Perspectiva Semanal De 18 a 22 de maio de 2009 Cenário A agenda de indicadores econômicos domésticos, prevista para esta semana, é relativamente pobre. Ainda assim, os integrantes do mercado deverão ficar atentos aos novos números de inflação que serão conhecidos nos próximos dias. O destaque caberá à divulgação do IPCA-15 deste mês, que continuará sendo influenciado por aumentos pontuais e temporários, mantendo a variação do mês muito próxima à alta observada pelo índice fechado de abril (0,41%). Pelo lado de atividade, os novos números sobre o emprego e renda devem acusar a crescente deterioração do mercado de trabalho, colocando a taxa de desemprego, em abril, próxima de 10% da PEA. Ainda que se mostrem relevantes na complementação do atual quadro conjuntura, é pouco provável que os indicadores que serão divulgados nesta semana mudem o humor do mercado, promovendo alterações significativas nos prêmios ao longo da curva de juros. No exterior, serão conhecidos alguns indicadores relevantes nos EUA e na Zona do Euro. O destaque, entretanto, ficará com a divulgação da ata da reunião do Comitê de Mercado Aberto (Fomc) realizada no mês passado. O documento deverá trazer avaliação detalhada da conjuntura americana, bem como da evolução das condições do mercado financeiro, podendo determinar a ampliação dos programas de irrigação de liquidez no sistema. O ambiente de incertezas para os ativos em geral deve prosseguir. Economia Internacional Em que pese o forte estímulo monetário patrocinado pelo banco central dos EUA (Fed), por meio da combinação de juros básicos no piso e forte injeção de moeda no sistema, o crédito não deslancha. Os bancos continuam avessos a emprestar. O multiplicador bancário, que historicamente situa-se próximo de 2, estabilizou-se abaixo de 1 desde a eclosão da crise. Como o chairman do Fed, Ben Bernanke, destacou na semana passada, a forte expansão de moeda patrocinada pelo Fed tem inchado a base monetária, não se traduzindo em aumento dos agregados monetários mais amplos. O mercado de crédito permanece travado. Na melhor das hipóteses pode-se dizer que os empréstimos fluem a conta gotas, mantendose seletivos e restritos. Exceção são os financiamentos imobiliários, que graças à queda dos juros das hipotecas, têm mostrado alguma reação. Mas para as demais modalidades, o crédito continua escasso. O teste de estresse implementado pelo Tesouro Americano gerou a expectativa de que patrocinaria forte redução nas incertezas, favorecendo a queda do risco de contraparte, e, por conseguinte, estimularia o aumento nos volumes de empréstimos. Isto ainda está para ser visto. Em resumo, há muita incerteza no ar, o que deverá retardar o deslanche do mercado de crédito. Pelo lado real da economia, tem-se observado alguns indicadores de atividade mostrando ligeira melhora, alimentando a ilusão de que a saída desta crise poderia ser rápida (V shape). No entanto, com o crédito travado, sem irrigar o consumo e investimentos, a economia real deverá amargar longo período de estagnação, reforçando o cenário de que a saída desta crise está mais para um largo U do que para o formato de um V. Perspectiva para a semana Nesta semana, a agenda de divulgações econômicas nos Estados Unidos é mais modesta. No setor imobiliário, será conhecido o indicador do mercado de imóveis residenciais, apurado pela Associação Nacional dos Construtores de Residências (NAHB), que deverá registrar 16 pontos em maio (14 pontos em abril), sustentando a tendência de lenta melhora apresentada pelo setor recentemente. Em linha com a melhora do humor no setor, os investimentos imobiliários esboçam reação. O número de início 1 de construção de novas casas deve aumentar 3,3% em abril em relação ao mês anterior, equivalente ao início da construção 527 mil novas casas, em termos anualizados. Da mesma forma, projeta-se alta em torno 2,7% para o número de licenças para construção, estimando-se em 610 mil licenças em abril (516 mil no mês anterior). Apesar da reação, vale lembrar que os atuais patamares de construção e lançamentos permanecem em níveis 1 muito deprimidos em relação à média observada no passado recente. Pelo lado da atividade econômica, o destaque caberá