1 UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE FACULDADE DE VETERINÁRIA MESTRADO EM MEDICINA VETERINÁRIA PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM CLÍNICA E REPRODUÇÃO ANIMAL RODRIGO DA ROCHA LEE DETECÇÃO DE ANTICORPOS CONTRA O VÍRUS DA DIARRÉIA VIRAL BOVINA (BVDV) EM AMOSTRAS COLETIVAS DE LEITE DE REBANHOS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO NITERÓI 2012 2 RODRIGO DA ROCHA LEE DETECÇÃO DE ANTICORPOS CONTRA O VÍRUS DA DIARRÉIA VIRAL BOVINA (BVDV) EM AMOSTRAS COLETIVAS DE LEITE DE REBANHOS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Medicina Veterinária da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre. Área de concentração: Clínica e Reprodução Animal. Orientador: Prof. Dr. WALTER LILENBAUM Co-orientador: Prof. Dr. MARCELO DE LIMA Niterói 2012 3 RODRIGO DA ROCHA LEE DETECÇÃO DE ANTICORPOS CONTRA O VÍRUS DA DIARRÉIA VIRAL BOVINA (BVDV) EM AMOSTRAS COLETIVAS DE LEITE DE REBANHOS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Medicina Veterinária da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre. Área de concentração: Clínica e Reprodução Animal. Aprovada em BANCA EXAMINADORA _____________________________________________________ Prof. Dr. WALTER LILENBAUM – Orientador UFF _____________________________________________________ Prof. Dr. ANDRÉ LUÍS RIOS RODRIGUES UFF _____________________________________________________ Profa. Dra. MELISSA HANZEN PINNA UFBA Niterói 2012 4 EPÍGRAFE “No que diz respeito ao empenho, ao compromisso, ao esforço, à dedicação, não existe meio termo; ou se faz uma coisa bem feita ou não se faz.” Ayrton Senna 5 AGRADECIMENTOS A Deus em primeiro lugar; À minha família pelo incentivo e apoio irrestrito, em especial aos meus pais Ricardo Lee Gomes da Silva e Monica da Rocha Lee, minha avó Thereza Dias da Rocha e meus irmãos Eduardo da Rocha Lee e Guilherme da Rocha Lee; Ao meu orientador Prof. Dr. Walter Lilenbaum pela oportunidade concedida e confiança depositada; Ao meu co-orientador Prof. Dr. Marcelo de Lima, por todos os valiosos ensinamentos e compreensão ao longo deste período. Os conhecimentos adquiridos contribuíram de forma concisa com o meu aprimoramento profissional; Ao pesquisador da Embrapa Gado de Leite Guilherme Nunes de Souza pelo fornecimento de amostras e ajuda no delineamento experimental e avaliação estatística, sua colaboração foi primordial para o enriquecimento do estudo; Aos professores, funcionários e colegas dos Laboratórios de Bacteriologia e Virologia pelo tempo de convívio; A todos que, de alguma forma, fazem parte da minha vida e colaboraram direta ou indiretamente na elaboração desta obra; À CAPES e PROPPi-UFF pelo apoio financeiro. 6 RESUMO A infecção pelo vírus da diarréia viral bovina (BVDV) tem sido associada a importantes perdas econômicas na bovinocultura mundial. Diversos estudos têm demonstrado que a infecção pelo BVDV está amplamente distribuída nos rebanhos bovinos no país, trazendo prejuízos principalmente na área reprodutiva. As estratégias de controle da infecção pelo BVDV se baseiam fundamentalmente na identificação e posterior remoção de animais com infecção persistente dos rebanhos. O presente trabalho teve como objetivo principal estudar a ocorrência da infecção em rebanhos bovinos leiteiros de regiões produtoras do estado do Rio de Janeiro. Amostras de tanques de leite provenientes de 836 rebanhos foram analisadas por um kit comercial de ELISA indireto para a detecção de anticorpos específicos contra o BVDV. Os resultados demonstraram que 73,2% das amostras analisadas foram reativas, o que indica uma ampla disseminação da infecção nos rebanhos estudados, visto que a grande maioria das propriedades analisadas não utilizava vacinação contra a enfermidade. Foi ainda observada uma correlação positiva entre o número de vacas em lactação dos rebanhos e o nível de anticorpos no tanque de leite. Além disso, quando os resultados do ELISA são analisados de forma criteriosa, podem fornecer informações importantes sobre a situação epidemiológica do rebanho. Isto foi demonstrado pelos elevados valores do índice A/P observados em uma pequena parcela das amostras analisadas sugerindo infecção ativa pelo BVDV e possível presença de animais persistentemente infectados nestes rebanhos. Palavras-chave: BVDV. Infecção persistente. Amostras coletivas de leite. Anticorpos. 7 ABSTRACT Bovine viral diarrhea virus (BVDV) has been associated to important economical losses to the cattle industry worldwide. Several studies indicated that BVDV infection is widespread in Brazil causing mainly reproductive disorders in cattle herds. Control and eradication strategies are focused on the identification followed by elimination of animals persistently infected by BVDV from the herds. The main objective of this study was to evaluate the occurrence of BVDV infection in dairy herds from Rio de Janeiro, Brazil. With that purpose, 836 bulk tank milk samples were collected from different herds and tested by a commercial indirect ELISA kit for the detection of specific BVDV antibodies. The results demonstrated that 73.2% of the samples were reactive indicating that BVDV infection is widely distributed in the studied region since most part of the herds were not vaccinated against BVDV. We also observed a positive correlation between number of lactating cows and level of antibodies in the bulk milk samples. Furthermore, when carefully analyzed, the ELISA results can indicate essential information about the epidemiological situation of the dairy herd. This was demonstrated in a small percentage of the studied herds in which very high A/P values were observed. These results may suggest active BVDV infection within these herds and possible presence of animals persistently infected by the virus. Key-words: BVDV. Persistent infection. Bulk tank milk. Antibodies. 