; Mouse as a laboratory animal. 11 1. INTRODUÇÃO 1.1. CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE OS ARBOVÍRUS O termo arbovírus refere-se a vírus transmitidos por artrópodes e deriva da expressão inglesa “arthropod borne”, formado pela primeira sílaba de cada palavra acrescida da palavra vírus. Constituem um grupo heterogêneo de vírus de acordo com suas propriedades físicoquímicas, porém com características epidemiológicas em comum. São considerados arbovírus os vírus mantidos em natureza através da transmissão biológica entre hospedeiros vertebrados suscetíveis por artrópodes hematófagos, principalmente mosquitos e carrapatos, ou por transmissão transovariana e possivelmente venérea em artrópodes (Figura 1) (Levinson & Jawetz, 2005; Azevedo et al., 2007; Vasconcelos et al., 2009). Figura 1- Ciclo de manutenção dos Arbovírus em natureza. Fonte: Adaptado de Azevedo et al., 2007. A transmissão envolve uma complexa interação entre o vírus, o vetor artrópode e o hospedeiro vertebrado, determinada por diversos fatores, como a habilidade do vetor de se tornar infectado e de transmitir o vírus a um hospedeiro vertebrado, dependendo de fatores genéticos, concentração viral no hospedeiro infectado, ambiente, temperatura e barreiras do intestino, servindo como vetores de manutenção ou de disseminação, amplificando o vírus com suas altas taxas de infecções e baixas taxas de transmissão, compensada por sua eclética variedade alimentar de espécies de hospedeiros vertebrados. Já nos hospedeiros vertebrados, a 12 replicação deve ser suficiente para que os mesmos sirvam de fonte de infecção para os hospedeiros invertebrados no momento do repasto sanguíneo, garantindo deste modo a infecção dos vetores artrópodes. Além disso, o tamanho populacional dos vertebrados suscetíveis é grande o suficiente para promover o contato com outros artrópodes, assim um único hospedeiro serve como fonte de infecção para muitos artrópodes, tornando-os uma fonte de amplificação viral em situações epidêmicas (Calisher, 1998; Vasconcelos et al., 2009). Os vertebrados susceptíveis são infectados ao serem picados por insetos portadores de arbovírus, os quais são capazes de se multiplicar e produzir viremia nos vertebrados, fase na qual, novos vetores se infectam ao realizarem o repasto sanguíneo, tornando-se aptos a infectarem novos hospedeiros vertebrados suscetíveis após um período de incubação extrínseco, que representa o intervalo decorrido entre a ingestão do sangue e o momento em que o mosquito é capaz de transmitir o vírus. Este período caracteriza-se pela replicação do vírus nos tecidos do inseto, inclusive nas glândulas salivares, permanecendo o inseto infectado por toda a sua existência (Azevedo et al., 2007; Vasconcelos et al., 2009). Os arbovírus possuem ampla distribuição geográfica, abrangendo todos os continentes, tanto em regiões tropicais quanto temperadas, com exceção da Antártida, porém com nítida predominância nas regiões tropicais devido às condições climáticas e ecológicas favoráveis a manutenção do ciclo viral, que comportam uma maior biodiversidade que favorece a coexistência de grandes diversidades de vetores e hospedeiros vertebrados em toda época do ano, diferentemente dos países de clima temperado, no qual o ciclo é interrompido durante a estação do inverno reiniciando-se durante a primavera ou verão (Dégallier et al., 1990; Figueiredo, 2007; Vasconcelos et al., 2009). Atualmente, os arbovírus constituem o maior grupo conhecido de vírus, sendo registrados 537 tipos diferentes de arbovírus segundo o “International Catalogue of Arboviruses, Including Certain Other Viruses of Vertebrates”. No Brasil já foram reconhecidos 210 tipos diferentes de arbovírus, dos quais, 197 foram isolados na Amazônia e pelo menos 34 deles causam doenças em humanos de forma esporádica, endêmica e/ou epidêmica, sendo freqüentemente associadas a surtos em seres humanos. As arboviroses podem constituir importantes problemas de saúde pública e econômico-financeiro em todos os continentes com exceção da Antártida. São conhecidas mais de 100 espécies de arbovírus por causarem doenças no homem, 40 deles infectam animais domésticos e, pelo menos, vinte causam epidemias. Entre os arbovírus conhecidos no Brasil, 37 têm sido incriminados como causadores de doença humana, dentre estes, cinco destacam-se por estarem associados a epidemias: Dengue virus, Febre amarela virus, Mayaro virus, Oropouche virus e Rocio. 13 Vírus. Apesar de ser baixo o número de arbovirus com potencial epidêmico, os impactos sociais e econômicos dos surtos são importantes, os quais têm sido responsáveis por mais de 95% dos casos de arboviroses humanas no Brasil (Karabatson, 1985; Vasconcelos et al., 1992; Travassos da Rosa et al., 1997; Gubler, 2004; Vasconcelos et al., 2009). A classificação dos arbovírus pode ser feita de acordo com suas propriedades antigênicas ou segundo suas características físico-químicas. De acordo com as propriedades antigênicas, são classificados em grupos antigênicos segundo testes sorológicos como fixação do complemento (FC), inibição de hemaglutinação (IH) e teste de neutralização (TN), assim quando dois ou mais vírus apresentam cruzamento sorológico, passam a constituir um grupo antigênico. Os três primeiros grupos caracterizados foram designados pelas letras: A, B e C, e os demais receberam nomes do primeiro vírus isolado no respectivo grupo. Com base em suas propriedades físico-químicas, os arbovírus estão distribuídos em cinco famílias: Bunyaviridae (gênero Orthobunyavirus e Phebovirus), Flaviviridae (gênero Flavivirus), Reoviridae (gênero Orbivirus), Rhabdoviridae (gênero Vesiculovirus e Lyssavirus) e Togaviridae (gênero Alphavirus), ressaltando-se que nem todos os gêneros das citadas famílias são necessariamente arbovírus. Em geral, recebem o nome conforme a doença que causam (ex.: Febre amarela virus - FAV) ou de acordo com o lugar onde foram primeiramente isolados (ex.: Encefalite St. Louis vírus - ESLV) (Casals, 1967; Karabatson, 1985; Vasconcelos et al., 2009). Todos arbovírus possuem genoma constituído por ácido ribonucléico (RNA), exceto o vírus da peste suína africana que possui genoma de ácido dexoribonucléico (DNA). O RNA dos arbovírus pode ser segmentado ou não e, apresentar-se com uma ou duas fitas nucleotídicas. Os arbovírus com genomas não segmentados estão incluídos nas famílias Flaviviridae, Rhabdoviridae e Togaviridae enquanto aqueles com genomas segmentados incluem-se nas famílias Bunyaviridae e Reoviridae (Quadro 1) (Travassos da Rosa et al., 1997; Vasconcelos et al., 2009). A presença do envoltório lipoprotéico (envelope) nos vírus pertencentes às famílias Rhabdoviridae, Bunyaviridae, Flaviviridae, e Togaviridadae determina a acentuada sensibilidade aos solventes lipídicos (éter e clorofórmio), e a detergentes (desoxicolato de sódio) dos membros destes grupos, enquanto que representantes da família Reoviridae, que não apresentam este envoltório, são pouco sensíveis (ou resistentes) aos mesmos. Em geral, os arbovírus são lábeis em pH ácido e estáveis em pH alcalino, podendo serem rapidamente inativados à 56 ºC ou em temperaturas mais elevadas, porém são bem preservados quando 14 mantidos à temperatura de –70 ºC ou, se liofilizados e mantidos à temperatura de – 20 ºC (Pinheiro et al., 1997; Vasconcelos et al., 2009). Quadro 1 - Características gerais das famílias com arbovírus segundo algumas características físíco-químicas. Fonte: Adaptado de Levinson & Jawetz, 2005. O quadro clinico das doenças causadas por arbovírus varia de branda até fatal em um breve período de tempo, sendo a diversidade das manifestações clínicas uma peculiaridade das arboviroses. Diferentes tipos de arbovírus podem determinar a mesma sintomatologia, ou determinado tipo de arbovírus pode ocasionar respostas clinicas diferentes. Usualmente são consideradas quatro formas clínicas principais de arboviroses: doença febril indiferenciada, doença febril exantemática, febre hemorrágica e encefalites (Azevedo et al., 2007). Apresentada praticamente por todos os arbovírus patogênicos ao humano, a doença febril indiferenciada possui período de incubação variando de três a oito dias, entre sinais e sintomas mais comuns temos febre, calafrios, cefaleia, mialgias, artralgia, tonturas, fotofobia, dor epigástrica, dor retrorbitária, náuseas, vômitos, astenia, inapetência e congestão conjuntival. Na doença febril exantemática, além de febre e das manifestações sistêmicas, observa-se em 80% dos pacientes exantema maculopapular no tronco e membros inferiores e superiores. A virose se apresenta em curso bifásico, primeiramente com um período febril que perdura de um a três dias, e a segunda fase com reaparecimento da febre e surgimento do exantema e artralgias que aparecem com grande intensidade podendo persistir por até quatro meses. Tais características clinicas são reportadas nas infecções ocasionadas pelos Virus Chikungunya (CHIKV), Mayaro (MAYV), Oropouche (OROV) e Dengue(DENV). A febre hemorrágica, os arbovírus responsáveis por tais fenômenos em seres humanos pertencem as famílias Togaviridae, Flaviviridae e Bunyaviridae, porém no Brasil o vírus da febre amarela e 15 da dengue são os únicos já registrados. As encefalites, a forma mais grave de apresentação clínica das arboviroses em humanos, podendo levar à morte ou deixar sequelas graves nos pacientes, são eles arbovírus das famílias Togaviridae, Flaviviridae e Bunyaviridae (Pinheiro et al., 1997; Travassos da Rosa et al., 1997; Vasconcelos et al., 2009). Praticamente todos os arbovírus são patogênicos para camundongos neonatos, adultos, hamsters e cobaias. Porém, animais recém-nascidos são os mais vulneráveis, enquanto que os animais jovens e adultos, de modo espontâneo ou dependendo do título do inóculo se sobrepõe a natural resistência do adulto. Porém, quadros lesionais também se instalam de modo semelhante aos vistos em animais imaturos. Dentre os achados histopatológicos, destacam-se: lesões de células conjuntivas jovens ou pouco diferenciadas dos interstícios e de membranas conjuntivas as quais são encontradas em vários órgãos e tecidos, como pulmão, rim, cório de mucosas, derme, polpa dentária, miocárdio, músculos esqueléticos, pericôndrio e periósteo; lesões no tecido muscular estriado, com alterações ocorrendo no interstício, onde há dissociação das fibras musculares por edema intersticial, observam-se ainda detritos celulares de células conjuntivas necrosadas; pode haver ainda envolvimento simultâneo de músculo cardíaco e esquelético ou apenas miocardite ou miosite; além de tendinites (Dias, 1986). 