Baixa Visão e Frações - Jornada das Licenciaturas

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V Jornada das Licenciaturas da USP/IX Semana da Licenciatura em Ciências Exatas - SeLic: A
Universidade Pública na Formação de Professores: ensino, pesquisa e extensão. São Carlos, 23 e
24 de outubro de 2014. ISBN: 978-85-87837-25-7.
Baixa Visão e Frações: aprendendo por meio de materiais
manipulativos
Graziele Bombonato Delgado
Orientador(a): Prof. Dra. Miriam Cardoso Utsumi
Universidade de São Paulo – Instituto de Ciências Matemáticas e Computação (ICMC)
Eixo2: Ciências Exatas e da Terra
RESUMO
Esse trabalho foi realizado em uma Sala de Recursos para Deficientes Visuais de
uma escola da rede estadual de ensino de uma cidade do interior de São Paulo. As
atividades foram desenvolvidas em 4 horas-aula com um aluno que possuía 20% de
acuidade visual e tinham por objetivo introduzir o conceito de frações a partir da sua
representação geométrica. Foram elaborados dois jogos adaptados. Como avaliação das
atividades realizadas, foi proposto um ditado para que o aluno transcrevesse a fração na
sua forma numérica sem precisar de nenhum material de apoio, apenas lápis e papel.
Foram ditadas 20 frações, irredutíveis ou com números inteiros, e o aluno não cometeu erro
algum. Considero que foi interessante desenvolver essa atividade e ter contato com esse
aluno, pois a partir disso pude perceber o quanto um simples gesto faz diferença no
aprendizado de um aluno que precisa de uma maior atenção.
INTRODUÇÃO
Deficiência visual é uma redução da acuidade visual central ou uma perda subtotal
do campo visual, devida a um processo patológico ocular ou cerebral (BARRAGA, como
citado por Pereira, 2011). Segundo esse autor, há algumas classificações que especificam o
nível da deficiência para que nós possamos compreender a acuidade visual: cego (possui
percepção de luz ou é totalmente desprovido de visão); baixa visão (sua visão a longas
distâncias é limitada) e visão reduzida (possui um pouco de limitação no campo visual,
dependendo do movimento e da luminosidade).
De acordo com Espinosa e Ochaíta (2004), a ausência parcial ou total da visão faz
com que haja a necessidade de se usar outros sentidos sensoriais para perceber o mundo
ao redor, sendo que o tato é um dos principais meios de exploração para esses deficientes.
Partindo do referencial teórico sobre os registros de representação semiótica de
Duval (2003) que ressalta a importância do ensino dos diversos tipos de registro para que o
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aluno compreenda um conceito em sua totalidade, buscamos trabalhar o registro do
conceito de fração na língua natural e no sistema de escritas, realizando conversões entre
os diferentes registros e também o tratamento entre os registros de representação numérica
e representação geométrica.
O objetivo principal das atividades desenvolvidas era que o aluno conseguisse
relacionar uma fração na forma numérica com sua representação geométrica, ou seja, que
ele conseguisse abstrair o conceito de frações, assim como o significado de cada número no
numerador e denominador a partir da representação geométrica das frações.
Desta forma foram confeccionados materiais manipulativos adaptados para a
necessidade do aluno, para que ele fosse estimulado e participasse das atividades com
mais interesse e compreensão.
MATERIAIS E MÉTODOS OU DESENVOLVIMENTO
.
Inicialmente, o aluno foi observado por 2 horas-aula e a professora da sala de
recursos informou que a maior dificuldade do mesmo era com a escrita e a leitura. Tentamos
contatar a professora de matemática da sala regular do aluno a fim de conhecer qual
conteúdo estava sendo trabalhado ou se o aluno tinha alguma dificuldade em um conteúdo
específico de Matemática, mas a professora não respondeu. Por essa razão, o próprio aluno
declarou ter muita dificuldade com o conceito de frações.
Foram elaborados dois jogos em duas versões (para alunos sem e com baixa
acuidade visual): o Quebra-Cabeça das Frações e o Jogo da Memória das Frações1, com
materiais ampliados para se adaptar às necessidades do aluno.
As aulas foram aplicadas da seguinte maneira: a) Aplicação do jogo Quebra-Cabeça
das Frações; b) Aplicação do jogo Quebra-Cabeça das Frações e uma atividade escrita; c)
Aplicação do Jogo da Memória das Frações; d) Avaliação.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Antes da aplicação do jogo, na Aula 1, mostrei ao aluno algumas peças presentes no
jogo para diferenciar a representação da fração 1 inteiro, ½, 1/3 e assim por diante.
A aplicação do jogo Quebra-Cabeça das Frações tinha por objetivo introduzir o
conceito de fração por meio da sua representação geométrica. Primeiramente, mostrei ao
1
Baseado no Jogo da Memória das Frações disponível no LEM (Laboratório de Ensino de Matemática).
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aluno a representação geométrica da fração e pedi para que ele montasse a fração
correspondente ao desenho com as peças de números que ele tinha disponível. O
combinado era que as peças pretas eram os números do numerador e as verdes, do
denominador.
