POSSIBILIDADES DO INSTRUMENTO DE ENTREVISTA EM SERVIÇO SOCIAL Edriane Cristhina Catarin Peretti1 RESUMO: A proposta de pesquisa refere-se à compreensão do instrumento de entrevista situado nos processos de trabalho do assistente social, fundamentado na dimensão técnico-operativa e imbricada às dimensões teórico-metodológica e ético-política, bem como analisar como a entrevista tem sido utilizada permitindo a construção de um espaço de conquistas para a profissão, pois o serviço social é profissão investigativa e interventiva, cuja materialidade se constrói à partir de competências articuladas entre si, elencadas nas Diretrizes Curriculares como as três dimensões: teóricometodológica, ético-política e técnico-operativa. Enquanto questão norteadora definiu-se: quais as possibilidades do instrumento de entrevista na prática profissional no CEOPE¿ A pesquisa será estruturada pautando-se na discussão sobre categorias abordadas pelo serviço social, e relacionadas com o tema, abordando instrumento, trabalho, instrumentalidade e mediação. Como metodologia de pesquisa, será utilizada a exploratória. Os sujeitos de pesquisa serão as Assistentes Sociais que formam a equipe do CEOPE. A técnica a ser utilizada como coleta de dados para a realização desta pesquisa será a entrevista e para registro, o gravador. Serão apresentados resultados parciais, elaborados à partir de estudos bibliográficos. PALAVRAS-CHAVE: Entrevista; Instrumento; Paciente Especial; Serviço Social. INTRODUÇÃO O estudo tem a proposta de compreender o instrumento de entrevista situado nos processos de trabalho do assistente social, fundamentado na dimensão técnico-operativa e imbricada às dimensões teórico-metodológica e ético-política, bem como avaliar a utilização da entrevista além dos objetivos de orientação aos direitos sociais dos clientes do serviço social, investigando-a enquanto possibilidades de conquista de espaço político para a profissão. A intenção referente ao tema surgiu à partir da experiência profissional enquanto assistente social, no Centro Estadual de Odontologia para Pacientes Especiais – CEOPE, Cuiabá/MT, constituída como uma Unidade de Saúde da Secretaria Estadual de 1 Graduada em Serviço Social pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE, Toledo/PR; PósGraduada em “Saúde Pública com Ênfase em Planejamento e Gestão”, pela UNIOESTE, Cascavel/PR; PósGraduada em “O Trabalho do Assistente Social – O Projeto Ético-Político e as Competências e Habilidades para sua Efetivação: uma discussão contemporânea”, UNIOESTE – Toledo/PR. Pós-Graduada em “Auditoria, Gestão e Perícia em Sistemas de Saúde”, pela Faculdade de Tecnologia Equipe Darwin – FTED, Cuiabá/MT. Mestranda em Serviço Social, turma 2013, pela UNIOESTE, Toledo/PR. Instituição: UNIOESTE. E-mail: [email protected] Tel:(44)9714-3998 1 Saúde do Mato Grosso, mantida integralmente pelo SUS e referência em atendimento odontológico a pacientes especiais. A Constituição Brasileira de 1988 preconiza a equidade como um dos princípios do SUS, visando o acesso universal e a priorização dos que mais precisam. Considerando que as Pessoas com Necessidades Especiais - PNEs tem os mesmos direitos constitucionais que devem ser assegurados, o Governo de Mato Grosso criou o CEOPE, através da Lei 8.344/05, credenciado pelo Ministério da Saúde como um Centro de Especialidade Odontológica CEO, com o objetivo de garantir o acesso humanizado dessas pessoas à assistência odontológica e a outros serviços de saúde. Segundo ABREU, PAIXÃO e RESENDE (2001), o tratamento odontológico do PNE se torna mais difícil por necessitar de maior tempo e número de sessões clínicas, mais paciência e dedicação da equipe. Devido grande número de PNEs de baixo poder aquisitivo, elas possuem dificuldades no acesso aos serviços disponíveis em centros hospitalares, unidades filantrópicas e serviços públicos de saúde. A atual Política Nacional de Saúde Bucal, sob a Portaria nº. 599/GM, de 23 de março de 2006, prevê a atenção à saúde bucal de indivíduos com necessidades especiais nos CEOs (BRASIL, 2006). Acredita-se que a implantação dessa política possa garantir maior acesso