UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOMÉDICAS MESTRADO ACADÊMICO DE CIÊNCIAS FISIOLÓGICAS VICTOR MARTINS GOMES INOTROPISMO CARDÍACO POSITIVO INDUZIDO POR F9; PAPEL DA PROTEÍNA QUINASE A E RECEPTOR 2 DE RIANODINA. FORTALEZA-CEARÁ 2012 VICTOR MARTINS GOMES INOTROPISMO CARDÍACO POSITIVO INDUZIDO POR F9; PAPEL DA PROTEÍNA QUINASE A E RECEPTOR 2 DE RIANODINA. Dissertação submetida à Banca do Mestrado acadêmico de Ciências Fisiológicas do Centro de Ciências da Saúde, da Universidade Estadual do Ceará, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Ciências Fisiológicas. Orientador: Prof.Dr.Nilberto Robson Falcão do Nascimento FORTALEZA-CEARÁ 2012 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Universidade Estadual do Ceará Biblioteca Central Prof. Antônio Martins Filho G633i Gomes, Victor Martins. Inotropismo cardíaco positivo induzido por F9: papel da proteína Quinase A e Receptor 2 de Rianodina / Victor Martins Gomes. – 2012. 114 f. : il. color., enc. ; 30 cm. Dissertação (Mestrado) – Universidade Estadual do Ceará, Centro de Ciências da Saúde, Curso de Mestrado Acadêmico em Ciências Fisiológicas, Fortaleza, 2012. Área de Concentração: Fisiologia. Orientação: Prof. Phd. Nilberto Robson Falcão do Nascimento. 1. Fisiologia. 2. Proteína Quinase A. 3. Receptor de Rianodina. I. Título. CDD: 574.1 VICTOR MARTINS GOMES INOTROPISMO CARDÍACO POSITIVO INDUZIDO POR F9; PAPEL DA PROTEÍNA QUINASE A E RECEPTOR 2 DE RIANODINA. Dissertação submetida à Banca do Mestrado acadêmico de Ciências Fisiológicas do Centro de Ciências da Saúde, da Universidade Estadual do Ceará, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Ciências Fisiológicas Aprovada em ___/___/___ Conceito: Nota: BANCA EXAMINADORA __________________________________________ Prof. Dr. Nilberto Robson Falcão do Nascimento (Orientador) Universidade Estadual do Ceará __________________________________________ Prof.Dr.Manassés Claudino Fonteles Universidade Estadual do Ceará __________________________________________ Profa.Dra.Cláudia Ferreira Santos (Suplente) Universidade Estadual do Ceará What a Wonderful World I see trees of green, red roses too I see them bloom for me and you And I think to myself, what a wonderful world I see skies so blue and clouds of white The bright blessed days, the dark sacred night And I think to myself, what a wonderful world The colors of the rainbow, so pretty in the sky Are also on the faces of people going by I see friends shaking hands, saying, "how do you do?" They're really saying, "I love you" I hear babies cry, I watch them grow They'll learn much more, than I'll never know And I think to myself, what a wonderful world Yes, I think to myself, what a wonderful world Louis Armstrong AGRADECIMENTOS Primeiramente agradeço a Deus por todo apoio que tem me dado em todas as horas durante esses anos de pesquisa. Segundo lugar, eu gostaria de agradecer a minha mãe, Maria de Fátima V.Martins Gomes, e meu pai, José Orestes Ponciano Gomes, por todo o apoio familiar nos congressos, nos experimentos até tarde, e na minha faculdade como um todo. Incluo nesse parágrafo o grande amor da minha vida que já faz parte também da minha família, minha namorada Gabriela Messias de Araújo, um arcanjo cujas qualidades não caberiam nesse manuscrito. Agradeço profundamente ao meu orientador Nilberto Robson Falcão do Nascimento e sua Esposa Cláudia Ferreira Santos, cujo brilhantismo do saber nos inspira a crescer na carreira científica e acadêmica. Aqui incluo também Dr. Manassés Claudino Fonteles que com sua força e determinação, fomentou a pesquisa no Ceará, formando núcleos de excelência tanto na UFC quanto na UECE. E também devo minha parte de gratidão a Profa.Lucília nos conselhos , dúvidas e ideias que compartilhamos.Agradeço também ao Prof.Dr.Roberto Takashi Sudo por ter aceitado o convite à banca de mestrado. Todos os meus amigos do laboratório sempre irão ter um lugar especial para mim, com destaque para; Hilana Cahína, Paula Priscila, Luciana Amorim e Rafael Campos. RESUMO A terapêutica para Insuficiência cardíaca ainda não possui uma terapêutica inotrópica para a melhora da qualidade e expectativa de vida. Uma mistura esteroidal assim com seus compostos isolados de Physalin angulata (Família Solanacea), F9 e F13 foram testados in vivo, e in vitro, em tecidos cardíacos de cobaios. Curvas de concentração-resposta (0.2 to 200 μM) foram feitas tanto em batimentos espontâneos de átrio direito isolado quanto em átrio esquerdo estimulado eletricamente (supramáxima, 10 ms e 0,1Hz).Os parâmetros avaliados foram amplitude máxima, tempo para atingir a resposta máxima e tempo para atingir 80% do relaxamento.Os efeitos de F9 no átrio foram avaliados na presença ou ausência de propranolol (1 μM), verapamil (0.1 μM), estaurosporina (0.1 μM) , H89 (10 μM) e em condições de acidose ou acidose+ Verapamil (0.1 μM).Experimentos em fibra cardíaca permeabilizada foram feitos para o estudo do mecanismo de ação de F9 sobre Src-NKA, IP3R, RYR e tirosinas quinases.Para avaliar a ação de F9 sobre a mobilização de cálcio celular foram feitos protocolos para carregamento de Ca2+, liberação de Ca2+ e sensibilidade das proteínas contráteis ao Ca2+(pCa 7.0– 4.8). Os efeitos hemodinâmicos da infusão F9(25 µg/Kg/min) foram comparados ao isoproterenol (1 µg bólus), sendo avaliados parâmetros como pressão intraventricular máxima, dP/dt máxima, dP/dT mínima, débito cardíaco, fração de ejeção , tau, tempo de duração da diástole e frequência cardíaca. F9 e F13 aumentaram a tensão em átrio esquerdo (346.97 ± 33.82% e 312.72 ± 98.63 %, respectivamente, sem eventos arritmogênicos, efeitos cronotrópicos ou tonotrópicos positivos para F9. Este fenômeno não foi afetado em tecidos pré-tratados com propranolol, estaurosporina ou verapamil. Porém, houve 91.8% de inibição do efeito inotrópico positivo em átrios previamente incubados com H89 (n=5), um inibidor de PKA. F9 (10 μM) evocou uma contração máxima de 53% em relação pCa 4.8( 0.25 μM Ca2+) em fibra permeabilizada.O composto não afetou o deslocamento da curva de carregamento e cálcio nem a sensibilidade dos miofilamentos ao Ca2+.O aumento de tensão promovido por F9 não foi bloqueado por xestospogina C (3μM) ou herbimicina A (1μM), ao passo que foi bloqueado por rutênio vermelho (30μM). F9 promoveu o aumento de parâmetros in vivo como Pressão Intraventricular Máxima, dP/dt máxima, dP/dT mínima, débito cardíaco, fração de ejeção , duração diastólica enquanto diminuiu a frequência cardíaca e o tau .O efeito de F9 parece ser depende de um aumento de fosforilação em RYR2 através da ativação de PKA independentemente de AMPc. Este projeto foi aprovado pelo comitê de ética com o número de protocolo: 08627944-0 Palavras Chave:F9, Proteína Quinase A, Receptor de Rianodina. ABSTRACT Long-term positive cardiac inotropic therapy to heart failure that increases both life quality and expectancy is still lacking. Phytosteroids mixture, isolated from Physalis angulata (Solonacea), as there isolated compounds, F9 and F13 were probed in guinea-pig cardiac tissues in vitro and in vivo. Concentration response curves (0.2 to 200 μM) were performed in both spontaneous beating right atria and electrically driven left atria (supramaximum, 10 ms e 0,1 Hz). The parameters evaluated were: time to reach peak tension, 80% relaxation time and maximum amplitude in atrial tissues. The effects of F9 in the atria were evaluated either in the absence or presence of propranolol (1 μM), verapamil (0.1 μM), staurosporine (0.1 μM) and H89 (10 μM). Saponin-skinned fibers were studied in order to further study its mechanism of action under Src-NKA, IP3R, RYR and Tyrosine Kinases inhibition. Protocols to Ca2+ loading, Ca2+ release and Ca2+ sensitivity (pCa 7.0 – 4.8) were performed to investigate if F9 could be acting on cell Ca2+ mobilization. F9 hemodynamic effects were investigated through Millar Hemodynamic system by infusion (25 µg/Kg/min) compared to isoproterenol 1 µg bolus. Ventricular Max Pressure, Max dP/dt, Min dP/dt, Cardiac Output, Ejection Fraction, tau, diastolic duration and Heart Rate were evaluated. F9 and F13 increased left atria tension to 346.97± 33.82% and 312.72 ± 98.63 %, respectively, without any remarkable arrhythmogenic, chronotropic or tonotropic effect. This positive inotropic effect was not affected by pretreating tissues with propranolol, staurosporine or verapamil. Nevertheless, this effect was blunted by 91.8% by H89 (n=5) a PKA inhibitor. F9 (10μM) evoked a contraction of trabecular skinned fiber that attained 53% of the maximal contraction achieved with 0.25 μM Ca2+. This compound did neither affect Ca2+ loading nor shifted significantly the sensitivity of contractile proteins to Ca2+. The increase in tension promoted by F9 in skinned fibers was not blocked by xestospongin C (3μM) or herbymicin A (1μM) but was blunted by either ruthenium red (30μM). F9 does neither affect cAMP levels. F9 increased in vivo parameters as ventricular max pressure, max dP/dT, min dP/dt, cardiac output and ejection fraction, while decrease heart rate. The positive cardiac inotropic effect of F9 seems to be dependent of activation of PKA and RYR2 phosphorylation cAMP independent. CEUA protocol number: 08627944-0. Keywords:F9, Protein Kinase A, Ryanodine Receptor LISTA DE FIGURAS Figura 1: Dedaleira roxa (Digitalis purpurea L.) Figura 2: Estrutura química da digoxina . Figura 3. Representação do processo de acoplamento excitação contração cardíaco. Figura 4: Estrutura de miócitos cardíacos ventriculares e atriais de rato. Figura 5: Sinalização de Ca2+ durante um acoplamento excitação contração atrial. Figura 6:Dependência de cálcio de receptores de rianodina de músculo esquelético e cardíaco . Figura 7: Physalis angulata em seu habitat natural. Figura 8: Estruturas químicas de compostos originados por plantas do gênero Physalis. Figura 9: Protocolo para liberação de cálcio na Fibra permeabilizada. Figura 10: Protocolo para sensibilidade das fibras contrateis ao cálcio na Fibra permeabilizada. Figura 11: Protocolo para captação ao cálcio na Fibra permeabilizada. Figura 12: Efeito da infusão de F9 e injeção de Isoproterenol sobre pressão ventricular máxima desenvolvida no ventrículo esquerdo de cobaio. Figura 13: Efeito da infusão de F9 e injeção de Isoproterenol sobre o incremento máximo na pressão ventricular (dP/dT máxima) e decremento máximo da pressão ventricular máxima (dP/dT mínima) desenvolvida no ventrículo esquerdo de cobaio. Figura 14: Efeito da infusão de F9 e injeção de Isoproterenol sobre a fração de ejeção, Frequência cardíaca, Débito cardíaco, Tempo para diástole e tau em cobaio. Figura 15: Efeito F9 sobre a relação força-frequência em batimentos espontâneos de átrio direito de cobaio. Figura 16: Efeito de PHY, F9, F13, Ouabaína, Digoxina e veículo sobre o tempo para atingir o pico máximo no átrio esquerdo de cobaio estimulado eletricamente. Figura 17: Efeito de PHY, F9, F13, Ouabaína, Digoxina e veículo sobre o tempo para atingir 80% do relaxamento átrio esquerdo de cobaio estimulado eletricamente. Figura 18: Registro das contrações em átrio esquerdo em átrio esquerdo isolado de cobaio estimulado eletricamente na curva cumulativa dose- resposta de DMSO. Figura 19: Registro das contrações em átrio esquerdo em átrio esquerdo isolado de cobaio estimulado eletricamente na curva cumulativa dose- resposta de PHY . Figura 20: Registro das contrações em átrio esquerdo em átrio esquerdo isolado de cobaio estimulado eletricamente na curva cumulativa dose- resposta de F9 Figura 21: Registro das contrações em átrio esquerdo em átrio esquerdo isolado de cobaio estimulado eletricamente na curva cumulativa dose- resposta de F13. Figura 22: Registro das contrações em átrio esquerdo isolado de cobaio estimulado eletricamente na curva cumulativa dose- resposta de Ouabaína . Figura 23: Registro das contrações em átrio esquerdo isolado de cobaio estimulado eletricamente . Figura 24: Efeito de PHY, F9, F13, Ouabaína, Digoxina e Veículo sobre a força de contração de átrio esquerdo de cobaio estimulado eletricamente . Figura 25: Registro das contrações em átrio direito isolado de cobaio na curva cumulativa dose- resposta de F9 sob ação de propranolol (10 -6 M). Figura 26: Registro das contrações em átrio direito isolado de cobaio na curva cumulativa dose- resposta de F9 sob ação de verapamil (10 -7 M). Figura 27: Efeito de F9, F9 + Propranolol (1 µM) e F9 + Verapamil ( 100 nM ) sobre a força de contração de átrio direito de cobaio . Figura 28: Registro das contrações em átrio esquerdo isolado de cobaio estimulado eletricamente na curva cumulativa dose- resposta de F9 em condição de acidose (pH 6.5). Figura 29: Registro das contrações em átrio esquerdo isolado de cobaio estimulado eletricamente na curva cumulativa dose- resposta de F9 em condição de acidose (pH 6.5) incubado com verapamil( 10 -7 M). Figura 30: Registro das contrações em átrio esquerdo isolado de cobaio estimulado eletricamente na curva cumulativa dose- resposta de F9 sob ação de H89 ( 10 μM). Figura 31: Registro das contrações em átrio esquerdo isolado de cobaio estimulado eletricamente na curva cumulativa dose- resposta de F9 sob ação de estaurosporina (100 nM). Figura 32: Efeito de F9, F9 + H89 (10 µM) e F9 + estaurosporina (100 nM ) sobre a força de contração de átrio esquerdo de cobaio . Figura 33: A. Incremento inotrópico em átrio esquerdo de cobaio sob ação de, F9, Veículo e Forscolina . Figura 34: Registro original de experimento feito com fibra permeabilizada de cobaio para protocolo de liberação de cálcio mediante administração de F9. Figura 35: Efeito de F9 na liberação de cálcio em fibras permeabilizadas de cobaio. Figura 36: Registro original de experimento feito com fibra permeabilizada de cobaio para protocolo de liberação de cálcio mediante administração de F9. Figura 37: Efeito de F9 na sensibilização das proteínas contráteis ao cálcio em fibras permeabilizadas de cobaio. Figura 38: Efeito de F9 na captação de cálcio em fibras permeabilizadas de cobaio. Figura 39: Efeito de F9 na liberação de cálcio em fibras permeabilizadas de cobaio na presença ou ausência de Xestonpongina C (3 µM). Figura 40: Efeito de F9 na liberação de cálcio em fibras permeabilizadas de cobaio na presença ou ausência de Herbimicina A (100 µM). Figura 41: Efeito de F9 na liberação de cálcio em fibras permeabilizadas de cobaio na presença ou ausência de Rutênio Vermelho (30 µM). LISTA DE TABELAS Tabela 1: Efeito na frequência de contração em átrio direito isolado de cobaio promovido por PHY, F9, F13 e Ouabaína e Veículo. Tabela 2: Efeito de F9, Digoxina e Ouabaína sobre força basal no átrio esquerdo de cobaio estimulado eletricamente . LISTA DE ABREVIATURAS SUS-MS Sistema Único de Saúde e Ministério da Saúde ICS Insuficiência Cardíaca Sistólica NKA Na+,K+-ATPase AMPc Monofosfato cíclico de adenosina PDE Fosfodiesterase SERCA2a Ca2+ ATPase do Retículo Sarcoplasmático tipo 2a AVV Vírus Adeno-Associados DHPR receptor de Diidropiridina RYR1 receptor de rianodina tipo 1 RYR2 receptor de rianodina tipo 2 RYR3 receptor de rianodina tipo 3 FRET Ressonância de fluorescência por transferência de energia ATP trifosfato de adenosina CIRC Liberação de cálcio mediada por cálcio ms millisegundo µM micromolar IP3R Receptor de inositol-1,4,5-trifosfato IP3 inositol-1,4,5-trifosfato IP3R1 Receptor de inositol-1,4,5-trifosfato tipo 1 IP3R2 Receptor de inositol-1,4,5-trifosfato tipo 2 IP3R3 Receptor de inositol-1,4,5-trifosfato tipo 3 MDa Megadaltons kDa quilodaltons CaM Cálcio- calmodulina CaMK Cálcio- calmodulina quinase PKA Proteína quinase dependente de AMPc AKAP Proteína ancoradoura de PKA IL-2 Interleucina tipo 2 TNF-α Fator de necrose tumoral tipo α PHY Mistura de frações dP/dt derivada da pressão ventricular pela derivada do tempo UFC Universidade Federal do Ceará CEUA Comitê de Ética para Uso de Animais UECE Universidade Estadual do Ceará LASSBio Laboratório de Avaliação de Substâncias Bioativas BPM Batidas por minuto EGTA ácido tetracético etilenoglicol DMSO Dimetil Sulfóxido TCA Ácido tricloroacético RPM Rotações por minuto pCa -Log[Ca2+] p0 Padrão controle para fibra permabilizada referente a um pCa de 4.8 ECG Eletrocardiograma DII Derivação II FC Frequência cardíaca ANOVA Análise de Variância TR80 Tempo para atingir 80% do relaxamento Tmáx Tempo para atingir o pico da contração PK Proteína dependente de Cálcio PKA Proteína dependente de AMPc IBMX 3-isobutil-1-metil-xantina mL Mililitro RPM Rotações por minuto ANOVA Análise de Variância e.p.m Erro padrão da média mmHg Milímetros de mercúrio SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 20 2 REVISÃO DE LITERATURA 22 2.1 Fisiopatologia da Insuficiência Cardíaca Sistólica 22 2.2 Epidemiologia da Insuficiência cardíaca 23 2.3 Terapêutica atual 24 2.3.1 Digitálicos 25 2.3.2 Agonistas β1 adrenérgico 27 2.3.3 Inibidores de fosfodiesterase 27 2.3.4 Sensibilizadores ao cálcio 29 2.4 Inotrópicos sob investigação 30 2.4.1 Novos Inibidores de Na+,K+-ATPase 30 2.4.2 Ativadores da Miosina Cardíaca 30 2.4.3 Ativadoras da SERCA2a 31 2.5 Fatia de Mercado 31 2.6 Perfil do paciente cardiopata 32 2.7 Acoplamento excitação contração 34 2.7.1 Histórico 34 2.7.2 Fisiologia do Processo de Acoplamento Excitação contração 35 2.8 Liberação de cálcio induzida por cálcio (CIRC) 39 2.9 A liberação de cálcio via IP3R 41 2.10 Liberação de cálcio via RYR 42 2.10.1 Estrutura e modulação do receptor 44 2.11 Modulação por Acidose 45 2.12 Modulação Por Proteína Quinase A 46 3 Gênero Physalis 47 3.1 Atividades Biológicas 50 3.1.1 Atividade antimicrobiana 50 3.1.2 Imunomoduladora 50 3.1.3 Moluscicida 50 3.1.4 Anti-inflamatória 51 3.1.5 Antitumoral 51 4 JUSTIFICATIVA 52 5 HIPÓTESE 53 6 OBJETIVOS 54 6.1 Objetivo Geral 54 6.2 Objetivos Específico 54 7 MATERIAL E MÉTODOS 55 7.1 Animais 55 7.2 Material cirúrgico 55 7.3 Soluções e Reagentes 55 7.4 Cirurgia 56 7.5 Protocolo 57 7.5.1 Átrio Isolado 57 7.5.2 Medição dos níveis intracelulares de AMPc 58 7.5.3 Fibra Permeabilizada 58 7.5.4 Hemodinâmica Sistêmica 64 7.6 Análise estatística 64 8 RESULTADOS 66 8.1 Avaliação do efeito de F9 na Hemodinâmica Sistêmica de cobaio 66 8.1.1 Pressão Ventricular 66 8.1.2 dP/dT 66 8.1.3 Fração de Ejeção, Débito Cardíaco, Frequência Cardíaca , tempo de duração da diástole, tau. 67 8.2 Avaliação do efeito de PHY, F9, F13, Veículo e Ouabaína na frequência cardíaca em átrio direito de cobaio. 