Oftalmologia - Vol. 36 Oftalmologia REVISTA DA SOCIEDADE PORTUGUESA DE OFTALMOLOGIA Publicação Trimestral | Vol. 36 | Outubro - Dezembro 2012 Editor José Henriques [email protected] Conselho Redactorial António Campos Cristina Seabra Isabel Lopes Cardoso João de Deus João Segurado Marinho Santos Olga Berens Pedro Cruz Ricardo Faria Rui Proença Sociedade Portuguesa de Oftalmologia Comissão Central Presidente Manuela Carmona Vice-Presidente Paulo Torres Tesoureiro Augusto Magalhães Vogais Eduardo Silva Rufino Silva Conselho Fiscal Manuel Vinagre Luís Agrelos João Filipe da Silva Coordenadores das Secções da S.P.O. Grupo Português de Retina-Vítreo João Nascimento Grupo Português de Inflamação Ocular Ana Paula Sousa Grupo Português de Oftalmologia Pediátrica e Estrabismo Rita Dinis da Gama Secretária-Geral Adjunto Ana Amaral Cirurgia Implanto-Refractiva de Portugal Francisco Loureiro Secretário-Geral José Pedro Silva Grupo Português de Contactologia Miguel Amaro Mesa da Assembleia Geral Presidente Jorge Breda Vice-Presidente Nuno Canas Mendes Grupo Português de Glaucoma Manuela Carvalho Grupo Português de Neuroftalmologia Ivone Cravo Grupo Português de Patologia, Oncologia e Genética Ocular João Cabral 1ª Secretária Sandra Moniz Grupo Português de Ergoftalmologia Fernando Bivar 2° Secretário Barros Madeira Editor da página da S.P.O na Internet Helena Filipe SUBLINHADO Publicações e Publicidade Unipessoal - R. Prof. Vieira de Almeida, 38 - Lj. A - Bloco B - Piso 0 - 1600-371 LISBOA - Tel.: 21 757 81 35 | Depósito Legal 93 889/95 - ISSN 1646-6950 Vol. 36 - Nº 4 - Outubro-Dezembro 2012 | I Oftalmologia - Vol. 36 Índice Editorial Manuela Carmona V Nota do Editor VII Artigos de Revisão Agentes Biológicos nas Uveítes Pediátricas Não Infecciosas 337 José Henriques Miranda V.P., Maia S., Oliveira L., Guedes M., Menéres P. Laser Fototérmico e sua Interacção com a Retina Humana José Henriques, João Nascimento, Paulo Caldeira Rosa, Fernando Trancoso Vaz, Miguel Amaro Artigos Originais Implante Intravítreo de Dexametasona: Os Nossos primeiros 100 casos Ana Travassos, Dídia Proença, Isaura Regadas, Isabel Pires, António Travassos, Rui Proença Phenotypical and Genetic Analysis of 12 Portuguese Patients with CFEOM Syndrome Inês R Gante, Mariana Almeida, Miguel Ribeiro, Dalila Salomé Coelho, Lígia Gomes Cardoso, Eduardo D. Silva Multifocalidade - Seleccionar para Resultar João Paulo Cunha, Arnaldo Santos, Joana Ferreira, Duarte Amado, Margarida Marques Efeito da Aplicação Matinal vs. Nocturna de Maleato de Timolol em Doentes Medicados com Prostaglandina nas Curvas de Pressão Intraoculares Diurnas e de Pressão Arterial nas 24 Horas Pedro Barros, Gabriel Morgado, Paula Tenedório, Joana Martins, Josefina Serino, Bruna Vieira, João Neves Martins Ângulo Estreito: Facoemulsificação versus Iridotomia Laser Joana Ferreira, Luís Abegão Pinto, Isabel Domingues, José Pedro Silva, João Paulo Cunha, Maria Reina Complicações Hemorrágicas após Injecções Intravítreas em Doentes Hipocoagulados e/ou Antiagregados – Estudo Retrospectivo 411 Disfunção Iridiana Traumática: Implantação Secundária de Lente De Suspensão Escleral com Íris Artificial 417 Espessura Foveal Central (EFC) da Retina medida por Tomografia de Coerência Óptica (OCT) por Time Domain (Stratus) e Spectral Domain (Heidelberg) 425 Coriorretinopatia Serosa Central Crónica – Uma Doença Idiopática? 433 Comunicações Curtas e Casos Clínicos Doença de Best. Casos clínicos 439 Membrana Neovascular Bilateral Secundária a Estrias Angióides com Pseudoxantoma Elasticum – Caso Clínico 443 Segurança e Estabilidade da Lente Fáquica de Suporte Angular Acrysof Cachet® – 2 Anos de Follow-Up 447 Síndrome de Goldenhar – Caso Clínico e Revisão da Literatura 455 Cláudia Loureiro, Ana Bastos Carvalho, Joana Valadares, Joaquim Prates Canelas, Manuel Monteiro Grillo Mariana Seca, Mafalda Macedo, Pedro Borges, Natália Ferreira, Angelina Meireles 353 365 377 387 Maria Picoto, José Galveia, Joana Portelinha, António Rodrigues, Fernanda Vaz Marta Guedes, António Travassos, Ricardo Oliveira, Miguel Ribeiro, Júlia Veríssimo, Rui Proença Juan E. Cedrún, Eva Chamorro, Carlos Orduna, Mercedes Maza, Isabel Portero Cláudia Bacalhau, Gonçalo Almeida, Margarida Santos, David Martins 393 Pedro Reimão, Pedro Borges, Ricardo Parreira, Fernando Vaz, Ramiro Salgado, Maria Céu Pinto 405 Rita Reis, Vasco Miranda, Ricardo Parreira, Pedro Menéres, Maria Araújo Vol. 36 - Nº 4 - Outubro-Dezembro 2012 | III Termo de Consentimento Informado para Cirurgia de Catarata 463 Caso Clínico Mistério Resposta ao Caso do Número Anterior 467 Secção Histórica e Iconográfica - Histórias da Oftalmologia Portuguesa Orgulho e Preconceito 469 Indicações aos Autores e Normas de Publicação 471 Leonor Duarte Almeidao Tânia Rocha, António Mendes Carvalho, Mário Neves, João Filipe Silva, António Roque Loureiro João Segurado IV | Revista da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia Oftalmologia - Vol. 36 Editorial Em final de mandato, fujo ao balanço que só o tempo deve fazer . A Sociedade Portuguesa de Oftalmologia contraria algumas tendências que fragilizam muitas das instituições que conhecemos. Em várias áreas existe um alheamento e afastamento entre os decisores e todos os outros. A SPO tem prestígio científico, é uma instituição respeitada e, sobretudo, os seus sócios, na esmagadora maioria, identificam-se com a “sua sociedade”. A oftalmologia está mais interventiva, os jovens participam e interessam-se pelo destino da sociedade, existe uma participação em actos eleitorais invejável. Em termos económicos está sólida, tem a sede totalmente paga e continua a ter resultados positivos num contexto adverso. O respeito e o tratamento equitativo dado a todos os sócios, a qualidade das reuniões científicas, a melhoria verificada na revista, o trabalho de comunicação junto dos sócios, junto de outros intervenientes como a OM, sociedades científicas, decisores políticos e, através da comunicação social, esclarecendo e educando para a saúde a população, devem continuar a ser uma prioridade. Num tempo conturbado e de grande desespero de muitos, a independência e isenção da SPO em relação a interesses privados ou de grupos é indispensável. Temos oftalmologistas com qualidade e em número suficiente, aliás em número superior, à recomendação da OMS. Este número tremendamente elevado de oftalmologistas, muitíssimo bem preparados e maioritariamente jovens, é sinal de vitalidade mas não pode continuar a aumentar a este ritmo. A colaboração institucional e um bom relacionamento da SPO com o Colégio de Oftalmologia é fundamental. Importa cuidar a formação e manter um número equilibrado de oftalmologistas. Mas a SPO não é uma ilha. Hoje o conceito de oftalmologia global é uma realidade na qual as sociedades científicas se devem posicionar. Abrem-se novos horizontes, surgem novas alianças também científicas. A SPO pode e deve ser a impulsionadora dum conceito de Oftalmologia de língua portuguesa. O português está a ter uma influência crescente a nível mundial e essa “onda” deve também levar a Oftalmologia. Vemos com agrado a PAAO revitalizada acompanhando o dinamismo das economias da América Latina. A SPO, sem esquecer o seu espaço europeu, pode e deve acarinhar esta ligação. Constatamos que os problemas que hoje enfrentamos são transversais aos países desenvolvidos: a destruição do exercício da medicina como profissão liberal tornando os médicos assalariados e transformando os doentes em clientes. A descrição magistral desta realidade, feita pelo Dr. António Travassos no editorial anterior, é um grito de alerta. Um grito de alerta deve ser ouvido e deve impor uma actuação. O momento das palavras e dos lamentos está esgotado. É hora de actuar. A SPO por si nada pode, aliás este não é um problema da Oftalmologia mas de toda a medicina. Deve existir uma posição concertada de todas as Sociedades científicas e dos vários colégios liderada pela Ordem dos Médicos. Estou certa que a OM e o Sr. Bastonário, com o apoio de todos, estão à altura do desafio. Tendo presente os vários desafios que enfrentamos importa melhorar os estatutos da SPO: colocá-los de acordo com a legislação em vigor e libertá-los de amarras datadas. A Sociedade Portuguesa de Oftalmologia continuará assim a reflectir o sentir de cada um dos seus sócios – os oftalmologistas portugueses. Manuela Carmona Presidente da SPO Vol. 36 - Nº 4 - Outubro-Dezembro 2012 | V Oftalmologia - Vol. 36 Nota do Editor José Henriques PRODUÇÃO & PUBLICAÇÃO CIENTÍFICAS EM OFTALMOLOGIA – balanço e novas oportunidades! A produção científica faz parte da actividade normal de uma unidade de saúde, embora esta área não seja tida em conta como indicador de produção nos contratos-programa das unidades públicas com a ACSS! Mas desde sempre, e à semelhança do que se faz internacionalmente, deixar de estar subjugado exclusivamente à actividade assistencialista e produzir ciência é uma boa prática. Incrementar o conhecimento técnico-científico ou de processo, auditar a actividade clínica através da análise da casuística do serviço e seus resultados, comparar e melhorar a eficácia e a efectividade no sentido de menor variabilidade e de aproximação dos padrões e resultados de outros grupos clínicos da mesma área de especialização ou sub-especialização, são medidas de melhoria de qualidade, de maior eficiência e de busca da EXCELÊNCIA que cada unidade de saúde procura. Mas tudo o que se fizer, se não se publicar, é quase como se não tivesse existido. Por isso é fundamental que se dediquem recursos, humanos e tempo para a actividade de planeamento da publicação em ciência, da produção clínica, da estatística das séries clínicas, dos estudos de efectividade e estudos de eficácia (ensaios clínicos) e da sua publicação efectiva. Até aqui era difícil publicar pois todo o processo de revisão e selecção das revistas e critérios de admissão do manuscrito impediam uma ampla actividade de publicação à escala nacional e pior ainda, à escala internacional. Hoje, fruto das plataformas de arquivo e publicação em acesso aberto da produção científica, como é caso do projecto RCAAP da Fundação para a Ciência e Computação Nacional, e da criação dos repositórios científicos institucionais e das publicações científicas, essa tarefa de publicação está mais facilitada. Balanço do biénio 2010-2012 Para não correr o risco de omissão e de divulgar unicamente parte da actividade científica publicada no âmbito da oftalmologia nacional, refiro globalmente as publicações realizadas na Oftalmologia revista da SPO, revistas internacionais de Oftalmologia pesquisáveis no web of science e medline e outras publicações (não é objectivo desta nota do editor fazer um trabalho exaustivo sobre o tema, mas tão somente dar exemplo de boas práticas e desta forma estimular a sua replicação). A OFTALMOLOGIA revista da SPO, publicou nestes últimos 2 anos em que esta equipa redactorial orientou a revista: 11 artigos de revisão, 75 artigos originais, 28 comunicações curtas e casos clínicos, 27 outros artigos no total de 142 publicações. No total foram publicadas 8 números e um suplemento. De acordo com pesquisa na web of science, ou seja, em revistas com factor de impacto, nos anos de 2011 e 2012 foram efectivadas 123 (2011=60; 2012=63) publicações na área da oftalmologia em revistas internacionais. No mesmo período de tempo na medline encontram-se 67 referências que correspondem a trabalhos em que o primeiro autor é português. A soma das citações foi de 176, a média das citações 1,43 e o índice-h igual a 6. O GER – grupo de estudos de retina, fruto do trabalho de dezenas de colegas que escreveram capítulos individualmente ou associados, alguns capítulos com a participação de colegas de outros países (como o AMDBOOK), fez nestes 2 anos as seguintes publicações: 1) Guidelines da Retinopatia Diabética em Dez 2010, 2) AMDBOOK, AMD – Age - Related Macular Degeneration, http://amdbook.org/ 3) 25 perguntas e 25 respostas sobre Membranas pré maculares, 4) 25 perguntas e 25 respostas sobre sobre Degenerescência Macular da Idade, 5) 25 perguntas e 25 respostas sobre sobre Buraco macular (a sair no mês de Dezembro) 6) 25 perguntas e 25 respostas sobre Retinopatia Diabética – um novo paradigma de cuidados, que foi lançado no dia 14 de Novembro deste ano, dia Mundial da Diabetes (para download gratuito consultar: www.ger-portugal.com. 7) Uma brochura para os doentes sobre a Retinopatia Diabética 8) Guidelines sobre oclusões venosas, 9) Actualização da Guidelines sobre DMI. Vol. 36 - Nº 4 - Outubro-Dezembro 2012 | VII Em 2011 foi publicado o livro “Cirurgia do Glaucoma no adulto” coordenado pela Dra. Maria da Luz Freitas bem como uma monografia e um atlas de segmento anterior do Dr. António Ramalho. Vai ser lançado durante o congresso da SPO um livro sobre Glaucoma “Glaucoma: Perguntas Frequentes” da autoria da Dra. Manuela Carvalho, Dra. Manuela Carmona e Prof. Falcão-Reis, um livro sobre Estrabismo “ Estrabismo para totós” da autoria da Dra. Rita Gama, Prof. Eduardo Silva e Dra. Inês Soares Machado, bem como será apresentada uma Monografia da SPO. Publicar em “open access” e criar um repositório em “open access” da produção científica nacional – tarefa da SPO “O projecto RCAAP tem por missão promover, apoiar e facilitar a adopção do movimento de acesso aberto em Portugal. Tem por objectivos: aumentar a visibilidade, acessibilidade e difusão dos resultados da actividade académica e de investigação científica portuguesa; facilitar a gestão e o acesso à informação sobre a produção científica nacional e integrar Portugal num conjunto de iniciativas internacionais. Publicar em open access, “Acesso Aberto” (ou “Acesso Livre”) significa a disponibilização livre na Internet de cópias gratuitas, online, de artigos de revistas científicas revistos por pares (peer-reviewed), comunicações em conferências, bem como relatórios técnicos, teses e documentos de trabalho”. Faz sentido a SPO criar as condições para a publicação em “open access” e haver um repositório da oftalmologia nacional promovido pela nossa sociedade. A nossa revista Oftalmologia está acessível em “open acess” através da plataforma Sherpa/ Romeu desde Agosto de 2012, como foi referido na nota do editor anterior, mas só após publicação dos artigos na Revista. José Henriques Editor da OFTALMOLOGIA Colaboraram como revisores nos números 35 e 36 os seguintes oftalmologistas, membros da SPO: Pedro Cruz, Paulo Torres, Marinho Santos, Cristina Seabra, Ricardo Faria, João de Deus, João Segurado, Rui Proença, Isabel Lopes Cardoso, António Campos, Olga Berens, José Henriques, José Guilherme Monteiro, Fernando Vaz, Carlos Marques Neves, Amandio Sousa, Maria Luz Freitas, Maria Araújo, Maria João Santos, Lurdes Vieira, João Paulo Cunha, Rita Flores, Rita Dinis Gama, Luis Gonçalves, Joaquim Neto Murta, João Nascimento, Jorge Breda, Fernando Trancoso Vaz, Eduardo Silva, Rufino Silva, Salgado Borges, António Marinho, João Figueira, Manuela Cidade, Isabel Garcia, Manuela Carvalho, João Cabral, Francisco Loureiro. O editor agradece a colaboração e o empenho de todos. VIII | Revista da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia Oftalmologia - Vol. 36: pp.337-351 Artigo de Revisão Agentes Biológicos nas Uveítes Pediátricas Não Infecciosas Miranda V. P.1, Maia S.1, Oliveira L.1, Guedes M.2, Menéres P.1 1 Serviço de Oftalmologia, Hospital de Santo António - Centro Hospitalar do Porto 2 Serviço de Pediatria, Hospital de Santo António - Centro Hospitalar do Porto RESUMO Objectivo: Revisão da literatura médica sobre a utilização de agentes biológicos no tratamento das uveítes pediátricas não infecciosas. Desenho do Estudo: Revisão bibliográfica. Métodos: Pesquisa na Pubmed das palavras-chave “pediatric uveitis”, “biologics”, “anti-TNFα”, “infliximab”, “adalimumab”, “etanercept”, “golimumab”, “certolizumab”, “interferon α”, “daclizumab”, “anakinra”, “basiliximab”, “abatacept”, e “rituximab”, com triagem e análise dos artigos relevantes. Resultados: Os agentes biológicos permanecem uma terapêutica não aprovada para o tratamento de uveítes pediátricas. Na última década têm sido publicados múltiplos estudos sobre a sua utilização “off-label” em uveítes pediátricas refractárias a tratamento com corticoesteróides e imunossupressores. Os anti-TNFα são os agentes biológicos com mais experiência clínica. O etanercept não está actualmente recomendado, após se ter constatado uma baixa taxa de sucesso assim como o aparecimento de episódios de uveíte de novo possivelmente associados à sua utilização. O infliximab e adalimumab têm apresentado taxas de sucesso terapêutico de 70-100% e 50-94% respectivamente, na literatura publicada, permitindo a redução e por vezes suspensão da corticoterapia e imunossupressores, com poucos efeitos laterais graves reportados. Os restantes agentes biológicos analisados têm sido utilizados geralmente como terapêutica de resgate quando não há resposta com anti-TNFα. As análises retrospectivas ou casos clínicos descritos com estes fármacos são escassos, revelando, no entanto, boa eficácia e perfis de segurança adequados. Conclusões: O infliximab e adalimumab têm demonstrado ter um papel fundamental no tratamento dos casos refractários a terapêutica convencional máxima. Múltiplas outras terapêuticas biológicas têm também sido testadas com sucesso terapêutico, embora com nível de evidência muito inferior. Nenhuma está adequadamente validada em estudos controlados, permanecendo terapêuticas “off-label”. Quando iniciar, qual agente escolher e durante quanto tempo, permanecem por determinar. Apesar da sua eficácia, o custo extremamente elevado destas terapêuticas limita a sua utilização aos casos de mais difícil controlo. Palavras-chave Uveítes pediátricas, Agentes biológicos, Revisão. ABSTRACT Objective: Review of the medical literature on the treatment of non infecious pediatric uveitis with biologics. Vol. 36 - Nº 4 - Outubro-Dezembro 2012 | 337 Miranda V.P., Maia S., Oliveira L., Guedes M., Menéres P. Study Design: Bibliographic review Methods: Pubmed search of the key-words “pediatric uveitis”, “biologics”, “anti-TNFα”, “infliximab”, “adalimumab”, “etanercept”, “golimumab”, “certolizumab”, “interferon α”, “daclizumab”, “anakinra”, “basiliximab”, “abatacept”, e “rituximab”, followed by a triage and analysis of the relevant articles Results: Biologics remain an off-label treatment for non infectious pediatric uveitis. However, on the last decade, there have been multiple studies on their use for the treatment of pediatric uveitis refractory to high dose treatment with corticosteroids and immunossupressors. Anti-TNFα agents have been the most used biologics in this clinical setting. Etanercept is no longer recommended, due to a low efficacy and concerns over new onset uveitis episodes in these patients. Infliximab and adalimumab have presented an efficacy of 70-100% and 50-94% respectively in the published literature, allowing a dose reduction and sometimes withdrawal of corticotherapy and immunossupressors, with a few to none severe adverse events reported. Many other biologics have been used in these patients, usually when there is no response to antiTNFα therapy; the retrospective analysis and case reports published are sparse, but reveal a good efficacy rate and few adverse events. Conclusions: Infliximab and adalimumab have been shown to have an essential role in the treatment of non infecious pediatric uveitis refractory to high dose conventional treatment. Several other biologics have been used with good efficacy, but the evidence level still remains anecdotal. Non as of yet is approved for this clinical setting, as there is a lack of controlled studies on its use in these uveitis patients. These studies will be crucial to determine when to initiate treatment, which agent to choose and how long should the treatment last. Although highly successful in lowering intra-ocular inflammation, the extremely high cost of these therapies prohibits its use in all but the most refractory cases. Key-words Pediatric uveitis; Biologics; Review 1. Introdução As uveítes pediátricas são patologias relativamente raras, apresentando uma incidência e prevalência que se estima 5 a 10 vezes inferior à dos adultos (incidência anual de 4.3-6 / 100.000 crianças; prevalência de 30 / 100.000 crianças). Estas uveítes constituem apenas 5-10% de todos os casos de uveíte observados no contexto de unidades de saúde terciárias1,2. No entanto, a sua importância deriva das sequelas oftalmológicas que podem provocar e do seu impacto no desenvolvimento da criança. A avaliação e diagnóstico de uma uveíte pediátrica é substancialmente diferente da uveite de um doente adulto. Estas crianças são frequentemente subdiagnosticadas, uma vez que geralmente não referem queixas, colaboram mal, e os pais desconhecem ou não compreendem a doença. O exame oftalmológico é mais difícil, pode demorar muito tempo, e por vezes requer observação sob sedação no bloco 338 | Revista da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia operatório. As terapêuticas instituídas têm que ser adaptadas à idade e peso da criança, podendo variar significativamente entre faixas etárias. O diagnóstico diferencial é também consideravelmente diferente. Dado o frequente diagnóstico tardio, 17% das crianças já apresentam diminuição significativa da acuidade visual na primeira observação oftalmológica. Com o evoluir da patologia, 8-75% desenvolvem sinéquias posteriores, 13-58% desenvolvem catarata, 5-56% desenvolvem queratopatia em banda, 3-27% desenvolvem glaucoma e 10-38% apresentam uma melhor acuidade visual corrigida inferior a 1/103. Existe pouca literatura oftalmológica com nível de evidência 2 ou 3 sobre uveítes pediátricas, pelo que a sua interpretação é complexa. Contudo, historicamente, tem-se verificado uma melhoria progressiva do prognóstico destes doentes ao longo das últimas décadas. Não é claro se essa melhoria será o resultado de um diagnóstico mais precoce, um tratamento mais eficaz, ou ambos. Agentes Biológicos nas Uveítes Pediátricas não Infecciosas Os corticoesteróides permanecem há décadas como tratamento de primeira linha nas uveítes pediátricas não infecciosas. Nos casos em que não é possível controlar a inflamação apenas com corticoterapia, é necessário instituir terapêutica de segunda linha com imunossupressores. Ao longo das últimas 3 décadas, tem-se verificado que o uso de imunossupressores em crianças permite um controlo eficaz da doença e minimiza os efeitos laterais da corticoterapia. Isto torna-se particularmente importante em uveítes crónicas ou recidivantes. À medida que se compreende melhor a patofisiologia das uveítes, têm sido identificados novos alvos terapêuticos, mais selectivos e com menos potenciais efeitos laterais. Na última década, têm sido utilizados múltiplos agentes biológicos no tratamento de uveítes refractárias a tratamento com corticóides e imunossupressores, com bons resultados e perfil de segurança. Contudo, à data de elaboração deste artigo, todos os agentes biológicos disponíveis permanecem terapêuticas “off-label” para o tratamento de inflamação intra-ocular, tanto em adultos como em crianças. O objectivo dos autores é rever e sintetizar a literatura científica sobre as modalidades terapêuticas mais recentes disponíveis para uveítes pediátricas, analisando com particular atenção as suas indicações, eficácia e perfil de segurança. 2. Imunologia das uveítes não infecciosas As uveítes não infecciosas resultam de uma disfunção do sistema imune de auto-tolerância, com aparecimento de respostas patogénicas dirigidas a antigénios presentes nos tecidos intra-oculares. Pensa-se serem causadas por mecanismos de imunidade celular nos quais as células T parecem ter um papel preponderante, constituindo assim o principal alvo para imunomodulação. Os mecanismos de imunidade humoral (anticorpos) podem agravar a doença, mas assume-se não serem capazes de iniciar o processo patológico, uma vez que não atravessam a barreira hemato-ocular normo-funcionante. Graças aos modelos animais experimentais de uveíte (uveíte induzida por interleucina-1, uveíte experimental autoimune (UEA), uveíte induzida por endotoxina (UIE), etc4-7), tem sido posível identificar os diferentes mecanismos envolvidos na patogénese das uveítes. Embora nenhum modelo animal consiga reproduzir isoladamente todo o espectro das uveítes humanas, o modelo da UEA parece apresentar muitas das características e mecanismos mais comuns nas uveítes humanas. Têm assim sido identificados múltiplos alvos terapêuticos dirigidos aos pontos chave da patogénese da doença, com desenvolvimento recente de terapêuticas mais selectivas que evitam outros efeitos indesejados sobre o sistema imune. Caspi et al9 fez uma revisão extensa destes mecanismos e respectivos alvos terapêuticos. Os corticoesteróides foram os primeiros fármacos utilizados com grande sucesso para o tratamento de uveítes, dada a sua elevada potência anti-inflamatória e imunossupressora. Estes fármacos apresentam mecanismos de acção genómicos, ligando-se directamente a receptores nucleares onde induzem ou inibem a transcrição de determinados genes, e mecanismos de acção não-genómicos, através da ligação a diferentes receptores localizados na membrana citoplasmática celular10. Dada a ubiquidade destes receptores, os corticoesteróides apresentam uma multiplicidade de acções em diferentes tecidos e orgãos. Entre as acções desejáveis no contexto da inflamação intra-ocular incluem-se a inibição de múltiplas citocinas pro-inflamatórias (IL-2, IL6, TNFα) e prostaglandinas, inibição da mielopoiese, redução de leucócitos circulantes, diminuição da permeabilidade vascular, inibição da expressão de moleculas de adesão leucocitária e inibição da proliferação fibroblástica11. Entre as acções indesejáveis incluem-se alterações dermatológicas (atrofia, telangiectasias, hiper-tricose, estrias, etc), musculo-esqueléticas (atrofia muscular, miopatia, osteoporose, etc), oculares (catarata, glaucoma, coriorretinopatia central serosa, etc), neurológicas (perturbações do humor, comportamento, memória e cognição), endócrinas (sindrome de Cushing, Diabetes Mellitus, insuficiência suprarrenal, hipogonadismo, atraso da puberdade, etc), cardiovasculares (hipertensão arterial sistémica, dislipidemia), infecciosas (aumento do risco infeccioso, reactivação de infecções latentes), gastrointestinais (úlcera péptica, hemorragias gastrointestinais, pancreatite, etc), entre outras12. A introdução de imunossupressores como o Metotrexato, a Ciclosporina, a Azatioprina, o Micofenolato de Mofetil, etc, veio aumentar a especificidade da abordagem terapêutica, reduzir o número de potenciais efeitos laterais e diminuir a dose necessária de corticoterapia. Apesar dos poucos estudos controlados realizados nesse âmbito, a experiência clínica acumulada tem demonstrado um bom perfil de segurança. O Metotrexato, é actualmente o imunossupressor mais utilizado no tratamento de uveítes em crianças. Em doses terapêuticas habituais, inibe a replicação de DNA e a transcrição de RNA, actuando essencialmente sobre células de divisão rápida como os linfócitos T e B. No âmbito das uveítes pediátricas, é habitual o seu uso em baixas doses, nas quais o efeito é mais anti-inflamatório ao inibir a activação e adesão dos linfócitos T, do que através da apoptose Vol. 36 - Nº 4 - Outubro-Dezembro 2012 | 339 Miranda V.P., Maia S., Oliveira L., Guedes M., Menéres P. destas células14. A Azatioprina e o Micofenolato de Mofetil, através de diferentes mecanismos de acção, inibem também a replicação de DNA, interferindo com a multiplicação de linfócitos, particularmente de linfócitos T. A Ciclosporina e o Tacrolimus são ambos inibidores da calcineurina, e comprometem a activação dos linfócitos T, principalmente através da inibição da síntese de IL-2 bem como da expressão do seu receptor14. As abordagens dirigidas especificamente a linfócitos activados ou a processos envolvidos na activação e/ou função da resposta imunitária, como o bloqueio de certas citocinas ou receptores de citocinas (uso de anti-TNF-α, anti-interleucinas, interferão-α, entre outros), são mais específicas do que o mecanismo de acção dos corticoesteróides e imunossupressores clássicos, mas têm ainda o potencial para comprometer a resposta de imunidade adaptativa contra microorganismos patogénicos. Para explorar estes mecanismos têm sido desenvolvidos múltiplos agentes biológicos. O seu uso em uveítes pediátricas tem sido geralmente restringido aos casos de uveítes refractárias ao tratamento convencional, bem como a casos em que o tratamento convencional se associa a efeitos laterais significativos. Isto resulta não só de existir ainda pouca evidência relativa à eficácia e segurança a médio e longo prazo da sua utilização, bem como dos elevados custos associados. Há, contudo, autores que sugerem a existência de benefícios na introdução destes agentes numa fase mais precoce da evolução da doença15. As abordagens dirigidas ao antigénio que está na origem do processo auto-imune são, teoricamente, as mais selectivas, uma vez que afectam exclusivamente os linfócitos autoreactivos que estão na base do processo patológico, não afectando o restante sistema imunitário. Todavia, na maioria dos casos, não é ainda possível identificar o antigénio causal do processo auto-imune, ou este pode variar ao longo da evolução da doença. Espera-se que futuramente surjam tratamentos dirigidos especificamente para cada etiologia distinta. 3. Agentes Biológicos 3.1 Anti-TNFα O TNFα é uma citocina proinflamatória que apresenta um papel preponderante na patogénese de múltiplas patologias inflamatórias, incluindo nas uveítes não infecciosas. Em experiências em modelos animais, tanto de UEI16 como de UEA17,18, o TNFα foi detectado em elevadas quantidades, sendo implicado na sua patogénese. Esta citocina induz a expressão de múltiplas quimiocinas, moléculas de adesão e outras citocinas envolvidas no prolongamento e exacerbação do processo inflamatório. A inibição da actividade do 340 | Revista da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia TNFα suprime a produção de todas estas citocinas, e subsequentemente reduz a actividade dos linfócitos Th1, inibe a activação dos macrófagos e previne a destruição tecidular na UEA19,20. Actualmente existem 5 anti-TNFα disponíveis no mercado português: 4 anticorpos anti-TNFα (infliximab, adalimumab, certolizumab e golimumab) e 1 receptor solúvel de TNFα (etanercept). O infliximab é um anticorpo anti-TNFα IgG1 monoclonal quimérico (rato-humano). O adalimumab, certolizumab e o golimumab são anticorpos (ou fragmentos de anticorpos) anti-TNFα IgG1 monoclonais humanizados. Todos são capazes de capturar as formas solúveis e membranares do TNFα, e são capazes de induzir apoptose mediada pelos factores de complemento em células que expressem TNFα. Contudo, tem sido demonstrado que em 15-40% dos doentes21 o seu uso leva à indução de anticorpos anti-quiméricos, que reduzem a sua eficácia e aumentam a probabilidade de reacções de hipersensibilidade22. A administração concomi-tante de um imunossupressor, como o metotrexato, reduz significativamente o desenvolvimento destes anticorpos23. O adalimumab, certolizumab e golimumab são teoricamente menos imunogénicos que o infliximab, mas também têm sido identificados alguns pacientes que desenvolvem anticorpos anti-adalimumab24. O etanercept é uma proteína solúvel que combina 2 receptores de TNFα p75 associados a um domínio Fc de uma IgG1. É capaz de se ligar tanto ao TNFα como à linfotoxina-α25 mas não induz apoptose celular mediada pelos factores de complemento. Adicionalmente, não está descrita a formação de anticorpos anti-etanercept26. Ao contrário dos restantes anti-TNFα, o etanercept forma ligações menos estáveis com a variante transmembranar do TNFα27. A evidência mostra que os diferentes anti-TNFα têm eficácias diferentes na mesma patologia e no mesmo doente, pressupondo mecanismos de acção também diferentes, e ainda mal esclarecidos. Num estudo experimental e modelo de UEI, a neutralização do TNFα mediada pelo infliximab ou adalimumab apresentou efeitos distintos: o adalimumab revelou-se mais eficaz na supressão de mecanismos inflamatórios mediados por espécies reactivas de oxigénio e o infliximab revelou-se mais eficaz na redução das concentrações das citocinas inflamatórias28. Outros estudos têm também reportado diferentes mecanismos de acção entre anti-TNFα29. Isto suporta o conceito de “drug-switching” ou troca entre anti-TNFα, quando ocorre falência terapêutica ou efeitos laterais intoleráveis. Tynjälä et al30 reportou que, quando ocorria falência terapêutica de um anti-TNFα no tratamento de uma uveíte pediátrica, a troca para outro anti-TNFα permitia resposta terapêutica em cerca de 1/3 dos casos. Agentes Biológicos nas Uveítes Pediátricas não Infecciosas Em estudos humanos, os anti-TNFα têm demonstrado eficácia no tratamento das uveítes pediátricas, estabilizando a acuidade visual, melhorando o controlo da inflamação intra-ocular e reduzindo a necessidade de corticoterapia tópica. O anexo 1 resume os principais estudos realizados com anti-TNFα em uveítes pediátricas. No entanto, a natureza retrospectiva e não randomizada da maioria dos estudos, associada a diferentes conceitos de sucesso terapêutico, torna a sua interpretação complexa e a generalização dos seus resultados perigosa. De notar que, embora os doentes em tratamento com anti-TNFα tenham risco aumentado de desenvolver múltiplas infecções, existe um risco particularmente aumentado de desenvolver tuberculose. A maioria dos casos são reactivações de tuberculose latente, que pode ser fatal54. Assim, é prudente o rastreio e tratamento adequado de tuberculose antes de iniciar terapêutica inibidora de TNFα. 3.1.1 Infliximab O infliximab foi inicialmente aprovado para o tratamento de Doença de Crohn moderada a grave. O esquema terapêutico aprovado para esta patologia inclui perfusões intravenosas de 5 mg/kg às 0, 2 e 6 semanas, seguidas de infusões de manutenção de 8/8 semanas. O seu uso “off-label” noutras patologias inflamatórias, nomeadamente oftalmológicas, tem demonstrado elevadas taxas de sucesso, constituindo cada vez mais uma alternativa em doentes refractários a terapêutica convencional. Em uveítes pediátricas, o infliximab tem demonstrado em múltiplos estudos a sua eficácia no tratamento de uveítes anteriores, intermédias e posteriores não infecciosas (ver anexo 1). Em todos os estudos, o infliximab foi administrado em casos de uveítes pediátricas crónicas não infecciosas refractárias a tratamento com corticoterapia e pelo menos um imunossupressor (mais frequentemente, o MTX). Excepcionalmente, o infliximab foi iniciado concomitantemente com um fármaco imunossupressor, quando a gravidade do caso sugeria a sua futura necessidade ou quando era necessária uma rápida indução de remissão para realização de cirurgia39. Ocorreu uma rápida melhoria da inflamação intra-ocular (traduzida como indução de remissão ou como uma redução em dois graus da inflamação intra-ocular, segundo a escala do SUN Working Group) em 70-100% dos doentes, observável em 2 semanas a 19 meses após início da terapêutica34,38,40,41,43. Foi também possível, na maioria dos doentes, reduzir ou suspender a corticoterapia oral e tópica e reduzir para doses de manutenção o imunossupressor sistémico. Simonini et al reportou em dois estudos prospectivos uma perda de eficácia do infliximab ao longo do tempo, mesmo com a administração concomitante de MTX, reportando em 2008 que apenas 7% dos doentes permaneciam sem recidiva após 16 meses de tratamento41 e em 2011 que apenas 19% dos doentes permaneciam sem recidiva após 40 meses de tratamento43. Em estudos anteriores, foi reportado igualmente a necessidade de aumentar a dose de infliximab ao longo do tempo para manter a sua eficácia, podendo atingir doses 4 vezes superiores à dose habitual. Kahn et al40 usou em alguns pacientes doses de 10-20 mg/ kg por infusão e Rajaraman et al37 doses até 18 mg/kg. Ardoin et al39 reportou também a necessidade de aumentar as doses de manutenção do infliximab ao longo do tempo, atingindo uma dose mediana de 8.2 mg/kg ao longo de 26 meses de tratamento. Alternativamente, reduziram-se os intervalos entre infusões até 4 semanas, também com bons resultados. As recidivas reportadas geralmente reponderam bem a corticoterapia tópica sem deterioração significativa da acuidade visual, e a percentagem de doentes ao fim do seguimento sem inflamação ou com redução de pelo menos 2 graus da inflamação intraocular permaneceu elevada. Tynjälä et al30 reportou que ao longo de 2 anos de seguimento, apesar do eficaz controlo da inflamação intra-ocular, o número de complicações intra-oculares continuou a aumentar, especulando que será uma possível consequência de uma uveíte crónica mal controlada já de longa duração antes de ter sido iniciado o tratamento com infliximab. Foram registados múltiplos efeitos laterais atribuídos ao tratamento com infliximab, mas raramente foi necessário suspender o tratamento. Tynjälä et al30 suspendeu o tratamento em 4 doentes: 3 por reacções de hipersensibilidade grave durante as infusões e 1 por aumento marcado dos anticorpos anti-nucleares e anti-dsDNA associado a alopécia. Simonini et al41 suspendeu o tratamento num doente por reacção de hipersensibilidade grave durante a infusão, ao 18º mês de tratamento. Outros efeitos laterais incluem: prurido e rinorreia36, broncospasmo e hemovítreo37, abcesso periamigdalino e pansinusite30, náuseas, leucopenia transitória e aumento das transamínases40,41,43, herpes labial e zona42. 3.1.2 Adalimumab O adalimumab foi inicialmente aprovado para artrite reumatóide e posteriormente para artrite psoriártrica e Doença de Crohn. O esquema terapêutico inicialmente aprovado para esta patologia inclui administrações subcutâneas de 40 mg de 2/2 semanas, com eventual redução do intervalo de administração para 1/1 semana. Tal como o infliximab, o seu uso “off-label” noutras patologias inflamatórias tem apresentado elevadas taxas de sucesso. Apesar de não estar aprovado para uso em crianças, o seu benefício tem vindo a ser demonstrado em uveítes pediátricas em vários estudos (ver anexo 1). Vol. 36 - Nº 4 - Outubro-Dezembro 2012 | 341 Miranda V.P., Maia S., Oliveira L., Guedes M., Menéres P. Nos estudos publicados, o adalimumab foi administrado em casos de uveítes pediátricas crónicas não infecciosas refractárias a tratamento com corticoterapia e pelo menos um imunossupressor como fármaco de terceira linha. A posologia variou entre os 20-40 mg/semana via subcutânea com administrações 1/1 a 2/2 semanas. Registou-se uma rápida melhoria da inflamação intra-ocular em 50-94% dos casos após 2-16 semanas de terapêutica44,45, sendo possível reduzir ou suspender a corticoterapia oral e tópica e reduzir o imunossupressor sistémico para doses de manutenção na maioria dos doentes. O estudo elaborado por Tynjälä et al30, ao contrário dos restantes, passou pela administração de adalimumab a pacientes refractários a outro agente biológico (em 90% dos doentes), o que provavalmente explica a taxa de sucesso (35%) consideravelmente inferior. Nos estudos efectuados não se verificou perda de eficácia significativa ao longo do tempo ou necessidade de aumento da posologia dependente do tempo de evolução da terapêutica, por oposição ao observado nos estudos com infliximab. No entanto, todos os estudos apresentaram um seguimento inferior a 2 anos, com excepção do estudo efectuado por Gallagher et al40, com uma mediana de 5.7 anos de seguimento mas com apenas 6 doentes. Foram registados múltiplos efeitos laterais atribuídos ao tratamento com adalimumab, sendo o mais frequente a dor no local da injecção subcutânea, por vezes associada a eritema e prurido. Outros efeitos laterais descritos incluem infecções do tracto respiratório superior, infecções herpéticas, gastrite e menorragias. Trachana et al47 reportou a ocorrência de uma sépsis fatal 2 meses após reinjecção de adalimumab. 3.1.3 Etanercept O etanercept está actualmente aprovado para o tratamento de artrite reumatóide moderada a grave, AIJ poliarticular moderada a grave, artrite psoriática, espondilite anquilosante e psoríase em placas moderada a grave. Na AIJ a dose inicialmente aprovada era a de 0.4 mg/kg 2x/sem até um máximo de 25 mg/sem54, sendo actualmente utilizada uma dose de 0.8 mg/kg 1x/sem até um máximo de 50 mg/ sem55-58. No entanto, todos os estudos efectuados em uveítes pediátricas utilizaram a dose inicialmente aprovada de 0.4 mg/kg 2x/sem. O etanercept foi o primeiro anti-TNFα a ser utilizado para o tratamento de uveítes pediátricas refractárias a tratamento convencional. O primeiro estudo publicado por Reiff et al31 em 2001, mostrou resultados promissores com uma melhoria da inflamação em 63% dos doentes. No entanto, estudos subsequentes demostram taxas de redução da inflamação inferiores ou iguais a 50%. Smith et al33, num pequeno estudo 342 | Revista da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia controlado demonstrou ausência de melhoria estatisticamente significativa quando comparado com placebo. Schmeling et al32 realizou um questionário multicêntrico onde se constatou a ocorrência de episódios inaugurais de uveíte em doentes com AIJ sob tratamento com etanercept. Recentemente foi publicada uma revisão de todos os casos de uveítes inaugurais durante terapêutica com anti-TNFα em França59, verificando-se 31 casos (5-70 anos de idade), 74% dos quais associados a etanercept. Nos casos de uveíte inaugural sob tratamento com etanercept, está recomendada a mudança de tratamento para adalimumab ou infliximab60. Actualmente, o uso off-label de etanercept como agente de terceira linha no tratamento de uveíte pediátrica refractária deve ser desaconselhado34. 3.1.4 Golimumab O golimumab é um dos anti-TNFα mais recentes e está actualmente aprovado, tanto nos EUA como na Europa, em adultos para o tratamento de artrite reumatóide61, artrite psoriática62 e espondilite anquilosante63. William M et al64 publicou em 2012 um relato de 2 casos de uveíte pediátrica associada a AIJ tratados com golimumab (50 mg de 4/4 semanas). Ambos eram refractários a terapêutica convencional e tinham desenvolvido previamente efeitos laterais não toleráveis ao infliximab e um deles ao adalimumab. Após iniciar golimumab, obteve-se remissão em ambos ao fim de 1 e 2 meses, sendo possível reduzir a dose de corticoterapia oral e realizar cirurgia de catarata com melhoria da acuidade visual corrigida. O golimumab não está ainda aprovado para uso em doentes pediátricos, nem o seu perfil de segurança esclarecido nesta faixa etária. Assim, de momento, o seu uso “off-label” no tratamento das uveítes pediátricas deve ser considerado apenas quando os outros anti-TNFα falharem. 3.2 Anti-Interleucinas Os modelos laboratoriais de UEA têm demonstrado o papel da IL-1 e IL-2 na patofisiologia da uveíte posterior. O antagonista do receptor da IL-1 (AR IL-1) é um inibidor presente naturalmente no organismo humano. O anakinra é uma versão recombinante do AR IL-1 humano. Em 2007 foi publicado um caso clínico em que o anakinra foi utilizado com sucesso no tratamento de uma uveíte associada a síndrome articular, cutâneo e neurológico infantil crónico (CINCA), previamente refractária a tratamento com anti-TNFα65. Este síndrome resulta de mutações do gene CIAS1 que codifica a criopirina, resultando numa diminuição da apoptose das células inflamatórias e num aumento da produção da IL-166-68. Em 2012, Planck SR et al demonstrou a importância do AR IL-1 na modulação Agentes Biológicos nas Uveítes Pediátricas não Infecciosas da resposta inflamatória na UEI, suportando a sua potencial utilização noutras causas de inflamação intra-ocular69. O daclizumab é um anticorpo monoclonal humanizado dirigido contra um epíteto da subunidade alfa do receptor da IL-2 (CD25), que está localizado nas células T activadas e outras células do sistema imune. O daclizumab foi inicialmente utilizado para o tratamento de episódios de rejeição aguda de transplantes renais70,71, mas mais recentemente tem também sido utilizado de forma eficaz em baixas doses para o tratamento de uveíte posterior e intermédia em adultos72,73. Em 2007, Gallagher et al40 descreveram retrospectivamente o uso de daclizumab em baixas doses (1 mg/kg, a cada 2-8 semanas) em 5 casos de uveítes pediátricas, nenhum dos quais com uveíte associada a AIJ. Nesse estudo, o daclizumab associou-se a melhoria da inflamação intra-ocular em 3 das 5 crianças, demorando 3.4 a 46.3 semanas a atingir remissão. Em 2009, Sen HN et al49 publicaram uma série de 6 casos de uveíte associada a AIJ refractária a tratamento com corticoterapia e imunossupressão, nos quais foi administrado daclizumab. Três dos casos eram também refractários a tratamento com infliximab. O daclizumab foi administrado por via intravenosa com um esquema de indução às 0, 2 e 4 semanas, (8 mg/kg, 4 mg/kg e 2 mg/kg), seguido por um esquema de manutenção com injecções de 4/4 semanas (2 mg/kg). Quatro dos 6 doentes obtiveram melhoria de pelo menos 2 graus de inflamação ao fim do 3º mês de tratamento, e um 5º doente obteve melhoria após um novo esquema de indução. Os efeitos laterais apresentados consistiram em zona, palpitações e dermatite eczematosa. O daclizumab foi retirado do mercado europeu por motivos comerciais, apesar de permanecer em estudos de fase III nos EUA para o tratamento de esclerose múltipla74. O basiliximab, um anticorpo quimérico rato-humano anti-CD25 (subunidade alfa do receptor da IL-2), permanece disponível mas só se encontra aprovado para o tratamento de rejeição aguda de transplante renal. Não existem, à data de realização desta revisão, estudos efectuados com este agente biológico no tratamento da inflamação intra-ocular. 3.3 Interferão-α O interferão-α (IFNα) é uma citocina fisiológica presente no organismo humano e que é produzida em resposta a infecções víricas, principalmente por células dendríticas plasmocitóides. De uma forma muito simplificada, o IFNα pode ser considerado a principal citocina patogénica em doenças autoimunes sistémicas (como por exemplo, o lúpus eritematoso sistémico), enquanto o TNFα pode ser considerado a principal citocina patogénica em doenças auto-imunes mais circunscritas a determinado órgão, tais como as uveítes posteriores e artrite reumatóide75. A maioria das publicações recentes sobre IFNα no tratamento de uveítes têm sido em pacientes com Doença de Behçet (DB), onde o IFNα parece ser particularmente eficaz, por oposição a outras etiologias de uveíte76. Têm sido publicados estudos sobre o seu efeito no tratamento de panuveíte idiopática, uveíte intermédia, coroidite serpiginosa, coriorretinopatia birdshot, doença de Vogt-Koyanagi-Harada e oftalmia simpática77-79. Infelizmente, o IFNα está associado a múltiplos efeitos laterais potencialmente debilitantes que as terapêuticas com anti-TNFα não apresentam: febre, mialgias, náuseas, fadiga, toxicidade hematologica, aumento das transamínases, e distúrbios psiquiátricos80. Até à data, a única publicação do seu uso em doentes pediátricos limitou-se a um estudo com 7 crianças com DB e uveíte cortico-resistente81. Neste grupo foi administrado IFNα 1.5-3 milhões IU 3x/sem, sendo atingida remissão e redução da dose de corticóide administrada em 5 das 7 crianças, 3 das quais mantiveram a remissão mesmo após suspensão do INFα. Ocorreu uma normalização das acuidades visuais após uma média de 2.2 meses de tratamento, tendo os doentes um seguimento médio de 14.6 meses. 3.4 Abatacept O abatacept é uma proteína de fusão que consiste na união de um segmento modificado Fc de uma imunoglobulina G1 (IgG1) com um domínio extracelular do antigénio 4 de um linfócito T citotóxico (CTLA4). Actua interferindo na interacção da célula apresentadora de antigénio com o linfócito T, impedindo a sua adequada estimulação. Liga-se avidamente ao CD80/CD86 nas células apresentadoras de antigénio e bloqueia o sinal co-estimulador do CD28, resultando na inactivação dos linfócitos T82. Têm sido publicados múltiplos casos clínicos do uso de abatacept em uveítes associadas a AIJ refractárias a corticoterapia, imunossupressores clássicos e outros agentes biológicos (anti-TNFα e rituximab)83,84. Nestes doentes, todos eles adolescentes, foram administradas perfusões intra-venosas de 500 mg de abatacept com um esquema de indução às 0, 2 e 4 semanas, seguido por um esquema de manutenção de 4/4 semanas. Em dois deles ocorreu melhoria da inflamação intra-ocular após 2 meses de terapêutica. Foi atingida remissão da uveíte em todos, com manutenção até 18 meses após o início da terapêutica. Zulian et al50, em 2010, publicou um estudo retrospectivo de 7 doentes pediátricos com uveíte associada a AIJ tratada com abatacept. Todos os doentes mantinham inflamação intra-ocular activa apesar de tratamento com imunossupressores e pelo menos 2 anti-TNFα diferentes. Todos os doentes demonstraram melhoria da inflamação 2 semanas a 6 meses após iniciar abatacept, tendo sido seguido o Vol. 36 - Nº 4 - Outubro-Dezembro 2012 | 343 Miranda V.P., Maia S., Oliveira L., Guedes M., Menéres P. mesmo esquema terapêutico utilizando por Angeles-Han et al; três deles entraram em remissão. Um dos doentes descontinuou terapêutica ao fim de 3 meses após aparecimento de reacções cutâneas, candidíase oral e agravamento da artrite. O seguimento destes doentes foi relativamente curto com uma média de 9.2 meses após início do abatacept. 