A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO SOBERANIA E SEGURANÇA ALIMENTAR: COLÔNIA DO PAIOL E A GLOBALIZAÇÃO MARA LINDA DA TRINDADE FARIA1 Resumo: O presente trabalho visa identificar os novos hábitos alimentares que vêm sendo introduzidos na comunidade de remanescentes quilombolas de Colônia do Paiol, esta situada na Zona da Mata mineira. Marca da globalização enunciada com proximidade ora abstrata, ora concreta de pessoas, capital e mercadorias denota-se a intitulação de uma cultura global. Objetiva-se nesse contexto apontar os novos padrões de consumo estabelecidos pelo processo de globalização na área de estudos abordada, dessa forma compreender através de um levantamento nas propriedades, as novas formas globais de alimentação e ao mesmo tempo verificar as possíveis potencialidades e formas de resistência locais. . Palavras-chave: Soberania, Segurança e Globalização Abstract: This study aims to identify new eating habits that have been introduced in the community of quilombo remnants of Colônia do Paiol, situated in Zona da Mata, Minas Gerais. Registry of Globalization enunciated with proximity sometimes abstract and sometimes concrete of people, capital and commodities denoted the denomination of a global culture. The objective is to point out in this context new consumption patterns established by globalization process in the study area addressed, thus understanding through a survey in the properties, the new global Feed forms and simultaneously verifying the possible potential forms and local resistance. Key-words: Sovereignty, Security and Globalization 1 - Acadêmica do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Juiz de Fora. E-mail de contato: [email protected] 1299 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO 1 – Introdução O presente trabalho visa identificar as novas formas de alimentação que vêm sendo introduzidas na comunidade, remanescente quilombola, de Colônia do Paiol. Esta situada na Zona da Mata mineira aos arredores do município de Bias Fortes, sendo considerada distrito da mesma. Observemos o mapa a seguir: Figura 1 - Mapa de localização do Município de Bias Fortes. Fonte: IBGE, 2015. Entendendo a globalização como a intensificação das relações econômicas, comerciais e culturais inferimos que por meio de avanços na tecnologia e nos transportes ocorreu uma expansão dos mercados financeiros e das empresas transnacionais, o que acarretou a ampliação dos fluxos de capital e mercadorias. Marca da globalização enunciada com essa proximidade ora abstrata, ora concreta de pessoas, capital e mercadorias se apresenta a intitulação de uma cultura global. Objetiva-se nesse contexto apontar os novos padrões de consumo estabelecidos pelo processo de globalização na área de estudos abordada, logo compreender através de um levantamento nas propriedades, as novas formas globais de alimentação e ao mesmo tempo verificar as possíveis potencialidades e 1300 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO formas de resistência locais. Salienta-se que os dados aqui trabalhados foram gerados no período de um ano (2014) de estudo na comunidade. Para realizar essa pesquisa houve a colaboração dos grupos Kizomba Namata2 e OCA/UFV3. 2. Desenvolvimento Milton Santos ao discorrer a cerca da fluidez coloca que vivemos hoje em um mundo da rapidez e da fluidez. Esta se trataria de uma fluidez virtual, possível pela presença dos novos sistemas técnicos, sobretudo os sistemas de informação. Ainda na abordagem de Santos (2010) considera-se que as atuais compartimentações dos territórios ganham esse novo ingrediente. Criam-se, paralelamente, incompatibilidades entre velocidades diversas; e os portadores das velocidades extremas buscam induzir os demais atores a acompanhá-los, procurando disseminar as infraestruturas necessárias à desejada fluidez nos lugares que consideram necessários para a sua atividade. Há, toda via, sempre, uma seletividade nessa difusão, separando os espaços da pressa daqueles outros propícios à lentidão, e dessa forma acrescentando ao processo de compartimentação nexos verticais que se superpõe à compartimentação horizontal, característica da história até data recente. (SANTOS, 2010, p.84) Atualmente