no presente e no futuro (PUCCA JÚNIOR, 2006). Nessa perspectiva, o serviço social do CEOPE planeja suas atividades buscando a Inclusão e o acesso aos direitos do paciente especial e sua família. Viabiliza exames laboratoriais de média e alta complexidade e procedimentos cirúrgicos, através de encaminhamentos e agendamentos. As ações são instrumentadas através de entrevistas, aplicadas exclusivamente pelo profissional de Serviço Social, objetivando conhecimento do perfil do paciente, situação bio-psico-social e aproximação deste com a equipe multidisciplinar, agilizando as agendas conforme a complexidade da doença e limitação de saúde. A entrevista também é aplicada nas visitas domiciliares (executadas em equipe multidisciplinar), programadas pelo serviço social e direcionadas à pacientes que possuem impossibilidade de locomoção. Este instrumental integra o prontuário do paciente, sendo acessível à equipe de profissionais, composta por Odontólogos, Médicos, Enfermeiros, Técnicos em Enfermagem e em Saúde Bucal e equipe gestora. 2 Encaminhamentos do serviço social, posteriores à entrevista, geraram aquisições de casa própria, acesso ao Transporte Público e gratuito e Benefício da Prestação Continuada – BPC. Promoveu uma prática humanizada, buscando complementar à técnica de tratamento da dor bucal, a totalidade do paciente enquanto sujeito. As ações proporcionaram diálogo entre a equipe multidisciplinar, melhor planejamento para os atendimentos e visibilidade do serviço social, possibilitando manter a equipe de seis assistentes sociais, quando houve a troca de governo do Estado e da direção do Centro. Destaca-se, que o instrumento de entrevista tornou-se fonte de pesquisa de mestrado da odontologia, que solicitou a participação do serviço social nos referidos estudos, utilizando da prática da entrevista. É considerada um diálogo entre o profissional e o usuário que, segundo LEWGOY (2007, p. 03), “...é capaz de produzir confrontos de conhecimentos e informações que pouco depois irão, de maneira sistematizada e inteligível, ganhar a arena pública e participar, em maior ou menor escala, da construção das sociedades e definição de seus rumos.” OBJETIVOS - Analisar, evidenciar e compreender como a entrevista tem sido utilizada permitindo a construção de um espaço de conquistas para a profissão. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Para a presente pesquisa propõe-se abordagem em forma de pesquisa exploratória qualitativa. Em primeiro momento, a pesquisa bibliográfica, por entendê-la como base rigorosa de orientação para analisar o objeto (MINAYO (2008). Posteriormente, a pesquisa de campo através de entrevistas com profissionais do setor de serviço social do CEOPE- Cuiabá/MT. A técnica a ser utilizada como coleta de dados para a realização desta pesquisa será a entrevista semi-estruturada, “que combina perguntas fechadas e abertas, em que o entrevistado tem a possibilidade de discorrer sobre o tema em questão sem se prender à indagação formulada” (MINAYO, 2008, pág. 64). 3 As entrevistas serão realizadas com cinco assistentes sociais – equipe atuante no CEOPE. A realização será no ambiente de trabalho - CEOPE, onde será apresentada a proposta de pesquisa, com agendamento de data e horário conforme a disponibilidade das agendas das profissionais. As entrevistas serão gravadas mediante autorização dos sujeitos da pesquisa, que será iniciada mediante autorização do Comitê de Ética e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido pelos sujeitos envolvidos. Para tratamento do conteúdo, serão classificadas categorias principais e secundárias, de acordo com RICHARDSON (1999), elencadas à partir da escuta e transcrição das entrevistas previamente gravadas e serão analisadas à partir do referencial teórico previamente construído. RESULTADOS PARCIAIS Apresenta-se aqui, como resultados parciais, considerações construídas à partir de estudo bibliográfico, sistematização das aulas do mestrado e experiência profissional de cinco anos utilizando o instrumento de entrevista. A pesquisa bibliográfica norteou-se de acordo com o tema da dissertação, ao qual origina este