Congresso Técnico Científico da Engenharia e da Agronomia CONTECC’ 2015 Centro de Eventos do Ceará - Fortaleza - CE 15 a 18 de setembro de 2015 VULNERABILIDADE E RESILIÊNCIA DA CULTURA DO ARROZ EM RELAÇÃO A PLUVIOSIDADE NO CEARÁ MELYSSA DA SILVA MOREIRA PINHEIRO*, ANDERSON DA SILVA PINHEIRO2, JOSÉ DE JESUS SOUSA LEMOS3 1 Graduando em Agronomia, UFC, Fortaleza-CE. Fone: (85) 99694-9139, [email protected] Graduando em Agronomia, UFC, Fortaleza-CE. Fone: (85) 98691-3532, [email protected] 3 Professor Agronomia, Coordenador do Laboratório do Semi-Árido, UFC, Fortaleza-CE. Fone: (85) 997534141, [email protected] 2 Apresentado no Congresso Técnico Científico da Engenharia e da Agronomia – CONTECC’ 2015 15 a 18 de setembro de 2015 - Fortaleza-CE, Brasil RESUMO: Este trabalho teve como objetivo verificar a vulnerabilidade da cultura de arroz do semi árido do Ceará em relação à pluviosidade. Os dados da pluviosidade foram obtidos com a Fundação Cearense de Meteorologia através de uma série de 1947 a 2013, e os dados de produção e produtividade em kg/ha do arroz, foram obtidos com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Os dados foram trabalhados com o programa Microsoft Office Excel, obtendo-se a correlação entre a produção de arroz com a pluviosidade e a produtividade em kg/ha também com a pluviosidade e também o índice de resiliência da cultura à pluviosidade. Os resultados obtidos foram de 0,45 para correlação produção/pluviosidade e 0,42 para a correlação de produtividade em kg/ha/pluviosidade. Os resultados foram avaliados na correlação de Pearson. Os índices de resiliência obtidos, máximo e mínimo foram encontrados nos mesmos anos em que a pluviosidade foi considerada ótima (para resiliência máxima) e uma pluviosidade irregular (para resiliência mínima). PALAVRAS–CHAVE: Pluviosidade, Produtividade, Semi-Árido VULNERABILITY AND RESILIENCE OF RICE CULTURE IN RELATION TO RAINFALL IN CEARÁ ABSTRACT: This study aimed to verify the rice culture of the vulnerability of the semi arid region of Ceará in relation to rainfall. The data of rainfall were obtained with the Cearense Foundation of Meteorology through a series from 1947 to 2013, and data production and productivity in kg / ha of rice were obtained from the Brazilian Institute of Geography and Statistics. Data came with Microsoft Office Excel program, obtaining the correlation between rice production with rainfall and productivity in kg / ha also with the rainfall. The results were 0.45 for the correlation output / rainfall and 0.42 for the correlation yield in kg / ha / rainfall. The results were evaluated on the Pearson correlation. Resilience indices obtained, maximum and minimum were found in the same years in which rainfall was considered excellent (for maximum resilience) and irregular rainfall (for minimum resilience). KEYWORDS: Rainfall, productivity, semi arid INTRODUÇÃO A seca não é um problema exclusivo do nordeste brasileiro. Ao contrário do que muitos pensam, ele envolve uma área que se denomina Polígono das Secas, que envolve parte de oito estados nordestinos (Alagoas, Bahia, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe) e uma parte do norte de Minas Gerais e do Maranhão. Segundo José de Sena Pereira Júnior, “a área classificada oficialmente como semi-árido brasileiro teve um acréscimo de 8,66%, aumentando de 892.309 km2 para 982.563 km2” (Pereira J.J.de S., 2005). Recentemente observou-se uma seqüência de anos com deficiência hídrica nas regiões sudeste e sul do Brasil. A seca no Nordeste brasileiro se caracteriza por um deficiente por sequencias de anos com deficiência hídrica, com chuvas ocorrendo bem abaixo da média e, principalmente, por causa das precipitações acontecerem concentradas em três a quatros meses do ano e nos demais nove ou oito meses haver estiagem. Devido à forte insolação que acontece deste lado do planeta, à incidência de ventos fortes, e a perda de umidade pela vegetação remanescente na sua fisiologia durante a transpiração, há eliminação de água, no fenômeno chamado de evapotranspiração potencial. Isto causa balanço hídrico quase sempre negativo no Nordeste, sobretudo na parte que está inserida no semiárido. Isto dificulta as práticas agrícolas na região (FUNCEME, 2005; LEMOS, 2015). MATERIAL E MÉTODOS A área de estudo compreende o território do Estado do Ceará, que está situado no norte da Região Nordeste e tem por limites o Oceano Atlântico a norte e nordeste, Rio Grande do Norte e Paraíba a leste, Pernambuco ao sul e Piauí a oeste. Sua área total é de 148 920,472 km², ou 9,37% da área do Nordeste e 1,74% da superfície do Brasil. A população do estado estimada para o ano de 2014 foi de 8 842 791 habitantes, conferindo ao território a oitava colocação entre as unidades federativas mais populosas. A Fundação Cearense de Meteorologia (FUNCEME) foi responsável por repassar a série de pluviosidade avaliada no período de 67 anos (período de 1947 – 2013) para o estudo e os dados de produção e produtividade em quilogramas por hectare foi fornecida pelo INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE) do mesmo período de 67 anos supracitado anteriormente. Os dados foram processados no software aplicativo Microsoft Office Excel, trabalhados para obter-se a correlação entre a pluviosidade e produção e também para a