8 SUMÁRIO RESUMO, p. 6 ABSTRACT, p. 7 LISTA DE ILUSTRAÇÕES, p. 10 1 INTRODUÇÃO, p. 11 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA, p. 13 2.1 O AGENTE, p. 13 2.2 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS, p. 15 2.3 EPIDEMIOLOGIA, p. 16 2.3.1 Infecção persistente, p. 17 2.4 PROFILAXIA E CONTROLE, p. 18 2.4.1 Vacinação, p. 18 2.4.2 Outras estratégias de controle, p. 20 3 OBJETIVO GERAL, p. 24 3.1 OBJETIVO ESPECÍFICO, p. 24 4 MATERIAL E MÉTODOS, p. 25 4.1 DESENHO EXPERIMENTAL, p. 25 4.1.1 Rebanhos e amostras, p. 25 4.1.2 Diagnóstico sorológico, p. 26 4.2 ANÁLISE ESTATÍSTICA, p. 27 9 5 RESULTADOS, p. 29 5.1 DIAGNÓSTICO SOROLÓGICO E ANÁLISE ESTATÍSTICA, p. 29 6 DISCUSSÃO, p. 34 7 CONCLUSÕES, p. 38 8 OBRAS CITADAS, p. 39 10 LISTA DE ILUSTRAÇÕES Quadro 1 Distribuição categórica do número de vacas em lactação dos rebanhos estudados, f. 26 Quadro 2 Distribuição categórica dos índices A/P das amostras analisadas pelo ELISA, f. 27 Tabela 1 Estatística descritiva do número de vacas em lactação e do índice A/P, f. 29 Figura 1 Dispersão dos índices A/P em função do número de vacas em lactação, f. 29 Tabela 2 Estatística descritiva do índice A/P de acordo com as categorias de vacas em lactação, f. 30 Tabela 3 Distribuição de frequência dos rebanhos com o número de vacas em lactação disponível, em função das categorias de vacas em lactação estabelecidas pelos IQ, f. 30 Tabela 4 Distribuição de frequência dos rebanhos analisados pelo ELISA, em relação aos clusters do índice A/P, f. 31 Figura 2 Distribuição das amostras coletivas de leite que apresentaram reatividade (A/P ≥ 0,2) no ELISA, em diferentes clusters, f. 31 Figura 3 Análise de Correspondência entre categorias de vacas em lactação (CATVA) e clusters do índice A/P (CLUSTERS), f. 32 11 1 INTRODUÇÃO A doença clínica associada com a infecção pelo vírus da Diarréia Viral Bovina (Bovine viral diarrhea virus, BVDV) foi descrita inicialmente por pesquisadores da Universidade de Cornell, em 1946, e se caracterizava como uma enfermidade aguda transmissível marcada por leucopenia severa, febre alta, depressão, diarréia, erosões no trato gastrintestinal e hemorragias. Ao longo das últimas décadas, outras manifestações clínicas foram também associadas com a infecção pelo BVDV. Tais manifestações podem ser agrupadas em quatro formas principais: doença aguda leve (gastrentérica, respiratória), doença aguda severa (gastroentérica, respiratória, hemorrágica), Doença das Mucosas (DM) e Diarréia Viral Bovina (Bovine viral diarrhea, BVD) crônica (recentemente reconhecida como uma forma da DM). Apesar desta variedade de apresentações clínicas, as maiores consequências da infecção pelo BVDV estão relacionadas com perdas reprodutivas em bovinos. Os bovinos são considerados os hospedeiros naturais do BVDV, porém o vírus possui a capacidade de infectar uma variedade de ruminantes domésticos e silvestres, além de suínos. Estudos têm demonstrado que entre 60-90% de toda a população mundial de bovinos possuem anticorpos contra o BVDV. No Brasil, diversos trabalhos já comprovaram a difusão da infecção em rebanhos bovinos de corte e leite. Uma das características marcantes na epidemiologia da infecção pelo BVDV é a sua habilidade em causar infecção transplacentária que, frequentemente, resulta no nascimento de bezerros persistentemente infectados (PI). Tem sido ainda observado que, em rebanhos com a presença destes animais PI, cerca de 90% dos animais são soropositivos e possuem altos títulos de anticorpos circulantes. Isto demonstra que a excreção viral contínua pelos animais PI resulta em uma disseminação viral eficiente aos animais mantidos em contato. Deste modo, a 12 identificação precisa e a posterior remoção dos animais com infecção persistente se constitui no ponto central de programas de controle e/ou erradicação da infecção dos rebanhos bovinos. Entretanto, cabe ressaltar que a prevalência de animais PI na população bovina é geralmente baixa (cerca de 1-2%), justificando o conhecimento prévio do status imunitário do rebanho como uma ferramenta inicial na identificação de rebanhos portadores de animais infectados persistentemente pelo BVDV. A identificação de rebanhos com altos níveis de anticorpos no tanque de leite é sugestiva de infecção ativa pelo BVDV nas propriedades e tem implicação direta na possível presença de animais com infecção persistente. Neste sentido, este estudo teve como objetivo principal estudar a ocorrência de anticorpos contra o BVDV em amostras coletivas de leite provenientes de rebanhos leiteiros do estado do Rio de Janeiro. 13 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 O AGENTE O BVDV teve a sua primeira descrição em 1946 por pesquisadores do New York State Veterinary College da Universidade de Cornell. O agente foi isolado de surtos de diarréia e lesões erosivas no trato digestivo de bovinos nos Estados Unidos (BAKER, 1995). Atualmente, o vírus é reconhecido como sendo um dos principais patógenos de bovinos, responsável por diversas manifestações clínicas e perdas econômicas importantes em rebanhos de corte e leite em todo o mundo (LINDBERG, 2003). O agente está classificado na família Flaviviridae, gênero Pestivirus, juntamente com outros dois vírus relacionados: o vírus da Peste Suína Clássica (Classical swine fever virus, CSFV) e o vírus da Doença da Fronteira, de ovinos (Border disease virus, BDV) (HORZINEK, 1991). A partícula viral é pequena e esférica, com cerca de 40-60nm de diâmetro. O vírion é ainda composto por um nucleocapsídeo icosaédrico envolto por um envelope lipoprotéico, contendo três glicoproteínas virais: gp48/E0, gp25/E1 e gp53/E2 (DONIS, 1995). O material genético consiste em uma molécula linear de RNA de cadeia simples, polaridade positiva, com aproximadamente 12,3 Kb, contendo uma única ORF (open reading frame) que é traduzida em uma poliproteína de aproximadamente 4.000 aminoácidos (LINDENBACH; RICE, 2001). A clivagem posterior dessa poliproteína por proteases celulares e virais resulta em 10 a 12 polipeptídeos estruturais e não estruturais (DONIS, 1995). Os isolados do BVDV apresentam uma grande variabilidade antigênica, sendo que dois grupos antigênicos principais já foram identificados: o BVDV tipo 1, que 14 abrange a maioria das cepas de referência e os vírus utilizados em vacinas, e o BVDV tipo 2, isolado a partir de surtos graves de BVD aguda e doença hemorrágica em bovinos na América do Norte no final da década de 1980 (PELLERIN et al., 1994; RIDPATH et al., 1994). Estudos posteriores sugerem, no entanto, que os vírus pertencentes ao genótipo 2 nem sempre estão correlacionados com alta virulência e que possivelmente existam na natureza há tanto tempo quanto o BVDV-1 (FLORES et al., 2002). De acordo com o efeito da replicação viral em cultivo celular, os isolados do BVDV podem ser classificados nos biotipos citopático (CP) e não-citopático (NCP), que são encontrados em ambos os genótipos (DUBOVI, 1992). A infecção de células permissivas pela maioria dos vírus de campo não produz efeito citopático (ECP) característico, enquanto que amostras CP são, quase que exclusivamente, isoladas de animais acometidos pela DM, uma forma clínica severa da infecção (LINDENBACH; RICE, 2001). À medida que o BVDV NCP infecta as células sem causar efeitos aparentes, o BVDV CP induz, em geral, vacuolização citoplasmática com evolução para morte celular (FULTON et al., 2005). A citopatologia em cultivo celular não possui correlação com a patogenicidade e virulência do vírus in vivo, sendo que a grande maioria dos isolados virulentos do BVDV-2 são NCP (RIDPATH, 2003a). A caracterização molecular de amostras CP e NCP demonstrou que o biotipo CP pode ser gerado a partir da recombinação de RNA, duplicação