MECÂNICA QUÂNTICA E INTEGRAIS DE CAMINHO Prof. Dr. Tobias Frederico ITA São José dos Campos, SP Fevereiro de 2008 Bibliogra…a - J.J. Sakurai "Modern Quantum Mechanics " - L. Landau e E. Lifchitz "Mecânica " Conteúdo I - Mecânica cássica I.1 - Ação e Lagrangeana I.2 - Conservação da Energia I.3 - Hamiltoniana e Equações de Hamilton II - Mecânica Quântica II.1 - Dualidade partícula-onda II.2 - Equação de Schrodinger II.3 - Notação de Dirac II.4 - Evolução Temporal II.5 - Propagador III - Integral de Caminho III.1 - Noções Intuitivas III.2 - Integral de Trajetória - partícula livre III.3 - Integral de Trajetória - Interação I - MECÂNICA CLÁSSICA Trajetória e o princípio da mínima ação. ( Sistema Clássico: posição (q ) velocidade (q_) Equação de movimento: mq• = F Sistema conservativo: F = dV dq onde, V (q ) representa a energia potencial. Assim: mq• = dV dq I.1 - Ação e Lagrangeana A trajetória clássica minimiza a ação: Rt S = t12 L (q; q; _ t) dt onde L (q; q; _ t) é a Lagrangeana que independe das condições de contorno. Princípio de mínima ação e as equações de Euler-Lagrange: S= Z t 2 t1 L (q; q; _ t) dt = 0; para variações de q em torno da trajetória q (t). S= Z t 2 @L @L q+ q_ @q @ q_ t1 ! dt = 0; onde d d q_ = q= q dt dt e substituindo S= Z t 2 @L @L d q+ q @q @ q_ dt t1 ! dt = 0 Agora, buscando encontrar a diferencial total, Z t 2 t2 @ S= q + @ q_ t t1 1 @L q @q d @L q dt @ q_ ! dt; com extremos …xos q (t1) = q (t2) = 0, logo t2 Z t 2 @ @L d @L S= q + @ q_ t @q dt @ q_ t1 1 Então, para qualquer variação q ) @L @q d @L dt @ q_ =0 ! q dt que é a equação de Euler-Lagrange. ) Equação de movimento dV dq ) @L @q dV dq mq• = 0 d @L = mq• e dt @ q_ 8 < @L = dV ) L potencial = V @q dq m q_2 : d @L = mq• ) L = cinetico dt @ q_ 2 A lagrangeana de um sistema conservativo: m L = q_2 V (q ) 2 p = mq_ = @L @ q_ (momento) Sistemas de muitas partículas ou graus de liberdade: N X mi 2 L (qi; q_i; t) = q_i i=1 2 Forças entre pares: vij qi N X mi 2 L (qi; q_i; t) = q_i i=1 2 qj X i>j N equações de movimento @L @qi d @L =0 dt @ q_i + p_ i = V (q i ) P @vij i>j @ q_ ação e reação vij qi qj I.2 - Conservação da Energia Em geral L (q; q; _ t) depende explicitamente do tempo, porém em sistemas conservativos isto não ocorre e a energia mecânica é conservada. dL @L @L @L = q_ + q• + dt @q @ q_ @t | {z } d @L (eq. de Euler-Lagrange) dt @ q_ assim: dL d @L @L d @L = q_ + q_ + dt dt @ q_ @ q_ dt @t ! d @L @L = q_ + dt @ q_ @t + d @L q_ dt @ q_ ! L = dL dt @L q_ Se @L = 0 ) H = L é conservada. @t @ q_ m 2 V L = q_ 2 + H = mq_2 m 2 q_ + V 2 mq_2 = +V 2 = E A Hamiltoniana H para a trajetória clássica é a energia que é conservada se @L @t = 0 (sistema conservativo). Simetrias e Leis de Conservação (Teorema de Noether para campos clássicos). Se L é independente do tempo ) E conservada. Se L é invariante frente translação espacial o momento total é conservado: 0 qi = qi + " e q_i0 = q_i X @L dL = " d" @q i i X d @L " = i dt @ q_i 3 2 d 4X @L 5 " = dt i |{z} @ q_i pi para N m q_2 X i i L= i=1 2 X v qi i>j d P = 0; P = e portanto dt P i pi. qj ) dL =0 d" I.3 - Hamiltoniana e Equações de Hamilton H = pq_ (forma geral de H ) L Transformada de Legendre de L, todas