69 8.3 Avaliação do efeito de F9 na relação força- frequência cardíaca em átrio direito de cobaio. 71 8.4 Avaliação do efeito de PHY, F9, F13, Veículo, Ouabaína e Digoxina no tempo para atingir pico máximo (Tmáx) e para relaxar 80% da contração (TR80) em átrio esquerdo. 72 8.5 Avaliação do efeito de PHY, F9, F13, Veículo e Ouabaína na força máxima desenvolvida em átrio esquerdo de cobaio. 74 8.6 Avaliação do Efeito de F9 quanto na força máxima desenvolvida em átrio esquerdo de cobaio sob ação de inibidor de Proteína Quinase dependente de AMPc (PKC) e Proteína Quinase dependente de Ca2+. 81 8.7 Avaliação do efeito de F9 e Ouabaína sobre o tonotropismo em átrio esquerdo de cobaio. 84 8.8 Avaliação do efeito de F9, PHY, Forscolina e Veículo sobre os níveis intracelulares de AMPc. 85 8.9 Avaliação da mobilização de cálcio em cardiomiócito de cobaio sob ação de F9 86 8.9.1 Protocolo de Liberação de Cálcio 86 8.9.2 Protocolo de Sensibilização ao cálcio 88 8.9.3 Protocolo de Captação de cálcio 90 8.10 Bloqueio Farmacológico 90 8.10.1 Xestonpongina 90 8.10.2 Herbimicina A 91 8.10.3 Rutênio Vermelho 92 9 DISCUSSÃO 93 10 REFERÊNCIAS 101 11 ANEXOS 118 1.INTRODUÇÃO Alterações do estado fisiológico do sistema cardiovascular tornando-o um dos principais alvos em todo o mundo na terapêutica de patologias relacionadas a este órgão. Atualmente, patologias relacionadas ao sistema cardiovascular estão entre as principais causas de morte, superando doenças como malária, HIV/AIDS e tuberculose, tornando-se assim, fator de risco tanto em nações industrializadas quanto em desenvolvimento no ocidente (FUSTER & VOUTE, 2005; REDDY & YUSUF, 1998). Além do alto custo demandado, o mercado farmacêutico para drogas cardiovasculares não dispõem de medicamentos seguros farmacologicamente em uma terapia a longo prazo para o incremento e manutenção de um debito cardíaco satisfatório. Agentes inotrópicos como agentes beta-agonistas, inibidores de fosfodiesterase, sensibilizadores ao cálcio e digitálicos (OVERGAARD & DZAVÍK, 2008; FRAGA & ELIEZER 1996) atuam diretamente nos componentes envolvidos no processo de acoplamento excitação - contração. A prospecção de novos alvos moleculares no âmbito do acoplamento excitação contração possibilita o surgimento de novas formas de abordagem farmacológica para o desenvolvimento de fármacos mais específicos. A caracterização farmacodinâmica de compostos no sistema cardiovascular envolve vários conceitos. O aumento da força de contração (Inotropismo) se faz necessária para a manutenção do débito cardíaco no paciente cardiopata. A manutenção da velocidade de relaxamento dessa contração (Lusitropismo) é importante para a conservação da tensão diastólica desse paciente, e consequentemente, da fração de ejeção. A manutenção da ritmicidade das contrações (Cronotropismo) indica uma estabilização no consumo de oxigênio pelo miocárdio. Os vitaesteróides constituem uma classe de substâncias com estrutura química semelhante aos derivados do ergostano (RAY & GUPTA, 1994), na qual estão incluídas as fisalinas. As Fisalinas B e F possuem uma gama de atividades biológicas já descritas, como imunomoduladora em cultura de macrófagos (SOARES et al, 2003), antiinflamtória em modelo de isquemia intestinal e injúria por reperfusão (VIEIRA et al, 2005), atividade imunosupressiva (SOARES et al, 2006), porém não existem estudos até o presente momento da ação dessas substâncias no sistema cardiovascular. Assim, faz necessário a caracterização a nível de efeito farmacodinâmico de Fisalina F e Fisalina B no processo do acoplamento excitação-contração cardíaco, bem como seu mecanismo de sinalização molecular , podendo, então, iniciar um passo para o planejamento de novos fármacos a partir de uma molécula base, constituindo uma alternativa terapêutica no tratamento de diversas patologias cardíacas. 2. REVISÃO DE LITERATURA 2.1 Histórico da Insuficiência Cardíaca Sistólica Manuscritos e relatos antigos já descreviam eventos de falecimento devido a sintomas semelhantes à insuficiência cardíaca em várias civilizações como egípcia, grega e indiana, e era sabido que os romanos faziam uso de uma planta chamada “dedaleira” (Digitalis purpurea) (Figura 1) como medicamento. Após a descrição da circulação sanguínea em 1628 por William Harvey, a natureza da insuficiência cardíaca pôde ser mais bem compreendida. O avanço tecnológico com a descoberta dos raios-x por Röntgen, o desenvolvimento da eletrocardiografia por Einthöven por volta de 1890, e os adventos da tecnologia moderna como ecocardiografia, cateterismo cardíaco e a medicina nuclear têm, desde então, melhorado o diagnóstico e a investigação dos pacientes portadores de insuficiência cardíaca (DAVIS et al, 2000). A sangria e a utilização de sanguessuga com caráter medicinal para o tratamento dessa patologia foram empregadas largamente por séculos, tendo médico e botânico William Withering publicado seu relatório sobre os benefícios da digitalis em 1785 no tratamento da hidropsia e outras doenças. Verificava-se que após a administração de extratos da dedaleira, seguia-se um potente efeito diurético, benéfico sobre a retenção de líquidos, sintoma presente nos pacientes tratados (WITHERING, 1975). Figura 1: Dedaleira roxa (Digitalis purpurea L.) Fonte: http://www.henriettesherbal.com 2.2 Epidemiologia da Insuficiência cardíaca O cenário atual frente à propagação de doenças cardiovasculares em todo o mundo nos mostra que as mesmas permanecem como causa líder de morte, a frente de doenças como malária, HIV/AIDS e tuberculose (GERSH et al, 2010) A prevenção da insuficiência cardíaca é uma questão urgente de saúde pública com importância nacional e internacional. Estudos epidemiológicos mostram que a insuficiência cardíaca é um importante problema de saúde pública nos Estados Unidos. De acordo com a Sociedade Americana do Coração, é estimado que 550.000 novos casos apareçam a cada ano. Mais de 5 milhões de americanos tem insuficiência cardíaca , sendo causa líder de hospitalizações. Estima-se que em 2007, segundo a Sociedade Americana de Cardiologia, mais de U$ 33 bilhões tenham sido gastos com o tratamento de pacientes com insuficiência cardíaca (SHOCKEN et al, 2008). No Brasil, em 2007 a IC foi responsável por 2,6% das hospitalizações e por 6% dos óbitos registrados pelo SUS-MS no Brasil. Entre grupos de idades, a insuficiência cardíaca se mostra como principal causa de morte em idosos, em segmento de 60-80 anos, sendo seguida por outras doenças como Diabetes mellitus e pneumonia (INDICADORES SOCIODEMOGRÁFICOS E DE SAÚDE NO BRASIL, 2009). No Brasil, a mortalidade intra-hospitalar por insuficiência cardíaca em hospitais do SUS variou de 5,6% a 6,0% do ano 2000 a 2002 (I DIRETRIZ LATINO- AMERICANA PARA AVALIAÇÃO E CONDUTA NA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA DESCOMPENSADA, 2005). Apesar dos enormes avanços no entendimento e tratamento da insuficiência cardíaca nos últimos anos, esta ainda permanece como uma das doenças mais prevalentes no Brasil e no Nordeste em relação à população idosa. O Nordeste foi a segunda região com maior número de internações realizadas por Insuficiência cardíaca nos anos de 2000 a 2007 (III DIRETRIZ BRASILEIRA DE INSUFICIÊNCIA CARDÍACA CRÔNICA, 2009) 2.3 Terapêutica atual O tratamento da insuficiência Cardíaca Sistólica atualmente objetiva prolongar a vida do paciente e melhorar a qualidade de vida do mesmo. As modalidades do tratamento para insuficiência cardíaca sistólica podem ser subdivididas em tratamentos não farmacológicos, os tratamentos farmacológicos e procedimentos mecânicos-cirúrgicos. Os tratamentos não farmacológicos incluem a otimização do nível de atividade física de acordo com a situação clínica do paciente, regulação do consumo de sal e de líquidos, restringida de acordo com a superfície corporal, na busca de um estado normovolêmico, e medidas nutricionais com uma dieta protéico-calórica adequada as comorbidades do paciente (GHEORGHIADE, 2004). Os tratamentos farmacológicos da insuficiência cardíaca são realizados através do uso combinado de várias classes de medicamentos tais como digitálicos, beta-bloqueadores adrenérgicos, antagonista da aldosterona, antagonistas dos receptores de angiotensina II, inibidores da enzima conversora de angiotensina inibidores de fosfodiesterase(GHEORGHIADE et al, 2004; FIGUEIREDO & MACHADO, 2010). Várias intervenções cirúrgicas como revascularização do miocárdio, restauração ventricular, ressincronização ventricular, cirurgia da valva mitral, transplante cardíaco e terapia celular são consideradas na correção de complicações derivadas da condição de Insuficiência Cardíaca Sistólica, como por exemplo, infarto agudo do miocárdio, cardiomiopatia isquêmica, valvulopatias, arritmias e bloqueios (I DIRETRIZ LATINO-AMERICANA PARA AVALIAÇÃO E CONDUTA NA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA DESCOMPENSADA, 2005; EXECUTIVE SUMMARY: HFSA 2010 COMPREHENSIVE HEART FAILURE PRACTICE GUIDELINE, 2010). Atualmente, a terapia medicamentosa para o tratamento da ICS faz uso de várias classes de medicamentos: 2.3.1 Digitálicos Aproximadamente 1,7 milhões de pacientes nos Estados Unidos com insuficiência cardíaca ou fibrilação atrial recebem digoxina, permanecendo como um dos medicamentos mais prescritos para pacientes com insuficiência cardíaca. A digoxina , considerada uma glicosídeo digitálico, pode ser dividida em duas regiões distintas quimicamente; uma parte esteróide, chamada aglicona ou genina e uma parte glicosídica, ligada à genina pela hidroxila ß do carbono 3 (Figura 2) (BAGROV & SHAPIRO, 2008).Existem similitudes na base estrutural entre compostos da classe das fisalinas e digoxina, possuindo o grupamento como grupamento em comum, porém sem correspondência farmacológica. Figura 2: Estrutura química da digoxina (adaptado de HIRABAYASHI, 2011) e Fisalina B. Inicialmente descoberta por Jens Christian Skou em 1965, a bomba Na+,K+ ATPase (NKA) está presente nas membranas plasmática de todas as células (SKOU,1965) configurando-se dois estados estacionários, E1 e E2, em um ciclo que recebe energia da hidrólise de uma molécula de ATP para a mudança de conformação. Os esteróides digitálicos se ligam a NKA quando está permanece no estado estacionário E2, onde NKA está voltada para o meio extracelular, liberando Na + para o meio extracelular e expondo os sítios de alta afinidade por K+. Assim, a ligação ao estado E2 impede a mudança conformacional para E1 e assim, a manutenção do gradiente eletroquímico. A inibição de NKA aumenta a concentração intracelular de Na+, causando a inversão do trocador Na+- Ca2+, o que leva ao aumento do influxo de Ca2+ e o efluxo de Na+, resultando no aumento da concentração intracelular de Ca2+, uma disponibilidade maior de Ca2+ para a célula, e um aumento na força de contração miocárdica (SCHONER & SCHEINER-BOBIS, 2007). Além do efeito inotrópico causado pela digoxina, seu principal uso na insuficiência cardíaca se deve aos efeitos benéficos que exerce na modulação das alterações neuro hormonais presentes na insuficiência cardíaca (GHEORGHIADE et al, 2004) Digoxina exerce diversos efeitos na modulação neuro hormonal. • Função Barorreceptora; em modelos de insuficiência cardíaca de baixo debito, existe uma atenuação da sensitividade de descarga do seio carotídeo.Uma atenuação dos barorreceptores para modular a ativação excessiva do sistema sismpático pode resultar no aumento dos níveis séricos de norepinefrina, vasopressina e ativação do sistema renina-angiotensina-aldosterona (HOLTZ,1987). A administração de digoxina produz uma melhora na função dos barorreceptores que resulta na diminuição da ativação do sistema nervoso simpático, além de provocar uma diminuição na síntese e secreção de renina, consequentemente, diminuindo a ativação do sistema renina-angiotensina- aldosterona. Essa ação pode ser relacionada a um efeito direto no rim (CHURCHILL, 1985), inibição da atividade simpática (THAMES, 1979) ou ativação do peptídeo natriurético atrial (LARAGH, 1985). • Efeito Simpático Inibitório; a digoxina tem um efeito simpático inibitório direto que não parece ser relacionado a um aumento do débito cardíaco produzido pelo fármaco. Por exemplo, dobutamina e digoxina causam um aumento similar no débito cardíaco na insuficiência cardíaca, mas somente o último diminui a descarga simpática. Ferguson em 1987 propõe 4 mecanismos em potenciais para a ação inibitória da digitais em pacientes com insuficiência cardíaca; uma ativação direta dos barorreceptores aórticos através do aumento da pressão arterial, ativação direta dos barorreceptores cardiopulmonares , uma ação inibitória mediada centralmente e uma sensibilização de mecanismos devido a uma ação de digitalis (FERGUSON, 1989). • Efeito Vagomimético; Digitalis tem mostrado em estudos efeito vagomimético relacionado a estimulação do núcleo central vagal e sensibilização de tecido cardíaco a acetilcolina exógena enquanto digoxina em doses terapêuticas aumenta o tônus vagal, diminuindo a condução sinoatrial e atrioventricular (SMITH, 1984). 2.3.2 Agonistas β1 adrenérgicos Os agonistas ß1 adrenérgicos tem sido vastamente usados para o tratamento da insuficiência cardíaca, sendo atribuída a sua ação à interação com receptores ß1 adrenérgicos presentes na musculatura cardíaca, responsáveis pelo efeito inotrópico positivo. Fármacos como a dobutamina e dopamina promovem a ativação dos receptores ß1 adrenérgicos, acoplados a enzima adenilil ciclase, aumentando os níveis de AMPc, e consequentemente , ativando a proteína quinase dependente de AMPc (PKA), que fosforila canais de Ca2+ presentes na membrana, causando o influxo de íons Ca2+ e também liberando grandes quantidades de Ca 2+ do retículo sarcoplasmático , por fosforilação de receptores de rianodina , promovendo um efeito inotrópico (OVERGAARD & DZAVÍK, 2008). Os principais fármacos usados na terapia ß1 adrenérgica são a dopamina e dobutamina, sendo vários os efeitos adversos relacionados ao aumento do influxo intracelular de cálcio promovido pela estimulação ß1 adrenérgica: aumento da demanda de O2 pelo miocárdio, isquemia miocárdica, arritmias cardíacas, ativação de proteases, endonucleases e fosfolipases intracelulares, componentes do processo de morte e necrose celular (CODY, 1988; BRISTOW et al ,1990). 2.3.3 Inibidores de fosfodiesterase Fosfosdiesterases (PDE) são uma classe de enzimas capazes de clivar a ligação fosfodiéster tanto no monofosfato de adenosina cíclico (AMPc) quanto no monofosfato de guanosina cíclico (GMPc).Elas são responsáveis por controlar a concentração intracelular de AMPc e GMPc hidrolizando-os a 5´-AMPc e 5´-GMPc (OMORI & KOTERA, 2007; BENDER & BEAVO, 2006). O genoma humano possui 21 genes que expressam PDE, categorizados em 11 famílias (OMORI & KOTERA, 2007) nas quais são baseadas pela sequência protéica, especificidade de substrato, propriedades enzimáticas, sensibilidade a inibidores seletivos e distribuição tecidual (KOTERA, 2005; BEAVO et al, 1994; UCKERT et al, 1994; DOUSA, 1999). Algumas PDEs são altamente especificas para AMPc (PDE4, PDE7, PDE8) ou GMPc (PDE5, PDE6, PDE9) e uma grande parte possuem uma atividade não específica (PDE1, PDE2, PDE3, PDE10, PDE11) (PUZZO et al, 2008; FRANCIS et al, 2001). PDE3 e PDE4 estão expressas no coração e participam do processo de acoplamento excitação contração , atuando na regulação do AMPc, homeostase do Ca2+ e contratilidade do coração (BECA et al, 2011). Os inibidores de fosfodiesterase possuem também um efeito vasodilatador periférico, através da elevação dos níveis intracelulares de GMPc e produção de óxido nítrico. Os principais representantes dessa classe incluem a amrinona e a milrinona, que são muito semelhantes do ponto de vista químico e farmacológico. Ambas melhoram os índices hemodinâmicos em pacientes com insuficiência cardíaca, porém agravam paradoxalmente a sobrevida, em virtude de seu efeito pro - arrítmico (ROHDE & RIBEIRO, 1994). Fármacos com atividade inibidora de fosfodiesterases promovem a inibição da degradação de AMPc, aumentando a disponibilidade e a concentração de cálcio na célula e o inotropismo cardíaco (BERS, 2001) 2.3.4 Sensibilizadores ao cálcio Os sensibilizadores ao cálcio representam uma nova classe de fármacos inotrópicos que são caracterizados pelo aumento da contratilidade cardíaca sem um aumento correspondente no consumo de oxigênio pelo miocárdio ou uma prédisposição aumentada para arritmias (LEVIJOKI et al, 2000). Seu mecanismo de ação se baseia no aumento da contratilidade associada à sensibilidade dos miofilamentos cardíacos sem influência do Ca2+ externo. Este efeito aumenta o inotropismo cardíaco usando a concentração de cálcio disponível no retículo sarcoplasmático e sem risco associados pela sobrecarga de cálcio, como vemos em agonistas β-adrenérgicos e inibidores de fosfodiesterases (PERRONE & KAPLINSKY, 2005). Os principais representantes desta classe são pimobendan e levosimedan. A contratilidade miocárdica e a hemodinâmica são melhoradas pelo levosimedan comparativamente à ß agonistas e inibidores de fosfodiesterase, possuindo estes medicamentos também ação vasodilatadora como resultado da ativação de canais de potássio (HAIKALA & LINDEN, 1995) Todas as terapias inotrópicas citadas acima com exceção dos sensibilizadores ao cálcio aumentam a contratilidade miocárdica pelo aumento de AMPc , atividade de proteína quinase A ou inibição de NKA para estimular o influxo de Ca2+. Sendo assim, o risco de sobrecarga de Ca2+ e arritmias são intrínsecos ao seu mecanismo de ação, tendo seu valor clínico limitado pela estreita margem terapêutica desses agentes. (MESQUITA & MADY, 1994; I CONSENSO SOBRE MANUSEIO TERAPÊUTICO DA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA, 1998; COELHO et al, 1998; II DIRETRIZES DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA PARA O DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA, 1999). Vários agentes inotrópicos, incluindo inibidores de fosfodiesterases, que aumentam a concentração de cálcio intracelular têm demonstrado exercer um efeito pró-arrítmico e aumentar o risco de morte súbita, hipocalemia (em alguns casos provocados pela associação a diuréticos), hipomagnesemia, e uma alta concentração intracelular de cálcio podem ser importantes como fatores primários ou gatilhos para desencadear a morte súbita (ZIPES & WELLENS 1998). 