de sequências virais, mutações em ponto, ou ainda inserções de sequências celulares na região da proteína não-estrutural p125/NS23 (QI et al., 1992; GREISER-WILKE et al., 1992; KÜMMERER et al., 2000; VILCEK et al., 2000; RIDPATH et al., 2006). As extremidades do RNA genômico são flanqueadas por duas regiões denominadas 5’ (386 nucleotídeos) e 3’ (226 nucleotídeos) não traduzidas [untranslated region, UTRs]. Essas regiões possuem papel importante na replicação do genoma, estabilidade do RNA viral e expressão gênica (DONIS, 1995; LINDENBACH; RICE, 2001). Os vírus dos genótipos BVDV-1 e 2 podem ser diferenciados pela análise de uma sequência de nucleotídeos da região 5’ UTR do genoma (PELLERIN et al., 1994; RIDPATH et al., 1994). Essa análise permite agrupar os isolados nos respectivos genótipos e tem sido utilizada para se estudar a origem, evolução e epidemiologia do BVDV. Ambos os genótipos do BVDV têm sido 15 isolados de ruminantes em todos os continentes, com exceção da Antártida (RIDPATH, 2010). Em 2007, a Organização Internacional de Epizootias (OIE) adicionou a enfermidade causada pelo BVDV, apenas nos bovinos, à sua lista de doenças de notificação compulsória (RIDPATH, 2010). No entanto, Juliá et al. (2009) demonstraram a presença de anticorpos específicos contra BVDV-1 e do BVDV-2 em ovinos. Foi ainda demonstrado por inquéritos sorológicos a presença de anticorpos específicos em uma ampla gama de espécies selvagens. O vírus também já foi isolado dessas espécies, o que levanta o questionamento sobre a importância de uma possível interação entre animais domésticos e selvagens na epidemiologia da infecção (VILCEK; NETTLETON, 2006). 2.2 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Apesar da maioria das infecções pelo BVDV cursar de forma subclínica em animais imunocompetentes, tem sido relatada uma ampla variedade de manifestações clínicas que incluem desde sinais leves até doença aguda fatal (BROWNLIE, 1990; BAKER, 1995). Enfermidade gastroentérica aguda ou crônica, doença respiratória em bezerros, síndrome hemorrágica com trombocitopenia, afecções cutâneas, imunossupressão e infertilidade temporária estão entre as consequências clínicas mais frequentes da infecção pós-natal pelo BVDV em animais soronegativos. Entretanto, as maiores consequências da infecção pelo BVDV parecem estar relacionadas com as perdas reprodutivas que o vírus determina, embora identificado originalmente de casos de doença gastroentérica e frequentemente associado a esse tipo de enfermidade (BAKER, 1995). O vírus possui afinidade por células em divisão e por esta razão o feto em crescimento é um sítio importante de replicação viral. Em fêmeas gestantes soronegativas, a infecção fetal ocorre, independentemente do período de gestação, em virtualmente 100% dos casos (LINDBERG, 2003). A infecção antes ou após a cobertura ou inseminação artificial pode resultar em perdas reprodutivas como infertilidade temporária, retorno ao cio, mortalidade embrionária ou fetal, abortos ou mumificação, além de malformações fetais ou o nascimento de bezerros fracos e inviáveis. As falhas reprodutivas de muitos rebanhos endêmicos ao BVDV são os 16 sinais mais evidentes, e por vezes únicos, da presença da infecção (BROWNLIE, 1990; BAKER, 1995). A doença reprodutiva é devido à infecção direta do feto e suas manifestações dependem do biotipo viral, status imunológico da fêmea e da fase da gestação em que ocorreu a infecção (BROCK, 1995). 2.3 EPIDEMIOLOGIA O BVDV possui distribuição mundial e a prevalência de anticorpos chega a atingir 60 a 90% dos animais (HOUE, 1999) e até 80% dos rebanhos na América do Norte e em alguns países europeus. Nesses países, que são livres de Febre Aftosa, o BVDV é considerado o agente viral mais importante de bovinos e tem sido alvo de numerosos estudos e de programas de controle e/ou erradicação durante décadas; (FLORES et al., 2005). O primeiro relato do BVDV no Brasil foi uma descrição de doença gastroentérica, com aspectos clínicos e patológicos compatíveis com a forma clássica da infecção, a DM (CORRÊA, 1968). O primeiro isolamento e a posterior identificação do vírus no país foram realizados a partir do soro de bezerros coletados para utilização em cultivos celulares (VIDOR, 1974). A partir da identificação inicial do agente, diversos relatos sorológicos, clínico-patológicos e de isolamento viral demonstraram a ampla disseminação da infecção pelo BVDV e a presença de amostras de ambos os genótipos no rebanho bovino brasileiro (BOTTON et al., 1998; PITUCO; DEL FAVA, 1998; ROEHE et al., 1998; SCHERER et al., 2002; DIAS et al., 2010). A diversidade genética e antigênica existente entre os vírus isolados no país, de cepas européias e norte-americanas, possui implicações práticas para o diagnóstico, produção de vacinas e programas de controle da enfermidade (FLORES et al., 2002; RIDPATH, 2003a). Os estudos sorológicos da infecção no país datam do início da década de 1970, no Rio Grande do Sul (WIZIGMANN et al., 1971). Desde então, sororeatividade têm sido evidenciada em várias regiões, comprovando que o vírus em questão está amplamente difundido no gado bovino brasileiro (FLORES et al., 2005). A detecção de animais virêmicos e imunotolerantes ao BVDV confirma a ampla disseminação do vírus em rebanhos bovinos no país (OLIVEIRA et al., 1996; BOTTON et al., 1998; FLORES et al., 2005). Tem sido ainda demonstrado o 17 isolamento frequente do BVDV a partir de fetos abortados, em amostras clínicas e/ou material de necropsia de animais com as mais diversas manifestações clínicas, em sêmen de touros de centrais de inseminação artificial, em fetos saudáveis coletados em matadouros e em soro bovino comercial e/ou cultivos celulares (FLORES et al., 2005). Oliveira (1996) realizou uma triagem em rebanhos com problemas reprodutivos no Rio Grande do Sul para identificar animais PI, detectando 1,2% (12/1.240) de amostras positivas (leucócitos e soro) para o vírus. Botton et al. (1998) examinaram amostras de soro de 1.396 fetos coletados em matadouros, detectando anticorpos em 19 (1,36%) e vírus em 11 (0,79%). Embora aparentemente baixa, a prevalência de animais virêmicos observada é suficiente para manter o vírus na população (BAKER, 1995). Além disso, a presença de anticorpos contra o BVDV tem sido ocasionalmente detectada em suínos (ROEHE et al., 1998), javalis cativos no Rio Grande do Sul (FLORES et al., 2005), caprinos (CASTRO et al., 1994) e rebanhos bubalinos com problemas reprodutivos no estado de São Paulo (PITUCO et al., 1997). No entanto, o papel destas outras espécies de animais domésticos e silvestres na epidemiologia do vírus ainda não é conhecido. O conhecimento sobre a infecção pelo vírus no país tem aumentado consideravelmente nos últimos anos, à medida que cresce o número de laboratórios envolvidos em diagnóstico e pesquisa sobre este agente (FLORES et al., 2005). 