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Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016
VI Enebio e VIII Erebio Regional 3
ATUAÇÃO DOS ESPAÇOS NÃO FORMAIS NA DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA
Eliege Batista dos Santos (Universidade Estadual de Santa Cruz – UESC)
Miríades Augusto da Silva (Departamento de Ciências Biológicas – UESC)
RESUMO
Este trabalho consiste em uma pesquisa Qualitativa, com o objetivo de avaliar o que vem
acontecendo no cenário da educação não formal e seu papel como promotor da divulgação
científica, para isso, analisamos publicações de dois eventos, o Encontro Nacional de
Pesquisa em Educação em Ciências (ENPEC) e o Encontro Nacional de Ensino de Biologia
(ENEBIO). Há a necessidade da valorização da divulgação científica, bem como a
necessidade de rever aspectos cruciais para alcançar sua finalidade, observando-se os métodos
adotados em termos de linguagem e interatividade, além de se buscar estratégias para alcançar
o público da comunidade em geral, e não apenas no público escolar.
Palavras-chave: Espaço não formal. Divulgação científica. Enebio. Enpec.
INTRODUÇÃO:
O interesse crescente pela Ciência revela a importância dos espaços de educação não
formal como museus de Ciência e Tecnologia, parques zoobotânicos, por suas características
educacionais, motivacionais e lúdicas. Nos últimos dez anos, observa-se a ampliação da
produção científica brasileira e sua projeção no cenário internacional. Esta realidade vem se
refletindo na formulação de políticas públicas nacionais para a área de CT, com importantes
reflexos na academia e no setor privado, embora em menor grau. No âmbito da formação da
cultura científica, verifica-se, porém, um real, mas tímido crescimento de iniciativas de
instituições não formais dinâmicas, com o intuito de atrair e despertar o interesse da CT na
sociedade, em especial, crianças e adolescentes.
A divulgação científica é discutida por vários autores entre estes (ALBAGLI, 1996;
ZANCAN, 2000; MASSARANI, 1998), detalhando-se sua construção histórica, suas
motivações, suas metodologias, o papel dos sujeitos envolvidos nesse contexto, a que passo
ocorre sua evolução, todos os instrumentos vinculados a sua efetividade e resultados que tem
gerado. Munidos dos olhares de pesquisadores da área, buscamos aqui tentar perceber o que
vem sendo produzido nesse meio.
Nosso universo de análise delimita-se a eventos anuais de alcance nacional, o
Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências (ENPEC) e o Encontro Nacional de
Ensino de Biologia (ENEBIO) onde se reúne o público envolvido nesse contexto. Dessa
forma, elegemos como objetivos: Caracterizar os espaços não formais abordados nos artigos,
quanto aos objetivos, às atividades desenvolvidas, às temáticas e o público alvo. Relacionar as
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atividades desenvolvidas nos espaços não formais com os objetivos da divulgação científica.
Analisar as relações entre espaço não formal e a percepção do público alvo.
Divulgação Científica
Segundo Moreira e Massarani (2002), a divulgação científica no Brasil tem pelo
menos dois séculos de história. Nas duas últimas décadas, tem ocorrido uma expansão
significativa de ações visando à criação de centros e museus de ciência; surgimento de novas
revistas e websites; maior cobertura de jornais sobre temas de ciência; publicação crescente de
livros; organização de conferências populares e outros eventos que despertam interesse em
audiências diversificadas por todo o país.
As motivações de hoje para a popularização da C&T ocupam todo um espectro: elas
vão da prosperidade nacional ao reconhecimento do saber científico como parte integrante da
cultura humana, passando pelo seu significado para o exercício cidadania, por razões de
desempenho econômico e pelas questões de decisão pessoal (MOREIRA; MASSARANI,
2002).
Para Moreira (2008), a divulgação científica ganhou nova atribuição devido ao
processo de extrema especialização nos campos científicos: é necessário divulgar a ciência
entre os próprios cientistas e técnicos. Mais recentemente, novas perspectivas começaram a
ser delineadas a partir de experiências e reflexões na interface ciência-sociedade.