2.4. Inotrópicos sob investigação. 2.4.1 Novos Inibidores de Na+,K+-ATPase Uma nova droga, Istaroxima, surge como um protótipo para um fármaco com capacidade de inibição da bomba Na+, K+-ATPase, promovendo inotropismo positivo, e lusitropismo negativo, devido a ativação da SERCA2a , aumentando a recaptação de cálcio, melhorando simultaneamente parâmetros de contratilidade e relaxamento (METRA et al, 2011). Trabalhos relatam a atuação de istaroxima em modelos animais, cobaio e cão, no aumento do inotropismo (MICHELETTI et al, 2007), diminuição do volume final sistólico e diastólico final e aumento da fração de ejeção (SABBAH et al , 2007). Estudos em pacientes insuficientes cardíacos crônicos com disfunção sistólica do ventrículo esquerdo mostraram melhoras na redução da pressão de capilar pulmonar e o volume diastólico final (SHAH et al, 2009). 2.4.2 Ativadores da Miosina Cardíaca Outra nova classe de fármacos em desenvolvimento são ativadores de miosina que atuam na transição de uma configuração fraca do complexo actinamiosina para uma configuração fortemente ligada. Isto promove o prolongamento do estado de sístole, e aumento do volume de ejeção, sem efeitos colaterais como aumento de AMPc e cálcio interno. Esses agentes ativam diretamente a miosina ATPase miocárdica, aumentando a taxa da formação de ciclo de pontes cruzadas, então, aumentando a duração e quantidade da força de contração no miócito, sem efeito no influxo de cálcio ou aumento do AMPc. Teerlink e colaboradores demonstraram que um ativador seletivo de miosina cardíaca, CK-1827452, conhecido como omecamtiv mecarbil, foi capaz de aumentar de forma concentração dependente tanto a atividade miosina ATPase quanto a fração de encurtamento em ratos induzidos a insuficiência cardíaca ou sham(TEERLINK, 2009a ;TEERLINK et al, 2009b). 2.4.3 Ativadoras da SERCA2a Vírus adeno-associados (AVV) são pequenos vírus de DNA pertencente à família Parvoviridae não envelopado, não patogênico utilizados hoje como componentes no desenvolvimento de uma estratégia para o tratamento da Insuficiência cardíaca em estado avançado. Isto inclui pacientes de classe III/IV e com fração de ejeção ventricular esquerda menor do que 30%. AVVs portadores de um gene para a SERCA2a são injetados de forma intra coronária em pacientes portadores de Insuficiência cardíaca, obtendo-se a longo prazo (6 - 12 meses) melhoras significativas em aspectos sintomáticos, estruturais e funcionais (JASKI et al , 2009) 2.5 Participação do segmento no mercado de medicamentos Pesquisas mostram que o mercado global de drogas cardiovasculares está previsto exceder US$ 111.8 bilhões até 2015. O crescimento se deve ao envelhecimento da população, grande número de pacientes e o aumento da incidência de doenças cardiovasculares. Hoje temos fatores de risco líderes como o tabaco, alto colesterol, hipertensão, diabetes, obesidade e sedentarismo (GLOBAL INDUSTRY ANALYSTS, 2010). No último século, as condições de vida e saúde têm melhorado de forma contínua e sustentada na maioria dos países, devido principalmente aos progressos políticos, econômicos, sociais e ambientais, assim como aos avanços da tecnologia médica (BUSS, 2000). No Brasil, o envelhecimento da população é um fenômeno relativamente recente, existindo muitos estudos que apontam, de forma recorrente, a irreversibilidade do processo, diante do comportamento da fecundidade e da mortalidade registrado nas últimas décadas e do esperado para as próximas (CALDAS, 2003). A elevação da qualidade de vida, tais como melhorias nutricionais, elevação do nível de higiene pessoal, melhores condições ambientais no trabalho e nas residências, levaram a uma acentuada redução nas taxas de mortalidade, particularmente nos primeiros anos de vida. A modificação do modus vivendi de grandes centros urbanos, caracterizando uma estrutura familiar de pequeno porte, com baixo número de indivíduos, atua de forma decisiva em uma modificação do padrão reprodutivo das populações, reduzindo a taxa de fecundidade (VERAS, 1988). Então, aliado a redução da mortalidade, o crescimento da população com mais de sessenta anos pode ser explicado pela redução nas taxas de fecundidade, principalmente nos centros urbanos. Todas essas modificações na estrutura da sociedade levam a um estreitamento da pirâmide populacional, aumentando o número de idosos na população total em detrimento ao número de jovens, consequentemente, mudando a expressão de doenças associadas aos segmentos etários. O Brasil, desde a década de 40, vem passando por um processo de inversão das curvas de mortalidade em que se observa um declínio na mortalidade por doenças infecciosas e um concomitante aumento na mortalidade por doenças crônicas não transmissíveis e causas externas. Em virtude da nítida tendência no crescimento da população idosa, devido a uma melhora no desenvolvimento de tecnologias médicas e ao crescimento da abrangência da medicina preventiva, temos o aumento da expectativa de vida da população. Diante desse fato, há um provável aumento na prevalência de doenças cardíacas, portanto, havendo uma maior procura por remédios relacionados a doenças cardiovasculares. 2.7 Acoplamento excitação contração. 2.7.1 Histórico: Desde meados dos anos 60 até os dias atuais, vêm se descobrindo novos aspectos sobre o processo de acoplamento excitação-contração e seus componentes. Em 1960, foram realizadas várias descobertas no campo da morfologia celular, relacionadas ao processo de acoplamento excitação-contração, como a existência de pontos específicos de membrana com um menor limiar para a contração, denominados “hot spots” (HUXLEY & STRAUB 1958a; HUXLEY & TAYLOR, 1958b) e a conexão estrutural entre os túbulos t e o retículo sarcoplasmático, descobertos através de microscopia eletrônica (FRANZINIARMSTRONG,1970). Os anos 70 trouxeram o debate sobre a natureza da transmissão do impulso da membrana plasmática para as tríades em músculo esquelético. Sobressaiu-se um modelo para o acoplamento mecânico entre um sensor de voltagem, mais tarde conhecido como receptor de diidropiridina (DHPR), e uma via de liberação de cálcio na membrana do retículo sarcoplasmático. Houve um avanço nos anos 80, no que concerne sobre a natureza do receptor responsável pela liberação de cálcio, reconhecido como uma proteína de alto peso molecular e uma alta afinidade pelo alcalóide chamado rianodina, que deu nome a este mesmo receptor (MEISSNER, 1986; SMITH et al, 1985; FLEISCHER et al, 1985; INUI et al, 1987). Nos anos seguintes, foram descobertas as isoformas do receptor em vários tecidos, sendo RYR1 presente em músculo esquelético, RYR2 em músculo cardíaco e RYR3 inicialmente identificado no cérebro, mas não exclusivamente nesse tecido. Atualmente, estudos eletrofisiológicos em modelo de whole cell têm possibilitado localizar sítios de interações moleculares entre DHPR e RYR, usando técnicas como Ressonância de fluorescência por transferência de energia (FRET) e biotinilação metabólica (PAPADOPOULOS, 2004; LORENZON et al, 2004). 2.7.2 Fisiologia do Processo de Acoplamento Excitação contração O trabalho de Sidney Ringer, em 1883, demonstrou em preparação de coração isolado de sapo, o papel crucial do cálcio na natureza da contração muscular cardíaca (BEERS, 2001). Em 1952, baseado nos trabalhos de Katz (KATZ, 1950), Alexander Sandow teorizava sobre como a excitação da membrana plasmática resultava em contração e qual o processo existente na transmissão de um sinal a partir da superfície da membrana até os elementos contráteis. Essa série de reações – excitaçãotransmissão de sinal - contração- foi designada, então com o termo de Acoplamento Excitação-Contração. Várias estruturas celulares estão envolvidas nesse processo (Figura 3). Um sistema tubular longitudinal (HUXLEY, 1964) é capaz de conduzir de modo regenerativo (BEZANILLA et al, 1972; GONZALEZ-SERRATOS, 1971; PEACHEY & ADRIAN, 1973) o impulso elétrico gerado a partir da superfície de membrana. O sinal é então conduzindo até estruturas conhecidas como cisternas terminais (FRANZINI-ARMSTRONG; 1970; 1973), na fibra muscular, quando é atingido o limiar de excitação, favorecendo o estado aberto de canais de cálcio dependentes de voltagem. Figura 3. Representação do processo de acoplamento excitação contração cardíaco. (Adaptado de DONALD M. BERS, 2002) Diferentemente do estado de repouso, em que a concentração interna de cálcio não ultrapassa 0,1 µM. Após a abertura dos DHPR, o nível interno de cálcio intracelular cresce, atingindo a concentração de 1 µM como limiar para a ativação do ciclo de pontes cruzadas e , posteriormente chegando ao máximo de 100 µM, na ativação máxima do aparelho contrátil. O aumento citosólico local de cálcio na cisterna terminal, decorrente da abertura dos DHPR, favorece a ativação dos receptores de rianodina, posicionados diametralmente opostos. O crescimento da concentração de cálcio ao redor dos receptores de rianodina promove sua abertura, com liberação do cálcio sequestrado pelo retículo sarcoplasmático. Há, portanto, amplificação do sinal e a ocorrência de um fenômeno chamado de liberação de cálcio induzida por cálcio (MEISSNER, 2004). O cálcio então se liga à troponina C, resultando uma diminuição da capacidade inibitória da troponina I sobre troponina C, no filamento de actina. A desestabilização da molécula de troponina I resulta em uma mudança conformacional do complexo tropomiosina-troponina, a partir do qual, através do sitio de ligação para miosina, haverá a formação das pontes cruzadas. A formação de pontes cruzadas resulta a hidrólise do ATP, e a mudança conformacional da cabeça pesada de miosina possibilita a ligação de uma nova molécula de ATP. Assim, há a liberação da ponte cruzada existente e a formação de uma nova. O ciclo de pontes cruzadas irá continuar até que todo o cálcio seja ativamente removido do citoplasma através de bombas eletrogênicas como o trocador Na +/Ca2+ e Ca2+-ATPases, presentes na membrana, tanto do retículo sarcoplasmático quanto da fibra muscular. A variação entre ultra-estruturas celulares de átrio e ventrículo faz com que o aumento da concentração intracelular de cálcio ocorra com propriedades espaciais e temporais distintas. É intrínseco à ultra-estrutura do acoplamento excitação-contração do miócito ventricular a presença de um sistema de túbulos transversos (SONG et al, 2005) orientados de forma axial e perpendicular (AYETTEY & NAVARATNAM, 1978), constituindo uma rede tubular profunda que aproxima DHPR e canais de rianodina, formando um sinalossoma, região especializada e espacialmente relacionada (CHEN-IZU et al , 2006). Diferentemente do miócito ventricular, o processo de acoplamento excitaçãocontração do miócito atrial difere estruturalmente no que concerne a presença de uma rede de túbulos t cuja origem reside na membrana do retículo sarcoplasmático e estão orientados, não de forma axial e perpendicular (BRETTE & ORCHARD, 2003), mas transversa, sendo uma forma rudimentar de compartimentalização (Figura 4) Figura 4: Estrutura de miócitos cardíacos ventriculares e atriais de rato. Painéis A e B mostram porções de um miócito ventricular e atrial,respectivamente.Eles ilustram o posicionamento relativo de alguns elementos chave envolvidos no acoplamento excitação contração.A rede dos elementos do reticulo sarcoplasmático circunda tanto as miofibrilas quanto mitocôndrias.Painel C mostra a topologia de uma miofibrila relativa a secção de miócito mostrada em A.(Adaptado de MARTIN D. BOOTMAN, 2006) Dado a formação dessa rede, a origem do aumento no transiente de cálcio em miócitos atriais (Figura 5) está presente em uma região periférica na fibra (MACKENZIE et al, 2001; MACKENZIE et al, 2004), onde estão co-localizados os DHPR e receptores de rianodina. Figura 5: Sinalização espacialmente heterogênea de Ca 2+ durante um acoplamento excitação contração atrial. Painel A mostra o desenvolvimento de um transiente de Ca 2+ logo após uma despolarização, em um único miócito atrial. Painel B mostra o desenvolvimento temporal e espacial de um sinal de Ca 2+ em uma célula atrial. A concentração de Ca 2+ é indicada por altura e coloração 2+ 2+ dos picos (azul/verde indicam baixas [Ca ] e amarelo/vermelho, altas [Ca ]). Um anel periférico de 2+ Ca 2+ é evidente, junto com um acentuado “vale” de baixa [Ca ] no centro da célula (Adaptado de MARTIN D. BOOTMAN, 2006). A densidade e a morfologia dos túbulos t não diferem somente entre miócitos atriais e ventriculares, mas também podem variar intensamente entre células do átrio esquerdo e direito. Além disso, dentro de deferentes câmaras atriais, o padrão de túbulos t varia de célula para célula (KIRK et al, 2003; TIDBALL et al, 1991; WOO et al, 2005). A inconsistência na expressão, densidade e morfologia dos túbulos t nas células atriais faz com que a contração atrial seja um fenômeno complexo, por ter uma variabilidade substancial em resposta a células adjacentes no átrio. 2.8 Liberação de cálcio induzida por cálcio (CIRC) O mecanismo de liberação de cálcio induzida por cálcio é uma das formas mais primitivas, do ponto de vista filogenético, no que se refere a acoplamento excitação contração. Músculos esqueléticos presentes em invertebrados já possuíam similaridades neste mecanismo comparado aos mamíferos (GYÖRKE & PALADE, 1993, 1994). Primeiramente caracterizado em fibras esqueléticas permeabilizadas (ENDO et al, 1970), Alexandre Fabiato e Françoise Fabiato, de 1973 até 1985, realizaram grandes contribuições para o entendimento do fenômeno celular de liberação de cálcio induzida por cálcio (FABIATO & FABIATO, 1973, 1975a, b, 1978a, b, 1979; FABIATO 1981, 1983, 1985a-c). O ápice se deu em 1985 quando utilizaram fibras de purkinje caninas, mecanicamente permeabilizadas, na qual a ausência de túbulos t as tornava mais adequadas para o estudo do fenômeno. A CIRC só é possível com a formação de um microdomínio conhecido como díade, onde a porção juncional do retículo sarcoplasmático e o túbulo t se encontram, separados por uma fissura juncional (12 a 15 nm) (FRANZINIARMSTRONG et al, 1999). Estudos em microscopia eletrônica por criofratura mostram a localização dos canais de Ca2+ tipo L preferencialmente na região dos túbulos t, em oposição espacial aos canais de rianodina (FRANZINI-ARMSTRONG & PROTASI, 1997). No âmbito do acoplamento excitação-contração, a corrente de Ca2+ durante a fase de platô do potencial de ação cardíaco não é suficiente para promover a ativação dos miofilamentos per si (BASSINGTHWAIGHTE & REUTER, 1972). A interação entre as redes formadas pelo retículo sarcoplasmático e túbulos t permite a formação de um mecanismo de liberação de Ca 2+ dos estoques intracelulares do miócito. Durante o estágio de despolarização inicial, os canais de Ca 2+ tipo L abrem, permitindo a entrada de Ca2+, então a concentração de Ca2+ na díade cresce (10 a 20 µM) em menos de 1 ms, e o Ca2+ liga ao canais de rianodina, aumentando a sua probabilidade de abertura. A abertura leva a uma maior liberação de Ca 2+ a partir de uma região especializada do retículo sarcoplasmático, a porção juncional do retículo sarcoplasmático (GREENSTEIN & WINSLOW, 2011). A quantidade de Ca2+ liberada é significantemente maior do que a quantidade de Ca2+ que entre via canais de Ca2+ tipo L. O fluxo de liberação de Ca2+ é uma função contínua do influxo de Ca2+, um fenômeno inicialmente observado por Fabiato, a liberação gradual de Ca2+. Quando se relaciona a frequência com que ocorre a entrada de Ca2+ via canais de Ca2+ tipo L com a ativação de receptores e consequente liberação de Ca2+, temos o ganho desse tipo de sistema, ou seja, a frequência de entrada de Ca2+ necessária para dispara o fluxo de Ca2+ via canais de rianodina (GREENSTEIN & WINSLOW, 2011). O aumento rápido e largo na díade da concentração de Ca 2+ leva a difusão do Ca2+ da díade para o citosol.Como a concentração de Ca 2+ citosólico aumenta, Ca2+ liga a troponina C nos miofilamentos e inicia a contração no miócito. 