2.3.1 Infecção persistente A infecção de fêmeas prenhes geralmente resulta na transmissão transplacentária do vírus. Neste caso, a exposição do feto ao BVDV antes do desenvolvimento completo do sistema imune, período gestacional compreendido entre o 40º e o 120º dias, com isolados NCP do vírus, frequentemente resulta na produção de bezerros PI e imunotolerantes ao vírus (McCLURKIN et al., 1984). Estudos in vitro e in vivo sugerem que a persistência viral pode ser, em parte, consequência de uma falha na indução de resposta por interferon tipo I, quando o feto é infectado por amostras NCP do vírus no terço inicial da gestação (CHARLESTON et al., 2001; BRACKENBURY et al., 2003). Bovinos PI possuem deficiências em diversas funções imunológicas, sendo mais susceptíveis às 18 infecções secundárias e consequentemente acabam morrendo ou sendo sacrificados antes de atingir a idade adulta (POTGIETER, 1995). Do ponto de vista epidemiológico, os animais PI se constituem na fonte primária de disseminação do BVDV nos rebanhos através da excreção viral constante e em altos títulos pelas secreções e excreções corporais (BROWNLIE, 1990; BAKER, 1995, HOUE, 1999; NISKANEN et al., 2002). Podem ser clinicamente normais, porém é detectável a excreção de títulos virais médios a altos, principalmente em secreções nasais e oculares (ARENHART et al., 2009). Os animais PI são positivos para o vírus e não possuem anticorpos neutralizantes em níveis detectáveis ao nascimento. Com a ingestão do colostro, anticorpos neutralizantes podem ser detectados 30 dias após o nascimento com uma redução gradual após este período (ARENHART et al., 2008; 2009). 2.4 PROFILAXIA E CONTROLE A escolha das estratégias mais adequadas para a profilaxia e controle da infecção pelo BVDV depende das condições específicas de cada rebanho, além da avaliação do custo-benefício (HOUE, 2003). De um modo geral, todos os esforços devem, fundamentalmente, ser direcionados para a detecção e eliminação dos animais PI, além da vacinação sistemática de fêmeas soronegativas para prevenir a infecção fetal e a consequente geração de animais PI (DUBOVI, 1992; VAN OIRSCHOT et al., 1999; FULTON; BURGE, 2001). 2.4.1 Vacinação Nos Estados Unidos, as primeiras vacinas contra o BVDV surgiram na década de 1960. Atualmente, estão disponíveis mais de 160 vacinas comerciais contendo imunógenos do BVDV (RIDPATH, 2003b). Normalmente são utilizadas vacinas multivalentes para a prevenção e controle de doenças respiratórias em bovinos. As formulações mais comuns incluem combinações de antígenos do BVDV, herpesvírus bovino tipo-1 (BHV-1), vírus sincicial respiratório bovino (BRSV), parainfluenza-3 (PI3) e em alguns casos, antígenos bacterianos (VAN OIRSCHOT et al., 1999). Essas 19 vacinas contêm cepas inativadas ou atenuadas do BVDV-1 e/ou BVDV-2 (FULTON et al, 2003). No Brasil, somente são comercializadas vacinas inativadas, sendo que a grande maioria delas contém cepas americanas do BVDV. Acredita-se, ainda, que a vacinação contra o BVDV no país seja praticada em uma parcela relativamente pequena dos rebanhos (SCHERER et. al., 2002). Estudos demonstraram a indução de níveis baixos a moderados de anticorpos neutralizantes em ovinos e bovinos imunizados com três diferentes formulações comerciais disponíveis no país. Além disso, a resposta imune induzida não foi capaz de prevenir a infecção transplacentária do vírus após o desafio intranasal em ovelhas prenhes (VOGEL et al., 2002). Diversos outros trabalhos têm demonstrado a incapacidade das vacinas inativadas em conferir proteção fetal completa em bovinos. As taxas de proteção obtidas variam desde 22-25% (MEYLING et al., 1985; ZIMMER et al., 2002); 40% (ZIMMER et al., 2002), 64% (HARKNESS et al., 1985); 83% (BROWNLIE et al., 1995), até 86% (McCLURKIN et al., 1975). Por outro lado, a utilização de vacinas comerciais atenuadas frequentemente resulta em níveis altos de proteção fetal e prevenção do abortamento em vacas gestantes. Kovács et al., (2003) observaram 91% de proteção fetal frente ao desafio com o BVDV-1 e 100% de proteção frente ao desafio com o BVDV-2. No Brasil, resultados promissores foram demonstrados pela elaboração de uma vacina experimental atenuada contendo cepas nacionais do BVDV (LIMA et al., 2004). Experimentos in vivo demonstraram a indução de títulos de anticorpos significativamente superiores, mais duradouros e com maior espectro de reatividade em bovinos imunizados quando comparado aos títulos induzidos por vacinas comerciais inativadas (LIMA et al., 2005). Em um estudo posterior (ARENHART et al., 2008), demonstrou-se que a resposta imunológica induzida pela vacina experimental atenuada foi capaz de conferir proteção fetal e prevenir as perdas reprodutivas frente ao desafio com um pool de amostras heterólogas de BVDV, em 89,4% dos casos. Os melhores resultados observados em relação à resposta imune induzida por vacinas atenuadas contra o BVDV podem ser atribuídos a uma associação entre resposta humoral e celular (POTGIETER, 1995). No entanto, o uso de vacinas atenuadas pode resultar em infecção transplacentária, manutenção da virulência residual e imunossupressão em animais vacinados (VAN OIRSCHOT et al., 1999), 20 além de recombinação da cepa vacinal com vírus NCP circulando em animais com infecção persistente (RIDPATH; BOLIN, 1995). Uma característica comum das vacinas desenvolvidas por laboratórios nacionais é a inclusão de isolados brasileiros de ambos os genótipos (BVDV-1 e 2), uma vez que, além da diversidade antigênica entre isolados locais, estes isolados também apresentam uma baixa reatividade sorológica cruzada com as cepas norteamericanas utilizadas nas vacinas. Entretanto, a legislação brasileira ainda não permite o uso de vacinas atenuadas contra o BVDV no país (FLORES et al., 2005). É importante ressaltar que, no Brasil, não existe um programa específico de controle do BVDV. Assim, o uso de vacinas vem sendo realizado indiscriminada e inadequadamente, devido à falta de um controle dos órgãos oficiais sobre a venda e a aplicação das mesmas. Além disso, o uso de vacinas pode dar uma falsa sensação de segurança em relação a uma determinada enfermidade, promovendo um comportamento de risco por parte dos produtores (ENGEL; WIERUP, 1999). 