3.5 Rituximab O rituximab é um anticorpo monoclonal quimérico murino humanizado dirigido contra o marcador celular CD20, presente nos linfócitos B maduros, induzindo a sua apoptose. Este marcador não está presente nas células estaminais precursoras de linfócitos B nem nos plasmócitos presentes na medula óssea, pelo que o rituximab não afecta estas células. Isto significa que a produção de anticorpos contra antigénios previamente encontrados não fica comprometida51. O rituximab foi inicialmente aprovado nos EUA e na Europa para o tratamento de linfoma recidivado ou refractário, sendo actualmente utilizado no tratamento de múltiplas patologias, nomeadamente artrite reumatóide. A etiologia da uveíte associada a AIJ permanece mal compreendida, mas será provavalmente multifactorial. Histopatologicamente, está descrita infiltração não granulomatosa de células inflamatórias na íris e corpo ciliar85. Apesar de se encontrarem linfócitos T e monócitos, a infiltração é dominada por linfócitos B e plasmócitos, com predomínio marcado de células que expressam CD2086, justificando-se assim a utilização de rituximab nesta patologia. Em 2011, Miserocchi et al51 avaliou retrospectivamente a eficácia de rituximab em 8 doentes com uveíte associada a AIJ refractária a tratamento convencional e pelo menos 2 anti-TNFα. O rituximab foi administrado em perfusão intravenosa de 1 g no dia 1, 15 e ao fim de 1 ano, segundo o protocolo aplicado no tratamento de artrite reumatóide. O seguimento variou entre 4 e 22 meses, tendo-se constatado remissão clínica em 7 dos 8 pacientes, com redução da corticoterapia tópica e sistémica, bem como da imunossupressão. A melhoria da inflamação intra-ocular começou a verificar-se cerca de 4 meses após o início da terapêutica com rituximab. Também em 2011, Heilingenhaus et al52, em colaboração com Miserocchi, reportou retrospectivamente o uso de rituximab em 10 pacientes com uveíte associada a AIJ refractária a tratamento convencional e antiTNFα. Foram administradas duas doses de rituximab 375 mg/m2 separadas por 15 dias, sendo reportada melhoria da inflamação em 7 dos 10 doentes, ao fim de uma média de 3.1 meses após início do tratamento, sendo possível reduzir as doses da corticoterapia e do imunossupressor em curso. Durante o seguimento de 7-18 meses, não foram reportados efeitos laterais significativos. 344 | Revista da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia 4. Relação custo-benefício Em Portugal, segundo a ACSS, o preço com IVA de infliximab é de 515.16 € / 100 mg e o de adalimumab é 497.67 € / 40 mg. Um tratamento em dose de manutenção (cerca de 5 mg/kg de 6/6 semanas) com infliximab custa 8242.56 € / ano numa criança de 35 kg ou 12363.84 € / ano numa criança de 55 kg. Um tratamento em dose de manutenção com adalimumab (24 mg/m2 2/2 semanas) custa 12939.42 € / ano, independente-mente do peso da criança, dado o adalimumab só ser vendido em doses de 40 mg. Portanto, para crianças mais jovens com menor peso, a terapêutica com infliximab em doses standard é mais económica que a terapêutica com adalimumab. Para crianças com mais de 55 kg ou que necessitem de posologias mais elevadas ou mais frequentes, o adalimumab torna-se a opção mais económica. A diferença de preços entre a terapêutica dita standard e a terapêutica biológica é tão marcada que nenhum serviço nacional de saúde ou serviço privado de saúde seria sustentável com uma prescrição liberal dos mesmos. Para uma análise comparativa das diferentes terapêuticas disponíveis ver a tabela 1. De notar que a patente para alguns destes agentes expira brevemente: a do etanercept em Outubro de 2012; a do infliximab e rituximab em 2014; a do adalimumab só em 2017. No entanto, é importante salientar que os agentes biológicos não estão sujeitos às mesmas exigências e requesitos legais aplicáveis às formulações químicas. Nos EUA o etanercept já obteve um prolongamento da patente por mais 16 anos, dado não ser actualmente permitida a criação de biológicos genéricos nesse País. No entanto, a União Europeia permite a criação de genéricos bioequivalentes desde que clinicamente testados e monitorizados, pelo que já múltiplas empresas se encontram a desenvolver genéricos para estes fármacos, nomeadamente a Sandoz (grupo genérico da Novartis) e a Teva. É assim possível que ocorra uma redução significativa dos preços a curto-médio prazo que permita a expansão das aplicações destes agentes. 5. Proposta de abordagem terapêutica Dada a relativa raridade das uveítes pediátricas não infecciosas, persiste uma ausência de estudos controlados adequados para validar o uso das terapêuticas biológicas no tratamento destas patologias. No entanto, tendo por base os estudos aqui revistos e os excelentes resultados associados a um bom perfil de segurança, pode-se considerar aceitável o uso “off-label” de infliximab e adalimumab (anti-TNFα) nestas uveítes. Agentes Biológicos nas Uveítes Pediátricas não Infecciosas Tabela 1 | Principais tratamento disponíveis, posologias e custo anual estimado. Fármaco Dose Tópicos 8/8h (por ex) Acetato de prednisolona 1% 2/2h (por ex) Sistémicos Prednisolona 1-2 mg/kg/d Mecanismo de acção Corticóides Inibidor da síntese de citocinas (IL-2, IL-6, TNFα), prostaglandinas e moléculas de adesão leucocitária, inibidor da mielopoise, diminuição da permeabilidade vascular Metotrexato 15 mg/m 2/sem Azatioprina Micofenolato Mofetil Ciclosporina A 1-2 mg/kg/d Imunossupressores Inibidor da síntes de purinas e pirimidinas; promotor da libertação celular de adenosina Inibidor da síntese de purinas 600 mg/m 2/d Inibidor da síntese de purinas 3-5 mg/kg/d inibidor da calcineurina (inibe IL-2) Biológicos Infliximab Adalimumab Etanercept Abatacept Rituximab 5-15 mg/kg (4-8 sem) 24 mg/m 2 (1-2 sem) 0.4 mg/kg 2x/sem 10 mg/kg (4/4 sem) 375 mg/m 2 (0, 2 sem, 1/1A) Custo anual estimado 41,40 € 82,80 € 86,76 € (1 mg/kg/d) 25,40 € (12.5 mg/sem) 60,17 € 339.62 € 188.68 € 599,52 € (1 mg/kg/d; 35 kg) (1.19 m2) (1.74 m2) (4 mg/kg/d; 35 kg) inibidor do TNFα 8.242,56 € (5.7 mg/kg; 6/6 sem; 35 kg) inibidor do TNFα 12.939,42 € (28.5 mg 2/2 sem; 1.19 m 2) inibidor do TNFα 6.526,21 € (25 mg/sem; 35 kg) 9.509,50 € (35 kg) 3568.02 € 1784.01 € (1.19 m2, 1º ano) (1.19 m2, manutenção) anti-CD80/CD86; bloqueador da co-estimulação dos linfócitos T anti-CD20 - indutor da apoptose de células B Área corporal estimada para uma criança do sexo masculitno que respeita percentil 50 de peso e altura (utilizada fórmula de DuBois: DuBois D, DuBois E.F. A formula to estimate the approximate surface area if height and weight be known. Arch. Intern. Med. 17:862, 1916). Utilizadas curvas de crescimento da DGS publicadas na Circular Normativa Nº 05/DSMIA de 21/02/2006 Tendo por base os critérios de selecção para os estudos apresentados, serão candidatos a tratamento de 3ª linha com anti-TNFα (infliximab e adalimumab) os doentes com uveítes pediátricas não infecciosas com as seguintes circunstâncias: uveíte crónica persistente (células na câmara anterior >1+ / vitrite / papilite / vasculite / edema macular) refractária a tratamento combinado máximo com corticoterapia (tópica + sistémica) e imunosupressores (um ou dois associados). O seu uso em doentes sem uveíte crónica mas com elevado número de recidivas/ano (>3) e progressão das complicações intra-oculares, é apoiado por alguns autores com o objectivo de minimizar as complicações resultantes tanto da uveíte como da corticoterapia15. Quando não se verifica resposta adequada após iniciar terapêutica com infliximab ou adalimumab em dose standard, é possível aumentar a dose até 10-15 mg/kg (infliximab) ou 40 mg (adalimumab) e/ou diminuir a frequência de administração até 4/4 semanas (infliximab) ou 1/1 semana (adalimumab). Quando não ocorre melhoria significativa da inflamação intra-ocular, ou surgem efeitos laterais incompatíveis com a continuação da terapêutica, é possível trocar o anti-TNFα, estando descrito sucesso com infliximab quando adalimumab não resultou e vice-versa. É de salientar a propensão para diminuição da eficácia do infliximab com o prolongar do tempo de terapêutica (>12 anos), presumivelmente devido ao aparecimento de anticorpos anti-infliximab. Estima-se que este problema seja menos relevante no tratamento com adalimumab, embora os estudos apresentados com adalimumab tenham um menor tempo médio de seguimento. Não está ainda definido o melhor esquema de redução e suspensão da terapêutica anti-TNFα após remissão da uveíte: não só não está determinado quanto tempo após remissão inflamatória se pode iniciar a redução e eventual suspensão terapêutica, como também se desconhece o quão lenta deve ser essa redução, e se haverá menor risco de recidiva após reduzir/suspender primeiro o imunossupressor e depois o anti-TNFα ou vice-versa. A experiência clínica com os restantes agentes biológicos é aínda demasiado reduzida para se poder considerar seguro o seu uso “off-label” nas uveítes pediátricas. Vol. 36 - Nº 4 - Outubro-Dezembro 2012 | 345 Miranda V.P., Maia S., Oliveira L., Guedes M., Menéres P. No entanto, em doentes que não respondem a terapêutica combinada com anti-TNFα, pode-se ponderar como terapêutica de resgate o abatacept ou o rituximab, que têm sido utilizados para esse efeito com bons resultados (não devem ser aplicados como agentes de 4ª linha mas sim em substituição do anti-TNFα). De igual forma, em doentes com uveíte grave associada a DB pediátrica, que não responde a terapêutica combinada com anti-TNFα, pode-se considerar terapêutica de resgate com IFNα. É importante ter em conta, no entanto, o espectro de efeitos laterais, alguns potencialmente graves, habitualmente associados a esta terapêutica. Para uma revisão sobre os aspectos práticos da utilização de agentes biológicos recomendamos o guia publicado em 2011 pelo Grupo de Estudos de Artrite Reumatóide da Sociedade Portuguesa de Reumatologia87. 6. Discussão Nas próximas décadas, o estado da arte da terapêutica das uveítes não infecciosas vai mudar substancialmente com a introdução de novos agentes biológicos, sendo expectável a sua utilização cada vez mais frequente nestas patologias. A fisiopatologia específica de cada uveíte tem vindo a ser lentamente esclarecida, e as citocinas e outros mediadores pró-inflamatórios preponderantes em cada uma delas têm vindo a ser identificados. Estão neste momento em estudo múltiplos agentes biológicos dirigidos à inibição da acção destes mediadores pró-inflamatórios. Isto permitirá uma terapêutica progressivamente mais individualizada para cada etiologia, presumivelmente aumentando a sua eficácia, reduzindo o número de complicações e minimizando os efeitos laterais iatrogénicos. Existe também potencial na aplicação local das terapêuticas biológicas para minimizar os seus efeitos sistémicos. Está em estudo um anti-TNFα de aplicação ocular tópica (ESBA105)88 que revelou boa penetração intra-ocular em modelos animais, tanto no segmento anterior como no segmento posterior89. Há também múltiplos estudos realizados em modelos animais e humanos, que avaliam a eficácia do infliximab intravítreo na redução de edema macular bem como a sua toxicidade retiniana. Os resultados, no entanto, são ainda escassos e contraditórios90-94 sendo necessários estudos controlados para avaliar a segurança e eficácia desta abordagem terapêutica. Os anti-TNFα (infliximab e adalimumab) têm-se revelado na última década uma terapêutica eficaz em uveítes pediátricas não infecciosas. Apesar da falta de estudos controlados, o seu uso “off-label” em estudos prospectivos e 346 | Revista da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia retrospectivos tem mostrado elevadas taxas de sucesso e bom perfil de segurança em uveítes refractárias a terapêutica convencional máxima. Contudo, os seus custos extremamente elevados limitam a sua utilização apenas aos casos de mais difícil controlo. Bibliografia 1. Edelsten C, Reddy MA, Stanford MR, et al. Visual loss associated with pediatric uveitis in English primary and referral centers. Am J Ophthalmol. 2003; 135: 676–680. 2. Paivonsalo-Hietanen T, Tuominen J, Saari KM. Uveitis in children: population-based study in Finland. Acta Ophthalmol Scand. 2000; 78: 84–88. 3. Cabral DA, Petty RE, Malleson PN, Ensworth S, McCormick AQ, Shroeder ML. 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Miranda Hospital de Santo António, Serviço de Oftalmologia Largo Prof. Abel Salazar 4099-001 Porto [email protected] Agentes Biológicos nas Uveítes Pediátricas não Infecciosas Anexo 1 | Estudos publicados sobre agentes biológicos no tratamento de uveítes pediátricas não infecciosas Autores Ano Nacionalidade Desenho Nº Doentes Reiff et al31 2001 EUA Aberto, prospectivo 10 Schmeling et al32 2005 Alemanha Smith et al33 2005 EUA Saurenmann et al34 2006 Canada Retrospectivo 11 Tynjälä et al30 2007 Finlândia Aberto, prospectivo 24 Foeldvari et al35 2007 Alemanha Questionário multicêntrico 34 Richards et al36 2005 Australia Retrospectivo 6 Rajaraman et al37 2006 EUA Retrospectivo 6 Saurenmann et al34 2006 Canada Retrospectivo 21 Kahn et al38 2006 EUA Retrospectivo 17 Tynjälä et al30 2007 Finlândia Aberto, prospectivo 21 Ardoin et al39 2007 EUA Retrospectivo 16 Foeldvari et al35 2007 Alemanha Questionário multicêntrico 25 Gallagher et al40 2007 EUA Aberto, prospectivo 13 Simonini et al41 2008 Itália Aberto, prospectivo 15 Tugal-Tutkun et al42 2008 Turquia Retrospectivo 20 Simonini et al43 2011 Itália Aberto, prospectivo 17 Vasquez-Cobian et al44 2006 EUA Aberto, prospectivo 14 Biester et al45 2007 Finlândia Retrospectivo 18 Gallagher et al40 2007 EUA Aberto, prospectivo 5 Tynjälä et al46 2008 Finlândia Retrospectivo 20 Trachana et al47 2011 Grécia Aberto, prospectivo 6 Kotaniemi et al48 2011 Finlândia Retrospectivo 54 Simonini et al43 2011 Itália Aberto, prospectivo 16 Gallagher et al40 2007 EUA Aberto, prospectivo 5 Sen et al49 2009 EUA Aberto, prospectivo 6 Zulian et al50 2010 Itália Retrospectivo 7 Miserocchi et al51 2011 Itália Retrospectivo 8 2011 Alemanha, Itália e Finlândia Retrospectivo, multicêntrico 10 Heiligenhaus et al52 Questionário multicêntrico Randomizado controlado 33 7 Indicação (% de Doentes) Dose Melhoria da inflamação (%) Etanercept 0.4 mg/kg 63 2x/sem Etanercept 0.4 mg/kg 36 AIJ (100) 2x/sem Etanercept 0.4 mg/kg sem melhoria AIJ (100) 2x/sem VS placebo AIJ (55); Idiopática (27); Etanercept 0.4 mg/kg 54 Behçet (18) 2x/sem Etanercept 0.4 mg/kg 21 AIJ (100) 2x/sem Etanercept 0.4 mg/kg 47 AIJ (100) 2x/sem Infliximab 5-10 mg/kg 100 AIJ (100) 4-6 sem AIJ (50); Idiopática (33); Infliximab 5-18 mg/kg 100 Pars Planitis (17) 4-6 sem AIJ (59); Idiopática (29); Infliximab 3-10 mg/kg 92 Behçet (9); Sarcoidose (5) 4-6 sem AIJ (59); Sarcoidose (12); Infliximab 10-20 mg/kg 100 VKH (12); Idiopática (18) 4-6 sem Infliximab 3-6 mg/kg 43 AIJ (100) 4-6 sem AIJ (25); Artrite Infliximab 5-10 mg/kg 79 Psoriática (6); Idiopática 4-6 sem (69) Infliximab 3-10 mg/kg 70 AIJ (100) 4-6 sem Infliximab 100-700 mg 77 AIJ (100) 4-8 sem Infliximab 5 mg/kg 87 AIJ (100) 6-10 sem AIJ (35); Idiopática (60); Infliximab 5 mg/kg 80 Behçet (1) 4-8 sem AIJ (59); Idiopática (29), Infliximab 5 mg/kg 94 Sarcoidose (6), Behçet 6-8 sem (6) Adalimumab 20-40 mg 81 AIJ (64); Idiopática (36) 2/2 sem Adalimumab 20-40 mg 89 AIJ (94); Idiopática (6) 2/2 sem Adalimumab 40 mg 50 AIJ (80); Behçet (20) 2/2 sem Adalimumab 20-40 mg 35 AIJ (100) 1-2 sem Adalimumab 25 mg/m2 50 AIJ (100) 2/2 sem Adalimumab 24 mg/m2 57 AIJ (100) 1-2 sem 2 AIJ (75); Idiopática (19), Adalimumab 24 mg/m 94 Behçet (6) 2/2 sem Sarcoidose (40); Daclizumab 1 mg/kg 80 Idiopática (60) 2-8 sem Daclizumab 2 mg/kg 67 AIJ (100) 4/4 sem Abatacept 10 mg/kg 100 AIJ (100) 4/4 sem Rituximab 1g 88 AIJ (100) (D1, D15, 12M e 21M) Rituximab 375 mg/m2 AIJ (100) 70 (D1, D15) AIJ (70); Idiopática (30) Vol. 36 - Nº 4 - Outubro-Dezembro 2012 | 351 Oftalmologia - Vol. 36: pp.353-364 Artigo de Revisão Laser Fototérmico e sua Interacção com a Retina Humana José Henriques1,2,6, João Nascimento1,3,6, Paulo Caldeira Rosa1,2, Fernando Trancoso Vaz1,4,6, Miguel Amaro1,5,6 1 IRL – Instituto de Retina de Lisboa; 2IOGP – Instituto Oftalmologia Gama Pinto; 3HBA – Hospital Beatriz Ângelo; 4Hospital Doutor Fernando da Fonseca, EPE; 5Hospital Vila Franca Xira; 6SPILM – Sociedade Portuguesa Interdisciplinar do Laser Médico RESUMO Há vários efeitos resultantes da interacção da luz laser com os tecidos biológicos que podemos classificar em 5 tipos: efeito fotoquímico, fototérmico, fotoablativo, fotoablação induzida por plasma e fotodisrupção. Estes efeitos biológicos são modelados pelas propriedades ópticas dos tecidos: reflexão, absorção e dispersão e pelas características do feixe laser, nomeadamente o seu comprimento de onda (cdo) que influência a absorção da energia pelos pigmentos biológicos, bem como pela energia do feixe e do tempo da interacção do laser com os tecidos. Na retina humana usamos principalmente o laser de efeito fototérmico na banda do verde-amarelo (532nm), amarelo (577nm) ou díodo (810nm), obtidos actualmente a partir de um laser de estado sólido (Nd:YAG-KTP) ou díodo e dispensado em modo contínuo ou micropulsado (µP). Na retina humana pretende-se que o feixe laser atravesse os meios ópticos “transparentes “ ao cdo do laser em utilização e a sua energia seja absorvida pelos dois pigmentos: melanina do EPR e corio-capilar (CC) ou pela hemoglobina (microaneurismas). O calor gerado está dependente da energia do feixe por área do spot (fluência) e seu tempo de interacção com o EPR, do modo de saída em onda contínua ou micropulsos. O aquecimento induzido ao complexo EPR-CC pode ficar confinado a um volume próximo do local do spot ou aumentar no sentido da coroideia e muito mais no sentido da retina interna, lesando tecidos e células nobres da retina causando lesão térmica com desnaturação proteica e do DNA – fotocoagulação. Vários estudos realizados permitem-nos considerar os seguintes mecanismos de acção terapêutica do laser térmico: (i) Diminuição do consumo de O2 pelos fotorreceptores (FR) destruídos pelo laser. Tem-se considerado desde há muito como o único mecanismo de acção. (ii) Aumento da oxigenação da retina – “pontes de O2” retinocoroideias (iii) Aumento da produção de mediadores químicos pelas células do EPR (PEDF e outros mediadores com expressão genética aumentada ou diminuída de determinados genes envolvidos no processo de reparação dos organelos celulares) (iv) Activação da renovação celular e remodelação dos tecidos retinianos (v) Diminuição das Metalo Proteinases da Matriz ( MMP’s) (vi) Aumento das proteinas de shock térmico (HSP’s) (vii) Migração de células HSC da medula óssea com efeito reparador. O laser térmico na retina humana pode ser usado na área macular ou na retina periférica. No primeiro caso a lesão deverá ser a menor possível de forma a preservar os tecidos e células responsáveis pela função visual, sendo importante personalizar e combinar a terapêutica (corticóides e anti-VEGF). Podemos descrever 12 técnicas diferentes para abordar o edema macular diabético (EMD) com laser térmico, preferencialmente usando cdo amarelo 577nm e verde 532nm, podendo no entanto ser usado krypton 657nm ou díodo 810nm. Quando falamos em laser temos que ter presente que podemos estar a referirmo-nos apenas a uma ou duas das técnicas descritas mas, o rigor científico, obriga-nos a conhecer as várias possibilidades técnicas e a descrever com precisão aquilo a que nos estamos a referir. Vol. 36 - Nº 4 - Outubro-Dezembro 2012 | 353 José Henriques, João Nascimento, Paulo Caldeira Rosa, Fernando Trancoso Vaz, Miguel Amaro Palavras-chave Laser fototérmico, laser estado sólido, laser micropulsado, interacção laser-tecido, fotocoagulação laser, Nd:YAG-KTP, PEDF, VEGF, HSP, MMP, edema macular diabético, terapêutica combinada ABSTRACT There are several effects resulting from the interaction of laser light with biological tissues which can be classified into 5 types: photochemical, photothermal, photoablation, photoablation induced by plasma and photodisruption. These biological effects are modeled by the optical properties of the tissues: reflection, absorption and dispersion, and the characteristics of the laser beam, in particular its wavelength (cdo) that influences the absorption of energy by organic pigments, as well as by the energy beam and the time for interaction of the laser with the tissue. In the human retina we mainly use laser photothermal effect in the green-yellow band (532nm), yellow (577nm) or diode (810nm), currently obtained from a solid state laser (Nd: YAG-KTP) or diode, and dispensed in a continuous or micropulsed (μP) mode. In the human retina the laser beam is expected to cross the optical means which are “transparent” to the laser cdo used and its energy is absorbed by two pigments: melanin of EPR and chorioretinal capillary (CC), and hemoglobin (microaneurysms). The heat generated depends on the energy of the beam by spot area (fluence) and its time of interaction with the EPR, of output mode in continuous wave or micropulse. Induced heating of the complex EPR-CC can be confined to a volume near the site of the spot or increased towards the choroid or the inner retina, damaging tissues and cells and causing protein denaturation and DNA - photocoagulation. Several studies allow us to consider the following mechanisms of action of phototermic laser in human retina: (i) the decrease of O2 consumption by photoreceptors (FR) destroyed by the laser. It has long been regarded as the only mechanism of action. (ii) increasing the oxygenation of the retina - chorioretinals “ O2 bridges” (iii) Increased production of chemical mediators by RPE cells (PEDF and other mediators with gene expression increased or decreased in certain genes involved in the repair of cellular organelles) (iv) Activation of cell renewal and retinal tissue remodeling (v) Reduction of matrix metallo-proteinases (MMPs). (vi) Increase of shock thermal proteins (HSPs ) (vii) migration of HSC cells from bone marrow with a reparative effect. The laser heat in the human retina can be used in the macular area or the peripheral retina. In the first case the lesion should be as small as possible in order to preserve tissues and cells responsible for visual function and is important to customize and combine therapy (corticosteroids and anti-VEGF). We describe 12 different techniques to address diabetic macular edema (DME) with thermal laser, preferably using cdo yellow 577nm and 532nm green, but krypton 657nm or 810nm diode may be used as well. When we talk about laser we usually refer to one or two of the techniques described, but the scientific rigor, requires us to know the various technical possibilities and accurately describe what they are referring to. Key-words Photothermal laser, solid-state laser, micropulse laser, laser-tissue interaction, laser photocoagulation, Nd:YAG-KTP, PEDF, VEGF, HSP, MMP, diabetic macula edema, combined therapy 354 | Revista da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia Laser Fototérmico e sua Interacção com a Retina Humana Aspetos gerais da física do laser Há vários efeitos resultantes da interacção da luz laser com os tecidos biológicos. Múltiplos factores intervêm na variabilidade destes efeitos. Referimo-nos, em primeiro lugar, às propriedades ópticas dos tecidos: reflexão, absorção e dispersão. Outro factor de peso diz respeito às características da radiação luminosa, nomeadamente: comprimento de onda (λ), tempo de exposição, densidade de potência ou Irradiância (W/cm2 – relaciona a intensidade da luz com o diâmetro do spot) e densidade de energia ou Fluência (J/cm2 – relaciona a energia com o diâmetro do spot). Os fotões monocromáticos colimados e de elevada densidade de potência saem da cavidade laser e seguem uma direcção determinada pela fibra óptica, espelhos e lentes terapêuticas. Se não fossem direccionados para o nosso alvo terapêutico, seguiriam em conjunto uma direcção rectilínea como a luz. O feixe além de colimado (todo compacto e direccionado, sem desvio de fotões da sua trajectória) tem elevada energia comparativamente à luz difusa. Desde a invenção dos lasers por Maiman em 1960, têm sido investigados os possíveis efeitos da interacção dos lasers com os tecidos1. Podemos classificar em 5 tipos: efeito fotoquímico, efeito fototérmico, efeito fotoablativo, efeito fotoablativo induzido por plasma e efeito fotodisruptivo. Fig. 1 | Um laser é constituído fundamentalmente por um meio activo que permita a transmissão de luz no seu seio (Ex.: Nd:YAG, Argon, Rubi, CO2), um sistema de espelhos colocados nas extremidades do meio activo, habitualmente com forma cilíndrica, a fim de permitir construir uma cavidade óptica ressonante, um sistema de fornecimento de energia ao meio activo ou seja um sistema de bombagem laser ( Ex.: uma lâmpada de flash, um outro laser, um díodo, um arco eléctrico) e um sistema de saída com mecanismos de regulação da saída do feixe laser. Convém referir que o espelho posterior é 100% reflector e levemente côncavo e o anterior é menos do que 100% reflector. O laser que usamos na retina para obter efeito terapêutico é o laser com acção térmica (laser fototérmico). O laser é produzido na cavidade laser e de acordo com o meio laser podemos ter laser gasosos (Argon 514nm, Kripton 647nm, CO2 10,6µm e Excimer193nm) e lasers de estado sólido (Nd: YAG 1064nm, Nd:YVO4 1064nm - neodymium-doped yttrium orthovanadate, Nd:YAG-KT 532nm, Er:YAG 2940nm, Ho:YAG 2120nm) ou diodos. Actualmente, o laser fototérmico mais comumente usado em Oftalmologia é o laser Nd:YAG-KTP (vulgarmente chamado de laser KTP) que tem por base um laser Nd:YAG 1064nm, um “rod” de cristal incolor Y2Al5O12 (yttrium aluminum-garnet = YAG) onde 1% dos átomos de ítrio são substituídos por iões de neodímio com carga eléctrica +3. Os iões de neodímio são a fonte de luz laser (espécie lasante). O cristal sólido de YAG é o “host”, sendo o suporte para as impurezas iónicas de neodímio2. O laser Nd:YAG produz um feixe laser infra-vermelho próximo, de 1064nm. Para se conseguir um feixe na faixa do visível, verde-amarelo 532nm, é interposto um cristal não linear de KTP (Potasium Titanil Fosfato). Este cristal não linear diminui para metade o comprimento de onda passando o feixe laser de 1064nm, na faixa do infra vermelho próximo, para 532nm na faixa do verde amarelo. A maioria dos laser fototérmicos usados actualmente em oftalmologia usam como meio de bombagem laser um díodo laser infra-vermelho ou um conjunto de díodos (array) e são chamado de DPSS – díodo-pumped solid-state laser. O laser é normalmente definido pela constituição do meio laser, o seu modo de saída (contínuo, pulsado, micropulsado ou superpulsado) e o seu comprimento de onda (cdo). O seu comprimento de onda (cor do laser) está dependente do meio laser. De acordo com o modo de saída: continuo, pulsado ou superpulsado, assim varia a sua acção nos tecidos. Contudo, interacção do laser nos tecidos está dependente, em primeiro lugar, do comprimento de onda que influencia a sua absorção pelos tecidos e que, por sua vez, está relacionado com a profundidade de penetração nos tecidos do feixe laser. Profundidade de penetração nos tecidos e a absorção da energia laser Esta capacidade de penetrar em profundidade nos tecidos está dependente da absorção da energia laser por pigmentos biológicos endógenos (por ex. hemoglobina, melanina, água) que fazem de ecran ao feixe laser. Assim, tecidos ricos nestes pigmentos, absorvem a energia laser se usarmos o comprimento de onda adequado, e o tecido aquece. Assim para o laser verde ou amarelo, por exemplo, os tecidos com hemoglobina ou melanina (vasos e EPR ou Vol. 36 - Nº 4 - Outubro-Dezembro 2012 | 355 José Henriques, João Nascimento, Paulo Caldeira Rosa, Fernando Trancoso Vaz, Miguel Amaro coróide) absorvem muito bem estes cdo. Já a córnea, o cristalino, o vítreo e a retina são “transparentes” a estes cdo tal como ao espectro da luz visível. Mas se usarmos laser de Er: Yag com cdo de 2940nm, a córnea ou outro tecido rico em água, absorve toda a energia à sua superfície3. Também podemos variar os efeitos laser variando a densidade de potência e os tempos de exposição do feixe laser. Tempos longos da ordem dos segundos a minutos e baixa potência são típicos do laser de efeito fotoquímico, laser de potência intermédia e tempos da ordem dos segundos a milissegundos são responsáveis pelo efeito fototérmico, laser com potências elevadas e tempo de exposição da ordem dos milissegundos a micro segundos causam efeito fotoablativo, laser de potência muitíssimo elevadas da ordem de MW e TW têm efeito fotodisruptor ou ablação induzida por plasma, com tempos de acção da ordem nano, pico ou fentosegundos. Ver a figura 2. Fig. 2 | Relação entre a densidade de potência e o tempo de exposição ao efeito laser. Modos de saída do laser fototérmico O feixe laser poderá, no caso do laser fototérmico, ter dois modos de saída: a) CW ou onda contínua. O feixe laser exerce o seu efeito continuamente desde que premido o mecanismo de activação do laser e o feixe é interrompido a intervalos de tempo definidos (com efeito “on” durante 10, 20, 50, 100, 200, 500ms ou 1 segundo) ou pode manter-se sempre em “on” enquanto estiver a ser premido o mecanismo de activação. b) pulsado ou micropulsado: no pulsado um sistema electrónico faz com que, de cada vez que é feita a activação do laser no pedal, o sistema faz um período 356 | Revista da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia “on”, de duração previamente definida pelo operador. Se seleccionado o modo repetitivo, enquanto o pedal estiver a activar o laser, este faz períodos “on” e períodos “off”, ambos modelados e previamente seleccionados pelo operador. No laser µP (micropulsado) quando se activa o laser, este dispensa um “envelope” laser de, por exemplo, 200ms composto por períodos de 100microsegundos em que o laser está “on” e 1900microsegundos em que o laser está “off” correspondendo a 5% Duty Cicle, ou seja, em 200ms (=200 000µs) haverá 100 micropulsos de 100 microsegundos, intervalado por outras tantas pausas da acção do laser de 1900µs, duração muito maior para arrefecimento dos tecidos. (200000µs = (100x100µs)+(100x1900µs)) Este é o chamado laser micropulsado ou laser sublimiar porque atua abaixo do limiar da lesão das estruturas nobres retinianas4. Interação laser tecidos No laser de onda contínua (CW) os fotões são absorvidos pelos “pigmentos endógenos”. Estes podem ser a melanina, a hemoglobina ou a água, como vimos. Para cada comprimento de onda (cdo) varia a absorção da radiação, varia a capacidade de captar os fotões pelos pigmentos endógenos. A melanina ou o sangue são “pigmentos endógenos” que absorvem muito bem a gama do verde ou amarelo, têm o seu pico de absorção neste cdo. Desta forma, quando usamos laser com cdo 532nm (verde) ou 577nm (amarelo) ou com o díodo 810nm, a melanina do EPR e/ou coroideia absorve os fotões e a sua energia é transmitida às moléculas de melanina que aumentam a sua vibração. Ver figura 3. Esta agitação molecular corresponde ao aumento da temperatura. No local de impacto do feixe laser cria-se um foco de tecido aquecido, foco de aquecimento primário que se dissipa por difusão térmica adjacente e está dependente da condutividade térmica dos tecidos (maioritariamente água). Este aumento da temperatura, ou seja, o efeito fototérmico, está também dependente do tempo de duração da acção laser. Se o laser continuar a actuar (laser CW), o aquecimento mantém-se, aumenta a temperatura no foco de aquecimento primário (volume aquecido primário) mas vai-se dissipando a temperatura, aumentando o volume de tecido aquecido (volume aquecido final). Na retina este aquecimento vai atingir a coroideia e a retina interna, tanto mais quanto maior for a temperatura atingida no foco de aquecimento primário e maior a duração do impulso laser. Se o impulso foi muito curto não haverá tempo para a difusão térmica adjacente e o volume aquecido final, ou seja a lesão no tecido, fica quase só limitada ao local de impacto laser5. Ver figura 3. Laser Fototérmico e sua Interacção com a Retina Humana Densidade de potência do feixe laser medida da sua energia Como vimos a densidade de potência está relacionada com a área do feixe. Assim, se diminuir ou aumentar o diâmetro do spot, aumentaremos ou diminuiremos exponencialmente a densidade de potência, de acordo com a área do círculo. Assim, spots pequenos são susceptíveis de provocarem mais facilmente rotura de M. Brüch (esta ao romper faz um som de rebentar de pipoca e causa hemorragia) do que com diâmetros grandes. Isto acontece frequentemente com a utilização dos laser tipo Pascal que usam densidades de potência elevados e tempos de exposição curtos5. Fig. 3 | O feixe laser é absorvido maioritariamente pelo EPR rico em melanina. Durante o tempo de acção do impulso laser, difunde o calor pelos tecidos adjacentes, atingindo um volume aquecido final maior do que o volume primário aquecido no início do impacto laser. O EPR é aquecido no local de impacto. Se continuar a actuar o feixe laser por maior duração de impulso, o calor vai-se dissipando e um maior volume de tecido é aquecido. Assim a coagulação dos tecidos atinge mais e mais as camadas internas da retina e também a coroideia, embora esta seja arrefecida pela circulação coroideia de alto fluxo. Posteriormente haverá uma resposta de reparação à lesão celular mas as células nobres da retina, fotoreceptores e camadas mais internas da retina ficam lesadas definitivamente. Esta lesão à periferia não causa dano funcional significativo mas na área macular será perdida a função das áreas de cicatriz laser. Podemos chegar ao ponto em que a duração do impulso seja inferior ao tempo que o tecido demora a difundir o calor (tempo de relaxamento térmico) e então há confinamento térmico, ou seja, o calor permanece somente no local de impacto laser, não sofre difusão adjacente. Precisando melhor, quando usamos CW a duração do impulso é crucial para o efeito nos tecidos adjacentes. Dito de outra forma, impulsos curtos limitam o efeito laser somente ao local de impacto e de absorção da energia dos fotões. Convém não esquecer que, para além do tempo de exposição ao laser (duração do impulso), temos que contar com outro parâmetro do feixe laser, a sua densidade de potência, que significa, a potência do feixe por unidade de área medida em W/cm2. Quanto maior a densidade de potência maior o efeito térmico. Se o tempo de duração do impulso for suficientemente curto, uma elevada densidade de potência poderá aquecer de tal forma o tecido que, sem tempo para a difusão térmica, a água que o compõe, entra em ebulição e há um efeito de vaporização. Maior densidade de potência chega a carbonizar os tecidos5. Efeitos do laser na retina humana Desde as primeiras observações empíricas de que os doentes com coriorretinopatia miópica e diabetes não apresentavam uma evolução tão rápida para RDP, se pensou em usar a luz para provocar uma cicatriz coriorretiniana. Começou-se então por usar, primeiro a luz solar concentrada, e depois a fotocoagulação por arco de Xenon (Gerd Meyer-Schwicherath 1956, oftalmologista alemão) que provocava lesões extensas devido ao grande diâmetro de spot, semelhante às lesões da crio. Com o advento do laser de Rubi (Maiman 1960) passou-se a usar, de forma mais controlada, a técnica da fotocoagulação. Mais tarde o laser Argon Azul-Verde 488nm-514,5nm, equipamento de grandes dimensões continuamente refrigerado a água e com uma eficiência energética de 3%, passou a ser o laser padrão em patologia retiniana até há cerca de uma década atrás. Posteriormente surgiu o díodo 810nm de elevado eficiência energética, leve e compacto e finalmente os lasers atuais de estado sólido Nd:YAG-KTP 532nm, amarelo 577m, micropulsado ou de onda contínua (CW) muito compactos, portáteis e de baixo consumo. Diversas formas de interacção do laser com os tecidos resultam em diferentes aplicações terapêuticas em oftalmologia. Para o tratamento da retinopatia diabética (RD) e outras patologias vasculares da retina ou para realizar retinopexia laser, usamos o efeito fototérmico. Qualquer que seja o comprimento de onda utilizado, a interacção com o tecido retiniano e coroideu resulta da absorção da energia ao nível do epitélio pigmentado da retina (EPR), rico em melanina, e ao nível do pigmento melânico da coriocapilar (CC). Os tecidos aquecem e sofrem hipertermia ou desnaturação térmica (fotocoagulação), seguindo-se um processo de reparação das células e tecidos lesados termicamente5,6. Vol. 36 - Nº 4 - Outubro-Dezembro 2012 | 357 José Henriques, João Nascimento, Paulo Caldeira Rosa, Fernando Trancoso Vaz, Miguel Amaro Acção terapêutica do laser térmico Vários estudos realizados permitem-nos considerar os seguintes mecanismos de acção do laser: I. Diminuição do consumo de O2 pelos fotorreceptores (FR) destruídos pelo laser. Tem-se considerado desde há muito como o único mecanismo de acção. II. Aumento da oxigenação da retina – “pontes de O2” retinocoroideias7 III.Aumento da produção de mediadores químicos pelas células do EPR (PEDF e outros mediadores com expressão genética aumentada ou diminuída de determinados genes envolvidos no processo de reparação dos organelos celulares)8,9,10,11,12,13 IV.Activação da renovação celular e remodelação dos tecidos retinianos14,15,16 V. Diminuição das Metalo Proteinases da Matriz (MMPs)17 VI.Aumento das proteinas de shock térmico (HSPs)18,19 VII.Migração de células HSC da medula óssea com efeito reparador20,21,22,23 I. Diminuição do consumo de O2 pelos dos fotoreceptores Na realidade, a lesão dos foto-receptores e a consequente diminuição do consumo de O2 tem sido a principal explicação para o efeito terapêutico do laser térmico e foi a primeira teoria para justificar o efeito benéfico da acção do laser na RDP. II. Aumento da oxigenação da retina – “pontes de O2” coroido-retinianas Com efeito, E. Stefánsson (2006)7 defende que são criadas “pontes de O2” nos locais da cicatriz laser que facilitam a difusão do O2 da coroideia para a retina interna. Na realidade, após a realização de pan retino fotocoagulação (PRP), verifica-se uma melhoria da oxigenação da retina interna, objectivada pela oximetria dos vasos retinianos. A explicação para essa melhoria da oxigenação passa pela diminuição do consumo de oxigénio pelos foto-receptores periféricos que foram destruídos mas também e, particularmente, pela difusão a partir da coroideia, exactamente através das “pontes de oxigénio” que constituem as cicatrizes do laser. Esta ação explica a diminuição do VEGF conseguida com a fotocoagulação laser mediada, entre outos mecanismos de ação, pela melhoria de oxigenação da retina. III. Produção de mediadores quimicos pelo laser Em geral, tem sido considerado como tendo efeito terapêutico a área de fotocoagulação do “spot” laser ou 358 | Revista da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia seja, a lesão laser visível. Contudo, algumas observações realizadas e estudos levados a cabo demonstraram ser um pouco mais complexa a explicação para a acção do laser. Em primeiro lugar, e como vimos anteriormente, num spot laser há uma área central onde é maior a hipertermia. Esta área fica esbranquiçada por ter sofrido fotocoagulação das proteínas das células das camadas externas da retina. Mas há outra área envolvente ao local do impacto do “spot” laser que sofreu hipertermia. Sofreu um aumento de temperatura que não causou fotocoagulação visível mas lesou membranas celulares, organelos intracelulares e DNA. Estas microestruturas vão então sofrer um processo de reparação do DNA e das proteínas desnaturadas ou deformadas pela acção térmica, com libertação de mediadores químicos locais, intracelulares e no meio intercelular. Estes mediadores estão implicados no “signalling” intra e intercelular que desencadeiam reacções inflamatórias, de reparação celular e/ou tecidular, com particular destaque para as células do EPR e as células endoteliais, responsáveis pela saúde dos capilares e sua permeabilidade luminal e contenção transparietal10. O PEDF – inibição activa da neovascularização (e do edema?) O PEDF é considerado como o mais provável responsável pela acção inibidora da neovascularização e o factor que contrabalança a acção activadora das células endoteliais, no sentido da proliferação, migração e aumento de permeabilidade, induzidos pelo VEGF25. Nos doentes com RD e tanto mais quanto maior a gravidade da RD, o PEDF encontra-se diminuído enquanto o VEGF se encontra aumentado24. Podemos dizer que se trata de um equilíbrio entre PEDF e VEGF que permite a homeostasia da vascularização da retina e que, em caso de doença vascular retiniana que leve a isquémia, o VEGF aumenta e surge quer neovascularização quer edema, sendo a sua acção contrariada pelo PEDF. Por seu turno, após o tratamento com laser térmico, inicia-se uma expressão aumentada de PEDF8, principalmente pelas células do EPR que sofreram hipertermia e é reposto o equilíbrio homeostático. Inicia-se assim um processo activo de apoptose das células endoteliais induzido pelo PEDF com inibição da neovascularização (ou efeito positivo na diminuição do EMD)25,26,27,28. O PEDF está diminuído quando está aumentado o VEGF na RDP e no EMD e encontra-se aumentado a seguir à fotocoagulação29. Nas membranas fibrovasculares da RDP encontra-se diminuído enquanto o VEGF se encontra aumentado35. Laser Fototérmico e sua Interacção com a Retina Humana Os trabalhos de Aiello em 1994 revelaram que há uma diminuição em 75% da concentração do VEGF no vítreo após a fotocoagulação30. Estudos do Perfil da Expressão Genética Os estudos de análise “microarray” para avaliar a expressão genética desencadeada pela acção térmica subletal do laser na célula do EPR têm sugerido que esta expressão genética reflecte a proliferação das células do EPR, foto-receptores lesados e células da coroideia afectadas pela acção térmica não letal do laser10. De acordo com os trabalhos de Wilson, existem genes que aumentam ou diminuem a sua expressão. Sabemos que há uma alteração da microestrutura retiniana no local da lesão térmica com proliferação e hiperplasia das várias células lesadas, nomeadamente EPR, diminuição da expressão genética de vários factores, entre eles o Agtr2 – Angiotensina II type 2 receptor, aumento da expressão genética do CRLR, IL-1β, FGF-14 e FGF-16, PAI-2 e aumento muito relevante do PEDF, como vimos. Estes fatores funcionam no curto prazo. No longo prazo, de acordo com o trabalho Binz14, existem alterações de proteínas estruturais que se mantém no tempo e que serão, muito provavelmente, responsáveis pela acção mantida do laser e pelo seu efeito de estabilizações da RD no longo prazo, ao contrários dos fármacos que actuam enquanto o fármaco estiver presente. IV. Acção de regeneração/renovação celular Assistimos pois a uma acção de regeneração, renovação dos organelos intracelulares e de células lesadas mas não mortas, com produção de HSPs e factores implicados na homeostasia da angiogénese e da permeabilidade vascular, com destaque para o PEDF9. Mas por sua vez, as áreas de fotocoagulação com necrose celular, vão sofrer renovação celular e remodelação do tecido, reorganização da microarquitectura, alguma fibrose e retracção e marcada migração pigmentar do EPR. Estes processos de reparação celular e remodelação são mediados por genes que se expressam após a acção do laser10. Os trabalhos de Nicolette Binz (2006)14 mostraram existir em localizações específicas na microestrutura retiniana, após um período de 90 dias da acção laser, 5 cristalinas (CRYαA2 e CRYβB2), Keratin 1-12, Tsp1 – Trombospondina - factor anti-angiogénico, Tkt - transketolase - uma enzima chave na via da pentose fosfato, TULP1 – o putativo factor de transcrição da tubby-like protein 1 específico da retina e cérebro14. Pensa-se que poderão ser estas alterações estruturais as responsáveis pelo efeito de manutenção a longo prazo da acção laser. V. As metaloproteinases da matriz (MMPs) Trabalhos recentes referem também uma acção do laser ao nível do equilíbrio das MMP/TIMP (metaloproteinases da matriz extracelular e inibidor tecidular das metaloproteinases) da membrana basal. O EPR produz MMPs após terapêutica laser17. Após laser térmico em padrão PRP detectaram-se MMP-2, MMP-3 e TIMP-1. Neste estudo, a secreção de MMP-2 e MMP-3 aumentou o dobro em relação ao valor dos controlos. O TIMP diminuiu até dia 4 e depois aumentou pelo dia 6. A capatação da Tritiated thymidine aumentou 2,5 vezes até dia 6 voltando ao valor baseline pelo 8º dia. Sugere-se que a eficácia da PRP se deva também ao balanço entre as MMPs e as TIMPs e não só à acção sobre o VEGF e outros factores relacionados com a isquemia17. VI. Proteínas de choque térmico Outra ação interessante do laser é o aumento das proteínas de choque térmico (HSPs), nomeadamente a HSP27, HSP70 e HSP4718. que deverão ter algum efeito na ação laser, provavelmente relacionado com a termotolerância da retina após a acção do laser e serem protectores da retina numa segundo tratamento laser. É de todos conhecido o efeito do laser menos visível com os mesmos parâmetros num retratamento. É um campo para investigação. VII. A activação das células STEM Outro local de acção laser tem a ver com a estimulação de células “stem” a partir da leão retinocoroideia que fazem migrar da medula óssea células “stem” para repararem os tecidos retinianos lesados, nomeadamente as células endoteliais. De acordo com Chag-Ling, estes estudos sugerem que as HSCs (hematopoietic stem cells) possam servir como fonte para a regeneração no longo prazo das células lesadas da retina e coroideia20,21,22,23. Em resumo a acção terapêutica do laser térmico pode ser sumarizada da seguinte forma: (I) Diminuição consumo de O2 pelos foto-receptores; (II) Aumento da oxigenação da retina – “pontes de O2” coroido-retinianas; (III) Aumento da produção de mediadores químicos (PEDF); (IV) Activação da renovação celular e remodelação dos tecidos retinianos, (V) Diminui MMP (VI) Aumenta proteínas shock térmico; (VII) Migração células HSC da medula óssea com efeito reparador. Novas técnicas laser no tratamento do EMD Podemos descrever 12 técnicas diferentes para abordar o edema macular diabético (EMD) com laser térmico, Vol. 36 - Nº 4 - Outubro-Dezembro 2012 | 359 José Henriques, João Nascimento, Paulo Caldeira Rosa, Fernando Trancoso Vaz, Miguel Amaro preferencialmente usando comprimento de onda amarelo 577nm e verde 532nm, podendo no entanto ser usado krypton 657nm ou díodo 810nm. Quando falamos em laser temos que ter presente que podemos estar a referirmo-nos apenas a uma ou duas técnicas das atrás descritas mas, o rigor científico, obriga-nos a conhecer as várias possibilidades técnicas e a descrever com precisão aquilo a que nos estamos a referir32 (Ver tabela 1). Tabela 1 | 12 técnicas diferentes para abordar o edema macular diabético (EMD) com laser térmico 1. Laser focal32 2. Padrão de Grelha focal no interior de circinados, IRMAS ou pequenas áreas de edema focal33 3. Grelha clássica ETDRS 100-200ms34 4. Grelha ETDRS modificada (mETRDS) – com parâmetros um pouco mais suaves e spots de menor dimensão até 200micra do centro da fóvea35,36,37 5. Grelha ETDRS “mild” (MMG) – levemente visível, spot 50micra mas de menor densidade.38,39 6. Microgrelha 10ms (µETDRS) tipo PASCAL40 7. µETDRS + focal nos microaneurismas 8. Laser micropulsado (µPLT – micro pulse laser treatment) com HD41,42 9. µPLT em Sandwich (J. Augusto Cardillo) – utilizando a grelha mETDRS até às 500µ e o µPLT deHD dentro de 500µ.43 10. µPLT em Sandwich associado a laser focal 11. Laser 4+ (µETDRS + focal + µPLT HD fóvea + PRP à periferia da retina) 12. Terapêutica combinada com anti-VEGF e corticóides de acção prolongada e laser minimamente lesivo O que se pretende com a acção terapêutica do laser térmico na área macular e na retina periférica A técnica laser a usar deverá ser adequada ao local da retina a tratar. Assim, a fotocoagulação capaz de induzir pontes de O2 e melhorar a Pa O2 da retina7 está indicada à periferia e média periferia no caso do tratamento da retinopatia diabética proliferativa (RDP). Já o laser suave, poupador dos tecidos e capaz de induzir factores homeostáticos no microambiente retiniano, está indicado na área macular, particularmente na área foveal e perifoveal para tratar o EMD. Nesta última situação poderá ser necessário usar laser com parâmetros um pouco mais agressivos44 360 | Revista da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia embora de forma “cirúrgica”, para ocluir os microaneurismas causadores de edema e, desta forma, inverter o processo de exsudação lipoproteica e difusão e/ou permitir a fragmentação das placas lipídicas e sua mobilização pelos macrófagos. a. Principal Acção do Laser Térmico na Área Macular (Laser Estimulador Celular) - Lesão Subletal das Células do EPR Porque estamos a tratar a área macular, a fototerapia laser no EMD não pretende lesar irreversivelmente os FR45. Temos como objectivo, causar hipertermia nas células do EPR46 e, desta forma, estimulá-las a produzir mediadores químicos que provoquem a resolução do EMD, nomeadamente o PEDF. Pretende-se obter, com o impacto do laser térmico, um efeito local de ligeira alteração do EPR47, por vezes difícil de observar na retinografia. Este efeito só é objectivado na autofluorescência, retinografia por infra-vermelhos ou angiografia, ou mesmo invisível com estes exames se for usado o laser micropulsado (µP)48,49,50,51,52,53. A interacção térmica lesa as células do EPR ricas em melanina e por vezes os segmentos externos dos FR se a lesão se tornar visível. Evitamos lesar os segmentos internos FR e células da camada nuclear externa. Este objectivo é atingido com os 2 tipos de laser referidos: a) Com µGrelha, usando baixas densidades de potência e um curto tempo de exposição (10milisegundos), de forma a evitar a difusão térmica adjacente a partir do volume primário aquecido1. b) Com laser µP, com impulsos da ordem dos 100 microsegundos e tempos de arrefecimento longos1. Com a MMG a lesão térmica uma vez que é tenuemente visível, já atinge as camadas externas da retina (foto-receptores) que irão sofrer um processo de reparação que não é total54. Naturalmente, se forem usados outros parâmetros laser que provoquem um maior aumento da temperatura, poderemos provocar cicatrizes retinocoroideias com lesão dos FR e retina interna. Neste caso teremos escotomas centrais ou paracentrais com degradação progressiva da função visual, tanto mais que essas lesões tendem a aumentar com o tempo e a aproximarem-se da fóvea 55. b. Maior Densidade de Potência (padrão PRP) fora da Área Macular –“Pontes O2 , Morte e Renovação Celular. Efectivamente, o laser fototérmico, se actuar com maior densidade de potência, provoca lesão do EPR com morte celular que se pode estender à coroideia e à retina Laser Fototérmico e sua Interacção com a Retina Humana interna. Se a duração do impulso for maior, irá existir difusão térmica adjacente ao volume primário aquecido pela acção directa do laser, e será ainda maior a área da lesão provocada pelo laser e também maior o volume do tecido lesado5. Neste caso, o tecido retiniano lesado e morto vai sofrer renovação e remodelação tecidular. Não será só renovação dos organelos celulares, como acontece na hipertermia. O tecido retiniano sofrerá uma alteração na sua composição celular, controlada pela expressão genética dos mediadores de inflamação, da vascularização e inibição de neovascularização, da reparação e crescimento celular, com especial destaque para a proliferação das células gliais e do EPR. Estas sofrem algum processo de metaplasia com migração pigmentar. Os FR verão o seu número diminuído no local da cicatriz com consequente diminuição do consumo de O2. CONCLUSÃO Após a teoria unitária do Oxigénio na retina de Stefánsson7 diríamos que existem, efectivamente, dois principais mecanismos de acção pela qual o laser actua da RD57: 1. A melhoria da oxigenação da retina quer por provável diminuição do consumo de O2 pelos FR lesados na fotocoagulação quer por abertura de “pontes de oxigénio” entre a coroideia e a retina interna . Convém lembrar que a lesão dos FR só é significativa no caso de PRP, não nos afigurando importante para a diminuição do consumo de O2 no caso da grelha macular, dado que, na mácula, não é objectivo do tratamento lesar os FR, mas somente o EPR. Muito menos se farão “pontes de O2”. Quando muito lesamos os segmentos externos dos FR. 2. Modificação da expressão genética e produção de mediadores da homeostase da vascularização e de permeabilidade vascular, nomeadamente, aumento PEDF e diminuição do VEGF, directamente ou induzido pelo PEDF, metaplasia ou hiperplasia das células da retina (glia, CE, EPR), com remodelação dos tecidos retinianos envolvidos no processo de cicatrização da lesão térmica. Associamos o aumento da MMPs, e das HSPs, a estimulação da migração das stem cells para a retina e a renovação celular e reestruturação da microarquitectura com determinado número de proteínas estruturais. Estas serão, muito provavelmente, também responsáveis pelo efeito de longo prazo do efeito terapêutico do laser. BIBLIOGRAFIA 1. Niemz MH – Laser-Tissue Interactions: Fundamentals and Aplications Spring-Verlag Berlin Heidelgerg New York 1996. 