2.9 A liberação de cálcio via IP3R Desde sua descoberta, em 1983, como D-mio-inositol-1,4,5-trifosfato (IP3) (STREB, 1983) , este tem adquirido suma importância como segundo mensageiro celular, não somente na dinâmica da contração muscular cardíaca (KOCKSKÄMPER et al, 2008) , mas também na contração em músculo liso vascular, com influência na resistência periférica e consequentemente no sistema cardiovascular em geral. A liberação de cálcio mediada por IP3 se relaciona diretamente com a ativação do seu maior alvo, o receptor de IP 3(IP3R), descoberto por Hirata e colaboradores em 1984 em vesículas de retículo sarcoplasmático no coração (HIRATA et al, 1984). Filogeneticamente existem três subtipos de receptores; IP 3R1, IP3R2 e IP3R3. Eles diferem em suas afinidades por IP3, expressão celular, distribuição subcelular e associação com proteínas acessórias (TAYLOR & STEPHEN 2010). Receptores de IP3 são bem menos expresso no coração em comparação a RYR´s em uma taxa de 100:1. Há diferenças também entre câmaras cardíacas, verificando-se que IP3R são encontrados 5 vezes menos em miócitos ventriculares do que em células atriais( LI et al, 2005; DOMEIER et al, 2008; LIPP et al, 2000) Estruturalmente, a configuração tetramérica do IP3R possui intrinsecamente um caráter de cooperatividade positiva na interação de IP 3 aos seus sítios de ligação (BOEHNING & JOSEPH, 2000a).Foskett em 2007 por meio de expressão de IP3R com uma das subunidades mutantes, verificou que duas moléculas de IP3 já promoviam a abertura do canal. Vites e Pappano, em 1990, demonstraram o poder de indução de contrações, via IP3, em preparações cardíacas permeabilizadas de aves. Em 1986, Fabiato, observou o mesmo efeito de liberação de cálcio em mamíferos, utilizando preparações permeabilizadas de miócito de rato, porém, ressaltando que seu efeito era inferior ao fenômeno de liberação de cálcio induzida por cálcio (FABIATO a,b, 1986, 1990). Quantitativamente, temos uma maior expressão dos receptores de rianodina no miócito ventricular cardíaco, perfazendo a quantidade de 500-1000 fmol/mg de proteína total , em várias espécies e mamíferos (BERS, 1993), justificando uma maior participação no fenômeno de liberação de cálcio a partir do retículo em relação aos IP3R. 2.10 Liberação de cálcio via RYR Em 1878, quando John Newport Langley estudava os efeitos do antagonismo entre a atropina e pilocarpina, extraída dos galhos e folhas de Pilocarpus jaborandi (GERRARD, 1875, apud HOLMESTED, 1979), na salivação de glândulas maxilares de cão, nascia o conceito de interação droga-receptor (MAEHLE, 2004). Teria dito ele: “Existem alguma substância ou substâncias na terminação nervosa ou célula de glândulas, na qual ambos, atropina e pilocarpina, são capazes de formar compostos.” (LANGLEY, 1878, p.364) Somente em 1909, com os trabalhos de Paul Ehrlich teríamos então o termo “receptor” (STREBHARDT & ULLRICH 2008). Primeiramente, isolado das raízes e caule de Ryania speciosa para uso como potencial inseticida (ELISON & JENDEN 1967; JENDEN & FAIRHURST, 1969), o alcalóide rianodina foi usado para posterior identificação de um canal para liberação de cálcio presente no retículo sarcoplasmático (ELISON & JENDEN 1967; FAIRHURST, 1973; FRANK, 1975, NAYLER et al, 1970; SUTKO & WILLERSON, 1980; SUTKO et al, 1983), caracterizando uma potente ação paralisante tanto em músculo esquelético quanto cardíaco, e sendo mais tarde conhecido como canal ou receptor de rianodina. A capacidade inibitória do alcalóide rianodina no canal de cálcio presente no retículo sarcoplasmático se faz através de uma ligação de alta afinidade em uma proteína presente em sua membrana (CANNELL et al, 1985; FABIATO, 1981; FRANK & SLEATON, 1985). A caracterização do canal através de purificação (FLEISCHER, 1945; HYMEL, 1988; LAI, 1988; PESSAH, 1986), microscopia eletrônica (INUI, 1987) revelou a sua estrutura tetramérica e similaridade entre canais de liberação de cálcio localizados em diferentes regiões do miócito (FERGUSON, 1984; FRANZINIARMSTRONG, 1970). A ativação dos receptores de rianodina presentes no músculo cardíaco por cálcio começa em concentrações sub molares, e alcança um máximo (em uma p0 máxima) próximo a 100 μM, decrescendo em altas concentrações de cálcio (5-10 mM) (ROUSSEAU & MEISSNER, 1989; XU et al, 1998). Os trabalhos de Xu e colaboradores em 1988 demonstravam que os canais de rianodina presente no músculo cardíaco possuíam diferenças quanto ao modo como eram ativados por cálcio comparados ao músculo esquelético. Tipicamente, os canais de rianodina do músculo cardíaco são ativados em uma maior medida do que os canais do músculo esquelético, quando só existe o cálcio como ligante, e requerem uma maior concentração de cálcio para sua própria inibição do que o músculo esquelético. A dependência, de forma bimodal, da atividade do canal por cálcio sugeria na época a existência de sítios de ligação ao cálcio de alta-afinidade e baixa afinidade, acessíveis a partir do lado citosólico em relação ao retículo sarcoplasmático. O gráfico original abaixo (Figura 6) demonstra claramente uma maior dependência de cálcio para um aumento na probabilidade de abertura (P0), representada como uma função do cálcio citosólico livre, dos canais de rianodina presentes no músculo cardíaco (XU et al., 1998). Figura 6:Dependência de cálcio de receptores de rianodina de músculo esquelético (RYR1) e cardíaco (RYR2) (Adaptado de XU ,1998). Receptores de rianodina podem intrinsecamente (YIN & LAI 2000; YIN et al, 2005) se organizar em um arranjo regular semelhante a um padrão de um tabuleiro de damas, sendo cada receptor representado por um quadrado. Cada canto do quadrado estaria em contato com outro receptor vizinho, assim criando um padrão para um arranjo do aglomerado de receptores de rianodina (YIN, 2008). Experimentos em membranas in vitro (MARX et al, 1998) demonstraram a ativação sincronizada desse tipo de receptor, sendo consistente com uma modulação alostérica intermolecular correndo pro meio da interação física entre receptores. Marx e colaboradores demonstraram através de experimentos em patch clamp o desacoplamento funcional em virtude da adição de rapamicina, um inibidor do fragmento FKBP12.6, responsável pela interação intermolecular desses receptores (MARX et al, 2001) Os receptores de rianodina se interligam através do subdomínio seis, um subdomínio de oligomerização, promovendo uma interação física entre os quatro cantos do receptor e estabelecendo um padrão como tabuleiro de damas, lado a lado, e em uma maior magnitude, formando arranjos bidimensionais cristalinos. A partir de uma técnica de microscopia de localização imunocitoquímica de alta resolução, David Baddeley em 2009 mostrou que aglomerados de receptores de rianodina podem variar em tamanho, morfologia, distribuição e distância centro a centro (BADDELEY, 2009) Receptores de rianodina tipo 2 não possuem somente um acoplamento físico através de uma interação proteína-proteína, mas também um acoplamento funcional através de um grupamento protéico do receptor FKBP12.6.Experimentos por técnicas de patch clamp realizados em receptores de rianodina tipo 2 de cardiomiócitos isolados de cães, demonstraram que após incubados com rapamicina, um bloqueador que destrói o grupamento FKBP12.6, os receptores mostrarem um perfil de desacoplamento funcional, ocorrendo a reversão para o estado de acoplamento mediante inserção de FKBP12.6 novamente.É portanto plausível pensar em uma abertura e fechamento dos canais de forma ordenada e conjunta (MARX et al, 2001a). 2.10.1 Estrutura e modulação do receptor Receptores de rianodina possuem uma estrutura molecular homotetramérica, com massa total > 2MDa, possuindo cada subunidade massa molecular >550 kDa.Estão localizados de forma residente na membrana do retículo sarcoplasmático, controlando a concentração luminal de cálcio desta organela (HAMILTON & SERYSHEVA, 2009). Estruturalmente, o receptor de rianodina é divido em uma região citoplasmática (280 x 280 x 120 ºA) conectada por um segmento a uma região transmembrana. O receptor de rianodina possui em sua estrutura terciária, vários sítios de modulação de atividade, localizados principalmente em sua porção citoplasmática Nterminal, que serve de ancoradouro para interações proteína-proteína, favorecendo assim, uma modulação funcional do receptor (ZALK et al, 2007). Canais iônicos, como canais de cálcio regulados por voltagem (Cav1.1 e Cav1.2), proteínas quinase, como proteína quinase dependente de AMPc ,FKBP12 e 12.6, cálcio calmodulina (CaM), cálcio calmodulina quinase II(CaMKII), proteínas estruturais como triadina , juntina e calsequestrina formam o núcleo de um complexo macromolecular que regula a liberação de cálcio através do receptor de rianodina ( LANNER et al, 2010) Então, existe uma rede de interações nas quais características como estrutura, função e regulação exercem um efeito definitivo na função fisiológica do receptor de rianodina. E apesar das isoformas possuírem 65% de homologia na sequência protéica, elas respondem diferentemente aos moduladores. 2.11 Modulação por Acidose Fisiologicamente, o pH se mostra como um fator crucial na manutenção da regulação do cálcio e desenvolvimento de força.Um dos fatores mais conhecidos por alterar a contratilidade cardíaca é a acidose (GASKELL, 1880), sendo uma das alterações conhecidas em condições patológicas como isquemia miocárdica ou hipóxia. No nível de miofilamentos, a condição de acidose, durante eventos de hipóxia ou isquemia (JACOBUS et al, 1982), na qual o pH intracelular está diminuído, promove a redução da sensibilidade dos miofilamentos ao cálcio e a geração de força máxima (FABIATO, 1978a; BLANCHARD & SOLARO, 1984). Os receptores de rianodina também atuam como elementos sensíveis a uma diminuição de pH, onde uma redução ( pH 7.3 para pH 6.5) causa uma redução maior que 50% na probabilidade de abertura do canal (XU et al , 1996). Os trabalhos de Orchard de 1983 a 1998 mostram a existência de um aumento no transiente de cálcio e, concomitantemente, uma diminuição da força contrátil, sendo demonstrado posteriormente que o efeito inotrópico negativo da acidose é devido a uma diminuição na responsividade do miofilamento ao cálcio (BLANCHARD & SOLARO, 1984). A mudança de sensibilidade é atribuída a um decréscimo tanto na afinidade de ligação de 45 Ca2+ a proteína Troponina C quanto na afinidade de Troponina C por Troponina I (EL-SALEH & SOLARO, 1988; SOLARO et al , 1993). Paradoxalmente, aumentos na concentração de cálcio citosólico podem ocorrer devido a vários fatores como competição por prótons em sítios de tamponamento de cálcio, como Troponina C (BERS & ELLIS, 1982; VAUGHANJONES et al, 1983) e estimulação do trocador Na+/H+ por baixo pH intracelular , acarretando um aumento na concentração de sódio intracelular e diminuição da atividade do trocador Na+/Ca2+ (PHILIPSON & NISHIMOTO, 1982). Todos esses fatores contribuem para um comprometimento da capacidade celular de extrusão de cálcio via Na+/Ca2+. Esses eventos podem contribuir para um aumento no carregamento do reticulo sarcoplasmático e no transiente de cálcio visto durante a acidose, porém, isto também pode levar a sobrecarga de cálcio e consequentemente arritmias (CORABOEUF et al, 1976; KURACHI, 1982). 2.12 Modulação Por Proteína Quinase A Kapiloff e colaboradores em 2001 mostraram que existe uma associação estrutural e funcional entre o complexo de receptor de rianodina e proteína quinase A, realizada através das proteínas ancoradouras de proteína quinase A (AKAP) (KAPILOOFF et al, 2001). A associação entre PKA e RYR2 é mediada por um grupamento isoleucinaleucina, que funciona como sítios funcionais de ancoragem, portanto, permitindo uma regulação de RYR2 dependente de AMPc compartimentalizada ( MARX et al, 2000; 2001a, 2001b; LEHNART et al, 2005) e PKA, através de uma subunidade regulatória ligada a AKAP. O estado de fosforilação de PKA tem notável influência sobre a probabilidade de abertura do canal de rianodina, no qual a fosforilação de PKA aumenta a atividade do canal e a desfosforilação a diminui (WANG et al, 2001) Já foi mostrado em estudos utilizando-se técnicas de patch clamp, em modo whole cell, e cardiomiócito, elevações da concentração de AMPc locais, sugerindo que as ações do AMPc podem ser tanto espacialmente quanto temporalmente restritas (JUREVICIUS & FISCHMEISTER, 1996; ZACCOLO et al, 2002). Muitos fatores impedem uma interpretação clara de estudos com fosforilações de receptores de rianodina. Primeiramente, RYRs contêm múltiplos sítios de fosforilação que, dependendo do seu estado de fosforilação, podem ter efeito atenuante ou sinérgico em outros sítios, ou podem requerer fosforilação de um único sítio para ativar completamente a enzima. Não existe um consenso formado quanto aos sítios de fosforilação de RYR2 para PKA. Marks e colaboradores (2000) apresentaram resultados sugerindo que PKA fosforila RYR2 somente em Ser-2809 (ou Ser-2808, dependendo da espécie) enquanto Xiao e colaboradores (2005) identificaram Ser-2830 como um sítio de fosforilação em camundongo, rato, coelho e humanos, e posteriormente como um sitio exclusivo para fosforilação (XIAO et al, 2006). Já Wehrens (2006) e colaboradores concluíram que Ser-2808 é o único sitio para PKA em RYR2, apesar de RYR2 de camundongo com um silenciamento genético para este sitio ainda poder ser fosforilado por PKA (BENKUSKY et al, 2007) 3 Gênero Physalis O gênero Physalis (Figura 7) inclui cerca de 120 espécies com caracteres herbáceos e hábitos perenes, que se distribuem pelas zonas tropicais e subtropicais do mundo principalmente nas Américas Central e Sul (VASINA et al, 1986). Em países como Peru, México e Estados Unidos, plantas do gênero Physalis são consumidas como hortaliças, com destaque para P. peruviana, P. ixocarpa, P. viscosa e P. philadelphica entre outras (SILVA, 2006). Figura 7: Physalis angulata em seu habitat natural. Fonte: professora Otília Deusdênia Loiola Pessoa. Extratos ou infusões de plantas do gênero Physalis tem sido usados em vários países na medicina popular para várias doenças como malária, asma, hepatite, dermatite e reumatismo (LIN et al, 1992). Ainda não foi documentado, no entanto, o uso de extratos de plantas do gênero Physalis para doenças cardiovasculares. Todas as partes de Physalis angulata têm sido usadas com caráter medicinal nos sistemas fitoterápicos. As propriedades que são atribuídas por praticantes de tratamentos naturais são as seguintes; antiasmática, antibacteriano, antigonorréica, hipoglicemiante, antiinflamatória, antimicrobiana, anti-séptica, antiviral, diurética, expectorante e antipirética. O gênero Physalis é o mais evoluído na família Solanaceae, considerando o nível de oxidação biogenética, devido à existência de metabólicos polioxigenados, os derivados do ergostano, com funções lactonas, epóxido e enona. O sistema enzimático nas plantas do gênero Physalis possui habilidade de oxidar o átomo de carbono do núcleo esteroidal e da cadeia lateral, originando ampla variedade de estruturas: fisalinas, vitafisalinas, ixocarpalactonas, acnistinas, dentre as demais (Figura 8) (TOMASSINI et al, 2000). Figura 8: Estruturas químicas de compostos originados por plantas do gênero Physalis. Um grupo de substâncias, conhecidas como fisalinas, derivados esteroidais do tipo 13,14-seco-16,24 ciclo ergostano, carbonilados em C-15, são encontradas em muitas espécies do gênero Physalis, principalmente em folhas e raízes de Physalis angulata (MATSUURA et al, 1970). As fisalinas ocorrem em muitas espécies do gênero Physalis como; P. alkekengi, P. alkekengi var francheti, P. angulata, P. ixocarpa, P. lanifolia, P. minima, P. peruviana, P. phyladelphia, P. pubescens e P. viscosa. Já foram extraídas das espécies citadas em torno de dezenove tipos de fisalinas, compreendendo uma grande diversificação estrutural na produção dessas substâncias. O grupo da Profa.Dra.Otilia Deusdênia Loiola Pessoa do Departamento de Química Orgânica e Inorgânica da Universidade Federal do Ceará, realizou uma colaboração com nosso grupo do Laboratório de Fisiofarmacologia Cardiorenal no sentido de nos fornecer a partir do extrato etanólico de Physalis angulata , primeiramente, uma mistura esteroidal para os ensaios farmacológicos pré-clínicos, e posteriormente, dois compostos isolados dessa mistura esteroidal, F9 e F13, afim de investigar a ação dessa substância sobre o sistema cardiovascular. 3.1 Atividades Biológicas Compostos desse gênero apresentam diversidades de funções biológicas como: 3.1.1 Atividade antimicrobiana Em recente trabalho Tomassini et al ( 2006), demonstraram a atividade do extrato etanólico dos frutos de Physalis angulata, utilizando o método de difusão em ágar e comparando os halos de inibição frente a cepas de Staphylococcus aureus. Quando comparado ao controle positivo, ampicilina, o extrato etanólico dos frutos de Physalis angulata demonstrou inibir as cepas de modo significante (LOPES et al, 2006). 3.1.2 Imunomoduladora Soares et al(2006), obtiveram uma supressão causada pelas fisalinas, evidenciada in vitro pela adição de 2 μg/ml de Fisalina B à reação linfocitária mista (MLR),causando 100% de inibição da proliferação de linfócitos e inibição da produção de um mediador de crescimento, IL-2, em camundongos de linhagem BALB/c.Outro importante dado encontrado foi o fato das Fisalinas B e F terem efeitos inibitórios no crescimento de muitas linhagens de células leucêmicas, incluindo linhagens de células linfóides agudas T e B, sugerindo que essas moléculas interferem diretamente com a proliferação linfocitária (SOARES et al, 2006) 3.1.3 Moluscicida Experiências realizadas nos laboratórios de Farmacologia Aplicada de Far Manguinhos/FIOCRUZ comprovam a atividade moluscicicda de P. angulata L., uma vez que nos ensaios in vitro com espécies de caracóis Biomphalaria tenagophila, verificou-se a mortalidade de 100% das espécies sob ação do extrato etanólico de P. angulata (a planta inteira) na dosagem de 400 mg/L. (TOMASSINI et al, 2003) 3.1.4 Anti-inflamatória Fisalinas B e F mostraram-se atuantes nos modelos de injúria por reperfusão, demonstrando uma prevenção do influxo de neutrófilos e do aumento da permeabilidade vascular no intestino e nos pulmões. A inibição máxima ocorreu na dose de 20 mg Kg -1 . Além disso, houve prevenção de hemorragia no intestino dos animais reperfundidos. Utilizando como controle positivo a dexametasona, as fisalinas também suprimiram efetivamente o aumento do influxo nos tecidos (intestino e pulmão) e as concentrações séricas de TNF-α. Demonstrou-se uma similaridade qualitativa e quantitativa entre Fisalinas B e F e dexametasona quanto aos efeitos protetores no modelo de isquemia intestinal por injúria e reperfusão (VIEIRA et al, 2005). Estudos recentes têm demonstrado que as fisalinas também podem possuir atividade anti- inflamatória em macrófagos por uma ação inibitória na produção de óxido nítrico e prevenção da letalidade associada com injeção de lipopolissacárides em camundongos (SOARES et al 2003). 