2.4.2 Outras estratégias de controle A escolha das estratégias mais adequadas para a profilaxia e controle da infecção pelo BVDV dependem basicamente das condições específicas de cada rebanho (HOUE, 2003). Em geral, essas estratégias consistem na prevenção da entrada de animais PI e/ou remoção destes das propriedades, além da utilização de vacinas (VAN OIRSCHOT et al., 1999; FULTON; BURGE, 2001; LINDBERG, 2003). Programas de controle e erradicação da infecção pelo BVDV sem o uso de vacinas têm sido implementados em alguns países da Europa. Estes programas se baseiam na identificação de rebanhos infectados e certificação de rebanhos livres, seguidos do descarte dos animais PI das propriedades positivas (LINDBERG; ALENIUS, 1999). Para que tenham viabilidade, esses programas devem incluir uma avaliação do desempenho dos testes de diagnóstico, bem como as condições epidemiológicas e econômicas dos rebanhos. Assim, o sucesso dependerá da capacidade de identificação daquelas propriedades com infecção viral ativa e/ou presença de animais PI, o que somente é possível com o emprego de testes sorológicos capazes de detectar altos títulos de anticorpos anti-BVDV nos rebanhos (HOUE et al., 2006). 21 Rebanhos que possuem animais PI podem ser identificados por exames sorológicos, já que a presença do vírus resulta em níveis altos de anticorpos na maioria dos animais infectados (HOUE, 1995). O diagnóstico de rebanho pode ser feito sem a necessidade de testar todos os animais individualmente e envolve várias estratégias, tais como a detecção de anticorpos em animais jovens (9-18 meses) e detecção viral ou do material genético em tanques coletivos de leite, ou a detecção de anticorpos em tanques coletivos de leite (HOUE et al., 2006; DIAS et al., 2010). A soroconversão em animais imunocompetentes ocorre entre uma a três semanas após a infecção aguda, sendo os anticorpos classificados em dois grupos funcionais. Anticorpos neutralizantes são produzidos contra a glicoproteína gp53/E2, principal indutora da resposta imune, e anticorpos não-neutralizantes responsivos a proteína viral não-estrutural p125/NS23, a qual é essencial para a replicação viral (HOWARD, 1990; COLLETT, 1992; BROCK, 1995). Com base nesses principais sítios antigênicos da partícula viral, as provas sorológicas foram desenvolvidas e, com muito sucesso, estão sendo empregadas no diagnóstico laboratorial do BVDV (HOUE et al., 2006). A detecção de anticorpos contra o BVDV, utilizando o teste de vírusneutralização (VNT) e o ensaio imunoenzimático (ELISA) indireto, possibilita a classificação de rebanhos entre potencialmente infectados e não-infectados (OIE, 2009). A VNT é uma prova de referência por ser muito específica e facilmente adaptável ao tipo ou subtipo de BVDV desejado. No entanto, a técnica consiste na detecção exclusiva de anticorpos neutralizantes; é demorada, laboriosa e envolve obrigatoriamente o cultivo celular e manipulação de vírus (SALIKI; DUBOVI, 2004; SANDVIK, 2005). Scherer et al. (2002) adaptaram a VNT para uma técnica rápida com possibilidade de testar amostras coletivas de leite e identificar rebanhos com atividade viral e potencialmente portadores de animais PI. Em outro estudo, amostras de tanques coletivos de leite em rebanhos do Rio Grande do Sul foram testadas pela técnica de VNT adaptada para a detecção de anticorpos no leite, detectando-se 8,8% (1.028/11.711) rebanhos com títulos neutralizantes > 20 no leite; 1,5% (180/11.711) das propriedades apresentaram o leite com títulos de anticorpos ≥ 80, indicando infecção ativa e/ou à presença de animais PI (BRUM et al. 2004). Recentemente, Sturza (2011) realizou outras adaptações na técnica de VNT, 22 solucionando o problema da toxicidade das amostras de leite para as células de cultivo. Por outro lado, os testes de ELISA se tornaram populares no diagnóstico do BVDV, devido a algumas vantagens sobre a VNT como a independência do cultivo celular, ausência de contaminações por fungos e bactérias, automatização e rapidez na leitura dos resultados a partir de amostras do soro e leite individual ou coletivo (NISKANEN et al., 1991; PATON et al., 1998). Estas características tornam o ELISA adequado para estudos epidemiológicos e triagens de rebanhos em grande escala (NISKANEN et al., 1989). Em nível mundial, o ELISA indireto tem sido o mais empregado na detecção de anticorpos anti-BVDV na triagem de rebanhos leiteiros (NISKANEN et al., 1991; NISKANEN, 1993; PATON et al., 1998; LINDBERG; ALENIUS, 1999). A presença de apenas um ou alguns poucos animais em lactação com altos títulos de anticorpos para o BVDV dentro de um rebanho de vacas soronegativas dará origem a resultado reativo no ELISA do tanque coletivo de leite da propriedade nesta condição (NISKANEN, 1993). O desenvolvimento do ELISA para a detecção de anticorpos anti-BVDV em amostras coletivas de leite (NISKANEN et al., 1991), aliado à correlação existente entre o nível de anticorpos no leite e a proporção de animais soropositivos nos rebanhos (NISKANEN, 1993; BEAUDEAU et al., 2001), tem impulsionado programas de vigilância, controle e erradicação da infecção pelo BVDV nos países escandinavos (PATON et al., 1998, LINDBERG; ALENIUS, 1999). O ELISA pode ser usado como a primeira etapa de uma estratégia de controle para avaliar a possibilidade de rebanhos leiteiros estarem ou não infectados pelo referido vírus (NISKANEN, 1993). Os níveis de anticorpos específicos em amostras coletivas de leite possuem uma boa correlação com a atividade viral e com a proporção de animais soropositivos nos rebanhos (NISKANEN, 1993; BEAUDEAU et al., 2001; DIÉGUEZ et al., 2008). Em etapas posteriores aos testes de triagem, os rebanhos contendo animais com altos títulos de anticorpos deveriam ser investigados para a possível presença de animais PI (LINDBERG; ALENIUS, 1999). Poucos estudos, porém, utilizando o ELISA indireto para detecção do BVDV em amostras coletivas de leite, vêm sendo realizados no Brasil. Dias e Samara (2003) relataram a detecção de anticorpos no leite do tanque de expansão, leite individual e soro sanguíneo de animais provenientes de rebanhos de São Paulo e Minas Gerais. Almeida (2010) observou 26,7% (80/300) de positividade em 23 amostras de leite coletivo de rebanhos leiteiros da região central do estado do Rio Grande do Sul. Foi demonstrado em amostras de leite coletivo provenientes do Rio Grande do Sul que 23,1% dos rebanhos analisados foram reativos no ELISA (STURZA, 2011). O ELISA permite testar um grande número de amostras e identificar rebanhos positivos através do leite enviado rotineiramente, por exemplo, para contagem de células somáticas (CCS), reduzindo significativamente os custos com a coleta individual, transporte e teste de amostras. A prática pode ser utilizada também em estudos epidemiológicos, podendo fornecer informações sobre a prevalência e distribuição dos rebanhos positivos para o BVDV (SCHERER et al., 2002). 24 3 OBJETIVO GERAL Determinar a ocorrência de anticorpos contra BVDV em amostras coletivas de leite provenientes de rebanhos bovinos do estado do Rio de Janeiro. 3.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS 1) Verificar a ocorrência de anticorpos contra BVDV em amostras coletivas de leite provenientes de rebanhos bovinos do estado do Rio de Janeiro. 