1.2. FAMÍLIA TOGAVIRIDAE A família Togaviridae compreende dois gêneros: os Alphavirus, que possuem 30 espécies de arbovírus do grupo A de acordo com a classificação sorológica (Tabela 1), e os gêneros Rubivirus, cujo membro não pertencem aos arbovírus (Vasconcelos et al., 2009; ICTV, 2012). Estruturalmente, possui diâmetro de aproximadamente 65 a 70 nm e nucleocapsídeo variando de 35 a 40 nm de diâmetro com simetria icosaédrica (T = 4), composto de doze capsômeros pentaméricos e 30 hexaméricos para um total de 240 proteínas do capsídeo. Sua superfície é circundada por envoltório lipoprotéico com dupla camada, onde se observa 80 trímeros de espículas, projeções que variam de 6,5 a 10 nm de comprimento e possuem os heterodímeros E1 e E2 (Figura 2). Seu genoma é constituído de RNA de fita única, linear, de polaridade positiva com aproximadamente 11700 nucleotídeos distribuídos por oito genes, os quais codificam proteínas não estruturais (nsP1 à nsP4) que estão envolvidas na replicação viral; proteínas estruturais do envoltório (glicoproteinas E1 e E2) e do capsídeo, além de 16 pequenos polipeptídios E3 e 6Ks (Casals & Whitman 1957; Azevedo et al., 2007; Vasconcelos et al., 2009; Viral Zone, 2010; ICTV, 2012). Figura 2 - Esquema do genoma dos integrantes da família Togaviridae (Alphavirus). Fonte: Adaptado de Viralzone, 2010. 1.3. GÊNERO ALPHAVIRUS Os membros do gênero Alphavirus podem causar uma grande variedade de doenças em humanos e animais. São causas importantes de doenças encefálicas e artrogênica em seres humanos , sendo considerados como umas das principais causas de doença debilitante por artrite no mundo. A capacidade desse grupo de vírus de causar epidemias extensas de poliartritre e artralgia, associada a sintomas crônicos, tornam a infecção por estes vírus, uma doença de grande significado socioeconômico. Muitos vírus do Velho Mundo, incluindo o Ross River (RRV), Barmah Forest, Mayaro, o'nyongnyong, Chikungunya e Sindbis virus (SINV), apresentam como manifestação clinica a artralgia, enquanto que as encefalites são causadas pelos vírus do Novo Mundo como Encefalite Eqüina do Oeste virus (WEEV), Encefalite Eqüina do Leste virus (EEEV) e Encefalite Eqüina Venezuelana virus (VEEV) (Powers et al., 2001; Herreroa et al., 2011). Como um gênero, os Alphavirus são amplamente distribuídos por todo o mundo, habitando todos os continentes, exceto na Antártida, sendo mantidos em ciclos naturais que envolvem transmissão por um vector artrópode para hospedeiros vertebrados suscetíveis. Porém, as distribuições geográficas de espécies individuais são prejudicadas devido as condições ecológicas específicas e restrições de vetor e hospedeiro reservatório, já que as interações vírus-hospedeiro podem ser altamente específicas, e, por vezes, apenas uma única espécie de mosquito é utilizada como vector principal, como tem sido relatado para muitos 17 vírus complexos como o Encefalite Equina Venezuelana virus (EEV), limitando assim a distribuição de muitos Alphavirus (Powers et al., 2001). Tabela 1: Taxonomia dos vírus da família Togaviridae, gênero Alphavirus, segundo o Comitê Internacional de Taxonomia Viral (ICTV, 2012). Família Gênero Espécie Aura vírus Barmah Forest virus Bebaru virus Cabassou virus Chikungunya virus Eastern equine encephalitis virus Everglades virus Fort Morgan virus Getah vírus Highlands J virus Madariaga virus Mayaro virus Middelburg virus Mosso das Pedras virus (78V3531) Togaviridae Alphavirus Mucambo virus Ndumu virus O'nyong-nyong virus Pixuna virus Rio Negro virus Ross River virus Salmon pancreas disease virus Semliki Forest virus Sindbis vírus Southern elephant seal virus Tonate virus Trocara virus Una virus Venezuelan equine encephalitis virus Western equine encephalitis virus Whataroa virus 18 Seu genoma é constituído de uma monopartícula linear de fita simples com 9,7 a 11,8 kb. Possuem polaridade positiva, sendo, portanto traduzidos a partir do RNA genômico que serve tanto como genoma como RNA mensageiro. O genoma completo é traduzido em uma poliproteína não estrutural, que é processada pelas proteases virais e do hospedeiro, e uma poliproteína estrutural, expressa através de um mRNA subgenômico (Figura 3). Nos Alphavirus, a poliproteína estrutural possui quatro proteínas: E3, que serve como sequencia de sinais; E2, proteína transmembrana que transporta epítopos neutralizantes importantes para neutralização dos anticorpos, além de responsável pela ligação ao receptor; 6K, importante na montagem da partícula viral e no brotamento, aumentado a infectividade da partícula, servindo também como peptídeo sinal para proteína E1, que tem a função de peptídeo de fusão para entrada do vírus na célula hospedeira (Casals & Whitman, 1957; Griffin, 2007; PiaLoux et al., 2007; Vasconcelos et al., 2009; ViralZone, 2010; ICTV, 2012). Genoma dos Alphavirus Não Estrutural Estrutural 5’ M7G Mtr nsP1 Hel Pro nsP2 X nsP3 An 3’ Rep nsP4 CP E3 E2 6K E1 sgRNA 5’ An 3’ Legenda: Mtr: Metiltransferase; Pro:Protease; HEL: Helicase; X: Função desconhecida; Rep: Replicase. Figura 3 - Esquema do genoma de RNA dos Alphavirus. Fonte: Adaptado de ICTV, 2012. Sorologicamente, os Alphavirus são classificados em 9 complexos antigênicos (incluindo Alphavirus de peixe) baseados em suas propriedades antigênicas e relacionados antigenicamente entre si, segundo testes sorológicos, tais como neutralização, fixação do complemento e inibição da hemaglutinação. Dados de soroprevalência de alphavirus indicam que eles infectam as pessoas e /ou animais domésticos, porém com manifestações clínicas desconhecidas ou causam apenas uma doença febril leve. Curiosamente, tal gênero causa sintomatologias semelhantes sendo mantidos sob diversas condições ecológicas e podendo ter uma distribuição generalizada. Por exemplo, a infecção Mayaro virus está limitada geograficamente para a América Latina, enquanto o'nyong-nyong vírus nunca foram identificados fora da África, no entanto, esses dois vírus causam sinais e sintomas clinicos 19 quase que idênticos Tal padrão epidemiológico incomum visto em vários Alphavirus levanta questões intrigantes a respeito da relação de evolução de seus membros, a origenm geográfica do gênero e posterior expansão do gênero e espécie (Casals & Whitman, 1957; Powers et al., 2001; Lavergne et al., 2005; Griffin, 2007; PiaLoux et al., 2007; ICTV, 2012). Diversos vírus evoluiram em numerosos mecanismos para inibir a reposta celular antiviral, e embora a grande maioria interfira em vias de sinalizações celular, os Alphavirus do Velho Mundo, altamente citopáticos e conhecido por evadir a resposta celular antiviral induzem a inibição global da transcrição em células vertebradas, mediada pela proteina não estrutural nsP2. Estes estudos com a proteina nsP2 dos vírus Sindbis, Semliki Forest e Chikungunya mostram que ela inibir a transcrição celular, independente da atividade de protease nsP2-associada, através da indução de uma rápida degradação de Rpb1, uma subunidade catalitica da polimerase II, desempenhando um papel indispensável no bloqueio da ativação de genes celulares e baixa regulação da resposta celular antiviral (Akhrymuk et al., 2012). 1.4. CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE O MAYARO VIRUS O Mayaro virus (MAYV) é um arbovírus pertencente à família Togaviridae, gênero Alphavirus, destas, seis espécies podem causar distúrbios nas articulações humanas, são eles: Chikungunya vírus, O’nyong-nyong virus (África central), Ross River virus e Barmah Forest virus (Austrália e no Pacífico), Sindbis virus (cosmopolita), e o Mayaro virus (America do Sul e Guiana Francesa). De acordo com a sorologia, é integrante do grupo A, o complexo antigênico Semliki Forest, sendo primeiramente relacionado ao Semliki Forest virus (SFV), porém semelhanças antigênicas com o Chikungunya virus também já foram relatadas (Casals & Whitman, 1957; Vasconcelos et al., 1992; Lavergne et al., 2005; Griffin, 2007; PiaLoux et al., 2007; ICTV, 2012). Análises filogenéticas com diversas cepas desse vírus demonstraram a existência de dois genótipos altamente conservados: o genótipo D, que contêm vírus com divergência de nucleotídeos menor do que 6%, representados pelos vírus isolados originalmente em Trinidad e na América do Sul (Peru, Guiana Francesa, Suriname, Brasil e Bolívia), e o genótipo L, com vírus isolados originalmente apenas no Brasil, com divergência de nucleotídeos menor que 4%, porém bastante distintos dos vírus do genótipo D, com cerca de 15-19% de divergência (Powers et al., 2006). 20 1.4.1. Modo de transmissão Assim como os demais arbovírus, o MAYV é transmitido por artrópodes hematófagos a hospedeiros vertebrados silvestres, incluindo primatas não humanos, roedores e aves, sendo os dois últimos considerados como hospedeiros secundários, porém importantes para a disseminação do vírus. Semelhante ao ciclo da febre amarela silvestre, o ciclo do MAYV apresenta macacos como hospedeiros primários, considerado também amplificador em epidemias, devido apresentarem elevada viremia e servirem de fonte de infecção para muitos mosquitos vetores do gênero Haemagogus, especialmente a espécie Haemagogus janthinomys, encontrada principalmente nas copas das árvores na floresta e considerada como reservatório natural do MAYV (Vasconcelos et al., 1992; Gubler, 2002; Coimbra et al., 2007; Figueiredo, 2007; Vasconcelos et al., 2009). Alguns autores, sugerem a possibilidade de o MAYV ser transmitido por mosquitos do gênero Aedes, principalmente as espécies Aedes aegypti e Aedes albopictus, o que possibilitaria o deslocamento deste vírus para cidades em aves ou viajantes humanos virêmicos, podendo assim se adaptar a um novo ciclo de transmissão natural que envolveria o homem como principal hospedeiro. Apesar da quantidade de vírus necessária para infectar o vetor não ter sido estabelecida, o homem é tido como amplificador na transmissão do MAYV durante epidemias rurais, por circular com o vírus em quantidade suficiente para eventualmente infectar os vetores potenciais (Tesh et al., 1999; Coimbra et al., 2007). A maioria das infecções humanas é esporádica e os ciclos enzoóticos ocorrem em ambientes silvestres, de modo que as pessoas se infectam ao penetrarem nestas áreas para executarem atividades dentro ou próximo a florestas. Vários surtos de febre do Mayaro têm sido notificados na Região Amazônica, geralmente limitados ao interior das florestas ou áreas rurais próximas a elas (Vasconcelos et al., 1992; Tesh et al., 1999; Torres, 2004; Coimbra et al., 2007). 