3.1.5 Antitumoral Algumas Fisalinas têm sido descritas como possuidoras de efeitos antimicobacterianos, antitumorais e por possuírem uma potente atividade citotóxica contra células cancerosas (CHIANG et al, 1992a ; CHIANG et al 1992b; LIN et al 1992; JANUÁRIO et al, 2002; KUO et al, 2006; DAMU et al, 2007). Esse amplo espectro de atividade é sem dúvida justificável pela grande diversidade de estruturas e funcionalização apresentadas pelos grupamentos químicos como lactonas, epóxido e enona presentes nesses tipos de compostos. 4 JUSTIFICATIVA Atualmente, a insuficiência cardíaca é uma das desordens do sistema cardiovascular que mais tem afetado pessoas em todo o mundo, se tornando um problema global de saúde pública. No Brasil, em 2007, a Insuficiência cardíaca foi responsável por 2,6% das hospitalizações e por 6% dos óbitos registrados pelo SUS no Brasil. A terapêutica inotrópica atual se faz no sentido de melhorar tanto a sintomatologia do paciente quanto a sobrevida, com o uso de beta agonistas, inibidores de fosfodiesterase e digitálicos. Entretanto, ainda existem poucos fármacos que realmente exerçam esse benefício sem trazer efeitos colaterais a longo prazo para esses mesmos pacientes, como diminuição do tempo de relaxamento e o aparecimento de arritmias , aumentando os casos de reinternações hospitalares (I DIRETRIZ LATINO-AMERICANA PARA AVALIAÇÃO E CONDUTA NA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA DESCOMPENSADA, 2004). O desenvolvimento de novos compostos que atuem na manutenção da qualidade de vida desses pacientes sem haver um prejuízo da sobrevida ou sintomatologia, representa uma necessidade médica importante. A ação de vitaesteróides da classe das Fisalinas, representados por Fisalina B e Fisalina F, no sistema cardiovascular pode ser tanto farmacologicamente mais segura do que os inotrópicos atuais e ter como alvos elementos moleculares da cascata de sinalização para contração do miócito. Esse projeto, então, se limitou a um estudo pré-clinico em cobaios, para caracterização farmacológica no sistema cardiovascular dos compostos isoladas de uma fração etanólica de P.angulata (PHY), possuindo um destaque F9. Buscamos nos compostos estudados, características superiores aos inotrópicos existentes no mercado, com mecanismos de ação novos. Este estudo pode ser a base para o desenvolvimento de um fármaco inotrópico com utilidade terapêutica ao suporte inotrópico cardíaco em pacientes com insuficiência miocárdica. HIPÓTESE A mistura esteroidal (PHY) , assim como F9 e F13, possuem efeito inotrópico positivo destituído de efeito tonotrópico, cronotrópico e lusitrópico positivo, sendo farmacologicamente mais seguro do que os esteróides digitálicos atuais. 6 OBJETIVOS 6.1 Objetivo Geral Caracterizar farmacodinamicamente e hemodinamicamente o potencial cardiotônico da F9 comparando à esteróides digitálicos. 6.2 Objetivos Específicos 1. Avaliar o efeito inotrópico da mistura esteroidal PHY, F9 e F13 em preparação de átrio isolado de cobaio. 2. Avaliar o efeito cronotrópico da mistura esteroidal PHY, F9 e F13 em átrio direito isolado de cobaio. 3. Avaliar o efeito lusitrópico da mistura esteroidal PHY, F9 e F13 em átrio esquerdo isolado de cobaio. 4. Avaliar o efeito da mistura esteroidal PHY, F9 quanto ao nível de nucleotídeos cíclicos em preparações de átrio esquerdo isolado de cobaio. 5. Avaliar o efeito direto de F9 em preparação de fibra cardíaca permeabilizada. 6. Verificar o efeito da F9 tanto na via de sinalização adrenérgica, com o uso de inibidores de receptores β1 , proteína quinase dependente de AMPc (PKA) e proteína quinase dependente de cálcio (PKC) , e sinalização de canais de cálcio regulados por voltagem, na presença ou ausência de acidose. 7. Verificar o efeito direto F9 na hemodinâmica cardiovascular, por avaliação da velocidade de incremento da pressão no ventrículo esquerdo (dP/dt), eletrograma cardíaco e frequência cardíaca em cobaios em sistema Millar. 7 MATERIAL E MÉTODOS 7.1 Animais O modelo experimental animal usado foi a espécie Cavia porcellus, normalmente chamado de cobaio ou porquinho da índia. Os animais são machos em idade adulta, pesando entre 400 e 500 g, obtidos do biotério central da Universidade Federal do Ceará (UFC) e aclimatados no Biotério de Experimentação do Instituto Superior de Ciências Biomédicas. Todos os animais receberam ração padronizada e ficaram sob ciclo claro escuro de 12 horas. Todos os protocolos experimentais seguiram estritamente as normas internacionais de cuidados com animais de laboratório e estão de acordo com as normas preconizadas pelo CEUA (Comitê de Ética para Uso de Animais). Este projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética para Uso de Animais da Universidade Estadual do Ceará (UECE), atendendo as normas de cuidados com animais, com número; 08627944-0 7.2 Material cirúrgico Todo material cirúrgico foi esterilizado por meios físicos (autoclavados) e o material de procedimento (luvas, seringas, agulhas, etc) são descartáveis. As carcaças foram acomodadas em freezer horizontal e recolhidas pelo sistema de coleta de lixo hospitalar. 7.3 Soluções e Reagentes Soluções estoques de Krebs-Henseleit (em mM): NaCl 124; KCl 4,75; MgCl2 1,3; CaCl2 2,25; NaHCO3 25; NaH2PO4 0,6; Dextrose 10 . Todos os sais e regentes utilizados são de pureza analítica e foram obtidos da VETEC, DINAMICA e LABSYNTH. Para a realização de experimento na técnica de fibra descascada serão usados quatro tipos de soluções. Inicialmente é usada uma solução de Tyrode livre de cálcio para a dissecação do coração e retirada das fibras para montagem no sistema. Sua composição é (mM): NaCl 130 ,KCl 3 , MgCl26H2O 1 , HEPES 4 e Glicose 10 ( pH 7.4). Uma solução de lavagem (W), na qual nos permite excluir contaminantes de cálcio dentro da cuba durante a realização do protocolo. Sua composição é (mM): propionato de potássio 185, acetato de magnésio 2,5, propionato de imidazol 10 mM e K2Na2ATP 5 (pH 7). A solução de relaxamento (R), que possui a mesma composição de W, é usada para promover o relaxamento da fibra e, portanto, término da contração muscular, possuindo um quelante de cálcio, ácido tetracético etilenoglicol (EGTA) 5 composição mM. A solução de permeabilização (S) possui a mesma de W, excerto, pela adição de Saponina (0,05%), para a permeabilização da fibra ou Triton x-100 (2%) para protocolos de sensibilização das fibras contráteis ao cálcio. Soluções com valores diferentes de pCas serão preparadas substituindo K2EGTA por CaK2EGTA, assim, mantendo a concentração total de EGTA constante. Cafeína foi comprada da empresa SIGMA (St.Louis, MO e EUA) e adicionada na solução de trabalho imediatamente antes do uso.Bloqueadores farmacológicos foram comprados para investigação sobre o mecanismo de ação sobre fibra permeabilizada.Genisteína, Herbimicina A e Xestonpongina C foram comprados da empresa TOCRIS( Ellisville, MO e EUA). Saponina foram comprada da Merck (Darmstadt, Alemanha) e triton x-100, H89 e Estaurosporina foram comprados da SIGMA(St.Louis, MO e EUA). 7.4 Cirurgia Para os estudos in-vitro, e caracterização do efeito da mistura esteroidal , F9 e F13 em tecido atrial, usamos a metodologia de átrio isolado (BURN, 1952), pois o uso do átrio direito, por possuir atividade contrátil espontânea, nos permite estudar a ação de compostos na frequência cardíaca, enquanto o uso do átrio esquerdo estimulado eletricamente nos permite estudar a ação de compostos sobre a força e velocidade de contração do coração. Para estudos in vivo, foi utilizada a metodologia de hemodinâmica cardíaca em sistema Millar. Os animais foram anestesiados com Uretana (800 mg/kg,i.p) e Pentobarbital (50 mg/kg, i.p). Para estudos in vitro, após sacrifício por deslocamento cervical, foi feita a secção da aorta abdominal, seguida de toracotomia para exposição das câmaras cardíacas e remoção do átrio direito e átrio esquerdo para imersão em solução nutritiva de Krebs-Henseleit modificado, a 37°C, pH = 7,4 e aerados com mistura carbogênica (5% de CO2 e 95% de O2). Os tecidos foram montados em banhos de órgãos acoplados a transdutores (Myograph F-60) para registro isométrico acoplado a polígrafo de quatro canais (Narco Biosystems, Houston, EUA) 7.5 Protocolo 7.5.1 Átrio Isolado Após a remoção do tecido atrial, realizou-se a montagem do tecido cardíaco com clipes de aço presos nas extremidades do tecido, e fixado ao eletrodo de platina inserido na câmara de banho. Após um período de 1 hora de estabilização do tecido com lavagens a cada 15 minutos, um traçado controle foi feito captando as contrações de átrio direito ou esquerdo. Seguiu-se então a avaliação dos parâmetros como a frequência das contrações espontâneas de átrio direito, tempo para atingir pico máximo e tempo para alcançar 80% do relaxamento no átrio esquerdo estimulado eletricamente (supramáxima, 10 ms e 0,1Hz). Curvas dose-resposta cumulativas de PHY (0,1 – 100 µg/mL), F9 (0,2 a 200 µM), F13 (0,2 a 200 µM),DMSO(adicionado isovolumetricamente) e Ouabaína (1.5106 µM) foram realizadas nas preparações atriais espontâneas de átrio direito . Curvas dose-resposta cumulativas de PHY (0,1 – 100 µg/mL), F9 (0,2 a 200 µM), F13 (0,2 a 200 µM), DMSO (adicionado isovolumetricamente) e Digoxina (0,2 a 200 µM) foram realizadas nas preparações atriais eletricamente estimuladas de átrio esquerdo (n= 5). As respostas foram medidas 5 minutos após adição de cada concentração. Sendo PHY um mistura de substâncias, a mesma será expressa em µg/mL, possuindo equivalência em comparação à faixa de concentração (0.2 -200 µM) na qual as demais substâncias são expressas. 7.5.2 Medição dos níveis intracelulares de AMPc A utilização da metodologia de medição dos níveis intracelulares de AMPc nos permite inferir mais precisamente se a farmacodinâmica das frações testadas no átrio esquerdo de cobaio é dependente do aumento dos níveis intracelulares de AMPc. Amostras experimentais Os tecidos atriais de cobaio foram montados em banhos para registro isométrico contendo solução de Krebs Henseleit. Após período de estabilização, com intervalos de lavagens de 15 minutos, os tecidos foram expostos à concentrações de F9 ( 6, 60 e 200 µM), PHY ( 1, 10 e 100 µg/ml), Veículo (100%) e Forscolina ( 1 e 10 µM) até que se observasse o efeito máximo. Após o efeito máximo, os tecidos foram imediatamente retirados do banho, congelados em tubos criogênicos em nitrogênio líquido e armazenados a –20ºC até o dia do experimento. Método de dosagem de nucleotídeos cíclicos Todas as amostras foram descongeladas, sendo o tecido homogeneizado em tubos contendo solução de Krebs gelado (100 µL/ 10 mg de amostra) com adição de 3-isobutil-1-metil-xantina (IBMX), um inibidor inespecífico de fosfodiesterase, a fim de evitar a degradação do AMPc intracelular. Após completa maceração do tecido, alíquotas de todas as amostras foram separadas para dosagem de proteínas (100 µL) pelo método de Bradford (BRADFORD, 1976) e o restante foi processado para dosagem de nucleotídeos cíclicos. Do homogenato dos tecidos foi adicionado ácido tricloroacético (TCA-10%), para precipitação protéica. Em seguida, as amostras foram agitadas e posteriormente centrifugadas a 2000 rpm por 15 minutos, destacando-se duas fases.O sobrenadante foi removido e o precipitado descartado.O sobrenadante foi lavado com éter dietílico saturado de água (em um volume quatro vezes maior que o volume da amostra) e a fração etílica descartada.Após a repetição do processo de lavagens 5 vezes, a fase aquosa resultante das lavagens foram secas em banho Maria a 60ºC em atmosfera de nitrogênio e ressuspensas no tampão de ensaio do “Kit imunoenzimático para dosagem de AMPc” .Os níveis de AMPc foram expressos em pmol de AMPc/mg de proteína . 7.5.3 Fibra Permeabilizada • Histórico A técnica de fibra permeabilizada foi criada por Reiji Natori em 1954 (NATORI, 1954), na qual, originalmente, sua intenção era examinar se a propriedade elástica das fibras musculares era devido à superfície da membrana ou aos componentes intracelulares, as miofibrilas. Fazia-se necessário a retirada da membrana, e após várias tentativas, usouse um óleo mineral para separar o ambiente intracelular da solução aquosa e excluir qualquer contaminante de cálcio que pudesse haver na solução. Endo e colaboradores introduziram o uso do detergente saponina para permeabilizar quimicamente fibras de músculo esquelético, destruindo a superfície de membrana de preparações multicelulares e preservando a integridade do retículo sarcoplamástico. É utilizada atualmente para realizar a permeabilização da membrana, assim como triton X-100 para permeabilizar o retículo sarcoplasmático (POSTERINO, 2001). Então podemos dizer que fibras permeabilizadas não são nada mais são do que células musculares sem uma superfície de membrana integral (ENDO, 2010), usadas para o estudo do processo de acoplamento excitação contração. • Elementos da técnica Cobaios machos adultos (400- 500 g) foram sacrificados com Uretana (800 mg/kg) e Pentobarbital (40 mg/kg), no qual seus corações foram rapidamente removidos.Pequenos fascículos, com o tamanho de aproximadamente 250 -350 µm de diâmetro e 10 mm de comprimento foram dissecados da parede subendocárdica do ventrículo esquerdo à temperatura ambiente, em uma solução Tyrode livre de cálcio. As extremidades dos fascículos são conectadas a um micromanipulador e, a outra a um transdutor de força (Grass, modelo FT-03). Seguiu-se a montagem em uma câmara de acrílico horizontal usando um microscópio estéreo binocular. Para a destruição do sarcolema e obtenção das fibras permeabilizadas, os fascículos foram imersos por 5 minutos em Saponina 0,05 % (BANGHAM & HORNE, 1962; MILLER & SMITH, 1985) diluída em solução de R, contendo 5 mM de EGTA. A tensão isométrica foi registrada em um polígrafo acoplado a 4 canais (GRASS, modelo 7400).Quanto aos protocolos para investigação do efeito direto de F9 na sensibilidade ao cálcio, a membrana do reticulo sarcoplasmático foi destruída com através da exposição por 60 minutos à Triton X-100, 2% ( MILLER , 1985). A temperatura do sistema foi mantida em torno de 22 ± 08 ºC. • Protocolos Experimentais A determinação da resposta máxima nas fibras cardíacas permeabilizadas (p0) foi alcançada pela exposição da fibra a uma solução de pCa 4.8( 15.84 mM Ca2+) adicionado a solução de lavagem.No platô da contração induzida por cálcio, as fibras foram relaxadas pela troca da solução de lavagem por solução de relaxamento.O p0 foi mensurado no começo e fim dos experimentos .Nosso critério foi de 30 % para o decréscimo do p0 do inicio ao fim dos experimentos.Depois da medida do p0 inicial, foi realizada uma depleção dos estoques intracelulares de cálcio com exposição da fibra a uma solução de R por 1 minuto, contendo cafeína (20 mM).A presença de EGTA 5 mM na solução R previne a recaptação do cálcio para o retículo sarcoplasmático durante o tempo de exposição. O procedimento de esvaziamento de depleção do retículo sarcoplasmático induzido por cafeína precedeu cada passo de carregamento de cálcio, realizado por uma exposição da fibra a um pCa 6.6 (2.57 x 10 -7 M Ca2+).Foi adicionado a solução de pCa 6.6 um bloqueador de canais de rianodina , procaína (10 mM) para evitar vazamento de cálcio do retículo durante a fase de carregamento e indução do fenômeno de liberação de cálcio ativada por cálcio.O carregamento de cálcio foi avaliado pela contração induzida pela exposição da fibra à solução de W contendo cafeína a 20 mM (SU & HASSELBACH, 1984). O processo descrito acima para indução de contração mediada por cafeína é utilizado como passo inicial em todos os protocolos a fim de avaliar a integridade do retículo sarcoplasmático na preparação. Para critério quanto à resposta mínima da cafeína para comparação ao controle (p0), se estabelece um percentual de reposta superior a 50 % de p0. O tempo entre as trocas de soluções foi fixado em 30 s, com exceção para a fase de esvaziamento (1 min) e carregamento (3 min) do retículo. Foram realizados 3 diferentes protocolos para avaliar a mobilização interna de cálcio sob ação de F9. Primeiramente foi feito um protocolo de liberação de cálcio para avaliar se F9 possui a capacidade de liberação de cálcio . Segundo, um protocolo de sensibilidade das fibras contráteis ao cálcio em preparações com o reticulo sarcoplasmático permeabilizado, sendo realizada uma curva de tensão versus pCa ( 7.0 - 4.8) na ausência e presença de F9 . Terceiro, foi feito o protocolo de captação de cálcio para avaliar se F9 tem efeito no processo de armazenamento de cálcio no retículo sarcoplasmático. • Desenhos experimentais Protocolo para liberação de cálcio Figura 9:Fibra permeabilizada, protocolo para liberação de cálcio. Protocolo para Sensibilidade ao cálcio Figura 10:Fibra permeabilizada, protocolo para sensibilidade das fibras contrateis ao cálcio. Protocolo para Captação de cálcio Figura 11:Fibra permeabilizada, protocolo para captação ao cálcio. Bloqueio Farmacológico • Xestopongina C Xestonpongina C, isolada a partir da esponja Xestospongia sp , tem mostrado em trabalhos recentes ser um bloqueador da liberação de cálcio mediado por IP 3 permeável a membrana (GAFNI et al, 1997; WILCOX et al, 1998).Este composto é sugerido ser um inibidor altamente potente e sensível do receptor de IP 3 com IC50 de 350 nM, valor 30 vezes menor do que a IC50 para o receptor de rianodina (GAFNI et al, 1997). O bloqueador xestonpongina C (3µM) foi utilizado na preparação de fibra permeabilizada na presença de F9 (10 µM, n=5) para investigação de possível ação sobre o receptor de IP3. • Herbimicina A A família das P-ATPases controla o fluxo de íons através da membrana celular, enquanto que receptores de membrana convertem sinais extracelulares na ativação de cascatas de proteínas quinases e a geração de segundos mensageiros (LI & XIE, 2009). Vários trabalhos científicos suportam a visão de que a bomba de sódio, potássio ATPase forma um complexo receptor com a proteína tirosina quinase não receptora de membrana Src, funcionando como um transdutor de sinal intracelular, convertendo e amplificando o sinal de um ligante externo para aumentar a taxa de fosforilação de proteínas tirosina (LI & XIE, 2009). Exemplos de interações de Src com proteínas intracelulares incluem anquirina, receptores de inositol 1,4,5-trifosfato (IP3R), Fosfoinositidio 3 quinase (PI3K) e fosfolipase C- γ.