à divulgação dos indicadores antecedentes referentes a abril, que deverão mostrar crescimento de 0,6% no mês (-0,3% no mês anterior), interrompendo nove meses de quedas consecutivas. A fraca agenda nos EUA deverá ser compensada por alguns dados importantes de atividade na Zona do Euro, Reino Unido e Japão. Desta forma, a nova safra de dados a ser conhecida nos próximos dias poderá minar o bom humor dos mercados a medida em que pode reforçar a percepção de que a economia mundial permanece em contração, ainda que em ritmo mais lento. Na quinta-feira, o Banco Central do Japão (Boj) promove mais uma reunião de política monetária. À semelhança do Fed, os instrumentos de política monetária chegaram ao limite, restando continuar prover liquidez e comprar ativos em mãos de bancos e empresas. Perspectiva Semanal A Semana Segunda-feira EUA: Ind Mercado de residências NAHB (maio) – Projeções: 16 pts Terça-feira EUA: Construção de novas casas (abril) – Projeções: 527k EUA: Licença para novas construções (abril) – Projeções: 530k Japão: Produção industrial M/M (março) – Projeções: 1,5% Japão: Produção industrial A/A (março) – Projeções: -35,0% Japão: PIB T/T (1º trimestre) – Projeções: -4,3% Japão: PIB anualizado (1º trimestre) – Projeções: -16,2% Reino Unido: Preços ao consumidor M/M (abril) – Projeções: 0,4% Reino Unido: Preços ao consumidor A/A (abril) – Projeções: 2,4% Alemanha: Sentimento econômico ZEW (maio) – Projeções: 15,0 pts Zona Euro: Sentimento econômico ZEW (maio) – Projeções: 10,0 pts Quarta-feira EUA: Ata reunião do Fomc de 29/abril Alemanha: Preços ao produtor M/M (abril) – Projeções: 0,0% Alemanha: Preços ao produtor A/A (abril) – Projeções: -1,3% Quinta-feira EUA: Pedidos seguro desemprego (16/mai) – Projeções: 625k EUA: Indicadores antecedentes (abril) – Projeções: 0,6% EUA: Indicador Fed Filadélfia (maio) – Projeções: -18,0 pts Japão: Boj reunião de política monetária França: PMI manufatura (maio p) – Projeções: 41,0 pts França: PMI serviço (maio p) – Projeções: 46,8 pts Alemanha: PMI manufatura (maio p) – Projeções: 37,0 pts Alemanha: PMI serviço (maio p) – Projeções: 44,2 pts Zona Euro: PMI manufatura (maio p) – Projeções: 37,5 pts Zona Euro: PMI serviços (maio p) – Projeções: 44,0 pts Zona Euro: PMI composto (maio p) – Projeções: 43,2 pts Reino Unido: Vendas a varejo M/M (abril) – Projeções: 0,5% Reino Unido: Vendas a varejo A/A (abril) – Projeções: 2,5% Sexta-feira Reino Unido: PIB T/T (1º trimestre f): - Projeções: -1,9% Reino Unido: PIB A/A (1º trimestre f): - Projeções: -4,1% Economia Brasileira Uma discussão que deve ganhar importância nos próximos meses é sobre o produto potencial brasileiro. Produto potencial corresponde ao nível de produção que pode ser mantido sem que haja pressões inflacionárias. Produto efetivo evoluindo acima do potencial é gerador de pressões inflacionárias na economia. Em caso contrário, ocorrem pressões baixistas sobre os preços. Estimativas recentes indicam que o produto potencial brasileiro estaria entre 4,5% e 5%. Dúvida recorrente é se a crise financeira pode derrubar o produto potencial. Crises tendem a aumentar a incerteza do empresário, levando a reduções nos investimentos. Firmas podem quebrar. Indivíduos sem emprego por muito tempo podem perder habilidades e se tornarem não empregáveis. Quedas nos investimentos e na oferta de trabalho tendem a reduzir a produtividade total dos fatores. A economia perde eficiência. Diante destes fatos, é de se esperar que a crise derrube o produto potencial brasileiro. Pelos nossos estudos, projetamos queda em torno de 1% no produto potencial. Isso significa que devemos passar um bom tempo sem verificar taxas de crescimento como as observadas nos trimestres anteriores. Ademais, pressões inflacionárias podem emergir antes do projetado e, consequentemente, a queda ininterrupta dos juros como projetado por alguns analistas pode não se concretizar. Inflação IPC-S 2ª semana de maio foi divulgada nesta segunda-feira, apurando inflação de 0,48%, abaixo da registrada na semana anterior (0,57%). O resultado refletiu a menor pressão dos Inflaçãopor conta do recuo dos preços de frutas e hortaliças, alimentos, como também pelo fim do impacto da alta dos reajustes de remédios e cigarros. Em contrapartida, o aumento do item habitação, pressionado pelos reajustes de tarifas de energia elétrica em varias capitais, impediu desaceleração maior do índice. IPC- Fipe 2ª quadri de maio, que será divulgada nesta terçafeira, deverá mostrar alta de 0,30%, ligeiramente abaixo da primeira quadrissemana (0,34%). A desaceleração do índice refletirá a perda de força da alta dos preços dos alimentos in natura e a saída do impacto do aumento dos cigarros. 