2. Dias, JM Os vários lasers médicos in Manual do Curso Pós Graduado do Laser Médico – SPILM-Sociedade Portuguesa Interdisciplinar do Laser Médico 1998. 3. 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CONTACTO [email protected] Abreviaturas: PEDF - Pigment Epithelium Derived Factor PRP - fototerapia laser térmico da retina com padrão de fotocoagulação panretinia dispersa RD - Retinopatia Diabética RDP - Retinopatia Diabética Proliferativa EPR - Epitélio Pigmentado da Retina Vol. 36 - Nº 4 - Outubro-Dezembro 2012 | 363 José Henriques, João Nascimento, Paulo Caldeira Rosa, Fernando Trancoso Vaz, Miguel Amaro Cdo - comprimento de onda CW - onda contínua CRLR - Calcitonin Receptor-like Receptor IL-1b- Interleucina 1 beta FGF-1 - Fibroblast Growth Factor 1 PAI -2 - Plasminogen Activator inhibitor-2 MMP-2 - Metaloproteinase da membrane -2 TIMP-1 - Tecidual Inibitor Metalo Proteinase-1 FR- foto-receptores 364 | Revista da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia Oftalmologia - Vol. 36: pp.365-374 Artigo Original Implante Intravítreo de Dexametasona: Os Nossos Primeiros 100 Casos Ana Travassos, Dídia Proença, Isaura Regadas, Isabel Pires, António Travassos, Rui Proença Centro Cirúrgico de Coimbra Resumo Introdução: Uma formulação de libertação prolongada de dexametasona intravítrea surgiu recentemente, com indicação no tratamento do edema macular associado a oclusões venosas, mas cujo uso poderá ser generalizado a outras causas de inflamação e edema macular. Objectivos: Analisar a eficácia e eventuais complicações do tratamento do edema macular de diferentes etiologias com implante intravítreo de dexametasona. Materiais e Métodos: Estudo retrospectivo envolvendo 100 olhos (90 doentes), com edema macular associado a diversas patologias e submetidos a injecção intravítrea de implante de dexametasona (700 microgramas). Foram realizados diversos exames complementares (retinografia, angiografia fluoresceínica, autofluorescência, microperimetria, OCT e Optomap). Avaliou-se a duração de acção do implante entre doentes não vitrectomizados e vitrectomizados. Resultados: Foram estudados 90 doentes (100 olhos) com idade média de 62,4 ±12,2 anos (var.16-85). As patologias associadas foram oclusões venosas (18 olhos), retinopatia diabética (24 olhos), cirurgia intraocular (33 olhos), traumatismo ocular (7 olhos), uveíte (9 olhos), efusão uveal (2 olhos) e outras patologias (7 olhos). O tempo médio de seguimento foi de 5,0±2,0 meses. Verificou-se uma redução significativa do edema em 93% dos casos, com efeito mantido durante 3,7 meses. Registou-se uma hipertensão intraocular transitória em 22 olhos, medicamente controlada, e uma “migração” do implante para a câmara anterior em 3 olhos, que exigiu a sua recolocação na cavidade vítrea. Conclusões: O implante intravítreo de dexametasona pode acelerar a resolução do edema macular em diferentes patologias, com baixa incidência de efeitos secundários. Um tempo de seguimento superior será necessário para se comprovar a eficácia, duração de acção e segurança a longo prazo. Palavras-chave Implante intravítreo, dexametasona, eficácia, complicações. Introdução A obtenção de doses terapêuticas eficazes de fármacos no vítreo e na retina, através da via tópica ou sistémica, é difícil respectivamente pela baixa penetrabilidade intravítrea dos colírios e pela alta selectividade da barreira hemato-retiniana. A administração de drogas por via subconjuntival, peribulbar ou intravítrea permite alcançar concentrações intraoculares mais elevadas mas, geralmente, face à baixa semivida dos fármacos1, são necessárias múltiplas injecções, com vários riscos associados. Têm sido desenvolvidos diversos sistemas de libertação prolongada, sob a forma de implantes ou de “partículas” injectáveis intravítreos, para o tratamento de diversas doenças do segmento posterior. Vol. 36 - Nº 4 - Outubro-Dezembro 2012 | 365 Ana Travassos, Dídia Proença, Isaura Regadas, Isabel Pires, António Travassos, Rui Proença Alguns implantes não biodegradáveis estão já disponíveis para aplicação clínica ou encontram-se em fase de investigação clínica avançada. São exemplos o Vitrasert® Implant (Bausch&Lomb), implante de ganciclovir, para tratamento de retinite por citomegalovirus, o Retisert® (Bausch&Lomb) e o Iluvien® (Alimera Sciences, Inc.), ambos implantes de acetonide fluocinolona, respectivamente para o tratamento de uveítes não infecciosas e edema macular diabético, e o NT-501 (Neurotech’s), polímero com células epiteliais retinianas modificadas para segregar factor neurotrófico ciliar, para uso na degenerescência macular da idade (não exsudativa), e na retinopatia pigmentar. Recentemente surgiu um dispositivo de libertação prolongada de dexametasona, o Ozurdex® (Allergan, Irvine, CA, USA), sob a forma de implante biodegradável. Este implante é constituído por um copolímero de ácido láctico e ácido glicólico (PLGA), que forma a estrutura da matrix (Novadur® , Allergan Inc) e no qual se encontra dispersa dexametasona sem conservantes. O polímero de PLGA é conhecido há vários anos e tem sido usado na preparação de nanopolímeros e micropartículas para distribuição de fármacos. Estes sistemas de libertação foram já testados em modelos animais e humanos2-6. A difusão de 700µg de dexametasona ocorre de modo bifásico neste dispositivo. O pico de concentração no vítreo e retina é geralmente atingido aos 2 meses, seguido de um declínio rápido na concentração até aos 3 meses e, posteriormente, verifica-se um segundo “steady-state” até aos 6 meses, em olhos não vitrectomizados7. Os polímeros usados são biocompatíveis, sendo metabolizados em dióxido de carbono e água, pelo que não é necessária a remoção cirúrgica do implante1,8. Nos estudos preliminares o dispositivo era injectado na cavidade vítrea através de uma incisão escleral via pars plana9,10. Posteriormente, foi desenvolvido um aplicador de modo a permitir a injecção do implante via pars plana através de uma agulha 22G, sem necessidade de sutura11. Este novo sistema de libertação prolongada de corticóide tem um papel potencial no tratamento de doenças do segmento posterior, particularmente de situações em que a triamcinolona já tenha demonstrado eficácia. A sua aplicação clínica foi já aprovada pela FDA no tratamento do edema macular associado a oclusões venosas centrais ou de ramo (CRVO e BRVO)11 e em uveítes intermédias e posteriores não infecciosas12. No entanto, a sua utilização poderá ser generalizada a outras causas de inflamação e edema macular. Objectivos Analisar a eficácia do tratamento do edema macular de 366 | Revista da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia diferentes etiologias com o implante intravítreo de dexametasona e descrever eventuais complicações associadas ao uso deste dispositivo. Materiais e Métodos Estudo retrospectivo aberto, unicêntrico, realizado entre Janeiro e Agosto de 2011, no Centro Cirúrgico de Coimbra, e que envolveu 100 olhos de 90 doentes com diagnóstico de edema macular associado a múltiplas patologias e submetidos a injecção intravítrea de implante de dexametasona. Os doentes foram informados do uso “off-label” deste dispositivo (nomeadamente nos casos em que o edema macular não estava associado a oclusões venosas ou uveítes, indicações actualmente aprovadas pelo FDA e EMEA) e esclarecidos quanto às vantagens possíveis da sua utilização. Todos doentes assinaram o consentimento informado. Todos doentes foram submetidos a um exame oftalmológico completo e realizaram exames complementares de diagnóstico: retinografia (Topcon TRC 50 IX, Japão e Optomap, Optos, Escócia), angiografia fluoresceínica autofluorescência e tomografia de coerência óptica – OCT (Spectralis, Heidelberg Engineering, Alemanha), e microperimetria (SLO Rodenstock, Alemanha), antes e após injecção do implante de dexametasona, para estudo e documentação da evolução do edema macular. As avaliações foram realizadas antes da injecção do implante, 1 semana após a injecção e depois mensalmente até aos 6 meses. Os parâmetro de avaliação primários foram a espessura média da retina na área macular (avaliada pelo OCT) e a melhor acuidade visual corrigida (MAVC), sendo a avaliação do edema angiográfico e restantes exames considerados parâmetros secundários. Foram também analisadas as complicações decorrentes do uso do implante, bem como os tratamentos que estas implicaram. Os doentes foram distribuídos por grupos de acordo com as causas do edema macular (oclusões venosas, retinopatia diabética, cirurgia intraocular, traumatismo ocular, uveítes, efusão uveal associada a hipermetropia, e outras causas). Foram igualmente avaliados os resultados em doentes vitrectomizados e não vitrectomizados. Resultados Foram estudados 100 olhos (90 doentes) com edema macular de diferentes etiologias, e submetidos a injecção intravítrea de implante de dexametasona. Os doentes apresentavam uma média de idades de 62,4 ±12,2 anos Implante Intravítreo de Dexametasona: Os Nossos primeiros 100 casos (variando entre 16 e 85), dos quais 60 (66,7%) eram do sexo masculino e 30 (33,3%) do sexo feminino. O tempo médio de seguimento dos doentes foi de 5,0±2,0 meses (variando entre 2 e 8 meses). As patologias associadas ao edema macular foram as oclusões venosas (centrais e de ramo) em 18 olhos, a retinopatia diabética em 24 olhos, a cirurgia intraocular (cirurgia de catarata em 5, cirurgia de membrana epirretiniana em 15, cirurgia a descolamento da retina em 12 e buraco macular em 1) em 33 olhos, os traumatismos ocular em 7 olhos (2 dos quais com hipotonia), a uveíte posterior em 9 olhos, a efusão uveal em 2 olhos, e outras patologias em 7 olhos (schisis miópica com membrana epirretiniana em 3, DMI em 2, edema macular idiopático em 1 e após queratoprótese em 1). É de referir apenas que, no caso do buraco macular inserido no grupo da cirurgia intraocular, o doente apresentava buraco macular e MER. Após a cirurgia o buraco fechou, mas desenvolveu edema macular cistóide que motivou a injecção do implante de dexametasona. Dos olhos estudados, 60 eram vitrectomizados (60%). A distribuição das patologias associadas ao edema macular encontram-se expressas no Quadro I. Nos 100 casos, verificou-se uma redução significativa do edema macular em 93 casos (93%), comprovada pela angiografia fluoresceínica e objectivada pela redução da espessura média da fóvea no OCT (Fig.1). Observaram-se algumas diferenças na redução da espessura média da fóvea entre olhos vitrectomizados e não vitrectomizados (Fig. 2). A espessura média da fóvea, antes da injecção, era de 563,7 µm e de 414,5 µm, uma semana após (Quadro II). Observou-se um efeito mantido de redução da espessura da retina (considerado duração do efeito terapêutico) de 3,7 meses (entre 2-4 meses), variando de acordo com as patologias Fig. 1 | Espessura média da fóvea antes e após injecção do implante de dexametasona, em todos os casos. Fig. 2 | Espessura média da fóvea antes e após injecção do implante de dexametasona, em todos os casos (vitrectomizados e não vitrectomizados). Quadro I | Patologias associadas ao edema macular (n=100 olhos). Patologias n/% n (%) de olhos vitrectomizados Oclusões venosas 18 6 (33,3%) Retinopatia diabética 24 9 (37,5%) Cirurgia intraocular 33 30 (90,9%) Catarata (n=5); membrana epirretiniana (n=15); descolamento da retina (n=12); buraco macular e MER (n=1). Traumatismo ocular 7 6 (85,7%) Hipotonia ocular (n=2) Uveíte 9 4 (44,4%) Efusão uveal 2 0 Outras causas 7 5 (71,4%) Veia central da retina (n=5); ramo venoso (n=13) Schisis miópica associada a miopia (n=3); DMI (n=2); Queratoprótese de Boston (n=1); edema macular idiopático (n=1) Vol. 36 - Nº 4 - Outubro-Dezembro 2012 | 367 Ana Travassos, Dídia Proença, Isaura Regadas, Isabel Pires, António Travassos, Rui Proença Quadro II | Espessura média na mácula (µm) avaliada pelo OCT (n=100 olhos) Pré 8 dias 1 Mês 2M 3M 4M Oclusões venosas 499,2 (±202,3) 317,6 (±146,9) 273,9 (±106,5) 298,4 (±121,7) 336,3 (±133,1) 632,8 (±107,8) Retinop. diabética 526,7 (±199,4) 310,8 (±107,4) 288,7 (±97,7) 264,1 (±61,2) 304,4 (±82,9) 612,5 (±78,5) Cirurgia intraocular 419,6 (±139,9) 321,3 (±90,2) 309,7 (±110,5) 285,3 (±75,2) 295,5 (±101,4) 407,1 (±168,2) Traumatismo ocular 448,4 (±221,7) 375,4 (±253,5) 352,0 (±303,0) 280,4 (±66,9) 373,7 (±203,6 - Uveíte 449,0 (±330,4) 192,8 (±57,5) 191,0 (±44,5) 180,4 (±17,8) 176,3 (±17,8) 181,0 (±22,6) Efusão uveal 602,0 (±357,8) 696,0 (±260,2) 376,0 (±55,2) 412,0 287,0 - Outras causas 430,125 (±174,4) 274,857 (±137,4) 305,0 (±189,7) 262,5 (±91,2) 404,5 (±23,3) - associadas ao edema macular. Não se verificou uma redução aparente do edema macular em 7 casos (7%): 1 caso com retinopatia diabética, 2 casos de hipotonia ocular, 1 caso com schisis miópica associado a membrana epirretiniana, 1 doente operado a MER, outro submetido a cirurgia de catarata e finalmente 1 operado a descolamento de retina. Uma melhoria da MAVC foi observada na maioria dos olhos (91%), variando substancialmente com a patologia associada. Não se verificou melhoria da MAVC em 9 olhos (9%):4 casos com oclusões venosas, 1 caso de retinopatia diabética, 1 caso de hipotonia ocular, 1 caso de uveíte posterior e 2 casos submetidos a cirurgia de membrana epirretiniana. No entanto, observou-se melhoria do edema macular na angiografia e no OCT nestes doentes. Fig. 3 | Espessura média da fóvea antes e após injecção do implante, em casos de oclusão da veia central da retina, vitrectomizados (n=3) e não vitrectomizados, (n=2). Fig. 4 | Espessura média da fóvea antes e após injecção do implante, em casos de oclusão de ramo venoso retiniano, vitrectomizados (n=3) e não vitrectomizados (n=10). 368 | Revista da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia Oclusões venosas Neste grupo de doentes foram incluídos 5 casos de oclusão da veia central da retina e 13 de oclusão de ramo venoso retiniano. Observou-se uma redução significativa do edema macular em todos os casos, comprovado pela angiografia fluoresceínica e objectivado pela redução da espessura média da fóvea no OCT (Fig. 3 e 4). Implante Intravítreo de Dexametasona: Os Nossos primeiros 100 casos Observou-se um efeito mantido de redução da espessura da fóvea (considerado duração do efeito terapêutico) de cerca de 2 a 3 meses. Uma melhoria da MAVC foi observada na maioria dos olhos (78%). Não se verificou melhoria da MAVC em 4 olhos (22%) apesar de se ter observado melhoria do edema macular na angiografia e no OCT. Retinopatia diabética Neste grupo de doentes foram incluídos 24 casos e observou-se uma redução significativa do edema macular em 23 casos (95,8%), comprovado pela angiografia fluoresceínica e objectivado pela redução da espessura média da fóvea no OCT (Fig. 5). Fig. 6 | Espessura média da fóvea antes e após injecção do implante de dexametasona, em casos de edema macular após cirurgia intraocular, vitrectomizados (n=30) e não vitrectomizados (n=3). Observou-se um efeito mantido de redução da espessura da retina (considerado duração do efeito terapêutico) de cerca de 3 meses. Uma melhoria da MAVC foi observada na maioria dos olhos (93,9%),. Não se verificou melhoria da MAVC em 2 olhos operados a membrana epirretiniana (6,1%), apesar de se ter observado melhoria do edema macular na angiografia e no OCT. Fig. 5 | Espessura média da fóvea antes e após injecção do implante de dexametasona, em casos de retinopatia diabética , vitrectomizados (n=9) e não vitrectomizados (n=15). Observou-se um efeito mantido de redução da espessura da retina (considerado duração do efeito terapêutico) de 2 meses nos doentes não vitrectomizados e de 3 meses nos vitrectomizados. Uma melhoria da MAVC foi observada na maioria dos olhos (95,8%). Não se verificou melhoria da MAVC em 1 olho (4,2%) apesar de se ter observado melhoria do edema macular na angiografia e no OCT. Cirurgia intraocular Neste grupo de doentes foram incluídos 33 casos: 5 casos de cirurgia catarata, 15 de cirurgia de membrana epirretiniana, 12 casos de descolamento da retina e 1 caso de buraco macular e MER. Observou-se uma redução significativa do edema macular em 30 casos (90,9%), comprovado pela angiografia fluoresceínica e objectivado pela redução da espessura média da retina no OCT (Fig.6). Traumatismo ocular Neste grupo de doentes foram incluídos 7 casos, dos quais resultaram 2 casos de hipotonia ocular. Observou-se uma redução significativa do edema macular em 5 casos (71,4%), comprovado pela angiografia fluoresceínica e objectivado pela redução da espessura média da retina no OCT (Fig.7). Observou-se um efeito mantido de redução da espessura da retina (considerado duração do efeito terapêutico) durante 1 mês nos doentes não vitrectomizados e pelo menos 3 meses nos vitrectomizados. Uma melhoria da MAVC foi observada na maioria dos olhos (85,7%). Não se verificou melhoria da MAVC em 1 olho (14,2%) apesar de se ter observado melhoria do edema macular na angiografia e no OCT. Uveítes Neste grupo de doentes foram incluídos 9 casos de uveítes posteriores de causa não infecciosa. Observou-se uma redução significativa do edema macular em todos os casos, comprovado pela angiografia fluoresceínica e objectivado pela redução da espessura média da retina no OCT (Fig.8). Vol. 36 - Nº 4 - Outubro-Dezembro 2012 | 369 Ana Travassos, Dídia Proença, Isaura Regadas, Isabel Pires, António Travassos, Rui Proença edema macular nos 2 olhos em períodos diferentes comprovado pela angiografia fluoresceínica e objectivado pela redução da espessura média da retina no OCT (Fig.9), mas com evolução bastante variável. Previamente ao implante, o olho esquerdo deste doente (Nº2, Fig.9) foi submetido a cirurgia escleral para descompressão das veias vorticosas, sem sucesso. Só após a injecção de dexametasona se verificou uma redução significativa do edema. Fig. 7 | Espessura média da fóvea antes e após injecção do implante de dexametasona, em casos de edema macular após traumatismos oculares, vitrectomizados (n=6) e não vitrectomizados (n=1). Fig. 9 | Espessura média da fóvea antes e após injecção do implante de dexametasona, em casos de edema macular associado a efusão uveal, não vitrectomizados (n=2). Fig. 8 | Espessura média da fóvea antes e após injecção do implante de dexametasona, em casos de edema macular associados a uveíte, vitrectomizados (n=4) e não vitrectomizados (n=5). Observou-se um efeito mantido de redução da espessura da retina (considerado duração do efeito terapêutico) de 4 meses. Uma melhoria da MAVC foi observada na maioria dos olhos (88,9%). Não se verificou melhoria da MAVC em 1 olho (11,1%) apesar de se ter observado melhoria do edema macular na angiografia e no OCT. Efusão uveal Neste grupo foram incluídos 2 olhos com efusão uveal de 1 doente. Observou-se uma redução significativa do 370 | Revista da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia Outras causas Neste grupo de doentes foram incluídos 7 casos: 3 de schisis miópica associada a MER, 2 de DMI, 1 de edema macular idiopático e 1 com queratoprótese de Boston. Os casos com schisis associada a MER foram separados dos outros casos de cirurgia ocular por se tratarem de situações mais raras. A cirurgia destes doentes consistiu na extracção da MER, máculorrexis da MLI e injecção do implante de dexametasona, com melhoria significativa da schisis. Observou-se uma redução significativa do edema macular em 6 casos (85,7%), comprovado pela angiografia fluoresceínica e objectivado pela redução da espessura média da retina no OCT (Fig.10). Observou-se um efeito mantido de redução da espessura da retina (considerado duração do efeito terapêutico) de pelo menos 1 mês nos olhos vitrectomizados. Uma melhoria da MAVC foi observada em todos dos olhos. Evolução e Complicações Em 3 doentes (3%) houve necessidade de recorrer a outros tratamentos por perda da eficácia terapêutica do implante de dexametasona, tendo sido administrado triamcinolona por via subtenoniana ou intravítrea. A partir do momento Implante Intravítreo de Dexametasona: Os Nossos primeiros 100 casos estimado em função da espessura média da área macular no OCT e da angiografia fluoresceínica. Relativamente a complicações decorrentes do uso do implante, verificou-se uma hipertensão intraocular transitória (considerando hipertensão valores de pressão intraoculares superiores a 22 mmHg) em 22 olhos, controlada medicamente em todos. Observou-se, ainda, a passagem do implante para a câmara anterior em 3 olhos (2 dos quais com edema corneano), que exigiram a sua recolocação na cavidade vítrea (Fig.11). Fig. 10 | Espessura média da fóvea antes e após injecção do implante de dexametasona, em casos de edema macular associado a outras causas, vitrectomizados (n=5) e não vitrectomizados (n=2). em que estes doentes foram injectados com o fármaco referido foram excluídos dos cálculos estatísticos. Foi realizado um segundo implante de dexametasona em 3 doentes (1 caso de oclusão venosa de ramo, 1 caso de uveíte posterior e 1 caso após cirurgia de descolamento de retina) por agravamento significativo do edema macular aos 4 meses (entre os 3 e os 5 meses) O tempo médio de duração da eficácia terapêutica do implante de dexametasona foi de 3 meses (Quadro III), Quadro III | Tempo médio de eficácia terapêutica (meses) Olhos não vitrectomizados Olhos vitrectomizados Oclusão VCR 3m 2m Oclusão de ramo da VCR 3m 3m Retinopatia diabética 2m >3 m Cirurgia intraocular 3m 3m Traumatismo ocular 1m >3 m Uveíte 4m >4 m - >1 m Patologias Outras causas Fig. 11 | Passagem do implante de dexametasona para a câmara anterior em 2 casos clínicos de traumatismo ocular. a) O implante passou através da ruptura da zónula e do esfíncter da íris, com descompensação corneana B) Fragmento de implante na câmara anterior com descompensação corneana marcada em doente pseudofáquica. Discussão O uso de corticosteróides em oftalmologia teve início na década de 5013-14 e tornou-se uma opção terapêutica muito atractiva face às suas propriedades anti-inflamatórias e anti-angiogénicas. O entusiasmo inicial do seu uso Vol. 36 - Nº 4 - Outubro-Dezembro 2012 | 371 Ana Travassos, Dídia Proença, Isaura Regadas, Isabel Pires, António Travassos, Rui Proença generalizado deu lugar a uma apreciação mais criteriosa das principais indicações terapêuticas15, especialmente após conhecimento dos efeitos secundários locais e sistémicos que advieram do seu uso prolongado e da sua acção limitada na causa responsável pela inflamação, principalmente em situações crónicas13. Uma das indicações para o uso deste grupo de fármacos é o tratamento do edema macular que, quando crónico, pode ser de difícil resolução. A necessidade de obtenção de doses terapêuticas eficazes no segmento posterior, com um mínimo de efeitos sistémicos, tem sido uma preocupação constante na utilização de corticóides. A injecção intravítrea destes agentes farmacológico, nomeadamente de triamcinolona acetonide, permitiu atingir estes objectivos. Esta droga foi proposta para o tratamento da vitreorretinopatia proliferativa16-17, mas a sua eficácia tem sido comprovada em diferentes entidades patológicas associadas a neovascularização, inflamação e edema, como o edema macular diabético, o glaucoma neovascular, a hipotonia, a neovascularização coroideia, as uveítes, as oclusões venosas e a inflamação residual associada a endoftalmite, a síndroma de Irvine-Gass, ou como terapia adjuvante de DMI exsudativa1,8. Apesar de existirem múltiplas publicações descrevendo os resultados da sua utilização oftalmológica nos últimos 40 anos, continua a não existir uma formulação ocular de triamcinolona, o que torna o seu uso “off-label”, com as implicações técnicas e legais inerentes. Deste modo, torna-se necessário manipular o fármaco, não sendo conhecida nem a dose nem o esquema de reinjecção apropriado. Além disso, a própria administração de uma suspensão torna a dosagem do fármaco pouco precisa18, podendo a mesma variar significativamente (um estudo da dose real do fármaco intravítreo injectado demonstrou que a administração de 0,1 ml de triamcinolona a 40 mg/dl, pode variar de 1,4 mg a 12,9 mg de fármaco19). No caso de algumas formulações de triamcinolona, como é o caso do Kenalog® (Bristol-Myers Squibb), a presença de cristais insolúveis, úteis no “atraso” da sua eliminação ocular, pode causar uma visão turva (se ficarem suspensos no vítreo e em frente ao eixo visual) e podem ainda tornar difícil o diagnóstico diferencial com endoftalmite, se originarem um pseudo-hipópion8. Os efeitos secundários mais comuns descritos com a utilização intravítrea deste fármaco foi o aumento da pressão intraocular e o aparecimento precoce de catarata20,21. O desenvolvimento recente de um implante intravítreo de libertação prolongada de dexametasona parece trazer várias vantagens comparativamente à triamcinolona. A formulação ocular dispensa o manuseamento do fármaco e permite administrar uma dose intravítrea mais rigorosa. 372 | Revista da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia A forma sólida do dispositivo não turva a visão, e o facto de ser de libertação prolongada permite uma distribuição ocular mais controlada do fármaco. Além disso, o facto da dexametasona ser cinco vezes mais potente22 e mais hidrofílica que a triamcinolona acetonide, permite atingir maiores concentrações intravítreas23, com uma redução do número necessário de administrações e, consequentemente, um risco potencial mais baixo de efeitos secundários. Este dispositivo foi aprovado pela FDA no tratamento do edema macular associado às oclusões venosas centrais e de ramo e, ainda, nas uveítes não-infecciosas. Os estudos clínicos, realizados no edema macular associado às CVRO e BRVO, revelaram que a administração de dexametasona (nas dosagens de 350 µg ou de 700 µg) melhorou a AV em 3 linhas em 29% dos olhos, até ao dia 60, comparativamente aos 11% do grupo controlo. Esta diferença persistiu, pelo menos, até ao dia 90. Ao dia 180, 41% dos olhos injectados com o implante de 700 µg atingiu, pelo menos, um ganho de 3 linhas vs. 29% dos olhos do grupo controlo. Também se verificou um aumento duplo do risco de perda de AV>15 letras nos doentes do grupo controlo, comparativamente aos doentes injectados com 700 µg de dexametasona. Esse risco persistiu aos 12 meses, mesmo após o grupo controlo ter sido injectado com o implante de 700 µg aos 6 meses. 21% dos doentes com oclusão venosa de ramo e 17% com oclusão venosa central seguidos durante 1 ano necessitaram de apenas 1 tratamento8,11. A eficácia do implante de dexametasona foi igualmente avaliada no tratamento do edema macular diabético (EMD) persistente (com duração superior a 90 dias) num trabalho recente6. Neste estudo, um terço dos doentes tratados com o implante de 700 µg de dexametasona melhoraram 10 ou mais letras ETDRS, comparativamente aos 12,3% do grupo sem terapêutica instituída. Verificou-se, ainda, uma melhoria significativa na redução do derrame angiográfico e na redução da espessura da retina no OCT. No entanto, a diferença descrita entre os grupos não foi mantida até aos 3 meses (30% vs 23%), tal como se pode constatar neste estudo. No que diz respeito ao edema macular associado a uveítes ou após cirurgia de catarata (síndroma de Irvine-Gass), também um estudo recentemente publicado10 revelou um ganho superior a 15 letras ETDRS em 53,8% dos doentes tratados com 700 µg de dexametasona, comparativamente aos 7,1% dos olhos do grupo controlo. A redução do derrame angiográfico também foi estudada observando-se que 58% dos olhos do grupo tratado melhoraram dois ou mais níveis comparativamente aos 8% do grupo controlo. Outro estudo que avaliou o uso do implante de dexametasona em uveítis intermédias e posteriores não infecciosas24, demonstrou que 33% dos olhos do grupo tratado com Implante Intravítreo de Dexametasona: Os Nossos primeiros 100 casos o implante de 700 µg de dexametasona melhorou 3 linhas de letras ETDRS nas primeiras 3 semanas após injecção e uma resolução do haze às 6 semanas em 90% dos grupos tratados (350 µg e 700 µg de dexametasona) comparativamente aos não tratados. Relativamente aos olhos com EM associado a uveítes ou a cirurgia de catarata, neste estudo, observou-se igualmente uma melhoria significativa do edema, mas de duração inferior à esperada. O uso do implante de dexametasona no edema macular associado a outras cirurgias oculares, como a cirurgia de descolamento de retina ou a extracção de membranas epirretinianas, foi também avaliado neste estudo, observando-se uma melhoria significativa e rápida do EM. No entanto, a duração da eficácia terapêutica foi menos duradoura do que o esperado. Para além do estudo da evolução do edema, será também relevante o facto do fármaco sofrer alterações farmacocinéticas nos olhos vitrectomizados, com uma eliminação mais rápida do fármaco e, consequentemente, uma redução do seu tempo de semi-vida. Este conceito foi reforçado pelo estudo CHAMPLAIN25. Este estudo consistiu na avaliação da redução do edema em doentes vitrectomizados, com edema macular diabético, injectados com dexametasona, com aparente pico de eficácia entre as 8 e as 13 semanas após injecção. No presente estudo a redução do edema macular diabético parece ser relativamente rápida, mas com uma perda de eficácia terapêutica nítida cerca das 12 semanas. Relativamente às complicações decorrentes do uso do implante de dexametasona, estas parecem ser relativamente raras. Neste estudo verificou-se hipertensão intraocular transitória (valor considerado foi uma pressão intraocular superior a 22 mmHg) em 22 olhos, mas controlada medicamente em todos. A passagem do implante para a câmara anterior em 3 casos foi outra das complicações observadas. Dois casos desenvolveram edema corneano, o que exigiu a recolocação do implante na cavidade vítrea. O edema corneano resolveu-se em todos os casos, sem sequelas aparentes. No entanto, um trabalho recente26 relatou um caso clinico da migração de um implante de dexametasona para o segmento anterior, numa doente de 68 anos, com descompensação endotelial difusa e que não resolveu após remoção cirúrgica do implante. A doente necessitou de ser submetida a um transplante de córnea. Conclusões Apesar dos bons resultados preliminares na redução do edema macular em diferentes patologias, é fundamental um maior número de doentes e um tempo de seguimento superior para que se confirmem as vantagens na utilização deste implante. É igualmente necessário que se avaliem os efeitos secundários decorrentes do seu uso a longo prazo. Apesar da sua relativa rapidez de actuação e eficácia, os resultados deste estudo apontam para uma duração de acção mais curta do que o esperado. Bibliografia 1. Herrero-Vanrell R, Cardillo JA, Kuppermann BD. Clinical applications of the sustained-release dexamethasone implant for treatment of macular edema. Clinical Ophthalmology 2011;5:139-146. 2. Herrero-Vanrell R, Refojo MF. Biodegradable microspheres for vitreoretinal drug delivery. Adv Drug Deliv Rev. 2001;52(1):5–16. 3. Kompella UB, Bandi N, Ayalasomayajula SP. 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Anterior chamber migration of dexametasone intravitreal implant (Ozurdex(R)) Graefes Arch Clin Exp Ophthalmol. 2011 published on line 23 Aug 2011. Prémio MSDChibret SPO 2011 exequo Nenhum dos Autores tem interesses comerciais nos medicamentos discutidos neste artigo. CONTACTO Ana Travassos Centro Cirúrgico de Coimbra Coimbra, Portugal 936367170 [email protected] Oftalmologia - Vol. 36: pp.377-386 Artigo Original Phenotypical and Genetic Analysis of 12 Portuguese Patients with CFEOM Syndrome Inês R Gante2,3, Mariana Almeida1,3, Miguel Ribeiro1, Dalila Salomé Coelho1, Lígia Gomes Cardoso1, Eduardo D. Silva1,2 1 Centro de Responsabilidade de Oftalmologia dos Hospitais da Universidade de Coimbra 2 Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra 3 The authors contributed equally to this paper (first authorship) Abstract Introduction: Congenital fibrosis of the extraocular muscles (CFEOM) describes a group of rare congenital non-progressive, restrictive ophthalmoplegia of the extraocular muscles with or without ptosis. They are associated with abnormal development of all or part of the oculomotor (III) and the trochlear (IV) nerves and resultant aberrant innervations of extraocular muscles and/ or levator. Objective: To perform a complete phenotypical characterization of twelve affected Portuguese individual, a genetic evaluation searching for the “hotspot” CFEOM mutations in KIF21A by direct sequencing (in nine patients of six independent families) and to establish a potential genotype-phenotype correlations. Methods: Clinical evaluation and mutation analyses of the KIF21A gene in twelve Portuguese patients with CFEOM. Results: Congenital fibrosis of the extraocular muscles was demonstrated in all cases. We identified ten patients with CFEOM type 1 and two patients with probable CFEOM type 3. All patients have bilateral ptosis with a compensatory chin up head posture, 92% have amblyopia, 42% neural misdirection, 42% have associated systemic features (such as intellectual development delay in 25% and polydactyly in 8,3%). Most patients have ophthalmoplegia with the eyes fixed in infraducted position (with the inability to elevate the eyes above the vertical midline), horizontal strabismus with variable exotropia and jerky eye movements. Mutational analysis results are pending. Conclusions: We characterize, from a clinical and genetic standpoint, the first group of portuguese families with CFEOM. In-depth knowledge of this group of conditions is invaluable for appropriate treatment and counseling of these patients. Key-words CFEOM, extraocular muscles, KIF21A gene, oculomotor nerve, ophthalmoplegia, ptosis, strabismus, trochlear nerve. Resumo Introdução: Fibrose congénita dos músculos extra-oculares (FCMEO) constitui um grupo raro de patologias caracterizadas por oftalmoplegia congénita, não progressiva e restritiva dos músculos extra-oculares, com ou sem ptose palpebral. FCMEO está associada a desenvolvimento Vol. 36 - Nº 4 - Outubro-Dezembro 2012 | 377 Inês R Gante, Mariana Almeida, Miguel Ribeiro, Dalila Salomé Coelho, Lígia Gomes Cardoso, Eduardo D. Silva anormal da totalidade ou parte dos nervos óculo-motor (III) e troclear (IV) e da consequente inervação aberrante dos músculos extra-oculares e/ou músculo elevador palpebral. Objectivos: Realizar uma completa caracterização fenotípica de doze doentes Portugueses, realizar um estudo genético para os “hotspot” das mutações da FCMEO no gene KIF21A por sequenciação directa (em nove doentes de seis famílias independentes) e estabelecer potenciais correlações genótipo-fenótipo. Métodos: Avaliação clínica e análise mutacional do gene KIF21A em doze doentes portugueses com FCMEO. Resultados: Fibrose congénita dos músculos extra-oculares foi demonstrada em todos os casos. Identificamos dez doentes com FCMEO do tipo 1 e dois doentes com provável FCMEO do tipo 3. Todos os doentes têm ptose bilateral com posição anómala da cabeça compensatória com o queixo levantado, 92% têm ambliopia, 42% têm inervação aberrante, 42% têm patologias sistémicas associadas (tais como atraso mental em 25% e polidactilia em 8,3%). A maioria dos doentes avaliados apresentam oftalmoplegia com os olhos fixos em infradução (sendo incapazes de elevar os olhos acima da linha média vertical), estrabismo horizontal com exotropia variável e movimentos oculares bruscos. Os resultados da análise mutacional estão pendentes. Conclusão: Caracterizamos, de um ponto de vista clínico e genético, o primeiro grupo de famílias portuguesas com FCMEO. Um conhecimento profundo deste grupo de patologias é inestimável para o adequado tratamento e aconselhamento destes doentes. Introduction Congenital fibrosis of the extraocular muscles (CFEOM) is a rare congenital incomitant strabismus syndrome that is included in the congenital cranial dysinnervation disorders (CCDDs). CCDDs are due to developmental abnormalities of the cranial nerves and its nuclei. They are characterized by abnormal eye, eyelid, and/or facial movement and includes CFEOM, Duane retraction syndrome, congenital ptosis, horizontal gaze palsy with progressive scoliosis, Möebius syndrome [Gutowski, 2003] and synergistic divergence2. CFEOM includes four strabismus syndromes: Congenital Fibrosis of the Extraocular Muscles 1 (CFEOM 1), Congenital Fibrosis of the Extraocular Muscles 2 (CFEOM2), Congenital Fibrosis of the Extraocular Muscles 3 (CFEOM3) and Tukel Syndrome [Doherty et al 1999, Nakano et al 2001, Yamada et al 2003, Aubourg et al 2005, Tukel et al 2005]. Overall, CFEOM is characterized by congenital non-progressive, restrictive ophthalmoplegia of the extraocular muscles with or without blepharoptosis [8. Andrews et al 2006]. In general, affected individuals have severe limitation of vertical gaze and variable limitation of horizontal gaze. Individuals with CFEOM frequently compensate for the ophthalmoplegia by maintaining abnormal head 378 | Revista da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia positions and by moving their heads rather than their eyes to track objects. [8. Andrews 2006]. CFEOM affects part or all of the oculomotor nucleus and nerve (cranial nerve III) and its innervated muscles (superior, medial and inferior recti, inferior oblique and levator palpabrae superioris) and/or the trochlear nucleus and nerve (cranial nerve IV) and its innervated muscle (superior oblique). Magnetic resonance imaging suggests that the abducens nerve and innervated muscle (the lateral rectus) may also be affected, as well as the optic nerve [Demer et al 2005]. Neuropathology, neuroimaging and genetic studies nowadays have clarified that myopathic changes are secondary to aberrant innervation of the extraocular muscles. (10. Engle 2006) Usually, CFEOM patients show normal cognitive and physical development; However, there are many cases with delayed psycho-motor development and central nervous system malformations [11. Moguel-Ancheita, 12. Pieh et al 2003, 13.Harissi-Dagher et al 2004]. CFEOM1 is the “classic” and most common form of CFEOM. It’s characterized by bilateral ptosis and ophthalmoplegia with the eyes fixed in an infraducted position and with the inability to elevate the eyes above the horizontal midline. [14. [Engle et al., 1997] Patients characteristically assume a compensatory “chin up” head posture. (15. Heidary 2008). There is a heterogeneous involvement of the horizontal extraocular muscles (16. (Reck et al., 1998)] and Phenotypical and Genetic Analysis of 12 Portuguese Patients with CFEOM Syndrome horizontal strabismus may be present with an increased incidence of exotropia [17-19 (Apt and Axelrod, 1978; Harley et al., 1978; Crawford, 1970). Strabismic and deprivational amblyopia are frequent consequences. [[17-19 (Apt and Axelrod, 1978; Harley et al., 1978; Crawford, 1970)]. Aberrant eye movements are common (especially both eyes turning inward on attempted upgaze and synkinetic eye movements including synergistic divergence). [16. (Reck et al., 1998)], 18. Harley, 19. Crawford, 20. Brodsky]. Marcus Gunn jaw-winking have been observed (21. Yamada et al., 2005; 22. Yazdani and Traboulsi, 2004; 20. Brodsky, 1998; 18. Harley et al., 1978). Forced duction test is positive for restriction. Autopsy and MRI demonstrated: absent or severely hypoplastic superior division of the oculomotor nerve; abnormality of the caudal alpha motor neurons of the oculomotor nucleus; hypoplasia of the oculomotor nerve as it exited in the brain stem and replacement of the normal superior rectus muscle and levator palpebrae superioris with atrophic, fibrotic tissue. [14. Engle et al, 1997, 9. Demer et al. 2005] There are absent or hypoplastic motor nerves to all of the extraocular muscles, further supporting aberrant innervations as an underlying pathological process in CFEOM (. [14. Engle et al, 1997, 9. Demer et al. 2005, 15. Heidary 2008] CFEOM1 is inherited in an autosomal dominant manner with complete penetrance. A patient with CFEOM1 may have inherited the disease-causing mutation or have a de novo gene mutation. The gene is on FEOM1 locus on chromosome 12cen [23. Engle et al, 1994]. KIF21A mutations are associated with most familial cases of CFEOM1 that map to FEOM1 locus and with most simplex cases of CFEOM1. (24. Yamada et al. 2003;25. Tiab et al 2004, 26. Traboulsi & Engle 2004, 27. Lin et al 2005, 28. Shimizu et al 2005, 21. Yamada et al 2005].] Direct sequencing of exons 8, 20, and 21 of the KIF21A gene, which contain all mutations identified to date, detects missense mutations in 97% of individuals with the CFEOM1 phenotype. [8. Andrews 2006] The KIF21A gene encodes a kinesin microtubule-associated motor protein that is associated with anterograde organelle transport in neuronal cells. (29. Marszalek et al., 1999). Seven different heterozygous missense mutations in three of the 38 exons of KIF21A have been identified in individuals with CFEOM1. [23. Yamada et al 2003, Ali et al 2004, 25. Tiab et al 2004,27. Lin et al 2005, 28. Shimizu et al 2005] Mutations may affect structural morphology of the protein, thereby limiting its function [10. Engle,2006) It is suggested that KIF21A protein in humans is essential for delivery of cargo necessary for oculomotor axonal, extraocular muscle or neuromuscular junction development [24.Yamada et al 2003]. CFEOM2 is characterized by congenital non-progressive bilateral ptosis (of variable severity) and a partially or completely fixed large angle exotropia (rarely fixed in an orthotropic position). Vertical and horizontal eye movements are severely restricted. Patients characteristically undertake compensatory strategies such as a “chin up” posture or manual lid elevation to fixate on objects. There is phenotypic heterogeneity about the vertical misalignment (30. Bosley et al 2006). Several patients had anomalous eye movements, such as mild vertical movements of an eye during abduction, convergence or blinking; abduction of an eye on attempted down gaze; and globe retraction. (30. Bosley et al 2006). Often, pupils are small and pupillary light and near reflexes are not presents; however, pupils are reactive to topical pharmacological stimulation (30. Bosley et al 2006, 31. Yazdani et al 2003 ; 32. Wang 1998 ). Amblyopia from both deprivation and strabismus are features of this disease. (31. Yazdani et al 2003). Forced ductions test is positive for restriction. Autopsy, surgery and MRI demonstrated: anatomically absent cranial nerves III and IV; extraocular muscles innervated by both cranial nerve III (i.e. levator palpebrae superioris, superior rectus, inferior rectus, medial rectus, inferior oblique) and cranial nerve IV (superior oblique) were atrophic, tight and thin or absent (30. Bosley et al 2006). Associated systemic abnormalities have not been reported in genetically defined CFEOM2 patients. (30. Bosley et al 2006). CFEOM2 is inherited in an autosomal recessive manner with complete penetrance. CFEOM2 has been found, to date, only in consanguineous pedigrees (1. Gutowksi et al., 2003). The gene for CFEOM has been mapped to the FEOM2 locus on chromosome 11q13 (32. Wang 1998). PHOX2A (ARIX) is the only gene known to be associated with the CFEOM2 phenotype [4. Nakano et al 2001]. To date, four homozygous mutations have been identified: two splice site mutations, one missense mutation, and one nonsense mutation [4. Nakano et al 2001, 31. Yazdani et al 2003]. CFEOM2-causing mutations in PHOX2A all likely result in complete loss of function of paired mesoderm homeobox protein 2A. There is no correlation between specific PHOX2A mutations and the CFEOM2 phenotoype. [4. Nakano et al 2001,30. Bosley et al 2006]. PHOX2A is a homeodomain transcription factor protein that plays a primary role in the oculomotor and trochlear alpha motor neuron development (in mice and zebrafish) and is involved in the determination of the noradrenergic neuronal phenotype. [33. Pattyn et al 1997, 34. Guo et al 1999]. The findings from animal models provide support that CFEOM2 results from aberrant development of the oculomotor and trochlear alpha motor nuclei and absent innervation of the extraocular muscles by cranial nerves III and IV. [4. Nakano et al 2001, 15. G. Heidary et al., 2008] Vol. 36 - Nº 4 - Outubro-Dezembro 2012 | 379 Inês R Gante, Mariana Almeida, Miguel Ribeiro, Dalila Salomé Coelho, Lígia Gomes Cardoso, Eduardo D. Silva CFEOM3 is characterized by a variable phenotypic presentation in which the individual does not meet the clinical criteria for classic CFEOM1 or CFEOM2 (1. Gutowksi et al., 2003). Affected individuals may have bilateral or unilateral disease. Congenital non-progressive unilateral or bilateral ptosis may be present. The vertical eye movements have variable restriction with presence or absence of upgaze above the midline; the horizontal eye movements can be normal to severely restricted. The patient may be orthotropic in primary position, and will adopt compensatory head postures depending upon the severity of the clinical phenotype. (6. Aubourg et al., 2005; 35. Mackey et al., 2002; 3. Doherty et al., 1999). Forced ductions test is positive for restriction. Aberrant eye movements may be present and the pupils are normal. (3. Doherty et al., 1999 CFEOM3 is inherited in an autosomal dominant manner with incomplete penetrance and variable expressivity. According new researches the genetic basis of CFEOM consists in two mutations: in the TUBB3 (gene encoding component of microtubules, a neuronal specific tubulin) (CFEOM3A) (36. Tischfield 2010) and rarely KIF21A (CFEOM3B) (37. Yamada 2004). CFEOM due to TUBB3 mutations can be associated with intellectual and behavioral impairments, facial paralysis, and/or later-onset axonal sensorimotor polyneuropathy. (36. Tischfield 2010) A CFEOM3C variant has been recognized in 3 generations of a single family, where all affected members carry a chromosomal translocation t(2;13)(q37.3;q12.11). (6. Aubourg et al., 2005). Tukel syndrome (or CFEOM-U) is a congenital fibrosis of extraocular muscles with ulnar hand anomalies (postaxial oligodactyly/oligosyndactyly of the hands). It affects primarily the right eye and right hand. It appears to be very rare (only in one large Turkish family). The inheritance is autosomal recessive and the locus was mapped to a 1.5-Mb region on the chromosome 21qter. (7. Tukel et al., 2005). Methods Patient and Pedigree Collection All probands (fig. 1) were examined and met the diagnostic criteria for Congenital Fibrosis of the Extraocular Muscles [8. Andrews et al 2006]. The probands and their family members were also clinically examined according to ophthalmological data collection form from Children’s Hospital Boston Center for Strabismus Research (38). Thus they underwent complete ophthalmic examination of visual acuity, refraction status and general ocular examination, anomalous head posture, 380 | Revista da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia lid position, ocular alignment, ocular motility and were evaluated for associated systemic features. [Table 1] Table 1 | Clinical assessment protocol 1. Age 11. Alignment with abnormal head posture 2. Preliminary diagnosis 12. Ocular motility 3. Cycloplegic refraction 13. Globe retraction 4. Best corrected visual acuity 14. Aberrant movement 5. Pupils (size/shape and reaction to light/near) 15. Nystagmus 6. Anterior segment exam 16. Quality of eye movement (smooth/jerky) 7. Fundus exam 17. Bell’s phenomenon 8. Head Posture 18. Forced duction test 9. Ptosis measurements 19. Inheritance 10. Primary position alignment 20. Other associated features Blood samples were collected from nine representative patients followed at University Hospital of Coimbra. All affected individuals and family members gave written informed consent in accordance with institutional guidelines defined by the ethics committee of the University Hospital of Coimbra. All research procedures were in accordance with the Declaration of Helsinki. Mutation Analysis Blood samples were collected from probands, and genomic DNA was extracted using an automated DNA extractor (BioRobot EZ1, Qiagen, Hilden, Germany). Mutation detection was conducted by PCR amplification of exons 8, 20, and 21 of the KIF21A gene and flanking intron-exon boundaries from genomic DNA of each proband in the six families (nine patients). The analysed exons of the KIF21A gene were PCR-amplified using previously described primers and conditions by the research group at Children’s Hospital Boston Center for Strabismus Research Boston, USA. Results We identified three CFEOM1 pedigrees (families A, B and E), three sporadic CFEOM1 individuals (from families D, F and G) and two probable sporadic CFEOM3 individuals (from families C and H). (fig. 1) Phenotypical and Genetic Analysis of 12 Portuguese Patients with CFEOM Syndrome Fig. 1 | Pedigrees of