Outro avanço, para Moreira (2008), foi representado pela elaboração de proposta
inicial para uma abrangente política pública de popularização da C&T. Ela foi apresentada e
discutida na III Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, em 2005. A
Associação Brasileira de Centros e Museus de Ciência produziu documento similar. Entre os
objetivos centrais de uma política de popularização da C&T devem constar contribuições para
melhorar e viabilizar a atualização/modernização do ensino das ciências em todos os níveis de
ensino, com ênfase nas ações e atividades que valorizem e estimulem a criatividade, a
experimentação e a interdisciplinaridade.
É imprescindível trazer as definições atribuídas a divulgação científica que nos
possibilitará analisar suas interfaces diante das aplicações práticas discutidas nesse trabalho.
Para Loureiro (2003), a divulgação científica constitui-se no emprego de técnicas de
recodificação de linguagem da científica e tecnológica objetivando atingir o público geral e
utilizando diferentes meios de comunicação de massa.
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Para Massarani (1998):
A divulgação científica pressupõe a busca de uma linguagem devidamente acessível
– em oposição aos jargões e às fórmulas frequentes na linguagem científica e em
geral restritos aos especialistas de determinada área de pesquisa – sem prejuízo das
correções das informações.
Albagli (1996), o uso de processos e recursos técnicos para comunicação da
informação científica e tecnológica ao público em geral. Bragança Gil e Lourenço (1999)
consideram a perspectiva cultural dos espaços de divulgação e quanto ao seu objetivo que não
pretende substituir o aprendizado sistemático, mas servir como instrumento motivador e
pedagógico podendo complementar as práticas escolares.
Para Marandino (2004), o processo de divulgar ciência implica uma transformação da
linguagem científica com vistas a sua compreensão pelo público, no entanto, acrescenta que
as questões que envolvem a divulgação não se restringem a este tema, mas dizem respeito
também a problemáticas relacionadas ao “porque” e ao “como” divulgar.
A divulgação científica pode estar orientada segundo Albagli (1996), para diferentes
objetivos, tais como: Educacional: A ampliação do conhecimento e da compreensão do
público leigo a respeito do processo científico e sua lógica. Cívico: O desenvolvimento de
uma opinião pública informada sobre os impactos do desenvolvimento científico e
tecnológico sobre a sociedade Mobilização popular: A ampliação da possibilidade e da
qualidade de participação da sociedade na formulação de políticas públicas e na escolha de
opções tecnológicas. Trata-se de transmitir informação científica que instrumentalize os atores
a intervir melhor no processo decisório.
Espaço não formal
A educação não-formal tem adquirido, nos últimos anos, uma maior visibilidade a
partir das práticas pedagógicas que tem desenvolvido, principalmente na área social,
contemplando questões as mais variadas como arte, cultura, saúde e meio ambiente
(BARZANNO, 2008).
Conforme Barzanno (2008), no Brasil, as experiências educativas em espaços nãoformais emergiram na década de 1970, mesclados com a educação popular e os movimentos
populares que, à época, não possuíam prestígio acadêmico.
Segundo Barzanno (2008), na área de educação em ciências e biologia, a educação
não-formal foi ausente nas dissertações e teses analisadas entre os períodos de 1972 a 2000
(SLONGO e DELIZOICOV, 2005) e apareceu com apenas três trabalhos, na análise feita por
Teixeira e Megid-Neto (2006) que abrangeu o período de 1972 a 2003. A partir de 2003, as
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pesquisas nessa área aumentaram principalmente envolvendo atividades em museus e em
outros espaços.
Jacobucci (2008) pondera não ser tão simples definir apenas que espaço não formal
seja qualquer outro diferente da escola, onde aconteçam ações educativas devido à infinidade
de lugares não escolares, todavia sintetiza tratando os espaços não formais como aqueles que
relacionam-se com Instituições cujo a função básica não seja a Educação Formal e com
lugares não institucionalizados.
Quanto ao espaço não formal, Gohn (2006, p.29) afirma que “[...] espaços educativos
localizam-se em territórios que acompanham as trajetórias de vida dos grupos e indivíduos,
fora da escola [...]” .
