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A PRÁTICA ESCOLAR COMO NOVO APRENDIZADO AO
CIENTISTA SOCIAL
Eliane Aparecida de Oliveira
PPG – Ciências Sociais/UEM
Resumo: Por se tratar de uma disciplina que retorna aos bancos escolares depois de algumas
idas e vindas históricas, a transposição da Sociologia como disciplina acadêmica para o campo
do ensino médio pede algumas observações e ou reflexões. As batalhas travadas nesse campo,
vão muito alem da visão simplista de que o ensino de Sociologia sofre de um academicismo
em seu saber, e que muitas vezes isso é transportado para as salas de aulas sem o critério
avaliativo necessário. A proposta desse trabalho é apresentar algumas dificuldades enfrentadas
pelos professores de ensino médio no ensino dessa disciplina bem como, sistematizar algumas
práticas observadas nas escolas, visando contribuir para a legitimação e fortalecimento desse
campo aos cientistas sociais.
Palavras-chave: Ensino médio; Legitimação; Professor de Sociologia.
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A PRÁTICA ESCOLAR COMO NOVO APRENDIZADO AO CIENTISTA SOCIAL
INTRODUÇÃO
O retorno da disciplina de Sociologia ao ensino médio pode ser percebido como a possibilidade
de se analisar a escola com um olhar que é próprio do cientista social, o de desnaturalizar
práticas arraigadas. Assim, pensar o professor de Sociologia no ensino médio, é também
formular estratégias para a atuação num campo que se descortina como “novo” ao cientista
social na atualidade educacional brasileira. Quando falamos professor de Sociologia, estamos
falando de profissionais formados nas Ciências Sociais, ou seja, conhecedor das três ciências
que compõem essa área de formação, a saber: Sociologia, Antropologia e Ciência Política,
embora essa não seja uma realidade que vigora nos sistemas de ensino no país.
Provavelmente esta não seja uma tarefa das mais fáceis, pois ainda é perceptível
o distanciamento que há entre a academia e o ensino básico, se refletindo na ausência dos
cientistas sociais nas pesquisas relacionadas ao ensino médio. Ileizi Silva (2007) destaca essa
relação conflituosa, diz:
“(...) não será fácil definir orientações para a formação de professores de
sociologia diante de tantas formas de conceber a relação das ciências sociais com
a educação básica. Há uma clara tentação de para preservar o campo das ciências
sociais nos distanciarmos dessa tarefa dupla: intervir na elaboração das políticas
educacionais, pensar a sociologia como disciplina escolar e na formação dos
professores para o ensino médio.”
Esse preciosismo em relação ao campo é próprio da legitimação do mesmo, e não é
uma exclusividade dos professores de sociologia, Bourdieu (1989; 2004) nos diz que é esta
disputa (não somente de espaço) dentro de um campo, que o legitima como tal, sendo uma
pratica comum a todos. Dentro dessa premissa, ele vai nos falar da construção do “habitus” do
agente, nos remetendo ao capital simbólico e cultural do professor de sociologia, que muitas
vezes sai da academia cheio de concepções que fogem a realidade social na qual esta inserida
a escola pública. Mas, na medida em que a efetivação da Lei nº 11.684 de 2008 da LDB que
incluiu a Filosofia e a Sociologia como disciplinas obrigatórias nos currículos do ensino médio
se concretiza, uma realidade se sobrepõe a essa tensão, tornando clara a necessidade de se
pensar essa emergência que é a formação, e ate porque não dizer, a capacitação do professor
de Sociologia para o ensino médio. Em defesa a Sociologia como disciplina Silva (2007)
argumenta que:
“Pensar na sociologia no currículo de ensino médio, nos obriga a pensar antes de
mais nada, na educação brasileira, no papel do ensino médio e na formatação de
seus currículos. É uma tarefa fundamental para os cientistas sociais abrigados nos
departamentos das universidades públicas.”
Dessa forma, as dificuldades que se apresentam ao retorno da Sociologia a grade
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curricular do ensino médio, enfrenta vários problemas, iniciando dentro da academia e
perpassando as políticas educacionais do Estado. Se nos ativer a enumerar essas políticas e
os vários discursos, contra e a favor, o fôlego irá se esgotar, mas o assunto não. A Sociologia
vive uma instabilidade e a precariedade na construção de uma identidade própria enquanto
disciplina, o que a torna vulnerável num campo onde as relações e práticas parecem estáveis
e ou legitimamente hierarquizadas. Cabendo ao cientista social, não somente se aperceber
enquanto professor da disciplina, mas também detentor do olhar apurado da realidade social e
política na qual a escola está inserida.