(BARWE et al, 2005; YUAN et al , 2005; YUDOWSKI et al, 2000) Foram feitos experimentos, na preparação de fibra permeabilizada na presença de F9 (10 µM) e também o bloqueador herbimicina A (1 µM , n=5), um inibidor especifico da família de quinases Src. O uso de herbimicina A nesse tipo de preparação objetivou a investigação da ação de F9 sobre a cascata de sinalização promovida pelo acoplamento da bomba de sódio, potássio ATPase e a proteína tirosina quinase associada a membrana Src, tendo como alvos de interações proteínas ligada ao processo de liberação de cálcio. • Rutênio Vermelho Rutênio vermelho é uma substancia policatiônica com uma estrutura linear que inclui 14 grupos de aminoácidos. Rutênio vermelho tem mostrado atividade inibitória sobre a liberação de cálcio via reticulo sarcoplasmático, tanto em músculo cardíaco quanto esquelético. Foram feitos experimentos, na preparação de fibra permeabilizada na presença de F9 (10 µM) usando o Rutênio vermelho (30 µM, n=5), um inibidor específico do receptor de rianodina presente no reticulo sarcoplasmático. 7.5.4 Hemodinâmica Sistêmica Foram utilizados cobaios machos (300 - 400g), anestesiados com uretana (1.5 g/kg, i.p). Após a perda dos reflexos de dor profunda, o procedimento cirúrgico se inicia com secção da linha mediana da região cervical ventral até a exposição da traquéia para a realização da traqueostomia usando uma cânula de polietileno (PE 240), facilitando a ventilação e aspiração de possíveis secreções respiratórias. Após o acesso a região medial esquerda e identificação do feixe vásculo-nervoso, procede-se o isolamento da artéria carótida direita. Ocorre então, a inserção de um cateter de pressão-volume (SPR-869, Millar Instruments; Houston, TX), através do qual é monitorada a pressão intracavitária do ventrículo esquerdo. Igual manobra é realizada para o acesso da região medial direita com vistas à cateterização da veia jugular direita (PE 10) para a infusão do agente farmacológico. Para registro eletrocardiográfico (ECG) na derivação II (DII) serão introduzidos eletrodos de agulha nos membros superiores e no membro inferior esquerdo para a obtenção da frequência cardíaca (FC) e avaliação do padrão do ritmo cardiológico. Concluída a cirurgia, é feito um período de 1 hora de estabilização onde o animal recebe a solução nutridora (Dextrose 5%) continuamente. Após este período é iniciada a infusão de F9 (25 µg/Kg/min) através da veia jugular por 90 minutos. Após a infusão, segue-se um período de recuperação de 30 minutos e posteriormente, a injeção de 1µg bólus de Isoproterenol como controle positivo. Durante todo o período experimental foram avaliados parâmetros de Pressão do Ventrículo esquerdo, incremento máximo de pressão sistólica (dP/dt máxima) e decremento máximo de pressão diastólica (dP/dT mínima), tempo para diástole, frequência cardíaca, débito cardíaco, fração de ejeção e tau. Ao final do experimento, os animais são eutanasiados com cloreto de potássio (KCl 3M) via endovenosa. 7.6 Análise estatística Os dados foram expressos como média ± erro padrão da média. Para análise estatística foi usado o programa de computador GraphPad Prism versão 5.0. O mesmo programa foi utilizado para confecção dos gráficos. As diferenças estatísticas entre os grupos foram analisadas pela de variância ANOVA seguida do teste de Bonferroni, e para comparação entre dois grupos individuais foi aplicado o teste estatístico T Student, considerando 5% de significância para rejeição da hipótese nula.·. 8. RESULTADOS 8.1 Avaliação do efeito de F9 na Hemodinâmica Sistêmica de cobaio. Os resultados da infusão de F9 (25 µg/Kg/min) nos mostram um aumento funcional em marcadores de função sistólica. F9 foi capaz de produzir aumento na pressão ventricular máxima desenvolvida no ventrículo esquerdo do cobaio (p< 0.05), assim como na dP/dt máxima, a taxa máxima de mudança de força através do tempo , sendo considerados índices de contratilidade miocárdica e assim caracterizando um efeito inotrópico positivo . Pressão Ventricular Máxima (% ) 8.1.1 Pressão Ventricular Pressão Ventricular Máxima 100 80 60 40 20 * 0 F9 Isoproterenol Figura 12: Efeito da infusão de F9 (25 µg/Kg/min) ou injeção em bólus de Isoproterenol (1 µg) sobre pressão ventricular máxima desenvolvida no ventrículo esquerdo de cobaio.Os valores foram expressos como controle (n=4). média ± e.p.m, tomado o controle como 100%.*p<0.05 quando comparado ao 8.1.2 dP/dT: dP/dT Máxima dP/dT Mínima 200 60 ** 150 50 dP/dT( %) dP/dT( %) 175 125 100 75 50 25 * 40 30 20 10 0 0 F9 Isoproterenol F9 Isoproterenol Figura 13: Efeito da infusão de F9 (25 µg/Kg/min ) ou injeção em bólus de Isoproterenol ( 1 µg) sobre o incremento máximo na pressão ventricular (dP/dT máxima) e decremento máximo da pressão ventricular máxima (dP/dT mínima) desenvolvida no ventrículo esquerdo de cobaio. Os valores foram expressos como média ± e.p.m, tomado o controle como 100%.*p<0.05 em relação ao controle,** p<0.01 quando comparado ao controle tomado como 100%.(n=4) 8.1.3 Fração de Ejeção, Débito Cardíaco, Frequência Cardíaca e Tempo de duração da diástole e tau: A) B) Frequência Cardíaca 150 30 125 25 100 20 BPM (%) Fração de Ejeção (%) Fração de Ejeção 75 50 25 15 10 5 0 -5 0 F9 Isoproterenol -10 F9 Isoproterenol C) D) Tempo de Duração da Diástole 10 150 5 125 segundos( %) Débito Cardíaco ( V/min) Débito Cardíaco 100 75 50 ** 25 0 -5 -10 -15 -20 -25 -30 0 F9 Isoproterenol F9 Isoproterenol E) Tau-Tempo de Relaxamento Isovolumétrico segundos( %) 200 150 100 50 0 -50 F9 Isoproterenol Figura 14: Efeito da infusão de F9 (25 µg/Kg/min) ou injeção em bólus de Isoproterenol (1 µg) sobre a fração de ejeção (A) , Frequência cardíaca (B), Débito cardíaco (C) , Tempo de duração da diástole (D) e Tau (E) em cobaio. Os valores foram expressos como média ± e.p.m, tomado o controle como 100%.*p<0.001 quando comparado ao controle. (n=4) A infusão de F9 (25 µg/Kg/min) demonstrou alterar também parâmetros précarga dependentes; fração de ejeção, ou seja, a fração volumétrica de sangue ejetado do ventrículo esquerdo, de cobaios submetidos à infusão, e débito cardíaco, ou seja, o volume de sangue ejetado do coração a cada ciclo cardíaco. Alterações em marcadores de função diastólica também ocorreram como o aumento do tempo de duração da diástole, justificando assim, o aumento visto na fração de ejeção. O aumento da dP/dt mínima e a diminuição do Tau, um índice de relaxamento isovolumétrico, se caracteriza como uma atuação na função diastólica que demonstra um aumento da capacidade de relaxamento miocárdica. 8.2 Avaliação do efeito de PHY, F9, F13, Veículo e Ouabaína na frequência cardíaca em átrio direito de cobaio. Quanto aos resultados obtidos em relação à frequência de contração do átrio direito na curva dose-resposta cumulativa de PHY (0,1 – 100 μg/ml; n = 4), F9 (0,2 200 μM; n = 4), F13 (0,2 - 200 μM; n = 4) e Ouabaína (1.5 -106 µM; n = 4) ou Veículo (adicionado isovolumetricamente; n = 3). Não houve alterações quanto à frequência cardíaca em batimentos espontâneos nos grupos experimentais testados, havendo uma tendência à bradicadia nas maiores doses de PHY, F9 e F13, porém não houve significância estatística em relação ao controle (Tabela 2). Nas maiores doses de ouabaína (106 μM) manifestaram-se alterações na frequência sob formas de arritmias cardíacas e tonotropismo positivo, demonstrando a citotoxicidade do composto digitálico no tecido em altas doses, fato que não ocorre nas maiores doses da fração esteroidal PHY ou F9 e F13. Tabela 1: Efeito na frequência de contração em átrio direito isolado de cobaio promovido por PHY (0,1- 100 µg/mL; n = 4), F9 (0,2- 200 µg/mL; n = 4), F13 (0,2- 200 µg/mL; n = 3) e Ouabaína (1.5 -106 µM; n = 4) e Veículo (adicionado de forma isovolumétrica). Os valores são expressos como percentual da média ± e.p.m. acima do controle tomado como 100%. Houve uma tendência à redução da frequência nas maiores doses de PHY, F9 e F13, mas não houve significância estatística (p<0,05) entre as doses testadas. Δ% Controle Δ% Controle Veículo 0,00 ± 0,00 PHY 0,00 ± 0,00 F9 0,00 ± 0,00 F13 0,00 ± 0,00 0,1 µg/mL 0,3 µg/mL 0,2 µM -1,82 ± 1,82 -3,42 ± 2,52 1,29 ± 1,33 0,28 ± 2,94 0,6 µM -0,55 ± 4,08 -4,73 ± 2,47 1,51 ± 0,55 -3,84 ± 5,13 0.88 µM 1.5 µM 1 µg/mL 2 µM 2.60 µM 4.4 µM 3 µg/mL 6 µM 6.20 µM 10.6 µM 10 µg/mL 20 µM 26 µM 44.4 µM Ouabaína 0,00 ± 0,0o -0,39 ±2,16 -0,12 ± 5,24 -2,45 ± 0,94 -2,57 ± 1,50 -10,57 ± 7,25 -1,08 ±3,39 1,39 ± 4,47 -6,16 ± 1,89 0,07 ± 2,41 -11,30 ± 6,71 3,96 ± 4,74 4,89 ± 11,51 -4,96 ± 1,83 -1,65 ± 3,62 -15,26 ± 7,83 27,53±15,46 30 µg/mL 60 µM 14,48± 14,93 -7,60 ± 5,67 -10,32 ± 2,95 -13,44 ± 9,10 62. µM 100 µg/mL 106 µM 200 µM 14,36 ±16,24 -1,16 ± 8,63 -7,98 ± 4,25 -18,42 ± 11,31 7,42 ± 31,42 8.3 Avaliação do efeito de F9 na relação força- frequência cardíaca em átrio direito de cobaio Quando avaliamos a relação força-frequência em átrio direito de cobaio de cobaio sob ação de F9 (0.2 – 200 µM) obtivemos uma correlação negativa quanto as variáveis mensuradas. É possível predizer um aumento da força por uma diminuição da frequência cardíaca. -25 -20 -15 -10 -5 Frequência (%) 5 10 -100 -30 Força (%) 100 200 300 r2=0,89 p=0,0029 400 Relação Força -Frequência Figura 15: Efeito F9 (0,2- 200 µM; n = 4) sobre a relação força-frequência em batimentos espontâneos de átrio direito de cobaio. Os valores são expressos como média. Houve uma 2 correlação negativa (r = 0,7949 ) entre as variáveis. 8.4 Avaliação do efeito de PHY, F9, F13, Veículo, Ouabaína e Digoxina no tempo para atingir pico máximo (Tmáx) e para relaxar 80% da contração (TR80) em átrio esquerdo. Foram avaliados parâmetros relacionados à distensibilidade do músculo cardíaco, como o tempo para atingir pico máximo (Tmáx) e para relaxar 80% da contração (TR80), correspondente a uma dada concentração de PHY (0,1 - 100 μg/mL; n = 5), F9 (0,2 - 200 μM; n = 4), F13 (0,2 - 200 μg/mL; n = 5), Digoxina (0,2 200 μM; n = 4) e Ouabaína (1.5 -106 µM; n = 6) ou Veículo (adicionado isovolumetricamente; n = 4), em preparações de átrio esquerdo de cobaio estimulados eletricamente (supramáxima, 10 ms e 0,1Hz).Cada ponto corresponde à média ± e.p.m. e representam a alteração percentual sobre o respectivo controle tomado como 100%. A leitura de cada ponto se deu 5 minutos após a administração da dose correspondente. Quando comparados aos seus respectivos controles, não houve alterações do tempo Tmáx nas maiores concentrações de PHY (0,1- 100 μg/mL; n = 5), F9 (0,2 200 μM; n = 4), F13 (0,2 - 200 μg/mL; n = 5) e Veículo (adicionado isovolumetricamente; n=5). Ocorreu uma diminuição, porém não significante, no Tmáx na concentração de 4.47 μM de Ouabaína (controle – 0.00 ± 0.00% versus 4.47 μM -17.85 ± 10.58%). (Figura 16) Digoxina promoveu um aumento de Tmáx de forma concentração dependente quando comparado aos vitaesteróides. Nas concentrações (6 e 60 µM), Digoxina promoveu um aumento de maneira significativa quando comparado a F9, F13 e PHY. Tempo para Resposta Máxima(%) Tempo para resposta máxima em Atrio esquerdo 50 40 ** 30 20 ** 10 F9 F13 Veículo PHY Ouabaina Digoxina 0 -10 -20 0.06 0.2 0.63 2 6.32 20 63.25 200 Concentração (M) Figura 16: Efeito de PHY (0,1- 100 µg/mL; n = 5), F9 (0,2- 200 µM; n = 4), F13 (0,2- 200 µM; n = 5), Ouabaína (1.5 -106 µM; n = 6), Digoxina (0,2- 200 µM; n = 4) e veículo (adicionado de forma isovolumétrica; n= 4) sobre o tempo para atingir o pico máximo no átrio esquerdo de cobaio estimulado eletricamente (supramáxima; 10 ms; 0,1 Hz). Os valores são expressos como média ± e.p.m. Não houve alterações sobre o tempo para atingir o pico máximo em músculo de átrio esquerdo nas maiores doses de Veículo, F9, F13 e PHY. ** p < 0,01 quando comparado Digoxina com F9, Digoxina com F13 e Digoxina com PHY. Quando comparados aos seus respectivos controles, não houve alterações do TR80 nas maiores concentrações de PHY (0,1- 100 μg/mL; n = 5), F9 (0,2 - 200 μM; n = 4), F13 (0,2 - 200 μM; n = 5) e Veículo (adicionado isovolumetricamente; n=5). (Figura 17). Digoxina apresentou um aumento estatisticamente significante no tempo para ocorrer 80% do relaxamento. As concentrações de 6 e 20 μM apresentaram um aumento no TR80 (* p < 0,05 ) de 14.28 ± 5.83 % e 104.46 ± 57.31 %, respectivamente.As maiores concentrações promoveram um aumento no TR80 (*** p< 0.001) de 229.76 ± 23.71 % e 364.28 ± 75.76 %, respectivamente. Tempo para 80% do relaxamento(%) Tempo para relaxar 80% em átrio esquerdo 460 *** 360 *** 260 F9 Ouabaina PHY F13 DMSO Digoxina * 160 60 * -40 0.06 0.2 0.63 2 6.32 20 63.25 200 Concentração (M) Figura 17: Efeito de PHY (0,1- 100 µg/mL; n = 5), F9 (0,2- 200 µM; n = 5), F13 (0,2- 200 µM; n = 5), Ouabaína (1.5 -106 µM; n = 6), Digoxina (0,2- 200 µM; n = 4) e Veículo (adicionado de forma isovolumétrica) sobre o tempo para atingir 80% do relaxamento átrio esquerdo de cobaio estimulado eletricamente (supramáxima; 10 ms; 0,1 Hz). Os valores são expressos como média ± e.p.m. O efeito foi avaliado 5 minutos após a respectiva dose. * p < 0,05 quando comparado Digoxina (6 e 20 µM) com PHY, F9 e F13.*** p< 0.001, quando comparado Digoxina (60 e 200 µM) com F9, F13 e PHY. 8.5 Avaliação do efeito de PHY, F9, F13, Veículo e Ouabaína na força máxima desenvolvida em átrio esquerdo de cobaio. O registro original (Figura 18) demonstra a atuação do veículo em preparação de átrio esquerdo estimulado eletricamente, demonstrando que DMSO não tem efeitos de aumento ou diminuição na força de contração do tecido atrial de cobaio. Figura 18: Registro das contrações em átrio esquerdo em átrio esquerdo isolado de cobaio estimulado eletricamente (supramáxima, 10 ms e 0,1Hz) na curva cumulativa dose- resposta de DMSO (adicionado isovolumetricamente: n= 5).Velocidade do registro 10 cm/s. Figura 19: Registro das contrações em átrio esquerdo em átrio esquerdo isolado de cobaio estimulado eletricamente (supramáxima, 10 ms e 0,1Hz) na curva cumulativa dose- resposta de PHY (0,2- 200 μM: n= 5). Velocidade de registro 5 cm/s. Em um screening farmacológico inicial (Figura 19), uma mistura esteroidal, PHY, demonstrou efeito inotrópico quando testado em tecido atrial de cobaio. Após a identificação de seus compostos majoritários, os quais se mostraram ser F9 e F13, experimentos para caracterização do efeito inotrópico positivo foram feitos em tecido atrial de cobaio. Quanto à experimentos com F9 e F13, o registro (Figura 20 e 21) ilustra um efeito inotrópico positivo em átrio esquerdo de cobaio estimulado eletricamente, demonstrando um aumento gradual de força concentração dependente de força de contração. Figura 20: Registro das contrações em átrio esquerdo em átrio esquerdo isolado de cobaio estimulado eletricamente (supramáxima, 10 ms e 0,1Hz) na curva cumulativa dose- resposta de F9 (0,2- 200 μM: n= 5). Velocidade de registro 5 cm/s. Figura 21: Registro das contrações em átrio esquerdo em átrio esquerdo isolado de cobaio estimulado eletricamente (supramáxima, 10 ms e 0,1Hz) na curva cumulativa dose- resposta de F13 (0,2- 200 μM: n= 5). Velocidade de registro 5 cm/s. Experimentos realizados com esteródies digitálicos, ouabaína e digoxina, sendo ouabaína um mediador endógeno e digoxina um fármaco exógeno classicamente usado nos tratamentos de desordens cardiovasculares foram feitos, afim de comparação, demonstraram seu efeito já comprovado. O traçado original abaixo (Figuras 22 e 23) ilustra o efeito inotrópico positivo de ouabaína e digoxina em átrio esquerdo de cobaio estimulado eletricamente. Figura 22: Registro das contrações em átrio esquerdo isolado de cobaio estimulado eletricamente (supramáxima, 10 ms e 0,1Hz) na curva cumulativa dose- resposta de Ouabaína (1.5- 106 μM: n= 5). Observe a presença de arritmias em 10.6 μM .Velocidade do registro 10 cm/s. Figura 23: Registro das contrações em átrio esquerdo isolado de cobaio estimulado eletricamente (supramáxima, 10 ms e 0,1Hz) na curva cumulativa dose- resposta de Digoxina (0,2- 200 μM: n= 5). Observe a presença de arritmias em 2 μM .Velocidade do registro 10 cm/s. Quanto à avaliação na tensão máxima desenvolvida em curva cumulativa dose-resposta de PHY (0,1 - 100 μg/mL; n = 5), F9 (0,2 - 200 μM; n = 5), F13 (0,2 200 μM; n = 6) Ouabaína (1.5 -106 µM; n = 6) e Veículo (adicionado isovolumetricamente; n=3) em átrio esquerdo de cobaio estimulado eletricamente (supramáxima, 10 ms e 0,1Hz).