Entende-se que a utilização e a interação com ambientes de divulgação científica como
museus, zoológicos, jardins botânicos, feiras e exposições, planetários e unidades de
conservação dispõe de um enorme potencial a ser explorado que possibilita consolidação dos
conhecimentos ao permitir uma contextualização, aplicação e associação de conceitos
anteriormente já aprendidos com as informações novas reduzindo a abstração e permitindo
maior compreensão (OLIVEIRA e GASTAL 2009).
Para Vieira; Bianconi e Dias (2005), a educação, enquanto forma de ensinoaprendizagem, é adquirida ao longo da vida dos cidadãos.
Segundo Gohn (2006), diversos resultados poderão ser alcançados por meio da
educação não formal, que também pode ser complementar a educação formal via articulação.
Dentre esses resultados ela cita a construção e reconstrução de concepções de mundo e sobre
o mundo, resgata o sentimento de valorização em si próprio e a aquisição de conhecimentos
de sua própria prática.
METODOLOGIA
O presente trabalho se propõe a realizar uma pesquisa Qualitativa de cunho
bibliográfico, segundo Sá-Silva, Almeida e Guindani (2009).
O material, para análise foi extraído do Encontro Nacional de Pesquisa em Educação
em Ciências (ENPEC) e o Encontro Nacional de Ensino de Biologia (ENEBIO),
considerando-se os últimos quatro anos de sua realização. São eventos bienais, assim as
buscas foram feitas nas publicações das edições do ENPEC 2011 e 2013 e do ENEBIO 2012 e
2014 através das atas e revistas disponíveis nos sites dos eventos ou das organizações
responsáveis, a Associação Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências idealizadora do
ENPEC e a Associação Brasileira de Ensino de Biologia idealizadora do ENEBIO.
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Foram utilizados descritores (ensino de ciências, divulgação científica e espaço não formal) e
selecionados, assim, 12 (doze) artigos.
Quadro 1. Artigos selecionados para análise dos eventos nacionais ENPEC e ENEBIO
Nº
ARTIGO
EVENTO
1
A Educação através de Espaços não formais de Ensino de Ciências em Teresina – PI
ENEBIO 2012
Autores: MARINHO, A, M. L.; SANTOS, A. C.; MINEIRO, A. E. S.; LIMA, J. D.
C. C.; FERREIRA, M. R.; LIMA, R.
2
3
A Exposição Conhecer para Preservar como Espaço de Aproximação da
Universidade e da Escola de Educação Básica
Autores: ALLEGRETTI, L. T.; CADONÁ, E. A.; BEUTER, S. B.
Relações Discursivas nos Museus de Ciências
ENEBIO 2012
ENEBIO 2014
Autores: LEITÃO, A. B.; TEIXEIRA, F. M.
4
Ciência, Tecnologia e Sociedade em uma Exposição Científica Internacional: O
“Túnel da Ciência 3.0” no Brasil
ENEBIO 2014
Autores: CERQUEIRA, B. R. S.; GENOVA, J. G.; BIZERRA, A. F.
5
Formando Jovens Divulgadores da Ciência, Ações de Alfabetização Científica e
Divulgação Científica
ENEBIO 2014
Autores: ISZLAJI, C.; NOVO, J. Q.; MARTINS, L. C.; MARANDINO, M.
6
Avaliação do Impacto de Visitas e Palestras de Divulgação Científica em alunos do
ensino médio visitantes ao campus da Universidade de Brasília
ENPEC 2011
Autores: GOMES, V. B.; SILVA, L. L.; SILVA, R. R.; MACHADO, P. F. L.
7
A Parceria entre um Centro de Ciências e uma Escola Pública e sua implicação no
processo de ensino aprendizagem de ciências
ENEBIO 2014
Autores: PERTICARRARI, A.; TRIGO, F. R; BARBIERI, M. R.
8
Trabalho Integrado entre Museu e Escola: a contribuição do Museu Cata Vento
Cultural de São Paulo para o Ensino de Ciências
ENEBIO 2012
Autores: LOZADA, A. O.; SCARPA, D. L.; CAMPOS, M. A. G. C
9
O Planetário como Espaço de Aprendizagem
ENEBIO 2012
Autores: SILVA, L. A.; ROCHA, J. L.; ARRUDA, K. M., SHUVARTZ, M.; SANT
OS, J. B.