Fig. 1: Imagem do Jogo Quebra-Cabeça das Frações
Em seguida, foi proposto o contrário: mostrava ao aluno a fração na sua forma
numérica e pedia para que ele fizesse a representação geométrica.
O aluno respondeu bem às atividades propostas e acertou tudo o que foi pedido.
Durante a aplicação da atividade, também foi discutida a nomenclatura das frações: “um
meio”; “um terço”; “um quarto”; “um doze avos”, etc.
A professora da Sala de Recursos chamou a atenção de que o material estava bom,
mas era necessário averiguar se o aluno conseguia transcrever o que tinha aprendido.
Na Aula 2, retomamos o jogo para que o aluno se lembrasse dos conceitos
desenvolvidos anteriormente e foi pedido para que o aluno fizesse uma atividade escrita. A
atividade era composta por exercícios com o mesmo princípio do quebra-cabeça: o exercício
1 mostrava uma fração na forma numérica e pedia que o aluno pintasse sua representação
correspondente. O exercício 2 mostrava a representação geométrica da fração e pedia para
que o aluno escrevesse a sua representação numérica.
Nessa atividade também aproveitei para retomar a nomenclatura das frações,
pedindo para que o aluno lesse cada uma das frações contidas nos exercícios.
Fig. 2: Imagem das Atividades solicitadas
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O aluno não apresentou nenhuma dificuldade com a representação numérica e
geométrica das frações, mas tinha dificuldades em se lembrar da nomenclatura “um meio” e
“um terço”.
Na Aula 3 foi introduzido o conceito de frações com números inteiros como, por
exemplo, “2 inteiros e 1/3”. Para explicar tal conceito foi utilizado o material do QuebraCabeça das Frações para a representação geométrica desse tipo de frações. Também foi
pedido para que o aluno montasse algumas frações com o material a partir de um ditado.
A seguir, passamos para o Jogo da Memória. Foi pedido para que o aluno olhasse
todas as peças e falasse a fração representada em cada peça, tanto para as peças com a
fração representada numericamente, quanto para as com representação geométrica. Foi
explicado como o aluno deveria formar os pares do jogo e foi pedido para que, a cada peça
que ele virasse, que ele lesse a fração independente de encontrar o par correto ou não. Isso
fazia com que o aluno lembrasse a nomenclatura das frações e fizesse a relação com sua
representação numérica.
Fig. 3: Imagem do Jogo Memória das Frações com diferentes texturas
A aplicação do jogo também foi satisfatória e o aluno apresentou dificuldades apenas
com a nomenclatura das frações ½ e 1/3. O aluno era muito esperto, entendia rápido o que
era proposto e fazia as atividades com eficácia.
Na última aula optei por fazer uma avaliação mais prática e não formal, apenas para
averiguar se o aluno conseguiu abstrair os conceitos discutidos e se ele sabia representar a
fração numericamente, sem precisar da ajuda dos desenhos.
Foi proposto um ditado com 20 frações irredutíveis ou com números inteiros sem
apoio de material, apenas com lápis e papel. O aluno conseguiu acertar todas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Acredito que os conceitos discutidos foram bem elementares e introdutórios, o que
facilitou o meu trabalho e a assimilação dos conceitos por parte do aluno. Porém, acredito
que essa introdução foi primordial para que o aluno conseguisse dar continuidade ao
assunto, aprendendo a soma e subtração de frações, a multiplicação, etc., com eficiência.
A ideia inicial era que eu trabalhasse com a parte introdutória das representações e
outros licenciandos da disciplina de Ensino de Matemática para Alunos com Necessidades
Especiais trabalhassem a soma e subtração das frações de mesmo denominador e a
simplificação de frações.
Considero que foi muito interessante desenvolver essa atividade e ter contato com
esse aluno, pois a partir disso pude perceber o quanto um simples gesto faz diferença no
aprendizado de um aluno que precisa de uma maior atenção. Aprendi que devo ser clara
quanto ao que estou propondo e serena, para que o aluno confie em mim e não se sinta
envergonhado ao desenvolver as atividades.
REFERÊNCIAS
DUVAL, R. Registros de Representações Semióticas e Funcionamento Cognitivo da
Compreensão em Matemática. In: MACHADO, S. D. A. Aprendizagem em Matemática:
Registros de Representação Semiótica. Campinas, SP: Papirus, p. 11-34, 2003.
ESPINOSA, Maria A.; OCHAÍTA, Esperanza. Desenvolvimento e intervenção
educativa nas crianças cegas ou deficientes visuais. In: COLL, César; MARCHESI, Álvaro;
PALACIOS, Jesús (Org.). Desenvolvimento psicológico e educação: transtornos de
desenvolvimento e necessidades educativas especiais. Tradução de Fátima Murad. 2ed.
Porto Alegre: Artmed, v. 3, n. 8, p. 151-170, 2004.
PEREIRA, M. K. Ensino de Geometria para alunos com deficiência visual: análise de
uma proposta de ensino envolvendo o uso de materiais manipulativos e a expressão oral e
escrita. 2012. 186 f. Dissertação (Mestrado Profissional em Educação Matemática) –
Instituto de Ciências Exatas e Biológicas, Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto,
2012.
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