as informações sobre dinâmica do sistema clássico estão presentes em H , e portanto deve conter a equação de movimento. dH = qdp _ + pdq_ = qdp _ @L dq @q ) @L dq_ H (q; p) @ q_ pdq _ Equações de Hamilton: @H = q_ @p e @H = @q p_ Resumo: S=0 ) Equações de Euler-Lagrange ) L=T V ) Eq.de Newton @L =0 @t ) E conservada; H = pq_ L (Eqs. de Hamilton) Qual o papel das outras trajetórias com S 6= 0? Na Mecânica Clássica nenhum. E na Mecânica Quântica? II - MECÂNICA QUÂNTICA II.1 - Dualidade partícula-onda Planck em 1900 para resolver o problema da catástrofe da "radiação ultravioleta" do corpo negro, postulou que a radiação eletromagnética só poderia ser emitida ou absorvida pelo corpo negro em unidades de hf , onde h = 6; 634 10 34 (erg s) (constante de Planck) e f a frequência da radiação. E = hf: O momento transferido pela absorção de uma energia E oriunda de uma onda eletromagnética é E p= : c A unidade básica de energia transportada por uma onda E.M. é hf , portanto: h hf = ; p= c ) f = c: = hp para a "unidade" do campo E.M. (mais tarde a "unidade " básica do campo E.M. foi associada ao fóton por Einstein) De Broglie (1923): h = p para o elétron Toda partícula tem uma onda associada com = hp . O conceito de trajetória clássica foi destruido! Na mecânica clássica a trajetória da partícula é descrita pela posição e o momento. Uma partícula quântica não pode ter a posição e momento determinados simultâneamente ) trajetória! Difração de um elétron: p (1) p sin min : = ph / x:p/ Princípio de incerteza de Heisenberg: h h ; h= ) 2 2 ) x e p não podem ser determinados simultâneamente! p x h ( p x II.2 - Equação de Schroedinger Partícula livre: 8 < = hp (De Broglie) f =E h (Planck) : Onda associada: (x; t) = ei(kx !t) onde, k= 2 = p h e (x; t) = !=2 f = i hp x E ht e Qual é a equação de onda que ip @ (x; t) = (x; t) @x h e E h (x; t) é solução? @ (x; t) = @t iE h (x; t) Operador momento p! ih @ ! @x ~ ihr p2 =E 2m + h2 @ 2 2m @x2 @ (x; t) (x; t) = ih @t A Hamiltoniana da partícula livre clássica é a energia cinética. Sob a ação de uma força conservativa: H = p2 2m + V (x). O operador Hamiltoniano é escrito como: H= h2 @ 2 + V ( x) 2 2m @x A equação de Schroedinger para uma força conservativa …ca: h2 @ 2 2m @x2 (x; t) + V (x) @ (x; t) (x; t) = ih @t Interpretação probabilística: = j (x; t)j2 é a densidade de probabilidade para R dx j (x; t)j2 = 1 A equação de Schroedinger é de primeira ordem no tempo. A função de onda determina completamente o estado do sistema quântico. Sistema quântico de N - partículas: 2 4 N X i=1 h2 @2 @x2i + X i> j = ih vij xi 3 xj 5 @ (x1; :::xN ; t) @t (x1; :::xN ; t) Estados estacionários: (x; t) = E ( x) e iEt h h2 @ 2 E ( x) + V ( x) E ( x) = E E ( x) 2 2m @x é autofunção do operador H com autovalor E e a energia é real. (o operador H é hermitiano ou autoadjunto) E ( x) j E (x; t)j2 é independente do tempo. Operador autoadjunto ou Hermitiano: exemplo p. Z +1 @ dx ' (x; t) ( ih) (x; t) = ('; p ) @x 1 @ ih ' (x; t) @x = + Z +1 1 dx ih +1 (x; t) 1 @ ' (x; t) @x (x; t) = (p'; ) (Sistemas com extensão …nita condições de contorno periódicas) Produto interno: Generalização do produto escalar para um espaço de