2 IGP-M 2ª prévia de maio deve mostrar deflação de 0,15%, menor do que a observada em igual período de abril (-0,33%). O movimento de queda dos preços industriais perde força, ao mesmo tempo em que ganha fôlego a alta dos preços agrícolas, pressionados pelos grãos (soja, milho e trigo). A FGV divulga a 2ª previa do IGP-M deste mês na quarta-feira. IPCA-15 de maio, que será conhecido na sexta-feira, deverá mostrar inflação de 0,44%, mantendo-se no mesmo patamar do IPCA fechado de abril (0,41%). A sustentação deste patamar reflete, sobretudo, a incorporação dos reajustes dos cigarros e remédios. Alimentação deverá manter desempenho favorável, bem como transportes, graças a pressão baixista do álcool combustível. Perspectiva Semanal Pesquisa Focus IPCA em 12 meses Mercados Semana anterior Esta semana 4,08 4,03 IPCA 2009 4,36 4,33 IPCA Maio/09 0,35 0,35 IPCA Junho/09 0,24 0,24 IPCA 2010 4,30 4,33 Selic final 2009 9,25 9,00 Selic média 2009 10,06 10,00 Selic final 2010 9,50 9,50 Selic média 2010 9,45 9,42 Câmbio final 2009 2,20 2,12 Câmbio médio de 2009 2,21 2,21 Câmbio final 2010 2,20 2,20 Câmbio médio de 2010 2,22 2,17 Preços Administrados 2009 4,40 4,38 Preços Administrados 2010 4,00 4,00 PIB 2009 (%) -0,44 -0,49 PIB 2010 (%) 3,50 3,50 Risco País Apesar da agenda econômica desta semana ser intensa, trazendo nova safra de dados, em especial na Zona do Euro e Japão, acreditamos que o risco país deverá permanecer dentro dos mesmos patamares. As divulgações deverão apenas reforçar a percepção de que a economia mundial permanece em contração, devendo se recuperar num ritmo mais lento e dispendioso. Câmbio Dado que acreditamos que o risco país não deverá se alterar esta semana, os fundamentos econômicos internos (balança comercial e conta corrente) justificam a tendência de valorização do real. Juros Apesar dos fundamentos ainda apontarem tendência de queda de juros, entendemos que o forte fechamento de taxas ocorrido na semana passada, em especial na parte longa da curva de juros, abre espaço para alguma realização. LFT Não esperamos alterações para este mercado. NTN-B (IPCA) Embora sejam normalmente influenciadas pelo movimento do mercado de juros nominais, acreditamos que as NTN-Bs deverão se manter estáveis nesta semana em função da liquidez reduzida. Bolsa Expediente Vice-presidente de Investimentos: Marcelo Mello - [email protected] Economista-chefe: Newton Rosa - [email protected] Economista: Marcelo Gazzano - [email protected] Produtos, Informações e Advisory: Marcelo Bonini - [email protected] Bianca Abondanza - [email protected] Site: www.sulamerica.com.br Este material foi preparado pela SulAmérica Investimentos DTVM S.A. e apresenta caráter meramente informativo, não podendo ser reproduzido ou copiado sem a expressa concordância da mesma. As análises aqui contidas foram elaboradas a partir de fontes fidedignas e de boa-fé. As informações aqui apresentadas deverão ser consideradas confiáveis apenas na data em que este foi publicado. Ainda assim, a SulAmérica Investimentos DTVM não garante, expressa ou tacitamente, exatidão, nem tampouco assertividade sobre os temas aqui abordados. Todas as análises aqui contidas estão sujeitas a alteração sem aviso prévio. As opiniões aqui expressas não devem ser entendidas, em hipótese alguma, como uma oferta para comprar ou vender quaisquer títulos e valores mobiliários ou outros instrumentos financeiros. 3 As notícias a respeito da fusão da Perdigão e da Sadia deverão contribuir para o humor dos mercados. No entanto, o cenário de lenta recuperação econômica, reforçado pela nova safra de dados divulgados na semana passada, leva a crer que a Bolsa não deverá apresentar alta sustentável. Alta Queda Estável Volátil