10
Análise do Potencial Pedagógico da Exposição Revolução Genômica como Espaço
não formal de Ensino de Biologia
ENPEC 2013
Autores: TRAZZI, P. S. S.; CALHAU, M.; MORATI, L.; JUNIOR, R. A. S.;
PAGEL, U.; FERRACIOLI, L.
11
A Vivência no Museu de Ciências sob a perspectiva do Modelo Contextual de
Aprendizagem: um estudo de caso
ENPEC 2013
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Nº
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ARTIGO
EVENTO
Autores: SOUZA, V. M.; SILVA, A. M. M.; RAMOS, M. G.
12
Educação em espaços não formais: Uma proposta didática para o Ensino de Ciências
ENPEC 2013
Autores: TANAKA, A. L. D.; RAMOS, R. A.; ANIC, C. C.
Fonte: Pesquisa das autoras.
Para análise dos dados optamos pela análise textual discursiva (Moraes; Galiazzi,
2005). Procedeu-se a análise com a observação das unidades recorrentes, destacando-se os
trechos dos textos que respaldassem às discussões.
Conceitos de Divulgação Científica
Embora os artigos analisados tratem da utilização e realização de atividades, eventos
e espaços não formais voltados a divulgação científica, a maioria desses trabalhos, os autores
não apresentam sua concepção sobre o tema, apesar de ser recorrente o uso do termo, além de
trazerem em seus textos termos que remetem finalidade da divulgação e suas práticas.
Podemos corroborar com os trechos presentes dos artigos 2:
Na ausência de um museu com estas características na região Noroeste, o Curso de Ciências
Biológicas [...] organizam anualmente uma exposição focada na divulgação do conhecimento
biológico e da divulgação científica (ALLEGRETTI, CADONÁ E BEUTER, 2012).
Os autores dos artigos que conceituam a divulgação científica, apesar de o fazerem
sucintamente, trazem elementos que vão de encontro aos seus objetivos, como o
empoderamento cultural, socialização do conhecimento e o alcance de uma maior população
por meio de uma linguagem adequada.
Importância da divulgação científica
A divulgação científica motiva e reconstrói do conhecimento, o que indica haver um
consenso entre os autores dos trabalhos analisados quanto a esse aspecto. Tais resultados
deixa claro uma consciência dos autores dos artigos analisados acerca dos efeitos que podem
ter a prática da divulgação. Os demais dados são altamente valiosos, e relacionados à
necessidade em transformar algumas visões como a desmistificação de visões errôneas da
ciência, que se implantaram ao logo da história em detrimento de ações de divulgação
equivocadas, conforme em Moreira e Massarani (2002).
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Público dos espaços não formais
É comum a presença do público escolar nos espaços não formais, no entanto, o que
chama atenção aqui é sua predominância nestes espaços quando se destinam a um público
geral, ou seja, os espaços não formais são pouco explorados pela população. É preciso
esclarecer que este dado origina-se especificamente do público envolvido nos projetos a que
se referem os artigos analisados, tendo em algum momento seu foco voltado para educação,
no entanto, apesar de não darem espaço a estudos considerando diretamente à comunidade,
esses autores demonstram-se cientes que a atribuições da divulgação científica vão além do
complemento à educação formal, de modo que está voltada pra formação do cidadão em
geral, visão explícita nas falas em destaque, extraídas do artigo 3:
Estes, como espaços não formais de aprendizagem, são responsáveis pela divulgação
científica, podendo contribuir para a inserção dos cidadãos na sociedade atual, na medida
em que possibilitam a seus diversos públicos um entretenimento histórico da evolução do
conhecimento, e permite-lhes interagir com o que há de mais atual no campo da ciência
(LEITÃO e TEIXEIRA, 2014, p. 716).
Segundo Silva, Arouca e Guimaraes (2002), parece que os espaços não formais
organizam as suas exposições para receber o público escolar, contrariamente a esse
pensamento, defendem que ao expor determinado conhecimento científico, os espaços não
formais devem fornecer um mínimo de informações e de conceitos básicos que estão na
história da formação desse conhecimento e que lhe são prévios.