families with congenital fibrosis of the extraocular muscles (CFEOM). Arrows indicate the proband in each family. Vol. 36 - Nº 4 - Outubro-Dezembro 2012 | 381 Inês R Gante, Mariana Almeida, Miguel Ribeiro, Dalila Salomé Coelho, Lígia Gomes Cardoso, Eduardo D. Silva The findings in families A, B, D, E, F, G (table II and III) are consistent with CFEOM type 1 phenotype. All patients have bilateral ptosis with a compensatory chin up head posture. And all patients have congenital non-progressive ophthalmoplegia with the eyes fixed in a infraducted position (except family B and patient E.IV.1 that have an orthophoric primary position alignment) with the inability to elevate the eyes above the vertical midline. There is a heterogeneous involvement of the horizontal extraocular muscles (most patients have horizontal eye movements but patients A IV.3, A IV.6 and G II.1 have involvement of the horizontal extraocular muscles). The most patients have horizontal strabismus with variable exotropia and jerky eye movements. All patients have amblyopia (with a best corrected visual acuity varying between OU: 0,4 and OU:0,9). Four patients (A IV.3, A IV.6, D II.1 and G II.1) have aberrant eye movements. Nystagmus is common (four in ten patients). No patient have globe retraction. These patients’ inheritance is autosomal dominant (with complete penetrance) in the families A, B and E or unknown (de novo gene mutation?) in the families D, F and G. It is expectable that mutation analyses find mutations of the KIF21A gene (in the exons 8, 20 or 21). The patients C II.1 and H IV.1 (table II and III) have an unknown inheritance and due to their atypical phenotype, they fit the criteria of CFEOM3. Patient C II.1 has multiple systemic features, including intellectual and motor development delay, low implantation ears, polydactyly (of the right foot) and cryptorchidism. He has a marked chin up, head tilt to the left shoulder posture, with marked and bilateral ptosis and severe amblyopia. About the alignment, the right eye has variable exotropia and the left eye has a hypotropic and exotropic position. There is no elevation above vertical midline. Patient H IV.1 has bilateral aberrant innervations of the levator palpebrae superioris (jow-wink-like), moderated chin up and an orthophoric primary position alignment. There is no amblyopia. There is no elevation above vertical midline and adducts only to horizontal midline. There is synergistic divergence. Five patients (42%) have associated systemic features. Three patients (C II.1, D II.1 and F II.1) [25%] have intellectual development delay. Mutational analysis of the KIF21A gene The initial screening of exons 8, 20 and 21 of the KIF21A gene allowed the identification of two independent, previously reported, mutations in the well known mutational hotspots of the KIF21A gene. Both mutations 382 | Revista da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia derive from a nucleotide missense change (2860G>A and 2861C>T) affecting codon 954, and causing a non-conserved substitution of the arginine by another aminoacid, glutamine and tryptophan, respectively. This non-conserved aminoacid change is known to structurally and functionally affect the coiled-coil region, thus influencing the protein’s normal function. Discussion CFEOM is a very rare, congenital and non progressive disorder with multiple extra ocular muscles restrictions. The diagnosis and classification of CFEOM is defined by clinical characteristics and genetics. We have ten patients with the diagnosis of CFEOM type 1 and two patients with the probable diagnosis of CFEOM type 3. Due to the overlap in the clinical features between different CFEOM groups, genetic evaluation is important to confirm the diagnosis. Numerous ocular and systemic associations have been described in patients with CFEOM: refractive errors and amblyopia, neural misdirection, optic nerve dysplasia or hypoplasia, chorioretinal coloboma, Marcus Gunn jaw-winking phenomenon, other cranial nerve anormalies (V and VII), facial dysmorphism and neurodevelopmental defects. We found amblyopia in eleven patients (91,7%), neural misdirection in five patients (41,7%) intellectual and motor development delay in three patients (25%), blepharophimosis and epicantus in one patient (8,3%), polydactyly, low implantation of ears and unilateral cryptorchidism in one patient (8,3%), dermoid cyst, left ventricular hypertrophy and anteroseptal myocardial ischemia in one patient (8,3%). Seven patients (58,3%) have no systemic associated features. In individuals with CFEOM1 seven different heterozygous missense mutations in three of the 38 exons of the KIF21A gene have been identified; in individuals with CFEOM2 four homozygous mutations of PHOX2A have been identified. Individuals with CFEOM3 phenotype are genetically heterogeneous: in individuals with CFEOM3A eight different heterozygous mutations in the TUBB3 gene have been identified, in individuals with CFEOM3B an heterozygous mutation in the KIF21A gene, in individuals with CFEOM3C a translocation t(2;13)(q37.3;q12.11). The genetic evaluation always begins searching for the “hotspot” CFEOM mutations in KIF21A by PCR amplification followed by direct sequencing of exons 8, 20, and 21 of the KIF21A gene and flanking intron-exon boundaries from genomic DNA. However, recent studies reveal that although KIF21A is the only gene associated with CFEOM1 to date, up to 40% of sporadic CFEOM1 cases do not Phenotypical and Genetic Analysis of 12 Portuguese Patients with CFEOM Syndrome Table II | Clinical features and basic eye exam. Patient Age Inheritance Systemic features BCVA C. Refraction Pupils ASE Fundus A III.6 55 AD FAP, glaucoma, arrhythmia OU: 0,5 N.A. (no spectacle correction) PERRLA Amyloid deposits C/D 0,5 RE C/D 1,0 LE Droop out NFL A III.7 50 AD None OU: 06 N.A. (no spectacle correction) PERRLA Normal Normal A IV.3 9 AD Renal cyst (in the right kidney); Blepharophimosis and epicanthus OU: 0,5 OD: +2,5 +0,5x90 OS: +1,25 PERRLA Normal Normal A IV.6 22 AD None OU: 0,4 OD: 0,0 OS: 0,0 PERRLA Normal Normal B II.2 32 AD None OU: 0,6 OD: 0,0 OS: 0,0 PERRLA Normal Normal B III.1 7 AD None OU: 0,6 OD: +1,00 OS: + 1,00 PERRLA Normal Normal OU: 0,1 N.A. (difficult assessment due to photophobia) PERRLA Normal Normal C II.1 6 Unknown Intellectual and motor development delay, low implantation ears, polydactyly of the right foot, cryptorchidism (unilateral) D II.1 5 Unknown Intellectual development delay OU: 0,5 OD: +1,5 x 100; OS: +1,5x80 PERRLA Normal Normal E IV.1 5 AD None OU: 0,5 OD: 0,0 OS: 0,0 PERRLA Normal Normal OU: 0,5 OD: - 8,00 +1,00x80; OS: -7,00 + 1,00x75 PERRLA Normal Normal F II.1 14 Unknown Intellectual development delay, hyperactivity, dermoid cyst on the eyebrow, left ventricular hypertrophy and anteroseptal myocardial ischemia G II.1 10 Unknown None OU: 0,9 OD: +4,5 OS: +5,0 PERRLA Normal Normal H IV.1 8 Unknown None OU: 1,0 N.A. PERRLA Normal Normal Legend: AD - Autosomal Dominant; AR – Autosomal Recessive; ASE - Anterior segment exam; BCVA – Best corrected visual acuity; C. Refraction – Cycloplegic refraction; FAP - Familial Amyloid Polyneuropathy; N.A. – Not available; NFL – Nerve fiber layer; OU – Both eyes; OD - Right eye; OS- Left eye; PERRLA - Pupils equal, round, reactive to light and accommodation. have identifiable mutations in KIF21A (39) and a study of CFEOM1 patients from consanguineous Saudi Arabian families confirmed the lack of KIF21A mutations, evidencing a recessive form of CFEOM1 (40). These studies confirm the genetic heterogeneity of the CFEOM1 clinical phenotype and how it is particularly useful for appropriate genetic counseling of sporadic KIF21A-negative patients. In the Portuguese patients, two previously reported KIF21A mutations (in the three “hotspots”) were identified. However, due to the geographic isolation and genetic uniqueness of our population and the relatively high consanguinity level is possible that we will identify new mutations and/or find KIF21A-negative patients. The results of genetic evaluation are important for: 1. Confirmation of the diagnosis; 2. Clarification of genotype-phenotype correlations; 3. T o assess the impact of different mutations in the clinical severity; 4. To plan the best timing for surgical intervention; 5. Appropriate genetic counseling and prenatal diagnosis. The surgical correction of strabismus and ptosis in CFEOM is challenging. Strabismus surgery is always attempted before ptosis correction. The expectations of strabismus surgery should be realistic and parents and patient should be well informed about these expectations. Presently, it is possible to provide genetic testing and counseling for affected individuals. The recent findings about physiopathology and genetics of CFEOM may lead to improved care for affected individuals because the more the specific disorders are understood, the easier it will be to develop targeted therapies for these disorders. Vol. 36 - Nº 4 - Outubro-Dezembro 2012 | 383 Inês R Gante, Mariana Almeida, Miguel Ribeiro, Dalila Salomé Coelho, Lígia Gomes Cardoso, Eduardo D. Silva Table III | Ocular motility and eyelid functional assessment Patient Head Posture Ptosis Primary position alignment Alignment with AHP Ocular motility GR Aberrant movement Nystagmus Quality of eye movement A III.6 Marked chin up Bilateral and marked Hypotropic position (infraducted) Exotropia in downgaze No elevation; unable to reach vertical midline. Horizontal eye movements. No No Yes Jerky A III.7 Marked chin up Bilateral and marked Hypotropic position (infraducted) Exotropia in downgaze No elevation; unable to reach vertical midline. Horizontal eye movements. No No Yes Jerky A IV.3 Marked chin up Bilateral and marked Esotropic and hypotropic position Esotropia No elevation. Abducts only to horizontal midline but not beyond. No Yes (synergistic convergence) Yes Jerky Yes No Jerky No Smooth (except on attempted elevation: jerky) A IV.6 Marked chin up Bilateral and marked B II.2 Moderated chin up Bilateral but asymmetric; moderated B III.1 Moderated chin up Bilateral but asymmetric; moderated C II.1 Marked chin up, head tilt to the left shoulder Hypotropic position (infraducted) No elevation, neither adduction, neither abduction. In Hypotropic attempted downgaze large angle exotropia; position; No In attempted Alternate supraduction – fixation with variable esotropia; In OD/OS. attempted levodextroversion – small angle esotropia. Orthophoric No elevation above vertical midline Orthophoric Orthophoric No elevation above vertical midline No No No Smooth (except on attempted elevation: jerky) Bilateral and marked OD: Variable exotropia OS: hypotropic and exotropic position OS: hypotropic position (variable) No elevation above vertical midline No No Yes Jerky D II.1 Small chin up position Bilateral, moderated OU: Variable exotropia. OD: Hypotropic and exotropic position Orthophoric – exotropia variable No elevation above vertical midline No Yes (synergistic divergence) No Smooth (rapid saccades induce jerk) E IV.1 Marked chin up Bilateral and marked Orthophoric – variable exotropia, intermittent Orthophoric No elevation above vertical midline No No No Jerky F II.1 Marked chin up Bilateral and moderated Hypotropic position Orthophoric No elevation above vertical midline No No Yes Jerky Orthophoric No elevation above vertical midline. On attempted adduction – upshoot; on attempted abduction – downshoot No Upshoots and downshoots No Jerky Variable exotropia Adducts only to horizontal midline but not beyond. No elevation above vertical midline. No Yes (synergistic divergence) No Smooth; occasionally jerky G II.1 H IV.1 Moderate chin up Bilateral but asymmetric; moderated Moderated chin up Bilateral aberrant innervation jaw-wink-like Orthophoric Hypotropic position Orthophoria Legend: AHP – Abnormal Head Posture; GR – Globe retraction; OU – Both eyes; OD – Right eye; OS – Left eye. 384 | Revista da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia No No Phenotypical and Genetic Analysis of 12 Portuguese Patients with CFEOM Syndrome Table IV | Mutational analysis of the KIF21A gene Patient Clinical phenotype Mode of inheritance Sequence Exon Aminoacid A III.6 A III.7 CFEOM1 AD Pending Pending Pending CFEOM1 AD Pending Pending Pending A IV.6 CFEOM1 AD Pending Pending Pending B II.2 CFEOM1 AD 2861G>A 21 R954Q B III.1 CFEOM1 AD 2861G>A 21 R954Q C II.1 CFEOM3 Unknown Pending Pending Pending D II.1 CFEOM1 Unknown 2860C>T 21 R954W E IV.1 CFEOM1 AD 2860C>T 21 R954W F II.1 CFEOM1 Unknown Pending Pending Pending KIF21A Mutational analysis: Preliminary results. Three previously reported mutations were identified in the tested patients. References 1. Gutowksi NJ, Bosley TM, Engle EC. 110th ENMC InternationalWorkshop: The congenital cranial dysinnervation disorders (CCDDs) Naarden, The Netherlands, 25-27 October, 2002. Neuromuscul Disord 2003; 13:573–8. 2. Oystreck DT, Khan AO, Vila-Coro AA, et al. Synergistic divergence: a distinct ocular motility dysinnervation pattern Invest. Ophthalmol. Vis. Sci..2009; 50: 5213-5216. 3. Doherty EJ, Macy ME, Wang SM, Dykeman CP, Melanson MT, Engle EC. CFEOM3: a new extraocular congenital fibrosis syndrome that maps to 16q24.2-q24.3. Invest Ophthalmol Vis Sci. 1999; 40: 1687–94. [PubMed] 4. Nakano M, Yamada K, Fain J, Sener EC, Selleck CJ, Awad AH, Zwaan J, Mullaney PB, Bosley TM, Engle EC. Homozygous mutations in ARIX(PHOX2A) result in congenital fibrosis of the extraocular muscles type 2. Nat Genet. 2001; 29: 315–20. [PubMed] 5. 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Bissaya Barreto 3000-075 Coimbra [email protected] Oftalmologia - Vol. 36: pp.387-392 Artigo Original Multifocalidade - Seleccionar para Resultar João Paulo Cunha1, Arnaldo Santos2, Joana Ferreira2, Duarte Amado3, Margarida Marques1 1 Assistente Hospitalar Graduado Interno do Internato Complementar 3 Assistente Hospitalar Serviço de Oftalmologia do Centro Hospitalar de Lisboa Central 2 RESUMO Introdução: Várias têm sido as tentativas de reduzir ao máximo a necessidade do uso de óculos sem prejudicar a qualidade visual. Foram propostas várias alternativas, desde a monovisão, com lentes monofocais, ao “mix & match” com lentes multifocais. A lente intra-ocular (LIO) TECNIS® Multifocal one foi desenvolvida para satisfazer as necessidades dos doentes com catarata e maior necessidade de visão ao perto do que visão intermédia, sem astigmatismos corneanos consideráveis. Objectivo: Avaliar a eficácia da lente TECNIS® Multifocal one como uma opção na cirurgia de catarata e identificar as causas da não total satisfação dos doentes implantados. População/Métodos: Os autores realizaram um estudo prospectivo em 27 olhos de 15 doentes, que foram submetidos a cirurgia de catarata (facoemulsificação com implante de LIO TECNIS® Multifocal one). Avaliaram a acuidade visual para perto (30 cm), longe (5 metros), assim como o grau de satisfação e as possíveis causas de insatisfação destes mesmos doentes. Resultados: Os doentes apresentavam acuidades visuais para longe não corrigidas superiores a 20/30, nos 1º e 3º meses de pós-operatório, com um equivalente esférico entre 0 e 0,75 dioptrias, e acuidades visuais para perto de J1 a J3. O grau de satisfação quanto à independência de óculos foi estatisticamente significativo e as causas de não total satisfação identificadas foram astigmatismos finais de 1 dioptria e a não total independência de óculos para situações como leituras prolongadas e visualização de ecrãs. Conclusões: A LIO TECNIS® Multifocal one é mais uma excelente opção na cirurgia refractiva de catarata, permitindo uma boa visão para longe e perto sem correcção óptica, traduzindo-se num elevado grau de satisfação por parte dos doentes. Palavras-chave Lente intra-ocular, multifocal, facoemulsificação, selecção, satisfação. ABSTRACT Introduction: Several attempts have been made to minimize the need to wear glasses without compromising visual quality. Several alternatives have been proposed like monovision with monofocal lenses or “mix & match” and “custom and match” with multifocal lenses. The intraocular lens (IOL) TECNIS® Multifocal one was developed to meet the needs of patients with cataracts and a greater need for near vision than intermediate vision, without significant corneal astigmatism. Vol. 36 - Nº 4 - Outubro-Dezembro 2012 | 387 João Paulo Cunha, Arnaldo Santos, Joana Ferreira, Duarte Amado, Margarida Marques Objective: To evaluate the effectiveness of the TECNIS® Multifocal lens one as an option in cataract surgery to identify the causes of non-complete satisfaction in implanted patients. Population/Methods: The authors conducted a prospective study of 27 eyes of 15 patients who underwent cataract surgery (phacoemulsification with IOL implantation TECNIS® Multifocal one). We evaluated the visual acuity for near (12 inches), for distance away (5 meters), stereopsis, the degree of satisfaction and the possible causes of patient’s dissatisfaction. Results: Patients had uncorrected visual acuity for distance of more than 20/30 in 1 and 3 months postoperatively, with a spherical equivalent between 0 and 0.75 diopters. The visual acuity for near was J1 to J3. Concerning the independence of glasses, the degree of satisfaction was statistically significant and the identified causes of non-total satisfaction were final astigmatisms of 1 diopter and incomplete independence of glasses for situations such as prolonged reading and viewing screens. Conclusions: The TECNIS® Multifocal IOL one is another excellent option in refractive cataract surgery, allowing a good vision for distance and near without corrective lenses, resulting in a high degree of patients’ satisfaction. Key-words Intraocular lens, multifocal, phacoemulsification, selection, satisfaction. INTRODUÇÃO As lentes intraoculares (LIO) multifocais surgiram da necessidade de satisfazer de forma mais ampla as exigências visuais dos doentes pseudofáquicos. Apesar das várias opções de lentes multifocais o objectivo final é comum – a maior independência de óculos para a realização das tarefas visuais diárias de cada indivíduo. Na tentativa de alcançar uma boa função visual para perto, para longe e para distância intermédia foram propostas várias hipóteses, que pelo menos teoricamente, originariam a visão plena (“full vision”). Assim, foram sendo propostas técnicas de implantação como: o “Mix & Match” (misturar -“mix”- dois tipos de lente no mesmo doente, num olho uma lente refractiva e no outro uma lente difractiva); o “Custom Match” (com implantação bilateral semelhante privilegiando as principais necessidades de cada doente – perto versus distância intermédia); a monovisão (com lentes monofocais, em que o olho dominante focaria para longe e o olho não-dominante focaria a distância intermédia). A lente intra-ocular (LIO) TECNIS® Multifocal one foi desenvolvida para satisfazer as necessidades dos doentes com catarata e maior necessidade de visão ao perto do que visão intermédia, sem astigmatismos corneanos consideráveis. A satisfação subjectiva dos doentes nem sempre corresponde aos resultados objectivos, pelo que se torna cada vez mais importante identificar as causas de insatisfação que 388 | Revista da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia podem e devem ser incluídas nos factores de exclusão para implantação deste tipo de lentes nesses doentes. O nosso estudo pretende avaliar a eficácia da lente TECNIS® Multifocal one como uma opção na cirurgia de catarata e identificar as causas de ausência de plena satisfação dos doentes implantados. POPULAÇÃO E MÉTODOS Os autores realizaram um estudo prospectivo, de Julho de 2010 a Julho de 2011, em que incluíram 27 olhos de 15 doentes submetidos a cirurgia de catarata (facoemulsificação com implante de LIO multifocal difractiva asférica de peça única - TECNIS® Multifocal one) em duas instituições (Centro Hospitalar de Lisboa Central e Clínica de Santo António). Foram registados os seguintes dados: idade, sexo, queratometria, comprimento axial, potência das lentes implantadas, acuidades visuais e estereoacuidade para perto e para longe, refracção manifesta, biomicroscopia, fundoscopia, queixas subjectivas/ causas de insatisfação. Metodologia pré-cirúrgica: Determinação da LIO Para determinação da potência da LIO, realizou-se queratometria automática e refracção pré-operatória para avaliação de astigmatismo corneano. A biometria de contacto foi o método disponibilizado para calcular o comprimento Multifocalidade - Seleccionar para Resultar axial do globo ocular. Para o cálculo da potência dióptrica da LIO (com fórmulas de cálculo de LIO de 3ª geração - preferencialmente SRK-T) utilizaram-se os valores dos dois meridianos corneanos, tendo em conta a localização da incisão menos astigmatogénica ou mais correctora do astigmatismo que se pretende anular ou reduzir. Metodologia cirúrgica: Incisões e implantação das LIOs As cirurgias foram realizadas pelo mesmo cirurgião (JPC) que, previamente a cada cirurgia, marcava os eixos de 0º e 180º na lâmpada de fenda com o doente em posição sentada (com caneta dermográfica), devido à ciclotorsão ocular induzida pela posição de supino (figura 1). Fig. 1 | Marcação de eixos em posição sentada com marcador. Sob anestesia tópica, realizou incisão corneana de 2,75 mm, personalizada de acordo com o astigmatismo corneano pré-operatório de cada olho (sempre que possível realizou incisões temporais - 90º a 180º), capsulotomia circular centrada de 5,5 mm (aproximadamente), facoemulsificação da catarata técnica de “divide and conquer fast-crack” e colocação da LIO no saco capsular através do injector “Platinun” e do “cartridge MPEC30”. Após a implantação centrada da LIO, procedeu à aspiração do material viscoelástico, encerramento das feridas operatórias através da hidratação dos bordos das mesmas e injecção intracamerular de antibiótico. Metodologia pós-cirúrgica: Determinação de acuidades visuais e identificação de causas de insatisfação Avaliaram a acuidade visual para perto (30 cm), longe (5 metros), a estereopsia, assim como o grau de satisfação e as possíveis causas de insatisfação destes mesmos doentes. As causas de insatisfação que pesquisámos incluíram as queixas visuais subjectivas (visão desfocada/enevoada, disfotopsias, necessidade de correcção óptica), as ametropias residuais (esfera e cilindro), a observação no biomicroscópio para identificar diâmetros pupilares aumentados, LIO descentradas, opacidades capsulares, opacidades vítreas ou olho seco. Para o estudo da acuidade visual para perto utilizámos a tabela de Jaegger. Pede-se ao doente que coloque o livro posicionado entre 30 e 40 cm dos olhos, perpendicular ao eixo visual com uma luminância de 400 lux. Os resultados destas acuidades visuais são dadas em escala de Jaegger e podem variar entre J1 e J10 e quanto menor for o valor numérico, maior é a acuidade visual. Para a avaliação da acuidade visual para longe (5 metros) foi utilizada a escala de Snellen, com valores da acuidade visual (AV) em escala decimal. Estes valores foram convertidos para escala logMAR para análise estatística dos resultados. Ambos os testes foram realizados sem o emprego de qualquer tipo de correcção óptica dado que a implantação de LIOs multifocais tem como objectivo a independência de óculos para longe e para perto. Foi realizado também o estudo refractivo objectivo para cálculo de esfera e cilindro residual aos 1, 3 e 12 meses. Para o estudo da estereopsia para perto utilizámos o Titmus Stereo Test (Stereo Optical Co.), composto por um livro de duas faces, com figuras projectadas em duplicidade e com uma disparidade horizontal entre si. Com o uso de óculos polarizados e o livro posicionado entre 30 e 40 cm dos olhos, cada doente indicou as figuras que observou em “relevo”, medindo a disparidade em segundos de arco (”), que pode variar entre 3000” e 40” e quanto menor for o valor numérico em segundos de arco, maior é a acuidade estereoscópica. Para longe, considerámos a estereopsia positiva quando o indivíduo observava através de óculos polarizados duas imagens diferentes mas complementares como uma imagem única, coerente e tridimensional, projectada a 6 metros pelo vectograf 9400 (figura 2). Vol. 36 - Nº 4 - Outubro-Dezembro 2012 | 389 João Paulo Cunha, Arnaldo Santos, Joana Ferreira, Duarte Amado, Margarida Marques Fig. 2 | Titmus Stereo Test (estereopsia de perto), slide para projector vectográfico 9400. Para a análise estatística foi utilizado o software GraphPad (Graphpad Prism® ver. 5.0; Graphpad Software Inc, CA, Estados Unidos América). Os dados obtidos foram analisados através do teste t Student, comparadas médias e desvios padrão. Valores de p < 0,05 foram considerados estatisticamente significativos. RESULTADOS Dos 27 olhos operados no referido período, 24 correspondem a implantações bilaterais de 12 doentes e os restantes 3 olhos aguardam implantação do 2º olho. A distribuição por género foi na razão de 3:12 (M:F) e a idade média foi de 71,14 anos (idades mínima e máxima de 58 e 76 anos, Tabela 1 | Tempo médio de eficácia terapêutica (meses) Variáveis Idade Valor 71,14 ± 5,80 Sexo Masculino 12 Feminino 3 Comprimento axial (mm) 22,55 ± 0,59 Potência da LIO (D) 22,09 ± 1,92 AV para longe sem correcção Máximo 20/20 Mínimo 20/30 Média 20/25 Insatisfação 4:15 Follow-up 4,6 (1-12) meses 390 | Revista da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia respectivamente) com desvio padrão de 5,80. Os comprimentos axiais médios foram de 22,55 ± 0,59 mm e potência dióptrica das lentes de 22,09 ± 1,92 dioptrias (D) (tabela 1). Os doentes foram observados com um follow-up médio de 4,6 meses (1-12 meses). Nas observações pós-operatórias registámos acuidades visuais para longe sem correcção unilaterais superiores a 20/30, sendo a média de 20/25. As acuidades visuais para perto foram de J1 a J3, sempre que possível em binocularidade. A média da estereopsia para perto, nos 12 doentes com implantação bilateral foi de 70”, e para longe foi positiva em todos eles. Não realizámos o estudo da estereopsia nos três doentes com implantação unilateral. Os estudos refractivos revelaram equivalentes esféricos entre 0 e 0,75 dioptrias e o grau de satisfação quanto à independência de óculos foi estatisticamente significativo p < 0,05 (p = 0,016). As causas de não total satisfação identificadas foram astigmatismos finais de 1 dioptria (3 olhos de 3 doentes) e a não total independência de óculos para situações como leituras prolongadas e visualização de ecrãs (4 doentes). Em nenhum caso os doentes referiram espontaneamente disfotopsias positivas (halos e glare) ou negativas (escotomas temporais). DISCUSSÃO O principal objectivo das LIO multifocais é possibilitar pelo menos 2 pontos de focagem com boa função visual sem prejudicar algumas das suas características como a sensibilidade ao contraste ou o aparecimento de disfotópsias. Ao longo da última década, a grande maioria dos estudos publicados demonstraram que as lentes multifocais proporcionam melhor qualidade de vida que as LIO monofocais1-9. No entanto, outros referem várias causas de insatisfação como acuidade visual insatisfatória para determinadas distâncias10-11, maior frequência de disfotopsias em comparação com as lentes monofocais12-13 e diminuição da sensibilidade ao contraste14-15. A tentativa de alcançar boas acuidades visuais nas diferentes distâncias como o “Mix & Match” pode originar disparidade dos estímulos visuais de cada olho e consequentemente rivalidade binocular, em vez de correspondência ou fusão binocular. Por esta razão, e porque acreditamos ser preferível para os olhos, e sobretudo para o cérebro, a harmonia visual, não propomos “Mix & Match” como uma boa solução para os nossos doentes16-17. No nosso estudo, quando referimos 27 olhos de 15 doentes, significa que apenas 3 doentes ainda não foram Multifocalidade - Seleccionar para Resultar operados ao 2º olho, podendo estes melhorar a sua função visual, sobretudo para perto após a segunda intervenção. E apesar dos 12 doentes implantados bilateralmente terem resultados entre J1 e J3, quatro referem que preferem ter óculos para leituras prolongadas. A capacidade de leitura depende não só de factores ópticos, mas também cerebrais, pelo que existem estudos que mostram uma melhoria da capacidade de leitura com lentes multifocais, mas esta pode diminuir quando o follow-up aumenta, sem qualquer relação com factores cirúrgicos18. Não pudemos estudar os resultados relativamente a aberrações de alta ordem que tambem poderiam estar na origem de alguma insatisfação, porque só dispomos de métodos de estudo que analisam apenas as aberrações corneanas e não as oculares totais, mas consideramos não ser de grande interesse dado os resultado de estudos em que não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas em qualquer valor aberrometrico entre pacientes com LIO multifocais implantadas descentradas ou bem centradas19. Os resultados objectivos do nosso estudo mostraram que os doentes com lentes intra-oculares multifocais semelhantes implantadas bilateralmente obtiveram acuidades visuais para perto e para longe com erros refractivos até 1 dioptria de astigmatismo e 0,75 dioptrias de esfera. De acordo com Hayashi e seus co-autores, as acuidades visuais diminuem para todas as distâncias quando os astigmatismos residuais são superiores a 1 dioptria, e diminuem tanto mais quanto maior for o astigmatismo. Pelo que para astigmatismos corneanos superiores a 1,5 D preferimos a implantação de LIO multifocais tóricas20. Tanto o astigmatismo como o defeito esférico residual constituem duas das principais causas de insatisfação ou visão enevoada dos doentes com LIO multifocais. Outras causas descritas incluem a opacificação da cápsula posterior, o diâmetro pupilar aumentado e o descentramento da LIO21-22. Estes estudos mostraram também que a maioria das causas de insatisfação pode ser tratada com sucesso e que a necessidade de explantação é rara. BIBLIOGRAFIA 1. Javitt J, Brauweiler H-P, Jacobi KW, et al., Cataract extraction with multifocal intraocular lens implantation: clinical, functional, and quality of- life outcomes; multicenter clinical trial in Germany and Austria, J Cataract Refract Surg. 2000; 26:1356–1366. 2. Chiam PJT, Chan JH, Aggarwal RK, Kasaby S. ReSTOR intraocular lens implantation in cataract surgery: Quality of vision, J Cataract Refract Surg. 2006; 32: 1459-1463. 3. 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CONTACTO [email protected] Oftalmologia - Vol. 36: pp.393-403 Artigo Original Efeito da Aplicação Matinal vs. Nocturna de Maleato de Timolol em Doentes Medicados com Prostaglandina nas Curvas de Pressão Intraoculares Diurnas e de Pressão Arterial nas 24 Horas Pedro Barros1, Gabriel Morgado1, Paula Tenedório1, Joana Martins1, Josefina Serino1, Bruna Vieira1, João Neves Martins1 1 MD Serviço Hospitalar onde foi realizada a investigação: Hospital Pedro Hispano, Matosinhos Resumo Introdução: Avaliar influência da aplicação matinal Vs nocturna de maleato de timolol em doentes medicados com prostaglandinas nas curvas de PIO dirunas e nos valores obtidos de monitorizações ambulatórias da pressão arterial (MAPA) Material e Métodos: Foram obtidas curvas de PIO (8:00 h às 20:00 h) e MAPA’s (24h) em 28 doentes com diagnóstico de GPAA medicados com combinação fixa de prostaglandina e maleato de timolol (aplicação nocturna) e novamente, 60 dias após alteração do esquema terapêutico para prostaglandina (aplicação nocturna) e maleato de timolol (aplicação matinal). Resultados: As curvas de pressão intraocular (8:00 h às 20:00 h) não mostraram diferenças estatisticamente singnificativas quando comparamos a aplicação matinal e nocturna de maleato de timolol nestes 28 doentes. No entanto a aplicação matinal de maleato de timolol, quando comparado com a sua aplicação nocturna, resultou num aumento dos valores médios nocturnos de PA sistólica (4,23 ± 6,46 mmHg; p=0,003), PA diastólica (2,40 ± 2,75 mmHg; p=0,001) e PA média (3,65 ± 3,79 mmHg; p<0,001), numa diminuição dos valores médios diurnos de PA sistólica (2,08 ± 4,77 mmHg; p=0,036), não tendo influenciado os valores médios diurnos de PA diastólica (0,31 ± 2,50 mmHg; p=0,535) e média (1,14 ± 2,99 mmHg; p=0,102). A alteração do esquema terapêutico influenciou ainda com significado estatístico a PA diastólica mínima diurna e nocturna, a frequência cardíaca mínima diurna e nocturna assim como as quedas nocturnas da pressão arterial sistólica, diastólica e média com consequente influência na prevalência de dippers e extreme-dippers. Conclusão: Este estudo sugere que em doentes com GPAA o maleato de timolol aplicado à noite quando comparado com a sua aplicação matinal não apresenta maior eficácia na redução da pressão intra-ocular durante o dia e influencia de forma significativa os valores médios nocturnos de PA sistólica, diastólica e média com implicações directas nas pressões de perfusão ocular. Em doentes susceptíveis a sua aplicação nocturna pode por isso representar um factor de risco para a progressão do GPAA. Vol. 36 - Nº 4 - Outubro-Dezembro 2012 | 393 Pedro Barros, Gabriel Morgado, Paula Tenedório, Joana Martins, Josefina Serino, Bruna Vieira, João Neves Martins Introdução O glaucoma é uma doença multifatorial que se caracteriza pela perda de células ganglionares da retina com consequente desenvolvimento de uma neuropatia óptica crónica e progressiva associada a alterações no campo visual. É actualmente a segunda maior causa de cegueira no mundo e afecta mais de 50 milhões de pessoas1,2. O mecanismo fisiopatológico responsável pelo desenvolvimento de glaucoma de ângulo aberto (GPAA) continua por esclarecer. Ainda assim, pressão intra-ocular (PIO) é considerada um importante factor de risco para o seu desenvolvimento e progressão, e a diminuição desta em doentes que sofrem de GPAA mantém-se actualmente como o único alvo terapêutico disponível e comprovado de travar o desenvolvimento e /ou progressão desta doença3,4,5. Existe no entanto evidência científica suficiente que nos permite afirmar que a PIO não constitui o único factor de risco. Há estudos que demonstram que em alguns doentes há progressão apesar de uma significativa redução da PIO6,7, e outros que relatam que até metade dos doentes apresentam PIO’s dentro do valor considerado normal na altura do diagnóstico8,9. Por outro lado, estudos epidemiológicos têm demonstrado que a taxa de conversão de hipertensão ocular para glaucoma é baixa10-13. E se é conhecido há mais de quatro décadas que a PIO varia ao longo do dia14, apenas recentemente se conseguiu demonstrar que outros factores que influenciam o funcionamento ocular, tais como pressão arterial sistêmica15, pressão de perfusão ocular (PPO)16 e o fluxo sanguíneo ocular17 também acompanham padrões circadianos. A actividade normal dos tecidos depende da manutenção de uma perfusão sanguínea adequada. Para isso é fundamental a presença de uma pressão de perfusão (PP) suficiente, definida como a diferença entre a pressão arterial e a pressão venosa (no caso do olho a PIO é considerada um substituto para a pressão venosa). Evidências recentes e crescentes sugerem que factores vasculares desempenham um papel importante na patogénese do GPAA6,18-21. Já vários estudos identificaram valores baixos de PP diastólica ou sistólica como importantes factores de risco para a incidência, prevalência e progressão de glaucoma22-28 e alguns acrescentaram as quedas nocturnas da pressão arterial como factor de risco para a progressão de glaucoma29-31. Em 1978 o maleato de timolol foi aprovado pela FDA para o tratamento de glaucoma. Actua ao reduzir a produção de humor aquoso até metade32-34, com início de acção cerca de 30 minutos após a instilação, atingindo o efeito máximo após 2 horas, que pode persistir por 12 horas com manutenção da diminuição mensurável da PIO por 24 394 | Revista da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia horas35. Após aplicação tópica de maleato de timolol a 0,5% em adultos, os níveis séricos atingem valores entre 5,0-9,6 ng /mL36, que são significativamente inferiores aos alcançados após uma toma oral de 20mg (entre 50 e 103 ng / mL)37. Ainda assim verifica-se uma diminuição estatisticamente significativa da frequência cardíaca e da pressão arterial em repouso após utilização tópica de maleato de timolol a 0,5% em indivíduos saudáveis38,39. Além do referido, há ainda estudos que sugerem que o maleato de timolol apresenta maior eficácia quando aplicado de manhã em vez de à noite40,41 e que a sua aplicação uma vez por dia apresenta eficácia semelhante à aplicação de duas vezes por dia42-44. Este último argumento explica a razão pela qual as formulações de combinação fixa de análogo de prostaglandina e maleato de timolol terem ganho muita popularidade no tratamento do glaucoma, já que oferecem ao paciente uma formulação mais cómoda, com apenas uma aplicação diária, geralmente à noite. Este estudo tem por objectivo avaliar o efeito da aplicação matinal vs nocturna de maleato de timolol na pressão arterial e frequência cardíaca em doentes com GPAA medicados com análogo de prostaglandina, assim como determinar que influência estas duas formas de aplicação têm na curva de PIO diurna. Material e métodos Este estudo longitudinal e prospectivo incluiu doentes com GPAA medicados com combinação fixa de análogo de prostaglandina (PG) e maleato de timolol a 0,5%, seguidos no Serviço de Oftalmologia do Hospital Pedro Hispano, Matosinhos. O protocolo do estudo foi aprovado pela Comissão de Ética do nosso Hospital e respeita os princípios da Declaração de Helsínquia. Todos os pacientes assinaram um consentimento informado antes de serem incluídos no estudo. Os critérios de inclusão foram: (1) idade> 45 anos de idade, (2) diagnóstico de GPAA medicados com combinação fixa de PG e maleato de timolol, (3) valores de pressão arterial inferiores a 140/90 mmHg e (4) ausência de medicação para hipertensão arterial Foram excluídos pacientes que apresentassem: (1) história de cirurgia intra-ocular ou procedimento com LASER (2) história de diabetes mellitus, (3) história de hipertensão arterial (3) uso sistémico de beta-bloqueadores (4) história de uso crónico de corticóides (5) presença de condição ocular que impedisse a realização fidedígna da tonometria de aplanação, (6) diferença de PIO entre ambos os olhos ≥ 4 mmHg. Efeito da Aplicação Matinal vs. Nocturna de Maleato de Timolol em Doentes Medicados com Prostaglandina nas Curvas de Pressão Intraoculares Diurnas e de Pressão Arterial nas 24 Horas O protocolo a seguir descrito foi realizado nos doentes medicados com aplicação tópica nocturna de combinação fixa de análogo de PG e maleato de timolol (esquema 1). Após realização do protocolo a medicação foi alterada para aplicação tópica nocturna (20:00 horas) de análogo de PG e matinal (08:00 horas) de maleato de timolol (esquema 2) e o protocolo foi novamente repetido em todos os pacientes aproximadamente 60 dias depois. O protocolo realizado foi o seguinte: (1) foi obtida uma curva diurna da PIO , usando sempre o mesmo tonómetro de aplanação de Goldman, com valores medidos sempre pela mesma pessoa, às 8:00 horas, 10:00 horas, 12:00 horas, 14:00 horas , 16:00 horas, 19:00 horas e 20:00 horas; (2) realizou-se uma monitorização em ambulatório da pressão arterial (MAPA), com início aproximado às 10:00 horas. O doente foi autorizado a ter uma vida normal activa, na medida do possível, sem realizar esforços excessivos ou exercício físico. O monitor foi programado para avaliar a pressão arterial sistólica, diastólica e média assim como a frequência cardíaca a cada 10 minutos durante o dia (horas de vigília; 06:00-23:00) e a cada 20 minutos durante a noite (horas de sono, 23:00-6:00). Pacientes com MAPA’s insatisfatórios, que tivessem realizado actividade física excessiva ou que não tivessem dormido ou tivessem tido um sono irregular durante a noite foram excluídos. Foram ainda excluídos pacientes que reportaram a ocorrência de um “life changing event” que pudesse influenciar seu estado psicológico (ex.: doença grave ou morte de familiar), e consequentemente alterar o seu perfil tensional habitual. Os valores de PIO mencionados no estudo resultaram das médias entre os dois olhos de cada paciente. Os seguintes parâmetros foram avaliados: (1) média da PIO, (2) pressão arterial sistólica (PAS) média diurna e nocturna, (3) pressão arterial diastólica (PAD) média diurna e nocturna, (4) PAD mínima diurna e nocturna , (5) pressão arterial (PA) média diurna e nocturna, (6) frequência cardíaca (FC) média diurna e nocturna, (7) FC mínima diurna e nocturna e (8) perfis arteriais sistólicos, diastólicos e médios. Os perfis arteriais quantificam a redução nocturna das pressões arteriais e foram calculados segundo a fórmula: Dip (%)=(( PA média diurna - PA média nocturna) / PA média diurna) × 100. Os pacientes foram classificados como não-dippers (redução <10%), dippers (redução entre 10 e 20%), e dippers extremos (redução> 20%). A análise estatística foi realizada usando o SPSS versão 17.0. Variáveis contínuas foram analisadas usando o teste t de Student (bicaudal) ou o teste Mann-Whitney, ao passo que as variáveis categóricas foram analisadas usando o Teste de McNemar Bowker. Valores p <0,05 foram considerados estatisticamente significativos. Resultados Foram incluídos neste estudo 28 doentes. Dezassete doentes eram do sexo masculino e 11 do sexo feminino. A média das idades foi de 67,32 ± 10,38 anos. Os valores de PIO não mostraram diferença estatisticamente significativa entre doentes que aplicaram maleato de timolol de manhã e PG à noite (esquema 1) e os doentes que aplicaram maleato de timolol e PG à noite (esquema 2) (tabela 1) Tabela 1 | Tempo médio de eficácia terapêutica (meses) Esquema 1 Esquema 2 p 08:00 14.88±2.59 14.46±2.46 >0,05 10:00 14.73±1.82 14.34±1.81 >0,05 12:00 14.69±1.86 14.59±1.85 >0,05 14:00 14.60±1.92 14.67±1.79 >0,05 16:00 14.24±2.01 14.18±1.92 >0,05 18:00 14.99±1.43 14.89±1.41 >0,05 20:00 14.97±1.52 14.91±1.49 >0,05 Os valores resultantes da monitorização da pressão arterial ambulatória a seguir descritos encontram-se na tabela 2. As diferenças entre valores diurnos e nocturnos foram sempre estatisticamente significativos em ambos os equemas (p<0,001), nomeadamente no que respeita a PAS média, PAD média, PAD mínima, PAM, FC média e FC mínima. Quando o maleato de timolol passou a ser aplicado de manhã registaram-se valores de PAS média diurna inferiores (129,12 ± 12,66 mmHg contra 131,19 ± 14,15 mmHg; p=0,036 mmHg) e valores de PAS média nocturna superiores (115,58 ± 13,49 mmHg contra 111,35 ± 12,81 mmHg; p=0,003). Com alteração do esquema terapêutico supramencionada observou-se uma variação superior na PAS nocturna relativamente à diurna (subida média nocturna de 4,23 ± 6,46 mmHg e diminuição média diurna de 2,08 ± 4,77 mmHg). Porém a variação do valor médio de PAS durante as 24 horas não pode ser considerada estatisticamente significativa (p=0,238). Relativamente à PAD média verificamos valores nocturnos superiores (64,20 ± 6,76 mmHg contra 61,80 ± 8,02 mmHg; p=0,001) quando o maleato de timolol passou a ser aplicado de manhã. A variação diurna não foi significativa (p=0,535). Analogamente à PAS média, a variação da PAD foi maior durante a noite (diminuição média de 2,40 ± Vol. 36 - Nº 4 - Outubro-Dezembro 2012 | 395 Pedro Barros, Gabriel Morgado, Paula Tenedório, Joana Martins, Josefina Serino, Bruna Vieira, João Neves Martins Tabela 2 | Valores obtidos na monitorização da pressão arterial ambulatória em ambos os equemas Aplicação Nocturna de Maleato de Timolol (Esquema 1) Aplicação Matinal de Maleato de Timolol (Esquema 2) Esquema 1 – Esquema 2 p 2,08 ± 4,77 0,036 -4,23 ± 6,46 0,003 0,77 ± 3,24 0,238 0,31 ± 2,50 0,535 -2,40 ± 2,75 0,001 -0,46 ± 2,52 0,359 2,38 ± 3,61 0,002 -3,65 ± 3,79 <0,001 1,14 ± 2,99 0,102 -4,80 ± 2,93 <0,001 0,08 ± 2,21 0,860 111,35 ± 12,81 24h 126,31 ± 12,83 129,12 ± 12,66 ↑ 115,58 ± 13,49 = 125,54 ± 12,97 = 77,58 ± 4,74 ↑ 64,20 ± 6,76 = 74,15 ± 5,32 ↓ 59,46 ± 5,49 ↑ 51,73 ± 4,35 = 95,42 ±7,50 ↑ 83,19 ± 7,77 = 91,81 ± 7,09 <0,0001 Noite ↓ <0,0001 131,19 ± 14,15 <0,0001 Dia <0,0001 Pressão Arterial Sistólica Média (mmHg) 61,80 ± 8,02 24h 73,69 ± 5,51 Dia 61,85 ± 5,30 Noite 48,08 ± 5,90 Dia 96,46 ± 7,42 Noite 78,38 ± 8,36 24h 91,88 ± 7,03 <0,0001 Noite <0,0001 77,88 ± 5,11 <0,0001 Dia <0,0001 Pressão Arterial Diastólica Média (mmHg) Perfil sistólico 15,83 ± 5,02 ↓ 11,12 ± 3,63 4,70 ± 3,77 <0,001 Perfil diastólico 22,47 ± 6,37 ↓ 15,91 ± 4,14 6,55 ± 4,48 <0,001 Perfil médio 20,84 ± 4,30 ↓ 14,95 ± 4,22 5,90 ± 4,64 <0,001 396 n 7 / 18 / 3 1 / 20 / 7 % 57,1 / 35,7 / 7,2 14,4 / 71,4 / 7,2 n 16 / 10 / 2 4 / 20 / 2 % 42,9 / 50,0 / 7,1 3,6 / 75,0 / 21,4 n 12 / 14 / 2 1 / 21 / 6 Dia 72,46 ± 5,28 Noite 67,00 ± 6,59 24h 70,54 ± 5,59 Dia 59,73 ± 4,63 Noite 52,23 ± 3,97 | Revista da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia ↓ 70,76 ± 3,80 = 67,38 ± 6,82 = 69,35 ± 5,37 ↓ 57,04 ± 4,38 ↑ 53,85 ± 4,73 0,018 0,001 0,001 <0,0001 3,6 / 71,4 / 25,0 <0,0001 Médios 25,0 / 64,3 / 10,7 <0,0001 Diastólicos % <0,0001 Sistólicos 1,69 ± 2,96 0,007 -0,38 ± 2,70 0,474 1,19 ± 3,10 0,061 2,69 ± 5,50 0,019 -1,62 ± 3,98 0,044 Efeito da Aplicação Matinal vs. Nocturna de Maleato de Timolol em Doentes Medicados com Prostaglandina nas Curvas de Pressão Intraoculares Diurnas e de Pressão Arterial nas 24 Horas 2,75 mmHg) do que durante o dia (subida média de 0,31 ± 2,50 mmHg). O valor médio da PAD durante as 24 horas foi mais uma vez semelhante em ambos os equemas (p=0,359). No que respeita à PAD mínima, verificamos valores diurnos inferiores (59,46 ± 5,49 mmHg contra 61,85 ± 5,30 mmHg) e nocturnos superiores (51,73 ± 4,35 mmHg contra 48,08 ± 5,90 mmHg) quando o maleato de timolol foi aplicado de manhã. A variação dos valores mínimos da PAD foi maior para os valores nocturnos (descida média de 3,65 ± 3,79 mmHg, p<0,001) do que para valores diurnos (subida média de 2,38 ± 3,61 mmHg; p=0,002). Para PAM diurnas não se verificaram diferenças estatisticamente significativas entre os dois esquemas (p=0,102), apesar de os valores médios diurnos serem inferiores quando o maleato de timolol foi aplicado de manhã (95,42 ±7,50 mmHg contra 96,46 ± 7,42 mmHg). Já para PAM nocturnas verificamos que houve diferença estatisticamente significativa (p<0,001) com valores arteriais médios nocturnos superiores com a aplicação matinal de maleato de timolol (83,19 ± 7,77 mmHg contra 78,38 ± 8,36 mmHg). Os valores de PAM nas 24 horas não registaram diferenças estatisticamente significativas entre os dois esquemas (91,88 ± 7,03 mmHg e 91,81 ± 7,09 mmHg nos equemas 1 e 2 respectivamente; p=0,860). Relativamente aos perfis arteriais (PAS, PAD e PAM) verificamos que , com a aplicação matinal, houve diminuição muito significativa (p<0,001) das quedas nocturnas da PA sistólica (15,83 ± 5,02 mmHg no esquema 1 e 11,12 ± 3,63 mmHg no esquema 2), PA diastólica (22,47 ± 6,37 mmHg no esquema 1 e 15,91 ± 4,14 mmHg no esquema 2) e PA média (20,84 ± 4,30 mmHg no esquema 1 e 14,95 ± 4,22 mmHg no esquema 2). Avaliando o número de doentes que apresentaram perfis dipper extremo, dipper fisiológico e não-dipper, com a aplicação matinal do maleato de timolol observamos, em termos percentuais e absolutos, uma redução de doentes com perfil sistólico de dipper extremo [25% (n=7) no esquema 1 e 3,6% (n=1) no esquema 2] e aumento de doentes com perfil sistólico de dipper fisiológico [64,3% (n=18) no esquema 1 e 71,4% (n=20) no esquema 2] e aumento de doente com perfil não-dipper [10,7% (n=3) no esquema 1 e 32,1% (n=9) no esquema 2]. Relativamente ao perfil diastólico verificamos uma redução dos doentes com perfil de dipper extremo [57,1% (n=16) no esquema 1 e 14,4% (n=4) no esquema 2], aumento dos doentes com perfil dipper fisiológico [35,7% (n=10) no esquema 1 e 71,4% (n=20) no esquema 2] e manutenção do número de doentes com perfil não-dipper [7,2% (n=2) em ambos os esquemas]. No que respeita o perfil arterial médio verificamos uma diminuição de doentes com perfil de dipper extremo [42,9% (n=12) no esquema 1 e 3,6% (n=1) no esquema 2] e aumento de doentes tipo dipper fisiológico [50,0% (n=14) no esquema 1 e 75,0% (n=21) no esquema 2] e aumento dos doentes com perfil não-dipper [7,1% (n=2) no esquema 1 e 21,4% (n=6) no esquema 2]. Avaliando os três tipos de perfil simultaneamente podemos verificar que o número de doentes com perfil dipper fisiológico foi sempre superior no esquema 2 quando comparado com o esquema 1, com diferenças substanciais para valores diastólicos e médios [71,4% (n=20) contra 64,3% (n=18) para valores sistólicos, 71,4% (n=20) contra 35,7% (n=10) para valores diastólicos e 75,0% (n=21) contra 50,0% (n=14) para valores médios]. Já o número de doentes com perfil de dipper extremo foi sempre inferior no esquema 2 [3,6% (n=1) contra 25,0% (n=7) para valores sistólicos, 14,4% (n=4) contra 57,1% (n=16) para valores diastólicos e 3,6% (n=1) contra 42,9% (n=12) para valores médios] e o número de doentes com perfil de não-dipper foi sempre superior (ou igual, no caso dos perfis diastólicos) no esquema 2 [25,0% (n=7) contra 10,7% (n=3) para valores sistólicos, 7,2% (n=2) em ambos os esquemas para valores diastólicos e 21,4% (n=6) contra 7,1% (n=2) para valores médios]. Finalmente, no que diz respeito à frequência cardíaca verificamos que os doentes do esquema 2 apresentaram redução significativa dos valores diurnos da FC média em 1,69 ± 2,96 bpm (72,46 ± 5,28 bpm no equema 1 e 70,76 ± 3,80 bpm no equema 2; p=0,007) e da FC mínima em 2,69 ± 5,50 bpm (59,73 ± 4,63 bpm no equema 1 e 57,04 ± 4,38 bpm no equema 2; p=0,019). Verificamos uma subida moderada, mas ainda assim estatisticamente significativa, da FC mínima nocturna em 1,62 ± 3,98 bpm (52,23 ± 3,97 bpm no esquema 1 e 53,85 ± 4,73 bpm no esquema 2; p=0,044) sem alteração significativa no que diz respeito à FC média nocturna (p=0,474) e nas 24 horas (p=0,061). Discussão São vários os parâmetros fisiológicos que variam ao longo do dia e alguns apresentam um ritmo circadiano. Foi já demonstrado que quer a PIO quer a PA se incluem neste equema. A PIO normalmente tende a aumentar durante a noite, quando nos encontramos em posição supina45-48, possivelmente devido ao aumento da pressão venosa episcleral. Não nos foi possível avaliar o padrão circadiano da PIO uma vez que não foram obtidos valores de PIO durante a noite. Esta opção deveu-se ao facto de que a obtenção de valores de PIO durante noite implicaria a necessidade de despertar o doente com