se estabelece o discurso “midialístico” de que vivemos em uma nova era, marcada pela falta de tempo e pelas facilidades que as novas tecnologias podem nos proporcionar para nos adaptarmos a ela. A influência que a mídia proporciona à população se apresenta de forma contraditória e inversa aos direitos humanos à alimentação. Ainda sob o ponto de vista de Santos, é por meio dessas linhas de menor resistência e, por conseguinte, de maior fluidez, que o mercado globalizado procura instalar a sua vocação de expansão, mediante processos que levam a busca da unificação e não propriamente à união (SANTOS, 2010, p.84). Através dos meios de comunicação as informações chegam facilmente a todas as nações, porém o mesmo não ocorre com os direitos. Verifica-se, dessa forma, que paralelamente a perda de identidade, os grupos sociais se deparam 2 Laboratório de Pesquisa da Universidade Federal de Juiz de Fora gerado através do projeto “ECOMUSEU de comunidades negras da Zona da Mata mineira: entre saberes e sabores” 3 Organização Cooperativa de Agroecologia com vínculos a Universidade Federal de Viçosa. 1301 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO também com a violação de direitos essenciais. Heasbaert (2010) expõe que na medida em que a globalização apresenta suas características homogeneizadoras surge em contrapartida à segregação. A competitividade, por si só, já permite entender que por mais que haja um principio de unificação, o acelerar ou desenvolver de uma área D ante uma área E pressupõe diferenciações entre elas, engendradas por meio das novas tecnologias. Quem tem capital tem poder e essas são as bases da sociedade capitalista na qual vivemos. Percebemos que a identidade comunitária se territorializa, no entanto, teme-se como o poder pode apresentar eficiência maior para se territorializar. O poder se sobrepõe aos “sabores, saberes e poderes” das comunidades tradicionais e quilombolas (PORTO-GONÇALVES, 2006). Na década de 1970 a Segurança Alimentar permaneceu profundamente atrelada à questão do abastecimento permanente de alimentos à população mundial. Era um momento de crise econômica em escala global, onde os gêneros alimentícios estavam com preços elevados. Acreditava-se que o problema da fome mundial seria resolvido com o aumento da produção alimentícia global (VILAS BOAS, 2015). De maneira geral, acreditou-se que somente a técnica, seria capaz de diminuir consideravelmente os impactos da fome. Houve um fortalecimento da indústria química e da Revolução Verde, que despolitizou a questão da fome, tornando-a algo técnico. Como efeito ocorreu a inserção dos maquinários, agrotóxicos e transgênicos, provendo o crescimento da produtividade agrícola (PORTO-GONÇALVES, 2012). Na década de 1990 as políticas de Segurança Alimentar começaram a adquirir maior visibilidade. Seus objetivos centrais voltavam-se não somente às questões relacionadas ao suprimento das necessidades alimentares da população e autossuficiência nacional, porém se colocaram diante da incorporação de outros aspectos relativos ao acesso aos alimentos, a quantidade e a carência nutricional destes. Em consonância com Carvalho e Stedile (2012) a Soberania Alimentar se apresenta como política mais ampla que a Segurança alimentar, uma vez que, salienta a necessidade de um povo ser soberano e protagonista de seu próprio 1302 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO destino. Mostra a necessidade que esse povo apresenta em ter recursos e condições para produzirem, terem controle do cultivo e qualidade de seu alimento. Um caminho para a Soberania Alimentar e possível símbolo de resistência das comunidades quilombolas e “tradicionais” à proposta cultura global, seria a Agroecologia. Esta consiste em um estudo holístico dos agroecossistemas, abrangendo todos os elementos ambientais e humanos (ALTIERI, 1989). Corroborando com o pensamento de Carneiro (2008), as comunidades rurais/quilombolas, ou seja, “tradicionais” e concomitantemente inseridas na modernidade da circulação de mercadorias, bens e informações suscitam um acervo íntegro do passado que se choca ou interage com os novos hábitos que se interpenetram no rural. Nessa perspectiva podemos refletir sobre a alimentação e as práticas alimentares no contexto do mundo globalizado. 3. Metodologia e Resultados Em face do trabalho exposto foi utilizada a metodologia Campesino a Campesino, muito difundida em Cuba, primordial para um reconhecimento real do território e um levantamento das formas de produção e alimentação local. O objetivo de se trabalhar com essa metodologia se baseou em conhecer os quintais e os moradores, estreitar relações, participar do cotidiano da comunidade e fazer um mapeamento produtivo dos quintais. Visando identificar os potenciais de cada quintal, os problemas e as expectativas das pessoas em relação à comercialização dos produtos. Há algumas décadas essa metodologia vem se esforçado para melhorar a vida dos pequenos agricultores atuando como resposta às carências sociais e ambientais trazidas pelas mudanças no cultivo agrícola. A mesma é trabalhada de forma empírica possibilitando mesclar técnicas alternativas e modernas sempre pensadas a partir de um cunho agroecológico interessada na resistência e resiliência do mesmo. Resiste assim, a mercantilização que destruindo o meio compromete a qualidade de vida (HOLT-GIMENEZ, 2008). Através da metodologia Campesino a Campesino tivemos conhecimento de um tópico referente ao Intercâmbio de Experiências. Este foi adaptado dentro da metodologia que o gerou para a construção do conhecimento agroecológico na 1303 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO interação entre movimento sindical, a Universidade Federal de Viçosa – UFV e Centro de Tecnologia Alternativa da Zona da Mata – CTA/ZM, aperfeiçoando ou o adaptando para os Intercâmbios Agroecológicos. Os Intercâmbios Agroecológicos buscam estimular os agricultores a compartilharem suas experiências, a partir da relação horizontal entre conhecimento científico e conhecimento popular, e da criação de uma rede de troca de conhecimentos que abrange desde a escala local à regional (ZANELLI, 2015). A metodologia utilizada é constituída por diversas etapas ou formas de aplicação, estando aberta para adaptações de acordo com as intenções de investigação e ação. Basicamente os Intercâmbios realizados no Paiol obtiveram sete etapas, sendo essas: Mística de Abertura, Apresentação dos Participantes e das Organizações, História da Família Anfitriã, Caminhada pela Propriedade, Partilha de Conhecimentos, Troca de Sementes e Mudas e Confraternização (ZANELLI, 2015). Tabela 1. Passo a Passo dos Intercâmbios Agroecológicos Mística de abertura Momentos de animação, de descontração que traz à tona a dimensão simbólica, de grande motivação para os participantes. Muitos destes momentos são feitos na forma de oração, porém existem outras formas de condução da mística, como música, teatro, dinâmica de grupos, entre outras. Apresentação dos O momento de apresentação se faz importante tendo Participantes em vista que um Intercâmbio pode contar com participantes de fora da comunidade, de outras organizações e até mesmo de municípios vizinhos. História da Família Após a mística e apresentação dos participantes, a Anfitriã família anfitriã do intercâmbio é convidada a relatar sua história, desde o momento em que iniciaram o relacionamento até o momento presente. Esta dimensão da história de vida da família é relatada 1304 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO juntamente com a história da propriedade. Tal procedimento permite um conhecimento sobre as condições de posse ou de aquisição da terra e a história de manejo da propriedade. Caminhada pela Possibilita o grupo conhecer os diversos espaços Propriedade produtivos da propriedade, como os arredores da casa, a horta, pomar, curral, pastos, roças de milho, lavouras de café, áreas de mata, de nascentes, etc. Assim como trazerem elementos que os participantes acharem interessantes positiva ou negativamente para socializarem. Partilha de Esse momento do Intercâmbio Agroecológico fomenta Conhecimento um debate a partir dos elementos que cada participante achou importante trazerem para a socialização dos achados. Acredita-se ser um momento ímpar do Intercâmbio, exatamente por serem geradores ou estimuladores das discussões a cerca da propriedade. Troca de Sementes Através destes momentos de trocas de sementes e e Mudas mudas nos Intercâmbios que são estimulados a agrobiodiversidade pessoas levam e pra a sociobiodiversidade, casa o compromisso as de posteriormente retornar com algo em troca para o grupo. Confraternização Esse encerramento pode ser feito através de uma oração final ou uma fala da Família Anfitriã. Nesta etapa também se abre uma oportunidade de pensar na próxima propriedade visitada, data e demais pautas de organização. Fonte: Adaptado de Zanelli, 2015. 1305 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO Com a realização dos Intercâmbios obteve-se resultados significativos e até mesmo surpreendentes tendo em vista o quadro esperado e o diagnóstico realizado posteriormente a aproximação com a comunidade. Estes, porém, discutiremos mais a frente. Reunindo os dados compartilhados sobre as impressões das Caminhadas pelos quintais, alcançou-se um resultado surpreendente. Com a contribuição de todos os participantes foi possível obter uma análise mais ampla e ao mesmo tempo minuciosa dos quintais. Sem contar, que as diferentes visões trouxeram dados novos que somaram e fortaleceram a Partilha do Conhecimento. Com os dados coletados foi gerada uma tabela que se dispõe a seguir: Tabela 2 - Elementos observados durante a Caminhada pelas Propriedades – Quintais Limão; Losna; Abóbora; Chuchu; Mamão; Mandioca; Abacate; Aspectos Urucum; Maracujá; Quiabo; Banana; Funcho; Cheiro Verde; Positivos Inhame; (P) Couve; Manga; Cebolinha; Laranja; Pêssego; Cenoura; Beterraba; Alface; Almeirão; Repolho; Goiaba; Maçã; Acerola; Bertalha; Hortelã; Poejo; Arruda; Milho; Feijão. Aspectos Lata de cerveja; Saches de Sazón; Pacote de biscoito; Leite Negativos condensado, Óleo de cozinha, Embalagem de refrigerante; (N) Papéis de bala; Pacotes de frangos industrializados. *Algumas famílias consomem hortaliças, legumes e frutas compradas fora da comunidade de procedência geralmente industrial. Fonte: Resultado de relatorias dos grupos KIZOMBA NAMATA e OCA, 2014. Observou-se por meio dos Intercâmbios uma diversificação de cultivos nos quintais das propriedades. A princípio os próprios moradores relataram já não plantar mais e por consequência à compra massiva de produtos industrializados desde os temperos aos refrigerantes. Porém com o desenvolvimento do trabalho foram levantadas várias espécies diferentes e longe do uso de agrotóxicos. Ficou evidente que os próprios 1306 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO moradores não tinham conhecimento de suas potencialidades e do valor de suas formas de cultivo. Um aspecto notório foi a presença de lixo nos quintais da comunidade, sendo através deles feita a investigação dos novos hábitos inseridos no Paiol. Como mostra a tabela dois, pacotes de biscoito, temperos, latas de cerveja foram encontrados o que despertou a atenção para a forma de aquisição desses produtos. Em diálogos informais os moradores trouxeram relatos a cerca de como a qualidade de vida mudou na comunidade. Se antes existia a tradição do plantio, cada vez mais vem acontecendo um distanciamento dos moradores para com a terra. Com o passar dos anos, relataram os moradores, as pessoas da comunidade foram saindo para trabalhar cada vez mais longe, assim estes transitavam entre o meio rural e o urbano. A somatória dessa relação gerou uma interpenetração de novos valores havendo não somente um misto de culturas, mas também um choque. Cada vez mais através das mídias se estabelece um ideário de novas vivências fazendo com que as pessoas dia pós dia aumentem a necessidades de buscar o “moderno”. Criou-se a necessidade de ser moderno, de estar perto das novas tecnologias e dos grandes centros urbanos. Na comunidade de Colônia do Paiol não acontece diferente, através principalmente da televisão e da escassez de empregos próximos, os moradores saem da comunidade em “busca de uma vida melhor”. Os que retornam ou transitam a passeio acabam por reforçar esses novos hábitos de consumo uma vez que inseridos em outros contextos acabam por influenciados. Contudo, há quem resista a esses novos valores e buscam uma releitura de sua cultura e tradição, prova disso, as várias espécies cultivadas nos quintais. Apesar dos moradores não terem claramente essa visão produtiva, pois entendem esta exclusivamente em um contexto de grande escala, produzem a partir do que aprenderam com os pais e avós. Em algumas trocas de saberes ou até mesmo relatos das Famílias Anfitriãs foi relatado o afastamento dos jovens da terra, das danças e expressões culturais da comunidade e em contrapartida a aproximação com as drogas, violência, do sexo cada vez mais cedo. Quando esse afastamento ocorrer dois fatores principalmente são influenciados: a Cultura e a Soberania. Quando os valores e hábitos globais são entendidos melhores 1307 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO ou mais modernos coloca-se em segundo plano a própria cultura. Isso ocorre pela melhor articulação dos grandes centros urbanos por meio das mídias. A alimentação é um dos primeiros níveis de mudança que ocorre na comunidade. A Soberania dos moradores do Paiol acaba por comprometida nessa transição do cultivo para subsistência, ao consumo de industrializados e transgênicos. Os moradores relataram que esses alimentos chegam a comunidade por caminhões que vão até lá, dos mercados das cidades vizinhas e dos botequins que são em torno de 7 para aproximadamente 80 famílias da comunidade. Existe também a venda informal que se dão nas próprias casas, que se propõem a vender balas, biscoitos, doces, refrescos, contemplando principalmente o público infantil. Por fim, através do contato com a comunidade por meio da prosa, dos causos, e Caminhadas pelas Propriedades, esta pertencente à metodologia utilizada, encontramos um cenário onde a agroecologia, ainda que sem o entendimento de seu conceito, porém com aplicação da sua prática, é bem acolhida e apesar dos problemas emergentes com os novos hábitos de consumo e cultivo, vem resistindo. Acredita-se que com os trabalhos desenvolvidos foi possível identificar o potencial produtivo dos quintais da comunidade, a importância de sua cultura, tradição e patrimônio, que diferente do que é imposto atualmente pela mídia não soa arcaico, toda via possibilita a resistência e garante sua Soberania Alimentar. 4. Considerações Finais Avalia-se desse período de pesquisa que a comunidade de Colônia do Paiol passa por um processo de interpenetração dos novos valores modernos. Os quais buscam inserir padrões ditos globais intencionando a unificação, entretanto, são valores excludentes uma vez que não se territorializa de formas iguais em todos os territórios. Esses tendem a uma ruptura cultural do tradicional em vista do novo. Contudo, existe aqui a intenção da união. É preciso incentivar as populações tradicionais a relerem suas tradições em tudo que implica a guarda de seu patrimônio. Também de assegurar as relações com a terra que sempre trouxeram Soberania ao homem assim como Segurança Alimentar, se esquivando do cenário atual que muito produz e, pouco distribui, pouco nutri e pouco assegura. 1308 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO A união implica em assegurar o direito de todos, assim como tornar o acesso ao seu conhecimento de forma comum. Por outro lado, a comunidade vem resistindo ao rompimento cultural quando ainda firma sua Soberania com os cultivos nos quintais. Tamanho estímulo obtivemos quando nos depararmos com a diversidade de cultivos dos quintais, com isso a compreensão das potencialidades dos quintais das famílias visitadas. A partir de agora os trabalhos tomam outros caminhos onde acredita-se que cada vez mais a comunidade, através da Associação de moradores e a ajuda dos demais, poderá alcançar seus objetivos e guardar o que têm de mais precioso, sua Cultura, sua Segurança e, sua Soberania Alimentar. 4. Referências Bibliográficas Altieri, M. A. Agroecologia: as bases científicas da agricultura alternativa. 2. ed. Rio de Janeiro: PTA/Fase, 1989. CARNEIRO, Leonardo de O. Requilombarse São Pedro dos Crioulos: Magia e Religião em São Pedro de Cima. Rosário (AR), Encontro Internacional Humboldt, 2008. _______.ECOMUSEU de Comunidades Negras da Zona da Mata mineira: entre saberes e sabores. PROEXT, 2013. HOLT-GIMENEZ, Eric. Campesino a Campesino: Voces de Latinoamérica – Movimiento Campesino para la Agricultura Sustentable. 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