Espaços não formais visitados
Os museus são os espaços mais visitados segundo a amostragem a que se refere o
presente trabalho. Silva, Arouca e Guimaraes (2002), Marandino (2005), Barzanno (2008)
demonstraram nas suas pesquisas a tendência histórica desses espaços na divulgação
científica.
[...] conforme foi observado em uma análise preliminar que realizei nos Anais dos
Encontros Nacional e Regionais de Ensino de Biologia, promovidos pela Sociedade
Brasileira de Ensino de Biologia (SELLES et al, 2001 e 2003; BARZANO, 2003 e
AYRES et al, 2005). Nesses documentos, constatei que há uma predominância de
pesquisas que envolvem a educação não-formal que acontece em museus de
ciências. BARZANNO, 2008, p. 1).
Outros espaços foram somando-se a atividades de divulgação científica como
planetários, parques zoobotânicos, etc..
Refletindo-se quanto a suas funções, compreende-se que estes não se destinam a esse
fim, não possuem estrutura e organização montadas para promoção da divulgação científica,
pois, como defende Gohn (2006), nos locais de divulgação existem processos interativos
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intencionais segundo diretrizes de um grupo, ou seja, uma equipe especializada para receber e
conduzir visitantes.
Áreas dos conteúdos abordados nos espaços não formais
Os dados aqui registrados reflete a diversidade de conteúdos que podem ser
trabalhados nos espaços não formais, devido à variedade de sítios encontrados em um mesmo
museu ou centro de ciências. Toda riqueza do espaço de fato deve ser explorada, até pela
escassez de oportunidades em realizar a visitação com alunos de escolas, por exemplo, porém
é preciso atentar para um foco principal, determinado pelos conteúdos teóricos trabalhados
durante uma unidade quando se trata de alunos, o que exige um planejamento por parte da
escola, que contemple ao menos uma discussão sobre os temas antes ou depois da visitação,
pois o papel de dar sentido aos conhecimentos expostos no ambiente explorado também é do
professor, como retratam os autores do artigo 7:
Entretanto, as visitas a esses locais ainda é prática ocasional nas escolas [ ] e quando o fazem é sem
nenhum planejamento, não havendo desdobramentos na sal antes ou depois da atividade
(PERTICARRARI, TRIGO e BARBIERI, 2014).
Os conteúdos de exposições devem, sempre que possível, remeter-se à dimensão atual
dos temas abordados, fornecendo informações claras e não-tendenciosas, para que o visitante
possa formar suas opiniões quanto às questões éticas, políticas, econômicas e sociais geradas
pelo conhecimento científico, o que nos remete aos objetivos da CTSA, conforme Fagundes,
Piccini, Lamarque e Terrazzan (2009).
Metodologias
A monitoria e a elaboração de atividades a serem executadas foram as formas de
abordagem das temáticas nos espaços não formais e, nos fazem retomar o tema da
comunicação como item fundamental para que a divulgação científica aconteça, para que ela
chegue ao seu público de forma clara e estimulante. A linguagem é uma ferramenta
primordial, necessária a para divulgação científica, se constituindo em um dos principais
métodos de comunicação nos estabelecimentos voltados a essa prática, como já mencionamos
ao citar Albagli (1996), a qual reflete ainda sobre os métodos interativos que apesar de
motivarem o público necessitam de referência teórica que lhes dê significado.
O entendimento de alguns autores dos trabalhos objeto de estudo quanto a influência
do discurso que predomina nos espaços não formais é notório em suas falas, destacadas do
artigo 3:.
Apesar de o técnico ter se colocado a disposição para responder a dúvidas, a maioria dos alunos não
se manifestava. O fato nos provocou uma inquietação, pois, isso poderia ser vencido se fossem
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introduzidos questionamentos, priorizando debates, ou seja, se a apresentação fosse mais dialógica
(GOMES et. al, 2011).
Analisando-se a última fala, fica claro que atributo da linguagem é negligenciado, em
detrimento do despreparo do responsável em conduzir a visitação, o que para outros espaços
poderá ser um diferencial, pois a figura do monitor que irá assegurar a conversão da
linguagem científica para uma linguagem mais acessível como é inerente à divulgação
científica.