consequente desvirtuação dos valores da MAPA. Vol. 36 - Nº 4 - Outubro-Dezembro 2012 | 397 Pedro Barros, Gabriel Morgado, Paula Tenedório, Joana Martins, Josefina Serino, Bruna Vieira, João Neves Martins Já o padrão circadiano da PA, que é caracterizado por uma diminuição dos valores sistólicos e diastólicos durante o sono15,49, foi similar em ambos os esquemas, sempre com valores nocturnos significativamente inferiores (p<0,001) aos diurnos para valores de pressões sistólicas, diastólicas e médias. No entanto, apesar de não se ter observado uma diferença valorizável dos valores de PAS, PAD e PAM nas 24 horas (p=0,238, p=0,359 e p=0,860, respectivamente) entre doentes que aplicavam o maleato de timolol de manhã e aqueles que o aplicavam à noite, verificou-se uma diferença substancial dos valores de PAS, PAD e PAM com a análise nocturna e diurna isoladamente. Quando o maleato de timolol passou a ser aplicado de manhã verificou-se uma subida significativa dos valores nocturnos da PAS e PAD médias (p=0,03 e p=0,001, respectivamente), dos valores mínimos de PAD registados (p<0,001), assim como dos valores nocturnos da PAM (p<0,001). Já os valores diurnos da PAS média e PAS mínima registaram uma diminuição significativa (p=0,036 e p=0,002, respectivamente) quando o maleato de timolol passou a ser aplicado de manhã. Mas nenhuma alteração significativa dos valores de PAD média e PAM diurnos foram observados neste segundo esquema (p=0,535 e p=0,102, respectivamente). Estas alterações substanciais dos valores tensionais acarretam consequentemente mudanças na PPO, identificada como factor de risco de desenvolvimento e progressão de glaucoma em deiversos estudos50,51,52,53. Sehi et al verificaram que em doentes com glaucoma a PPO é mais baixa durante a noite, imediatamente antes do acordar51. Este achado está de acordo com o conhecido aumento da PIO e diminuição da PA que ocorrem simultaneamente durante a noite. Choi et al observaram que em doentes com glaucoma as flutuações maiores na PPO estavam directamente relacionadas não só com uma maior diminuição da PA nocturna bem como com piores índices de campo visual52. Observaram ainda, noutro estudo, que a progressão anatómica (espessura da camada de fibras nervosas da retina) e funcional (campo visual) foi significativamente superior em doentes com glaucoma que apresentaram uma maior flutuação circadiana da PPO, tendo classificado a flutuação circadiana da PPO como o factor de risco clínico mais consistente para o glaucoma grave53. Assim sendo, uma vez que os aumentos da PPO têm a capacidade de alterar favoravelmente o fluxo sanguíneo para a cabeça do nervo óptico, faz sentido avaliar a medicação hipotensora ocular tendo em vista a sua capacidade de influenciar a PPO e eventualmente minimizar as suas flutuações circadianas. Nesse sentido este estudo fornece dados novos e pertinentes, ao demonstrar que a aplicação matinal do maleato 398 | Revista da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia de timolol quando comparado com a sua aplicação nocturna, eleva os valores médios nocturnos da PA sistólica, diastólica e PAM, reduzindo simultaneamente os valores diurnos da PAS média e deixando do ponto de vista estatístico, inalterados os valores diurnos da PAD média e PAM. Ainda assim, esta mudança de esquema terapêutico não influencia a PA sistólica, diastólica e média nas 24 horas. Estas alterações implicam um aumento significativo da PPO sistólica, diastólica e média nocturnas (equivalentes a 4,23 ± 6,46 mmHg, 2,40 ± 2,75 mmHg e 4,80 ± 2,93 mmHg, respectivamente), uma diminuição da PPO sistólica diurna (equivalente a 2,08 ± 4,77, um significado estatístico inferior às subidas nocturnas), deixando inalteradas as PPO’s diastólica e média diurnas. Como já foi referido, a ocorrência de uma diminuição da pressão arterial durante o sono é conhecida desde há mais de quatro décadas14 e tem sido demonstrada por muitos estudos de monitorização ambulatória da pressão arterial desde então31,54-60. Aproximadamente dois terços da população geral apresenta um perfil do tipo dipper (diminuição nocturna da PA entre 10-20%), indicando a natureza fisiológica da diminuição nocturna da PA (dip)61-63. No entanto, doentes com grandes descidas da PA durante a noite podem apresentar um maior risco para a progressão do glaucoma quando comparados com doentes cujas descidas se apresentam dentro de limites normais29,30,53,64-66. O dip nocturno da PA foi demonstrado estar aumentado em doentes com GPAA29,67,68 e glaucoma com PIO dentro dos limites considerados normais (glaucoma normotensional; GNT)57,59,69. Graham et al31 compararam 37 doentes com deterioração progressiva dos campos visuais com 15 doentes que apresentavam campos visuais estáveis e verificaram existir um dip nocturno significativamente maior da PA sistólica (p = 0,001), diastólica (p = 0,060) e média (p = 0,016) nos doentes que apresentavam deterioração progressiva dos campos visuais. Relativamente à aplicação tópica de β-bloqueadores, Hayreh et al70 observaram que doentes com GPAA medicados ,por via tópica, com estes fármacos apresentaram uma maior diminuição nocturna da PA quando comparados com doentes que não aplicaram β-bloqueadores tópicos70. Neste sentido, os nossos resultados sugerem que com a aplicação matinal em vez de nocturna de maleato de timolol os dips nocturnos das pressões arteriais sistólicas, diastólicas e médias são reduzidos de forma muito significativa (p<0,001). A aplicação matinal de maleato de timolol pode, por isso, constituir um factor protector para a progressão do glaucoma. No entanto, diversos estudos identificaram que a presença de um dip nocturno muito baixo (inferior a 10%; não-dipper) pode constituir factor de risco para doença arterial coronária71, danos nos orgãos-alvo72 e morbimortalidade Efeito da Aplicação Matinal vs. Nocturna de Maleato de Timolol em Doentes Medicados com Prostaglandina nas Curvas de Pressão Intraoculares Diurnas e de Pressão Arterial nas 24 Horas cardiovascular72,73 em doentes normotensos, ainda que tradicionalmente este risco cardiovascular seja atribuído predominantemente a doentes hipertensos não-dipper73-83. Patologias como insuficiência cardíaca congestiva84, diabetes85 e apneia do sono86 foram também relacionadas com o perfil arterial de não-dipper. Também no glaucoma estes dips muito pequenos ou ausência de dips nocturnos foram associados a progressão64,87,88. Tokunaga et al88 avaliaram prospectivamente a relação entre a diminuição nocturna da PA e a progressão do campo visual em 38 pacientes com GPAA (e GNT) seguidos durante um período mínimo de 4 anos. Os doentes que apresentaram uma diminuição nocturna <10% foram designados não-dippers, os que apresentaram uma diminuição entre 10-20% foram designados dippers fisiológicos e aqueles com uma diminuição de> 20% foram designados dippers extremos. Os não-dippers e os dippers extremos foram classificados como não-fisiológicos. Os dippers não-fisiológicos tiveram uma incidência significativamente maior na progressão do glaucoma quando comparados com os dippers fisiológicos (p = 0,05). Nesse sentido, com este estudo, é possível constatar que a aplicação matinal de maleato de timolol (quando comparada com a sua aplicação nocturna) conduz a um aumento significativo do número de doentes com perfil de dipper fisiológico, reduzindo substancialmente o número de doentes com perfil de dipper extremo, para valores sistólicos, diastólicas e médios. No entanto, também se verificou um aumento do número de doentes com perfil de não-dipper sistólicos e médios. Será por isso necessário avaliar até que ponto este aumento de incidência dos perfis do tipo não-dipper pode levar ao desenvolvimento de factores de risco cardiovasculares ou de outras patologias sistémicas. A frequência cardíaca é influenciada por antagonistas beta, que inibindo a actividade simpática mediada pela epinefrina diminuem o cronotropismo e inotropismo, conduzindo a uma diminuição da frequência cardíaca e contractilidade do miocárdio. Hayreh et al70 verificaram que doentes com glaucoma medicados com maleato de timolol apresentaram frequências cardíaca mínimas nocturnas significativamente inferiores (p=0,002) a doentes não medicados com beta-bloquedor. Netland et al89 observaram que a aplicação de maleato de timolol resultou em FC’s médias nocturnas significativamente inferiores às FC’s médias diurnas e a aplicação matinal resultou numa redução estatisticamente significativa da FC média e mínima durante o dia (p=0,007 e p=0,019, respectivamente) e num aumento da FC mínima nocturna (p=0,044), sem afectar a FC média nocturna e nas 24 horas Finalmente no que concerne às PIO’s, os resultados obtidos neste estudo parecem indicar não existir diferença nas PIO’s durante o dia entre a aplicação nocturna e matinal de maleato de timolol. Não encontramos na literatura estudos que tenham avaliado as diferenças que resultam de uma aplicação nocturna e matinal de maleato de timolol nas PIO’s durante a noite ou nas 24 horas. Encontramos no entanto um estudo que analisou o fluxo do humor aquoso nas 24 horas e que demonstrou que o maleato de timolol reduz a produção de humor aquoso para níveis inferiores aos níveis basais durante o dia, mas não durante a noite90. E como já referimos previamente, diversos trabalhos realizados sugerem que a aplicação de maleato de timolol uma vez por dia apresenta uma eficácia semelhante que se aplicado duas vezes por dia42-44,91,92. Aparentemente, apesar de a semi-vida ser de apenas algumas horas, a sua disponibilidade parece ser prolongada devido à sua capacidade de se ligar à melanina93,94, o que em parte explica o seu tempo de “wash-out” de 2 a 4 semanas93. Um estudo conduzido por Ong et al94 concluiu que na sua formulação em gel, a aplicação de maleato de timolol de manhã apresenta eficácia superior à sua aplicação nocturna. Estamos cientes que este estudo apresenta limitações importantes tais como o facto de apenas terem sido avaliados doentes normotensos e de a amostra de doentes ser relativamente pequena, o que pode limitar a generalização dos resultados. Mais ainda, não foram avaliadas as PIO’s durante a noite, o que nos impede a avaliação das repercussões da aplicação matinal vs nocturna de maleato de timolol na PIO durante as horas de sono. No entanto, e como foi acima referiso, não nos parece ser possível determinar de forma fidedigna as PIO’s e PA’s no mesmo doente e na mesma noite, uma vez que será sempre necessário acordar o doente para avaliação das PIO’s o que consequentemente desvirtua as valores reais da PA. Trata-se no entanto, de acordo com a nossa pesquisa, do primeiro estudo a avaliar os efeitos que a aplicação matinal de maleato de timolol induz nas pressões arteriais nas 24 horas quando comparado com a sua aplicação nocturna. Também não encontramos nenhum estudo que compare os efeitos na PIO nas 24 horas de uma aplicação nocturna e matinal de maleato de timolol. E, de acordo com os nossos resultados estas questões parecem ser muito pertinentes, uma vez que as combinações fixas, com consequente aplicação nocturna de maleato de timolol, representam uma grande fatia de doentes medicados para o glaucoma. Integrando estes resultados com a literatura mencionada , o período do dia em que se faz a aplicação de maleato de timolol pode alterar o perfil arterial do doente, com implicações na progressão do GPAA . Este pressuposto merece, da nossa perspectiva, investigação adicional. Vol. 36 - Nº 4 - Outubro-Dezembro 2012 | 399 Pedro Barros, Gabriel Morgado, Paula Tenedório, Joana Martins, Josefina Serino, Bruna Vieira, João Neves Martins Como já foi referido, é necessário avaliar a possibilidade de ocorrências cardiovasculares, assim como o desenvolvimento de patologias que possam estar associados a um aumento de perfis não-dipper. Em conclusão, a aplicação matinal de maleato de timolol parece ter vantagens em relação à aplicação nocturna. Observamos diminuição da diferença entre a PA diurna e nocturna, tendo para isto sido mais importante o aumento da PA nocturna. Houve ainda aumento do número de doentes com perfil dipper fisiológico, principalmente à custa da diminuição do perfil dipper extremo. BIBLIOGRAFIA 1. Resnikoff S, Pascolini D, Etya’ale D, Kocur I, Pararajasegaram R, Pokharel GP, et al. Global data on visual impairment in the year 2002. Bull World Health Organ. 2004 Nov;82(11):844-51. 2. Congdon NG, Friedman DS, Lietman T. 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CONTACTO Pedro Barros [email protected] Vol. 36 - Nº 4 - Outubro-Dezembro 2012 | 403 Oftalmologia - Vol. 36: pp.405-410 Artigo Original Ângulo Estreito: Facoemulsificação versus Iridotomia Laser Joana Ferreira1, Luís Abegão Pinto1, Isabel Domingues2, José Pedro Silva3, João Paulo Cunha3, Maria Reina3 ¹Interna do Internato Complementar ²Assistente Hospitalar Eventual ³Assistente Hospitalar Graduado Serviço de Oftalmologia do Centro Hospitalar de Lisboa Central RESUMO Objectivo: Comparar as alterações dos parâmetros da câmara anterior após facoemulsificação versus iridotomia laser em doentes com glaucoma de ângulo fechado. Métodos: Os autores realizaram um estudo prospectivo em 22 olhos com ângulo fechado, que foram distribuídos aleatoriamente em 2 grupos: G1 – submetido a iridotomia laser, G2 – submetido a facoemulsificação com implante de lente intraocular (LIO). Em ambos os grupos foram avaliadas, pré e pós-operatoriamente (1 e 3 meses), as alterações morfológicas da câmara anterior (volume, profundidade central e ângulo da câmara anterior) através do Pentacam Rotating Scheimpflug Câmara. Resultados: No grupo 1 verificou-se um aumento não estatisticamente significativo (p>0,01) de todos os parâmetros da câmara anterior, enquanto que no grupo 2 este aumento foi estatisticamente significativo (p<0,0001). Três meses após facoemulsificação observou-se um aumento de 91,19% do volume da câmara anterior, 72,32% do ângulo da câmara anterior e de 91,67% da profundidade central da câmara anterior. Conclusões: Nos doentes com glaucoma de ângulo fechado o volume, ângulo e profundidade central da câmara anterior aumentam após facoemulsificação ou iridotomia laser. Contudo, a facoemulsificação é mais eficaz no aumento referido. Futuros estudos serão necessários para ser considera a facoemulsificação o tratamento de escolha na prevenção de crises agudas de encerramento do ângulo em casos seleccionados de glaucoma de ângulo fechado e catarata. Palavras-chave Facoemulsificação, iridotomia laser, glaucoma de ângulo fechado, glaucoma agudo, pentacam. ABSTRACT Purpose: To compare changes of the anterior chamber after phacoemulsification versus laser iridotomy in patients with chronic angle closure glaucoma. Methods: Prospective, non-randomized comparative study in 22 patients with narrow angle. Two treatment groups: G1 - underwent laser iridotomy, G2 - underwent phacoemulsification with implantation of intraocular lens (IOL). Morphological changes of anterior chamber (volume, depth and anterior chamber angle) through the Pentacam Rotating Scheimpflug Camera were examined in each group pre and postoperatively (1 and 3 months). Vol. 36 - Nº 4 - Outubro-Dezembro 2012 | 405 Joana Ferreira, Luís Abegão Pinto, Isabel Domingues, José Pedro Silva, João Paulo Cunha, Maria Reina Results: In group 1 the increase of all parameters of the anterior chamber was not statistically significant (p> 0.01), whereas in group 2 this increase was statistically significant (p <0.0001). Three months after phacoemulsification there was an increase of 91,19% of anterior chamber volume, 72,32% of anterior chamber angle and 91,67% of anterior chamber depth. Conclusions: In patients with chronic angle closure glaucoma the volume, angle and depth anterior chamber increase after phacoemulsification and laser iridotomy. However, phacoemulsification is more effective in this increase. Future studies are needed to conclude that phacoemulsification is the treatment of choice in the prevention of acute glaucoma in selected cases of chronic angle closure glaucoma.and cataract. Key-words Phacoemulsification, laser, iridotomy, chronic angle closure glaucoma, acute primary angle closure, pentacam. Introdução Os glaucomas de ângulo fechado (GAF) são classificados em primários e secundários. Dentro dos primários, o encerramento do ângulo iridocorneano é muitas vezes consequência de um bloqueio pupilar por contacto da pupila em semi-midríase e a face anterior do cristalino. A passagem do humor aquoso para a câmara anterior é assim dificultada, criando um gradiente de pressão entre as câmaras posterior e anterior. A raiz da íris é empurrada anteriormente encerrando o ângulo. Esta condição é mais frequente na população oriental, nos doentes hipermetropes, no sexo feminino e nos idosos1,2. Com a idade, a profundidade e o volume da câmara anterior vão diminuindo devido ao aumento do diâmetro antero-posterior do cristalino e à deiscência zonular. O cristalino apresenta um volume de 162,9 mm3 aos 20 anos enquanto aos 50 é de 205 mm3 e de 213 mm3 aos 70 anos. Por outro lado, o diâmetro da pupila também diminui com a idade. Assim, a prevalência de bloqueio pupilar aumenta com a idade atingindo um pico entre os 55 e os 70 anos3. A Biomicroscopia Ultrassónica (UBM), o Pentacam-Scheimpflug e a Tomografia de Coerência Óptica (OCT) do segmento anterior têm sido utilizados para avaliar a morfologia dos parâmetros do segmento anterior e confirmar a importância da aposição anterior do cristalino na patogénese do GAF4,5. O tratamento tradicional do GAF inclui medicação tópica e/ou sistémica anti-hipertensora e redução do bloqueio pupilar por iridotomia laser periférica. O objectivo do nosso trabalho foi avaliar e comparar a eficácia da iridotomia laser periférica (ILP) e da 406 | Revista da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia facoemulsificação com implante de lente intraocular de câmara posterior (LIO CP) em doentes com glaucoma de ângulo fechado e catarata, avaliando os parâmetros da câmara anterior (volume, profundidade e ângulo) através do Pentacam e a pressão intraocular por tonómetro de aplanação de Goldmann. Métodos Estudo prospectivo onde foram incluídos 22 olhos com glaucoma de ângulo fechado de 14 doentes observados na consulta de oftalmologia do Centro Hospitalar de Lisboa Central no período de Janeiro a Junho de 2010. Foram excluídos doentes pseudofáquicos ou afáquicos, doentes com outras patologias oftalmológicas para além de glaucoma e/ ou catarata, assim como doentes com glaucoma de ângulo fechado tratados com outros meios para além de medicação anti-glaucomatosa tópica e/ou sistémica. Realizou-se pré e pós-operatoriamente uma observação oftalmológica que incluiu a melhor acuidade visual (AV) corrigida, biomicroscopia, tonometria de aplanação, fundoscopia, gonioscopia que identificou os ângulos fechados de acordo com classificação de Shaffer e avaliação quantitativa dos parâmetros da câmara anterior (volume da câmara anterior, VCA, profundidade central da câmara anterior, PCA e ângulo da câmara anterior, ACA) através de Câmara Scheimpflug Pentacam. Os doentes foram distribuídos de forma aleatória em 2 grupos: grupo 1, G1 – 11 olhos submetidos a ILP e grupo 2, G2 – 11 olhos submetidos a facoemulsificação com implante LIO CP. Ângulo Estreito: Facoemulsificação versus Iridotomia Laser As facoemulsificações com implante de LIO CP foram realizadas nos blocos operatórios do Serviço de Oftalmologia do Centro Hospitalar de Lisboa Central (Hospital de São José e Hospital de Santo António dos Capuchos). Foi realizada uma preparação pré-operatória com manitol endovenoso. A técnica cirúrgica utilizada foi semelhante em todos os casos com incisões corneanas de 2,65 mm, capsulorrexis circular contínua de cerca de 5,5 mm, “quick-chop”, irrigação/aspiração e implante de LIO no saco capsular (Acrysof® IQ). A técnica terminava com a aspiração de material visco-elástico, hidratação do estroma corneano, injecção de cefuroxime intracamarular e no pós-operatório foram prescritos colírios de antibiótico e esteróides durante 2 semanas. Iridotomia laser foi realizada sob anestesia tópica usando uma técnica sequencial de árgon e Nd:YAG laser. No pós-operatório foi feita terapêutica com esteróides tópicos durante 4 dias. Foram comparadas as variáveis VCA, ACA, PCA e pressão intraocular (PIO) pré e pos-operatoriamente (1º e 3º meses). Para a análise estatística foi utilizado o software Graphpad Prism. Os dados obtidos foram analisados através do teste t Student, comparadas médias e desvios padrão. Valores de p < 0,01 foram considerados estatisticamente significativos. mês de pós-operatório. Em todos os parâmetros da câmara anterior analisados não se verificaram diferenças estatisticamente significativas. No grupo 2 verificaram-se diferenças estatisticamente significativas em todos os parâmetros da câmara anterior tanto no 1º como no 3º mês de follow-up, no entanto as diferenças da PIO não revelaram a mesma significância. A PIO pré-operatória foi de 17,55 ± 6,20 mmHg e de 16,27 ± 3,41 e 14,64 ± 3,29 mmHg no 1º e 3º mês pós-operatório, respectivamente. O VCA registou no pré-operatório valores de 86,73 ± 10,09 mm3 enquanto no 1º e 3º mês de pós-operatório foi de 160,55 ± 18,42 e 165,82 ± 16,44 mm3, respectivamente. O ACA foi de 26,95 ± 4,13 º no pré-operatório e de 44,18 ± 4,56 e 46,44 ± 4,58 º no 1º e 3º mês de pós-operatório, respectivamente. Em relação à PCA os valores foram de 2,04 ± 0,3 mm no pré-operatório e de 3,95 ± 0,48 e 3,91 ± 0,45 mm no 1º e 3º mês de pós-operatório, respectivamente. (gráficos 1, 2, 3 e 4) Aos 3 meses de follow-up verificou-se um aumento de 91,19 % no volume da câmara anterior, de 72,32 % no Resultados O estudo incluiu 22 olhos com ângulo fechado de 14 doentes, divididos equitativamente e aleatoriamente em dois grupos. G1 era constituído por 11 olhos de 7 doentes, todos do sexo feminino e G2 era composto pelos restantes 11 olhos de 7 doentes, 4 do sexo feminino e 3 do sexo masculino. A idade média foi de 63,7 ± 8,7 anos para o grupo 1 e de 73,1 ± 6,85 anos para o grupo 2. O período de follow-up foi de 3 meses. No grupo 1 os valores médios pré-operatórios da PIO foram de 16,18 ± 2,23 mmHg e no 1º e 3º meses de pós-operatório foram de 14 ± 2,86 e 15,73 ± 2,8 mmHg, respectivamente. Não se verificaram diferenças estatisticamente significativas entre estas medições. Em relação ao VCA no pré-operatório foi de 81,36 ± 27,15 mm3, enquanto no 1º e 3º meses de pós-operatório foi de 102,36 ± 24,43 e 110,64 ± 21,9 mm3, respectivamente. O ACA teve valores de 22,79 ± 3,95 º no pré-operatório e de 22,62 ± 4,9º e 26,12 ± 7,04º no 1º e 3º mês de pós-operatório, respectivamente. Em relação à PCA registaram-se valores de 1,95 ± 0,42 mm no pré-operatório e de 2,03 ± 0,33 e 2,18 ± 0,50 mm no 1º e 3º Gráf. 1 | Valores médios de PIO no pré-operatório e 1º e 3º mês de pós-operatório em G1 e G2. Gráf. 2 | Valores médios de VCA no pré-operatório e 1º e 3º mês de pós-operatório em G1 e G2. Vol. 36 - Nº 4 - Outubro-Dezembro 2012 | 407 Joana Ferreira, Luís Abegão Pinto, Isabel Domingues, José Pedro Silva, João Paulo Cunha, Maria Reina Gráf. 3 | Valores médios de ACA no pré-operatório e 1º e 3º mês de pós-operatório em G1 e G2. Gráf. 4 | Valores médios de PCA no pré-operatório e 1º e 3º mês de pós-operatório em G1 e G2. ângulo da câmara anterior e de 91,67 % na profundidade central da câmara anterior, relativamente ao grupo submetido a facoemulsificação. Quanto ao grupo 1 foram registados valores percentuais de 35,99; 14,61 e 11,79 para o volume, ângulo e profundidade central da câmara anterior, respectivamente. A PIO diminuiu 2,91 mmHg no G2 e 0,45 mmHg no G1. Discussão Recentes estudos sugerem que o cristalino tem um papel importante na configuração do ângulo. O cristalino estreita o ângulo ao empurrar a íris periférica anteriormente e este efeito é mais marcado na presença de catarata. A catarata pode ser um importante factor adjuvante no encerramento do ângulo. Apesar dos resultados visuais e refractivos pós cirurgia de catarata estarem bem estudados, assim como a diminuição da PIO no pós-operatório a longo prazo estar 408 | Revista da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia reportada, as concomitantes alterações anatómicas e fisiológicas da câmara anterior permanecem pouco claras. Existe pouca informação no que diz respeito à dinâmica do humor aquoso após facoemulsificação. O tratamento tradicional do GAF inclui medicação tópica e/ou sistémica anti-hipertensora e alívio do bloqueio pupilar por iridotomia laser periférica. Contudo, 38 - 58% destes doentes mantém PIO elevadas subsequentemente6,7. Este facto pode ser devido ao encerramento aposicional residual após ILP, como resultado de um posicionamento anterior do corpo ciliar, ou devido à lesão do trabéculo e desenvolvimento de sinéquias anteriores periféricas por uma resposta inflamatória intensa ou um encerramento do ângulo prolongado durante uma crise aguda. Numerosos estudos têm mostrado que a PIO pode reduzir aproximadamente 2 mmHg um ano após extracção extracapsular de catarata8-10 e mais recentemente, a facoemulsificação com implante de LIO CP veio confirmar estes dados11-19. Poley e seus colaboradores realizaram um estudo com 10 anos de follow-up onde verificaram que a diminuição da PIO após cirurgia de catarata era proporcional ao valor de PIO baseline, isto é, quanto maior o valor de PIO baseline maior a redução após facoemulsificação. Assim, a redução da PIO em doentes com glaucoma de ângulo fechado tratados é limitada e de 1-2 mmHg15. Em adição, estudos têm mostrado que a redução da PIO é mais significativa um ano após cirurgia de catarata e que depois retorna aos valores baseline progressivamente20. A cirurgia de catarata tem sido sugerida como alternativa à ILP no tratamento do glaucoma agudo primário18,21-23. Keenan refere mesmo que a tendência para a diminuição da prevalência de glaucomas agudos primários se deve ao facto do aumento do número de cirurgias de catarata realizado nos últimos anos24. Euswas e Warrasak, em 2005, dividiram os doentes com glaucoma de ângulo fechado em 2 grupos de acordo com o grau de encerramento do ângulo: no grupo 1 foram incluídos doentes com menos que 180º de encerramento do ângulo enquanto no grupo 2 havia menos de 270º de sinéquias periféricas anteriores. Verificaram uma redução de 2 mmHg no grupo 1 e de 5 mmHg no grupo 2 após facoemulsificação25. Num estudo de Hayashi e colaboradores26 a redução da PIO registada após a cirurgia de catarata foi superior a outras séries11,12, e foi mais importante nos olhos com glaucoma de ângulo aberto (GAA) que no glaucoma de ângulo fechado (GAF). No entanto, apenas 19,1 % dos doentes com GAA deixaram de necessitar de terapêutica anti-glaucomatosa contra 40,1 % de doentes com GAF, após cirurgia de catarata. O aumento do ângulo e da profundidade da câmara anterior associado à redução da PIO sugerem que um Ângulo Estreito: Facoemulsificação versus Iridotomia Laser importante factor na fisiopatologia do glaucoma, o estreitamento/encerramento do ângulo é eliminado/reduzido com a cirurgia de catarata por facoemulsificação de pequena incisão. Embora a iridotomia laser previna o bloqueio pupilar relativo, a câmara anterior permanece igualmente estreita, razão pela qual a extracção da catarata possa ser mais eficaz no tratamento do glaucoma de ângulo fechado27. Os nossos resultados demonstraram que a cirurgia de catarata é mais eficaz não só na redução da PIO como no aumento de todos os parâmetros da câmara anterior, nomeadamente no seu volume, ângulo e profundidade. Este estudo apresenta algumas limitações como seja o tempo curto de follow-up, o número reduzido da amostra e a avaliação dos parâmetros do segmento anterior ser feita através do Pentacam uma vez que este aparelho, no que respeita ao ângulo, não o avaliar com precisão. Futuros estudos, com follow-up superior, serão realizados pelo grupo de trabalho para avaliar esta eficácia da cirurgia de catarata e poder correlacioná-la com uma possível prevenção de crises de glaucoma agudo nos olhos com ângulo estreito. Conclusões Em conclusão podemos considerar que a facoemulsificação é mais eficaz no aumento dos parâmetros da câmara anterior em olhos com ângulos estreitos versus a iridotomia laser. Contudo, no nosso entender, mais estudos com um follow-up maior são necessários para avaliar a capacidade de a facoemulsificação prevenir possíveis crises de glaucoma de ângulo fechado nestes olhos com ângulo estreito e assim permitirem uma melhor orientação na nossa escolha terapêutica. A abordagem do doente com glaucoma e catarata continua a ser um desafio para os oftalmologistas. Não existem recomendações uniformes e é importante considerar cada caso em particular aquando da decisão cirúrgica, tendo em conta vários factores como a idade do doente, o estadio da doença, a compliance com o tratamento médico aliada à PIO pretendida como alvo. Bibliografia 1. Aung T, Chew PT. Review of recent advancements in the understanding of primary angle-closure glaucoma. Curr Opin Ophthalmol 2002; 13:89–93 2. Quigley HA. Angle-Closure Glaucoma-Simpler Answers to Complex Mechanisms: LXVI Edward Jackson Memorial Lecture. Am J Ophthalmology 2009; 148(5): 657-669. 3. Lachkar Y. Glaucome et crise aigue par fermeture de l’angle: phakoémulsification en première intention. J Français d’ Ophthalmologie 2010; 33: 273-278. 4. Dawczynski J, Koenigsdoerffer E, Augsten R, Strobel J. 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Nenhum dos Autores tem conflito de interesses a declarar CONTACTO [email protected] Oftalmologia - Vol. 36: pp.411-416 Artigo Original Complicações Hemorrágicas após Injecções Intravítreas em Doentes Anticoagulados e/ou Antiagregados – Estudo Retrospectivo Cláudia Loureiro1, Ana Bastos Carvalho2, Joana Valadares1, Joaquim Prates Canelas3, Manuel Monteiro Grillo4 1 Interno do Internato Complementar de Oftalmologia do Hospital de Santa Maria, Centro Hospitalar Lisboa Norte 2 Assistente Hospitalar Eventual de Oftalmologia do Hospital de Santa Maria, Centro Hospitalar Lisboa Norte e Assistente da Faculdade de Medicina de Lisboa 3 Assistente Hospitalar Graduado de Oftalmologia e Responsável pelo Departamento de Retina Médica do Hospital de Santa Maria, Centro Hospitalar Lisboa Norte 4 Director do Serviço de Oftalmologia do Hospital de Santa Maria, Centro Hospitalar Lisboa Norte e Professor da Faculdade de Medicina de Lisboa Hospital de Santa Maria, Centro Hospitalar Lisboa Norte Resumo Objectivo: Avaliar a segurança de injecções intravítreas de anticorpos monoclonais anti-factor de crescimento endotelial vascular (anti-VEGF), em doentes hipocoagulados e/ou antiagregados. Materiais e Métodos: Estudo retrospectivo de uma série consecutiva de doentes de um único centro, que receberam injecções intravítreas de anti-VEGF (ranibizumab e bevacizumab), num período de 2 anos. Foram registados dados demográficos, doenças oftalmológicas, medicação e complicações hemorrágicas oculares. Resultados: O estudo incluiu 302 doentes que receberam 810 injecções intravítreas. Cento e quarenta e nove (49%, 366 injecções) encontravam-se sob terapêutica anticoagulante ou antiagregante, e apenas 19 (13.7%) interromperam a medicação antes do procedimento. Registou-se apenas uma complicação hemorrágica (hemovítreo), num doente sob terapêutica combinada (anticoagulante e antiagregante). Conclusão: No presente estudo, o risco de complicações hemorrágicas foi extremamente baixo, não se parecendo justificar a interrupção da medicação supracitada. Palavras-chave Injecção intravítrea, anti-VEGF, complicações hemorrágicas, anticoagulantes, antiagregantes. Abstract Objective: To determine the safety of anti-vascular endothelial growth factor (anti-VEGF) intravitreal injections in patients on anticoagulant and/or antiaggregant therapy. Methods: A retrospective study was conducted on a consecutive series of patients of a single center who received anti-VEGF intravitreal injections (ranibizumab and bevacizumab), in a 2-year period. Data on demographic parameters, ophthalmological diseases, medication and hemorrhagic ocular complications were collected. Results: The study included 302 patients who received 810 intravitreal injections. Among these, 149 (49%, 366 injections) were on anticoagulant or antiaggregant therapy, and only 19 (13,7%) Vol. 36 - Nº 4 - Outubro-Dezembro 2012 | 411 Cláudia Loureiro, Ana Bastos Carvalho, Joana Valadares, Joaquim Prates Canelas, Manuel Monteiro Grillo discontinued therapy before injection. There was only one hemorrhagic complication (vitreous hemorrhage) which occurred in a patient on combined anti-coagulant and antiaggregant therapy. Conclusion: In the present study, the risk of hemorrhagic complications was extremely low. Therefore, discontinuation of the referred medication does not seem required. Key-words Intravitreal injection, anti-VEGF, hemorrhagic complications, anticoagulants, antiaggregants. Introdução As injecções intravítreas de anti-VEGF, Bevacizumab (Avastin®) e Ranibizumab (Lucentis®), constituem actualmente uma opção de tratamento de primeira linha para uma variedade de patologias vitreoretinianas. Tem sido demonstrado que complicações são raras quando o procedimento é realizado segundo as normas estabelecidas para a boa prática de injecções intravítreas1,3,15,17,18,25. Muitos doentes submetidos a injecções intravítreas apresentam elevado risco de enfarte de miocárdio, acidente vascular cerebral, trombose venosa profunda, ou embolia pulmonar por doenças subjacentes que os predispõem a estas complicações10,28,34. Uma percentagem significativa destes doentes encontram-se medicados com anticoagulantes e/ou antiagregantes plaquetários10,25,28. A interrupção desta medicação, em doentes submetidos a procedimentos vitreoretinianos invasivos, no sentido de evitar complicações hemorrágicas oculares e consequentes resultados, é uma prática comum10,17,25. Contudo, a descontinuação da medicação antiagregante e anticoagulante predispõe os doentes a um elevado risco de eventos tromboembólicos, que podem conduzir à morte10,12,16,25,27. Não existe nenhum consenso geral definido na prática clinica, quanto à abordagem perioperatória de doentes antiagregados e/ou hipocoagulados e que são submetidos a injecções intravítreas repetidas12,27,33. Com o uso terapêutico crescente das injecções intravítreas de anti-VEGF, torna-se importante avaliar o risco hemorrágico associado a este procedimento, em doentes sob terapêutica anticoagulante ou antiagregante plaquetária12,17,25,28. Na cirurgia de catarata a maioria dos estudos preconiza a manutenção da terapêutica anticoagulante ou antiagregante plaquetária4-6,19-23. Já na cirurgia vitreoretiniana os estudos são controversos, havendo autores que defendem a manutenção da terapêutica anticoagulante, outros que falam na suspensão desta terapêutica em doentes com baixo risco tromboembólico, devido ao aumento do risco de 412 | Revista da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia complicações hemorrágicas intra e pós operatórias,. A manutenção dos fármacos antiagregantes na cirurgia de vítreo e retina é defendida na maioria da literatura8,9,11,13,14,26,29,30. O objectivo deste estudo foi determinar a frequência de complicações hemorrágicas após injecções intravítreas de agentes anti-VEGF em doentes antiagregados e/ou hipocoagulados, através de um amplo estudo retrospectivo, de forma a estabelecer uma melhor relação de risco/benefício na interrupção da medicação supracitada antes de uma injecção intravítrea. Materiais e Métodos Foi realizado um estudo retrospectivo de uma série de 302 doentes consecutivos que receberam 810 injecções intravítreas de agentes anti-VEGF (bevacizumab e ranibizumab), de um centro de referência, num período de 2 anos (entre Julho de 2008 e Julho de 2010). Foram identificados todos os doentes que foram submetidos a injecções intra-vítreas de agentes anti-VEGF no período de estudo estabelecido e seleccionados de acordo com os critérios de inclusão e exclusão. Foram consultados os respectivos processos clínicos e realizadas entrevistas telefónicas a todos os doentes incluídos. Foram registados os dados demográficos, diagnósticos oftalmológicos, medicação anticoagulante e antiagregante e complicações hemorrágicas. As complicações hemorrágicas foram definidas como: hemovítreo, hemorragia retrohialóideia, aumento significativo de hemorragia intraretiniana ou submacular, hemorragia coroideia ou supracoróideia. As hemorragias subconjuntivais não foram consideradas. Os doentes identificados entre Julho de 2008 e Julho de 2010 que foram submetidos as injecções intravítreas de bevacizumab e ranibizumab foram incluídos no presente estudo. Foram excluídos doentes com hemovítreo prévio e doentes nos quais a injecção intravítrea foi acompanhada de outro procedimento cirúrgico. Complicações Hemorrágicas após Injecções Intravítreas em Doentes Hipocoagulados e/ou Antiagregados – Estudo Retrospectivo Os doentes foram divididos em três grupos consoante o tipo de medicação: antiagregante, anticoagulante e um grupo controlo (sem medicação antiagregante ou anticoagulante). O procedimento cirúrgico foi realizado após instilação de anestesia tópica com cloridrato de oxibuprocaína e desinfecção local com iodopovidona a 5% na conjuntiva bulbar e fundos de saco conjuntivais e a 10% na pele, durante 2 minutos. A injecção intravítrea de bevacizumab (1.25 mg/0.05 mL) ou ranibizumab (0.5 mg/0.05 mL) foi administrada com uma agulha de 30 gauge adaptada numa seringa de insulina, no quadrante inferotemporal da esclera, a 3.5 ou 4 mm do limbo, dirigida ao pólo posterior. Os doentes foram agendados para observação entre 1 a 4 semanas após a injecção, realizando uma avaliação oftalmológica completa. Resultados Foram incluídos 302 doentes consecutivos, e um total de 810 injecções intravítreas (bevacizumab e ranibizumab). A população estudada apresentou uma idade média de 70.5 anos (intervalo 15-99 anos), com discreto predomínio do sexo feminino (n=158) em relação ao sexo masculino (n=144) (Tabela 1). Os diagnósticos etiológicos mais frequentes que condicionaram o tratamento com antiangiogénicos foram a degenerescência macular ligada à idade, o edema macular diabético e o edema macular por oclusão venosa retiniana. As patologias oftalmológicas subjacentes encontram-se discriminadas no Gráfico 1. A média do número de injecções por doente foi 2.7 (intervalo de 1-14 injecções). Entre os doentes estudados, 149 (49%, 366 injecções) encontravam-se sob terapêutica anticoagulante ou antiagregante e os restantes 153 doentes estudados (51%, 444 injecções) não se encontravam sob a terapêutica referida (Gráfico 2). O grupo dos doentes antiagregados incluiu 141 doentes e o dos anticoagulados 8 doentes. Especificamente o tipo de terapêutica realizada pelos grupos sob terapêutica antiagregante e anticoagulante foi a seguinte: ácido acetilsalicílico, 91 doentes (61.1%, 239 injecções); ticlopidina, 18 doentes (12.1%, 51 injecções); clopidogrel, 14 doentes (9.4%, 26 injecções); triflusal, 6 doentes (4.0%, 15 injecções); varfarina, 7 doentes (4.6%, Tabela 1 | Dados demográficos (n= 302) Dados Demográficos Idade Média (anos) 70,5 Idade Mínima (anos) 15 Idade Máxima (anos) 99 Sexo Masculino (n=) 144 Sexo Feminino (n=) 158 Gráf. 2 | Percentagem de doentes com ou sem terapêutica antiagregante e/ou anticoagulante (n=302). Gráf. 1 | Distribuição dos diagnósticos etiológicos pelo número total de doentes (n=302) que condicionaram o tratamento com antiangiogénicos. Vol. 36 - Nº 4 - Outubro-Dezembro 2012 | 413 Cláudia Loureiro, Ana Bastos Carvalho, Joana Valadares, Joaquim Prates Canelas, Manuel Monteiro Grillo Gráf. 3 | Subgrupos de terapêutica antiagregante e anticoagulante (n=149) e número de injecções respectivos. 17 injecções); clopidogrel e ácido acetilsalicílico, 11 doentes (7.4%, 14 injecções); ticlopidina e ácido acetilsalicílico, 1 doente (0.7%, 1 injecção); e varfarina e ácido acetilsalicílico 1 doente (0.7%, 3 injecções) (Gráfico 3). Neste grupo foram identificados 130 doentes (87.3%) que não interromperam a medicação anticoagulante e/ou antiagregante pelo menos uma semana antes do procedimento. Como complicação hemorrágica, registou-se apenas um caso de hemovítreo, que ocorreu um mês após uma de três injecções intravítreas. O doente encontrava-se sob terapêutica com varfarina e ácido acetilsalicílico, e tinha o diagnóstico de retinopatia diabética proliferativa de alto risco. Não foram registadas outras complicações hemorrágicas nos restantes doentes (n=301). Discussão O risco de complicações tromboembólicas versus hemorragia ocular envolvidos com a abordagem perioperatória em doentes antiagregados ou hipocoagulados continua a ser um tópico de debate. Não há actualmente nenhuma regra estabelecida de orientação em relação a esses doentes, resultando numa variabilidade de decisões clínicas em toda a comunidade oftalmológica2,4-7,8,9,11-15,17,19-25,26,27,29-32. As hemorragias após injecções intravítreas podem estar relacionadas com o procedimento em si, com o fármaco administrado ou com o estado hipocoagulado do doente27. Alguns estudos têm demonstrado a segurança e ausência de complicações hemorrágicas em doentes sistemicamente hipocoagulados e antiagregados, submetidos a injecções intravítreas7,12,15,17,24,25,27,32. Horn et al, num estudo de 414 | Revista da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia 57 doentes hipocoagulados e antiagregados, que receberam injecções intravítreas consecutivas de ranibizumab, bevacizumab ou triamcinolona, sugeriram que este procedimento pode ser realizado sem a interrupção da terapêutica referida17. Loukopoulos et al mostraram haver um baixo risco de complicações em doentes que receberam injecções de ranibizumab e medicados com anticoagulantes. Neste estudo foi contabilizado o índice internacional de normalização (INR), cuja média e desvio padrão foi de 2.32±0.7924. Também Mason et al num estudo retrospectivo recente de 675 olhos que receberam 1306 injecções intravítreas, recomendam a continuação do regime terapêutico, sem interrupção devido ao baixo risco de complicações em doentes sistemicamente hipocoagulados e antiagregados25. No presente estudo cerca de metade (49%) dos doentes submetidos a injecções intravítreas estavam medicados com antiagregantes ou anticoagulantes. Após 366 injecções intravítreas em 149 doentes sob terapêutica antiagregante ou anticoagulante, verificou-se um baixo risco de complicações hemorrágicas, registando-se apenas um evento hemorrágico num doente hipocoagulado e antiagregado. Este baixo risco de hemorragia ocular contrapõe-se ao potencial risco de eventos tromboembólicos sistémicos quando a medicação antiagregante ou anticoagulante é interrompida10. A única complicação hemorrágica verificada, ocorreu num doente cuja patologia oftalmológica de base (retinopatia diabética proliferativa), se encontra associada a um elevado risco de hemorragia espontânea, colocando-a em provável relação com este aspecto. Todavia, este estudo apresenta algumas limitações. Estas incluem o facto de ser um estudo retrospectivo, não contemplar INR como medida objectiva do estado de Complicações Hemorrágicas após Injecções Intravítreas em Doentes Hipocoagulados e/ou Antiagregados – Estudo Retrospectivo anticoagulação pela varfarina e apresentar um n pequeno no subgrupo de doentes hipocoagulados (n=8, 20 injecções), não permitindo obter conclusões com segurança nesse subgrupo de doentes. Apesar destas limitações, os nossos resultados sugerem que a taxa de complicações hemorrágicas em doentes sistemicamente antiagregados é extremamente baixa, e dado o risco associado à interrupção desta medicação, não se parece justificar a interrupção da mesma. Estes dados corroboram as conclusões de outros estudos clínicos7,12,15,17,25,27,32. De acordo com os resultados do nosso estudo e da literatura mais recente, os autores apoiam a manutenção desta terapêutica, devido ao baixo risco de complicações hemorrágicas associadas a este procedimento. No entanto, deve salientar-se que a continuação/interrupção desta medicação continua a ser uma decisão clínica individualizada, na qual o médico deve avaliar cuidadosamente a história clínica e discutir os riscos e benefícios com os próprios doentes. Estudos prospectivos adicionais poderão reforçar os dados encontrados, e estabelecer uma norma de actuação nos casos de doentes antiagregados e/ou hipocoagulados, que tenham indicação para administração de terapêutica por injecção intraocular. Bibliografia 1. Aiello LP, Brucker AJ, Chang S, Cunningham ET Jr, D’Amico DJ, Flynn HW Jr. Evolving guidelines for intravitreous injections. Retina, 2004; 24:S3-19. 2. Alwitry A, King AJ, Vernon SA. Anticoagulation therapy in glaucoma surgery. Graefes Arch Clin Exp Ophthalmol 2008; 246:891–896. 3. Angulo Bocco MC, Glacet-Bernard A, Zourdani A, Coscas G, and Soubrane G. Injection intravitréenne: évaluation rétrospective de la technique et des complications d’une série de 2028 injections. 