2) Avaliar a correlação entre rebanhos positivos e o número de vacas em lactação nas propriedades estudadas. 3) Estudar uma possível relação entre o percentual de positividade nos rebanhos e vacinação contra o BVDV. 25 4 MATERIAL E MÉTODOS 4.1 DESENHO EXPERIMENTAL Todos os experimentos referentes ao presente estudo foram realizados no Laboratório de Virologia do Departamento de Microbiologia e Parasitologia, Instituto Biomédico da Universidade Federal Fluminense (Campus do Valonguinho), Niterói, RJ. Cabe ressaltar, ainda, que o trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa Animal (CEPA) sob o número de registro 00220/10, em 5 de outubro de 2010. 4.1.1 Rebanhos e amostras Foram investigados 836 rebanhos leiteiros da espécie bovina com animais da raça holandesa ou mestiços de holandês, vacinados ou não contra o BVDV, situados em regiões pertencentes à bacia leiteira do estado do Rio de Janeiro. O número de animais em cada rebanho foi variável conforme a propriedade, variando de 2 a 631. Dentre os 836 rebanhos leiteiros investigados, foram obtidos dados referentes ao número de vacas em lactação em 785, totalizando 33.831 animais. As amostras coletivas de leite estudadas foram obtidas a partir de coletas de tanques de expansão/latões e incluíam leite de vacas em produção, em qualquer fase de lactação e independente de idade ou volume de produção. Foram ainda levantadas informações sobre o número de vacas em lactação e histórico de vacinação contra o BVDV dos rebanhos analisados. Todas as amostras foram armazenadas em frascos apropriados contendo uma pastilha de conservante Bronopol (2-bromo-2-nitropropane-1, 3-diol) e, 26 submetidas ao Laboratório de Qualidade do Leite da Embrapa Gado de Leite (CNPGL), Juiz de Fora, MG para determinação dos componentes do leite e CCS. Após a chegada ao laboratório da EMBRAPA, alíquotas das amostras coletivas de leite foram acondicionadas em tubos plásticos de 2 mL, identificadas, congeladas à -20°C e remetidas ao Laboratório de Virologia da UFF. As amostras foram mantidas à -20°C até o momento das análises. 4.1.2 Diagnóstico sorológico As amostras de leite coletivo foram testadas para a pesquisa de anticorpos específicos contra o BVDV por um kit comercial de ELISA indireto (HerdChek, Idexx, Maine, EUA). É importante ressaltar que o teste de uma amostra de leite proveniente do tanque representa um pool de amostras oriundas de várias vacas em lactação (triagem inicial de rebanhos). Todos os procedimentos foram conduzidos conforme as recomendações do fabricante do kit. Para a realização do teste sorológico, as amostras de leite foram previamente centrifugadas a 2.000 x g por 15min. A fase aquosa foi coletada para os testes. Fora adicionado nas cavidades para os controles positivo e negativo das placas impregnadas 100 μl de diluente, seguido de 25 μl dos controles nas cavidades apropriadas. Nas demais cavidades foram adicionadas 100 μl das amostras de leite (abaixo da camada de gordura). Após homogeneização do conteúdo das cavidades, a placa foi incubada por, aproximadamente, 17 horas sob refrigeração (2ºC – 8ºC). Passado este período, todas as cavidades foram lavadas com 300 μl de solução de lavagem por cinco vezes. Adicionou-se, em sequência, 100 μl de conjugado e, após 30 minutos de incubação, procedeu-se nova lavagem para posterior adição de 100 μl do substrato com tetrametilbenzidina (TMB) em cada cavidade. Respeitado o tempo de 10 minutos de incubação à temperatura ambiente e no escuro, foi adicionado 100 μl de solução de interrupção (ácido sulfúrico). A leitura da densidade óptica (450 e 630 nm) foi realizada em uma leitora de microplacas (ER–2006, Diaglobe, Shangai, China). Ainda de acordo com as recomendações do fabricante, foram consideradas positivas as amostras que apresentaram o índice A/P (cálculo da razão de cada amostra com relação às médias dos controles) ≥ 0,2. 27 4.2 ANÁLISE ESTATÍSTICA As informações obtidas sobre o número de vacas em lactação foram utilizadas para formação de quatro categorias com base na estatística descritiva (SAMPAIO, 1998). Os valores limites destas categorias foram estabelecidos com base nos intervalos interquartílicos (IQ) (Quadro 1). Foi ainda aplicada a Correlação de Pearson (r) entre o número de vacas em lactação e o índice A/P. Para avaliação de normalidade da distribuição dos índices A/P, foi aplicado o teste de Kolmogorov-Smirnov (DOHOO et al., 2003). Os valores do índice A/P, então, foram submetidos à análise de variância (ANOVA) para avaliação da diferença entre suas médias em função das categorias de vacas em lactação (SAMPAIO, 1998). Para identificação da diferença entre as médias do índice A/P em relação às categorias de vacas em lactação, foi realizado o pós-teste pelo Método da Diferença Mínima Significativa [Least Squares Difference, LSD] (SAMPAIO, 1998). Além disso, os resultados do ELISA (índice A/P) foram categorizados com base em uma Análise de Clusters, com nível de significância de 95% (P<0,05), em quatro classificações (DOHOO et al., 2003) (Quadro 2). A distribuição de frequência em função das categorias do número de vacas em lactação e dos clusters do índice A/P, foram submetidos ao teste Qui-quadrado (SAMPAIO, 1998) e à Análise de Correspondência (SOUZA et al., 2002) para avaliação e identificação de associações, respectivamente. Quadro 1: Distribuição categórica do número de vacas em lactação dos rebanhos estudados. Categoria Nº vacas em lactação 1 < 18 2 18 a 35 3 36 a 56 4 > 56 28 Quadro 2: Distribuição categórica dos índices A/P das amostras analisadas pelo ELISA. Classificação Índice A/P Negativo < 0,200 Fracamente positivo 0,200 a 0,362 Moderadamente positivo 0,363 a 0,682 Fortemente positivo > 0,682 As análises foram feitas no programa SPSS, versão 8.0 (SPSS Inc., 1998). 29 5 RESULTADOS Foram analisadas 836 amostras de leite coletivo provenientes de rebanhos leiteiros de pequeno, médio e grande porte localizados no estado do Rio de Janeiro. Dentre os 467 rebanhos que disponibilizaram informações referentes à vacinação, em apenas 12 deles foi relatada alguma estratégia de imunização dos animais contra o BVDV. Todos os outros 455 rebanhos não utilizam nenhum tipo de vacina para a prevenção da infecção pelo BVDV. Nas demais 369 propriedades analisadas neste estudo, não foram obtidos dados referentes ao histórico de vacinação dos animais. 5.1 DIAGNÓSTICO SOROLÓGICO E ANÁLISE ESTATÍSTICA A pesquisa de anticorpos específicos contra o BVDV pelo ELISA indireto demonstrou que 73,2% (612/836) das amostras coletivas de leite foram reativas. A estatística descritiva referente ao número de vacas em lactação e índice A/P está representada na Tabela 1. Estas variáveis apresentaram correlação positiva (r2 = 0,14) e significativa (p<0,01). Estes resultados indicam que, à medida que aumenta o número de vacas em lactação nos rebanhos, se observa um aumento nos valores do índice A/P das amostras coletivas de leite analisadas pelo ELISA (Figura 1). 