pluviosidade versus produtividade em quilogramas por hectare, para verificar qual a influência do índice de chuvas na cultura de arroz do estado. A correlação utilizada para verificar tal grau de importância e influência da chuva no determinado período foi a correlação de Pearson, que dita que haverá uma correlação positiva dessas variáveis estudadas se esse coeficiente obtido estiver entre 0 e 1. Mais próximo da unidade, em termos absolutos o coeficiente de Pearson, maior a correlação entre as variáveis envolvidas. Caso o sinal seja positivo a correlação será direta. Caso seja negativo, a correlação será inversa. Quanto mais próximo de zero for este coeficiente, menor o grau de relação linear entre as variáveis estudadas. Estima-se também o grau de resiliência associado à área colhida, produção e rendimento da cultura do arroz no Ceará entre os anos de 1974 e 2013. Constrói-se índices de resiliência. Para tanto se consideram os maiores valores observados de área colhida ou produção ou rendimento, iguais a 100 nos anos em que aconteceram. Os demais valores são ajustados proporcionalmente. Quanto menor o valor associado a um determinado ano, menor a resiliência daquele ano em relação à variável estudada. E esta menor resiliência estará, provavelmente associada à deficiência hídrica. RESULTADOS E DISCUSSÃO Na Tabela 1 temos destacados 3 anos, onde dois representam máximo e mínimo e um outro valor, que foi o segundo maior ano em produção, que foi posto aqui para termos uma comparação. Notaremos que os seguintes valores observados reforçam a tese que , quanto melhor o índice de pluviosidade, melhor será a produção. Nela vemos detalhada o ano o qual teve um melhor índice de produção, a pluviosidade naquele determinado ano e também a que ponto a pluviosidade influenciou na produção, fator que chamamos aqui de resiliência. Tabela 1: Valores Extremos de produção e resiliência e um terceiro valor para comparação. Ano 1995 1994 1958 Produção (t) 197920 194572 8518 Resiliência (%) 100 98,3 4,3 Pluviosidade (mm) 1067,1 1156,1 309,1 Fonte: IBGE, Pesquisas Agrícolas Municipais, disponível emhttp://www.ibge.gov.br/home/estatistica/pesquisas/pesquisa_resultados.php?id_pesquisa=44 O ano de 1995 foi o ano com maior produção de arroz observado, então seu valor de resiliência é de 100%. Observa-se que o segundo valor no ano de 1994 teve um valor bem próximo de resiliência e de produção, se comparado com o ano de 1995. Ambos os anos possuem um índice de elevada pluviosidade observados (maiores que a média do estado, que é de cerca 800mm segundo a FUNCEME). Notamos que o 3° valor encontrado, no ano de 1958, é o ano onde ocorreu a pior produção observada na série, logo seu valor de índice de resiliência foi bem pequeno, se comparado com o ano de 1995. Nesse mesmo ano de 1958 observamos um valor de pluviosidade muito baixo se comparado com os outros valores da tabela e também, comparado com os outros valores da série de 67 anos analisada. É o valor mais baixo de pluviosidade da série. Na Tabela 2 estão os índices de correlação da pluviosidade com a produção e da pluviosidade com a produtividade, além da média da produção, da pluviosidade e da resiliência. Média da pluviosidade Média da Produção Média das Resiliências Correlação chuva/produção Correlação produtividade/chuva 872,5 81939,6 41,4 0,5 0,4 Fonte: IBGE, Pesquisas Agrícolas Municipais, disponível http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/pesquisas/pesquisa_resultados.php?id_pesquisa=44 em Dentre todos os valores observados constata-se primeiro as duas correlações acima. Segundo a correlação de Pearson, um valor encontrado entre 0,3 e 0,6 é considerado um valor moderado, ou seja, nos valores de correlação encontrados, considerados moderados dentro do modelo de Pearson, a pluviosidade exerce papel importante na influência da produção e produtividade do arroz, porém não é o único a ser observado, já que outras variáveis também devem ser observadas para o cultivo de determinada cultura (como os nutrientes disponíveis no solo, adubação e correção necessárias ao solo dentre outras). CONCLUSÕES Após os dados analisados e processados, podemos inferir que a chuva tem importante papel no desenvolvimento das culturas de sequeiro e o quão as culturas são vulneráveis àquela (ou a sua falta). Um maior índice de pluviosidade na região é um dos fatores indicativos de um alto índice de produção e produtividade, visto os dois valores encontrados na correlação, confirmando a importância das chuvas na região para um adequado desenvolvimento das culturas, no caso específico deste trabalho, da cultura do arroz. REFERÊNCIAS Menezes, Edith Oliveira. Seca no Nordeste - desafios e soluções, Editora Atual Neves, Frederico de Castro, Seca - História e Cotidiano, Editora Demócrito Rocha Suassuna, João, Semi-árido: proposta de convivência com a seca, Fundação Joaquim Nabuco Agência Mestre, Sustentabilidade da agricultura no semi-árido. Disponível em http://www.atitudessustentaveis.com.br/artigos/sustentabilidade-agricultura-semi-arido. Acesso em 29 de julho de 2015. Lemos, J.J.S. Pobreza e vulnerabilidades no Nordeste e no Semiárido brasileiro. Fortaleza. Universidade Federal do Ceará. Tese para a obtenção do título de Professor Titular. 2015. Pereira, J.J de S. Nova delimitação do semi-árido brasileiro, 2005.