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CONTACTO [email protected] Oftalmologia - Vol. 36: pp.417-424 Artigo Original Disfunção Iridiana Traumática: Implantação Secundária de Lente de Suspensão Escleral com Íris Artificial Mariana Seca1,4, Mafalda Macedo1,4, Pedro Borges1,4, Natália Ferreira2,4, Angelina Meireles3,4 Interno do Internato Complementar de Oftalmologia 2 Assistente Hospitalar de Oftalmologia 3 Chefe de Serviço de Oftalmologia 4 Serviço de Oftalmologia – Hospital de Santo António, Centro Hospitalar do Porto 1 RESUMO Objectivo: Avaliar os resultados anatomofuncionais e perfil de segurança da implantação secundária de lente em suspensão escleral (LSE) com íris artificial em doentes com disfunção iridiana traumática. Material e Métodos: Revisão de seis casos (média de idades de 51 anos) que sofreram traumatismo do globo ocular com consequente aniridia ou midríase fixa. Os doentes foram submetidos a vitrectomia via pars plana (VPP) com implantação secundária de LSE com íris artificial (modelo 311 da Ophtec). Foram recolhidos dados demográficos e aspectos relevantes relacionados com o traumatismo. Foi realizado um exame oftalmológico completo, registado o grau subjectivo de incapacidade causado pelo glare e fotofobia e avaliadas as complicações pós-operatórias. O seguimento médio foi de 19 meses. Resultados: Quatro doentes apresentaram ruptura do globo ocular com aniridia e catarata traumática. Dois doentes sofreram contusão ocular com subluxação lenticular e midríase fixa. A melhor acuidade visual corrigida (MAVC) após o traumatismo variou entre percepção luminosa e conta dedos. No final do seguimento, a MAVC oscilou entre 20/60 e 20/25. O astigmatismo corneano induzido pela cirurgia não foi estatisticamente significativo. A percepção subjectiva de glare e fotofobia melhorou em todos os doentes que apresentavam estes sintomas. Como complicação pós-operatória foi verificado um caso de descolamento de retina. Conclusão: O traumatismo do globo ocular está geralmente associado a um mau prognóstico. No entanto, nos casos em que a retina permanece aplicada, a VPP combinada com a implantação secundária de LSE com íris artificial para reparação da disfunção iridiana parece oferecer bons resultados anatomofuncionais. Palavras-chave Traumatismo ocular, disfunção iridiana, aniridia traumática, midríase fixa traumática, LSE com íris artificial. ABSTRACT Purpose: Report the anatomical and functional results and the safety of secondary implantation of scleral fixation intraocular lens (IOL) with artificial iris in patients with severe traumatic dysfunction of the iris. Vol. 36 - Nº 4 - Outubro-Dezembro 2012 | 417 Mariana Seca, Mafalda Macedo, Pedro Borges, Natália Ferreira, Angelina Meireles Materials and Methods: Review of six cases (mean sample age was 51 years) of ocular trauma with consequent traumatic aniridia or fixed mydriasis. Patients were submitted to pars plana vitrectomy (PPV) and secondary implantation of scleral fixation IOL with artificial iris (Ophtec model 311). Demographic data and relevant information regarding the ocular traumatism were collected. It was performed a complete ophthalmologic examination, the subjective degree of disability caused by glare and photophobia was registered, and postoperative complications were evaluated. The mean follow-up was 19 months. Results: Four patients presented with globe rupture and traumatic aniridia and cataract. Two patients had an ocular contusion with subluxation of the lens and fixed dilated pupil. Post trauma best-corrected visual acuity (BCVA) ranged between light perception and counting fingers. At the end of follow-up period, BCVA was between 20/63 and 20/25. The corneal astigmatism induced by LSE implantation was not statistically significant. The subjective perception of glare and photophobia improved in all patients who had experienced these symptoms. As postoperative complication was observed one case of retinal detachment. Conclusions: Ocular trauma is usually associated with bad prognosis. Nonetheless, in cases where retina is attached, PPV combined with secondary implantation of an artificial iris IOL for iridian dysfunction repair seems to offer good anatomical and functional results. Key-words Ocular trauma, iridian dysfunction, traumatic aniridia, traumatic fixed dilated pupil, scleral fixation IOL with artificial iris. INTRODUÇÃO A disfunção iridiana associada a trauma pode manifestar-se de duas formas: aniridia, isto é, ausência parcial ou total do tecido da íris, ou midríase fixa, por lesão do músculo esfíncter da íris. Os doentes que apresentam disfunção iridiana podem sofrer de diminuição da acuidade visual, sintomas subjectivos de glare e fotofobia, diminuição da profundidade de campo, aberrações de alta ordem, bem como apresentar um aspecto estético menos desejado1. Implantar uma lente intra-ocular (LIO) sem abordar a deficiência iridiana pode resultar em aberrações adicionais causadas pelos raios de luz que atravessam a periferia da LIO2. Ao longo dos anos, vários métodos têm sido usados para minimizar as alterações oftalmológicas decorrentes da disfunção iridiana, nomeadamente, lentes de contacto de cor3, tatuagem da córnea4,5 e implante com íris artificial6-11. Em 1994, Sundmacher et al. foram os primeiros a relatar o uso de uma LIO de câmara posterior com íris preta artificial6. Posteriormente, vários estudos relataram os resultados da implantação destas lentes, incluindo modelos da Morcher GmbH7,12,13 e da Ophtec BV14,15. No nosso trabalho apresentamos seis casos de traumatismo do globo ocular com consequente disfunção iridiana 418 | Revista da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia traumática. O nosso objectivo é avaliar os resultados anatómicos e funcionais da implantação secundária de lente de suspensão escleral (LSE) com íris artificial nestes doentes, e avaliar a segurança e complicações destes implantes ao longo do seguimento. MATERIAL E MÉTODOS Estudo retrospectivo, não-comparativo, de seis doentes que sofreram trauma ocular que condicionou uma disfunção iridiana (aniridia ou midríase fixa traumáticas); estes doentes foram submetidos a cirurgia primária em contexto de urgência, seguido de vitrectomia via pars plana (VPP), tamponamento com óleo de silicone ou gás quando necessário, e implantação secundária de LSE com íris artificial. As cirurgias foram realizadas por dois cirurgiões da secção de Vítreo-Retina, no bloco operatório do Serviço de Oftalmologia do Centro Hospitalar do Porto, num período de 33 meses, entre Setembro de 2007 e Julho de 2010. Foram registados os dados demográficos e toda a informação obtida no exame oftalmológico completo: melhor acuidade visual após o trauma, biomicroscopia e fundoscopia sob midríase farmacológica. O grau subjectivo de Disfunção Iridiana Traumática: Implantação Secundária de Lente De Suspensão Escleral com Íris Artificial incapacidade causado pelo glare e fotofobia também foram registados. Incluído na biomicroscopia estava um desenho do defeito funcional da íris, estimado em perda de tecido de <25%, de 25-50%, de 50-75% ou de >75%; uma pupila fixa e midriática foi considerado um defeito funcional da íris. Após a implantação da LSE, foram avaliados os seguintes dados: melhor acuidade visual corrigida (MAVC) e o cilindro necessário para atingir esta AV, pressão intra-ocular por tonometria de aplanação de Goldmann, o grau subjectivo de incapacidade causado pelo glare e fotofobia e as complicações pós-operatórias. O grau de incapacidade causado pelo glare e pela fotofobia foi avaliado através de um questionário realizado ao doente que graduava este sintoma em ausente, ligeiro, moderado e severo. Os doentes foram observados antes e depois de cada tempo cirúrgico, e no 1º, 3º, 6º e 12º mês após a implantação da LSE com íris artificial. A LSE usada no presente estudo (lente intra-ocular com íris artificial, modelo 311 da Ophtec) (Figura 1) é um implante de peça única de polimetilmetacrilato (PMMA) com capacidade de absorção da radiação ultravioleta. A LIO apresenta dupla funcionalidade permitindo corrigir distúrbios visuais resultantes da disfunção da íris, bem como corrigir erros refractivos esféricos consequentes à afaquia cirúrgica frequentemente estabelecida após o trauma. A íris artificial da LIO está disponível em 3 cores (castanho, azul e verde) e apresenta 9 mm de diâmetro. A óptica central pode ter um poder esférico entre +10,00 e +30,00 Dioptrias (D), com incrementos de 0,50 D, e apresenta 4 mm de diâmetro. Em cada um dos dois hápticos em “C” existe um orifício por onde passa o fio de sutura que vai permitir a fixação à esclera. O comprimento máximo desta lente é de 13,75 mm. sutura com alça (nylon 10/00, polipropileno) através do orifício localizado no háptico e formação de um nó com esta alça; passagem de cada agulha através da incisão corneana, contornando o rebordo pupilar e exteriorizando-se 1,5 mm posteriormente ao limbo, em posições diametralmente opostas após abertura localizada da conjuntiva; introdução da lente na câmara anterior, posicionando-a ao nível do sulco irido-capsular e de forma a centrar o corpo da lente; fixação da LIO à esclera com o fio de sutura nylon 10/00 através de uma sutura intra-escleral com 4 passagens em zig-zag, sem recurso a nó; encerramento da incisão corneana com fio de sutura nylon 10/00 e por hidratação dos bordos e encerramento da conjuntiva (Figuras 2 a 4). Fig. 2 | Introdução da LSE com íris artificial. Fig. 1 | Lente intra-ocular com íris artificial modelo 311 da Ophtec (disponível em castanho, verde e azul). A técnica cirúrgica usada para implantar a LIO com íris artificial resume-se nos seguintes passos: realização de uma incisão corneana de 9,5 mm; passagem da agulha do fio de Fig. 3 | Introdução da LSE com íris artificial. Vol. 36 - Nº 4 - Outubro-Dezembro 2012 | 419 Mariana Seca, Mafalda Macedo, Pedro Borges, Natália Ferreira, Angelina Meireles RESULTADOS Na amostra de 6 doentes, 5 eram homens e 1 era mulher. A idade variou entre os 33 e 60 anos, com uma média de idades de 51 anos. Nenhum dos doentes apresentava patologia oftalmológica prévia. O diagnóstico à entrada no Serviço de Urgência variou consoante apresentado na Tabela 1. Quatro dos 6 doentes apresentavam um trauma aberto, com atingimento da zona III. Funcionalmente, 3 dos 6 doentes apresentavam perdas de tecido da íris igual ou superior a 50%; 2 doentes tinham uma midríase fixa traumática. Os doentes 1 a 4 foram submetidos em primeiro tempo a uma reparação primária do globo ocular e, em segundo tempo, a uma VPP com tamponamento com óleo de silicone ou gás endocular. Os doentes 5 e 6 foram submetidos em Fig. 4 | Introdução da LSE com íris artificial. Tabela 1 | Dados pós-trauma Doente 1 2 3 Olho OE OE OE Sexo, idade Causa do Tipo e tamanho (anos) trauma da ferida ♂, 33 ♂, 56 ♀, 52 madeira arame queda na via pública Diagnóstico Perda tecido de íris Sequência cirúrgica 50 % 1ª: sutura corneo-escleral 2ª: vitrectomia + facofagia + laser + silicone 3ª: extracção de silicone + implantação de LSE com íris artificial < 25 % 1ª: sutura escleral 2ª: vitrectomia + laser + C3F8 3ª: facoemulsifação + implantação de LSE com íris artificial 4ª: vitrectomia + crioaplicação + SF6 50-75 % 1ª: sutura escleral 2ª: vitrectomia + facofagia + laser + silicone 3ª: extracção silicone 4ª: implantação de LSE com íris artificial aberta, 8mm ruptura corneoescleral, catarata e aniridia traumáticas aberta, 3mm laceração escleral, catarata e aniridia traumáticas, descolamento de retina com rasgadura gigante aberta, 15mm ruptura escleral, luxação cristalino com catarata e aniridia traumáticas, rasgadura retiniana > 75 % 1ª: sutura escleral 2ª: vitrectomia + crioapliação + SF6 3ª: implantação de LSE com íris artificial 4 OD ♂, 60 murro aberta, 6mm ruptura escleral, catarata, aniridia total, rasgadura retiniana 5 OD ♂, 53 madeira fechada luxação cristalino, midríase fixa - 1ª: vitrectomia + facofagia 2ª: implantação de LSE com íris artificial 6 OD ♂, 49 mola fechada cristalino subluxado, midríase fixa - 1ª: vitrectomia + facofagia 2ª: implantação de LSE com íris artificial 420 | Revista da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia Disfunção Iridiana Traumática: Implantação Secundária de Lente De Suspensão Escleral com Íris Artificial primeiro tempo a uma VPP. Em todos os doentes foi realizada a implantação de uma LSE com íris artificial (modelo 311 da Ophtec), todas de cor castanha, e com poder esférico entre +19,00 e +24,00 D. Todos os doentes apresentavam acuidades visuais (AV) pós-trauma entre percepção luminosa (PL) e conta dedos (CD). Após a implantação da LSE com íris artificial houve uma melhoria da AV para valores > 20/40 em cinco doentes e para 20/60 num doente, na escala de Snellen (Tabela 2). Relativamente à refracção, o cilindro médio pré-implantação de LIO era de 1,83 D e o cilindro médio pós-operatório foi de 2,21 D, diferença estatisticamente não significativa. Cinco dos 6 doentes referiram incapacidade moderada a severa causada por glare e fotofobia. Todos os doentes que referiram estes sintomas no período após o trauma melhoraram após a implantação da íris artificial (Tabela 3). Constatou-se como única complicação cirúrgica um descolamento de retina (DR), 2 meses após a cirurgia de implantação da LIO com íris artificial (Tabelas 1 e 3 – doente 2), que foi resolvido com sucesso com vitrectomia e tamponamento com gás. O seguimento médio foi de 19 meses (entre os 12 e 40 meses). No final deste, as lentes estavam centradas, verificando-se um pequeno desvio inferior num doente (doente 3). O bom resultado estético é corroborado pelas Figuras 2 a 7. DISCUSSÃO A íris regula a quantidade de luz que entra no olho, dependendo esta da superfície da pupila, calculada pela fórmula S = π x r2. Assim, um aumento no diâmetro da pupila resulta num aumento da quantidade de luz que entra no olho16. A disfunção iridiana é incapacitante para a maioria dos doentes. A aniridia ou a midríase fixa permitem a entrada de maior quantidade de luz, causando fotofobia e incapacidade de abrir o olho normalmente. Além disso, estes doentes sofrem de degradação da imagem devido a um maior número de aberrações de alta ordem e a uma diminuição da profundidade de campo1,14,16. Tabela 2 | MAVC e refracção pós-trauma/pré-implantação de LSE e no final do seguimento MAVC Doente Refracção pré-LSE final do seguimento pós-trauma final do seguimento cilindro eixo cilindro Eixo 1 PL 20/30 2,25 150º 2,00 70º 2 CD 20/25 2,50 170º 0,50 180º 3 PL 20/60 2,50 130º 4,00 180º 4 CD 20/25 1,00 180º 3,00 155º 5 CD 20/25 1,50 70º 3,00 110º 6 CD 20/30 1,25 90º 0,75 180º Tabela 3 | MAVC e refracção pós-trauma/pré-implantação de LSE e no final do seguimento Doente Glare Fotofobia Complicações pre-LSE pós-LSE pre-LSE pós-LSE 1 ++ 0 ++ 0 - 2 +++ 0 +++ + DR (2 meses após implantação de LSE) 3 ++ 0 +++ 0 - 4 +++ ++ +++ ++ - 5 0 0 0 0 - 6 ++ 0 ++ 0 - +++ severo; ++ moderado; + ligeiro; 0 ausência Vol. 36 - Nº 4 - Outubro-Dezembro 2012 | 421 Mariana Seca, Mafalda Macedo, Pedro Borges, Natália Ferreira, Angelina Meireles Fig. 5 | Doente 1: 33 anos, ♂, trauma ocular aberto (madeira); AV inicial: PL; AV final: 20/30. Fig. 8 | Doente 4: 60 anos, ♂, trauma ocular aberto (murro); AV inicial: CD; AV final: 20/25. Fig. 6 | Doente 2: 56 anos, ♂, trauma ocular aberto (arame); AV inicial: CD; AV final: 20/25. Fig. 9 | Doente 5: 53 anos, ♂, trauma ocular fechado (madeira); AV inicial: CD; AV final: 20/25. Fig. 7 | Doente 3: 52 anos, ♀, trauma ocular aberto (queda na via pública); AV inicial: PL; AV final: 20/60. Fig. 10 | Doente 6: 49 anos, ♂, trauma ocular fechado (mola); AV inicial: CD; AV final: 20/30. 422 | Revista da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia Disfunção Iridiana Traumática: Implantação Secundária de Lente De Suspensão Escleral com Íris Artificial Existem várias formas de corrigir disfunções iridianas. A pupiloplastia é um tratamento cirúrgico possível no caso da aniridia parcial, quando ainda está presente tecido da íris suficiente. As lentes de contacto coloridas são outro tratamento proposto, no entanto, são muitas vezes mal toleradas a longo prazo. A tatuagem da córnea é um método antigo que segundo Hirbsen et al.17 é uma cirurgia simples, eficiente e com poucas complicações. Na literatura6-11, as lentes mais nomeadas são as do laboratório Morcher® (aniridia IOL Type 67F, aniridia IOL Type 67G, aniridia ring Type 50C e coloboma diaphragm Type 96G) e do laboratório Ophtec® (modelo 311). Relativamente ao local de suporte da lente, esta pode ser introduzida no sulco ciliar, pode ser realizada uma sutura transescleral de forma a suspendê-la à esclera ou pode ser introduzida no saco capsular. Esta última técnica (endocapsular) apresenta vantagens sobre as duas primeiras uma vez que reduz a incidência de glaucoma e permite uma maior estabilidade da lente11. Por terem sido sujeitos a um trauma, todos os doentes do nosso estudo apresentavam instabilidade do complexo irido-zonulo-capsular, com consequente comprometimento do suporte capsular. Assim, a escolha da nossa equipa cirúrgica foi a lente de suspensão escleral do laboratório Ophtec® 311. Esta lente proporciona uma pupila fixa de 4mm, o que limita a entrada de luz no olho, aumenta a profundidade de campo e minimiza as aberrações de alta ordem associadas a pupilas de maior tamanho. Tal como escreveu Price et al.14, este diâmetro de 4mm parece-nos ser um compromisso entre o tamanho da pupila em condições escotópicas e fotópicas, permitindo um exame adequado da retina periférica. No estudo de 10 olhos submetidos à implantação da lente Ophtec, Price et al.14 mostrou que a AV e distúrbios visuais como fotofobia e glare melhoraram. No nosso estudo, a AV melhorou em 100% dos doentes. O grau subjectivo de incapacidade provocado pelo glare e fotofobia também melhorou em 100% dos doentes que apresentavam estes sintomas antes da implantação da LIO com íris artificial. Considerando a grande incisão corneana (9,5 mm) necessária para a introdução da lente, um astigmatismo pós-operatório é uma complicação que deve ser minimizada14,16. Na nossa amostra verificou-se um aumento no astigmatismo corneano, com aumento do cilindro necessário para a sua correcção, mas esta diferença não foi significativa. Por último, a carga psicossocial é também um componente importante a considerar. A lente Ophtec® modelo 311 permite a escolha da cor da íris de forma a aproximar-se do olho adelfo e oferecer um melhor resultado estético. Vários autores têm demonstrado subjectivamente um grau elevado de satisfação dos doentes8,9,14,15. No nosso estudo, os doentes afirmaram estar satisfeitos com a melhoria na aparência estética depois da implantação da LIO com íris artificial. O descolamento de retina, endoftalmite, hemovítreo e instabilidade do implante são alguns riscos pós-operatórios associados às LIO com íris artificial20,21. No nosso estudo verificou-se um DR num doente, que resolveu com vitrectomia e re-aplicação da retina com tamponamento com gás. A hipertensão intraocular (HTO), normalmente transitória, tem sido relatada por vários autores7,18,19. No nosso estudo não se verificou nenhum caso de HTO pós-implantação de LSE. Concluindo, em caso de aniridia traumática, associada a afaquia, recomendamos a implantação de uma LSE com íris artificial Ophtec® 311. Estes implantes, que parecem ser seguros, permitem uma reconstrução estética e funcional bastante satisfatória. Contudo, a evolução tecnológica dos implantes com íris artificial (por exemplo, diferentes cores, maior variedade dos diâmetros pupilares, fabrico em diferentes materiais), juntamente com uma maior experiência no seu uso, parece ser necessário para uma melhoria global dos resultados cirúrgicos. BIBLIOGRAFIA 1. Williams DR, Yoon G, Guirao A, et al. How Far Can We Extend the Limits of Human Vision? In: MacRae SM, Krueger RR, Applegate RA, eds. 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Nenhum dos Autores tem conflito de interesses a declarar CONTACTO Mariana Seca HSA-CHP, Largo Prof. Abel Salazar Edifício Neoclássico 4099-001 Porto +351916930417 [email protected] Oftalmologia - Vol. 36: pp.425-431 Artigo Original Espessura Foveal Central (EFC) da Retina medida por Tomografia de Coerência Óptica (OCT) por Time Domain (Stratus) e Spectral Domain (Heidelberg) Maria Picoto1, José Galveia1, Joana Portelinha1, António Rodrigues2, Fernanda Vaz 3 Interno do Internato Complementar de Oftalmologia 2 Director de Serviço de Oftalmologia 3 Assistente Hospitalar Graduada de Oftalmologia Serviço de Oftalmologia - Hospital de Egas Moniz, Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental 1 Resumo Objectivo: Comparar os valores de EFC (espessura média nos 1000 μm de diâmetro centrais) obtidos através dos protocolos de mapeamento macular da tomografia de coerência óptica em “Time Domain” (TD, Stratus) e “Spectral Domain” (SD, Heidelberg). Métodos: Estudo prospectivo de 74 olhos, 31 saudáveis e 43 com patologia vítreo-retiniana (vr). As tomografias de coerência óptica foram obtidas nos dois aparelhos, na mesma consulta, por um único operador experiente. Comparou-se a relação entre os valores das EFC medidas pelos dois sistemas. Avaliou-se a reprodutibilidade e a correlação dessas medições. Estabeleceu-se uma fórmula preditiva para obtenção de valores de EFC no Heidelberg (SD) a partir dos valores obtidos no Stratus (TD). Resultados: A correlação entre as ECR medidas pelos dois sistemas de OCT foi de 0,71 em olhos saudáveis (p<0,001) e 0,53 em olhos com patologia vr (p<0,001). A EFC média na amostra global de pacientes foi de 261,05 ± 92,12 nm no TD e 319,82 ± 104,12 no SD. A diferença média de EFC entre os dois sistemas foi de 88,67 +/- 16,68 nm em olhos com patologia vr (p<0,001) e 71,7+/-4,23 nm em olhos saudáveis (p<0,001). O Coeficiente de Reprodutibilidade (COR) foi de 1,95 x 4,23 em olhos saudáveis (p< 0,001) e 1,95 x 16,68 em olhos com patologia vr (p<0,001). Conclusões: Existe uma correlação directa entre as medições de EFC obtidas pelos dois sistemas, sendo mais forte para os olhos saudáveis. Estas discrepâncias relacionam-se com diferenças nos algoritmos de segmentação usados pelos dois sistemas e devem ser tidas em consideração na prática clínica. Palavras-chave Espessura Central da Retina, Tomografia de Coerência Óptica, Patologia da interface vítreo-retiniana, Correlação, Fórmula Preditiva. Abstract Purpose: To compare central retinal thickness (CRT) values of fast macular thickness map obtained by Time domain (TD, Stratus) and Spectral Domain (SD, Heidelberg) OCT Methods: Prospective study of 74 eyes, 31 healthy and 43 with vitreoretinal (vr) pathology. Vol. 36 - Nº 4 - Outubro-Dezembro 2012 | 425 Maria Picoto, José Galveia, Joana Portelinha, António Rodrigues, Fernanda Vaz A single trained operator using Stratus OCT and Spectralis OCT at the same visit imaged the macula. The CRT measured by TD and SD OCT was compared. The relationship between CRT measurements of both OCTs was evaluated using a Pearson correlation analysis (r) and the coefficient of reproducibility (COR) was determined. A predictive formula to obtain CRT values from SD by TD measurements was estimated. Results: The correlation between CRT measured by both OCT systems was 0,71 (p<0,001) in healthy eyes and 0,53 (p<0,001) in eyes with vr pathology. The average CRT in all the eyes was 261,05 ± 92,12 μm in TD and 319,82 ± 104,12 μm in SD. The difference of CRT between the two systems was 88,67 +/- 16,68 nm in eyes with vr pathology (p<0,001) and 71,7+/-4,23 μm in healthy eyes (p<0,001). The COR was 1,95 x 4,23 in healthy eyes (p< 0,001) and 1,95 x 16,68 in eyes with vr pathology (p<0,001). Conclusions: There is a direct correlation of CRT measurements between the two OCT systems. The correlation is stronger in healthy participants. These discrepancies are probably based on differences in retinal segmentation algorithms used by each OCT systems. Key-words Central Retinal Thickness, Optical Coherence Tomography, Vitreoretinal pathology, Coefficient of correlation, Predictive formula. Introdução O diagnóstico, decisão terapêutica e follow-up de doentes com patologias da retina, assim como o número crescente de ensaios clínicos que avaliam novas terapias farmacológicas para estas doenças, exigem um método reprodutível e fiável de estudo tomográfico da retina, nomeadamente no que se refere à sua EFC1. A angiografia fluoresceínica, apesar de ter um papel muito relevante nesta área, não providencia uma avaliação quantitativa da EFC, ao contrário do OCT. Acresce ainda o facto de ser um método não invasivo, de não contacto e que fornece imagens de alta resolução de cortes transversais da retina2. A determinação da EFC tem valor, na medida em que é amplamente utilizada na prática clínica e em ensaios clínicos, sendo muitas vezes enquadrada como indicador dos objectivos primários do estudo ou no processo de tomada de decisões terapêuticas2,3,4. A Tomografia de Coerência Óptica tem como princípio a interferometria de Michelson. Nesta, a luz passa através do olho, originando diferentes reflexos consoante as estruturas. O padrão de interferência resultante tem como base a combinação do sinal reflectido com o sinal de referencia5. O TD OCT está disponível desde 2002, tendo sido considerado o state of art até 20073. A aquisição de imagens é efectuada de forma sequencial (um pixel por segundo, 512 scans por 1,28 s), com 10-15 μm de resolução7. Em 2005 foi introduzido o SD, com vantagens relativamente aos sistemas anteriores, nomeadamente a velocidade 426 | Revista da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia de aquisição, resolução (5 μm), fiabilidade e reprodutibilidade superiores8. A tecnologia do SD OCT utiliza a interferometria de baixa coerência na detecção de ecos de luz, através de um espectrómetro e de uma câmara de alta velocidade. Tem como base a premissa matemática de transformação de Fourier9,10,11. A aplicação desta fórmula resulta na medição de todos os ecos de luz simultaneamente, em comparação à aquisição sequencial do TD. Esta capacidade permite adquirir um maior número de dados por sessão, resultando numa diminuição dos artefactos de movimento e num aumento da razão sinal/ruído. A menor interpolação entre scans permite uma análise volumétrica e a construção de imagens de forma tridimensional.6,8 Na nossa prática clínica, o TD OCT (Stratus, Carl Zeiss Meditec, Inc) tem sido o aparelho mais utilizado. Recentemente foi introduzido o SD OCT (Spectralis TM HRA+OCT, Heidelberg Engineering, Inc.). Quando se pretende a utilização de ambos ou a substituição de um pelo outro, a concordância entre os dois sistemas deve ser alvo de avaliação. Para tal, a correlação entre os valores obtidos com os 2 aparelhos deve ser analisada. Comprovando-se a existência de uma correlação, os dois métodos podem ser utilizados de forma permutável. Com a premissa de responder às questões mencionadas no parágrafo anterior, executámos o nosso estudo com o objectivo primário de comparar os valores de EFC obtidos pelo TD e SD OCT através do fast macular thickness map no primeiro sistema e com o volume scan pattern HS com Espessura Foveal Central (EFC) da Retina medida por Tomografia de Coerência Óptica (OCT) por Time Domain (Stratus) e Spectral Domain (Heidelberg) 25 linhas nos 20x20º centrais no 2º sistema. Os objectivos secundários foram avaliar a reprodutibilidade e correlação entre as medições obtidas pelos dois aparelhos e, por último, estabelecer uma fórmula preditiva para obtenção de valores de EFC esperadas para o SD OCT determinadas a partir do valor de EFC medido por TD. Métodos Estudo prospectivo de 74 olhos, de 40 doentes seguidos em consulta de oftalmologia no HEM. No estudo foram incluídos dois grupos de doentes. O primeiro grupo sem patologia (O.S.) seguido em consulta geral e outro grupo com patologia vr (O.P.) seguido em consulta de retina. Os critérios de inclusão para o primeiro grupo foram os seguintes: idade ≥ 18 anos, equivalente esférico (EE) ≤ 3D, retina sem alterações patológicas sem história de patologia sistémica ou oftalmológica relevante, e melhor acuidade visual corrigida (MAVC) de 1,0. No segundo grupo foram incluídos doentes que cumprissem os seguintes critérios: idade ≥ 18 anos, EE ≤ 3D, patologia vr (Membranas Epirretinianas, Edema Macular Diabético e Degenerescência Macular Ligada à Idade exsudativa e atrófica), e ausência de doença sistémica relevante. Os participantes no estudo foram submetidos previamente a uma avaliação oftalmológica completa da qual fez parte a recolha detalhada da história oftalmológica, determinação da MAVC, utilizando a escala de Snellen, e Oftalmoscopia Binocular. A EFC (espessura média nos 1000 μm de diâmetro centrais) foi determinada utilizando dois aparelhos TD OCT (Stratus, Carl Zeiss Meditec, Inc) e o SD OCT (SpectralisTM HRA+OCT, Heidelberg Engineering). Cada um dos participantes realizou OCT, sequencialmente em ambos os aparelhos, no mesmo dia e por um único operador experiente. Apenas os scans com qualidade suficiente foram aceites (força de sinal ≥ 8, cortes sem áreas com sinal ausente ou diminuído, cortes centrados na mácula e limites de segmentação correctos). Os protocolos de aquisição utilizados para cada um dos aparelhos foram os seguintes (tabela I): Os participantes encontravam-se em midríase iatrogénica (diâmetro pupilar ≥ 6 mm) utilizando Tropicamida 0,5% e Fenilefrina 2,5%. Os participantes foram instruídos a fixar um alvo de fixação interna. Após efectuado o ajuste de focagem e adquirida uma boa fixação central, o processo foi iniciado. Os mapas de espessura foram calculados a partir do software de análise de cada um dos aparelhos. Tabela 1 | Protocolos de Aquisição utilizados com os dois sistemas de OCT. Instrumento Protocolo de Aquisição Stratus TM OCT Fast macular thickness 6 scans radiais (6 linhas; 128 scans A/linha) Área do scan: 6 mm 2 Tempo/aquisição por scan: 1,5 s Spectralis TM HRA+OCT Fast volume scan - 20x202 - HS Tempo/aquisição por scan: 5,0 s Para a análise de resultados foram determinados 1. Os valores médios e desvio padrão das EFC medidas pelos dois aparelhos; 2. As diferenças dos valores médios e desvios padrão da EFC obtidos pelos dois aparelhos. O teste T Student para amostras emparelhadas foi utilizado para comparação destas diferenças; 3. A correlação entre as EFC medidas pelos dois aparelhos foi determinada pelo Coeficiente de Correlação de Pearson; 4. Determinou-se o COR para cada aparelho; 5. Foi formulada um equação que estima o valor de EFC que seria obtido no TD OCT, a partir de um valor medido no SD OCT. Resultados Amostra de 74 olhos de 40 doentes, 23 do sexo feminino, 31 sem patologia e 43 com patologia vr. A medição da EFC foi possível nos 74 olhos. A EFC média calculada por cada um dos aparelhos, foi para a amostra global (A.G.) e para os dois grupos de participantes (gráfico 1): Gráf. 1 | EFC medida pelos dois sistemas de OCT. Vol. 36 - Nº 4 - Outubro-Dezembro 2012 | 427 Maria Picoto, José Galveia, Joana Portelinha, António Rodrigues, Fernanda Vaz 1. A .G. : 319,8 ± 104,1 nm (SD) e 239 ± 78,1 nm (TD); 2. Grupo O.S. : 275,8 ± 28,3 nm (SD) e 203,7± 31,6 nm (TD); 3. Grupo O.P. : 350,7 ± 125,2 nm (SD) e 261,1 ± 92,1 nm (TD). A diferença média de EFC calculada entre os dois aparelhos, foi para a A.G., O.S e O.P. (gráfico 2): 1. A.G. : 82,4 ± 9,98 μm; 2. Grupo O.S. : 88,7± 16,7 μm; 3. Grupo O.P. : 71,7± 4,2 μm. Gráf. 2 | Diferenças de EFC obtidas para a A.G., O.S., e O.P.. Gráf. 4 | Correlação entre medidas de EFC para A.G. nos 2 aparelhos. Gráf. 5 | Correlação entre medidas de EFC para o grupo O.P. As diferenças acima mencionadas apresentaram significado estatístico (p< 0,0001), determinado pelo teste T pares. As medições dos dois aparelhos foram correlacionadas de acordo com o coeficiente de Correlação de Pearson (ρ). Encontram-se descriminadas nos gráficos 3, 4, 5 e 6. O COR determinado para a amostra global e para os dois grupos foi o seguinte (tabela 2). Gráf. 6 | Correlação entre medidas de EFC para o grupo O.S. Tabela 2 | Coeficiente de Reprodutibilidade para a amostra global, O.P. e O.S.. Gráf. 3 | ρ da A. G, O.S. e O.P.. 428 | Revista da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia Diferença de EFC m P value COR Global 82,39 ± 9,98 <0,001 1,95 x 9,98 O.P. 88,67 ± 16,68 <0,001 1,95 x 16,68 O.S. 71,7 ± 4,23 <0,001 1,95 x 4,23 Espessura Foveal Central (EFC) da Retina medida por Tomografia de Coerência Óptica (OCT) por Time Domain (Stratus) e Spectral Domain (Heidelberg) A fórmula preditiva de cálculo do valor de ECR esperado no SD, a partir do valor determinado no TD, foi obtida por análise de regressão linear, para a A.G., grupo O.S. e O.P. (tabela 3). Tabela 3 | Formula preditiva para cálculo da EFC que seria obtida pelo SD, a partir de um valor medido no TD. Tipos de Olhos ECR no Spectralis P r2 Global 128,37 + 0,76 x ECR Stratus <0,001 0,47 O.P. 163,38 + 0,72 x ECR Sratus <0,001 0,39 O.S. 148.08 + 0,63 x ECR Stratus <0,001 0,73 Discussão de Resultados Neste estudo comparámos os valores de EFC medidas nos aparelhos Stratus e Spectralis e em dois grupos de participantes, grupo O.S. e grupo O.P. Os 4 principais resultados a merecerem discussão são: 1. A EFC calculada foi superior para o SD na amostra global; 2. A EFC foi superior para O.P.; 3. O coeficiente de correlação foi superior para O.S.; 4. O COR foi inferior para O.S. Dos dados obtidos, verifica-se que os valores médios de ECR e da diferença de ECR estão de acordo com a literatura revista (tabela 4). Tabela 4 | EFC obtidas pelos dois sistemas de OCT, para olhos saudáveis, publicados em diferentes estudos. Estudos ECRm G1 (nm) TD ECRm G1 (nm) SD O.S. (H.E.M.) 203,7 ± 31,58 275,77 ± 28,25 Wolf-Schnurrbusch et al 213 ± 19 a 212 ± 20 288 ± 16 a 290 ± 15 Grover et al 2009 - 270,2 ± 22,5 Pierro et al 2010 202,88 273,19 Durbin et al 2007 - 198,10 ± 17,3 O valor de EFC medido apresentou para os dois grupos de olhos e para a A.G. um valor numericamente superior no SD. De acordo com a literatura, as medições de EFC podem ser subdivididas em 3 grupos. O OCT StratusTM produz os valores mais baixos, o Copernicus SOCT, Spectral OCT/ SLO, e RTVue-100 produzem valores medianos, enquanto o SpectralisTM HRA+OCT e o CirrusTM HD-OCT produzem os valores mais altos12. Os dois sistemas de OCT estudados apresentam diferenças de software, nomeadamente, diferentes métodos de aquisição de scans, de segmentação das camadas da retina, e, provavelmente, diferentes estimativas dos índices ópticos da retina, além de importantes diferenças nos algoritmos de alinhamento e registo dos scans. Os protocolos de aquisição diferem substancialmente entre os dois instrumentos. O StratusTM OCT produz um mapa de espessura com 6 mm de diâmetro através da medição de 6 linhas radiais com um total de 768 scans do tipo A. Apenas as medições na área central correspondente aos 1000 μm de diâmetro são utilizadas, por serem apenas estas que apresentam um número suficiente de scans A (128 scans A), visto que a densidade dos pontos medidos depende da distância relativamente ao centro. O SpectralisTM HRA+OCT, tal como outros aparelhos mais actuais, utiliza um padrão de scan rectangular, resultando numa densidade de scans uniforme dentro da área analisada. O número de scans por mm2 obtido com este instrumento é de 524 scansA/mm2. Esta diferença pode influenciar a medição da EFC, assim como o coeficiente de correlação e o COR. Contudo, a influência deste factor nestas 3 variáveis, apenas poderia ser avaliada através de medições repetidas utilizando o mesmo instrumento com diferentes densidades de scans, o que não foi efectuado neste estudo. O tempo de aquisição dos scans de volume é de 1.5 s no TD OCT e 5.0 s no SD OCT. Este último valor deve-se a uma aquisição em tempo real característica do sistema, contudo, ao estar associada ao “real-time tracking system for eye movements”, não tem influência na repetibilidade13,14. O software de segmentação dos dois aparelhos identifica diferentes estruturas hiperreflectivas em cada linha do scan. A segmentação da camada interna da retina não apresenta diferenças entre os dois aparelhos, uma vez que ambos identificam a interface vítreo-retiniana como a camada mais interna da retina. É na segmentação da camada externa da retina que encontramos diferenças significativas entre os dois aparelhos. O sistema StratusTM OCT identifica na camada externa (complexo EPR-fotorreceptores) duas bandas hiperreflectivas, utilizando a banda interna como limite externo. O sistema Spectral OCT detecta na camada externa quatro bandas hiperreflectivas. A mais interna por apresentar menor reflectividade, não é visualizada com o primeiro sistema de OCT. Vol. 36 - Nº 4 - Outubro-Dezembro 2012 | 429 Maria Picoto, José Galveia, Joana Portelinha, António Rodrigues, Fernanda Vaz Fig. 1 | Limites externos do TD OCT, à esquerda e SD OCT, à direita. Esta banda correspondente à Membrana Limitante Externa, resulta da confluência linear dos complexos de junção entre as células de Muller e os Fotorreceptores15. A segunda banda é atribuída à junção dos segmentos internos e externos dos fotorreceptores16. A terceira banda é referida como a extremidade dos segmentos externos dos fotorreceptores17 ou como a membrana Verhoeff18. A quarta banda representa o EPR, a membrana de Bruch, e possivelmente a coriocapilar19. De acordo com Spaide et al 20 as atribuições aplicadas à segunda e terceira banda podem não estar correctas, assim como as elementos que contribuem para a quarta banda além do EPR. Estes autores postulam que a segunda banda esteja alinhada com a porção elipsóide dos segmentos internos dos fotorreceptores e que a terceira banda corresponda a uma estrutura denominada de cilindro de contacto. O SpectralisTM HRA+OCT identifica a banda mais externa (complexo EPR/Bruch) como limite externo (Figura 1). Assim, o StratusTM produz valores de EFC inferiores ao SpectralisTMRA+OCT6,12,21. Neste estudo determinámos também o coeficiente de correlação e de reprodutibilidade para os 2 grupos de olhos. Verificámos que a correlação é mais forte e a reprodutibilidade é inferior em O.S.. Estes resultados podem ser explicados com base na melhor fixação e menores erros na segmentação em olhos saudáveis, comparativamente a olhos com patologia da retina, cujas medições da EFC estão sujeitas a maior variabilidade. Por último, determinámos uma fórmula preditiva para obtenção de valores de EFC no SD, a partir de valores medidos no TD. Verificámos que estas equações apresentaram significado estatístico para a A.G. e para os dois grupos de doentes, contudo, o r2 foi 0,73 em olhos sem patologia, 0,39 em olhos com patologia da retina e 0,43 para a amostra global. Desta forma, apenas para olhos sem patologia poderíamos postular a utilização permutável destes dois sistemas. 430 | Revista da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia Conclusão Com este estudo, concluímos que os dois sistemas de OCT providenciam valores diferentes de EFC e que essas diferenças são superiores em olhos com patologia. As medições mais baixas foram as obtidas no StratusTM OCT. Estas discrepâncias têm como base provável as diferenças nos algoritmos de segmentação usados pelos dois sistemas. Existe, contudo, uma correlação moderada directa entre os valores determinados pelos dois aparelhos, a qual é superior para a população normal. O COR é menor também para este grupo de doentes. Estes resultados implicam a não utilização de forma permutável destes dois sistemas, sobretudo para a população com patologia retiniana. Bibliografia 1. Taban M, Sharma S, Williams DR, Waheed N, Kaiser PK. Comparing Retinal Thickness Measurments using Automated Fast Macular Thickness Map versus Six-Radial Line Scans with Manual Measurments. Ophthalmology. 2009; 116(5): 964-70; 2. Pieramici DJ, Avery RL. Ranibizumab: Treatment in patients with neovascular age-related macular degeneration. Expert Opin Biol Ther 2006, 6(11): 1237-1245; 3. Midena E, Segato T, Bottin G, Piermarocchi S, Fregona I. The effect on the macular function of laser photocoagulation for diabetic macular edema. 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Trabalho apresentado no 54º Congresso da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia. Nenhum dos Autores tem conflito de interesses a declarar CONTACTO [email protected] Vol. 36 - Nº 4 - Outubro-Dezembro 2012 | 431 Oftalmologia - Vol. 36: pp.433-438 Artigo Original Coriorretinopatia Serosa Central Crónica – Uma Doença Idiopática? Marta Guedes1, António Travassos2, Ricardo Oliveira3, Miguel Ribeiro3, Júlia Veríssimo4, Rui Proença5 1 Interna do internato complementar, Serviço Universitário de Oftalmologia, Hospital Egas Moniz, Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental 2 Assistente Hospitalar Graduado, Centro Cirúrgico de Coimbra 3 Interno do internato complementar, Serviço Universitário de Oftalmologia, Hospitais da Universidade de Coimbra 4 Assistente Hospitalar, Serviço Universitário de Oftalmologia, Hospitais da Universidade de Coimbra 5 Professor de Oftalmologia da Faculdade de Medicina de Coimbra, Serviço Universitário de Oftalmologia, Hospitais da Universidade de Coimbra e Centro Cirúrgico de Coimbra Resumo Introdução: A coriorretinopatia serosa central (CRSC) crónica, também conhecida como epiteliopatia pigmentar retiniana difusa, caracteriza-se pela presença de alterações difusas do epitélio pigmentar da retina (EPR) associadas a graus variáveis de descolamento neurossensorial na região macular. Em circunstâncias normais, o EPR tem um papel fundamental na aderência retiniana ao bombear activamente líquido do espaço subretiniano para o espaço coroideu. Será lícito pensar que uma lesão inflamatória primária localizada a este nível possa causar uma perturbação na barreira hemato-retinana externa, com saída de líquido para o espaço subretiniano e descolamento neurossensorial subsequente. A associação de CRSC com epitelite pigmentar retiniana aguda foi já descrita por vários autores. Deste modo, poderá haver casos de CRSC crónica causada por inflamação ao nível do EPR? Estando os corticóides contraindicados no tratamento da CRSC, o tratamento destes casos poderá ser feito com outro tipo de imunossupressores como a azatioprina, o metotrexato, ou a ciclosporina A? Objectivo: Avaliar a eficácia de fármacos imunossupressores por via sistémica no tratamento de doentes com o diagnóstico de CRSC crónica. Material e Métodos: Estudo prospectivo de 27 doentes consecutivos com o diagnóstico prévio de CRSC crónica, com mais de 6 meses de duração de sintomas, sem melhoria, e que não efectuavam nenhum tratamento. Todos os doentes foram submetidos a exame oftalmológico completo, com determinação da melhor acuidade visual corrigida (MAVC), e a exames complementares de diagnóstico - retinografia, angiografia fluoresceínica, angiografia com verde de indocianina e tomografia de coerência óptica. A terapêutica utilizada foi a azatioprina (100mg/ dia), o metotrexato (5 a 10 mg/semana) e a ciclosporina A (<5 mg/Kg/dia). As doses iniciais foram progressivamente reduzidas de acordo com a evolução clínica. Foi avaliada a MAVC final, a duração do tratamento, as recaídas após suspensão e os efeitos secundários da medicação. Resultados: Foram incluídos 39 olhos de 27 doentes com o diagnóstico prévio de CRSC crónica, sendo 19 do género masculino (70,4%) e 8 do feminino (29,6%), com uma média de idades de 52,49±13,56 anos (entre 25 e 76). Em 15 casos a doença era unilateral (55,6%). A terapêutica utilizada foi a azatioprina em 21 casos (77,8%), o metotrexato em 5 (18,5%) e a ciclosporina A em 1 (3,7%). A diminuição progressiva da dose e suspensão variou com o curso clínico individual da doença, sendo a duração média do tratamento de 10,0±6,8 meses. Não foram registados efeitos secundários clinicamente significativos em nenhum doente. A MAVC inicial média foi de 0,47±0,29 e a final foi de 0,83±0,25. Vol. 36 - Nº 4 - Outubro-Dezembro 2012 | 433 Marta Guedes, António Travassos, Ricardo Oliveira, Miguel Ribeiro, Júlia Veríssimo, Rui Proença Conclusão: Os imunossupressores, como a azatioprina, o metotrexato ou a ciclosporina A, podem ser uma arma terapêutica eficaz e bem tolerada em doentes com CRSC crónica por lesão primária inflamatória do EPR. Palavras-chave Coriorretinopatia serosa central crónica, epitilite pigmentar retiniana aguda, imunossupressores. Chronic central serous chorioretinopathy - An idiopathic disease? Abstract Introduction: Chronic central serous chorioretinopathy (CSC), also known as diffuse retinal pigment epitheliopathy, is characterized by diffuse lesions of the retinal pigment epithelium (RPE) associated with variable degrees of macular serous detachment. Under normal circumstances, the RPE has a key role in retinal adhesion since it actively pumps fluid from the subretinal space to the choroid. It is possible then that a RPE inflammatory lesion could cause a disturbance in the blood-retina barrier with fluid leakage to the subretinal space and serous detachment. Moreover, the association between CSC and acute retinal pigment epitheliitis was already described by several authors. Can there be cases of chronic CSC caused by RPE inflammatory lesions? Since corticosteroid treatment is contraindicated in CSC, these cases can be best treated with other immunossupressants like azathioprine, methotrexate or cyclos-porin A. Purpose: To evaluate the efficacy of oral immunossupressants in the treatment of chronic CSC. Methods: Prospective study of 27 consecutive patients with a previous diagnosis of chronic CSC, with over 6 months duration, without any treatment or symptomatic relieve. A complete ophthalmologic assessment was conducted as well as fundus photography, fluorescein and indocyanine green angiography and optical chorence tomography. Patients were treated with azathioprine (100 mg daily), methotrexate (5 to 10 mg weekly) and cyclosporin A (<5 mg/Kg/day). Therapeutic withdrawal variated according to clinical outcome. The final best corrected visual acuity (BCVA) was evaluated as well as treatment duration, relapse after treatment suspension and adverse effects. Results: 39 eyes of 27 patients with the previous diagnosis of chronic CSC were evaluated. 19 patients were male (70,4%) and 8 were female (29,6%) with a mean age of 52,49±13,56 years (between 25 and 76). The disease was unilateral in 15 patients (55,6%). Azathioprine was the treatment of choice in 21 cases (77,8%), methotrexate in 5 (18,5%) and cyclosporin A in 1 (3,7%). Therapeutic withdrawal variated according to clinical outcome and the mean duration of treatment was 10,0±6,8 months. There were no significant adverse effects in any patients. The initial mean BCVA was 0,47±0,29 and the final was 0,83±0,25. Conclusions: Oral immussupressants like azathioprine, methotrexate or cyclosporin A can be a safe and effective treatment in patients with chronic CSC caused by a RPE inflammatory lesion. Key-words chronic central serous chorioretinopathy, acute retinal pigment epitheliitis, imunossupressants. 434 | Revista da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia Coriorretinopatia Serosa Central Crónica – Uma Doença Idiopática? Introdução A coriorretinopatia serosa central (CRSC) denomina-se crónica quando as lesões anatómicas da retina e/ou os sintomas da doença persistem por mais de 6 meses1. É também conhecida como epiteliopatia pigmentar retiniana difusa e caracteriza-se pela presença de alterações difusas do epitélio pigmentar da retina (EPR) associadas a graus variáveis de descolamento neurossensorial frequentemente da região macular2-5. É, na maior parte dos casos, bilateral, com alterações do EPR visíveis na angiografia fluoresceínica (AF) embora a distribuição destas lesões possa ser assimétrica. Relativamente à recuperação da função visual, a CRSC idiopática aguda tem um bom prognóstico a longo prazo6 podendo ocorrer resolução espontânea numa percentagem significativa dos casos. Na CRSC crónica, pode haver perda irreversível da função visual embora esteja também descrita uma recuperação lenta da acuidade visual após reaposição retiniana7. A fisiopatologia da CRSC continua a ser um tema controverso e o mecanismo pelo qual se dá a acumulação de fluido subretiniano é ainda pouco claro. As forças que contribuem para a aderência retiniana são a pressão hidrostática (relacionada com a pressão intraocular), o alto gradiente osmótico da coróide relativamente ao retiniano e o transporte activo de fluido através do EPR do espaço subretiniano para a coróide. Assim, o papel do EPR é fundamental para que seja mantida a normal aderência retiniana sendo que alguns autores propõem que seja este o local de lesão primária na etiopatogenia da CRSC8-10. Uma lesão inflamatória localizada a este nível poderia então levar a uma disrupção na barreira hemato-retiniana externa conduzindo às alterações anatómicas típicas observadas na CRSC. No diagnóstico diferencial da CRSC incluem-se diversas patologias oculares que podem também cursar com descolamento neurossensorial da região macular entre as quais se encontram doenças inflamatórias auto-imunes como é o caso da coroidite multifocal11. O diagnóstico definitivo de CRSC idiopática baseia-se na história clínica, exame objectivo e em exames complementares de diagnóstico como a AF, angiografia com verde indocianina (AVI) e tomografia de coerência óptica (OCT). Se na fase aguda da doença este diagnóstico diferencial pode ser relativamente simples, o mesmo não acontece na fase crónica onde as alterações retinianas encontradas, como as lesões multifocais difusas do EPR acompanhadas de descolamento seroso crónico da região macular, são muito menos específicas, sendo o diagnóstico de CRSC crónica idiopática, na maior parte das vezes, de presunção. Por outro lado, também a epitilite pigmentar retiniana aguda, ou doença de Krill, foi associada ao desenvolvimento de CRSC12-14 sendo que alguns autores sugerem que a perturbação inflamatória do EPR pode resultar num descolamento seroso subsequente, propondo que a epitilite pigmentar retiniana aguda possa ter um papel na fisiopatologia da CRSC. Pode então pensar-se que por um lado existem formas de CRSC idiopáticas para as quais contribuem diversos factores genéticos, ambientais e comportamentais15 e em que a hiperpermeabilidade coroideia conduz a um descolamento seroso do EPR e por outro, podem existir formas de CRSC em que estarão envolvidos essencialmente mecanismos inflamatórios autoimunes. Isto explicaria porque é que alguns doentes com CRSC aguda têm uma recuperação espontânea sem necessidade de qualquer intervenção terapêutica, enquanto outros manifestam a forma crónica da doença. Nestes últimos, a agressão inflamatória continuada do EPR pode ser uma das causas de cronicidade, sendo necessária uma intervenção terapêutica com fármacos imunossupressores. Tal como foi já descrito em publicações anteriores, os corticóides sistémicos podem exacerbar o curso da CRSC16 possivelmente também com um risco aumentado de desenvolvimento de CRSC crónica17. Assim, a corticoterapia sistémica ou local não parece ser uma alternativa viável sendo preferível recorrer a outro tipo de fármacos imunossupressores entre os quais se incluem agentes antimetabolitos como a azatioprina e o metotrexato ou inibidores de calcineurina como a ciclosporina A. O objectivo deste estudo é avaliar a eficácia de fármacos imunossupressores por via sistémica no tratamento de doentes com o diagnóstico de CRSC crónica. Material e Métodos Estudo prospectivo de 27 doentes consecutivos com o diagnóstico prévio de CRSC crónica, com mais de 6 meses de duração da sintomatologia, sem melhoria e que não foram submetidos a qualquer terapêutica prévia. Todos os doentes realizaram exame oftalmológico completo, com determinação da melhor acuidade visual corrigida (MAVC), e a exames complementares de diagnóstico - retinografia, AF, AVI e OCT. Todos os doentes foram submetidos a terapêutica imunossupressora com azatioprina (100mg/dia), metotrexato (5 a 10 mg/semana) ou ciclosporina A (<5 mg/Kg/dia). As doses iniciais foram progressivamente reduzidas de acordo com a evolução clínica. Foi avaliada a MAVC inicial e final bem como a duração do tratamento, as recaídas após suspensão e os efeitos secundários da medicação. Vol. 36 - Nº 4 - Outubro-Dezembro 2012 | 435 Marta Guedes, António Travassos, Ricardo Oliveira, Miguel Ribeiro, Júlia Veríssimo, Rui Proença Resultados Foram incluídos 39 olhos de 27 doentes com o diagnóstico prévio de CRSC crónica, sendo 19 do género masculino (70,4%) e 8 do feminino (29,6%), com uma média de idades de 52,49±13,56 anos (entre 25 e 76). Em 15 casos a doença era unilateral (55,6%). A terapêutica utilizada foi a azatioprina em 21 casos (77,8%), o metotrexato em 5 (18,5%) e a Ciclosporina A em 1 (3,7%). A diminuição progressiva da dose e suspensão variou com o curso clínico individual da doença, sendo a duração média do tratamento de 10,0±6,8 meses. Não foram registados efeitos secundários clinicamente significativos em nenhum doente. A MAVC inicial média foi de 0,47±0,29 e a final foi de 0,83±0,25. Houve melhoria anatómica na maior parte dos doentes tratados traduzida por diminuição marcada ou mesmo resolução completa do descolamento da retina neurossensorial na região macular, avaliado por OCT. São exemplos os seguintes casos clínicos: Caso clínico 1: Doente sexo masculino, 44 anos, com queixas de diminuição da acuidade visual (AV) OD. A MAVC OD antes de iniciar terapêutica era 0,5 e apresentava um descolamento da retina neurossensorial macular do mesmo olho visível no OCT (Figura 1). Cumpriu terapêutica com azatioprina (100 mg/dia) durante 7 meses. Após 5 meses, houve melhoria evidente do descolamento de retina (Figura 1) com uma MAVC OD de 0,8. Caso clínico 2: Doente sexo masculino, 42 anos, com queixas de diminuição AV e metamorfópsias OE. A MAVC OE era 0,3 com um descolamento seroso macular demonstrado pelo OCT (Figura 2). Iniciou terapêutica com azatioprina (100 mg/dia) com melhoria significativa após um mês de tratamento (Figura 2). O doente foi submetido a terapêutica imunossupressora durante 5 meses sendo que ao quarto mês de tratamento o OCT mostrava resolução completa do descolamento de retina neurossensorial, verificando-se apenas um pequeno descolamento do EPR peri-foveolar, sem repercussões funcionais (Figura 2). A MAVC OE final foi de 0,9. Caso clínico 3: Doente sexo feminino, 52 anos, com queixas de metamorfópsias OE. A MAVC OE era 0,5 e apresentava no OCT um descolamento da retina neurossensorial macular (Figura 3). Iniciou terapêutica com azatioprina (100 mg/ dia) com resolução do descolamento seroso após 5 meses (Figura 3). A doente cumpriu terapêutica imunossupressora durante 13 meses com uma MAVC OE de 1,0 após suspensão do tratamento. Houve recaída após suspensão terapêutica em 4 doentes, em 2 casos manteve-se a mesma terapêutica inicial com nova melhoria da AV e em 2 casos, optou-se por outro fármaco imunossupressor também com melhoria funcional. Em ambos os casos em que se alterou a terapêutica, o segundo agente imunossupressor utilizado foi o metotrexato. A AV final destes doentes variou entre 0,7 e 1,0. Fig. 1 | Doente sexo masculino, 44 anos, com um descolamento da retina neurossensorial macular OD (à esquerda). Após 5 meses de terapêutica com azatioprina, houve melhoria evidente do descolamento de retina (à direita). Fig. 2 | Doente sexo masculino, 42 anos, com um descolamento seroso macular OE (à esquerda). Iniciou terapêutica com azatioprina com melhoria significativa após um mês de tratamento (ao centro). Após 4 meses, mostrava resolução completa do descolamento de retina neurossensorial, verificando-se apenas um pequeno descolamento do EPR peri-foveolar, sem repercussões funcionais (à direita). 