Esclarecimento sobre alguns grupos de oração Na diocese de Leiria-­‐Fátima, além das associações de fiéis, dos movimentos de espiritualidade e apostolado e dos grupos paroquiais, têm surgido recentemente, em vários lugares, grupos de oração inspirados em diversas correntes de espiritualidade e de piedade, por vezes mariana e fatimita. Resultam da iniciativa de fiéis leigos, reúnem-­‐se normalmente em casas particulares, sem se confundirem com os da leitura orante da palavra de Deus impulsionados pelo bispo diocesano. Tais grupos proporcionam a prática da oração e o desenvolvimento da vida espiritual, o que é motivo de louvor a Deus e de alegria para a Igreja. Entretanto, chegaram ao bispo diocesano notícias de que, em alguns desses grupos, havia pessoas perturbadas por causa de mensagens amedrontadoras ou conselhos pouco sensatos para os comportamentos pessoais. Em alguns deles circulam mensagens de videntes e de pretensas aparições da Virgem Maria, cujas mensagens, por vezes de teor apocalíptico a prever o fim do mundo, não merecem a adesão de cristãos com bom senso e recta formação na fé, pois contribuem mais para gerar medo e angústia nos corações de que para uma sadia prática da devoção religiosa e crescimento da vida espiritual. Em ordem a que tais grupos de oração sejam realmente espaços saudáveis de relação com Deus e de sã devoção à Virgem Maria e para esclarecimento das pessoas de boa fé, de modo a não se deixarem enganar, faço as seguintes recomendações: 1. É louvável que os fiéis leigos tomem iniciativas para constituir grupos de oração. Muito se recomenda, todavia, que dêem conhecimento deles aos respectivos párocos para que possam, assim, receber o seu acompanhamento espiritual e a sua ajuda fraterna de pastores. Os animadores procurem adquirir uma formação adequada a fim de se tornarem mais competentes para ajudarem os irmãos e fazerem oração com maior proveito. Na adesão a tais grupos, os fiéis católicos procurem informar-­‐se sobre os mesmos e se têm a aprovação por parte dos pastores da Igreja, nomeadamente do pároco local. Os pastores, por seu lado, procurem avaliar as iniciativas dos leigos, reconheçam o que é bom, acolham-­‐no e dêem aos fiéis esclarecimentos e apoios oportunos. 2. Na prática da oração, tenham-­‐se em conta os ensinamentos de Jesus que adverte para não se usarem de vãs repetições e não se pensar que, por muito falar, se é atendido (cf Mt 6, 5-­‐15). O modelo da oração do cristão é o “Pai nosso”, quer no conteúdo quer na atitude, como ensina o Catecismo da Igreja Católica. É verdade que há vários modos de fazer oração, mas nem todas têm o mesmo valor. Prefira-­‐se as que se baseiam na palavra de Deus e as que são aprovadas pela Igreja, em vez das que resultam de visões ou aparições privadas não confirmadas pelos pastores da Igreja. 3. Perante mensagens que anunciam o fim do mundo e castigos para breve, os fiéis católicos não se deixem amedrontar. Jesus exortou os seus discípulos a não terem medo. E, sobre o fim do mundo, disse-­‐lhes que tivessem cuidado para que ninguém os desencaminhasse nem enganasse, porque viriam muitos em seu nome que haveriam de enganar muita gente, “mas aquele que se mantivesse firme até ao fim seria salvo”. E acrescenta: “Quanto àquele dia e àquela hora, ninguém o sabe: nem os anjos do Céu, nem o Filho, só o Pai” (ver Mt 24, 3-­‐36). Portanto quem pretende ter recebido uma visão a indicar o fim do mundo para breve ou indicando uma data está a inventar isso por sua cabeça e a mentir. 4. Também S. Paulo recomendou aos cristãos de Tessalónica que examinassem as profecias e retivessem somente o que fosse bom ( 1 Tes 5,20-­‐22). É que já no seu tempo, particularmente na comunidade de Tessalónica, havia quem difundisse mensagens amedrontadoras, usando por vezes abusivamente o nome de um apóstolo. Paulo aconselha: “Não vos aterrorizeis com uma revelação profética, uma palavra ou uma carta atribuída a nós, como se o dia do Senhor estivesse eminente” (2 Tes. 2,2). Hoje, há quem use o nome de Nossa Senhora ou o seu Imaculado Coração para divulgar esse tipo de mensagens. É preciso não se deixar enganar. O critério para avaliar se uma mensagem, venha ela de onde vier, pode ser tida por verdadeira é a sua conformidade com o Evangelho de Jesus Cristo e a doutrina cristã. 5. Tenham os fiéis algum cuidado quando se lhe pede dinheiro nos grupos de oração. Não dêem quando as finalidades não são claramente indicadas ou não há uma certeza fundada de que o mesmo será bem utilizado. Há quem se aproveite da generosidade dos outros. 6. Para evitar deixar-­‐se enganar, recomenda-­‐se aos fiéis católicos que cuidem da sua própria formação na fé, quer pela leitura e estudo pessoal quer frequentando as iniciativas paroquiais ou mesmo a Escola diocesana “Razões da Esperança” e o Centro de Formação e Cultura; e quaisquer acções de formação proporcionadas na Igreja. Leiria, 19 de Julho de 2011 P. Jorge Manuel Faria Guarda, Vigário Geral Refª: VG2011B-­‐003