Uma análise em relação aos professores de sociologia no ensino médio não será possível
sem antes compreendermos que a profissão de professor esta sempre em questionamento, uma
relação conflituosa entre a percepção da importância desse profissional e a capacidade do mesmo
em relação a uma pretensa postura que se deve ter dentro e fora das salas de aulas. Questiona-se
inclusive sua formação e as avaliações de capacidade no decorrer de sua atuação (MORAIS e
NEVES, 2005). Dessa forma, as dificuldades que alguns professores de sociologia do ensino
médio enfrentam em campo e que são atribuídas a uma deficiência na sua formação, não é uma
exclusividade do curso de Ciências Sociais, e a justificativa que nenhuma licenciatura prepara
de fato, apenas a prática é que molda esse profissional não traz benefícios para a legitimação
desse profissional e, tão pouco, da disciplina.
É preciso pensar que no período que compreende o ano de 1942 a 1982, a sociologia
esteve fora do currículo escolar ou foi opcional no ensino de segundo grau, dessa forma não
houve uma preocupação com a constituição e ou elaboração de propostas metodológicas ou
livros didáticos. (MORAES, 2003). Por conta dessa indeterminação nos materiais didáticos a
sociologia tem sua legitimidade questionada em maior grau e sua reinserção no ensino médio
fica assim, muito mais complicada. Muito se fala sobre como essa falta de sistematização e
ferramentas metodológicas contribui para a instabilidade dessa disciplina e consecutivamente,
de seus professores, que saem da academia com uma formação deficitária, pois o curso de
formação, ainda não tem uma preocupação instituída com a prática de ensino, muito necessária
para que haja a legitimação da mesma. Segundo MORAES (2003), “(...) quando os professores
clamam por “conteúdos programáticos mínimos” de sociologia ou material didático adequado,
acabam por manifestar uma formação deficiente para o exercício do magistério em nível
médio.”.
Acreditamos assim que neste caso específico – da sociologia - a relação formação
acadêmica e prática nas salas de aulas estão intimamente ligadas no sentido que, sendo este um
campo de ação que é retomado, os cursos acadêmicos nem sempre estão moldados para essa nova
realidade, pois se passou muito tempo formando bacharéis, ficando a licenciatura em segundo
plano. Nesse sentido, muitas disciplinas de suma importância para a percepção da realidade
escolar, em alguns casos ficam delegadas a uma grade opcional e não obrigatória dentro dos
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cursos. Assim, pensar o professor de sociologia no ensino médio, passa necessariamente em
pensar sua formação e, desta maneira, também a formatação de alguns cursos superiores que
formam esses profissionais.
Alem disso, perceber que, para que haja a fixação da sociologia como disciplina no
ensino médio, será necessário que haja a estabilidade desse novo agente, ou seja, que haja a
preocupação em formar professores com identificação com o espaço escolar. Pois é dele que
dependerá a forma como a instituição e a sociedade como um todo, enxergará a relevância da
sociologia para a formação de um novo individuo social. Buscar construir uma consciência
professoral no estudante das ciências sociais é uma ação necessária para a legitimação desse
agente, uma vez que é preciso adentrar ao campo sabendo como agir para conseguir, não somente
ser reconhecido como um produtor/transmissor de saberes, mas para conseguir construir um
campo próprio para a sociologia.
Nas Orientações Curriculares (Brasil, 2006), o texto deixa claro o caráter de fragilidade
da sociologia em comparação a outras disciplinas, considera que a sua historicidade é bem
diversa, em relação às outras, com um tempo muito reduzido de efetividade na grade curricular
da educação. Explicita a falta de sistematização dos conteúdos e teorias a serem ministradas,
necessária para que a proposta inicial se concretize. Ainda, que a falta de consenso por parte dos
agentes neste caso, também sinaliza para a carência de uma fala comum a todas as comunidades
que defendem essa disciplina, dificultando a legitimidade e conquista de espaço. Assim, muito
embora as batalhas a serem travadas pareçam infindáveis, questões que poderiam já ter sido
superadas, continuam fortalecidas nesse campo, muito provavelmente devido à fragmentação
relacionada à permanência da Sociologia nos currículos.