436 | Revista da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia Coriorretinopatia Serosa Central Crónica – Uma Doença Idiopática? Fig. 3 | Doente sexo feminino, 52 anos, com um descolamento da retina neurossensorial macular OE (à esquerda). Iniciou terapêutica com azatioprina com resolução do descolamento seroso após 5 meses de tratamento (à direita). Discussão Embora tenham havido várias propostas terapêuticas para o tratamento da CRSC, o tratamento da forma crónica da doença merece considerações especiais já que o uso da fotocoagulação laser, por exemplo, parece ser menos eficaz em doentes com alterações anatómicas de longa duração existindo ainda o risco de indução de neovascularização coroideia (NVC)18. Por outro lado, não parece haver lugar para tratamento médico sistémico nesta patologia, nomeadamente com ß-bloqueantes ou acetazolamida, em doentes com CRSC. A utilização de terapêutica fotodinâmica tem sido recentemente descrita como uma alternativa terapêutica em doentes com CRSC idiopática crónica19-22 sendo frequente a sua utilização em doentes com CRSC crónica e evidência de NVC, não se conhecendo no entanto qual o seu mecanismo de acção nesta patologia. Para além disso, nunca foi testada em ensaios clínicos multicêntricos, deixando desta forma em aberto a opção por outras alternativas terapêuticas. Considerando que algumas formas secundárias e crónicas de CRSC possam ser causadas por lesões inflamatórias do EPR, os imunossupressores sistémicos como a azatioprina, o metotrexato ou a ciclosporina A, podem ser uma arma terapêutica eficaz e bem tolerada embora possa ser difícil identificar quais os doentes capazes de beneficiar desta imunossupressão, já que estas formas crónicas podem apresentar aspectos bastante inespecíficos. No entanto, pensamos que os bons resultados obtidos no nosso estudo sugerem o interesse destes fármacos nesta patologia. Um viés importante neste estudo é a ausência de um grupo de controlo sendo no futuro necessários ensaios clínicos controlados e randomizados para identificar os casos em que o uso desta terapêutica sistémica imunossupressora pode ser mais vantajoso. Conclusão Os resultados do presente estudo sugerem que algumas formas secundárias e crónicas da CRSC podem beneficiar de terapêutica imunossupressora com azatiprina, metotrexato ou ciclosporina A. Estudos randomizados com amostras de maior dimensão são necessários para melhor evidenciar o papel destes fármacos nesta patologia e identificar os pacientes que mais possam beneficiar da sua utilização. Bibliografia 1. Eandi CM, Ober M, Iranmanesh R, Peiretti E, Yannuzzi LA. Acute central serous chorioretinopathy and fundus autofluorescence. Retina 2005; 25: 989–993. 2. Cohen D, Gaudric A, Coscas G, Quentel G, Binaghi M. Epitheliopathie retinienne diffuse et chorioretinopathie sereuse centrale. J Fr Ophtalmol 1983; 6: 339–349. 3. Beuchat L, Simona F, Safran AB. Anomalies de la function retinienne (sans lumineux) apres chorioretinopathie sereuse centrale idiopathique et epitheliopathie retinienne. Klin Monatsbl Augenheilkd 1988; 192: 471–474. 4. Yannuzzi LA, Slakter JS, Kaufman SR, Gupta K. 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Br J Ophthalmol 2003; 87: 1453–1458. 22.Yannuzzi LA, Slakter JS, Gross NE, Spaide RF, Costa DL, Huang SJ et al. Indocyanine green angiography-guided photodynamic therapy for treatment of chronic central serous chorioretinopathy: a pilot study. Retina 2003; 23: 288–298. Melhor Apresentação de Inflamação Ocular – Prémio Angelini SPO 2011. Nenhum dos Autores tem conflito de interesses a declarar. Oftalmologia - Vol. 36: pp.439-442 Comunicações Curtas e Casos Clínicos Doença de Best - Casos clínicos Juan E. Cedrún1, Eva Chamorro1, Carlos Orduna2, Mercedes Maza1, Isabel Portero1 2 1 Fundación Retina España, Madrid Clínica Oftalmológica Orduna, Madrid Fundación Retina España RESUMO Caso clínico: Neste artigo apresentam-se as características morfológicas e funcionais de dois pacientes afectados por distintas etapas da doença de Best, assim como os benefícios de um programa de reabillitação visual na melhoria da qualidade de vida. Discussão: Um adequado processo de reabilitação visual requere um programa individualizado desenhado em função das necessidades concretas do paciente, a visão residual e a sua capacidade pessoal. Palavras-chave Doença de Best, baixa visão, reabilitação visual, qualidade de vida. Best’s Disease. Case Reports ABSTRACT Case Report: In this paper, morphologic and functional characteristics of two patients affected by different stages of Best’s disease are presented. As well as benefits of visual rehabilitation in quality of life improvement. Discussion: A suitable visual rehabilitation process demands an individualized program designed according to specific needs of the applicant, residual vision and personal capacity. Key-words Best disease, low vision, visual rehabilitation, quality of life. INTRODUÇÃO A distrofia viteliforme de Best é uma doença bilateral hereditária dominante que se manifesta nas primeiras décadas de vida e que provoca alterações muito características na retina. A mutação do gene VMD2 provoca que o epitélio pigmentar de retina (EPR) seja incapaz de bombear líquido sub-retiniano, o qual ao acumular-se vai separando os fotorreceptores do EPR e provoca que se armazenem substâncias componentes da lipofuscina em quantidades cada vez maiores1. A perda de fotorreceptores na área foveal ocorre por debaixo da lesão2. Nas primeiras etapas observa-se o depósito de um material amarelado na área macular em forma de “gema de ovo”3,4. Neste depósito mistura-se um liquido transparente que parece ir aumentado e com o tempo chega ao mesmo nivel entre ambos os componentes (pseudohipopion). Conforme a evolui a doença este depósito decompõe-se e desenvolve uma fibrose ou atrofia1,5. Vol. 36 - Nº 4 - Outubro-Dezembro 2012 | 439 Juan E. Cedrún, Eva Chamorro, Carlos Orduna, Mercedes Maza, Isabel Portero Este trabalho decreve a morfología e função visual de dois pacientes afectados por esta patología, assim como os beneficios da reabilitação visual na sua qualidade de vida. CASOS CLÍNICOS Caso 1: Rapaz de 16 anos com diminuição da acuidade visual (AV) e brilho incapacitante desde há 3 anos. A história clínica familiar revela hipercolesterolemia e tratamento com pravastatina. Na exploração do fundo do olho e na tomografía de coerência óptica (OCT) observa-se o olho esquerdo (OE) sem alterações na retina e o seu olho direito (OD) com “pseudohipopion”, com acumulação de material líquido na metade superior e lipofuscina em fase de reabsorção na metade inferior. (Figura 1) A melhor acuidade visual corrigida (MAVC) para longe é OD=0.9 y OE=1.2 em escala decimal e em visão ao perto é OD=0.5 e OE=1.0 (Radner Reading test). O limiar de sensiblidade ao contraste (SC) está dentro dos limites normais (OD=1.62%, OI=1.07%). A grelha de Amsler e o campo visual não mostram alterações. Na consulta de baixa visão consegue-se melhorar a AV próxima e aumentar o rendimento em leitura (palavras por minuto) com uma adição de +1.00 y +0.50 no OD e OE, respectivamente. Consegue-se melhorar consideravelmente o limiar de contraste com filtros de corte selectivo de 450nm (OD=1.23%, OE=0.605) e diminuir o brilho incapacitante em ambientes exteriores com filtros de corte 511 polarizado 60%. Caso 2: Mulher de 41 anos com diminuição de AV e metamorfopsia desde os 20 anos, fotofobia e brilho incapacitante desde os 26 e alteração de cores e cegueira nocturna desde os 31. Na história sistémica destaca-se hipercolesterolemia, depressão, bocio e hipotiroidismo. A medicação actual é simvastatina, velanfaxina, lamotrigina e alprazolam. Na exploração do fundo do olho OCT observam-se fibrose com conservação de fotorreceptores centrais no OD, e atrofia com múltiplos quistos retinianos na camada plexiforme externa, com perda de fotorreceptores no OE. (Figura 2) A MAVC para longe é OD=0.125 e OE=1.0 em escala decimal e em visão ao perto é OD=0.13 e OE=0.5 (Radner Reading test). O limite de SC estava reduzido no OD (OD=5.94%, OE=0.89%). A grelha de Amsler e a Fig. 1 | Fundo do olho, tomografía de coerência óptica e campimetría de um rapaz de 16 anos afectado pela doença de Best. 440 | Revista da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia Doença de Best. Casos clínicos Fig. 2 | Fundo do olho, tomografía de coerência óptica e campimetría de uma mulher de 41 anos afectada pela doença de Best. campimetria mostram um escotoma absoluto de 10º centrais no OD e ligeira redução na sensibilidade central no OE. Na consulta de baixa visão conseguiu-se diminuir a fotofobia e o brilho incapacitante com um filtro de absorção selectiva de 511nm polarizado 60% possibilitando as tarefas de visão próxima a uma distância de 25 cm, com uma adição de + 4.00, filtro de 450 nm e um sistema de iluminação adequado. DISCUSSÃO Na sociedade actual, as tarefas de escrita-leitura têm muita importância na qualidade de vida. A enorme quantidade de informação diária e o pouco tempo que dispomos, muitas vezes obriga-nos a fazer leituras superficiais que requerem elevada fluidez. Por isso, o objectivo a perseguir em pacientes com funções visuais reduzidas é melhorar a sua visão próxima, para conseguir um melhor rendimento na leitura. Nos casos propostos, embora se conserve a função visual de um olho, após a reabilitação visual, consegue-se aumentar o rendimento nas tarefas de leitura através de sistemas ópticos baseados em acréscimos positivos e melhorias na iluminação, mediante o uso de filtros de absorção selectiva e focos de luz fria. Tudo isso se traduz numa melhor qualidade de vida do paciente. Em ambos os sujeitos, a diferença entre os óculos de sol convencionais e o uso de óculos com filtros de absorção selectiva reduz o brilho e aumenta o conforto subjectivo. A selecção do filtro adequado é determinada por uma avaliação dos parametros objectivos e subjectivos em diferentes ambientes de trabalho. O processo de reabilitação visual requer um programa individualizado, desenhado em função das necessidades concretas do requerente, a visão residual que possui e as suas capacidades pessoais. O especialista em Baixa Visão por sua vez, incorpora os auxíliares ópticos e não ópticos prescritos e treina o paciente sobre a sua utilização, para estabelecer um melhor aproveitamento da visão residual. BIBLIOGRAFIA 1. Orozco-Gómez LP, Castellanos-Pérez Bolde CGl, Hernández-Salazar L. Distrofias del epitelio pigmentario de Vol. 36 - Nº 4 - Outubro-Dezembro 2012 | 441 Juan E. Cedrún, Eva Chamorro, Carlos Orduna, Mercedes Maza, Isabel Portero 2. 3. 4. 5. la retina en patrón. Cirugía y Cirujanos 2009; 7773-83. Besch D and Zrenner E. . Best disease; Orphanet Encyclopedia. January 2005. Best F. Über eine hereditare maculaaffektion: Bietrage zur vererbungslehre. Z Augenheilkd 1905;13:199-212. Blodi C, Stone E. Best’s vitelliform dystrophy. Ophthalmic Paediatr Genet 1990;11:49-59. Coco R, Navarro R. Guía clínica para el diagnóstico diferencial y el manejo de las enfermedades hereditarias de la retina y la coroides. Sociedad Española de Retina y Vítreo; 2009. 442 | Revista da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia Apresentado parcialmente como comunicação no “XV Congreso de la Sociedad Española de Retina y Vítreo”, Madrid, España. CONTACTO [email protected] Oftalmologia - Vol. 36: pp.443-446 Comunicações Curtas e Casos Clínicos Membrana Neovascular Bilateral Secundária a Estrias Angióides com Pseudoxantoma Elasticum – Caso Clínico Cláudia Bacalhau1, Gonçalo Almeida2, Margarida Santos3, David Martins4 Internato Complementar de Oftalmologia 2 Assistente Hospitalar de Oftalmologia 3 Assistente Hospitalar Graduada de Oftalmologia 4 Director do Serviço de Oftalmologia Centro Hospitalar de Setúbal – Hospital de S.Bernardo 1 RESUMO Introdução: O Pseudoxantomaelasticum (PXE) é uma condição rara caracterizada por calcificação progressiva e fragmentação de fibras elásticas. Na retina está associada a estrias angióides, havendo ocasionalmente surgimento de neovascularização coroideia. Material e Métodos: os autores descrevem caso clínico de doente do sexo feminino de 48 anos com diagnóstico de Pseudoxantoma elasticum e na qual foram diagnosticadas estrias angióides, tendo desenvolvido neovascularização coroideia bilateral. Foi decidido tratamento intra-vítreo mensal (6 meses) com ranibizumab para a membrana neovascular com actividade. Com o tratamento realizado registou-se melhoria morfológica mas sem recuperação da acuidade visual. Conclusão: Apesar de algumas publicações recentes da literatura mostrarem benefício das injecções de ranibizumab na acuidade visual em doentes com neovascularização coroideia associada a estrias angióides, isso não se verificou com o nosso caso clínico. Palavras-chave Estrias angióides, neovascularização coroideia, ranibizumab. ABSTRACT Introduction:PseudoxanthomaElasticum (PXE) is a rare condition characterized by progressive calcification and fragmentation of elastic fibers. In the retina it is associated with angioid streaks and choroidal neovascularization may occasionally be found. Material and Methods: the authors describe a case of a 48-year-old female patient, with previous diagnostic of PXE, who was diagnosed with angioid streaks and bilateral choroidal neovascularization. It was decided to perform intra-vitreal mensal treatment (6 months) with ranibizumab for the neovascular membrane with activity signs. We observed morphologic improvement but no recovery of visual acuity. Conclusion: Although some recent literature publications showed benefit with ranibizumab intra-vitreal injections in visual acuity of choroidal neovascularization associated with angioid streaks , that was not verified with our patient. Key-words Angioid streaks, choroidal neovascularization, ranibizumab. Vol. 36 - Nº 4 - Outubro-Dezembro 2012 | 443 Cláudia Bacalhau, Gonçalo Almeida, Margarida Santos, David Martins INTRODUÇAO O Pseudoxantoma elasticum (PXE) é uma condição rara caracterizada por calcificação progressiva e fragmentação de fibras elásticas. Na retina está associada a estrias angióides, que são disrupçoes da membrana de Bruch, que se torna calcificada e frágil. As estrias angióides podem associar-se a várias doenças sistémicas além do PXE, bem como aparecerem enquanto manifestação isolada. A acuidade visual é afectada se as estrias acometerem a mácula ou se surgiram complicaçoes associadas, das quais se destacam a neovascularização coroideia e a ruptura traumática da membrana de Bruch. O nosso caso refere-se a uma doente com PXE associado a estrias angióides e neovascularização coroideia bilateral. CASO CLÍNICO Doente de 48 anos de idade veio referenciada à Secção de Retina do Hospital por diminuição recente da acuidade visual do olho direito. Tinha diagnóstico anterior de Pseudoxantoma elasticum, com envolvimento craniofacial, destacando-se laxidez cutânea e pregas redundantes no pescoço. A melhor acuidade visual corrigida (MAVC) era no OD= 20/25 e no OE=20/400. A observação do fundo ocular mostrou estrias angióides bilaterais e alteraçoes maculares fibróticas do olho esquerdo (Fig.1 e 2). Foi realizada angiografia que confirmou as estrias angióides bilaterais e revelou a presença de membrana neovascular com fibrose sub-retiniana e baixa actividade no olho esquerdo (Fig. 3 e 4). A tomografia de coerência óptica (OCT) do OE também documentou a membrana neovascular e a fibrose sub-retiniana (Fig. 5). O OCT do OD era normal (Fig. 5). Fig. 1 | Retinografia OD. 444 | Revista da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia Três meses depois a doente referiu uma profunda diminuição da acuidade visual do olho direito, sendo reobservada pelo nosso departamento. Tinha MAVC OD=20/400. O OCT do olho direito mostrava então uma membrana neovascular com edema macular quístico de espessura foveal média de 867μm (Fig. 6). Devido ao grave compromisso visual e ao surgimento no OD de neovascularização coroideia, foi decidido realizar ciclo terapêutico com injecções intra-vítreas mensais de agente anti-VEGF. A doente foi submetida a 6 injecções intra-vítreas de ranibizumab com intervalo mensal e a 1 injecção sub-tenoniana de triancinolona. Com o tratamento houve melhoria anatómica demonstrada pelo OCT, com espessura foveal final de 285 μm (Fig.7). Não se registou melhoria funcional da acuidade visual (MAVC OD=20/400). CONCLUSÃO Os agentes anti-VEGF têm-se revelado eficazes no tratamento de complicaçoes neovasculares associdadas a diferentes patologias, nomeadamente com relação à degenerescência macular relacionada com a idade. Algumas publicações recentes da literatura com séries de casos mostraram benefício das injecções intra-vítreas com anti-VEGF na acuidade visual em doentes com neovascularização coroideia associada a estrias angióides com pseudoxantoma elasticum. Além da melhoria da acuidade visual registou-se Fig. 2 | Retinografia OE. Membrana Neovascular Bilateral Secundária a Estrias Angióides com Pseudoxantoma Elasticum – Caso Clínico Fig. 3 | Angiografia OD. Fig. 4 | Angiografia OE. Fig. 5 | OCT do OE e OD. Vol. 36 - Nº 4 - Outubro-Dezembro 2012 | 445 Cláudia Bacalhau, Gonçalo Almeida, Margarida Santos, David Martins Fig. 6 | OCT do OD. Fig. 7 | OCT do OD, após os vários tratamentos intra-vítreos com ranibizumab. ainda estabilização retiniana documentada nos meios de imagem. Apesar destes resultados, os estudos referem que as suas casuísticas são ainda pequenas e que estudos futuros e complementares são necessários. No nosso caso, apesar da melhoria morfológica obtida como tratamento preconizado, não se registou melhoria da acuidade visual, devido ao acometimento das camadas profundas da retina. BIBLIOGRAFIA 1. Myron Yanoff , Jay S. Duker , James J. Augsburger. Ophthalmology 3nd edition, Mosby, 2009. 2. Georgalas I, et al: Angioid streaks, clinical course, complications and current therapeutic management. Therapeutics and Clinical Risk Management 2009:5 81–89. 3. Mimoung G, et al: Intravitreal Ranibizumab for Choroidal Neovascularization in Angioid Streaks. American Journal of Ophthalmology Vol. 150, No. 5 (2010) 692-700. 4.Sawa M, et al: Long-term Results of Intravitreal 446 | Revista da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia Bevacizumab Injection for Choroidal Neovascularization Secondary to Angioid Streaks. American Journal of Ophthalmology Vol. 148, No. 4 (2009) 584-590. 5. Trélohan A, et al: Lésions rétiniennes dans le pseudoxanthome élastique : 51 cas. J Fr Ophtalmol (2011), doi:10.1016/j.jfo.2011.02.005. 6. Finger R, et al: Monthly Ranibizumab for Choroidal Neovascularizations Secondary to Angioid Streaks in Pseudoxanthoma Elasticum: A One-Year Prospective Study. Am J Ophthalmol 2011; Article in Press. 7.Japiassú R, et al: Intravitreal bevacizumab in choroidal neovascularization secondary to Grönblad-Strandberg syndrome: case report. Arq Bras Oftalmol. 2008;71(3):427-9. 8. Kang S and Roh YJ: Intravitreal ranibizumab for choroidal neovascularisation secondary to angioid streaks. Eye (2009) 23, 1750–1751; doi:10.1038/ eye.2009.158;published online 10 July 2009. Prémio THEA melhor poster SPO 2011 Oftalmologia - Vol. 36: pp.447-453 Comunicações Curtas e Casos Clínicos Segurança e Estabilidade da Lente Fáquica de Suporte Angular Acrysof Cachet® – 2 Anos de Follow-Up Pedro Reimão1, Pedro Borges1, Ricardo Parreira1, Fernando Vaz1,2, Ramiro Salgado1, Maria Céu Pinto1 1 Serviço de Oftalmologia do Centro Hospitalar do Porto – Hospital de Santo António 2 Actual Director do Serviço de Oftalmologia do Hospital de Braga RESUMO Objectivo: Avaliação de parâmetros anatómicos de segurança e estabilidade da lente AcrySof Cachet® na câmara anterior (CA), após 2 anos de follow-up. Material e Métodos: Estudo retrospectivo de 90 olhos de doentes com idades compreendidas entre os 20 e os 49 anos (Média±DP: 33.0±7.7), com miopia entre -5.50 e -17.00 D (-9.66±2.96), submetidos a implante de lente intraocular (LIO) de CA de suporte angular (AcrySof Cachet, Alcon Inc.®). Os doentes foram sujeitos a avaliação morfométrica da CA através da realização de Orbscan® e Pentacam®. Todos os doentes implantados tinham CA>2.8 mm e contagens endoteliais superiores a 2200 células/mm2. O follow-up foi de 24 meses. Os parâmetros avaliados foram a profundidade da CA, a distância central da LIO ao endotélio e cristalino e a distância do bordo da LIO ao endotélio, as perdas endoteliais centrais e periféricas, o white-to-white (W-W) e o grau de rotação da lente. Resultados: As perdas endoteliais centrais foram de 4.27±0.73% e as periféricas de 3.86±0.82%. As distâncias entre a LIO e o endotélio central e entre o bordo da LIO e o endotélio periférico foram respectivamente de 2092±189 µm e de 1524±176 µm. A distância da LIO ao cristalino foi de 894±160 µm. A rotação da lente na CA foi de 28.5±16.0º para um W-W de 11.7±0.4mm. Conclusões: No nosso follow-up a lente fáquica de suporte angular AcrySof Cachet® manteve uma boa estabilidade e clearance entre endotélio corneano e cristalino, mostrando-se segura no tratamento de miopias moderadas a altas. Palavras-chave Miopia elevada, lente intra-ocular de suporte angular, endotélio, rotação, câmara de Scheimpflug. Safety and stability of phakic angle-supported lens Acrysof Cachet® – Two years of follow-up Abstract Purpose: To evaluate anatomical parameters of safety and stability of AcrySof Cachet® lens in the anterior chamber (AC), after 2 years of follow-up. Methods: Retrospective study of 90 eyes from patients aged from 20 to 49 years old (Average±PD: Vol. 36 - Nº 4 - Outubro-Dezembro 2012 | 447 Pedro Reimão, Pedro Borges, Ricardo Parreira, Fernando Vaz, Ramiro Salgado, Maria Céu Pinto 33.0±7.7), with myopia range from -5.50 to – 17.00 D (-9.66±2.96), that underwent implantation of an angle-supported AC intraocular lens (IOL) (AcrySof Cachet, Alcon Inc.®). The patients had a morphometric evaluation of the AC by performing Orbscan® and Pentacam®. All the patients implanted had AC >2.8mm and endothelial cell density above 2200 cells/mm2. The follow-up was 24 months. The evaluated parameters were AC depth, central distance of the IOL to the endothelium and crystalline lens, the distance from the edge of the IOL to the endothelium, central and peripheral endothelial losses, white-to-white (W-W) and the IOL´s rotation degree. Results: The central endothelial losses were 4.27±0.73% and the peripheral endothelial losses were 3.86±0.82%. The distances between the IOL and the central endothelium and the edge of the IOL and the peripheral endothelium were 2092 ± 189 µm for the first and 1524 ± 176 µm for the latter. The distance of the IOL to the crystalline lens was 894 ± 160 µm. IOL rotation in the AC was 28.5 ± 16.0° for a W-W of 11.7 ± 0.4 mm. Conclusion: In our follow-up the AcrySof Cachet® angle-supported phakic lens maintained good stability and clearance between the corneal endothelium and the crystalline lens, showing safety in the treatment of moderate to high myopia. Key-words High myopia, angle-supported intraocular lens, endothelium, rotation, Sheimpflug camera. Introdução A cirurgia refractiva é uma área da oftalmologia em constante evolução e com o objectivo primordial de corrigir a miopia, hipermetropia, astigmatismo e presbiopia dos doentes. As opções de tratamento cirúrgico para miopias ou astigmatismos baixos a moderados recaem maioritariamente na cirurgia por Fotoqueratectomia Refractiva (PRK) ou Queratomileusis assistida por Laser Excimer (LASIK). Actualmente, este é o procedimento cirúrgico mais comum para correcção de ametropias1. Em casos de moderada a elevada miopia, a necessidade de ablação de grandes quantidades de estroma conduz a um risco aumentado de ectasia corneana devido à instabilidade da biomecânica corneana ou perda de qualidade de visão. Nestes doentes, estas opções cirúrgicas tornam-se limitadas pelo decréscimo da previsibilidade e segurança dos resultados pós-operatórios. Por esta razão, as lentes intraoculares (LIO´s) fáquicas assumem-se como uma alternativa de elevada importância2-4. Estas lentes têm a vantagem de preservar a citoarquitectura corneana e a acomodação. As LIO´s fáquicas podem ser de CA (implante por fixação à íris ou de suporte angular) ou de câmara posterior. Os resultados ópticos das LIO´s fáquicas de suporte angular em miopias moderadas a elevadas têm gerado um interesse renovado no seu implante. A estabilidade posicional 448 | Revista da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia e segurança destas LIO´s são de enorme importância porque se pretende um implante permanente em grande proximidade com estruturas intra-oculares delicadas. Contudo, este procedimento levanta ainda algumas questões relativamente aos potenciais riscos a longo prazo, estando descritas complicações6. Entre elas, destacam-se as que se relacionam com a instabilidade posicional da LIO ou de uma clearance insuficiente entre a lente intraocular (LIO) e o cristalino ou o endotélio cornenano. São exemplos a diminuição da contagem das células endoteliais (CCE), formação de catarata e glaucoma secundário5,8,9. Por isso, a prevenção de complicações através de uma exaustiva avaliação morfométrica e de todos os parâmetros anatómicos de segurança da CA é fundamental. Instrumentos auxiliares de diagnóstico como Orbscan II® (Bausch&Lomb), câmara de Scheimpflug do Pentacam® (Oculus) ou Biomicroscopia por ultrassom (UBM) são importantes para mapeamento completo do segmento anterior do olho10,11,13. As LIO fáquicas de suporte angular são uma opção válida para o cirurgião porque a câmara anterior, especialmente em olhos míopes, é o espaço mais largo de todo o segmento anterior do olho e a sua anatomia pode ser facilmente avaliada no pré e pós-operatório. O objectivo principal do estudo é a avaliação de parâmetros anatómicos de segurança e estabilidade a longo prazo da lente fáquica de suporte angular AcrySof Cachet®, nos doentes com follow-up de 2 anos. Segurança e Estabilidade da Lente Fáquica de Suporte Angular Acrysof Cachet® – 2 Anos de Follow-Up Material e Métodos Foi efectuado um estudo retrospectivo de 90 olhos de 55 doentes com idade compreendida entre os 20 e os 49 anos (Média±DP: 33.0±7.7 anos), com miopia entre -5.50D e -17.00 D (-9.66±2.96 D), submetidos a implante de lente intraocular (LIO) de CA de suporte angular (AcrySof Cachet, Alcon Inc.®) após Fevereiro de 2009. A amostra apresentava 52 olhos direitos (57.8%) e 38 olhos esquerdos (42.2%), sendo que 72.2% eram doentes do sexo feminino e 27.8% do sexo masculino. Foi efectuada uma selecção de doentes baseada numa história clínica detalhada. A melhor acuidade visual corrigida (MAVC) foi medida segundo a tabela do Early Treatment of Diabetic Retinopathy Study (ETDRS). O exame pré-operatório também incluiu a avaliação da visão para perto, refracção, diâmetro pupilar em condições mesópicas, tonometria, gonioscopia e fundoscopia com lente de Goldmann. Foi ainda avaliada a paquimetria e topografia corneanas através de Orbscan® e a contagem e análise da morfologia das células endoteliais centrais e periféricas através de microscopia especular. A distância entre o limbo corneano nasal e temporal (white to white, W-W), e a profundidade da CA, foram avaliadas por câmara de Scheimpflug recorrendo ao Pentacam®. O protocolo de observação foi repetido nas consultas do pós-operatório, realizadas ao 1º dia/semana, 1º, 3º e 6º mês após cirurgia e tendo a partir dessa data uma periodicidade semestral. No pós-operatório, foi realizada fundoscopia sob dilatação pupilar com tropicamida a 1% apenas quando o clínico achou necessário. Dois técnicos de ortóptica foram responsáveis pela realização dos exames auxiliares. Os critérios de inclusão foram: idade mínima de 20 anos; estabilidade refractiva superior a 12 meses; profundidade de CA > 2.8 mm, sendo esta, a distância entre o endotélio corneano central e a superfície anterior do cristalino; pupila < 6.0mm em condições mesópicas; CCE > 2200 células/ mm2; astigmatismo < 2.00 D; ausência de cirurgia ocular prévia ou patologias associadas como glaucoma, catarata, ou patologia degenerativa da retina, bem como diabetes ou doenças inflamatórias sistémicas. A lente fáquica de CA Acrysof Cachet® é uma lente monobloco, dobrável, composta de acrílico hidrofóbico. O seu design torna-a numa lente de suporte angular. Foram utilizados três modelos da lente (L12500, L13000, L13500), cada um com diâmetro de 12.5 mm, 13.0 mm e 13.5 mm, respectivamente. Todas as lentes apresentam uma zona óptica de 6.0 mm. A lente foi calculada de acordo com a refracção, queratometria, profundidade da CA e o seu tamanho de acordo com valor do W-W. Utilizou-se, como referência, a tabela fornecida pelo fabricante que aconselha uma lente de tamanho 0.75 a 1.25 mm superior ao valor de W-W. As cirurgias foram realizadas pelo mesmo cirurgião. O procedimento foi efectuado sob anestesia tópica (oxibuprocaína) e com a pupila em miose, após aplicação de pilocarpina a 2% no pré-operatório. A abertura da CA foi efectuada com uma incisão límbica clear cornea de 3.2 mm (ou 2.8 mm quando utilizado o cartridge P) às 12h. Utilizou-se solução viscoelástica oftálmica coesiva para distender e manter a CA formada, protegendo o endotélio e de fácil remoção após implante da lente. A lente foi carregada no injector Monarch II e injectada na CA no plano pupilar. Nos doentes operados após Novembro de 2009 foi utilizado um injector compatível com cartridge P. Os hápticos da lente foram orientados na direcção do ângulo iridocorneano de modo a coincidirem com o meridiano de 90º. Procedeu-se em seguida à lavagem da CA para remoção total da solução oftálmica viscocirurgica. Não foi efectuada iridectomia. O follow-up foi de 24 meses (25.7±2.5 meses). Para uma adequada avaliação morfométrica da CA, foi realizada a avaliação por câmara de Scheimpflug recorrendo ao Pentacam®. Este exame foi repetido em todas as visitas do pós-operatório. Os parâmetros avaliados foram a profundidade de CA e os valores de clearance da LIO no meridiano de 180º: a distância da LIO ao endotélio central (LIO-End C); a distância da LIO ao cristalino (LIO-Cris); a distância dos bordos nasal e temporal da LIO ao endotélio periférico (LIO-End P1 e LIO-End P2, respectivamente). Durante o follow-up, mediu-se ainda o W-W e o grau de rotação da lente. A posição da LIO foi calculada através da medição no Pentacam® da rotação média em graus relativamente à posição original dos hápticos, no meridiano de 90º. Avaliou-se ainda, o grau de rotação da lente em função da diferença entre o W-W e tamanho da lente (mm). Todos os dados colhidos foram transferidos para SPSS para Windows (versão 19.0, SPSS Inc.). Os procedimentos estatísticos utilizados foram o coeficiente de correlação de Pearson e modelos de regressão linear para verificar a associação entre as variáveis em estudo. O valor de prova foi estabelecido em p<0.05. Resultados Durante o follow-up as perdas endoteliais centrais foram de 4.27±0.73% e as perdas periféricas de 3.86±0.82% (n=90). Os resultados podem ser verificados no quadro 1. Em relação à avaliação dos parâmetros da CA, verificou-se uma profundidade de CA de 3.14±0.21 mm com valor mínimo de 2.83 mm e máximo de 3.63 mm. Vol. 36 - Nº 4 - Outubro-Dezembro 2012 | 449 Pedro Reimão, Pedro Borges, Ricardo Parreira, Fernando Vaz, Ramiro Salgado, Maria Céu Pinto Quadro 1 | Variação da contagem endotelial. Alteração média na contagem de células endoteliais no final do follow-up, % Olhos (%) Perda ≥ 20 1 (1.1) Perda < 20 a ≥ 5 8 (8.9) Perda < 5 a 0 79 (87.8) Aumento 2 (2.2) Fig. 2 | Correlação entre clearance LIO-End C e clearance LIO-End P1. Fig. 1 | Perdas endoteliais médias. Os resultados de clearance são apresentados no quadro 2. A clearance média LIO-End C e LIO-Cris foi respectivamente de 2092±189 µm e de 894±160 µm. A razão entre clearance média LIO-End C e profundidade média de CA foi de 62.7±16.7%. Verificou-se que 91,1% dos olhos apresentavam uma clearance LIO-Cris superior a 700 μm. clearance foi sempre inferior a 200 μm, registando-se uma diferença média de 92.89 μm. A profundidade da CA correlacionou-se de forma significativa com as distâncias entre a LIO e o cristalino [ r=0.437; p=0.003 (Figura 3)] e entre a LIO e o endotélio central [ r=0.512; p<0.001 (Figura 4) ] e periférico [ r=0.646; p<0.001 (Figura 5) ]. Se a variável independente passar a ser o valor de W-W e não o de CA, os resultados são diferentes pois apenas encontramos correlação e com menor significado estatístico entre W-W e clearance LIO-End C ( r=0.352; p=0.018 ) Quadro 2 | Valores médios de clearance na câmara anterior. Clearance, μm Mínimo Máximo Média DP LIO-End P1 1240 1840 1530 167 LIO-End P2 930 1850 1518 187 LIO-End C 1810 2540 2092 189 LIO-Cris 500 1250 894 160 LIO-Cris * 525 1220 903 143 *-Após dilatação pupilar A clearance entre a LIO e o endotélio central correlacionou-se de forma significativa com a clearance entre a LIO e o endotélio periférico [ r=0.454; p<0.001 (Figura 2)]. A clearance LIO-end P1 e LIO-End P2 foi respectivamente de 1530±167 µm e de 1518±187 μm. À excepção de um doente, a diferença entre estas duas variáveis de 450 | Revista da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia Fig. 3 | Relação entre a profundidade da CA e clearance LIO-Cris. Segurança e Estabilidade da Lente Fáquica de Suporte Angular Acrysof Cachet® – 2 Anos de Follow-Up Fig. 4 | Relação entre a profundidade da CA e clearance LIO-End C. Fig. 6 | Relação entre o grau de rotação da lente e a diferença entre o tamanho da lente e o W-W. Relativamente às complicações, apenas 2 olhos apresentaram aumento da pressão intra-ocular (PIO) durante os primeiros dias do pós-operatório. Até ao momento, não houve registos de formação de cataratas, bloqueio ou ovalização pupilar, sinéquias ou reacções inflamatórias exacerbadas de CA, descolamentos de retina. Discussão Fig. 5 | Relação entre a profundidade da CA e clearance LIO-End P1. A rotação da lente na CA na 1ª semana de follow-up foi de 27.2±24.2º. No final do 1º ano de follow-up, a rotação da lente na CA foi de 28.4±26.0º e no final do 2º ano, foi de 28.5±26.0º para um W-W de 11.7±0.4 mm. Na maioria dos olhos (61%), a lente teve uma rotação inferior a 30º. O coeficiente de correlação entre o grau de rotação da lente e a diferença entre o W-W e tamanho da lente (diferença designada na figura 6 por WW.LIO) foi 0.71, para p<0.001. O gráfico de regressão linear (Figura 6) ilustra a relação entre as duas variáveis. Os doentes implantados com Acrysof Cachet® no serviço de Oftalmologia do Hospital de Santo António com follow-up de 24 meses apresentaram resultados favoráveis no que diz respeito à previsibilidade e estabilidade da lente, efeitos laterais e densidade das células endoteliais. Como já relatado noutros estudos, a lente deve estar bem posicionada, com a estabilidade adequada de modo a não danificar o endotélio corneano e o cristalino7,11,12. O Pentacam® é utilizado para caracterizar o segmento anterior e a posição da lente fáquica no olho. A câmara de Scheimpflug permite a visualização e avaliação de todas as estruturas do segmento anterior com uma boa resolução11,13. Uma vantagem desta técnica é uma aquisição sem contacto e rápida de dados relativos à CA. Não se observaram efeitos laterais significativos. Como já referido nos resultados, um aumento da PIO (n=2) foi o único efeito lateral registado. Esteve associado a uma limpeza menos eficaz da solução viscoelástica durante a cirurgia. Os doentes necessitaram de tratamento anti-hipertensor durante 10 dias. A perda de células endoteliais deve ser sempre interpretada no contexto de uma perda fisiológica anual estimada Vol. 36 - Nº 4 - Outubro-Dezembro 2012 | 451 Pedro Reimão, Pedro Borges, Ricardo Parreira, Fernando Vaz, Ramiro Salgado, Maria Céu Pinto em 0.6%14. De um modo geral, não houve perda de células endoteliais significativa. O respeito pelos critérios de selecção de doentes, nomeadamente no que concerne à sua CCE pré-operatória terá sido uma das causas do sucesso. O olho que experimentou maior taxa de perdas endoteliais (22%) esteve associado a maior trauma cirúrgico, pois essa diminuição de CCE verificou-se logo na consulta do 1º mês pós-operatório. Devido à estabilização posterior da CCE, optou-se por não realizar o explante da LIO. Analisando a figura 1, verifica-se que é no pós-operatório imediato que se dão as maiores taxas de perdas endoteliais, estando estas maioritariamente relacionadas com o trauma cirúrgico. Os aumentos na CCE que o gráfico revela estarão relacionados com processos individuais de remodelação celular ou com a variabilidade das medições (efectuadas por 2 técnicos de ortóptica). Este artefacto pode ser encontrado quando os técnicos avaliam áreas diferentes do mesmo endotélio em visitas sucessivas. A perda média de células endoteliais centrais (4.27±0.73%) e periféricas (3.86±0.82%) parece-nos bastante aceitável, comparativamente com outras lentes fáquicas de CA (de suporte angular ou fixação à íris) já implantadas no nosso serviço. Contudo, ainda não existem mais do que 2 anos de seguimento para atestar a sua segurança, sendo necessário que todos os doentes mantenham uma vigilância em consultas semestrais. Relativamente à posição da lente fáquica e atendendo a que esta lente, utilizada para correcção de miopias moderadas a elevadas, é mais espessa na periferia do que no centro da zona óptica, é crucial manter os bordos da zona óptica afastados do endotélio. Assim, foi efectuada a medição dos valores de clearance LIO-End P1 e LIO-End P2. Os resultados médios de ambos foram semelhantes (1530.0 e 1518.22 µm, respectivamente). Apenas um doente apresentou um resultado de LIO-End P inferior a 1350 µm – trata-se de um olho no qual os valores de LIO-End P1 e LIO-End P2 eram respectivamente de 1810 µm e 930 µm devido a um tilt da lente na CA acarretando perdas de 7.1% no endotélio periférico 15 meses após a cirurgia. Este doente encontra-se em seguimento trimestral. Atendendo à equação da recta da figura 5 verifica-se que para uma clearance mínima de segurança de 1500 µm entre a LIO e o endotélio periférico, é necessária uma CA mínima de 3.07 mm para evitar perdas endoteliais graves. Em relação à clearance LIO-End C, a segurança foi evidente, com o valor mínimo registado a ser de 1810 µm. Até ao momento, ainda não há registo de cataratas, como complicação do pós-operatório. No entanto, existem 4 doentes com clearance LIO-Cris inferior a 700 µm e que são também alvo de um follow-up mais apertado. 11 doentes foram submetidos a dilatação pupilar no 452 | Revista da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia pós-operatório para avaliação de queixas relacionadas com miodesópsias de novo. Em todos os casos, a dilatação foi eficaz. Os dados recolhidos pelo Pentacam® revelaram que os valores de clearance LIO-Cris sofriam alterações pouco significativas nos minutos seguintes à dilatação (quadro 2). Apesar de existir uma tendência para a movimentação posterior da lente com a dilatação pupilar, a distância entre a LIO e o cristalino mantém-se, certamente devido ao aplanamento da superfície anterior do cristalino7. Outro facto importante observado é que a medição da CA recorrendo a instrumentos como a câmara de Scheimpflug do Pentacam® traz maior precisão na estimativa do tamanho da CA, o que já está descrito noutros trabalhos15. Juntamente com a escolha adequada de candidatos (rigoroso respeito pelos critérios de inclusão), este facto também se mostrou decisivo para os valores de segurança apresentados pela lente até agora. Verificou-se que a rotação da lente não esteve associada a qualquer tipo de complicações. A rotação foi, essencialmente, a observada durante a 1ª semana após a cirurgia. Em 40 olhos não se verificou qualquer rotação da lente após a consulta do 1º mês e nos restantes, a média de rotação foi de 1.3º ao fim de 2 anos. Estes dados sugerem que a lente adquire estabilidade após um período inicial de rotação ainda no peroperatório, provavelmente relacionado com o procedimento em si (a remoção da solução viscocirúrgica) e desvio dos hápticos da posição original no meridiano de 90º. A estabilidade rotacional da lente foi tanto maior quanto maior a diferença entre o tamanho da lente e o W-W. Apesar deste facto, houve a tentativa de não ultrapassar os 1.25 mm de diferença, o poderia significar demasiada compressão dos hápticos sobre o ângulo e o consequente posicionamento posterior da lente. O resultado seria, eventualmente, um glaucoma secundário a bloqueio pupilar, já descrito noutros estudos sobre implante de LIO´s fáquicas de CA8. Por outro lado, se a diferença entre o tamanho da lente e o W-W for diminuta (<0.5 mm) aumenta a probabilidade e o grau de rotação da lente. Analisando a figura 6 e a equação da recta, percebe-se que para a lente não rodar ou apresentar uma rotação inferior a 20º é necessário que a diferença não seja inferior a 0.97 mm. Em conclusão, os dados colhidos suportaram a segurança da utilização da lente na correcção de miopias moderadas a altas. Os parâmetros avaliados por imagem revelaram uma lente fáquica bem posicionada na CA, fornecendo uma clearance central e periférica adequadas para o endotélio corneano e cristalino. Para maior segurança, segundo a nossa amostra, é aconselhavél uma CA > 3.07mm, contrariamente ao que sugere o fabricante (2.8 mm). Devido aos casos de rotação relatados ainda no peroperatório (nas Segurança e Estabilidade da Lente Fáquica de Suporte Angular Acrysof Cachet® – 2 Anos de Follow-Up consultas pós-operatórias comprova-se já a estabilidade da lente), não será de momento aconselhável a correcção de erros astigmáticos com uma lente destas características. Bibliografia 1. Sakimoto T, Rosenblatt MI, Azar DT. Laser eye surgery for refractive errors. Lancet 2006; 367:1432-1447. 2. Lecisotti A, Fields SV. Clinical results of ZSAL-4 angle-supported phakic intraocular lenses in 190 myopic eyes. J Cataract Refract Surg 2005; 31:318-823. 3. Pérez-Santonja JJ, Alió JL, Jiménez-Alfaro I, Zato MA. Surgical correction of severe myopia with an angle-supported phakic intraocular lens. J Cataract Refract Surg 2000; 26:1288-1302. 4. Baikoff G, Arne JL, Bokobza Y, Colin J, George JL, Lagoutte F, et al. Angle-fixated anterior chamber phakic intraocular lens for myopia of 7 to 19 diopters. J Cataract Refract Surg 1998; 14:282-293. 5. Chen L-J, Chang Y-J, Kuo JC, Rajagopal R, Azar DT. Metaanalysis of cataract development after phakic intraocular lens surgery. J Cataract Refract Surg 2008; 34:1181-1200. 6. Alió JL, de la Hoz F, Pérez-Santonja JJ, Ruiz-Moreno JM, Quesada JA. Phakic anterior chamber lenses for the correction of myopia; a 7-year cumulative analysis of complications in 263 cases. Ophthalmology 1999; 106:458-466. 7. Alió J, Piñero D, Esperanza S, Amparo F. Intraocular stability of an angle-supported phakic intraocular lens with changes in pupil diameter. J Cataract Refract Surg 2010; 36:1517-1522. 8. Ardjomand N, Kölli H, Vidic B, El-Shabrawi Y, Faulborn J. Pupillary block after phakic anterior chamber intraocular lens implantation. J Cataract Refract Surg 2002; 28:1080-1081. 9. 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CONTACTO Pedro Reimão Rua Sarmento Beires, nº 130, Leça da Palmeira 4450-723, Matosinhos [email protected] Vol. 36 - Nº 4 - Outubro-Dezembro 2012 | 453 Oftalmologia - Vol. 36: pp.455-461 Comunicações Curtas e Casos Clínicos Síndrome de Goldenhar – Caso Clínico e Revisão da Literatura Rita Reis1, Vasco Miranda1, Ricardo Parreira2, Pedro Menéres3, Maria Araújo4 Interna(o) Complementar Assistente Hospitalar, Secção de Oftalmologia Pediátrica e Estrabismo 3 Assistente Hospitalar Graduado, Secção de Oftalmologia Pediátrica e Estrabismo 4 Assistente Hospitalar Graduada, Secção de Órbita e Oculoplástica Serviço de Oftalmologia, Hospital de Santo António, Porto 1 2 Resumo Introdução: A Síndrome de Goldenhar é uma patologia congénita rara, com uma incidência de 1 em cada 3 500 a 56 000 nascimentos. A sua base patogénica consiste numa alteração do desenvolvimento do 1º e 2º arcos branquiais cuja etiologia permanece desconhecida, podendo estar relacionada com uma anomalia da sua vascularização durante a gravidez. As principais características oftalmológicas são a presença de colobomas palpebrais, dermóides conjuntivais e de microftalmia (mais raramente, anoftalmia). As manifestações sistémicas são múltiplas, das quais se destacam as alterações da morfologia craniofacial, a presença de apêndices pré-auriculares, dismorfias vertebrais, malformações cardio-pulmonares e genito-urinárias. Caso clínico: Os autores relatam um caso de uma menina de 3 meses cujo exame oftalmológico sugeriu uma anoftalmia direita, entretanto confirmada por ultrassonografia. Não foram identificadas alterações palpebrais nem alterações morfológicas na região orbitária esquerda, nomeadamente dermóides e colobomas. Apresentava ainda várias alterações hemifaciais, das quais se destacam a microssomia, apêndices pré-auriculares e hipoplasia mandibular. O estudo cardiológico realizado revelou um septo interventricular perfurado e sinais de hipertensão pulmonar. Identificaram-se ainda múltiplas hemivértebras cervicais e torácicas. Foi colocada a hipótese diagnóstica de Síndrome de Goldenhar. Conclusão: As manifestações oftalmológicas mais comuns da Síndrome de Goldenhar nem sempre estão presentes. A existência de anoftalmia obriga à intervenção cirúrgica precoce, com o objectivo de estimular o crescimento ósseo da órbita e assim permitir um melhor resultado estético global. A identificação de anomalias oculares deve ser estudada em conjunto com as alterações sistémicas e enquadradas na abordagem multidisciplinar destes doentes. Palavras-chave Síndrome Goldenhar, espectro oculo-auriculo-vertebral, dermóides, microftlamia/anoftalmia. Abstract Introduction: Goldenhar Syndrome is a rare congenital anomaly, with an incidence of one in each 3 500 to 56 000 births. Its pathogenesis remains unknown but is thought to be caused by a disturbance in the development of the 1st and 2nd branchial arcs, possibly related to their vascularization during pregnancy. Its main ocular findings are the presence of palpebral colobomata, Vol. 36 - Nº 4 - Outubro-Dezembro 2012 | 455 Rita Reis, Vasco Miranda, Ricardo Parreira, Pedro Menéres, Maria Araújo conjunctival dermoids and microphthalmia (rarely anophthalmia). There are a myriad of systemic manifestations which include craniofacial and vertebral dysmorphias, pre-auricular skin tags and cardiopulmonary and genitourinary malformations. Clinical case: We report a case of a three-month-old girl whose ophthalmic examination suggested a right sided anophthalmia, later confirmed with ultrasonography. No morphologic abnormalities were identified in the left orbital region, namely dermoids or colobomata. She also presented with hemifacial malformations, such as microssomia, pre-auricular skin tags and mandibular hypoplasia. Cardiac examination disclosed a perforated interventricular septum and signs of pulmonary hypertension; multiple cervical and thoracic hemivertebrae were identified. Goldenhar Syndrome was perceived to be the most likely diagnosis. Conclusion: Typical manifestations of Goldenhar Syndrome are not always encountered. Anophthalmic sockets warrant early surgical intervention, aiming to stimulate orbital bone growth and therefore allowing better cosmetic outcomes. Ocular malformations must be assessed together with systemic abnormalities in an imperative multidisciplinary addressement of these patients. Key-words Goldenhar Syndrome, oculoauriculovertebral spectrum, dermoids, microphthalmia/anophthalmia. Introdução A Síndrome (Sd) de Goldenhar é uma entidade clínica complexa com manifestações variadas e etiologia desconhecida. Em 1845, Von Arlt1 relatou pela primeira vez uma associação de malformações auriculares e oculares mas foi só em 1952, com M. Goldenhar, que a tríade característica de tumores dermóides epibulbares, apêndices pré-auriculares e mal-formações auriculares foi descrita2. Em 1963, Gorlin et al sugeriu a designação “microssomia hemifacial” para caracterizar a associação de hipoplasia facial unilateral e microtia ipsilateral, que mais tarde verificou estar frequentemente associada a alterações vertebrais. Nas décadas seguintes verificou-se uma clara sobreposição entre a Sd Goldenhar, a microssomia hemifacial e uma série de outras entidades clínicas entretanto descritas, que se distinguiam entre si por diferentes graus de alterações morfológicas auriculares, oculares, faciais e cervicais, tais como a “Sd do Primeiro Arco Branquial” e “Sd do Segundo Arco Branquial”.Foi então em 1990 que Gorlin postulou que todas estas Síndromes corresponderiam de facto a variações de uma só entidade clínica, com diferentes graus de atingimento auricular, ocular e vertebral, a que deu o nome de “Espectro Oculo-auriculo-vertebral”3,4. Os dados relativos à sua incidência variam de estudo 456 | Revista da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia para estudo, havendo valores tão díspares como 1 em cada 3500 - 5600 nascimentos5 até 1 em cada 45 000 nados-vivos6. A grande variabilidade entre as diferentes séries publicadas é explicada pela diferença nos critérios de diagnóstico utilizados na seleção da amostra7,8. A própria multiplicidade de termos clínicos já utilizados para designar esta entidade é, por si só, ilustrativa da sua grande variabilidade fenotípica, que se traduz inclusivamente na dificuldade em estabelecer critérios mínimos de diagnóstico universalmente aceites. Actualmente são critérios mínimos de diagnóstico a presença de microtia ou de apêndices pré-auriculares8, sendo que muitos autores exigem a associação a hipoplasia mandibular para o estabelecimento do diagnóstico. A maioria dos casos ocorre de forma esporádica, mas existem relatos de casos com hereditariedade autossómica dominante8,9, autossómica recessiva8, dominante ligada ao cromossoma X9 e até de hereditariedade multifactorial5, com interacção de vários genes e interferência de factores ambientais. Um estudo genético identificou duas famílias com hereditariedade autossómica dominante de penetrância incompleta8. Os estudos cromossómicos até agora realizados não revelaram nenhuma alteração específica10. A grande variabilidade clínica inter e intrafamiliar é uma constante, independentemente do padrão de hereditariedade8. Sabe-se que nos casos esporádicos o Síndrome de Goldenhar – Caso Clínico e Revisão da Literatura atingimento é normalmente unilateral (cerca de 85% dos casos), enquanto que nos casos familiares a bilateralidade é mais frequente (cerca de 10 a 33% dos casos)1. Nos casos bilaterais o atingimento é frequentemente assimétrico, sendo mais marcado na hemiface ipsilateral às principais alterações auriculares. Os indivíduos do sexo masculino são mais frequentemente atingidos, com um ratio masculino: feminino de 3:25. No entanto, alguns autores defendem que ambos os sexos são atingidos de igual forma, sendo a diferença até agora reportada uma vez mais explicada pelos diferentes critérios mínimos de diagnóstico utilizados pelos autores11,12. Um atingimento semelhante entre ambos os sexos estaria de acordo com a hereditariedade autossómica dominante, a mais frequentemente reportada8. Pouco se sabe relativamente à sua patogénese. A distribuição dos órgãos atingidos aponta para uma malformação do 1º e 2º arcos branquiais e 1ª fenda branquial, que ocorrerá entre a 4ª e a 6ª semana gestacional. No entanto, as alterações decorrentes do deficiente desenvolvimento destes arcos branquiais não explicam as alterações cardiovasculares e genitourinárias muitas vezes presentes, já que a origem embrionária é distinta7. Vários autores colocaram a hipótese de haver uma alteração ao nível da blastogénese, possivelmente condicionada por alterações precoces do desenvolvimento vascular5,13,14. Kallen et al15 atribuiu a patogénese da Sd. de Goldenhar a uma alteração no desenvolvimento da crista neural. Russell et al16 sugere uma anomalia na migração das células da crista primitiva, resultando em alterações do desenvolvimento das estruturas mesodérmicas, já que os órgãos primariamente afectados têm uma origem mesodérmica comum. Têm sido propostos como agentes teratogénicos várias infecções maternas (rubéola, influenza1,17,18), a exposição a radiação externa e a herbicidas ou insecticidas nos primeiros três meses de gestação. Também a ingestão de fármacos durante a gravidez aparece associada a inúmeros casos isolados descritos na literatura, nomeadamente em associação à Talidomida, Cocaína, produtos de medicina tradicional (de composição indeterminada), Tamoxifeno, Ácido Retinóico, Primidona e Fluoxetina 11,17,19,20. Alguns autores apontam a diabetes materna como factor de risco para o desenvolvimento desta síndrome1,7,17,18,21-23. Além das anomalias que fazem parte da tríade diagnóstica, são ainda frequentes outras malformações auriculares, oculares e faciais, bem como um conjunto de alterações sistémicas de gravidade variável, atingido principalmente os sistemas cardiovascular, pulmonar, digestivo, renal, genitourinário e osteoarticular. Caso clínico Os autores relatam um caso de uma menina de 3 meses com hemidismorfia facial, enviada à consulta de Oftalmologia por suspeita de microftalmia direita. Apresentava normal morfologia das pálpebras bilateralmente e exame oftalmológico do olho esquerdo totalmente normal, nomeadamente sem tumores epibulbares visíveis. Realizou-se ecografia ocular, que revelou ausência total de globo ocular à direita, com nervo óptico presente; à esquerda comprovou-se a normal morfologia do globo ocular. Fig. 1 | Aos três meses de idade: assimetria hemifacial evidente, com hipoplasia orbitária e ausência de globo ocular direito. A RMN orbitária entretanto realizada confirmou anoftalmia direita com hipoplasia da cavidade orbitária ipsilateral, além de uma marcada assimetria óssea craniofacial. Fig. 2 | RMN orbitária: anoftalmia direita (1), assimetria marcada das paredes da órbita (2) e hipoplasia orbitária direita (3). A criança apresentava ainda microtia direita e vários apêndices pré-auriculares, além de microssomia hemifacial, macrostomia, hipoplasia mandibular direita e agenesia do canal auditivo externo direito. A avaliação multidisciplinar permitiu identificar alterações do foro cardíaco Vol. 36 - Nº 4 - Outubro-Dezembro 2012 | 457 Rita Reis, Vasco Miranda, Ricardo Parreira, Pedro Menéres, Maria Araújo (comunicações interventriculares múltiplas, foramen oval patente e hipertensão pulmonar), urológico (hipoplasia renal ipsilateral) e vertebral (hemivértebras cervicais). Tratava-se da primeira filha de um casal jovem, saudável e não consanguíneo. A gravidez foi vigiada clínica e ecograficamente desde o segundo mês, tendo decorrido sem intercorrências e sem história de exposição a radiação externa ou a fármacos (para além dos suplementos de ferro e ácido fólico, prescritos usualmente durante a gravidez). O parto distócico (por fórceps) ocorreu às 38 semanas num Hospital distrital do Norte do país. Os pais desconheciam antecedentes familiares patológicos relevantes. O estudo genético entretanto realizado revelou um cariótipo 46, XX normal. No 7º mês de vida foi colocado expansor de fundo de saco conjuntival (expansor de Hidrogel 0.9 ml - Acri-Tec®), simultaneamente com cirurgia maxilo-facial para correcção de macrostomia. Onze meses depois foi colocado expansor esférico orbitário de Hidrogel de 3 ml (também da Acri-Tec®), inserido por abertura da conjuntiva e Tenon pelo fundo de saco inferior. O implante sofreu extrusão total, tendo sido substituído por outro do mesmo tamanho, com o mesmo resultado final, apesar de ambos terem sido colocados o mais posteriormente possível na órbita e de ter sido feito encerramento por planos, com pontos isolados (fio Poliglactina 910™, 5/00). Em todas as cirurgias foi realizada uma tarsorrafia temporária (com fio de seda 4/00), mantida durante cerca de três meses na primeira cirurgia e durante um mês nas três últimas intervenções. Fig. 3 | Colocação de expansor orbitário. O próximo passo na reabilitação orbitária poderá ser a colocação de expansor de tecido orbitário ou de enxerto de gordura, seguido de colocação de prótese externa executada à cor e à medida. 