1.4.2. Breve histórico e epidemiologia Os primeiros isolamentos originais do MAYV ocorreram a partir do sangue de cinco trabalhadores febris, que haviam adentrado áreas florestais em Trinidad & Tobago em 1954. Após este período, o vírus tem sido identificado como responsável por surtos de doença febril aguda na região da Amazônia e do Planalto Central do Brasil, bem como na região amazônica e outros países sul-americanos, sendo recuperado a partir de seres humanos, vertebrados silvestres e mosquitos no Brasil, Bolívia, Colômbia, Guiana Francesa, Guiana, Peru, 21 Suriname e Venezuela (Anderson et al., 1957; Pinheiro et al., 1981; Talarmin et al., 1988; Coimbra et al., 2007). Casos de MAYV também foram descrito em membros da mesma família, após exposição de um único dia em áreas de floresta semi rural na Venezuela. Além disso, prevalência de anticorpos para MAYV tem sido encontrada em Costa Rica, Guatemala, Panamá e América central (Torres, 2004; Figueiredo, 2007). Considerado enzoótico para a América do Sul e endêmico em áreas rurais, o MAYV, é considerado um dos arbovírus mais importantes pelo seu poder patogênico aos humanos. No Brasil, o vírus é endêmico na Região Amazônica, onde pelo menos cinco epidemias já foram notificadas no Estado do Pará: no rio Guamá (1955); Belterra (1978); Conceição do Araguaia (1981); Benevides (1994) e em Santa Bárbara (2008) (Causey et al., 1958; Coimbra et al., 2007; Figueiredo, 2007; Azevedo et al., 2009). O surto ocorrido em Belterra no ano de 1978, em uma vila rural de plantações de borracha, foi extensivamente estudado e contribuiu para a primeira descrição detalhada da epidemiologia do MAYV, onde foi possível isolar o vírus e recuperá-lo de mosquitos da espécie Haemagogus janthinomys. Durante este estudo, os investigadores encontraram anticorpos contra MAYV em 1% das aves capturadas e em 27% no soro de sagüis (Callithrix), indicando que os primatas que vivem em árvores seriam os hospedeiros vertebrados primários do vírus. Em Benevides (1994), foram registrados dois casos humanos pelo isolamento viral e nove sorologias positivas por MAC ELISA, indicativas de infecção recente pelo vírus, além de 16 isolamentos a partir de lotes do mosquito Hg. (Hag.) janthinomys, que corrobora o papel desse artrópode como principal vetor do MAYV. No município de Santa Bárbara (2008), 36 pessoas foram confirmadas com IgM para o MAYV pelo ELISA, das quais 23 (64%) eram moradores de áreas de invasão, 13 (36%) moradores do município de Belém e Ananindeua, e que haviam visitado a área de invasão por apenas uma semana. (Pinheiro et al., 1981; Travassos da Rosa et al., 2000; Powers et al., 2006; Azevedo et al., 2009). Dois outros surtos foram registrados: em Itarumã/GO, em 1987 e em Peixe/TO, em 1991, com três isolamentos virais e 14 sorologias indicativas de infecção recente pela presença de anticorpos IgM específicos por MAC ELISA. Anticorpos específicos contra MAYV também foram encontrados em índios Xavante no Mato Grosso, em três homens que pescavam em Camapuã/MS e em habitantes das áreas rurais do Estado de Goiás (Travassos da Rosa et al., 2000; Coimbra et al., 2007). 22 1.4.3. Manifestações Clínicas As infecções por MAYV nos animais silvestres aparentemente se apresentam como assintomáticas, devido à ausência de manifestações clínicas perceptíveis. Já em humanos produzem sintomatologia clínica não específica, cujos quadros febris são similares àqueles causados por outros arbovírus como Oropouche e Dengue (Vasconcelos et al., 2009). O MAYV se caracteriza por produzir uma doença febril aguda, não fatal, com exantema maculopapular, cefaléia frontal, dor epigástrica, mialgias incapacitantes, artralgias que se manifestam com grande intensidade, afetando punhos, dedos, tornozelos, artelhos e articulações maiores, obrigando os doentes a permanecer recurvados e imóveis, sintoma este semelhante ao observado em pacientes infectados com o CHIKV, característica clínica que originou o nome do vírus, que significa “andar recurvado” no dialeto africano onde é endêmico (Travasso-da-Rosa et al., 1998; PiaLoux et al., 2007). Outros sintomas frequentemente observados incluem os calafrios, náuseas, fotofobia, vertigem e linfonodos aumentados. Tais manifestações clínicas persistem em média de 2 a 7 dias, com exceção da artralgia que pode permanecer por vários meses. Não são observados sinais hemorrágicos, porém leucopenia com contagem de 2.500 glóbulos brancos/mm3 é constante, acompanhada de linfocitose moderada. Observam-se ainda níveis séricos de bilirrubina e da alanina amino trasaminase (ALT) nos limites da normalidade (Torres, 2004; Levinson & Jawetz, 2005; Vasconcelos et al., 2009). No Brasil, até o momento, o MAYV, Oropouche e Dengue, são os únicos arbovírus conhecidos capazes de induzir resposta clínica com quadro febril exantemático. Esse tipo de manifestação cutânea em casos de febre por MAYV não era relatado na Amazônia brasileira antes de 1978, quando ocorreu a epidemia em Belterra/PA (1978), o exantema foi observado em 2/3 dos infectados, sendo mais freqüente no tórax, dorso, braços, pernas e mãos, sendo o rosto o menos atingido. As lesões surgem em torno do quinto dia e persistem em média por três dias (Pinheiro et al., 1981; Vasconcelos et al., 2009). De fato, até o momento, em todos os casos de infecção pelo MAYV, os pacientes se recuperaram sem sequelas aparentes e nenhum óbito devido a esta doença foi relatado (Vasconcelos et al., 2009). 23 1.4.4. Patogenia e Resposta Imunológica Como os demais arbovírus, o MAYV, é intracelular obrigatório, passando por uma fase extracelular no período inicial da infecção e na ocasião em que são liberados após lise das células infectadas, sendo a resposta imunológica eficiente contra este agente viral, composta da integração dos mecanismos da imunidade inata (natural) e da imunidade adquirida (específica). Os primeiros a realizarem o controle da infecção são os componentes da imunidade inata, os interferons do tipo I: interferon alfa (IFN-α) e interferon beta (IFN-β), citocinas produzidas por fagócitos mononucleares e fibroblastos respectivamente, que estimulam a sua produção para que eles possam agir em células não infectadas, protegendo-as da infecção viral, inibindo assim a disseminação da partícula viral as células do hospedeiro. Após os estágios iniciais da infecção, estabelece-se a resposta imune adquirida, iniciada após o intervalo de tempo necessário para a ativação, proliferação e diferenciação dos linfócitos reconhecedores dos epítopos virais, das células apresentadoras de antígenos (APC), dos anticorpos específicos, das citocinas e das moléculas de classe I e II do complexo de histocompatibilidade principal (MHC). Considerada como uma resposta imunológica específica pode ser de dois tipos: celular e humoral (Levinson & Jawetz, 2005; Azevedo et al., 2007). O sistema imune inato e adaptativo é importante na patogênese da artrite reumatóide (RA). A presença de células T ativadas e células B, os rearranjo dos seus respectivos receptores e suas especificidades para os antígenos suporta o papel da resposta adaptativa na patogênese da artrite reumatóide. No entanto, estudos do papel do sistema imune inato em modelos experimentais mostram receptores Toll-like (TLR) como sendo crítico para a geração tanto da imunidade inata como adaptativa. Em resposta aos patógenos, a ativação do sistema imune inato através de TLRs em macrófagos e células dendríticas (DC) resulta na produção de citocinas pró-inflamatórias, incluindo o factor de necrose tumoral (TNF-α) e interleucina-1 (IL-2). Essa ativação promove o desenvolvimento da resposta imune adaptativa, envolvendo Linfócitos T e B, o que contribui para a remoção do estímulo patogênico e resolução da resposta inflamatória. Apesar do desenvolvimento de uma resposta imune adaptativa, a expressão de TNF-α e IL-2 persiste e pode diretamente contribuir para a patogênese da artrite reumatóide (Huang et al., 2007). O mecanismo que desencadeia as manifestações clínicas e as alterações imunopatológicas em pacientes com MAYV, ainda não é suficientemente conhecido. Estudos experimentais demonstram que esse vírus se multiplica inicialmente nos linfonodos regionais da área do tegumento onde o artrópode infectado fez o repasto sanguíneo. Alcança a corrente 24 sanguínea através dos vasos linfáticos, disseminando-se pelos órgãos e tecidos do hospedeiro. O MAYV se multiplica nesses locais, sendo lançado novamente na corrente sangüínea, determinando a viremia que coincide com o período febril. O titulo viral no sangue é elevado nas primeiras 24 horas após a infecção, porém decrescem rapidamente, sendo rara a detecção do vírus após as 72 horas de infecção, uma vez que após o período virêmico, o paciente apresenta elevados títulos de anticorpos neutralizantes que depuram o vírus do organismo (Pinheiro et al., 1981; Levinson & Jawetz, 2005; Azevedo et al., 2007; Vasconcelos et al., 2009). Em alguns casos a infecção pelo MAYV não passa de um quadro febril, onde o paciente se recupera totalmente, sem sequelas. Outras vezes a infecção progride, com uma tríade de sintomas: febre, exantema e artralgia, sendo considerada autolimitante, porém uma doença reumática debilitante. Pesquisas sobre a patogênese da artrite relacionada com infecções por Alphavirus foram desenvolvidas utilizando ratos como modelo experimental e Ross River virus (RRV) como indutor da doença, e mostraram o papel dos macrófagos como a principal causa imunopatológica para o desenvolvimento da doença, sendo encontrado principalmente nos músculos e articulações. Estudos com primatas não humanos suscetíveis a infecção pelo vírus Chikungunya também obtiveram os macrófagos como atores centrais durante as infecções e persistência da doença sendo encontrado principalmente nos órgãos linfóides, fígado e músculo (Azevedo et al., 2007; Lidbury et al., 2008; Labadie et al., 2010; Herrero et al., 2011). Os macrófagos em si não são uma importante fonte de replicação do vírus, mas são a fonte principal de mediadores da inflamação responsáveis pela produção de uma série de citocinas pró-inflamatórias importantes na patogênese da artrite reumatóide. Dentre essas citocinas, destaca-se o TNF-α (fator de necrose tumoral), um mediador inflamatório que em baixas concentrações aumenta a síntese de linfocinas pelas células T e estimula a produção de células B, e em altas concentrações é um importante mediador do choque tóxico induzido por endotoxinas contribuindo para doença inflamatória, encontrado em níveis elevados em ambos os trabalhos mencionados (Levinson & Jawetz, 2005; Azevedo et al., 2007; Lidbury et al., 2008; Herrero et al., 2011). Estudos apontam que a prevalência da imunidade contra o MAYV aumenta com a idade, e as taxas em comunidades rurais na região Amazônica aumentam de 10% para 60%. Estudos têm mostrado que em diversas tribos indígenas na Amazônia, cerca de 20% a 47% da população, apresentaram imunidade ao MAYV. Porém, apesar das taxas elevadas de anticorpos na população, é extremamente difícil isolar o vírus, uma vez que o período de 25 viremia é muito curto (2-3 dias), durante o qual é normalmente improvável a suspeita do MAYV como agente causador da doença (Pinheiro et al., 1981; Vasconcelos et al., 1992). 