Periodicidade: Diario Temática: Cultura Diário Notícias Classe: Informação Geral Dimensão: 1254 13­10­2014 Âmbito: Nacional Imagem: S/Cor Tiragem: 56361 Página (s): 34 sempre pronto a atacar embora ainda sonheviver noutro lado A sua mãe Cécile Teresa Gafeira prova velmente uma mexicana acultura da incitao filho amentir e a roubar também ela sonhando com o dia em que deixará a miséria As duas personagens amorais e violentas são o coração desta história e os dois atores estão à altura Teresa Gafeira mulher e atriz de Joaquim Benite falecido em 2012 tem nesta peça o seu renascimento e um papel à altura do seu talento É ela a que melhor nos dá aver a am biguidade entre o bem o humano e o animal que vive em todas as per sonagens de Koltès Tocando subtilmente em temas como o incesto a homossexualida de o suicídio a emigração clandes tina de África e da América do Sul para os Estados Unidos Cais Oeste traz para o palco uma violência físi ca e verbal constantes até chegar a uma cena de sexo explícito que faz a nossa experiência teatral chegar aos limites do insuportável Mas para Ivica Buljan o encenador croata convidado para fazer esta peça com os atores da Companhia de Teatro de Almada dar visibilida de a esta violência era fundamental Diogo Dória e Soraia Chaves são casal improvável em Cais Oeste Estreia Peça encenada pelo croata Ivica Buljan marcada pela violência Atores aprenderam noções de kungfu e viram filmes de Tarantino antes de começarem a trabalhar o texto JOANA EMÍDIO MARQUES Quando em 1983 Bernard Marie Koltès escreveu Cais Oeste jásabia que estava doente Condenado co mo quase todas as personagens que criou para o teatro uma gale ria de marginais gente na fronteira da animalidade lugares abando nados à escuridão e ao terror Co mo este cais de Manhattan que ins pirou o dramaturgo a escrever esta peça que está desde sábado no Tea tro Municipal Joaquim Benite em Almada pela mão do encenador croata Ivica Buljan Apeça que havia de estrear em França em 1985 pela mão do ence nador e cineasta Patrice Chéreau junta agora um par improvável Diogo Dória o ator do teatro puro do cinema de Manoel de Oliveira e Soraia Chaves a atriz de televisão e do cinema comercial que aqui se deixam transfigurar pelo teatro amoral violento e sem complacên cia de Bemard Marie Koltès Dória e Chaves sao Maurice e Monique o casal milionário em fuga não se sabe bem de quê embora haja a sugestão de corrupção e ban carrota que chega poracaso ao Cais Oeste que o autor conheceu nas suas viagens a Nova Iorque nos anos 1970 Este lugar abandonado onde a noite é contínua e do escuro sur gem mãos corpos movimentos de gente ou de ratos representa afron teira entre avida civilizada e o mun do selvagem onde só importa so breviver E a sobrevivência corise gue se negociando Não há aqui réstia de afetividade ou moral Há apenas o que cada um tem de ven der para continuar a sobreviver E aqui tudo se vende o relógio os sapatos o silêncio o corpo O corpo como moeda viva que serve apenas para comércio é o te ma central de toda a obra de Ber nard Marie Koltès O comércio é o esquema de vida que mais nos aproxima da realidade afirmava As relações que os seres humanos vão estabelecendo uns com os ou tros estão cadavez mais impregna das da ideologia mortal deste tem po o comércio afirmava Koltès que viria a morrer em 1989 sem sa como meio de vida a um caminho nar se mais e mais parecido com as representados no mundo Em Por ber como o mundo havia de tor suas peças Homossexual comunista Koltès teve uma carreira breve apenas 15 anos mais fulgurante no teatro francês e europeu e é considerado o Rimbaud do teatro e o seu principal renovador do final do século XX rompendo com as heranças de Brecht e Beckett pela sua constru ção de um universo simultanea mente hiperrealista e simbólico que toca o mais essencial do humano Apesar das suas escolhas de vida nunca as peças de Koltès tocam qualquer ideologia ou a defesa de qualquer grupo social Pelo contrá rio Ele odiava qualquer categoria sociológica como odiava o senti mentalismo do cinema ou os gue tos como folclore para artistas Depois de um começo difícil ele comparava a escolha do teatro sempre à beira do abismo O dra maturgo tem hoje cinco peças obri gatórias nos currículos escolares franceses e é um dos autores mais tugal Cais Oestejá tinha estreado em 1999 no Teatro Nacional São João no Porto com a peça a ser tra duzida pelo poeta surrealista Ernes to Sampaio a mesma que foi usada agorano Teatro deAlmada Uma história de violência Maurice que roubou e perdeu tu do quer agora morrer nas águas do rio Hudson Pede que lhe ponham pedras nos bolsos que o atirem à água é demasiado covarde para o fazer sozinho Os habitantes do ve lho barracão não lhe farão a vonta de até conseguirem espoliá lo de tudo o que tem até a civilidade Anoite é ahorados que sobrevivem no cais e se dedicam a negócios pa ralelos tráficos vários crimes Char lie PedroWalter é quem domina aquele espaço como um animal para encenar Koltès Por isso nos ensaios os atores aprenderam rudi mentos de kungfu e viram filmes do Tarantino antes de começarem a trabalhar o texto Era preciso que o corpo conhecesse a violência ti vesse dela uma memória que só de pois passaram às palavras explicou o encenadorBuljan é quase um es pecialista de obra do dramaturgo francês do qual já encenou cinco peças e foi ele quem descobriu o quanto Koltès foi influenciado pe los filmes de Bruce Lee e o cinema de HongKong daí esta opção por ensinar kungfu aos atores Cada personagem é portadora de uma história diz Buljan tem um percurso de desejosdeencon tros e desencontros por isso no fim da peça de duas horas e 20 minutos nenhuma daquelas figuras se man tém igual e todas crescem no senti do de se tomarem piores Mesmo a rapariga irmã de Charlie que bebe café para também ela conhecer o escuro em que vive o irmão e quer apenas sair dali vai sendo a pouco e pouco corrompida até ficar nua e ter como única coisa para trocar o seu próprio corpo Mas suspeitamos nem assim ela conseguirá sair da quele lugar abandonado pelos bar cos que seguem agora para Brook lyn e pela civilização A peça fica em cena até 2 de no vembro Hemingway em dezembro O próximo desafio do Teatro Joa quim Benite é a encenação do con to AsNeves deKilimanjaroáo escri tor americano Ernest Hemingway numa dramaturgia que incluirá ou tros textos do autor O espetáculo que se estreará em dezembro será encenado por Rodrigo Francisco numa coprodução com o D II e terá Pedro Lima LuísVicente e Ri ta Loureiro como protagonistas