DIFICULDADES E ENFRENTAMENTOS
O discurso que justifica a presença da Sociologia no ensino médio já virou frase feita,
cansativamente repetida – “formar o cidadão crítico”. Fugindo um pouco dessa premissa,
caímos em outra interpretação que também já se tornou recorrente, embora não abarque toda a
dinâmica desse tema, versa sobre o papel da disciplina na “formação do aluno para o exercício
da cidadania”. Porem, por mais repetido que seja essa fala, ela não dimensiona a dificuldade
para a realização desse projeto educacional. Mesmo porque, a transposição dos conteúdos da
formação superior para o ensino médio, delimita ou reduz o campo de ação do professor.
Mais do que pensar como professor, os novos profissionais precisam se vir como
professores “de sociologia”, ou seja, com a capacidade de formar esse senso crítico e possuidores
de estratégias para que esse projeto se realize na prática. Penso que a graduação ainda esta
formatada sem a preocupação legítima de formar professores dessa disciplina para o ensino
médio, causando assim, certo desconforto neste agente que adentra um campo totalmente
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desconhecido, munido muito mais de ideologias do que senso prático. Seu habitus assimilado
na universidade lhe instrumenta para observação e análise, mas muito pouco para a prática de
ensino. Assim, muitos ao se depararem com a grade curricular nas escolas e de posse de uma
análise crítica acadêmica, se sentem compelidos a fazer “a diferença”, mesmo sabendo que
terão pela frente regras e normas quase que intransponíveis para quem busca se legitimar num
novo campo.
Dessa forma, nos deparamos com a questão: o quê/como lecionar sociologia para o
ensino médio, sem se desvincular ou se perder dos saberes advindo da academia, buscando
uma formatação de aula que fuja ao academicista cumprindo, ao mesmo tempo, com uma grade
estabelecida dentro dos parâmetros institucionais?
Cabe aqui uma análise, diante da intermitência histórica da disciplina, a valorização
pelo saber acadêmico, pode ser considerado como uma necessidade da academicização dos
conteúdos como uma possível forma de busca pela legitimação. Ileizi Silva (2007) já nos alerta
sobre as mudanças que ocorrem nos conteúdos ao transportar uma ciência para o campo de
disciplina escolar, diz:
“Assim, a constituição de uma ciência em disciplina escolar se dá pelos processos
de contextualização, em que se produzem os conhecimentos e os discursos da
disciplina no campo cientifico/acadêmico, e pelos processos de recontextualização,
reelaboração dos conhecimentos/textos/discursos nos órgãos oficiais do Estado e
destes pras escolas. Nesse processo há deslocamentos de textos/discursos, alguns
selecionados em detrimentos de outros, reformulando-os a partir de questões
práticas, que são definidas nas lutas e nos conflitos de interesses presentes no
campo da recontextualização.” (pag. 406).
Pensar essa questão servirá para medir uma inconsistência que permeia a disciplina e
também o profissional, pois o “se tornar” um professor de sociologia muitas vezes entra em
conflito com o ser “sociólogo”. Bourdieu, em entrevista a Menga Lüdke (1991) já fazia uma
crítica aos sociólogos que, segundo ele, abriram mão da sociologia da educação, passando esta
especialidade para os educadores, bem como teriam abandonado o tema “educação” para os
pedagogos.
O que vale observar é se esse antagonismo e ou divisão se faz de fato necessário, pois o
espaço escolar é um campo fértil para o cientista social, onde o conhecimento das três ciências
que compõe sua formação (Sociologia, Antropologia, Ciência Política) é totalmente aplicável,
não somente dentro das salas de aulas, bem como em seu entorno, passando pelas relações de
poder/política dos setores administrativos chegando à forma de atuação junto aos alunos. Ou
seja, mais do que ser “professor” de Sociologia, pensamos ser necessário que esse profissional
se veja, antes de tudo, como cientista social atuando num espaço público.
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ESTRATÉGIAS DE ATUAÇÃO
Com a reinserção da sociologia no ensino médio, o Governo do Paraná através da Secretaria de
Estado da Educação sistematizou as Diretrizes Curriculares da Educação básica de Sociologia
buscando uma inclusão que iria além das exigências usuais de uma disciplina escolar. Para
escapar da metodologia da pedagogia tradicional, a proposta do ensino de Sociologia visa
contribuir para instigar uma perspectiva crítica aos temas sociológicos trabalhados em sala de
aula. O método a ser utilizado é o da pedagogia histórico - crítica, onde o educando é chamado
a contrapor sua realidade com a dinâmica histórica.
