A H istória ( da E ducação história ) da The History of (the history of) Education CASTANHO, Sérgio Eduardo Montes. Teoria da história e história da educação: por uma história cultural não culturalista. Campinas: Autores Associados, 2010. 128 pág., ISBN 978-857496-246-7. R$ 19,00. T eoria da história e história da educação: por uma história cultural não culturalista tem como autor Sérgio Castanho, mestre e doutor em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), onde, além de exercer outras atividades, é professor da disciplina de História da Educação O livro é dividido em dois capítulos: Teoria da história e História cultural e história da educação. No primeiro capítulo, o autor desenvolve a ideia de uma teoria da história a partir do materialismo histórico e insere no tema uma discussão sobre o teor do discurso histórico, a “crítica histórica”, pautando-se nas fontes pesquisadas e em suas interpretações sobre o fato, sendo estas relativas ao referencial teórico escolhido. Castanho refuta a caracterização da história como uma “ciência do passado”, pois, para o autor, ela “é a própria vida do ser humano” (p. 4) e se refere tanto a fatos passados e presentes quanto a futuros. O capítulo apresenta três subdivisões. O primeiro tópico, conceitualmente mais denso, denomina-se Marx e a história. Nele é apresentada a diferença entre as concepções marxistas e marxianas, cujo enfoque central é o do próprio Marx, baseado na crítica da economia e da política burguesa. Também é discutido o conceito de mediação como uma categoria essencial para a construção das análises históricas. Tais mediações, selecionadas pelo prisma do historiador, baseiam-se tanto nos fatos históricos em si como nas perspectivas sociais e políticas fundadas no contexto das cadeias produtivas de uma dada sociedade, demandando uma visão macroestrutural. Outro ponto de destaque refere-se à forma como Marx percebe a história, não no plano das ideias, mas no plano do concreto, do material: “como uma progressão, não de melhoramentos (como no Iluminismo burguês), mas de determinações, que a fazem sempre mais complexa” (p. 29). Nesse sentido, as- A rmando L ourenço F ilho Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas) professorarmando@hotmail. com sume-se que uma sociedade alcança novos padrões preservando também alguns de seus elementos tradicionais. Marx procura, dessa forma, estabelecer sua compreensão histórica por meio do prisma das relações sociais, pensando a construção do conhecimento a partir da própria sociedade, conforme se alteram os seus modos de produção. O segundo tópico, Materialismo histórico, antiestruturalismo, projeto social e defesa da história diante do pós-modernismo, dirige-se para a questão do materialismo histórico, que, como salienta Castanho, não deve ser visto de forma limitadora, mas como orientador do conhecimento histórico. Nesse tópico, o autor retoma alguns dos principais pontos da obra de Marx, para embasar a importância de uma postura crítica por parte dos historiadores frente às diversas formas de manifestações sociais voltadas à construção de uma verdade histórica, condizente com a realidade de fato. Memória, tempo presente e prospecção do futuro é o título do terceiro tópico, no qual o autor atribui papel essencial ao aspecto da memória enquanto agente de elaboração histórica a partir de duas situações: a memória cultural ou coletiva, que tem a ver com a forma com que o fato histórico foi absorvido pela sociedade, algo que depende das relações de poder estabelecidas, nas quais “a lógica dominante é a lógica dos dominantes” (p. 58), e a memória individual, relacionada à recordação dos fatos necessários à formação da própria identidade, afirmando que “a memória coletiva está para a sociedade, em termos identitários, como a memória individual está para cada pessoa” (p. 59). Castanho discute ainda o conceito de tempo, elemento crucial na construção das noções de passado enquanto memórias das mudanças ocorridas, de presente como o curso atual das modificações sociais e de futuro, que se refere às prospecções e às tendências históricas previstas. Nesse contexto, insere-se a visão da concepção dialética da história, cujo objeto central é a mudança social, que entrelaça numa mesma trama os fatos passados e os futuros numa perspectiva que toma como catalisadoras as relações ocorridas no presente. O segundo capítulo procura discutir a visão marxista na esfera histórica cultural e educacional, visão essa apresentada em duas seções. Na primeira, Formação da história cultural, Castanho mostra a origem do pensamento histórico-cultural desenvolvido em contraposição ao pensamento burguês capitalista, no qual, muitas vezes, o contexto social se desassocia da construção histórica. Na segunda seção, História cultural, educação e história da educação, discute-se a articulação desses três elementos apontando a educação como campo da história cultural e a história da educação enquanto disciplina estruturada, “como campo autônomo, dotado de objeto próprio, ainda que tangencie outras disciplinas históricas ou com elas caminhe” (p. 89). Assim, da mesma maneira que a história se pauta nas transformações sociais, a história da educação procura dar conta das modificações ocorridas no âmbito educacional. Nesse sentido, o autor procura esclarecer que “A interseção possível entre a história cultural e a história da educação não ocorre pela absorção de uma por outra, pela anulação de qualquer delas, mas, sem dúvida, por mútua fecundação” (p. 93), cada uma continua preocupada com seu próprio objeto de estudo, enquanto juntas se apoiam e se fortalecem. 110 O livro apresenta-se, portanto, como leitura indispensável a professores e estudantes interessados nas ciências humanas, tanto pela relevância e profundidade dos temas abordados quanto pela clareza e propriedade com que o autor desenvolve as discussões nele estabelecidas, apresentando, de forma crítica, a necessidade de uma cientificidade séria e comprometida da história enquanto manifestação social e cultural. D ados do A utor : A rmando L ourenço F ilho Pontifícia Universidade Católica de Campinas Graduado em Educação Física pela UNICAMP e Mestrando em Educação pela PUCC. Recebido:15-09-2011 Aprovado:19-12-2011 111