Hilbert (Espaço vetorial de funções complexas de norma …nita). Produto escalar: ~a:~b = (a; b) ~a:~b = X aibi (espaço vetorial real) i (a; b) = X ai bi (espaço vetorial complexo) i No caso do espaço de Hilbert (a; b) = Z a (x) b (x) dx X x a ( xi ) b ( xi ) i Notação vetorial ! Notação de Dirac (a; b) ! hajbi bra ket II.3 - Notação de Dirac ~a ! jai ~b ! jbi espaço vetorial base e^i; e^i:e^j = ij P vetor (estado) ~a = i aie^i ~b = Pi aibi prod. esc. (interno) ~a : 1 0 a1 B a C B 2 C notação matricial B .. C @ . A an espaço de Hilbert jii ; hijji = ij P jai = i ai jii P hajbi = a b 1 i i i 0 a1 B a C B 2 C B .. C @ . A an Exemplo: Série de Fourier - Integral de Fourier iknx e f ( x) = f~n p ; L n onde: X 8 > > > > > < > > > > > : f~n = L 2 Z +L 2 L 2 x L 2; L =f L f 2 2 2 n kn = L ; n = 0; 1; 2::: eiknx dx p f (x) L Na notação de Dirac: 8 L > < jf i = P f~ jk i ; hk jk i = R + 2 dx ei(kn kn0 )x = n;n0 n n n L n0 n L 2 > : f~n = hknjf i (projeção de jf i em jkni) Se L ! 1? f ( x) = Z L 2 L 2 " # X 1 dx0 eiknxe iknx0 f x0 L n k 2n )L = kn = L 2 [:::] = XL k ik(x x0) e Z +1 dx0 Z +1 dx0 x n L2 Z +1 n=1 1 ik(x x0) = e x x0 dk 2 1 onde percebemos a de…nição da função Delta de Dirac. f ( x) = = 1 Z +1 1 1 dk 1 ik(x x0) e f x0 2 x0 f x0 Z +1 1 (x) dx = 1; (x) = 0 para x 6= 0 podemos escrever da seguinte forma: Z +1 Z +1 0 eikx e ikx 0 p f x0 f ( x) = dx dk p 1 1 2 2 0 Z +1 Z +1 ikx ikx e e = dk p f x0 dx0 p 1 1 2 2 assim jf i = Z +1 mas a quantidade Z +1 dk jki hkj = 1 Z +1 dx jxi hxj = 1 1 e 1 ikx e @ p ih @x 2 i e p px h 2 h = 1 dk jki hkjf i ikx e p hk ; 2 p = hk = h é autofunção do operador momento (partícula no estado de momento p) R +1 1 = 1 dp jpi hpj @ eipx = p eipx ih p @x 2 p^ jpi = p jpi e a interpretação de jxi? Se jpi é o estado quântico de uma partícula com momento p Analogamente podemos dizer que jxi é o estado quântico de uma partícula com posição em x e p^ jpi = p jpi x ^ jxi = x jxi Princípio da incerteza de Heisenberg p x jhxjpij2 = 1 2 ( ) ) h 2 x = 1 para x = 0 para p=0 p=1 [^ p; x ^] = p^x ^ x ^p^ = @ @ = ih x + ihx @x @x ih p^ e x ^ não comutam. Observáveis incompatíveis, não podem ser medidos simultâneamente ) conceito de trajetória destruído! II.4 - Evolução Temporal " h2 @ 2 2m @x2 + V ( x) # @ (x; t) = ih (x; t) @t H j (t)i = ih d j (t)i dt Operador evolução temporal: t0 E = U t0; t j (t)i Interpretação: No instante t a partícula encontra-se na posição x portanto no estado jxi. No instante t0 a amplitude de transição para uma posição x0 ou para o estado x0 é dada por k x0t0; xt = D x0 U t0; t x E D x0 t0 jx (t) E Equação diferencial para U t0; t : d H U t0; t j (t)i = ih 0 U t0; t j (t)i dt j (t)i é qualquer e portanto: H U t0; t d = ih 0 U t0; t dt na forma operatorial: U t0; t = e iH (t0 t) h se V é independente do tempo. Exemplo: partícula livre p^2 ; H0 = 2m x0 e iH0 t h K0 x0t0; xt x = x0 e iH0 t h = D x0 U0 t0; t Z +1 1 x E dp jpi hpj x p^2 p2 jpi = jpi H0 jpi = 2m 2m Qualquer função do operador H0 tem como autofunção jpi: e iH0 t h P1 1 iH0 = n=0 n! h n 2 p H0n jpi = 2m jpi x0 e iH0 t h x 9 t n > > = > > ; = Z +1 = Z +1 dp completando quadrado p2 t 2m p x= t p = 2m x 2 m t 1 1 dp D 2 h t 2 p 2m e iH0 