1.4.5. Diagnóstico, tratamento e prevenção. O diagnóstico clínico da infecção pelo MAYV é difícil devido à natureza não específica da doença e a presença de outros vírus, como o Dengue virus, que comumente produz manifestação clínica similar, especialmente nos trópicos (Vasconcelos et al., 2009). Aliado a este fator, a ausência de um método diagnóstico simples para a detecção rápida das infecções agudas ainda durante os estágios iniciais da doença, dificulta a avaliação do potencial de uma epidemia e a implementação de medidas de controle adequadas, como o controle do mosquito. Neste sentido, o diagnóstico virológico moderno tem como característica importante o uso de vários métodos para detecção da infecção viral, sendo de grande importância para a saúde pública, pois auxiliam no diagnóstico de pacientes e no monitoramento da virose nas diferentes regiões do país (Vasconcelos et al., 2009). Ensaios convencionais para detecção da infecção incluem o isolamento do vírus pela inoculação viral em culturas celulares ou camundongos recém-nascidos, considerado como padrão ouro, testes sorológicos para detecção de anticorpos específicos IgM ou soro conversão de IgG, e amplificação do RNA viral (Azevedo et al., 2007). No método de isolamento em cultura celular, uma grande variedade de cultivos celulares tem sido utilizada, onde se observa a multiplicação viral mediante a evidência de efeito citopático ou de formação de placas sob camada de ágar, pela inoculação de material infectado com o vírus (sangue total ou soro) de pacientes com até 3 dias de doença em culturas celulares. Dentre as linhagens celulares continuas que apresentam sensibilidade a um grande número de arbovírus estão às células Vero (obtidas a partir de rim de macaco verde africano, Cercopithecus aethiops), BHK-21 (obtidas a partir rim de hamster neonato), LLCMK2 (obtidas a partir rim de macaco do gênero Rhesus) e as células de artrópodes Aedes pseudoscutellaris (AP61) e Aedes albopictus (clone C6/36). A confirmação do isolamento viral em culturas celulares é feita por teste de imunofluorescência indireta (Azevedo et al., 2007; Vasconcelos et al., 2009) Quanto aos métodos sorológicos, os testes de Inibição da Hemaglutinina (IH) e ELISA são os mais empregados. A IH por ser uma técnica sensível, rápida e de fácil execução é recomendada na rotina laboratorial, principalmente nos estudos soro-epidemiológicos, devido à longa persistência dos anticorpos inibidores da hemaglutinação após a infecção, permitindo 26 diferenciar entre infecções primária e secundária. Entretanto, a confirmação do diagnóstico exige amostras de soros pareadas, colhidas na fase aguda e de convalescença da doença, as quais, nem sempre são de fácil obtenção. O teste de ELISA, utilizado para detecção de IgM específica, tem a vantagem de identificar infecção atual ou recente; ou a detecção de antígenos, técnica que apresenta alta sensibilidade, rápida e de fácil execução, porém deve ser utilizada apenas em amostras de soro obtidas a partir do 5º dia de doença (Wang et al., 2006; Vasconcelos et al., 2009). O desenvolvimento de técnicas moleculares permitiu a detecção de seqüências específicas do genoma viral, eliminando assim alguns dos problemas encontrados na utilização de métodos sorológicos como, sensibilidade, especificidade e tempo, sendo este de grande importância em situações epidêmicas. Os métodos são baseados na RT-PCR, transcrição reversa do RNA em DNA, seguida de um ensaio de amplificação da seqüência do DNA viral, um método mais rápido e sensível para detecção do MAYV, além do que a sequencia nucleotídica amplificada poderá ser utilizada em estudo filogenéticos, possibilitando a diferenciação entre os genótipos existentes, a determinação da origem evolutiva desse vírus e sua relação geográfica com o país e com o mundo (Wang et al., 2006; Azevedo et al., 2007; Vasconcelos et al., 2009). O tratamento para infecções pelo MAYV, assim como nas demais arboviroses, se limita a manutenção do estado geral do doente; as medidas irão dar suporte para a manutenção das funções vitais do paciente, que deve, sobretudo, observar repouso e fazer uso de terapêutica sintomática quando necessário (Wang et al., 2006; Azevedo et al., 2007). Com relação às medidas de controle da doença, a febre do Mayaro não dispõe de medidas profiláticas coletivas que possam ser aplicadas, pois o vírus apresenta dispersão apenas em áreas rurais ou de floresta, sendo as medidas de controle individuais as que podem impedir a picada do vetor infectado, dentre as quais, uso de mosqueteiros, roupas longas e grossas e repelentes, principalmente nos membros inferiores, durante o trabalho em áreas de floresta, haja vista que o vetor principal Hg janthinomys tem hábitos silvestre e preferências por essas partes do corpo (Wang et al., 2006; Azevedo et al., 2007; Vasconcelos et al., 2009). 27 1.5. RELEVÂNCIA DO TRABALHO O Mayaro virus é um vírus considerado endêmico na Amazônia brasileira e enzoótico para América do Sul onde é amplamente distribuído. No Brasil, o MAYV possui um alto potencial para tornar-se um importante problema de saúde pública nos próximos anos, considerando as recentes mudanças demográficas e o uso desordenado da terra com mais pessoas entrando em contato com áreas de floresta para o trabalho e recreação, possibilitando a alteração e o aumento assim da frequência desta doença na população. A maioria das infecções humanas é esporádica e os ciclos enzoóticos ocorrem em ambientes silvestres, sendo o principal vetor, mosquitos do gênero Haemagogus, especialmente a espécie Haemagogus janthinomys, reportada como reservatório natural do vírus. Em animais silvestres, as infecções apresentam-se como assintomáticas, devido à ausência de manifestações clinicas perceptíveis, já em humanos produzem sintomatologia clínica não especifica, cujos quadros são similares aqueles causados por outros arbovírus, geralmente com quadro clínico febril não fatal, sendo consideradas auto limitantes, porém uma doença reumática debilitante caracterizada por mialgias incapacitante e artralgias, que se manifestam com grande intensidade obrigando os doentes a permanecerem recurvados e imóveis. Tais manifestações clínicas persistem em média de 2 a 7 dias, com exceção da artralgia que pode permanecer por vários meses (Tesh et al., 1999; Vasconcelos et al., 2009). Considerando a importância desse vírus devido a sua ampla distribuição na região, onde nos últimos anos alguns surtos já foram diagnosticados no Estado do Pará de forma endêmica e por sua capacidade de incapacitar temporariamente muitos doentes, o MAYV levanta a necessidade de uma vigilância como parte de programas efetivos de controle, capaz de detectar os primeiros casos dessa arbovirose emergente e diagnóstico laboratorial rápido de casos suspeitos, seguido de medidas de controle e estudos detalhados acerca da imunopatogenicidade desse agente viral causada pela infecção, correlacionando-as com a severidade da doença. Portanto, o estudo se justifica pela importância de se conhecer melhor a patogenia da doença, com ênfase na resposta imunológica do doente por meio da expressão de RNA mensageiro IL-2 e TNF-α, citocinas pro-inflamatórias importantes na patogênese da artrite reumatóide, utilizando-se para isso, um modelo experimental animal (Dias, 1986; Tesh et al., 1999; Gubler, 2002; Huang et al., 2007; Azevedo et al., 2009; Vasconcelos et al., 2009). 28 1.6. OBJETIVOS 1.6.1. Objetivo geral Analisar a expressão de RNA mensageiro das citocinas IL-2 e TNF-α em camundongos (Mus musculus) recém-nascidos infectados experimentalmente via subcutânea com o MAYV. 1.6.2. Objetivos específicos: Determinar a expressão de genes de IL-2 e TNF-α no cérebro, fígado, rim e músculo esquelético de camundongos recém-nascidos infectados experimentalmente com MAYV; Verificar a presença do VMAY no cérebro, fígado, rim e músculo esquelético de camundongos recém-nascidos infectados experimentalmente com MAYV; Correlacionar a expressão dos genes das citocinas com a presença do vírus no cérebro, fígado, rim e músculo esquelético de camundongos recém-nascidos infectados experimentalmente com MAYV. 29 2. MATERIAL E MÉTODOS 2.1. AMOSTRA VIRAIL O espécime viral foi cedido do acervo de isolamentos virais da Seção de Arbovirologia e Febres Hemorrágicas (SEARB) do Instituto Evandro Chagas (IEC). A cepa selecionada é proveniente de um caso humano de Febre do Mayaro oriundo do surto ocorrido em fevereiro de 2008, no município de Santa Bárbara, no Estado do Pará (Fig. 4). Para que fosse utilizado este isolado no presente estudo foi realizada a solicitação de autorização para utilização da cepa viral à direção do IEC, bem como anuência do chefe da seção SEARB conforme orientação do Comitê de Ética em Pesquisa dessa instituição (Anexo 1 e 2). Sendo posteriormente submetido e aprovado no Comitê de Ética em pesquisa com animais (CEPAN) do IEC (Anexo 3). A B C Figura 4: Localização do município de Santa Bárbara no Estado do Pará. A) localização do Estado do Pará, Norte do Brasil. B) Localização de Belém, capital do Estado do Pará. C) localização do município de Santa Bárbara/PA e municípios vizinhos na região metropolitana de Belém e ao longo da PA-391, rodovia de acesso ao município. (Fonte: adaptado de Azevedo et al., 2009). 30 O isolado selecionado (SBA91 H743921) foi coletado de um caso de febre do Mayaro com complicação diagnosticado pelo IEC e oriundo de um paciente do gênero feminino, com 52 anos, agricultora e residente em um assentamento no município de Santa Barbara (PA). A paciente desenvolveu um quadro clinico de febre alta, cefaléia, artralgia, calafrios, dor ocular, mialgia e edema nas mãos, joelhos e pés. 2.2. PREPARAÇÃO DO ESTOQUE VIRAL I O vírus SBA91 H743921 usado neste estudo foi inoculado pela via intracerebral em camundongos albinos suíços recém-nascidos para tentativas de um novo isolamento e preparação de estoque viral. Os camundongos foram cedidos pela Seção de Criação e Produção de Animais (SACPA/IEC/SVS/MS), sendo distribuídos em número de seis animais em cada microisolador (gaiolas) de acrílico com tampa de aço cromado, em racks de exaustão, com fornecimento de ração balanceada e água à vontade. Os animais foram mantidos no infectório NBA-3 em ambiente refrigerado, temperatura aproximada de 25ºC (± 3ºC) acompanhados de uma fêmea recentemente parida. Todos os procedimentos com os animais foram realizados por ou sob orientação de veterinário. Para compor o estoque viral da amostra, foi preparada uma suspensão a 10%, na proporção de 1:10 em solução salina tamponada com fosfato (PBS) pH 7.2 contendo albumina bovina a 0,75%, estreptomicina (100 g/mL) e penicilina (100 UI/mL), a partir da alíquota do sangue do indivíduo com a cepa selecionada para o estudo e inoculados via intracerebral (i.c.) em camundongos suíços albinos recém-nascidos (1 a 2 dia de idade). Esses animais foram inoculados com 0,02 mL das respectivas suspensões utilizando agulhas 13 x 4,5 mm e seringas hipodérmica de 1 mL. Para inoculação foi usada contenção física, sendo neste momento os animais foram seguros pela cabeça com o dedo indicador e polegar, tendo o resto do corpo apoiado nos outros dedos. Para esta etapa foram utilizadas três gaiolas contendo cada uma seis recém-nascidos. Os animais infectados foram observados diariamente em intervalos de, aproximadamente, 12 horas e quando apresentaram sinais de doença (dificuldade de alimentação, falta de coordenação motora, tremores, hipodesenvolvimento e hipoatividade) foram retirados das respectivas gaiolas, eutanasiados a partir do método físico “deslocamento cervical” conforme recomendação do Manual Para Técnicos em Bioterismo do COBEA (De Luca at al., 1996; Mezadri et al., 2004), o qual refere que esse “é o método mais simples e humanitário adotado 31 para eutanásia de camundongos e cobaias”. Em seguida foram identificados e congelados à 70ºC para compor o estoque viral que seriam utilizados nos experimentos. 2.3. TITULAÇÃO VIRAL EM CÉLULA VERO Neste trabalho foi utilizada uma linhagem celular de células Vero, provenientes do rim do macaco verde africano Cercopithecus aethiops. A linhagem celular foi mantida em estufa (NAPCO) à 37ºC com 5% CO2, em microplacas de 6 poços de cultura com meio de manutenção 199 suplementado com 2% de soro bovino fetal e antibiótico (100 UI/mL de penicilina e 100 µl/mL de streptomicina). Quando as células formavam uma monocamada eram consideradas prontas para serem utilizadas nos experimentos ou para a sua manutenção, realizada primeiramente com a assepsia rigorosa da sala de cultura, passando-se álcool a 70 % em todos os materiais a serem utilizados no fluxo laminar. A técnica utilizada na preparação das microplacas para o experimento foi a da tripsinização. Após a observação da monocamada celular em microscópio invertido (Zeiss modelo Axiovert S100) com objetiva de 20 X, retirou-se o meio de cultura da mesma, e a camada celular foi então lavada rapidamente com tripsina (2 mL), para retirar o excesso de soro. Em seguida, foi adicionado 0,5 mL de tripsina à 0,25 % sobre as células, para desprendê-las da garrafa, e 5 mL meio 199 de manutenção. Após homogeneização mecânica utilizando pipeta automática, a suspensão obtida foi distribuída em outras microplacas na proporção de 1:3 para manutenção, sendo complementadas com meio de manutenção 199, incubadas em estufa a 37ºC até o momento de serem utilizadas ou passadas novamente. A titulação viral foi realizada partindo-se de uma suspensão de cérebro de camundongo estoque infectado com o vírus do estudo. Os camundongos tiveram seus cérebros retirados e macerados em gral e pestilo, e acrescido de PBS (1,8 mL por cérebro) contendo albumina bovina a 0,75 % e os antibióticos penicilina (100 UI/mL) e estreptomicina -1 -6 (100 μg/mL), nas diluições de 10 a 10 , respectivamente, em meio de manutenção 199. Foram utilizadas microplacas com seis poços com culturas subconfluentes de células Vero. Desprezou-se o meio de cultura das placas e em seguida foi inoculado em cada poço 0,1 ml de suspensão viral, em duplicata, para cada diluição, para o controle do teste alguns poços ficaram apenas com o meio de cultura de manutenção para o testemunho de células não infectadas. As placas foram então incubadas em estufa de CO 2 (5%) durante 60 minutos a 37 °C (período de adsorção viral). Após esse período, foi desprezado o meio e adicionado em cada poço 3 ml de Carboximetilcelulose (CMC) à 3% e incubado na estufa de CO2 por 7 dias, 32 sendo então fixadas com adição de 3 ml de formol à 10% em cada poço por 60 minutos . As placas foram lavadas em água corrente e coradas com 3 ml de cristal violeta durante a noite e posteriormente lavadas em água corrente. Com base no número de placas formadas pelo vírus, considerado como positivo o efeito citopatológico (ECP) característico em células Vero, o titulo viral foi calculado pelo método de Reed & Muench (1938), onde é expresso em unidades formadoras de placas por mililitro (pfu/ml), conforme fórmula abaixo. T=nxf/i - n é a soma dos números de placas virais contadas nos poços em que se inocularam diluições que resultaram num número contável de placas. - f é o factor relativo à menor diluição que contribuiu para o valor n - i é a soma dos volumes (em ml) dos inóculos virais aplicados nos poços em que se contaram placas. 2.4. PREPARAÇÃO DO ESTOQUE VIRAL II Com a informação do título do vírus em estudo de 3,7 x 107 pfu/mL, obtido a partir da titulação do estoque viral I, realizou-se um novo estoque viral a partir do estoque viral I, através da inoculação via intracerebral (i.c) de 0,02mL de suspensão de cérebro de camundongo a 10% infectados com o vírus do estudo, em camundongos albinos suíços recém-nascidos. Foram utilizadas três gaiolas contendo cada uma seis recém-nascidos, sendo os mesmos eutanasiados após serem observados sinais de doença e identificados e congelados à -70ºC. Também foram utilizadas três gaiolas contendo cada uma seis recém-nascidos não infectados, os quais foram eutanasiados, identificados e congelados à -70ºC, com o mesmo tempo de vida dos animais infectados para servirem de controle negativo no presente estudo. 2.5. TITULAÇÃO VIRAL EM CAMUNDONGO A titulação viral foi realizada partindo-se de uma suspensão de cérebro de camundongo estoque viral II, nas diluições seriadas de 10-1 a 10-8. Cada diluição no volume de 0,02 ml foi inoculada por via i.c., em camundongos albinos suínos recém-nascidos (2 dia de vida) sendo as informações com relação a doença, morte e coleta armazenadas e um cartão de inoculação. O título foi calculado pelo método de Reed e Muench (1938) e expresso em DL50/0,02 mL, que representa a dose letal mediana (dose capaz de matar 50 % dos camundongos infectados). 33 2.6. EXPERIMENTO 2.6.1. Critérios de Inclusão e Exclusão de Animais no Experimento Foram incluídos no experimento todos os camundongos suíços albinos recém-nascidos com 1 a 2 dias de vida sadios (controle negativo) e susceptíveis a infecção (grupo infectado). Foram excluídos do experimento todos os camundongos suíços albinos que não estavam entre a faixa-etária pré-estabelecida para o grupo recém-nascidos. Após a infecção foram excluídos todos os animais que não foram susceptíveis a infecção e ou foram a óbito antes de eutanasiados. 2.6.2. Dose Infectante O vírus foi inoculado na região dorsal de camundongos recém-nascidos, via subcutânea (s.c.) com 0,02mL de suspensão viral a 10% contendo 10-9,5 DL50/0,02 mL da cepa SBA91 H743921. Para comparar a infecção com a cepa do vírus SBA91, foi inoculado na região dorsal de camundongos recém-nascidos, via subcutânea (s.c.) com 0,02mL de suspensão viral da cepa protótipo (AR20290) a 10% contendo 10-9,4 DL50/0,02 mL. Os animais foram observados diariamente e examinados para presença de sinais e/ou sintomas característicos de infecção (dificuldade de alimentação, falta de coordenação motora, tremores, hipodesenvolvimento e hipoatividade), anotados nos cartões de inoculação. 2.6.3. Colheita e Preparação do Material para Análise Após a infecção experimental, diariamente, em intervalos de 24, 48 e 72 horas, três camundongos recém-nascidos infectados com a cepa em estudo, três camundongos infectados com a cepa do protótipo do MAYV (controle positivo) e três camundongos não infectados (controle negativo) foram anestesiados e eutanasiados. Constatada a morte, todos os animais foram necropsiados, sendo os fragmentos dos órgãos (cérebro, coração, fígado, rim, baço e músculos esqueléticos) extraídos e preservados à -70 °C, até o momento de uso. 2.7. TESTES VIROLÓGICOS Os fragmentos do cérebro, coração, fígado, rim, baço e músculo esquelético de todos os camundongos recém-nascidos infectados e controle negativo foram submetidos à técnica de RTPCR (Transcrição Reversa seguida da Reação em cadeia mediada pela polimerase) para confirmação da infecção pelo MAYV. Primeiramente foi utilizado o Kit Viral Pure LinkTM 34 (Invitrogen) para a extração do RNA viral, seguindo as orientações do fabricante como a seguir: Em um tubo de microcentrífuga (1,5 ml), adicionou-se 25 µl de proteinase K, 200 µl de tampão de lise e 200 µl da amostra previamente macerada, sendo então incubado à 56ºC por 15 minutos e adicionado 250 µl de etanol (96-100%). O lisado foi incubado novamente por 5 minutos à temperatura ambiente e transferido para coluna e centrifugado a 8.000 rpm por 1 minuto. Após essa etapa o tubo coletor foi descartado e adicionado 500 µl de tampão de lavagem (Wash Buffer) e centrifugado a 8.000 rpm por 1 minuto, sendo esta etapa de lavagem repetida duas vezes. Finalmente a coluna foi centrifugada a velocidade máxima (14.000 rpm) por 1 minuto e transferida para um tubo de microcentrífuga (1,5 ml) onde foi adicionado 50 µl de água livre de nuclease, posteriormente incubada por 1 minuto em temperatura ambiente e centrifugada a velocidade máxima por 1 minuto.O RNA extraído foi identificado e estocado à –70 °C até o momento do uso. Após a extração do RNA, foi gerado pela reação de transcrição reversa do RNA a síntese de DNA complementar (cDNA) em duas etapas, utilizando-se para isso, oligonucleotídeos iniciadores específicos e iScript ™ cDNASíntese kit (Promega), seguindo as instrunções do fabricante. Primeiramente, 1 µl de RNA total, 1 µl de primer reverso e 5 µl de água livre de DNAse, foi desnaturado à 65 °C por 5 min. O RNA foi homogenizado a uma mistura previamente preparada, contendo 4 µl buffer RT (5x), 2 µl DTT, 1 µl RNAseout e 1 µl Superscrit II, obtendo-se assim um volume final de 20 µL para a sintese do cDNA. O cDNA obtido na reação de transcrição reversa do RNA foi utilizado na reação da PCR segundo informações do fabricante seguindo os seguintes parâmetros: desnaturação inicial à 95 ºC por 5 min, 45 ciclos com desnaturação à 95 ºC por 30 segundos, hibridização à 55 ºC por 30 segundos e extensão à 68 ºC por 1 minuto. A etapa de extensão final foi realizada à 68 ºC por 5 minutos. O volume final da reação foi de 50 µl contendo 5 µl tampão buffer (10x); 1,5 µl MgCl2; 1 µl dNTP; 1 µl Taq. Platinum; 32,5 µl água livre de nuclease; 1 µl de iniciadores senso e complementar e 5 µl de cDNA. Os oligonucleotídeos iniciadores específicos utilizados tanto para a obtenção do cDNA como do PCR estão descritos no quadro abaixo (Pfeffer et al., 1997; Bronzoni et al., 2004). Quadro 2- Oligonucleotídeos iniciadores usados na reação de RT-PCR. Oligonucleotídeos M2W M3W Seqüência 5’-YAGAGCDTTTTCGCAYSTRGCHW-3’ 5’-ACATRAANKGNGTNGTRTCRAANCCDAYCC -3’ Tamanho (pb) 434 35 Os produtos da RT-PCR foram então submetidos à eletroforese horizontal em gel de agarose à 1,5% usando SYBR SAFE (Invitrogen), sendo visualizados e analisados em um transiluminador com luz UV (Vilber Lourmat, EUA). 2.8. EXPRESSÃO DE RNA MENSAGEIRO PARA DETECÇÃO DE CITOCINAS POR TRANSCRIÇÃO REVERSA E REAÇÃO EM CADEIA MEDIADA PELA POLIMERASE EM TEMPO REAL (RT-qPCR) USANDO SISTEMA SYBR GREEN. 2.8.1. Análise da Expressão de mRNA de IL-2, TNF-α e GAPDH. A expressão de RNA mensageiro que codifica as IL-2 e TNF-α foi realizada pela técnica de Transcrição Reversa e Reação em Cadeia mediada pela Polimerase em Tempo Real (RT-qPCR) pelo método de SYBR Green. Tal técnica é capaz de monitorar o progresso da PCR e coletar seus dados enquanto ela progride. Para isso, utiliza o momento do ciclo da reação no qual a amplificação do alvo é detectada pela primeira vez, assim quanto mais alto o número de cópias iniciais do ácido nucléico alvo, mais rápido será observado o aumento significativo na fluorescência, que será detectada pelo sistema do corante SYBR Green que possui ligação altamente específica ao DNA dupla-fita formado durante a reação, tendo como resultado, o aumento na intensidade da fluorescência proporcional à quantidade de produto gerado pela PCR (Peirson et al., 2003). A quantificação relativa das citocinas por RT-qPCR foi realizada pelo Sistema de Detecção de ViiA™ 7 system Real-Time PCR (Applied Biosystem). Utilizando-se o EXPRESS SYBR® GreenER™ qPCR SuperMix Kits (Applied Biosystem). Foram selecionados quatro fragmentos dos seis extraídos dos camundongos recém-nascidos infectados pela via subcutânea com a cepa SBA91 H743921 e do grupo controle não infectado, dentre os quais estão o cérebro, fígado, rim e músculo esquelético. A exclusão dos fragmentos do coração e baço ocorreu devido a pouca quantidade de RNA obtido na extração e confirmado pelo método de quantificação de RNA fluorométrica, usando o equipamento Qubit® (Invitrogen). A PCR foi realizada em um volume de 10 μl contendo 2 µl do DNA (100 ng); 5 μl Super Mix with premixed Rox; 1μl de iniciadores de cada primer gene-específico senso e complementa; 0,25 μl One-step SybrGreenER e 0,75 μl de água livre de nuclease, seguindo os seguintes parâmetros: desnaturação inicial à 50 °C por 5 minutos, 95 °C por 10 minutos 36 seguidos de 40 ciclos de desnaturação à 95 °C por 15 segundos, hibridização à 60 °C por 1 minuto. A etapa final foi a de obtenção de uma curva melt para os produtos de PCR para determinar a especificidade da amplificação. A quantificação da expressão gênica de citocinas por PCR em tempo real foi realizada, conforme detalhado por Peirson et al. (2003). Os pares de primers utilizados seguem abaixo. Quadro 3 - Primer usados na reação de RT-PCR em Tempo Real para a determinação da expressão de citocinas. Gene Alvo GAPDH* IL-2p40** TNF-α*** Primer F - 5’ CGA CTT CAA CAGCAA CTC CAC TC 3’ R – 5’ CAC CCT GTT GCT GTA GCC CGT ATT C 3’ F - 5’ CCC AAG CAG GCC ACA GAA TTG AAA 3’ R - 5’ AGT CAA ATC CAG AAC ATG CCG CAG 3’ F - 5’ ATC TTC TCA AAA TTC GAG TGA CAA 3’ R - 5’ TGG GAG TAG ACA AGG TAC AAC CC 3’ Tamanho do amplicon (pb) 278pb 81 pb 174 pb *Sequencia de primer descrita por Bordignon et al., 2008. ** Sequencia de primer descrita por Cezario et al., 2011. ***Sequencia de primer descrita por Yamaguchi et al., 2007. Esta expressão foi determinada em amostras de cérebro, fígado, rim e músculo esquelético de camundongos recém-nascidos infectados experimentalmente com MAYV e não infectados (controle negativo), com o objetivo de determinar a expressão das citocinas de interesse, nos diferentes órgãos e tecido desses animais. Para isso, um ensaio de quantificação relativa foi utilizado para analisar alterações na expressão gênica destes alvos. O método de cálculo utilizado para a quantificação foi o método de CT comparativo, também referido como ∆∆Ct e determinado pela fórmula: ∆Ct = Ct (gene alvo) – Ct (gene endógeno). O gene da GAPDH foi utilizado como controle endógeno para verificar a integridade dos cDNAs e padronizar as concentrações iniciais de cDNA de todas as amostras, uma vez que, é expresso de forma constitutiva em todas as células. 2.9. ANÁLISE ESTATÍSTICA Para as análises estatísticas foi utilizado o programa GraphPad Prism versão 5.0 (GraphPad Software, San Diego, Califórnia, USA). As diferenças estatíst k bicas entre os grupos experimentais foram determinadas através da Análise de Variância (ANOVA), seguida pelo método pós-teste (Bonferroni, ou Student t Test). Foram consideradas diferenças estatisticamente significante quando p<0,05. 37 3. RESULTADOS 3.1. CONFIRMAÇÃO DA INFECÇÃO POR MAYV No presente estudo, camundongos recém-nascidos (Mus musculus) foram inoculados via subcutânea com a cepa SBA91 H774173 juntamente com o controle positivo (Protótipo AR20290) e negativo, onde foram observados diariamente, por um período de três dias, em intervalos de 24, 48 e 72 horas, sendo utilizado o método de RT-PCR para a confirmação da infecção pelo MAYV. Nas imagens obtidas com a eletroforese, foi possível observar a presença de amostras positivas em todos os fragmentos em estudo e em todos os intervalos de tempo, mostrando que o MAYV circula por uma grande variedade de órgão e tecidos em um curto período de tempo (Figura 5, 6 e 7). 1 2 3 4 5 1 2 3 4 6 7 8 9 10 5 6 7 8 9 10 Figura 5- Produto de RT-PCR, em gel de agarose a 1,5% corado por SYBR® Safe, de amostras de camundongos infectados via s.c. com MAYV, após 24 horas de infecção: Faixa 1: Cérebro; Faixa 2: Coração; Faixa 3: Fígado; Faixa 4: Rim; Faixa 5: Baço; Faixa 6:Músculo esquelético; Faixa 7: Controle positivo (Cérebro do Protótipo do MAYV); Faixa 8: Controle Negativo (Cérebro camundongo não infectado 24h); Faixa 9: Controle Negativo (água); Faixa 10: Peso Molecular (100 pb DNA Ladder). Figura 6 - Produto de RT-PCR, em gel de agarose a 1,5% corado por SYBR® Safe, de amostras de camundongos infectados via s.c. com MAYV, após 48 horas de infecção: Faixa 1: Cérebro; Faixa 2: Coração; Faixa 3: Fígado; Faixa 4: Rim; Faixa 5: Baço; Faixa 6:Músculo esquelético; Faixa 7: Controle positivo (Cérebro do Protótipo do MAYV); Faixa 8: Controle Negativo (Cérebro camundongo não infectado 48h); Faixa 9: Controle Negativo : água; Faixa 10: Peso Molecular (100 pb DNA Ladder). 38 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Figura 7 - Produto de RT-PCR, em gel de agarose a 1,5% corado por SYBR® Safe, de amostras de camundongos infectados via s.c. com MAYV, após 72 horas de infecção: Faixa 1: Cérebro; Faixa 2: Coração; Faixa 3: Fígado; Faixa 4: Rim; Faixa 5: Baço; Faixa 6:Músculo esquelético; Faixa 7: Controle positivo (Cérebro do Protótipo do MAYV); Faixa 8: Controle Negativo (Cérebro camundongo não infectado 72h); Faixa 9: Controle Negativo : água; Faixa 10: Peso Molecular (100 pb DNA Ladder). O quadro 4 apresenta a síntese da análise das amostras biológicas dos camundongos inoculados com os isolados do MAYV para a amostra em estudo (SBA91), o controle positivo (AR 20290) e controle negativo (camundongos não infectados). Os animais foram diariamente observados e examinados para presença de sinais e sintomas característicos da infecção pelo MAYV, classificados como presença ou ausência de sinais de distúrbios neuromotores como dificuldade de alimentação, tremores, hipodesenvolvimento, hipoatividade e dificuldade de locomoção principalmente com as patas traseiras, sendo observados 24 horas após infecção nos animais do controle positivo e 48 horas após infecção nos animais infectados com a amostra em estudo. Apesar das variações de tempo no aparecimento dos sinais clínicos, a confirmação da presença do vírus nos órgãos e tecido estudados pelo método de RT-PCR, foi positiva desde o primeiro dia de infecção. 39 Quadro 4 - Análises de amostras biológicas de camundongos inoculados com isolados de MAYV. AMOSTRAS ANALISADAS AR 20290 SBA 91 Controle Negativo Dia Sinais Clínicos RT-PCR Sinais Clínicos RT-PCR Sinais Clínicos RT-PCR 1º + Positivo 0 Positivo 0 Negativo 2º + Positivo + Positivo 0 Negativo 3º + Positivo + Positivo 0 Negativo 4º + Positivo + Positivo 0 Negativo 5º + Positivo + Positivo 0 Negativo Legenda: 0= sem sinal de doença; += sinais de distúrbios neuromotores; Positivo= com amplifacação de genoma; Negativo= sem amplificação de genoma. 3.2. ANÁLISE DA EXPRESSÃO DE mRNA DE IL-2, TNF-α E GAPDH A quantificação da expressão de mRNA das citocinas IL-2, TNF-α e o controle endógeno GAPDH, foi analisado utilizado a técnica de Transcrição Reversa e Reação em Cadeia mediada pela Polimerase em Tempo Real (RT-qPCR) usando sistema SYBR Green. Para cada intervalo de tempo, 24, 48 e 72 horas, foi realizado um experimento de RTqPCR, onde cada citocina foi analisada em triplicata para cada um dos órgãos e tecido selecionados para o estudo. A figura 8 mostra a curva de amplificação do experimento de RTqPCR. 40 Figura 8 – Curva de amplificação do experimento de RT-qPCR para determinação da expressão de mRNA das citocinas IL-2, TNF-α e GAPDG (gene endógeno) em camundongos infectados após 24horas com o MAYV pela via subcutânea e camundongos não infectados (controle negativo) nos fragmentos de cérebro, fígado, rim e músculo esquelético. Os valores de CT obtidos pela análise das curvas de amplificação foram utilizados na avaliação da variação de expressão (fold-change) de cada gene de interesse por meio do método de comparação do CT, utilizando o gene GAPDH para normalização, conforme descrito na metodologia. Tal método requer uma validação, realizada para mostrar a eficiência das amplificações do alvo e a eficiência da amplificação do controle endógeno são aproximadamente iguais (Figura 9, 10 e 11). 41 Figura 5 - Curva padrão da RT-qPCR demonstrando a eficiência da reação para o gene GAPDH. Figura 6 - Curva padrão da RT-qPCR demonstrando a eficiência da reação para o gene IL-2. 42 Figura 7 - Curva padrão da RT-qPCR demonstrando a eficiência da reação para o gene TNF-α. Após o término de cada reação, uma etapa de dissociação foi realizada para visualização da cinética de dissociação dos produtos amplificados. Para isso, a temperatura da reação foi aumentada de forma linear e a fluorescência de cada amostra foi representada graficamente, com o eixo da ordenada mostrando a derivada da intensidade da fluorescência e o da abscissa, a temperatura. O gene endógeno (GAPDH) e o gene da citocina IL-2 tiveram seus produtos amplificados com uma Temperatura (Tm) 81,32 ºC e Tm 78,49 ºC respectivamente, sem qualquer formação de dímeros dos iniciadores, amplificação de produto inespecífico ou contaminação das amostras (Figura 12 e 13). Já o gene da citocina TNF-α teve seu produto amplificado com uma temperatura mais elevada, de 87,24 ºC, e com uma pequena formação de dímero, demonstrado pela seta (Figura 14). 43 Figura 12 – Curva de dissociação com amplificação do gene endógeno (GAPDH) em camundongos infectados após 24horas com o MAYV pela via subcutânea nos fragmentos de cérebro, fígado, rim e músculo esquelético. Figura 13 – Curva de dissociação com amplificação do gene da citocina IL-2 em camundongos infectados após 24horas com o MAYV pela via subcutânea nos fragmentos de cérebro, fígado, rim e músculo esquelético. 44 Figura 14 – Curva de dissociação com amplificação do gene da citocina TNF-α em camundongos infectados após 24horas com o MAYV pela via subcutânea nos fragmentos de cérebro, fígado, rim e músculo esquelético. A variação de expressão de genes das citocinas IL-2 e TNF-α nas amostras coletadas de cérebro, fígado, rim e músculo esquelético de camundongos recém-nascidos infectados com MAYV nos intervalos de tempo 24, 48 e 72 horas foram analisada pela quantificação relativa utilizando os valores de CT obtidos pela análise das curvas de amplificação e normalizados com o gene GAPDH, utilizando a fórmula: ∆Ct = Ct (gene alvo) – Ct (gene GAPDH). Com a eficiência das amplificações dos genes alvo (IL-2 e TNF-α) e controle endógeno aproximadamente igual, os resultados obtidos permitiram usar a expressão 2 -∆∆ct (∆∆ct = ∆Ctinfectados – ∆Ctnão infectados) para a quantificação dos transcritos. Os níveis de expressão de mRNA das citocinas pró-inflamatórias IL-2 e TNF-α nos diferentes intervalos de tempo e órgãos selecionados, foram comparados com o controle negativo (não infectados) e apresentaram expressão significativa estatisticamente com p<0,05. No cérebro, tanto a expressão de genes de IL-2 quanto de TNF-α tiveram sua expressão reduzida significativamente após 48 horas de infecção, nos demais intervalos, não houve mudança de expressão significativa. Já no músculo esquelético, observou-se um aumento significativo de expressão de ambos os genes, após 48 e 72 horas de infecção. O rim apresentou um aumento de expressão do gene IL-2 após 48 e 72 horas de infecção e redução de expressão do gene TNF-α no mesmo período. O fígado por sua vez, não apresentou 45 variação de expressão gênica em nenhum dos genes alvo em todos os intervalos de tempo (Tabela 2). Tabela 2 - Valores de expressão de mRNA de IL-2 e TNF-α nos diferentes intervalos de tempo e órgãos selecionados comparados *. Cérebro Fígado M.E RIM Citocinas 24h 48h 72h IL-2 -0,071 -0,864 0,106 TNF-α -0,073 -1,063 0,09 IL-2 -0,058 0,277 0,07 TNF- α 0,078 0,297 0,247 IL-2 -0,063 1,683 0,528 TNF- α 0,019 0,409 0,510 IL-2 -0,008 0,559 1,345 TNF- α -0,135 -2,085 -2,094 *Os valores em preto, não houve alteração estatística significativa na expressão da citocina quando comparado com o controle negativo; valores em azul, aumento significativo de expressão de citocinas quando comparado com o controle negativo e valores em vermelho, redução significativa de expressão de citocinas quando comparado com o controle negativo, segundo teste estatístico Student t, sendo consideradas diferenças estatisticamente significante quando p<0,05. No intervalo de tempo de 24 horas, não foi possível observar nenhuma mudança estatisticamente significativa nos órgãos e tecido muscular selecionado, em ambos os genes. Assim as figuras 15 e 16 mostram em porcentagem apenas os intervalos de tempo em que houve variação gênica estatisticamente significativa, seja ela tanto positiva como negativa. Figura 15 – Diferença em porcentagem da expressão de gene da IL-2 nos órgãos e tecido muscular infectados com o MAYV com 48 e 72 horas após infecção comparados com o controle negativo. 46 Figura 16 – Diferença em porcentagem da expressão de gene da IL-2 nos órgãos e tecido muscular infectados com o MAYV com 48 e 72 horas após infecção comparados com o controle negativo. No quadro 5 observamos a síntese das análises das expressões dos genes de IL-2 e TNF- α nos diferentes intervalos de tempo (24, 48 e 72 horas) e órgãos estudados (cérebro, fígado, rim e músculo esquelético) tanto no grupo de camundongos infectados com isolado do MAYV em estudo (SBA91) quanto o grupo de camundongos não infectados (controle negativo), onde nota-se a permanência da expressão de citocinas sem qualquer alteração em todos os intervalos de tempo e em todos os órgãos e tecidos em estudo no grupo de camundongos não infectados, enquanto que nos camundongos infectados com a cepa SBA 91 observa-se um aumento significativo de expressão de citocinas no músculo esquelético no intervalo de tempo de 48 e 72 horas de ambas as citocinas e no rim no intervalo de tempo de 48 e 72 horas da IL-2; redução significativa de expressão de citocina no cérebro no intervalo de tempo de 48 horas em ambas as citocinas e no rim do TNF- α no intervalo de tempo de 48 e 72 horas, nos demais períodos e órgãos não houve alteração significativa. 47 Quadro 5 - Análises de expressão de mRNA de IL-2 e TNF-α nos diferentes intervalos de tempo e órgãos de camundongos inoculados com isolados de MAYV. AMOSTRAS ANALISADAS SBA 91 Controle Negativo IL 2 TNF-alfa IL 2 TNF-alfa ÓRGÃO 24h 48h 72h 24h 48h 72h 24h 48h 72h 24h 48h 72h Cérebro 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Fígado 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Rim 0 + + 0 0 0 0 0 0 0 Músculo 0 + + 0 + + 0 0 0 0 0 0 esquelético Legenda: 0 = sem alteração estatística significativa na expressão da citocina; + = aumento significativo de expressão de citocinas; - = redução significativa de expressão de citocinas. 48 4. DISCUSSÃO Os Alphavirus, como MAYV, CHIKV e RRV, são frequentemente associados a surtos de doenças reumáticas infecciosas pelo mundo, onde artralgia e artrite grave são os sintomas mais comuns, sendo considerada uma doença autolimitada, porém debilitante devido apresentar dor muscular e articular persistente por semanas e até meses, caracterizada por infiltrados inflamátórios compostos em sua maioria de células mononucleares, sugerindo os monócitos e macrófagos como um dos principais constituintes desses infiltrados. A maioria dos estudos da patogênese dos alphavírus tem sido feito àqueles causadores de encefalite, contudo o mecanismo pelo qual alphavírus artralgênicos causam doença são em grande parte desconhecido (Morrison et al., 2006; 2007; Huang et al., 2007; Lidbury et al, 2008). Praticamente todos os arbovírus são patogênicos para camundongos recém-nascidos, adultos, hamsters e cobaias, porém, animais recém-nascidos são os mais vulneráveis, enquanto que os animais jovens e adultos, de modo espontâneo ou dependendo do título do inóculo se sobrepõe a natural resistência do adulto. Diversos estudos com Alphavirus têm utilizado camundongos como animal experimental, sendo utilizados como modelos na suscetibilidade e resistência ao vírus para analise imunopatologica das doenças causados pelos integrantes desse gênero. Desta forma iniciamos nossos estudos utilizado camundongos (Mus musculus) recém-nascidos como modelo experimental animal a fim de analisar a expressão de citocinas pro-inflamatórias (IL-2 e TNF-α) nos diferentes órgãos e tecidos e intervalo de tempo(Dias, 1986; Morrison et al., 2006). Neste estudo, camundongos recém-nascidos infectados com MAYV pela via subcutânea com o titulo viral de 10 -9,5 DL50/0,02 mL, foram a óbito cinco dias após infecção. Quando comparamos com estudos experimentais em hamster de 9 a 10 dias de vida por Li et al. (2008) para análise de expressão de citocinas para o vírus da febre amarela, tiveram óbitos entre o sexto e décimo dia após infecção pela via intraperitoneal, período este em que o nível de viremia era baixo ou indetectável no sangue, sugerindo que a morte dos animais pode estar correlacionado com a reposta imune do hospedeiro. Em nossos estudos, a morte após cinco dias da infecção, pode estar relacionada ao nível de viremia e por se tratar de camundongos recém-nascidos com sistema imune ainda prematuro em relação a camundongos jovens. Na análise dos três primeiros dias após infecção (s.c.), observou-se a presença do vírus em todos os fragmentos em estudo (cérebro, fígado, rim e músculo esquelético) e em todos os intervalos de tempo (24, 48 e 72 horas) evidenciando a rápida replicação do vírus em uma grande variedade de órgãos e tecidos em um curto período de tempo (quadro 4). Semelhante ao obervado por Morrison et al. (2006), que detectaram picos de títulos virais no tecido dos 49 músculos quadriceps e tornozelo de camundongos infectatos pela via subcutânea com o RRV após 24 e 48 horas pós infecção e em contraste, picos de títulos virais no cérebro e baço foram marcadamente mais baixos do que os observados nos tecido muscular do quadriceps e tornozelo. Segundo Akhrymuk et al. (2012) descreve que o ciclo de replicação dos Alphavirus ocorre no citoplasma e é concluido dentro de 24 a 48 horas pós-infecção (p.i.). A nível citoplasmático ocorre a inibição global da transcrição celular pela nsP2, que é um eficiente meio de resposta a inibição antiviral, sem afetar a replicação e saida do vírus. Como resultado temos, a incapacidade das células infectadas para ativar expressão de citocinas e quimiocinas, fato este que corrobora com os achados deste estudo, onde não foi possível observar nenhuma mudança estatisticamente significativa nos órgãos e tecido muscular selecionados em um intervalo de tempo de 24 horas após a infecção pelo MAYV, sugerindo que neste intervalo de tempo possivelmente houve uma evasão a resposta celular antiviral do hospedeiro. Porém, estudo sobre a imunopatogenicidade dos Alphavirus torna cada vez mais claro que a imunogenicidade é devido a ativação de resposta imune inata em vez de aumento na produção de antígenos, segundo Naslund et al. (2011). Morrinson et al. (2007) analisando o papel do sistema complemento, componente importante de imunidade inata, descobriram que camundongos deficientes em C3 desenvolvem inflamação nos ossos, tecido muscular esquelético e articular, com sinais de doença e danos nos tecidos menos graves após infecção por RRV, sugerindo que a ativação do complemento, independente do recrutamento de células inflamatórias para os tecidos, contribui para a lesão tecidual, desempenhando um papel central e imunorregulador na patogênese dos alphavirus que provocam doença inflamatória, podendo também estar associada com formas mais graves de outras doenças virais, incluindo a dengue. Neste estudo foi encontrado no músculo esquelético, aumento significativo da expressão dos genes da IL-2 e TNF-α, após 48 e 72 horas de infecção, sugerindo que tais citocinas pró-inflamatórias podem ter um papel fundamental na patogênese das doenças reumáticas. Lidbury et al. (2008) utilizando ratos como modelo, infectados com RRV pela via subcutânea, demonstrou o papel dos macrófagos na patogênese da doença, comprovando que mediadores pró-inflamatórios derivados de macrófagos, como IL-2 e TNF-α são a causa principal de processos imunopatológicos que levam a doença reumática. Estudos com primatas não humanos suscetíveis a infecção pelo CHIKV realizados por Labadie et al. (2010), observaram principalmente nos órgãos linfóides, fígado e músculo, os macrófagos como atores centrais durante as infecções e persistência da doença. 50 Análises realizadas a partir de articulações de pacientes com artrite reumatoide, Huang et al. (2007), observaram receptores Toll-like (TLRs) como sendo crítico para a geração da reposta imune, devido ativarem o sistema imune inato em macrofágos e células dendríticas, resultando na produção de citocinas pró-inflamatórias, incluindo o TNF-α e a IL-2, que tiveram expressão persistente, apesar do desenvolvimento de uma resposta imune adaptativa, o que contribuiu para a patogênese da doença. Tal estudo corrobora com os achados em nossos experimentos, onde também observamos uma maior expressão dessas citocinas próinflamátorias no músculo esquelético dos animais infectados por MAYV. Li et al. (2008), relataram que desde o terceiro dia após a infecção, foi evidente o aumento das citocina Th1 nos órgão dos animais como o fígado e o rim, sugerindo o papel protetor dessas citocinas contra a infecção, sendo importantes efetores na resposta mediada por célula, uma tentativa do hospedeiro para controlar a infecção. No presente estudo, o rim apresentou um aumento de expressão do gene IL-2 após 48 e 72 horas de infecção, porém a expressão do gene TNF-α teve redução no mesmo período. O fígado por sua vez, não apresentou variação de expressão gênica em nenhum dos genes alvo em todos os intervalos de tempo. A causa dessa redução ou mesmo a sua não variação é desconhecida, sendo necessários estudos futuros para determinar a sua causa, seja pelo depuramento passivo da resposta inflamatória inicial pelo vírus, seja pela supressão da resposta de citocinas pelo vírus, regulação de citocinas ou pela combinação desses mecanismos. Nos estudos de Carmen et al. (2009) com NSV (Neuroadapted Sindbis virus) em cultura de medula espinhal, demonstraram que o TNF-α é secretado em níveis elevados a partir de 12 e 24 horas após infecção e está correlacionado com os efeitos deletérios no sistema nervoso central, implicando-o como um mediador importante na morte de neurónios em encefalomielite viral. Já outras citocinas inflamátorias como IL-2, IL-4, IL-17 e IFN-γ não tiveram níveis elevados secretados nas culturas de medula espinhal infectadas. Em nossos estudos, no cérebro, tanto a expressão de genes de IL-2 quanto de TNF-α tiveram sua expressão reduzida significativamente após 48 horas de infecção, e nos demais intervalos, não houve mudança significativa de expressão. Segundo Dias (1986), lesões no sistema nervoso central são frequentes, determinando inclusive quadros de encefalite em animais recémnascidos. Porém há uma variação desse comportamento, nem sempre se comprovando uma agressão ao sistema nervoso central, dependendo assim do tipo viral, a via de inoculação ou o titulo do vírus. Na maioria das vezes não se percebe uma resposta inflamatória, quer seja discreta ou ampla a injúria celular neuronal e glial, principalmente nos animais que morrem em 24 ou 48 horas após a infecção. Sugerindo assim, que a redução na expressão dos genes de 51 citocinas pro inflamatórias e até mesmo a sua não variação, pode ser devido a uma inexpressível resposta inflamatória a infecção pelo MAYV ou por se tratar de um vírus não neurotrópico, estando presente, porém sem causar danos inflamatórios graves. De acordo com Morrison et al. (2006) as análises histológicas de ossos dos membros posteriores, juntas, tecido do músculo esquelético e tecidos do sistema nervoso central, resultaram em pouca ou nenhuma inflamação cinco dias após a infecção, diferente do encontrado nos ossos e articulações dos membros inferiores, com presença abundante de células inflamatórias após cinco dias de infecção atingindo o seu pico de gravidade entre sete e dez dias de pós-infecção, ocorrendo bem depois do pico do título viral, sendo pouco expressiva ou ausente no terceiro dia pós infecção, o que nos leva a pensar em futuros experimentos analisando o quarto e quinto dia após infecção no intuito de observar expressão signficativamente elevada das citocinas em estudo, bem como avaliar outras possíveis citocinas como INF- γ e TGF-β, envolvidas na patogênese da doença. Nosso estudos mostraram o aumento significativo de citocinas pró-inflamatórias (IL-2 e TNF-α) em tecido muscular esquelético e no rim após 48 horas de infecção pelo MAYV, semelhante ao observado em outros estudos com Alphavirus artralgênicos. Porém a diminuicão ou ausência de variação nos demais órgãos, levanta a necessidade de estudos mais detalhados acerca dos mecanismos de evasão do vírus à resposta imunológica do hospedeiro, bem como a análise por um período mais prolongado pós-infecção, a fim de se observar um aumento de expressão das citocinas. 52 5. CONCLUSÕES No presente estudo camundongos infectados com MAYV pela via subcutânea com o título viral de 10-9,5 DL50/0,02 mL, foram a óbito cinco dias após infecção. Nas análises dos três primeiros dias após infecção, todos os fragmentos em estudo (cérebro, fígado, rim e músculo esquelético) e em todos os intervalos de tempo (24, 48 e 72 horas) foram confirmados por RT- PCR com infecção pelo MAYV; Apesar das variações de tempo no aparecimento dos camundongos infectados com isolado do MAYV, a confirmação da presença do vírus nos órgãos e tecido estudados pelo método de RT-PCR, foi positiva desde o primeiro dia de infecção; A quantificação de expressão de mRNA das citocinas IL-2 e TNF-α apresentou no cérebro redução significativa de expressão de ambos os genes após 48 horas de infecção; no rim um aumento de expressão do gene IL-2 após 48 e 72 horas de infecção, porém redução de expressão do gene TNF-α no mesmo período; o fígado não apresentou variação de expressão gênica em nenhum dos genes alvo em todos os intervalos de tempo, já o músculo esquelético, teve aumento significativo de expressão dos genes da IL-2 e TNF-α, após 48 e 72 horas de infecção. No intervalo de tempo de 24 horas após infecção pelo MAYV, não foi possível observar nenhuma mudança estatisticamente significativa nos órgãos e tecido muscular selecionados, sugerindo que neste intervalo de tempo possivelmente houve uma evasão a resposta celular antiviral do hospedeiro. 53 6. REFERÊNCIAS AKHRYMUK, A.; KULEMZIN, S. V. & FROLOVA, E. I. Evasion of the Innate Immune Response: the Old World Alphavirus nsP2 Protein Induces Rapid Degradation of Rpb1, a Catalytic Subunit of RNA Polymerase II. Journal of Virology. Vol 86, nº 13, p. 7180–7191, 2012. ANDERSON, C. R.; DOWNS, W. G.; WATTLEY, G.H.; AHIN, N. W. & REESE, A. A. Mayaro virus: a new human disease agent. II. Isolation from blood of patients in Trinidad. Am J Trop Med Hyg, v.6, n.6, Nov, p.1012-6. 1957. AZEVEDO, R. S. S.; SILVA, E. V. P.; CARVALHO, V. L.; RODRIGUES, S. G.; NUNESNETO, J. P.; MONTEIRO, H. A. O.; PEIXOTO, V. S.; CHIANG, J. O.; NUNES, M. R. T. & VASCONCELOS, P. F. C.. Mayaro Fever Virus, Brazilian Amazon. 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