30 Tabela 1: Estatística descritiva do número de vacas em lactação e do índice A/P Estatística Número de vacas em lactação Índice AP N 785 836 Média 43 0,365 Desvio padrão 46 0,239 IQ 25% 16 0,190 Mediana 34 0,354 IQ 75 % 55 0,515 Mínimo 2 -0,161 Máximo 631 1,274 Figura 1: Dispersão dos índices A/P em função do número de vacas em lactação As médias do índice A/P demonstraram diferença (p<0,01) em relação às categorias de vacas em lactação, uma vez que os índices A/P apresentaram distribuição normal. Estes resultados estão apresentados na Tabela 2, onde se observa um aumento nas médias do índice A/P à medida que se eleva o número de vacas em lactação nos rebanhos analisados. Foi ainda observado que a média do índice A/P dos rebanhos com menos de 18 vacas em lactação é diferente (p<0,05) quando comparada às médias dos demais grupos de rebanhos, que são iguais (p>0,05) entre si. 31 Tabela 2: Estatística descritiva do índice A/P de acordo com as categorias de vacas em lactação Vacas em lactação Média DP ICM 95% EP LI LS 0,014 0,285 0,342 0,239 0,017 0,332 0,398 0,392b 0,248 0,018 0,357 0,427 > 56 0,399 b 0,248 0,019 0,362 0,436 Total 0,365 0,238 0,008 0,349 0,382 0,314 a 0,210 18 a 35 0,365 b 36 a 56 < 18 N – número de rebanhos; DP – desvio padrão; EP – erro padrão; ICM – intervalo de confiança da média com 95% de confiança; LI – limite inferior; LS – limite superior; Letras diferentes entre linhas significam diferença estatística (P<0,05) por meio do LSD A distribuição da frequência dos 785 rebanhos com informações sobre o número de vacas em lactação, em função das categorias de vacas em lactação, está demonstrada na Tabela 3. Já a distribuição de frequência de todos os rebanhos estudados, de acordo com os clusters do índice A/P, está apresentada na Tabela 4. Os resultados das amostras positivas no ELISA estão, ainda, apresentados de acordo com os respectivos clusters do índice A/P (Figura 2). Tabela 3: Distribuição de frequência dos rebanhos com informações disponíveis sobre o número de vacas em lactação, em função das categorias de vacas em lactação estabelecidas pelos IQ Total Número de vacas em lactação N % < 18 213 27,1 18 a 35 200 25,5 36 a 56 193 24,6 > 56 179 22,8 Total 785 100,0 32 Tabela 4: Distribuição de frequência dos rebanhos analisados pelo ELISA, em relação aos clusters do índice A/P Classificação Índice AP Negativo Fracamente positivo Total N % < 0,200 224 26,8 0,200 a 0,362 208 24,9 Moderadamente positivo 0,363 a 0,682 320 38,3 Fortemente positivo > 0,682 84 10,0 TOTAL 836 100,0 Figura 2: Distribuição das amostras coletivas de leite que apresentaram reatividade (A/P ≥ 0,2) no ELISA, em diferentes clusters As variáveis categorias de vacas em lactação e clusters A/P demontraram estar associadas entre si (p<0,05). Estas associações podem ser observadas na Figura 3, que demonstra que rebanhos menores (<18 vacas em lactação) estão associados a classificações negativas e fracamente positivas. Em contrapartida, rebanhos maiores (>18 vacas em lactação) estão associados a classificações moderada e fortemente positivas. 33 Figura 3: Análise de Correspondência entre categorias de vacas em lactação (CATVA) e clusters do índice A/P (CLUSTERS) ,6 3 ,4 > 0,682 ,2 0,200 a 0,362 0,0 <0,200 2 -,2 4 2 Dimensão 2 1 CATVA 0,363 a 0,682 CLUSTERS -,4 -,6 -,4 Dimensão 1 -,2 -,0 ,2 ,4 ,6 ,8 1,0 34 6 DISCUSSÃO O ELISA utilizado para a detecção de anticorpos em amostras coletivas de leite se constitui em uma importante ferramenta para o monitoramento da infecção pelo BVDV em rebanhos leiteiros. A técnica tem sido empregada em programas de controle do BVDV por ser relativamente barata, automatizada e de fácil execução. Quando aplicada em estudos epidemiológicos, pode fornecer informações sobre a prevalência da infecção e distribuição dos rebanhos positivos para o BVDV (SCHERER et al., 2002). Nas etapas posteriores aos testes de triagem, os rebanhos contendo animais com altos títulos de anticorpos poderiam ser investigados para a possível presença de animais PI, que pode ser confirmada através de isolamento viral de animais com idade entre 8 e 24 meses (LINDBERG; ALENIUS, 1999). Embora seja uma importante ferramenta para o monitoramento do status sorológico dos rebanhos, ELISA para a detecção de anticorpos contra o BVDV em amostras coletivas de leite tem sido pouco utilizado no Brasil. No Rio Grande do Sul, foi demonstrado sororeatividade variando entre 23,1% (STURZA, 2011) e 26,7% (ALMEIDA, 2010). Dias e Samara (2003), por sua vez, detectaram 40% de sororeatividade em rebanhos leiteiros dos estados de São Paulo e Minas Gerais. O ELISA permite testar um grande número de amostras simultaneamente e identificar rebanhos positivos por meio do exame do leite enviado rotineiramente, por exemplo, para CCS, reduzindo significativamente os custos com a coleta individual, transporte e teste de amostras (SCHERER et al., 2002). No presente estudo, foram analisadas 836 amostras de tanques de leite proveniente de rebanhos leiteiros do estado do Rio de Janeiro. As amostras de todos os rebanhos analisados eram rotineiramente submetidas ao Laboratório de Qualidade do Leite da Embrapa Gado de Leite (CNPGL), Juiz de Fora, MG para a determinação dos componentes do leite 35 e CCS. Deste modo, não houve a necessidade de manipulação dos animais para a coleta e o custo foi restrito aos testes das amostras no Laboratório de Virologia. A sororeatividade verificada no presente estudo, embora de acordo com a estimativa de que entre 60-90% da população mundial de bovinos possua anticorpos contra o BVDV (HOUE, 1999), foi superior à descrita recentemente no Rio Grande do Sul; 26,7% (ALMEIDA, 2010) e 23,1% (STURZA, 2011), além de São Paulo e Minas Gerais; 40% (DIAS; SAMARA, 2003). No Brasil, embora a vacinação contra o BVDV seja praticada em uma parcela relativamente pequena dos rebanhos (SCHERER et. al., 2002), anticorpos vacinais podem potencialmente ser detectados pelo ELISA, gerando confusão com resultados falso-positivos. No entanto, não há estudos controlados demonstrando o limiar de detecção de anticorpos em rebanhos vacinados contra o BVDV. Deste modo, a identificação de rebanhos positivos pela triagem deve ser seguida da investigação do status vacinal de cada rebanho para a determinação da origem da sorologia positiva (SCHERER et al., 2002). Neste caso, é importante ressaltar que, de todos os rebanhos estudados que dispunham de informações referentes ao histórico de vacinação contra o BVDV, esta era aplicada em apenas 1,4% dos rebanhos. Já nos rebanhos onde os animais nunca foram vacinados, resultados