artigo resumido. Ressalta-se que a pesquisa de campo ocorrerá conforme a metodologia descrita acima, sendo os dados coletados e tratados de acordo com o referencial teórico pesquisado, utilizando-se de autores que já avançaram na discussão proposta, como Yolanda Guerra, Rosa Prédes Trindade, Maria Lúcia Martinelli, etc., assim como utilizar-se à das Leis, Diretrizes e Código de Ética Profissional. Por ora, é possível construir colocações importantes já sistematizadas de acordo com evolução do estudo. Primeiramente, localiza-se a entrevista enquanto habilidade técnica-operativa atribuída ao assistente social, articulada aos conhecimentos teórico-metodológicos e postura ética-política, conforme descrição das três dimensões nas Diretrizes Curriculares do serviço social, sendo que através delas pretende-se que o profissional identifique as demandas, desvele possibilidades de ação e formule respostas para o enfrentamento da questão social (ABEPSS/CEDEPS, 1996). Dessa forma, compreende-se a entrevista enquanto potencializadora das ações profissionais, viabilizando uma aparência de fazer cientifizado no dia-a-dia institucional, na perspectiva de acesso da pessoa humana aos seus direitos enquanto Ser Social. 4 Os instrumentos e técnicas são elementos mediadores e potencializadores do trabalho, podendo ser definidos como habilidade humana (VARGAS, 1994). E é a articulação entre eles que origina o instrumental técnico-operativo. A entrevista pode ser compreendida como instrumento ou técnica, dependendo da reflexão de cada autor. No serviço social - instrumental técnico-operativo de habilidade do profissional , utilizada como forma de conhecer um contexto para intervir, não sendo aplicável de forma padronizada, integrado na dialética das relações sociais – presente na atividade humana e como tal, implica ações sócio-políticas que interferem no movimento contraditório da sociedade, possibilitando ao profissional assistente social, participar dos resultados do trabalho profissional (TRINDADE, 2001). Os instrumentais técnico-operativos são como um conjunto articulado de instrumentos e técnicas que permitem a operacionalização da ação profissional (MARTINELLI, 1994). Através de leituras históricas compreende-se que a entrevista não está constituída nos processos de trabalho do assistente social como no princípio da profissão. Ela já foi considerada arte, ou técnica que podia ser aperfeiçoada. Entretanto, a prática é insuficiente e exige constante estudo da mesma, tornando necessário situá-la no tempo e na história da profissão. Assim, conhecer a teoria relativa à entrevista, é que fornece material necessário à análise crítica dos objetivos de sua aplicação, dentro das possibilidades e necessidades da demanda institucional apresentada ao profissional de serviço social. REFERÊNCIAS ABESS/CEDPSS. Currículo Mínimo para o curso de Serviço Social. RJ:1996. ABREU, M.H.N.G.; PAIXÃO, H.H.; RESENDE, V.L.S. Portadores de Paralisia Cerebral: aspectos de interesse na odontologia. BH, v.37, n.1, p. 53-59, jan/jun. 2001. BRASIL. PORTARIA Nº 599/GM DE 23 DE MARÇO CEO’s.http://dtr2001.saude.gov.br/sas/PORTARIAS/Port/2006. DE 2006.Implantação dos LEWGOY, A. M. B., SILVEIRA, E.C. A entrevista no processo de trabalho do Assistente Social. Revista Virtual Textos & Contextos. N.º 8. Ano VI. Dezembro, 2007. MARTINELLI, M. L. Um novo olhar para a questão dos instrumentais técnico-operativos em Serviço Social. Revista SS. & Sociedade. Nº54. SP: Cortez, 1994. 5 MINAYO, M.C.S. (org). Pesquisa Social: Teoria, método e criatividade. 27 ed. Petrópolis, R.J: Vozes, 2008. PUCCA JUNIOR, G. A Política Nacional de Saúde Bucal como Demanda Nacional. Ciência e Saúde Coletiva, RJ, v. 11, n. 1, p. 243-246, jan./mar. 2006. RICHARDSON, R.J. Pesquisa social: métodos e técnicas. 3º ed. SP: Atlas, 1999. TRINDADE, R. L. P. Desvendando as determinações sócio-históricas do instrumental técnicooperativo do Serviço Social na articulação entre demandas sociais e projetos profissionais. Temporalis nº4, Ano II. ABEPSS. Brasília, 2001. VARGAS, M. (org). História da técnica e da tecnologia no Brasil. SP: Edunesp, CEETEPS, 1994, 412p. 6