Segundo Silva, Arouca e Guimaraes (2002), os conhecimentos expostos devem ser
reunidos num todo coerente, sem explicações exaustivas, mas definindo claramente as causas,
relações e determinações pertinentes ao fenômeno abordado, de forma a permitir aos
visitantes uma compreensão não-fragmentada e simplista dos temas expostos. Para Marandino
(2005), com relação às especificidades pedagógicas, a questão da brevidade do tempo é no
museu, apesar do tempo também ser essencial para as estratégias de comunicação, “ele é
muito breve se considerarmos os minutos que cada visitante concede a um objeto, a um tema,
durante uma visita que poderá ser a única de sua vida” (p. 1).
Atividades realizadas
A visitação e explanação dos temas, debate interativo e a participação em
experimentos, são as práticas mais comuns nos espaços de divulgação. Isso pode refletir um
esforço dos espaços não formais em aproximar o público para que facilite o entendimento da
temática abordada.
Silva, Arouca e Guimaraes (2002, p 159) enfatizam que
[...] a experimentação e a comunicação ativa dos usuários com os objetos técnicos
ou objetos de experiência, e não a simples contemplação, predominante na
concepção arcaica de exposições. Essa proposição envolve dois aspectos que devem
ser realizados: em primeiro lugar, a concepção museográfica e a relação com o
público devem ser estruturadas para permitir que os visitantes sejam atores ativos
capazes de interagir com a exposição.
Os cuidados com as atividades de explanação, em atividades interativas pelos espaços
não formais duas últimas décadas têm sido uma prioridade no sentido de atender as exigências
principalmente do público jovem, conforme Moreira (2002) e Barzanno (2008).
Percepções do público-alvo
O público avaliou como importante, ao visitar o espaço não formal, a
contextualização didática dos conteúdos, nos trazendo mais uma evidência do mérito da
divulgação científica, referindo-se à associação da teoria e da prática consolidada pela
linguagem apropriada para assimilação do público, principalmente daqueles que lidam com o
público visitante, que são os monitores. Porém, reflete a importância dos espaços não formais
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como complemento no entendimento de conteúdos que a escola por diversos motivos não
possibilita.
O sentimento de gratificação e valorização manifesta-se em apenas um dos artigos
analisados e baseando-me em toda literatura consultada não percebo ser um aspecto muito
difundido quando se trata do ensino de ciências, porém, o autor que faz referência a esse
resultado, alcançado na atividade que avaliou, cita Marandino (2006, p. 100) que afirma que
“[...] hoje é cada vez mais presente à preocupação tanto com impactos afetivos e emocionais
quanto com a produção de sentido e a construção do conhecimento” (MARANDINO apud
SOUZA, SILVA e RAMOS, 2013).
Segundo Massarani, Moreira e Brito (2002), frequentemente, a divulgação científica
é vista e praticada ou como uma atividade voltada, sobretudo para o marketing científico de
instituições, grupos e indivíduos ou como uma empreitada missionária de “alfabetização” de
um público encarado como um receptáculo desprovido de conteúdo. Entre os desafios
permanentes, estão à análise do papel, dos rumos, das estratégias e das práticas da divulgação
científica e o entendimento das relações entre ciência e público e da inserção cultural da
ciência.
CONSIDERAÇÕES
É nítido que os espaços não formais cumprem seus objetivos em virtude das propostas
da divulgação científica, no entanto, os divulgadores estão passíveis de cometer erros para os
quais precisam estar atentos a fim de corrigi-los e continuar a contribuir com a difusão do
conhecimento científico.
Constatamos a importância de ouvir o público que é atendido nos espaços não
formais e estes buscarem implementar estratégias que permitam contornar as deficiências do
trabalho realizado.
É preciso repensar as estratégias voltadas para divulgação científica, quando
problemas como os apontados na última categoria de análise mostram uma atitude incompleta
por parte de divulgadores, espaços não formais e até dos professores, que na tentativa de
proporcionar uma aula diferente para o seu aluno, falham em seu papel de consolidar e dar
significado ao que está sendo apresentado ao mesmo.
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SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia
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