(Figura 24) Quando comparados aos seus controles, tivemos um aumento na tensão máxima desenvolvida significativamente maiores (* p<0,05) na curva cumulativa concentração – resposta de PHY (incremento de 260.03 ± 84.89 %). F9 demonstra uma força máxima desenvolvida de modo significativa que chega a ser quase quatro vezes em relação ao respectivo controle (incremento de 346.97± 33.82 %), sem a presença de arritmias ou tonotropismo positivo na maior concentração (200 μM). F13 também mostrou uma atividade inotrópica positiva significativamente na dose de 200 μM (incremento de 312.72 ± 98.63 %) em relação ao controle, porém menos eficaz do que F9 (Figura 24). Comparando as duas frações, não se observa diferenças quanto a força gerada por F9 e F13. Observa-se que as duas frações possuem uma atividade inotrópica positiva maior que a fração PHY, e onde se originam F9 e F13, sendo assim as frações substâncias de caráter purificado com atividade inotrópica positiva intrínseca. F13 e F9 mostraram atividade inotrópica positiva maior em relação ao digitálico Digoxina em concentração equivalente (F9 200 µM 346.97 ± 33.82 % vs Digoxina 200 µM 70.83 ± 3.60 %). F9 foi destacada para caracterização devido ao aparecimento de eventos arrítmicos nas maiores concentrações de F13, sendo possível inferir nesta fase inicial, que F9 em concentrações equinotrópicas não produz efeitos cardiotóxicos nas maiores concentrações, descartando a possibilidade de seu efeito farmacológico ser caracterizado como digitálico. Força Desenvolvida em Atrio esquerdo 500 ## * Força desenvolvida ( % ) 400 300 F9 F13 DMSO Ouabaina PHY Digoxina 200 100 0 -100 0.06 0.2 0.63 2 6.32 20 63.25 200 Concentração (M) Figura 24: Efeito de PHY (0,1- 100 µg/mL; n = 5), F9 (0,2- 200 µM; n = 5), F13 (0,2- 200 µM; n = 6), Ouabaína (1.5- 106 µM), Digoxina (0,2- 200 µM; n = 4) e Veículo (adicionado de forma isovolumétrica; n=3) sobre a força de contração de átrio esquerdo de cobaio estimulado eletricamente (supramáxima; 10 ms; 0,1 Hz).Os valores são expressos como percentual da média ± e.p.m. acima do controle tomado como 100%. A leitura de cada ponto se deu 5 minutos após a administração da dose correspondente * p < 0,05 comparando F9 com DMSO, F13 com DMSO e PHY com DMSO. ## p < 0,01 comparando F9 com Digoxina e F13 com Digoxina. Foram realizadas curvas-dose resposta para F9 para vias clássicas nos quais agentes cardiotônicos atuam como a via beta-adrenérgica e ativação de canais de cálcio regulados por voltagem. O uso do bloqueador beta-adrenérgico não especifico Propranolol (10 -6 M) e um bloqueador dos canais de cálcio regulados por voltagem Verapamil (10-7 M) não provocaram decréscimo do efeito inotrópico postivo inicialmente visto nestas preparações.O traçado original abaixo (Figuras 25 e 26 ) nos mostra na presença de bloqueio o aumento contrátil. Figura 25: Registro das contrações em átrio direito isolado de cobaio na curva cumulativa doseresposta de F9 (0,2- 200 μM: n= 5) sob ação de propranolol (10 -6 M). .Velocidade do registro 0.25 cm/s. Figura 26: Registro das contrações em átrio direito isolado de cobaio na curva cumulativa doseresposta de F9 (0,2- 200 μM: n= 5) sob ação de verapamil (10 -7 M) .Velocidade do registro 0.5 cm/s. Quanto à avaliação na tensão máxima desenvolvida em curva cumulativa dose-resposta de F9 (0,2 - 200 μM; n = 5) em átrio direito de cobaio quando incubados com inibidores; propranolol (10-6 M), um bloqueador beta-adrenérgico não seletivo, e verapamil (10-7 M), bloqueador dos canais de cálcio voltagem dependente (Figura 27). Comparativamente aos seus controles obtivemos um aumento na tensão máxima desenvolvida na curva cumulativa dose – resposta de F9, na qual a força máxima desenvolvida (190.35 ± 0.44%) não foi acompanhada de arritmias ou tonotropismo positivo na maior concentração (200 μM). Comparando F9 (200 μM) à Propranolol (220.23 ± 35.39%) ou Verapamil (164.58 ± 21.59%), não se observa diferenças estatísticas na força de contração máxima desenvolvida pelo músculo cardíaco. Força desenvolvida ( %) Força Desenvolvida em Atrio direito 300 275 250 225 200 175 150 125 100 75 50 25 0 -25 -50 F9 F9 + Propranolol ( 1 M) F9 + Verapamil (100 nM) 0.06 0.2 0.63 2 6.32 20 63.25 200 Concentração (M) Figura 27: Efeito de F9 (0,2- 200 µM; n = 4), F9 (0,2- 200 µM; n = 5) + Propranolol (1 µM) e F9 (0,2200 µM; n = 4) + Verapamil ( 100 nM ) sobre a força de contração de átrio direito de cobaio .Os valores são expressos como variação do percentual da média ± e.p.m. acima do controle tomado como 100%. A leitura de cada ponto se deu 5 minutos após a administração da dose correspondente. Dados qualitativos mostram também, que após a perfusão de átrio esquerdo estimulado eletricamente com solução Krebs-Henseleit com pH ácido ( pH 6.5), ocorreu somente uma diminuição do efeito inotrópico causado por F9 (0,2- 200 µM, n=2) no tecido cardíaco, demonstrando uma relação de dependência aos receptores de rianodina que nesta condição, possuem o nível de atividade máxima de RYR2 e [Ca2+] livre diminuídas (MEISSNER, 2004 ).Curvas dose resposta de F9 (0,2-200 µM, n=2) sob uma condição de acidose (pH 6.5 ) incubado com Verapamil ( 100 nM) reforçam a teoria de que o efeito inotrópico positivo de F9 não atua via canais de cálcio regulados por voltagem ( Figuras 28 e 29) Figura 28: Registro das contrações em átrio esquerdo isolado de cobaio estimulado eletricamente (supramáxima, 10 ms e 0,1Hz) na curva cumulativa dose- resposta de F9 (0,2- 200 μM: n= 5) em condição de acidose ( pH 6.5).Velocidade do registro 10 cm/s. Figura 29: Registro das contrações em átrio esquerdo isolado de cobaio estimulado eletricamente (supramáxima, 10 ms e 0,1Hz) na curva cumulativa dose- resposta de F9 (0,2- 200 μM: n= 5) em condição de acidose (pH 6.5) incubado com verapamil( 10 -7 M).Velocidade do registro 10 cm/s. 8.6 Avaliação do Efeito de F9 quanto na força máxima desenvolvida em átrio esquerdo de cobaio sob ação de inibidor de Proteína Quinase dependente de AMPc (PKC) e Proteína Quinase dependente de Ca2+(PKA). O fenômeno de liberação de cálcio através de RYR2 está intrinsecamente ligado a mudança do estado de fosforilação do receptor (MEISSNER, 2004), na qual as proteínas quinases PKC e PKA exercem um papel fundamental na regulação de RYR2 em processos fisiológicos (MACKRILL, 1999). Foram feitos experimentos usando bloqueadores de PKA, H89 (Figura 30) e PKC, Estaurosporina (Figura 31), a fim de verificar a relação das vias PKA-AMPcRYR2 e PKC-IP3-IP3R, no fenômeno de inotropismo positivo em tecido atrial de cobaio. Figura 30: Registro das contrações em átrio esquerdo isolado de cobaio estimulado eletricamente (supramáxima, 10 ms e 0,1Hz) na curva cumulativa dose- resposta de F9 (0,2- 200 μM: n= 5) sob ação de H89 ( 10 μM).Velocidade do registro 10 cm/s. Figura 31: Registro das contrações em átrio esquerdo isolado de cobaio estimulado eletricamente (supramáxima, 10 ms e 0,1Hz) na curva cumulativa dose- resposta de F9 (0,2- 200 μM: n= 5) sob ação de estaurosporina ( 100 nM).Velocidade do registro 10 cm/s. Força Desenvolvida em Atrio esquerdo 440 F9+H89( 10 M) F9 + estaurosporina(100 nM) F9 Força desenvolvida ( %) 390 340 290 240 190 140 90 ** 40 -10 -60 0.06 0.2 0.63 2 * * * 6.32 20 63.25 200 concentração(M) Figura 32: Efeito de F9 (0,2- 200 µM; n = 5), F9 (0,2- 200 µM; n = 5) + H89 (10 µM) e F9 (0,2- 200 µM; n = 4) + estaurosporina (100 nM ) sobre a força de contração de átrio esquerdo de cobaio .Os valores são expressos como variação do percentual da média ± e.p.m. acima do controle tomado como 100%.A leitura de cada ponto se deu 5 minutos após a administração da dose correspondente. *p< 0.05 quando comparado F9 com F9 + H89, ** p< 0.01 quando comparado F9 e F9 + H89. O efeito inotrópico positivo causado por F9 foi avaliado com a realização de curva cumulativa dose-resposta (0,2 - 200 μM; n = 5) em átrio esquerdo de cobaio quando incubados com inibidores de proteínas quinases; H89 (10 µM) um inibidor de proteína quinase dependente de AMPc ou Estaurosporina (100nM), um inibidor de proteína quinase dependente de Ca2+. Comparativamente, o efeito de F9 foi inibido por H89 nas maiores concentrações (6, 20, 60 e 200 µM) obtendo 91 % de inibição em 200 µM (F9 346.97 ± 33.82 % comparado a F9 + H89 31.11 ± 18.47 %, n=4), demonstrando uma estreita relação entre o efeito inotrópico de F9 e a modulação de proteína quinase no receptor de rianodina. Quanto à atuação de F9 sobre a proteína quinase C, não foi obtido significância quando comparado F9 e F9 + estaurosporina.(Figura 32) 8.7 Avaliação do efeito de F9 e Ouabaína sobre o tonotropismo em átrio esquerdo de cobaio. Quanto à avaliação na tensão diastólica desenvolvida em curva cumulativa dose-resposta de F9 (0,2 - 200 μM; n = 4), Digoxina (0,2 - 200 μM;n= 4) e Ouabaína (1.5- 106 µM, n=4) em átrio esquerdo de cobaio estimulado eletricamente (supramáxima, 10 ms e 0,1Hz). Quando comparado ao controle, F9 promoveu uma diminuição da tensão diastólica (-39,81 ± 18,85 %) nas maiores doses (200 μM), ao passo que Ouabaína (44.4 μM) promoveu um aumento da tensão diastólica chegando ao máximo de 115,90 ± 82,26 %. Digoxina não promoveu aumento de tonotropismo positivo, porém, houve o aparecimento dose dependente de arritmias associadas em ambos os grupos com esteróides digitálicos (Tabela 2) O aumento da tensão diastólica causada por ouabaína está relacionado à dificuldade de relaxamento do átrio, devido ao mecanismo de ação dos compostos estarem intrinsecamente ligados à inibição da NKA e aumento constante dos níveis de cálcio intracelular no miócito. Por outro lado, em comparação à ouabaína mesmo nas maiores doses, F9 produziu uma discreta diminuição da tensão diastólica, sem o aparecimento de arritmias e tonotropismo positivo, aumentando o relaxamento atrial e com isso, obtendo uma melhora na mecânica do aparato cardíaco. Tabela 2: Efeito de F9 (200 µM; n = 4), Digoxina (200 µM; n=4) e Ouabaína (44.4 µM; n = 3) sobre força basal no átrio esquerdo de cobaio estimulado eletricamente (supramáxima; 10 ms; 0,1 Hz). Cada ponto corresponde à média ± e.p.m. e representam a alteração percentual sobre o respectivo controle tomado como 100%. A leitura de cada ponto se deu 5 minutos após a administração da dose correspondente. Tensão Diastólica Tempo para atingir efeito máximo F9 200 µM -37.50 1.58 % 10 min Digoxina 200 µM 0.00 0.00% 31 min Ouabaína 44.4 µM 115.90 71.24 % 25 min 8.8 Avaliação do efeito de F9, PHY, Forscolina e Veículo sobre os níveis intracelulares de AMPc. Para examinar se o efeito inotrópico causado por F9 se correlaciona com os níveis intracelulares de AMPc, foram feitas curvas cumulativas dose-resposta para F9 (0,2- 200 µg/mL; n = 5), Veículo (adicionado de forma isovolumétrica; n=3) e Forscolina (1 e 10 µM; n=5) . Foram mensurados os níveis teciduais de AMPc a fim de estudar a relação entre os valores de contratilidade cardíaca e o nível de nucleotídeos cíclicos, verificando se o possível mecanismo de aumento inotrópico promovido por F9 é semelhante a fármacos como agonistas beta adrenérgicos, inibidores de fosfodiesterase e Forscolina símiles. (Figura 33a) Quanto aos níveis de AMPc em tecidos atriais sob ação de PHY (3 – 100 µg/mL; n = 5) (Figura 16) e F9 (6 – 200 µg/mL; n = 5)(Figura 33B) , mesmo nas maiores doses não foi encontrada correlação entre o aumento de força para F9 200 µM (351,03 ± 79,33 %) e o nível de AMPc (80,65 ± 17,33 pmol/mg de proteína) quando comparados ao controle DMSO (132.76 ± 18.42; n=4).O mesmo se aplica para a fração esteroidal PHY 100 µg/mL (255,18 ± 81,73 %) e o nível de AMPc (67,37 ± 13,41 pmol/mg de proteína) quando comparada à DMSO (132.76 ± 18.42; n=4). A. 600 550 500 450 Incremento 400 350 300 250 200 150 100 50 0 3 30 PHY 100 3 30 F9 100 1 DMSO 10 Forscolina B. pmol/mg de Proteína 600 *** PHY 500 F9 400 DMSO Forscolina 300 200 100 0 3 6 g/mL M 30 60 g/mL M 100 200 g/mL M DMSO 1 10 Forscolina M Figura 33: A. Incremento inotrópico em átrio esquerdo de cobaio sob ação de PHY ( 3, 30 e 100 µg/mL; n = 5), F9 (6 , 60 e 200 µM; n = 5), Veículo e Forscolina (1 e 10 µM; n=5).B.Avaliação do nível de AMPc intracelular em átrio esquerdo de cobaio sob ação de PHY (3 ,30 e 100 µg/mL; n = 5), F9 (6 , 60 e 200 µM; n = 5), Veículo e Forscolina (1 e 10 µM; n=5). O nível intracelular de AMPc no tecido está expresso em função da concentração de proteína no mesmo.*** p< 0.001 quando comparado com DMSO. 8.9 Avaliação da mobilização de cálcio em cardiomiócito de cobaio sob ação de F9. 8.9.1 Protocolo de Liberação de Cálcio A fim de verificar a integridade do reticulo sarcoplasmático, foi realizado carregamento do retículo com 2.57 x 10 -7 M (pCa 6.6) durante 3 minutos, as fibras foram lavadas com solução W para eliminação de contaminante de cálcio, e então , seguidas de exposição a cafeína 20 mM para evocar contração.O processo foi repetido para cada concentração, substituindo a cafeína por F9 (0,1, 1 e 10 µM), para avaliar se a mesma possuía a capacidade de liberação de cálcio per si do retículo, e uma exposição à cafeína 20 mM ao final do protocolo para avaliação novamente da integridade do retículo sarcoplasmático(Figura 28). Figura 34: Registro original de experimento feito com fibra permeabilizada de cobaio para protocolo de liberação de cálcio mediante administração de F9. Foram obtidas contrações em resposta a exposição da fibra cardíaca a cafeína 20 mM (73.98 ± 1.57 %p0, n=6), refletindo a preservação do retículo sarcoplasmático em todas as preparações. F9 (0,1, 1 e 10 µM) provocou contração em fibras cardíacas permeabilizadas de forma dose dependente, com um percentual máximo de 52.93 ± 3.26 %p0 na concentração máxima. Quando comparados à cafeína 20 mM, todos os grupos obtiveram resultados significantes (p< 0.001)(Figura 35). Figura 35: Efeito de F9 na liberação de cálcio em fibras permeabilizadas de cobaio. As contrações foram induzidas com cafeína 20 mM após um carregamento com solução pCa 6.6 por 3 minutos. O procedimento foi repetido, substituindo-se cafeína por F9 (0,1,1 e 10 µM).As tensões isométricas são registradas considerando-se p0( pCa 4.8) como 100%.***p< 0.001 quando comparado F9 (0,1,1 e 10 µM) vs cafeína 20 mM. 8.9.2 Protocolo de Sensibilização ao cálcio Para determinar se F9 produz o efeito inotrópico no músculo cardíaco pelo aumento da sensibilização das proteínas contráteis ao cálcio, a relação pCa/tensão foi avaliada.As fibras cardíacas foram tratadas com Triton X-100 por 60 minutos para que ocorresse a destruição da membrana do retículo sarcoplasmático. O dano ao retículo sarcoplasmático foi confirmado pela inibição da contração induzida por cafeína, indicando que a única fonte disponível de cálcio para ativar as proteínas contráteis era da solução adicionada a cuba. Então as fibras foram expostas sequencialmente a soluções de pCas ( 7.0 – 4.8), na presença ou ausência de F9 10 µM para cada pCa utilizado(Figura 36) Figura 36: Registro original de experimento feito com fibra permeabilizada de cobaio para protocolo de liberação de cálcio mediante administração de F9. Sensibilização ao cálcio 150 Controle F9 10 M 135 120 105 %p0 90 75 60 45 30 15 0 7.5 7.0 6.5 6.0 5.5 5.0 4.5 - Log [Ca2+ ] Figura 37: Efeito de F9 na sensibilização das proteínas contráteis ao cálcio em fibras permeabilizadas de cobaio. Após o tratamento (60 min) com Triton X-100, segue-se uma curva concentração resposta com pCas (7.0-4.8) na presença e ausência de F9 10 µM.As tensões isométricas são registradas considerando-se p0 ( pCa 4.8) como 100%. F9 (10 µM) não deslocou a curva de sensibilização ao cálcio para esquerda. Um deslocamento da curva para a esquerda indicaria que para uma dada tensão seria preciso um menor pCa .O efeito de F9,então, não se deve a um aumento na sensibilidade dos miofilamentos contráteis ao cálcio(Figura 37). 8.9.3 Protocolo de Captação de cálcio Para determinar se F9 (10 µM) produz o efeito inotrópico no músculo cardíaco pelo aumento da atividade de recaptação do cálcio no retículo sarcoplasmático a relação tensão/tempo de carregamento foi avaliada. Foi feita uma curva tempo de carregamento-resposta (180, 120, 60, 30, 20,10 s). F9 (10 µM) não produziu deslocamento da curva (Figura 38). Captação de cálcio 100 controle F9 10 uM 90 80 %p0 70 60 50 40 30 20 10 0 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 segundos Figura 38: Efeito de F9 na captação de cálcio em fibras permeabilizadas de cobaio. As contrações foram induzidas com cafeína 20 mM após um carregamento com solução pCa 6.6 por 3 minutos. O tempo foi variado (180, 120, 60, 30, 20,10 s) na presença ou ausência de F9 10 µM.As tensões isométricas são registradas considerando-se p0( pCa 4.8) como 100%. 8.10 Bloqueio Farmacológico 8.10.1 Xestonpongina C Para determinar se o efeito de F9 (10 µM) é dependente da ativação de receptores para inositol 1,4,5-trifosfato e posterior liberação de cálcio, utilizou-se o bloqueador Xestonpongina C ( 3 µM) para bloqueio dessa via farmacológica. Não foi obtido bloqueio do efeito inotrópico de F9 (10 µM) quando usado Xestonpongina C (3 µM) (Figura 39). Figura 39: Efeito de F9 na liberação de cálcio em fibras permeabilizadas de cobaio. As contrações foram induzidas com cafeína 20 mM após um carregamento com solução pCa 6.6 por 3 minutos. Contrações induzidas por administração de F9 10 µM foram feitas na presença ou ausência de Xestonpongina C (3 µM). As tensões isométricas são registradas considerando-se p0 (pCa 4.8) como 100%. 8.10.2 Herbimicina A Para determinar se o efeito de F9 (10 µM) está envolvida com a via de transdução localizada na Na+,K+-,ATPase, mediada pela proteína Src, foi usado o bloqueador Herbimicina A (100 µM) para bloqueio dessa via farmacológica. Não foi obtido bloqueio do efeito inotrópico de F9 (10 µM) quando usado Herbimicina A (100 µM), excluindo a participação de Src como passo inicial para uma cascata de fosforilação e posterior liberação de cálcio. (Figura 40) Figura 40: Efeito de F9 na liberação de cálcio em fibras permeabilizadas de cobaio. As contrações foram induzidas com cafeína 20 mM após um carregamento com solução pCa 6.6 por 3 minutos. Contrações induzidas por administração de F9 10 µM foram feitas na presença ou ausência de Herbimicina A (100 µM).As tensões isométricas são registradas considerando-se p0 ( pCa 4.8) como 100% 8.10.3 Rutênio Vermelho Para determinar se o efeito de F9 (10 µM) é dependente da ativação de receptores de rianodina, foi utilizado o bloqueador Rutênio Vermelho (30 µM) para bloqueio dessa via farmacológica. O efeito inotrópico de F9 (10 µM) foi inibido (F9 10 µM 36.97 ± 5.69 % vs F9 10 µM + Rutênio Vermelho 10.47 ± 2.95 %, n=5) quando adicionado Rutênio Vermelho (30 µM), indicado uma participação direta dos receptores de rianodina no processo de liberação de cálcio.