Para que essa perspectiva de atuação se realize o cientista social consciente do modelo
a ser seguido, em algumas situações, irá se perceber dentro de outro ideal pedagógico na escola
onde atua, pois mesmo que as orientações governamentais apontem a direção, o espaço escolar
é regido por profissionais que também passam por uma adequação estrutural, existindo assim,
uma relação de estranhamento entre o que é pressuposto e o que é possível realizar na prática.
Quando se impõe algo sem bases para que isso seja assimilado, corre-se o risco de dar
espaço para múltiplas interpretações sobre o que se propõe. O retorno da sociologia ao ensino
médio sofre desse mal. Com pouco material especifico para ser trabalhada, contando com livros
didáticos que atendem de formas diferentes aos conteúdos propostos, ou seja, falta unicidade.
Com um numero reduzido de professores formados na área que possa suprir a carência do
campo e sem políticas públicas que auxilie essa reinserção, a sociologia ainda vivencia
momentos de crise em busca de sua legitimação. Ou seja, a reinserção dessa disciplina não
significou necessariamente, a introdução dos seus conteúdos, que viria a corroborar com a sua
especificidade. Em contrapartida, o cientista social tem a escola como seu campo de atuação
primeira, dessa forma, mais que legitimar a sociologia enquanto disciplina necessária e exercer
um direito adquirido, esse novo agente, terá que defender seu campo de ação, necessário não
somente a sua sobrevivência, mas também a confirmação da relevância dessa disciplina fora
dos bancos acadêmicos.
Podemos assim pontuar alguns atos e ou estratégias que visam contribuir para que essa
legitimação se realize, dentre elas elencamos:
- A criação, efetivação e reconhecimento de um coletivo que defenda os interesses desses
profissionais diante das políticas governamentais;
- A consciência política e de classe deve ser valorizada, desde os bancos acadêmicos, neste caso
passando, necessariamente, pelo maior reconhecimento das licenciaturas;
- A produção e a divulgação de materiais de apoio aos livros didáticos, visando facilitar a
atuação do professor em sala de aula;
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- A reformulação na composição da grade de alguns cursos que formam os cientistas sociais,
onde não se delegue disciplinas de imperiosa importância para o professor de sociologia no
ensino médio a categoria de optativas. Disciplinas essas que ajudam a pensar tanto a educação
quando o adolescente, que são o foco de trabalho desse novo profissional;
- A expansão de projetos como o PIBID, pois esses possibilitam a aproximação dos acadêmicos
com a realidade escolar;
Algumas ações coletivas já estão sendo tomadas, mesmo que timidamente, faltando ainda
um engajamento maior dos envolvidos e ou interessados, sejam eles acadêmicos, professores
do ensino médio e universidade.
Em suma, acreditamos que um estreitamento nas relações entre academia e escola, irá
não só contribuir para a formação dos cientistas sociais, como também facilitar sua atuação no
espaço escolar. Fazendo que esse se reconheça como detentor de saberes que lhe são próprios
dentro de um campo que carece desse conhecimento e da atuação engajada e dinâmica. A
Sociologia nasce com a modernidade, os cientistas sociais são os detentores de um saber que
observa e atua numa realidade que se constrói a todo o momento, pois sabemos que a sociedade
não é estática, esta em constante transformação e a escola é uma instituição presente e ativa
dentro dessa realidade. Ainda, esses novos profissionais surgem com uma formação que tende
a ser diferente, moderna, tecnológica, devido a essa nova emergência educacional que só se
tornou realidade enquanto lei em 2008. Dessa forma, compreender a instituição escolar como
campo legítimo de atuação do cientista social é legitimar a disciplina e também fortalecer o
profissional das Ciências Sociais.
CONCLUSÃO
Diante do que foi aqui exposto e, mesmo considerando que este é um tema que precisa ser mais
bem estudado, o que se buscou mostrar é que a sociologia enquanto disciplina, para se legitimar
no campo de saber especifico que é o ensino médio, deverá ainda enfrentar muitos “dragões”.
