In Memoriam Edward Soja Luskin Public Affairs, UCLA, entrevista com Ed Soja em junho 2013 (imagens do filme de cerca de 4min) Um dos maiores teóricos urbanos dos nossos tempos, Edward Soja, explorou o poder interpretativo da espacialidade e questionou a primazia teórica da história em relação à geografia. A sua inesquecível trilogia em estudos urbanos é inspiradora para muitas gerações de geógrafos; Postmodern Geographies, Thirdspace e Postmetropolis abrem um debate sobre o poder interpretativo da geografia. Em junho de 2013 tive o privilégio de o entrevistar no seu gabinete localizado no edifício Luskin Public Affairs, UCLA. Recebeu-me descontraidamente, aceitou todos os meus desafios (inclusive o de se deixar gravar e filmar por mim para um curto comentário sobre a relação entre a geografia e o ordenamento do território) e expandiu todas as minhas questões. Nasceu no Bronx, NYC, onde viveu os primeiros anos da sua vida e, mais tarde, a sua carreira académica foi feita de ‘displacements and repositionings’, passando pelas universidades do Wisconsin-Madison, Syracuse, andou por África (ao abrigo do East African Studies Program), depois Northwestern até chegar à UCLA. Decidiu ser geógrafo desde cedo, afirmando um desejo compulsivo de saber tudo sobre as grandes cidades. No Wisconsin aborreceu-se com Hartshorne e sentiu necessidade de ir para ‘onde tudo estava a acontecer’, Syracuse. Ali conheceu D. Meinig e P. Gould, duas grandes inspirações na sua carreira. O apelo de África nasce também ali, onde conhece a sua companheira, e a sua dissertação de doutoramento seria sobre o Quénia. Será o convite de J. Friedmann para se juntar ao departamento de planeamento urbano da UCLA que o levará a desenvolver um trabalho de maior pendor teórico. Durante 2014 (e ainda parte de 2015) trabalhei no material da entrevista e mantive contacto com ele por email para que validasse a minha interpretação sobre a nossa conversa no ano anterior. Foi de uma generosidade inigualável. Raramente na minha vida profissional encontrei alguém que me desse tanto sem pedir nada em troca. O melhor que posso fazer por ele é tornar publica a entrevista que ficou pronta este verão e que aguarda publicação. A sua vida académica é uma inspiração, por ter valorizado o estímulo dos seus alunos no seu próprio pensamento e vice-versa, por ter sentido a liberdade de pensamento, precisamente por ter estado num departamento de planeamento (e não de geografia) para expandir a sua geografia crítica e por ter partilhado as suas ideias com todos nós. Como seu desaparecimento perde a UCLA, perdemos todos. Perdemos um pensador, mas poderemos usufruir eternamente do seu enorme legado científico. Edward Soja permanecerá certamente nas minhas memórias e será um estímulo para continuar a desafiar velhos tabus na ciência geográfica. 3 de novembro de 2015 Margarida Queirós