t h jpi = e ip2 t 2mh E ip2 t 0 x jp e 2mh hpjxi e i p2 t h 2m 2m m 2 v t; 2 p x x p t v= x t jpi R +1 Integral Gaussiana: 1 dx e K0 x0t0; xt = Z +1 dp 1 2 h x2 e = i p2 h 2m q t hi m v2 t 2 e 1 2 im 2 2 ih t eh 2 v t m A evolução temporal de qualquer pacote de onda livre: K0 x0t0; xt = x0; t0 = = Z +1 1 Z +1 1 dx K0 x0t0; xt dx 2 ih t m (x; t) 1 2 i m (x eh 2 0 x) 2 t (x; t) II.5 - Propagador e operador evolução S t0; t = U t0; t t0 t Função degrau: (t) = ( 1; t 0 0; t < 0 Derivada da função degrau: d (t) = (t) dt Equação para S : d 0; t S t dt0 d 0; t S t dt0 = d 0; t U t dt0 +U t0; t t0 i = H t0; t h +1 t0 t t0 t t t0 t assim d ih 0 S t0 dt t HS t0 t = i1S t0 t Na representação das coordenadas: x0 x t0 t @ = ih 0 K x0; t0; xt @t ! 2 2 h @ 0 0 ; t0 ; xt + V x K x 2m @x02 i O propagador do sistema quântico é i função de Green da eq. de Schrodinger. ( K x0; t0; xt = 0 para t0 < t). O propagador de um sistema qu^antico interagente pode ser obtido da seguinte equação: d H0S t0 ih 0 S t0 t dt = i1 t0 t + V S t0 t t d S t0 lembrando que: ih dt 0 0 Podemos escrever: S t0 t = S0 t0 i Z t0 t t H0S0 t0 t = i1 t0 t00 V t00 S t00 t t00 V t00 S t00 t t dt00S0 t0 Iterando temos que: S t0 t = S0 t0 i Z t0 t t dt00S0 t0 + ( i)2 S0 t00 Z t0 t dt00 Z t00 t dt000S0 t0 t000 V t000 S0 t000 t00 V t00 t + ::: t. III - INTEGRAL DE CAMINHO III.1 - Noções intuitivas: partícula livre D E x0t0jxt = K0 x0t0; xt = q i m v2 eh 2 t 2 ih t=m Caminho (a) 8 2 <i m 4 exp :h 2 x2 t !2 a x1 m t+ 2 xa1 x0 t !2 39 = t5 ; Caminho (b) 8 2 <i m 4 exp :h 2 x2 t !2 b x1 m t+ 2 xb1 x0 t Amplitude total: (a) + (b) # X caminhos e i P2 j=1 h xj xj 1 2 m t2 t !2 39 = t5 ; # X e caminhos i P3 j=1 h xj xj 1 2 m t2 t # X caminhos X caminhos e i Pn j=1 h R i tn dt mv 2 2 e h t0 = xj xj 1 2 m t2 t X caminhos R i tn L(x;x;t) _ e h t0 dt III.2 - Integral de trajetória: partícula livre D x0t0jx0t0 E = Z +1 1 D E 0 0 dx1 x t jx1t1 hx1t1jx0t0i R 0 0 = +1 1 dx2 x t jx2 t2 hx2 t2 jx1 t1 i hx1 t1 jx0 t0 i 0 1 nY1 R +1 A x0t0jxn 1tn 1 =@ 1 dxj j=1 hxn 1tn 1jxn 2tn 2i ::: hx1t1jx0t0i K0 x0t0; x0t0 1 0 nY1 Z +1 i Pn m dx j B C h j=1 2 q = @ A e 1 2 ih t=m j=1 xj xj 1 2 t t x0t0 Pn m xj xj j=1 2 t R Dx t = t0 (xntn) ; nY1 R j=1 1 2 t0 =n ! 0 ? R t0 t ! t0 dt L (x; x; _ t) = S t0; t0 +1 p dxj 1 2 ih t=m n!1 (medida da integral de caminho) K0 x0t0; xt = Z Dx i S t0 ;t h e ( ) III.3 - Integral de trajetória: interação p2 H= + V ( x) 2m K x0t0; x0t0 0 = @ nY1 Z +1 j=1 1 1 E D 0 0 A dxj x t jxn 1tn 1 hxn 1tn 1jxn 2tn 2i ::: hx1t1jx0t0i D E 0 0 x t jxt iH t 0 h x x e = = = = t!0 i H t x h + 2 i p^ i 1 t V ( x) t x h 2m h ! i p^2 i t 1 V ( x) t 1 h 2m h x0 1 * x0 * x0 onde desprezamos os termos com t2. x + D = = = E 0 0 x t jxt * x0 1 * x0 e e t!0 i p^2 h 2m i p^2 h 2m 2 i m x0 x h 2 t q t x + t x e V (x) + i V ( x) h 1 i h V (x) = t t 2 ih t=m K x0t0; xt0 = 0 1 nY1 Z +1 dxj B C q @ A 1 2 ih t=m j=1 Z e 2 i Pn m xj xj 1 j= 2 h 2 Dx t R i t0 dt e h t0 L(x;x;t) _ V xj +xj 1 2 t ou seja, K x0t0; xt = Z Dx i S t0 ;t h e ( ) E a trajetória clássica? (h ! 0) Ponto de fase estacionária S = 0 terá a maior contribuição na integral de caminho! S = 0 é a trajetória clássica entre os pontos (x; t) e x0; t0 .