reativos no teste sugerem a circulação viral nos rebanhos leiteiros da região estudada. A prática de triagem de rebanhos que não utilizam vacinação contra o BVDV pela detecção de anticorpos no leite tem sido utilizada por diversos países europeus em programas de controle e erradicação da infecção. (LINDBERG; ALENIUS, 1999; BEAUDEAU et al., 2001; GREISER-WILKE et al., 2003). É importante observar que os resultados do ELISA em amostras de tanque de leite devem ser analisados de forma criteriosa. Além do conhecimento sobre o status vacinal do rebanho, os valores de densidade óptica (DO) obtidos podem ser um indicativo da presença do agente no rebanho. Na análise de amostras coletivas de leite, a presença de apenas um ou alguns poucos animais em lactação com altos títulos de anticorpos para o BVDV, dentro de um mesmo rebanho de vacas soronegativas, dará origem a reatividade no ELISA (NISKANEN, 1993). Foi ainda demonstrado que existe uma relação direta entre o nível de anticorpos no tanque de leite e o percentual de vacas expostas ao vírus dentro de um rebanho. Nestes casos, um elevado valor de DO detectados pelo ELISA em amostras de tanque de 36 leite poderia ainda indicar a possível presença de animais PI na propriedade em questão (NISKANEN, 1993; BEAUDEAU et al., 2001; GREISER-WILKE et al., 2003). De um modo similar, no presente trabalho, foi realizada uma estratificação dos valores do índice A/P (que reflete os valores de absorbância) com base estatística (Tabela 4). Os resultados demonstraram que 90% das amostras analisadas (752/836) apresentaram resultado negativo ou com valores baixos ou moderados do índice A/P. Por outro lado, 10% das amostras (84/836) apresentaram índice A/P > 0,682 e foram classificadas como fortemente positivas de acordo com os clusters de índice A/P utilizados neste estudo. Importante observar que em 1,2% (10/836) dos rebanhos analisados observou-se índice extremamente elevado (A/P ≥ 1,0 - dados não mostrados). Sete destes rebanhos não recebiam vacinação contra o BVDV enquanto que nos outros três tal informação não estava disponível. Porém, muito provavelmente a origem do resultado positivo no ELISA não se deve à vacinação tendo em vista que os imunógenos comercialmente disponíveis são formulações inativadas do vírus e induzem níveis baixos de anticorpos em bovinos (LIMA et al., 2005). Estes rebanhos específicos deveriam ser o foco principal de investigações posteriores para a identificação de animais com infecção persistente pelo vírus. Os dados obtidos corroboram com a estimativa da prevalência de animais PI em rebanhos bovinos que fica entre 1-2% (HOUE, 1999). Na avaliação da correlação entre o número de vacas em lactação e o nível de anticorpos no leite coletivo dos rebanhos estudados, foi observado que o incremento no número de vacas em lactação por propriedade implica diretamente no aumento do nível de anticorpos detectados (indicados pelo índice A/P). Esta constatação foi confirmada por três diferentes testes estatísticos (Correlação de Pearson, Comparação de Médias e Qui-quadrado) que, individualmente empregados, ratificaram o mesmo resultado. Desta forma, quanto maior a densidade populacional de uma determinada região, maior é a concentração de indivíduos susceptíveis expostos ao agente infeccioso e a propagação da doença. Além disso, o fato de haver mais animais em atividade produtiva e, na grande maioria das vezes não imunizados, torna o rebanho ainda mais suscetível à infecção pelo BVDV. Uma provável explicação seria que o pequeno número de animais encontrados em determinados rebanhos (principalmente nas propriedades com <18 vacas em 37 lactação) esteja favorecendo um provável controle ou até mesmo erradicação da infecção nestas criações. O primeiro pré-requisito no planejamento de um programa de controle e erradicação do BVDV é o conhecimento da situação epidemiológica da região (SANDVIK, 1999; GREISER-WILKE et al., 2003). Assim, a baixa ocorrência da infecção encontrada pode se constituir em uma condição favorável para o início de um programa de controle para o BVDV nestes rebanhos. Por outro lado, o pouco conhecimento por parte dos produtores e de parte dos profissionais da área sobre a importância da doença, associado à alta ocorrência de animais soropositivos, pode aumentar a probabilidade de disseminação da infecção entre os rebanhos. Isto reforça a necessidade da implantação de estratégias de controle no país já que não existem programas oficiais de controle e/ou erradicação do BVDV (FLORES et al., 2005). Deve ainda ser considerado que a maioria das infecções causadas pelo BVDV são subclínicas, e por isso, de difícil diagnóstico e mensuração das possíveis perdas econômicas (HOUE, 1999). Apesar do conhecimento sobre a doença estar aumentando no Brasil e no mundo, a importância da enfermidade para os produtores é restrita aos mais tecnificados e/ou para aqueles que usufruem de um programa de extensão (FLORES et al., 2005). Assim, o sucesso na investigação inicial dos rebanhos com infecção viral ativa e possíveis portadores de animais PI somente será possível com o emprego de testes sorológicos capazes de detectar altos níveis de anticorpos anti-BVDV. 38 7 CONCLUSÕES O presente trabalho representa a primeira descrição da ocorrência de anticorpos contra o BVDV em amostras coletivas de leite oriundas de rebanhos bovinos leiteiros em regiões produtoras do estado do Rio de Janeiro. Os resultados demonstraram que 73,2% (612/836) das amostras analisadas foram positivas no ELISA, indicando uma ampla disseminação do agente nos rebanhos estudados visto que a grande maioria desses rebanhos não são vacinados contra a enfermidade. Ainda foi observada uma correlação positiva entre o número de vacas em lactação dos rebanhos e o nível de anticorpos no tanque de leite (indicados pelo índice A/P). Além disso, quando os resultados do ELISA são analisados de forma criteriosa, podem fornecer informações importantes sobre a situação epidemiológica do rebanho. Isto foi demonstrado pelos elevados valores do índice A/P observados em uma pequena parcela das amostras analisadas sugerindo infecção ativa pelo BVDV e possível presença de animais persistentemente infectados nestes rebanhos. 39 8 OBRAS CITADAS ALENIUS, S.; LINDBERG, A.; LARSSON, B. A national approach to the control of bovine viral diarrhoea virus. In: EDWARDS, S.; PATON, D.J.; WENSVOORT, G. (Ed.) Proc. 3rd ESVV Symp: Pestivirus Infections, 19-20 Sept., Lelystad, Netherlands, p.162-169, 1996. ALMEIDA, L.L. Vírus da diarréia viral bovina: detecção e aspectos epidemiológicos. Porto Alegre, 2010. 97f. Tese (Doutorado em Ciências Veterinárias) – Faculdade de Veterinária, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2010. ARENHART, S. et al. 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