458 | Revista da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia As descompensações cardiopulmonares frequentes e as infecções genitourinárias de repetição obrigaram várias vezes ao cancelamento de intervenções cirúrgicas programadas, resultando num tempo de intervenção inicial bastante superior ao inicialmente previsto. A abordagem conjunta com a Cirurgia Maxilo-Facial e Cirurgia Plástica permitiu optimizar a sequência das intervenções, com o objectivo de atingir um melhor resultado estético/funcional e de diminuir o número de cirurgias necessárias. Actualmente a doente é seguida nas consultas de Pediatria, Cirurgia Plástica, Cirurgia Maxilo-facial, Cardiologia, Nefrologia, Ortopedia e Otorrinolaringologia. O exame oftalmológico do olho esquerdo mantém-se sem alterações, com transparência dos meios, ausência de erros refractivos significativos e comportamento visual aparentemente normal. Fig. 4 | – Aspecto da doente imediatamente após colocação de expansor de fundo de saco (imagem superior) e 1 mês após colocação de expansor orbitário (imagem inferior). Discussão Clinicamente os doentes podem apresentar qualquer combinação de alterações morfológicas, desde microtia Síndrome de Goldenhar – Caso Clínico e Revisão da Literatura e/ou hipoplasia mandibular até múltiplas manifestações cardíacas, musculoesqueléticas, renais, pulmonares e do Sistema Nervoso Central (SNC). As percentagens de cada manifestação variam muito conforme as séries e a sua incidência real é, de facto, desconhecida. Nos estudos em que são incluídos doentes que cumprem apenas os critérios considerados mínimos para o diagnóstico ocorre uma diluição natural dos casos com manifestações sistémicas, tornando a sua prevalência mais baixa do que a encontrada nas séries com doentes tendencialmente mais graves. No entanto, pensa-se que cerca de 60% dos doentes têm algum tipo de alteração ocular, 40% tem alterações auditivas e 40% alterações vertebrais5. De todas as alterações oculares encontradas nestes doentes a mais comum é a existência de tumores epibulbares, que surgem em 35% dos casos. Normalmente são unilaterais, inferotemporais24 e perilímbicos, mas podem surgir em qualquer localização. A sua existência pode condicionar complicações graves, sobretudo relacionadas com o seu tamanho e localização. Tumores de grandes dimensões podem impedir o encerramento completo da fenda palpebral, originando sintomas de olho seco e até queratopatia de exposição. Em alguns casos podem condicionar um astigmatismo corneano significativo pelo que, mesmo quando não existe obstrução mecânica do eixo visual, o potencial ambliogénico é considerável. Histologicamente os dermóides são o subtipo mais comum, mas existem também tumefacções lipodermóides, normalmente subconjuntivais e superotemporais, muitas vezes localizadas num plano mais posterior25. Estas podem não ser aparentes nos estudos imagiológicos (TAC e RMN) uma vez que a sua densidade é muito semelhante à da gordura orbitária. Nos casos em que os tumores epibulbares condicionam astigmatismo corneano significativo deverá ser realizada a sua exérese cirúrgica, eventualmente combinada com uma queratoplastia lamelar. Os colobomas palpebrais são mais comuns na pálpebra superior, o que pode constituir um importante elemento no diagnóstico diferencial com outras Sd. Dismórficos craniofaciais. Apesar de constituírem a alteração morfológica palpebral mais comum nestes doentes, podem também ocorrer pregas no epicanto e epífora por agenesia do ponto lacrimal1. A microftalmia é muito mais frequente do que a anoftalmia, presente em cerca de 10% destes doentes. Os doentes com anoftalmia (2- 4% dos casos) representam normalmente casos mais graves, com maior prevalência de malformações do SNC, nomeadamente calcificação da foice cerebelar, paralisia cerebral, hidrocefalia e atraso mental. A intervenção cirúrgica precoce nos casos de anoftalmia é obrigatória para a estimulação do desenvolvimento ósseo da órbita. Numa revisão da literatura foram encontrados inúmeros casos em que doentes com Sd. de Goldenhar apresentavam várias formas de estrabismo (endotropias, exotropias, limitação da abdução e Sd de Duane tipo 1 e 2) assim como microcornea, colobomas da íris, coróide e nervo óptico, atrofia da íris, catarata polar anterior e várias alterações do sistema nasolacrimal (dacrioestenose congénita, fístula lacrimal e obstrução do ducto nasolacrimal)1,24-26. Tabela I | Frequência de alterações oftalmológicas nos doentes com Sd. Goldenhar Percentagem (%) Colobomas palpebrais 10-20 Tumores epibulbares 35 Microftlamia 10 Anoftalmia 2-4 Estrabismo 6-10 A microssomia hemifacial que caracteriza estes doentes é provocada por alterações ósseas e articulares (nomeadamente hipoplasia mandibular e zigomática associadas a assimetria dos ramos da mandíbula). Uma vez que estas são normalmente unilaterais, o facies característico da Sd. de Goldenhar é assimétrico segundo um plano vertical. Esta assimetria é evidente em apenas 20% dos casos, mas está presente em menor grau em mais de 65% dos doentes, ainda que não seja imediatamente aparente, sobretudo na infância. Por motivo ainda desconhecido, várias séries referem a sua maior ocorrência na hemiface direita5,8,27, apontando como explicação eventuais assimetrias na arquitectura vascular. Além das alterações morfológicas auriculares já referidas, e que constituem os critérios mínimos de diagnóstico, mais de dois terços destes doentes (em algumas séries 90%) manifestam surdez ou hipoacúsia neurossensorial ou de condução. De facto, quando se consideram apenas crianças com surdez neurossensorial, a incidência de Sd. de Goldenhar aumenta marcadamente para uma em cada 1000 crianças28. As alterações vertebrais mais frequentemente descritas são a fusão das vértebras cervicais, a existência de hemivértebras e de cifose ou escoliose com diferentes níveis de gravidade. As alterações sistémicas associadas surgem em cerca de 50% dos doentes29. As alterações cardíacas mais frequentes são a Tetralogia de Fallot e os defeitos do septo interventricular7. Uma vez que as malformações cardíacas estão presentes em 18-58% dos casos e que no seu conjunto Vol. 36 - Nº 4 - Outubro-Dezembro 2012 | 459 Rita Reis, Vasco Miranda, Ricardo Parreira, Pedro Menéres, Maria Araújo constituem a principal causa de morte nestes doentes6,30, é absolutamente obrigatório o rastreio cardiovascular na abordagem inicial de indivíduos com suspeita de Sd. de Goldenhar. Entre as alterações craniofaciais são comuns a fenda palatina/lábio leporino, alterações da implantação dentária, quistos dermóides, macrostomia, micrognatia e microcefalia. Relativamente ao sistema musculoesquelético, são frequentes as dismorfias do esternocleidomastoideu, o pescoço curto, as hérnias umbilicais e inguinais e a baixa estatura, para além das já referidas alterações vertebrais. São ainda comuns manifestações gastrointestinais (fístulas traqueoesofágicas e imperfuração anal) e genitourinárias (hipospádia e hipoplasia vaginal, testículos retidos, refluxo vesicouretral e hipoplasia/agenesia renal). Nos recém-nascidos o tratamento deverá ser orientado para a manutenção das funções vitais, nomeadamente a respiração e nutrição, que poderão estar seriamente comprometidas nos casos mais graves1. A reabilitação orbitária nos casos de anoftalmia será melhor sucedida se iniciada precocemente. A decisão relativamente ao tempo cirúrgico ideal e ao tipo de abordagem dependem do tipo de alterações das pálpebras, conjuntiva e órbita, bem como da sua gravidade31. A abordagem cirúrgica deve ser dirigida primariamente à correcção de eventuais anomalias palpebrais, seguida das alterações da conjuntiva e por último da órbita. A escolha do tipo de prótese e até do seu tamanho obriga muitas vezes a várias intervenções cirúrgicas, de modo a que seja encontrado um tamanho suficientemente grande para ser eficaz, sendo simultaneamente tolerável e com baixo risco de extrusão. Apesar de não existir nenhum tratamento universalmente aceite nas formas congéntias de anoftalmia, os expansores de silicone constituem uma opção promissora já que permitem a expansão da órbita de uma forma previsível e pouco traumática, duas vantagens importantes na difícil e prolongada abordagem terapêutica destes doentes31. O diagnóstico pré-natal (DPN) é possível através da ecografia neonatal. De Catte et al32 publicou um caso clínico em que foi feito o DPN às 15 semanas de gestação por observação ecográfica de uma fenda de palato associada a microftalmia unilateral. Num outro caso o DPN foi estabelecido às 24 semanas pela presença de microssomia hemifacial associada a hipoplasia cerebelar ipsilateral32. Nas consultas de aconselhamento genético, durante a elaboração da árvore genealógica, deve ser dada especial atenção à possível presença de malformações minor, sobretudo apêndices pré-auriculares de pequenas dimensões ou dismorfias auriculares ligeiras, que frequentemente estão presentes nos familiares de doentes inicialmente tidos como casos sem componente hereditário. 460 | Revista da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia O prognóstico depende da gravidade das alterações sistémicas associadas. Na maioria dos casos o tratamento consiste em múltiplas cirurgias, de modo a otimizar as funções dos órgãos atingidos e melhorar o aspecto estético. A enorme variedade clínica e morfológica da Sd. de Goldenhar torna impossível o estabelecimento de protocolos de tratamento universais31. O atingimento multissistémico destes doentes obriga a uma abordagem multidisciplinar, de modo a reduzir o número de anestesias e optimizar esforços de tratamento. Bibliografia 1. Sharma JK, Pippal SK, Raghuvanshi SK, Shitij A. Goldenhar-Gorlin’s Syndrome: a case report. Indian J Otolaryngol Head Neck Surg 2006, Jan-Mar; Vol 58, No. 1 2. Goldenhar M. Association malformatives de I’oeilet de I’oreill en particulier le syndrome dermoide epibulbaire - appendices-auriculares fistula auris congenita et ses relations avec la dysostose mandibulo faciale. J Genet Hum 1952;1: 243-82. 3. Pinheiro AL, Araújo LC, Oliveira SB, Sampaio MC, Freitas AC. Goldenhar’s syndrome: Case report. Braz Dent J 2003;14: 67-70 4. Gorlin RJ, Cohen MM, Levin LS. Syndromes of the Head and Neck. New York: Oxford University Press 1990; 641-46 5. Kulkarni V W, Shah M D, Parkihh A A. Goldenhar Syndrome: a case report. J Postgrad Med 1985;31: 177-9 6. Morrison J, Mulholland HC, Craig B G, Nevin NC. Cardiovascular abnormalities in the oculo-auriculo-vertebral spectrum (Goldenhar syndrome). Am J Med Genet, 1992;Vol 44(4): 425–428 7. Nakajima H, Goto G, Tanaka N, Ashiya H, Ibukiyama C. Goldenhar Syndrome associated with various Cardiovascular Malformations. Jpn Circ J. 1998;(62): 617-620 8. Vendramini-Pittoli S, Kokitsu-Nakata NM. Oculoauriculovertebral spectrum: report of nine familial cases with evidence of autossomal dominant inheritance and review of the literature. Clin Dysmorphol 2009;18: 67-77 9. Stoll C, Viville B, Treisser A, Gasser B. A family with dominant oculoauriculovertebral spectrum. Am J Med Genet, 1998; 78: 345-349 10.Rao VA et al. Goldenhar’s sequence with associated juvenile glaucoma in Turner’s Syndrome. Indian J Ophthalmol 2005;53: 267-8 11.Lessick M, Vasa R, Israel J. Severe manifestations of Síndrome de Goldenhar – Caso Clínico e Revisão da Literatura oculoauriculovertebral spectrum in a cocaine-exposed infant. J Med Gen 1991;28: 803-804 12.Tasse C et al. Oculoauriculovertebral spectrum (OAVS): clinical evaluation and severity scoring of 53 patients and proposal for a new classification. 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Use of self-expanding, hydrophilic osmotic expanders (hydrogel) in the reconstruction of congenital clinical anophthalmos. Curr Opin Ophthalmol 2004;15: 426–431 32.De Catte L, Laubach M, Legein J, Goossens A. Early prenatal diagnosis of oculoauriculovertebral dysplasia or the Goldenhar syndrome. Ultrasound Obstet Gynecol 1996; 8(6): 422-4 33.Martinelli P, Maruotti GM, Agangi A, Mazzarelli MM, Bifulco G, Paladini D. Prenatal diagnosis of hemifacial microsomia and ipsilateral cerebellar hypoplasia in a fetus with oculoauriculovertebral spectrum. Ultrasound Obstet Gynecol 2004; 24(2): 199-201. Nenhum dos Autores tem conflito de interesses a declarar. Vol. 36 - Nº 4 - Outubro-Dezembro 2012 | 461 Oftalmologia - Vol. 36: pp.463-466 Comunicações Curtas e Casos Clínicos Termo de Consentimento Informado para Cirurgia de Catarata Mestre Leonor Duarte Almeida H.S. Maria, Serviço de Oftalmologia. Centro Hospitalar Lisboa Norte Introdução O consentimento informado ou esclarecido, fundamenta-se na informação adequada fornecida pelo médico ao doente e no consentimento esclarecido por parte deste. Traduz o respeito pelo princípio da autonomia do sujeito e pressupõe um conjunto de atitudes e procedimentos, com avaliação das respectivas expectativas, riscos e benefícios associados. Como exigência formal é um instrumento recentemente utilizado na prática clínica. A obtenção do T.C.L.E, não constitui um mero cumprimento contratual na relação médico-doente, mas um complemento da atuação médica, reforçando a relação de confiança estabelecida entre ambos. O objetivo do T.C.L.E., não é a defesa judicial mas o reforço dessa relação de confiança.1 Só é eficaz se o “paciente tiver sido devidamente esclarecido sobre o diagnóstico, índole, alcance, envergadura e possíveis consequências da intervenção ou tratamento (Código Penal art. 157º) 1. Do articulado do artigo 156º, que se refere a intervenções e tratamentos médico-cirúrgicos arbitrários, pode concluir-se que a atividade médica está basicamente, delimitada pelo consentimento do doente1,4. O médico pode ser punido a dois títulos diferentes: Ofensa à integridade física, no caso de ter havido violação das leges artis, e Ofensa à liberdade (direito de autodeterminação nos cuidados de saúde) no caso de, tendo agido de acordo com as regras da profissão, não ter esclarecido devidamente o paciente dos riscos ou consequências secundárias da intervenção2,3. Transcrito para a nossa ordem jurídica em Dezembro de 2001, da convenção de Oviedo de 1997, Cap. II art. 5º, estabelece para a prática clínica os seguintes itens: Competência, Informação, Compreensão, Voluntariedade e finalmente Consentimento5. O processo de consentimento constitui- se assim num direito do doente e simultaneamente num dever do médico. O doente deve ser informado de maneira adequada à sua capacidade cognitiva. O simples ato de ler e assinar um documento, não é suficiente para a eliminação do ónus de informar adequadamente. O médico pode e deve expor a sua opinião sobre o tratamento que acredita ser o mais indicado. Não pode por seu turno: Impor sua vontade quanto ao tratamento e Omitir informações sobre outros possíveis tratamentos. Apresentação de um termo de consentimento informado para cirurgia de catarata Em Junho de 2012 foi apresentado no Congresso de Cirurgia Implanto-Refrativa realizado em Tróia e por solicitação do seu coordenador, um Termo de Consentimento Informado destinado a cirurgia de catarata resultante de um trabalho de discussão e ponderação alargada, em torno dos itens mais importantes que um consentimento deve comportar. Este documento reformulado de um anteriormente apresentado, contempla as sugestões do responsável do grupo e foi aberto á contribuição dos colegas da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia. Ficou então decidido que este novo termo, deveria ser aprovado pela Comissão Diretiva do Colégio de Oftalmologia, o que reforçaria naturalmente a sua importância normativa. Para evitar o risco de um vazio jurídico, foi contudo consensualmente assumido que mesmo sem a chancela do Colégio o termo de consentimento em questão iria passar a ser usado pelos colegas que assim o desejassem na sua prática clinica, enquanto aguarda a aprovação como documento formal a adotar. Vol. 36 - Nº 4 - Outubro-Dezembro 2012 | 463 Leonor Duarte Almeidao Metodologia adotada para a Elaboração de um correto Termo de consentimento livre e esclarecido A forma do consentimento informado expresso (oral/ escrito) deve ser adequada a cada situação clinica e não uniformizada. A cirurgia de catarata envolve objetivos diferentes de uma cirurgia de glaucoma ou vítreo-retiniana, bem como distintas complicações. Esse termo terá de contemplar a Natureza do procedimento a que irá ser submetido, Informações sobre os Riscos prováveis, Possíveis complicações e sequelas, Benefícios, Alternativas ao tratamento, Consequências da negação, Autorização para obter fotografias, vídeos e difundir em revistas médicas ou reuniões científicos e a Possibilidade de revogação a qualquer momento antes da intervenção. A Resposta a todas as dúvidas, confirmando a compreensão da informação fornecida e o tipo de Linguagem utilizada que deverá ser simples para a plena compreensão do doente/ seus familiares se necessário, bem como a entrega de Cópia ficando outra apensa ao processo clínico bem como o Contacto em caso de necessidade e as respetivas Assinaturas do médico e doente, acrescidas das respetivas identificações (ex.: B. Identidade, endereço e etc.) completam o termo de consentimento informado adequado1. Transparência na informação - A transparência na quantidade e qualidade da informação transmitida pelo médico, não é apenas um dever mecânico. Permite a compreensão no ato de assentir com a intervenção proposta, sabendo o motivo e podendo justificar - dentro de suas limitações cognitivas e culturais - o motivo da escolha do tratamento adotado. O excesso de informação e esclarecimento, não são sinónimos. Como base da relação médica - doente o que se exige é a qualidade da informação, que não tem, necessariamente relação com a quantidade. Prognóstico e o Diagnóstico - O Prognóstico e o Diagnóstico devem ser revelados salvo se o médico, entender 464 | Revista da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia não o dever fazer. Um mau prognóstico só pode porém ser revelado com as precauções aconselhadas pelo exato conhecimento das suas condições específicas e da sua índole moral. Em regra deve ser revelado ao familiar mais próximo, a não ser que o doente o tenha previamente proibido ou tenha indicado outras pessoas a quem a revelação deva ser feita. Conclusão O médico enquanto fornecedor de serviços corre o risco d e ver a sua prática regulada pela optica contratual. A utilização de um T.C.L.E será um meio moral de recuperar essa confiança, ameaçada pela despersonalização do ato médico, pela filosofia do número, e consequente perda de confiança mútua. O recurso a um documento com uma metodologia própria e organizada, poderá servir de base a um melhor entendimento, empatia e cumplicidade entre dois parceiros privilegiados de uma relação insubstituível, que é a relação médico-doente. Bibliografia 1. ALMEIDA, Leonor Duarte (2011) O Consentimento informado, Fundamentos e aplicação de adequada metodologia para a sua obtenção breves considerações. Oftalmologia Vol. 35: pp 87-91 Jan - Março 2011 2. PEREIRA André, O Consentimento Informado na Relação Médico-Paciente. Estudo de Direito Civil. Coimbra, Coimbra Editora, 2004, 121 e ss. 3. COSTA ANDRADE Manuel da, in FIGUEIREDO DIAS (Direcção), Comentário Conimbricense ao Código Penal, Tomo I, Coimbra, Coimbra Editora, 1999, p. 307. 4. COSTA ANDRADE, Consentimento e Acordo em Direito Penal, Coimbra, Coimbra Editora, 1991, p.450 5. SILVA, Paula Martinho da. Convenção dos Direitos do Homem e da Biomedicina Anotada, Lisboa Edições Cosmos,1997 ISBN-972-762-050- Termo de Consentimento Informado para Cirurgia de Catarata Consentimento informado para intervenção cirúrgica oftalmológica (Catarata) e Anestesia. Lei 1/ 2001, reguladora do Consentimento informado, transposta da C.O. para o ordenamento jurídico português em Dezembro de 2001) Nome e apelido do doente Nº do processo clínico Nome do médico que o informa Assinatura O que é a doença? A catarata é responsável pela diminuição da visão ou visão turva, em virtude do cristalino, a lente biconvexa que existe no olho e que permite focar a várias distâncias, se encontrar afetada pelo envelhecimento do olho, por traumatismo, ou outras causas. Qual é o tratamento? O método utilizado para melhorar a sua visão é a cirurgia, não havendo outro método alternativo, contudo não é uma emergência cirúrgica e pode fazer-se em qualquer momento. A cirurgia realiza-se em meio asséptico e com microscópio operatório, geralmente em regime ambulatório. Em que consiste a cirurgia? Consiste na aspiração do cristalino opacificado por facoemulsificação e na sua substituição por uma lente intraocular. O método utilizado não é o laser, mas sim a fragmentação de parte do cristalino por ultrassons, com aspiração das massas restantes, através de dois pequenos orifícios, deixando íntegra a cápsula posterior, onde será colocada a lente intraocular. Realiza-se em grande percentagem dos casos em regime ambulatório, sob anestesia local ou tópica, sem necessidade de recorrer a anestesia geral, o que origina pouca permanência no hospital/clinica. Como se sabe o valor da lente? Por uma medição feita no olho que avalia a potência da lente que se vai colocar. Pode haver alguma variação no cálculo dessa lente, sendo ocasionalmente necessária a sua substituição. É preciso levar pontos? Geralmente não são necessários pontos mas em situações particulares podem ser precisos. Quanto tempo demora a cirurgia? A cirurgia de catarata é um procedimento que dura cerca de 20-30 minutos em regra, excluindo os preparativos para a entrada no bloco e a conclusão da cirurgia. Quais as complicações da cirurgia? Habitualmente não existem complicações, contudo não está isenta de riscos como qualquer ato médico-cirúrgico, tanto durante como no pós-operatório quer imediato quer tardio. 1. Durante a cirurgia pode haver rotura da cápsula posterior, necessidade de colocar a lente em local diferente do previsto ou não se colocar, hemorragia, ou queda total ou de fragmentos do cristalino para o vítreo, o que requererá nova intervenção. Em certas circunstâncias durante a cirurgia pode haver uma complicação que é uma situação excepcional (1/10.000) hemorragia expulsiva, com risco para a visão. 2. Pode surgir muito raramente (em menos de 1 por cada 1000 casos), uma infeção intraocular ou endoftalmite, que pode ser grave, apesar de todos os cuidados pré operatórios, nomeadamente desinfeção adequada. Deverá contactar de imediato o médico se sentir alteração desproporcionada à evolução normal do pós-operatório que lhe foi explicado (como dor, olho vermelho ou baixa de visão), porque o tratamento precoce diminui os maus resultados. 3. Pode ser necessário recorrer a tratamento de Yag Laser, se a cápsula onde se apoia a lente se opacificar, o que pode acontecer num tempo variável após a cirurgia Vol. 36 - Nº 4 - Outubro-Dezembro 2012 | 465 Leonor Duarte Almeidao A anestesia também tem riscos? A própria anestesia não está isenta de riscos. As anestesias loco-regional e tópica reduzem esta possibilidade, mas não a evita completamente e tanto a anestesia geral como a local/ tópica podem apresentar reações adversas a medicamentos ou a outros fatores. Riscos comuns da cirurgia Habitualmente não existem complicações e ao fim de algum tempo obtém-se uma visão satisfatória. Pode haver visão um pouco turva nos primeiros dias, algum desconforto, sensação de olho seco e encadeamento com a as luzes, mas tais sintomas desaparecerão ao fim de algum tempo. Nota: Deverá respeitar a indicações fornecidas pelo seu médico bem como prescrições de medicamentos e colírios anexadas. Poderá haver necessidade do uso de óculos tanto para longe como de perto, mesmo nalguns casos em que se coloquem lentes intraoculares multifocais. Se não surgirem complicações a visão final, dependerá do estado das restantes estruturas oculares e da associação ou não de outras patologias oftalmológicas e sistémicas. Notas particulares colocadas pelo cirurgião: Ex; Fragilidade zonular, glaucoma pseudo-esfoliativo, pupila que dilata mal, Distrofia de Fuchs. Esta informação pretende esclarecê-lo (a) para que tome uma decisão sobre se deseja ou não submeter-se a esta cirurgia ocular. Pode levar o tempo que for necessário e coloque todas as perguntas que considerar necessárias, antes de concordar com a proposta cirúrgica. Caso rejeita a operação fica informado (a) de que não existe outro tratamento alternativo para corrigir a sua baixa de visão e que esta irá agravar-se. Declaração do consentimento : 1. Declaro que fui informado/a pelo meu médico dos riscos relativos ao procedimento cirúrgico proposto, tendo-me sido explicado as possíveis complicações. 2. Estou satisfeito/a com a informação recebida, tendo podido formular todo o tipo de perguntas que considerei convenientes e ainda me foram esclarecidas todas as dúvidas apresentadas. 3. Foi-me dada uma cópia para ler antes da tomada de decisão. 4. Autorizo ou Não (riscar o que não interessa) a utilização de fotografias ou registo da operação em vídeo com fins científicos e de formação, com ocultação da identificação. 5. Em consequência solicito e consinto na realização da cirurgia proposta 6. Tenho contacto referenciado em caso de alarme 7. Estou informado de que posso revogar este consentimento em qualquer altura, sem que daí advenha qualquer prejuízo. Assinatura do doente 466 | Revista da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia Oftalmologia - Vol. 36: pp.467-468 Caso Clínico Mistério Resposta ao Caso do Número Anterior Tânia Rocha1, António Mendes Carvalho1, Mário Neves2, João Filipe Silva2, António Roque Loureiro3 Serviço de Oftalmologia – Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra-Hospital Geral (CHC-HG) 1 Interno Complementar de Oftalmologia – CHC-HG 2 Assistente Hospitalar de Oftalmologia – CHC-HG 3 Director do Serviço de Oftalmologia – CHC-HG 1 - Qual o diagnóstico mais provável? a) Ametropia antiga não diagnosticada b) Miopia aguda induzida pelo topiramato c) Miopia aguda induzida por crise de hiperglicémia Trata-se de uma doente do sexo feminino, 30 anos, raça caucasiana, seguida em consulta de Neurologia por enxaquecas, medicada regularmente com paracetamol 1g-3id e ibuprofeno 600-2id em sos. Por exacerbação das queixas, iniciou topiramato 25mg id e aumento da dose para 2id, 15 dias depois. Sem antecedentes oftalmológicos e sistémicos relevantes. Recorreu ao Serviço de Urgência por diminuição súbita da acuidade visual (AV) para longe, bilateralmente. Sem outras queixas. Apresentava exame neurológico normal e TAC crânio-encefálica sem alterações. Ao exame objectivo oftalmológico apresentava: AV ODE sem correcção 1/10; AV ODE com estenopéico 10/10; reflexos pupilares normais, biomicroscopia e fundoscopia sem alterações; PIO OD/OE: 14/15 mmHg. Realizou angiografia fluoresceínica que não mostrou alterações. Com os dados da história clínica, exame objectivo e exames complementares de diagnóstico as hipóteses mais plausíveis são a miopia aguda induzida pelo topiramato e a miopia aguda induzida por crise de hiperglicemia. A hipótese de hiperglicémia em doente com Diabetes Mellitus inaugural/descomepensada é pouco provável uma vez que a doente é seguida regularmente pelo médico assistente e nega Diabetes Mellitus. Fez doseamento da glicémia: 90 mg/dl. O diagnóstico mais provável é, então, a miopia aguda induzida pelo topiramato. O topiramato é um anticonvulsivante classificado como monossacarídeo sulfamato substituído. O seu us tem demonstrado resultados satisfatórios em casos de epilepsia de difícil controlo, na prevenção e tratamento de crises de enxaqueca14,11, distúrbios bipolares do humor e até obesidade. Diversos efeitos adversos têm sido atribuídos à terapêutica com topiramato, tanto em crianças quanto adultos, geralmente no primeiro mês do tratamento e que podem tornar-se potencialmente graves3. As alterações oftalmológicas não são comuns, sendo que a mais alarmante o quadro de miopia aguda e glaucoma de ângulo fechado bilateral3-5,11. 2 - Que dados do exame objectivo/exames complementares de diagnóstico considera úteis? a) Refracção subjectiva e sob cicloplegia b) Gonioscopia c) OCT nervo óptico e campos visuais d) Todas as anteriores O mecanismo de acção deste síndrome não é totalmente conhecido. Vários autores acreditam que o processo acontece por efusão uveal devido a edema do corpo ciliar, com consequente anteriorização do diafragma irido-cristaliniano, levando à diminuição da profundidade da câmara anterior e encerramento do seio camerular, sem bloqueio pupilar6. Alguns autores sugerem que a miopia aguda pode também estar relacionada com a diminuição da inibição da anidrase carbônica causada pelo topiramato e com o edema do próprio cristalino5,7,9. Face a estas características a resposta correcta é a d) todas as anteriores. A refracção subjectiva e sob cicloplegia permite fazer o diagnóstico de miopia. A refracção estática após cicloplegia com ciclopentolato foi OD: -4,00 (-0,50x180º) e OE: -3,50 (-0,75x180º). Uma vez que a miopia surge frequentemente associada a glaucoma de ângulo fechado a gonioscopia é importante para avaliar o ângulo camerular e o OCT e os campos visuais fornecem informação sobre a lesão das fibras nervosas e perda de função visual. Na gonioscopia apresentava ângulo grau III/IV da classificação de Shaffer e o OCT e os campos visuais não mostraram alterações. Vol. 36 - Nº 4 - Outubro-Dezembro 2012 | 467 Bibliografia Fig. 1 | Angio-RMN CE e cervical: Dissecção da artéria carótida interna esquerda (seta). 3 - Tendo diagnosticado a situação, qual lhe parece a melhor atitude terapêutica? A miopia aguda induzida pelo topiramato é reversível com a suspensão do medicamento e, como tal, quando surge isolada a melhor atitude terapêutica é suspender o topiramento e aguardar. Quando, para além da miopia, o doente apresenta glaucoma agudo de ângulo fechado, devem ser administrados hipotensores oculares e hidratação vigorosa para normalizar a pressão intra-ocular2,12. 4 - Perante o quadro clínico e os exames complementares de diagnóstico o que diria à doente acerca do seu prognóstico visual? O prognóstico visual é bom uma vez que a miopia aguda é apenas transitória revertendo com a suspensão do topiramato. A normalização do quadro clinico ocorre dentro de 3 a 7 dias. Duas semanas após a suspensão do topiramato a doente apresenta AV ODE 10/10 sem correcção. 468 | Revista da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia 1. Asensio-Sánchez VM, Torreblanca-Agüera B, Martínez-Calvo S, Calvo MJ, Rodríguez R. Severe ocular side effects with Topamax. Arch Soc Esp Oftalmol. 2006;81(6):345-8. 2. Boentert M, Aretz H, Ludemann P. Acute myopia and angle-closure glaucoma induced by topiramate. Neurology. 2003;61(9):1306. Comment in Neurology. 2004;63(4):762; author reply 762. 3. Cereza G, Pedrós C, Garcia N, Laporte JR. Topiramate in non-approved indications and acute myopia or angle closure glaucoma. Br J Clin Pharma- col. 2005;60(5):578-9. 4. Chalam KV, Tillis T, Syed F, Agarwal S, Brar VS. Acute bilateral simultaneous angle closure glaucoma after topiramate administration: a case report. J Med Case Reports. 2008;2:1. 5. Chen TC, Chao CW, Sorkin JA. Topiramate induced myopic shift and angle closure glaucoma. Br J Ophthalmol. 2003;87(5):648-9. 6. Craig JE, Ong TJ, Louis DL, Wells JM. Mechanism of topiramate - induced acute- onset myopia and angle closure glaucoma. Am J Ophthalmol. 2004;137(1):193-5. 7. Desai CM, Ramchandani SJ, Bhopale SG, Ramchandani SS. Acute myopia and angle closure caused by topiramate, a drug used for prophylaxis of migraine. Indian J Ophthalmol. 2006;54(3):195-7. 8. Rhee DJ, Goldberg MJ, Parrish RK. Bilateral angle-closure glaucoma and ciliary body swelling from topiramate. Arch Ophthalmol. 2001;119(11):1721-3. Comment in Arch Ophthalmol. 2002;120(12):1775. 9. Sachi D, Vijaya L. Topiramate induced secondary angle closure glaucoma. J Postgrad Med. 2006;52(1):72-3. 10.Santaella RM, Fraunfelder FW. Ocular adverse effects associated with systemic medications: recognition and management. Drugs. 2007;67(1):75-93. 11.Stangler F, Prietsch RF, Fortes Filho JB. Glaucoma agudo bilateral em paciente jovem secundário ao uso de topiramato: relato de caso. Arq Bras Oftalmol. 2007;70(1):133-6. 12.Thambi L, Kapcala LP, Chambers W, Nourjah P, Beitz J, Chen M, LS. Topiramate - associated secondary angle- closure glaucoma: a case series. Arch Ophthalmol. 2002;120(8):1108. Comment on Arch Ophthalmol. 200;119(8):1210-1. Oftalmologia - Vol. 36: pp.469 Secção Histórica e Iconográfica - Histórias da Oftalmologia Portuguesa Orgulho e preconceito Responsável da Secção João Segurado IOGP - Instituto de Oftalmologia Gama Pinto Este último capítulo das histórias da história da oftalmologia a meu cargo, deveria ser um final feliz, uma sequela, como se diz agora, em linha com os outros artigos publicados. Um registo humorado de um episódio caricato do nosso dia-a-dia, uma memoria longínqua de um património a extinguir, ou extinto, porém, esgotei o stock, perdi a memória, surgiu o esperado vazio mental (que se adivinhava) e dada a insistência do nosso E.C. (Editor Chefe), vou arriscar um tema, que alguns, (desnatados certamente) considerarão reacionário, ou pior ainda elitista. “Bons costumes médicos”, entendidos como código de relação inter-pares, verdadeiro DNA, que transcrito desde logo ao jovem interno, fenotipado e cimentado na relação diária e saudável entre colegas. Falamos de hábitos, tradições, consolidados, por gerações, em anos de educação e respeito mutuo, traduzidos em gestos e comportamentos que surgindo, normalizados e espontâneos, regulam (ou deviam regular) as relações médicas. Fundados em qualidades técnicas e humanas bem definidas constituem um código universal, que dignifica quem o segue, ao mesmo tempo que transmite ao corpo clinico uma noção de solidariedade e compromisso que a todos envolve. As lideranças médicas, escolhidas inter-pares, sem interferência de poderes políticos ou administrativos formavam escolas, correntes de pensamento e acção a que nos orgulhávamos de pertencer. Ser Cirurgião dos Hospitais Civis de Lisboa, pertencer ao serviço do Dr. Luis Monteiro Baptista (o Patrão),Dr. João Viana Barreto ou Dr. Francisco Carlos da Maia, mesmo sendo o mais pequeno interno equivalia, a vestir a jaqueta de um famoso grupo de forcados ou ser membro de um típico e respeitável club vitoriano inglês. Curiosamente na nota de abertura do congresso da sofisticada Academia Americana de 2012 proferida em Chicago por Abraham Verghese, o tema foi “ the human touch a powerful old fashion tool that modern medicine is in danger of loosing…” Alguns destes comportamentos, começam a rarear quiçá por terem perdido o significado ou apenas porque deixou de haver “tempo”. Por exemplo, que bom seria ouvir de novo no Bloco Operatório o pedido de autorização para entrar, feito respeitosamente ao cirurgião mais velho presente, e ao anestesista, o cuidado de “pôr a mesa” a tempo para que a cirurgia se iniciasse mal o cirurgião o entendesse, e o anestesista assim o permitisse. A compostura durante toda a intervenção que se mantinha mesmo quando o rumo não era o pretendido. No fim, o agradecer a toda a equipa, começando pelos mais velhos e abrangendo toda a equipa fosse qual fosse o resultado. Nada disto acontecia por acaso, assim, termino fazendo votos para que novos Mestres surjam “eleitos” em função da sua competência, qualidades humanas e capacidade de liderança e que por sua vez estes sejam capazes de devolver o Humanismo ao Acto Médico cada vez mais condicionado por interesses pessoais e questões financeiras. DEIXEM-NOS SER apenas MÉDICOS João Segurado Vol. 36 - Nº 4 - Outubro-Dezembro 2012 | 469 Indicações aos Autores e Normas de Publicação Resumo Nota: consultar texto completo das normas de publicação em: www.spoftalmologia.pt/normas.publrevistaspo Oftalmologia é a revista oficial da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia (SPO) e publica de forma prioritária trabalhos de investigação básica e clinica, como artigos de revisão, artigos originais, casos clínicos, relacionados com oftalmologia nas suas diferentes especialidades, bem como temas de áreas de conhecimento fronteira com interesse para a prática médico-cirúrgica e processo clínico na perspectiva da governação clínica em oftalmologia. Processo Editorial 1. Condições gerais – Os artigos serão preferencialmente redigidos em português ou inglês. Poderão ser publicados artigos numa outra língua (espanhol ou francês). Uma vez recebidos os trabalhos, passarão ao editor da revista, que fará uma primeira avaliação editorial com o fim de comprovar a adequação no âmbito temático e de interesse para a revista e o cumprimento dos requisitos de apresentação formal exigidos nas normas de publicação. Caso contrário poderão ser liminarmente devolvidos ao autor para correção das deficiências com vista a nova apresentação. Uma vez o trabalho publicado todo o material enviado será destruído, pelo que não devem ser enviados originais. Os ficheiros de texto devem ser enviados em formato Word (.DOC ou .DOCX), com texto seguido e sempre com o mesmo tipo de letra. Devem ser dactilografados em Arial, tamanho 11, ou outro tipo de letra com tamanho equivalente, com espaçamento de 1,5 linhas. Os títulos e sub títulos deverão estar assinalados a negrito e em tamanho 12. A primeira página conterá somente os elementos descritos adiante na rubrica “Organização do Artigo”. O texto do artigo em tamanho 11 deverá ainda ser enviado simultaneamente em formato PDF, em 2 colunas (excepto o resumo em Português e Inglês) com as imagens, quadros e tabelas com legendas e bibliografia em tamanho 10 no local desejado do artigo e com ”layout” e número de páginas semelhante ao que aparecerá na revista. Os documentos submetidos para publicação serão propriedade da revista Oftalmologia da SPO transferindo os seus autores o direito de propriedade (copyright) a partir do momento que seja recebido pelo editor. Este direito manter-se-á até indicação do editor de que o artigo não será publicado. Nem o Conselho Redactorial nem a SPO se responsabilizam pelas opiniões e afirmações expressas na revista. Os trabalhos devem ser enviados em formato electrónico, por correio electrónico para o seguinte endereço: editor. [email protected] 2. Sistema de revisão por pares – Uma vez comprovado que o trabalho cumpre os requisitos formais, será enviado a avaliação por parte de dois ou mais revisores, de forma confidencial e anónima. Os autores receberão a informação da avaliação dos revisores, de forma anónima e através do editor, para que estes possam realizar as correções oportunas. A selecção dos revisores realiza-se através do conselho redatorial da revista, que têm em conta os méritos académicos, científicos e experiencia profissional, em cada uma das subespecialidades oftalmológicas, incluindo investigadores nacionais ou internacionais. 3. Política editorial – a decisão do Conselho Redactorial para aceitação-rejeição de um trabalho apresentado para publicação baseia-se nos seguintes factores: I. Originalidade: assunto e/ou método original, com informação valiosa e apresentação de resultados novos ou confirmação de resultados já anteriormente verificados. II. Actualidade e/ou novidade – tema que está na agenda das reuniões ou comunicações científicas ou é novo. III.Relevância – aplicabilidade dos resultados para a resolução de problemas concretos da prática oftalmológica. IV.Inovação e significância – avanço do conhecimento científico, técnico e/ou prática clínica. V. Fiabilidade e validade científica – boa qualidade metodológica evidenciada. VI.Apresentação – boa redacção e organização do texto (boa coerência lógica e apresentação do material). Vol. 36 - Nº 4 - Outubro-Dezembro 2012 | 471 Secções Organização do artigo 1. Editoriais e notas - Os editoriais e notas serão encomendados pelo editor da revista a quem considere oportuno ou da responsabilidade do editor. O convite faz-se acompanhar das normas especiais para publicação em cada caso. 2. Cartas ao editor - As contribuições para esta secção podem incluir comentários sobre artigos previamente publicados na revista ou comentários sobre outras matérias de interesse para oftalmologia. Esta correspondência estará sujeita à revisão por parte do editor e será publicada na medida em que o espaço, as prioridades e interesse o permitam. Não devem ultrapassar as 500 palavras. As cartas ao editor que versem sobre artigos previamente publicados terão direito de resposta. 3. Artigos de revisão e “guidelines” – O objectivo da secção é actualizar determinados temas de oftalmologia, discutir novos conceitos ou rever conceitos clássicos tendo em vista os novos avanços de diagnóstico e tratamento e a divulgação das boas práticas em oftalmologia. Deverão relacionar os conhecimentos científicos básicos com os clínicos. Serão encomendados pelo Conselho Redactorial a personalidades reconhecidas e ou grupos de trabalho. O convite faz-se acompanhar das normas especiais para publicação em cada caso. 4. Artigos originais – Podem incluir-se tanto trabalhos experimentais como clínicos, sempre que se trate de trabalhos de investigação. Os trabalhos de investigação devem ser inéditos e não podem ter sido submetidos para publicação em outra revista estrangeira indexada. Incluem-se nesta rubrica os prémios atribuídos no âmbito da SPO. 5. Comunicações curtas e casos clínicos – Deverão ser manuscritos resumidos descrevendo inovações técnicas e tecnológicas, manobras cirúrgicas inovadoras, aspectos de outras áreas do conhecimento relacionados com a prática oftalmológica, nomeadamente laboratório em Oftalmologia, Gestão, Economia da Saúde, Qualidade, Acreditação e Certificação, Ética médica e Gestão do risco em Oftalmologia, bem como casos clínicos com informação de prática clínica relevante. Serão temas variáveis em cada revista. 6. Histórias da História da Oftalmologia Portuguesa – Será uma rubrica curta realçando aspectos relacionados com personalidades ou acontecimentos da oftalmologia portuguesa. 7. Caso clínico mistério – Pretende-se uma secção interactiva entre Conselho Redactorial e os oftalmologistas e internos de oftalmologia. Deverá haver lugar a apresentação de sugestões diagnósticas e terapêuticas simulando as condições de efectividade da prática clínica perante um caso clínico de difícil resolução. 1. Página do titulo/identificação – (página separada) Contendo título do artigo, nome (s) dos (s) autor (es), serviço (s) hospitalar (es) e departamentos ou organismos onde foi realizada a investigação, títulos académicos e/ou hospitalares dos autores. Nesta página deve ainda figurar o endereço postal completo para envio de correspondência e o endereço electrónico do autor principal. Se o trabalho já tiver sido apresentado, indicar onde e em que data bem como a referência a prémio obtido se for o caso. Os autores deverão manifestar se têm algum interesse comercial no produto, equipamento ou processo e certificar que o trabalho não foi publicado e que cedem os direitos de autor à SPO. 2. Resumo – Em português e em Inglês com o máximo 250 palavras. Escritos num único parágrafo e com as seguintes partes: Objectivos, Desenho do estudo, Participantes, Métodos, Resultados primários e secundários, Conclusões. 3. Palavras chave – Duas listas de cinco palavras chave, em português e em inglês, que indiquem os principais assuntos focados no texto para fins de codificação no índex. 4. Texto – Recomenda-se que o texto tenha as seguintes secções separadas: Introdução, Material e Métodos, Resultados, Discussão; poderá ser necessário fazer adaptações a circunstâncias particulares, como por exemplo no caso de se tratar de um caso clínico. O autor deverá indicar no texto, em local apropriado, em numeração árabe e em superscript, as citações bibliográficas que fizer. É da exclusiva responsabilidade do autor a verificação da exactidão das referências bibliográficas e da sua colocação no texto. 5. Agradecimentos – Tanto a pessoas, como a entidades, quando tal for justificado. 6. Declaração de interesses financeiros 7. Bibliografia – De modo geral segue-se o sistema de Vancouver, com a diferença principal de que a lista das referencias bibliográficas deve ser alfabetada e subsequentemente numerada. Se houver mais de uma referencia do mesmo autor, serão indicadas em primeiro lugar aquelas em que o autor aparece isolado e só depois aquelas em que há mais que um autor. 8. Quadros, gráficos e figuras – são enviados em formato electrónico, em ficheiros separados do texto. Os quadros podem ser feitos num processador de texto ou numa folha de calculo (em Excel). Os gráficos devem ser feitos em PowerPoint ou em programa compatível. As figuras devem ser enviadas no formato .TIF ou .JPG, um ficheiro para cada imagem com qualidade de impressão (≥ 300 dpi). 9. Abreviaturas e símbolos – Só devem ser usadas abreviaturas de uso corrente. Se for imprescindível recorrer a abreviaturas menos usuais, na primeira vez em que o termo aparece no texto ele deve figurar por extenso, logo seguido pela abreviatura entre parêntesis. 472 | Revista da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia