XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro. Rescrita e análise textual: como os alunos veem o texto Letícia Alves de Carvalho¹ Adeilson Pinheiro Sedrins² Introdução O presente trabalho foi realizado no âmbito do Programa Institucional de Iniciação a Docência (PIBID) na área de letras. O trabalho foi desenvolvido em uma turma de terceiro ano do ensino médio da Escola de Referência em Ensino Médio Professor Adauto Carvalho (EREMPAC), situada no município de Serra Talhada e que faz parte do sistema público estadual de ensino do estado de Pernambuco. No Ensino Médio, a elaboração de textos dissertativos argumentativos continua sendo uma preocupação para os professores de Língua Portuguesa, tendo em vista que esse tipo de texto é muito exigido dos alunos, sobretudo daqueles que pretendem se submeter a vestibulares e ao ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio). No entanto, o que acaba acontecendo é apenas um ensino técnico de normas do “bem escrever” em que os alunos não são levados a nenhum tipo de reflexão ou desenvolvimento crítico sobre temas atuais, nem, principalmente, à reflexão da prática da produção textual enquanto atividade socialmente e historicamente situada. De acordo com o que aponta Geraldi (2005), a produção de texto e o exercício de redação nas escolas tem sido um campo que apresenta grandes dificuldades tanto para o professor quanto para os alunos, ano após ano os temas se repetem, nunca há nada de novo que desperte o interesse dos alunos para a produção textual ou que os faça desenvolver o seu senso crítico. Os processos anteriores e posteriores ao momento da escrita, produzir um texto escrito não é uma tarefa que implica apenas o ato de escrever. Não começa, portanto, quando tomamos nas mãos papel e lápis. Supõe, ao contrário, várias etapas, interdependentes e complementares, que vão desde o planejamento, passando pela escrita propriamente, até o momento posterior da revisão e da reescrita. (ANTUNES 2003, p.54) muitas vezes tais processos não são valorizados em sala de aula, os alunos escrevem sem nenhum planejamento prévio ou revisão do que foi feito após a escrita. Outro ponto que apesar de muito exigido é esquecido é o caráter argumentativo do texto dissertativo argumentativo. Como o nome já sugere, é esperado que o aluno consiga se posicionar a respeito do assunto abordado pelo tema proposto, porém o que se observa é que os alunos em escrevem relatos, ou seja, não se posicionam perante o tema, apenas o descrevem. Assim, o nosso objetivo foi fazer o aluno refletir sobre a produção textual e contribuir para o desenvolvimento da sua competência textual, tomando como cerne de discussão o caráter argumentativo da linguagem, nos termos apresentados em Koch (2003), para quem “o uso da linguagem é essencialmente argumentativo” (KOCH, 2003, p. 29). Nesse sentido, apresentamos neste trabalho nossa proposta de intervenção didática realizada em uma instituição da rede pública estadual de ensino, em turmas do terceiro ano do ensino médio, que buscou promover atividades de análise textual, visando o desenvolvimento da competência argumentativa dos alunos, tomando como base para nossa prática uma perspectiva teórica da linguagem de cunho sociointeracionista (BAKHTIN, 2004). Material e métodos A nossa proposta de intervenção foi levar um texto de caráter dissertativo argumentativo, retirado de um banco de redações disponível no endereço: http://educacao.uol.com.br/bancoderedacoes/redacao/lei-para-todos.jhtm. A escolha do texto se deu a partir dos seguintes critérios: a) a temática explorada; b) problemas de escrita que também eram recorrentes nas produções dos 1.Graduanda do 8° período do curso de Licenciatura Plena em Letras, do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação a Docência (PIBID-Letras). Universidade federal Rural de Pernambuco- Unidade Acadêmica de Serra Talhada. 2. Professor Dr. E orientador da pesquisa. alunos; c) problemas na argumentação. A atividade foi algo complementar ao conteúdo que já havia sendo ministrado pela professora em sala de aula, visto que ela já havia trabalhado com textos dissertativos argumentativos e que os alunos já tinham, inclusive, realizado três produções antes da realização da atividade, porém, o que se observava era um repasse de regras através de modelos de redações que haviam obtido nota máxima no ENEM por exemplo, em nenhum momento, até então, os alunos haviam sido convidados o olhar para o seu texto de forma a buscar o que precisava ser melhorado. A proposta então, era fazê-los refletir na sua prática, olhar o texto não apenas como quem produz, mas de forma crítica, avaliando os pontos positivos e negativos, ocupando aposição de um leitor crítico. A atividade de análise foi antecedida de um momento de debate sobre o tema: “Cotas nas universidades federais: solução ou problema”, visto que era um dos temas que a professora havia lhes indicado para estudarem por ser um dos possíveis temas do ENEM, mesmo tema também do texto que foi analisado e reescrito pelos alunos. Após o debate foi entregue aos alunos o texto. Foi realizada uma leitura silenciosa onde os alunos foram orientados a destacar tudo que julgassem ser problemático no texto, ou que na visão deles poderia ser escrito de outra maneira. O passo seguinte foi uma leitura coletiva por parágrafo. Todos os pontos destacados como problemáticos, eram escritos no quadro e em seguida era realizada a correção com a participação dos alunos, assim, ao fim de cada parágrafo os alunos apontavam o que não estava muito bom e sugeriam mudanças. Após esse processo o foco se deu o trabalho com a argumentação, em que os alunos destacaram os pontos em que havia argumentos no texto. E em seguida foi realizada uma breve explanação de como os alunos poderiam construir a argumentação em seus textos. Os alunos também conseguiram identificar muitos problemas quanto a questões gramaticais, sobretudo a concordância. Resultados e Discussão O objetivo foi mostrar aos alunos quais eram os pontos que eles precisavam evitar ao escrever um texto dissertativo argumentativo, visto que a maior parte dos problemas encontrados no texto também eram cometidos por eles em suas produções. Ponto baste produtivo foi perceber que os alunos haviam conseguido se apropriar do que já havia sido trabalhado com eles anteriormente e também conseguiram detectar todos os pontos problemáticos que o texto possuía, bem como apresentaram correções satisfatórias aos problemas. Após as sugestões e correções feitas pelos alunos, tivemos como resultado final a reescrita completa do texto. Eles conseguiram identificar tanto os problemas relacionados a estrutura e gramática quanto os que eram observados quanto a argumentação. Conseguiram também dar alternativas de correção e reescrita satisfatórias levando em conta a situação e tudo que já havia sido trabalhado até em tão com respeito a produção de textos dissertativos argumentativos. Considerações finais Tendo em vista que o texto analisado foi um texto real, foi possível levar em conta durante a análise o caráter social e histórico do próprio ato da produção do texto, como forma de promover aos alunos o contato com situações de análise textual diferente da qual haviam tido contato até então a fim de fazê-los refletir sobre caráter dialógico do texto escrito e sua relevância social. Visto que o texto utilizado para a análise apresentava as mesmas deficiências observadas das produções realizadas anteriormente pelos alunos, a atividade foi bastante construtiva, já que os alunos conseguiam atingir o objetivo de refletir sobre a prática da escrita e se apropriar de uma visão diferente quanto a suas próprias produções e conseguiram ver o texto não penas pela ótica de quem produz, mas de quem avalia, como leitores críticos. Foi possível notar nas produções subsequentes a aplicação da atividade, uma preocupação maior com a escrita e com a organização das ideias dentro do texto. Pode-se concluir então que o impacto da atividade foi positivo, já que atingiu o objetivo principal que vinha a ser provocar a reflexão dos alunos sobre a prática da escrita. Agradecimentos A CAPES pelo incentivo e financiamento ao PIBID UFRPE. Ao PIBID UFRPE pela proposta de iniciação à docência e pesquisa na área do ensino de língua portuguesa, à Profa Dorothy Brito (Coordenadora do PIBID – LETRAS/ UAST) e ao meu Orientador Prof. Adeilson P. Sedrins. Referências ANTUNES, I. Muito Além da Gramática: por um ensino sem pedras no caminho. São Paulo. Parábola Editorial, 2007. ANTUNES, I. Aula de Português: Encontro e interação. 4. Ed. São Paulo: Parábola, 2006. BAKHTIN, M. Marxismo e filosofia da linguagem. 11ed. São Paulo: Hucitec, 2004. GERALDI, J.W. O texto na sala de aula. 3. ed. São Paulo : Ática, 2005. KOCH, I. V. A inter-ação pela linguagem. 8.ed. São Paulo: Contexto, 2003.