(Figura 42) Figura 41: Efeito de F9 na liberação de cálcio em fibras permeabilizadas de cobaio. As contrações foram induzidas com cafeína 20 mM após um carregamento com solução pCa 6.6 por 3 minutos. Contrações induzidas por administração de F9 10 µM foram feitas na presença ou ausência de Rutênio Vermelho (30 µM).As tensões isométricas são registradas considerando-se p0 ( pCa 4.8) como 100%.* p< 0.05 quando comparado F9 10 µM vs F9 10 µM + Rutênio Vermelho 30 µM . 9 DISCUSSÃO A integridade do processo de acoplamento excitação-contração cardíaca é um passo essencial na homeostase da função cardiovascular. Alterações neste sistema já foram descritas como fator decisivo para o surgimento de patologias, como hipertermia maligna (MCCARTHY et al, 2005), taquicardia ventricular polimórfica catecolaminérgica tipo 1 (BLAYNEY & LAI, 2009) e insuficiência cardíaca (GYÖRKE & TERENTYEV, 2008). Agonistas β1-adrenérgicos ainda constituem uma das principais opções para o tratamento de desordens cardiovasculares, possuindo importância na manutenção dos parâmetros hemodinâmicos de pacientes cardiopatas (II DIRETRIZ BRASILEIRA DE INSUFICIÊNCIA CARDÍACA AGUDA, 2009). Diferentemente de isoproterenol, intrinsecamente envolvido com a ativação da via sinalizadora PKAAMPc e cronotropismo positivo, F9 atuou no aumento de inotropismo cardíaco, aumentando a pressão interna do ventrículo, débito cárdico e fração de ejeção. Medidas de inotropismo como dP/dT máxima e mínima explicam o aumento visto no débito cardíaco e na fração de ejeção em relação a F9. Estes, por sua vez, também dependem diretamente de parâmetros como volume diastólico final e volume sistólico final, portanto, mesmo com a diminuição da frequência cardíaca, é possível relacionar a influência desses parâmetros tanto no incremento do débito cardíaco quanto na fração de ejeção. Isoproterenol também obteve aumento da fração de ejeção e débito cardíaco, explicados através do aumento da frequência cardíaca, influenciando diretamente índices lusitrópicos como tempo de duração da diástole. A diminuição da frequência cardíaca vista com a infusão de F9 está diretamente relacionada ao aumento do tempo de diástole, contribuindo assim para um possível aumento no volume diastólico final e consequentemente débito cardíaco e fração de ejeção. Não foi registrado incremento inotrópico concomitante à frequência, excluindo assim a possibilidade de o desenvolvimento de um fenômeno do tipo “staircase”. A conservação de índices lusitrópicos, como o tau e dP/dt mínima demonstra a preservação do estado de relaxamento do coração durante o período de preenchimento ventricular, sem prejuízo do processo de relaxamento, melhorando assim a função cardíaca, sem a presença de arritmias durante o tempo de infusão ou no período de repouso. Nosso estudo visa à caracterização de F9 como cardiotônico, porém, existem limitações quanto à ausência de experimentos com a infusão de digoxina in vivo, não podendo haver, portanto, uma comparação fidedigna aos efeitos tempodependentes e concentração-dependentes entre F9 e Digoxina. Outra limitação concerne a respeito da atuação de F9 em leitos vasculares, avaliando parâmetros importantes na pós-carga, como a resistência vascular sistêmica, pressão arterial média e pressão aórtica. Dados da literatura mostram a atuação de glicosídeos na manutenção de condições patológicas como insuficiência cardíaca, aumentando a capacidade contrátil e de relaxamento, e a [Ca2+]i durante o ciclo cardíaco. Porém há um limite citosólico de cálcio, que se excedido, não permite o incremento de contratilidade e relaxamento, ocorrendo o aparecimento de arritmias. Digoxina, em um modelo de coração isolado, mediante protocolo de isquemia e reperfusão em cobaio, foi capaz de modificar a curva de [Ca2+] /Pressão do Ventrículo, aumentando em período préisquemia e de reperfusão, parâmetros contrateis como a pressão sistólica e diastólica no ventrículo esquerdo e dP/dt máxima , também como disponibilidade de cálcio , como Ca2+-sistólico e d[Ca2+]/dtmax comparado ao controle ( CHEN et al,2003; RHODES et al, 2003 ). Demiryürek e colaboradores (2002) relatou em modelo de coração isolado de cobaio perfundido, alterações mediante infusão de digoxina (8 µg/ml/min) ocorrendo tanto o aparecimento de eventos de taquicardia ventricular, fibrilação ventricular e batimentos ectópicos ventriculares, registrando o aumento da duração do fenômeno nas preparações, quanto a incidência desse tipo de arritmias comparado ao controle. Guo e colaboradores (2010) demonstraram através de modelo de cardiomiócito derivado de célula-tronco pluripotente humana, alterações celulares mediante administração de ouabaína e digoxina. Digoxina e Ouabaína aumentaram de forma dose-dependente a amplitude da onda de cálcio, reduziram a amplitude dos “spikes” de Na+, e induziram arritmias em cardiomiócito derivado de célulatronco pluripotente. Já em cardiomiócitos ventriculares de cobaio, ouabaína foi capaz de aumentar de forma dose - dependente a concentração intracelular de Ca2+ e induziu arritmias nas maiores concentrações (QIAN & GUO, 2010). Constituindo uma das opções terapêuticas para o tratamento de desordens cardiovasculares (FIGUEIREDO & MACHADO, 2010), os digitálicos foram alvo de muitos estudos envolvendo seu efeito inotrópico positivo que tem sido relacionado à citotoxicidade, sendo, portanto um fármaco cujo mecanismo de ação por influxo de cálcio externo está relacionado a seus efeitos pró-arrítmicos. A disfunção diastólica é o maior problema clínico na hipertrofia cardíaca e insuficiência cardíaca, tanto quanto a disfunção sistólica, e algumas vezes a insuficiência cardíaca pode ser induzida somente pela disfunção diastólica, mesmo a função sistólica estando preservada (BONOW & UDELSON, 1992; DOUGHERTY et al, 1984; GROSSMAN, 1991). O aumento concentração-dependente de digoxina reflete seu mecanismo de ação intrínseco por influxo contínuo de cálcio, havendo uma sobrecarga dos mecanismos responsáveis pela extrusão de cálcio e posterior relaxamento. PHY, F13 e F9 demonstraram uma conservação da dinâmica diastólica em comparação à digoxina. O desempenho de compostos digitálicos em preparações cardíacas classicamente promove alterações de parâmetros como aumento do tempo para atingir o pico máximo e tempo para o relaxamento de 80% da contração, fato este que não se assemelha ao perfil farmacológico das substâncias estudadas nos parâmetros mensurados, sendo possível inferir um mecanismo de ação diferente dos digitálicos para estes compostos. Uma das vias de sinalização clássicas no coração para aumento da contratilidade é a dos receptores β1-adrenérgicos (AHLQUIST, 1948). Usada na insuficiência cardíaca descompensada, dobutamina, uma catecolamina sintética, exerce grandes efeitos inotrópicos acompanhados de menor cronotropismo em baixas doses, porém com consumo de O2 miocárdico significativo e desenvolvimento de tolerância a longo prazo (CHRISTOPHER, 2008). F9 não compartilha com catecolaminas a capacidade de ativação de receptores β1-adrenérgicos. Por exemplo, seu efeito inotrópico positivo na contratilidade cardíaca não é afetado em átrios previamente incubados com propranolol, antagonista não específico de receptores β-adrenérgicos. Este dado é corroborado pela ausência de aumento de frequência cardíaca induzida por F9 em preparação de átrio direito. Entre vários fatores que pré-dispõem o desenvolvimento de insuficiência cardíaca, um deles é o infarto do miocárdio, que por sua vez, trazem consigo uma condição de isquemia INSUFICIÊNCIA no CARDÍACA cardiomiócito CRÔNICA, (III 2009). DIRETRIZ Condições BRASILEIRA DE isquêmicas são acompanhadas de alterações no pH intracelular (COBBE & POOLE –WILSON, 1980), induzindo a um estado de acidose celular, promovendo mudanças na fisiologia de elementos envolvidos no processo do acoplamento excitação-contração , como a dessensibilização dos receptores de rianodina e enfraquecimento da ligação do cálcio à troponina C (VAUGHAN-JONES et al, 2009) e a diminuição do influxo de cálcio via canais de cálcio ativados por voltagem (CHENG et al, 2009). F9 não foi capaz de manter o efeito inotrópico positivo máximo em condições de acidose intracelular na presença ou ausência de verapamil, sendo possível inferir a dependência do efeito inotrópico de estruturas afetadas por essa condição, ao passo que experimentos realizados na ausência de acidose e incubados antecipadamente com verapamil conservaram o efeito inotrópico positivo, refletindo dissociação do efeito contrátil quanto à modulação de canais de cálcio regulados por voltagem, contribuindo para a exclusão da participação dos canais de cálcio regulados por voltagem no fenômeno do aumento de força. Entre uma ampla variedade de proteínas quinases presentes nas células de mamíferos, proteína quinase cálcio/fosfolipídio dependente (PKC) e proteína quinase dependente de AMPc (PKA) são conhecidas por mediar uma gama de reações de fosforilações no miocárdio, resultando em liberação de cálcio intracelular (WANG et al, 2003). Elementos cruciais na via de sinalização para o incremento de força, PKA e PKC têm como alvo; receptores de rianodina, canais de Cálcio, Ca 2+- Calmodulina quinase, trocador Na+- Ca2+ e sensibilidade dos miofilamento contrateis (BERS, 2001). F9 manteve seu efeito inotrópico em preparações incubadas com estaurosporina, inibidor específico de PKC, enfraquecendo ainda mais a teoria da participação das vias de sinalização α-adrenérgica. No entanto, não observamos o mesmo na presença de H89, inibidor específico de PKA. O efeito inotrópico induzido por F9 é fortemente inibido por este fármaco. Este fato demonstra que a ativação de PKA tem papel fundamental na via de sinalização farmacológica responsável pelo incremento de força induzido por F9. Desde a descoberta do AMPc como segundo mensageiro, este tem sido considerado responsável pela resposta inotrópica de vários agentes (TSIEN, 1977). O efeito inotrópico positivo do AMPc é consequência da fosforilação de proteínas sarcoplasmáticas resultando no aumento do influxo de cálcio através de canais lentos de cálcio em resposta a despolarização da membrana e ativação de proteínas quinases dependentes de AMPc. Muitos inotrópicos usados atualmente na terapêutica da insuficiência cardíaca agem no aumento dos níveis intracelulares de AMPc no miócito.Tanto a fração esteroidal PHY quanto a fração isolada F9 mostraram uma disparidade quanto à correlação no nível de AMPc e a força inotrópica em átrio esquerdo quando comparados à forscolina, indicando que o mecanismo de ação de PHY e F9 não possuem similaridades com os fármacos que atuam por este mecanismo. O aumento da contratilidade do miocárdio por mecanismos via AMPcindependente têm sido mostrada recentemente em diversos trabalhos. Nikolai O.Dulin et al demonstrou que a degradação de IΚB, um fator inibitório de NFΚβ, que complexado com PKA mantinha a enzima em um estado inativo, após a ativação de ET1 por endotelina, ativava PKA independente do aumento de AMPc (2001). Já Mark Kohr e colaboradores demonstrou a ativação de PKA por baixas concentrações de peroxinitrito em preparações enzimáticas com PKA purificada, na ausência de incremento de AMPc (2010). Através da observação dos níveis de AMPc em átrios sob ação de F9, concluímos que a ativação de PKA, como passo intermediário no efeito inotrópico positivo, independe do aumento dos níveis de AMPc no miocárdio (Figura 27), pelo menos pelos mecanismos clássicos como a ativação de receptores β1 ou estimulação direta de adenilato ciclase. A mobilização de Ca2+ entre o meio extracelular e os compartimentos celulares atua como um fator marcante na manutenção e modulação da contratilidade cardíaca (CLAPHAM, 2007). Diversos mecanismos celulares são utilizados para a regulação positiva ou negativa dos níveis de Ca 2+ dentro do ambiente intracelular (BERRIDGE & BOOTMAN, 2000). A liberação de cálcio no retículo sarcoplasmático via RYR2 ou IP3R, permite modificações transitórias dos níveis intracelulares de Ca2+ e ativação de vias de sinalização específicas ou internalizações de íons Ca2+ como meio para retirada do ambiente intracelular, através da SERCA (CLAPHAM, 2007). A alteração da atividade de captação de cálcio ou sensibilidade dos miofilamentos contrateis não foi alterada por F9 em fibra permeabilizada excluindo a atuação de F9 sobre o aumento da concentração de Ca2+ no retículo sarcoplasmático pela SERCA2a ou a interação dos miofilamentos no processo dos filamentos deslizantes. F9 se mostrou um ativador para liberação de cálcio, agindo semelhantemente a cafeína. O rutênio vermelho é um dos inibidores mais potentes da liberação de cálcio a partir do retículo sarcoplasmático. A partir de experimentos de liberação, verificou-se que rutênio vermelho aumentou a taxa de captação de cálcio e decresceu a taxa de liberação em concentrações efetivas variando desde 1nM até 20 mM ( ZUCCHI & RONCA-TESTONI ,1997). A hipótese de um possível desencadeamento de cascatas sinalizadoras por proteínas quinases que tem como alvo final RYR2 se confirmou com uso de Rutênio vermelho, indicando que existe uma via de sinalização upstream ao RYR2. Trabalhos mostram que a concentração do segundo mensageiro inositol 1,4,5-trifosfato (IP3) aumenta através da ativação da cascata de sinalização proveniente da quebra de um fosfoinositídio de membrana , assim , aumentando o efluxo de cálcio do reticulo sarcoplasmático no músculo cardíaco (NOSEK et al, 1986). A transdução de sinal através do complexo de sinalização presente na bomba Na+,K+ -ATPase está envolvida em uma gama de feitos celulares como hipertrofia do miócito e regulação da transcrição para fatores de crescimento (HUANG et al,1997; PENG et al,1996 ). O bloqueio farmacológico dessas vias de sinalização através do receptor de IP3 no reticulo sarcoplasmático ou da proteína Src na NKA tem sido utilizado em pesquisas no âmbito do processo de acoplamento excitação contração. A hipótese de que F9 estivesse atuando no receptor de IP3 ou na proteína Src acoplada via sinalizadora da Na+,K+-ATPase (XIE & ASKARI, 2002; APERIA , 2007) foi descartada após F9 induzir aumento de tensão na fibra permeabilizada na presença dos inibidores Xestonpongina C (IP3) e Herbimicina (Src). Outra limitação do nosso trabalho é a ausência de experimentos utilizando técnica de Western Blotting avaliando a expressão do RYR2 fosforilado em átrios incubados com F9, F9 + H89 e Forscolina, pois nos proveria evidências a respeito de RYR2 e seus respectivos sítios de fosforilações: RYR2 - 2814 RYR2- 2808 e RYR2 - 2030 e nos informaria sobre uma provável ativação de cascatas dependentes de cálcio- calmodulina quinase ou PKA. No entanto, o efeito cardiotônico de F9 parece ser dependente de um mecanismo metabotrópico associado à regulação de sistema de controle de homeostase do cálcio. Outra limitação desse estudo, portanto é a ausência de medidas de dinâmica do cálcio livre no miócito cardíaco na presença de F9 e em outras condições experimentais, como na presença do inibidor H89. Uma via farmacológica condizente com os dados gerados à administração de F9 é a via das purinas e pirimidinas. Estudos realizados em corações isolados de rato demonstraram o efeito inotrópico positivo de adenosina através da ativação de receptores de adenosina A2a (MONAHAN, 2000) e vasodilatadores por aumento do fluxo coronário (CHANDRASEKERA, 2010). Também é relatado em átrio de cobaio e rato efeitos inotrópico positivo após um rápido e transitório decréscimo, devido à administração de ATP (VASSORT, 2001). Já em miócito isolado de rato foi descrito o aumento de cálcio e contratilidade em virtude da ativação de receptores A 2a e consequente ativação de PKA, enquanto estimulação de receptores A 1 estaria ligada a uma inibição de adenilato ciclase e inotropismo negativo (DOBSON, 2008). O mecanismo de transdução de sinal mais comum reconhecido para receptores A2a é a ativação de adenilato ciclase, sendo mediado por estimulação da proteína Gs, e envolvendo uma via AMPc-dependente (RALEVIC,1998). Entretanto, vias AMPc-independente também podem estar envolvidas (LIANG, 1996), explicando o efeito inotrópico visto por F9, concomitantemente à ausência de crescimento nos níveis de AMPc. Outro possível mecanismo para ação de F9 no cardiomiócito é através de uma proteína crucial para a contratilidade cardíaca: a fosfolambam. Estudos mostraram que o aumento dos níveis de AMPc e ativação de PKA promoveram aumento da taxa e quantidade da captação de Ca 2+ em vesículas cardíacas (KIRCHBERGER,1972;KATZ, 1998), através da fosforilação de fosfolambam, colocalizada com SERCA2a (TADA,1975;LA RAIA, 1974). Experimentos em coração isolado perfundido mostraram o aumento de inotropismo e lusitropismo em resposta a catecolaminas através da fosforilação de fosfolambam PKA-dependente em serina 16(LINDEMAN, 1983). O aumento de força capacidade de relaxamento, visto através do aumento da dP/dT máxima quanto dP/dT mínima, poderia ser explicado pela fosforilação de fosfolambam PKA-dependente. Apesar disto, o efeito cardiotônico induzido por F9, que não está associado à tonotropismo positivo e arritmias, nos encoraja a agregar mais esforço para o melhor entendimento da farmacodinâmica desse composto. 10 REFERÊNCIAS AHLQUIST, R.P. A study of adrenotropic receptors. Am J Physiol ,v.153, n.3, p. 586-600, 1948 ALLEN D.G, ORCHARD C.H, The effects of changes of pH on intracellular calcium transients in mammalian cardiac muscle. J Physiol, vol.335, p. 555-567, 1983. ANTONIU, B.D. H; KIM, H; MORII; IKEMOTO, N. Inhibitors of Ca2+ release from the sarcoplasmic reticulum. Biochim. Biophys. Acta. V.816, p.9-17, 1985 APERIA. New roles for an old enzyme: Na,K-ATPase emerges as an interesting drug target. Journal of Internal Medicine Volume, n. 261, Issue 1, JAN, 2007 AYETTEY, A. S; NAVARATNAM, V. The T-tubule system in the specialized and general myocardium of the rat. J. Anat, n.127, p.125-140, 1978 BADDELEY, D. 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