Repensar este novo campo de atuação se faz necessário desde a academia, pois deverá existir
uma preocupação em relação à forma de atuação prática nesse espaço. Os conflitos próprios
desse campo, a disputa por reconhecimento e legitimidade esta presente como em qualquer
outro, porem o que se percebe é que em muitas situações, o agente que esta adentrando nesse
meio, ainda não conta com ferramentas próprias para essa disputa.
Numa outra área do saber, provavelmente essa deficiência seria assimilada com o
tempo sem maiores transtornos, no caso da sociologia essa deficiência de adequação irá agir
diretamente na legitimação e também na permanência da mesma como disciplina obrigatória
no ensino médio. Visto que é perceptível o quanto ela ainda é rejeitada e combatida, tanto em
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algumas escolas quanto nas políticas governamentais, essas ações são observadas na redução
de hora aula quanto na distribuição semanal de acordo com os interesses da escola, duas aulas
divididas entre segunda e sexta feira, dificultando a continuidade do trabalho do professor.
Lembrando ainda que mesmo sendo uma disciplina que já esteve nos currículos
escolares, à geração de professores que esta nas escolas, na maioria, não teve contato com ela.
Afinal foram anos de afastamento, de fragmentação dos saberes, substituído por disciplinas que
também não se estabeleceram, vindo a fortalecer a ideia de que o retorno da mesma seria apenas
para complicar a já atribulada grade curricular do ensino médio. Não conseguem precisar a
relevância do retorno dessa disciplina, também porque, esses agentes que estão no campo há
mais tempo, não sabem ou não (re) conhecem as emergências teóricas próprias da Sociologia,
sua especificidade. Sendo mais fácil negar algo que não se conhece, com base em pressupostos
que ainda restam no imaginário escolar, advindos das disciplinas que a substituíram nas inúmeras
mudanças que ocorreram na educação brasileira no decorrer da história.
A fragilidade na formatação da Sociologia como disciplina leva também a pressupostos
que visam à defesa do campo por parte dos agentes que já estão estabelecidos. Assim, buscam
não abrir mão do espaço conquistado e, a falta de legitimidade da Sociologia, desconsiderada em
sua necessidade e relevância, irá contribuir para que não se consiga a conquista e permanência
nesse campo, pois ao professor de Sociologia faltam ferramentas para sua defesa. Outro
problema que ainda ronda a sociologia no ensino médio, diz respeito à forma de transmissão
do conteúdo e as práticas de ensino. Existe uma tendência à reprodução para o nível médio
dos conteúdos e práticas próprias do ensino acadêmico, desconsiderando assim a formatação
diferenciada dos estudantes universitários em relação aos do ensino médio (SOUZA. 2008).
Para que haja a fixação da sociologia como disciplina no ensino médio, será necessário
que haja a estabilidade desse novo agente, ou seja, que haja a preocupação em formar professores
com identificação com o espaço escolar. Pois é dele que dependerá a forma como a instituição
e a sociedade como um todo, enxergará a relevância da sociologia para a formação de um
novo individuo social, necessário para uma nova concepção de sociedade. Buscar construir
uma consciência professoral no estudante das ciências sociais é uma ação necessária para a
legitimação desse agente, uma vez que é preciso adentrar ao campo sabendo como agir para
conseguir, não somente ser reconhecido como um produtor/transmissor de saberes, mas para
conseguir construir um campo próprio para a sociologia.
Considerando todas essas relevâncias, podemos dizer que vários são os fatores que
contribuem para que a sociologia ainda esteja fragilizada no ensino médio, necessitando que
as comunidades que defendem essa temática, promovam debates para que se enxerguem as
deficiências e, em conjunto, se busque meios para que ela se firme nesse campo, não correndo o
risco de, novamente, ser colocada fora dos currículos como disciplina obrigatória. É necessária
uma mobilização maior tanto da academia quanto dos profissionais da área.
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O interesse pela estabilização da sociologia na educação de nível médio, não diz
respeito apenas aos licenciados e ou licenciando, mas também aos alunos do bacharelado,
pois é despertando a curiosidade nos educandos que teremos um número maior de indivíduos
interessados nos temas relacionados a Ciências Sociais, sejam eles sociológicos, antropológicos
e ou políticos. Assim, para que haja a tão esperada legitimidade da Sociologia, há uma
necessidade de que o curso, como um todo, trabalhe a favor. Não visando apenas à formação
de novos indivíduos para suprir uma emergência da sociedade, mas para que se criem pessoas
conscientes, com um mínimo de saber crítico e com capacidade de análises sociais.
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